A cinematografia perfeita de James Laxton, a ótima trilha sonora de praxe de Nicholas Britell, a atuação cheia de peso de Thuso Mbedu e a minissérie lenta e pungentemente dolorida de Barry Jenkins. The Underground Railroad merecia aquele Emmy bem mais que O Gambito da Rainha.
Tem suas incongruências, facilitações e anticlímax bem previsível, mas ganha valor pelas críticas e discussões que pontua sobre as estruturas da sociedade capitalista e pela criatividade de vários momentos trama (especialmente ao usar de brincadeiras de criança para uma metáfora cruel sobre meritocracia). Ficam muitas, muitas pontas soltas e alguns buracos que servem ou para deixar o roteiro faltoso ou abrir espaço para uma segunda temporada.
“Este pode ser o momento decisivo da sua vida. E acabaria com tudo. Um jovem rico mata um rapaz... Você não será mais nada. Ou pode ser o que deve: nada mesmo. Um detalhezinho triste de um casamento lindo onde pai e filho se reconciliam.”
Kendall Roy, além de Shiv, Roman e Connor, como é natural para filhos, sempre quis o amor de seu pai, sua aprovação, seu reconhecimento. Mas ele, dentre todos, foi o mais podado, controlado e quebrado pelas palavras e atitudes de Logan. Kendall parecia ser o sucessor natural por sua inteligência, mas também parecia ser o elo mais frágil e solitário durante sua vida. A cena final da primeira temporada, em “Nobody Is Ever Missing”, descreve isso muito bem. Mais uma vez manipulado, mais uma vez Logan o isola e usa a vulnerabilidade emocional dele (pelo consumo de drogas e pelo que havia acontecido no acidente de carro anterior) para dominar os ímpetos do seu filho. Ele poderia vencer, mas perdeu conta de si mesmo.
Na segunda temporada, veríamos Logan avisar que teria tortura psicológica mais tarde numa busca incessante pelo “Killer” a suceder seu reinado. Não há amor no seu relacionamento com a prole, nada de afeição paternal, apenas a procura por alguém como ele para comandar a Companhia e proteger seus interesses e a imagem da mesma a qualquer custo. Kendall continuava sozinho, quase sempre distante, mas seu senso de querer sair das sombras do pai e expurgar seus demônios crescia exponencialmente a cada episódio e tentativas (falhas ou não) de conquistar negócios e escrever sua própria história.
Em “This Is Not For Tears”, mais uma vez a questão da “imagem da empresa” vem à tona numa crise e precisam escolher alguém para se fazer de sacrifício aos “tubarões” da imprensa, para o “Sol dos Incas”. Uma criança. Quem é o escolhido? Kendall. “O que você ama tanto que poderia matar para fazer o Sol nascer de novo?”. Ele aceita, dá um beijo na bochecha de seu pai (o Beijo de Judas ou da Morte, como em O Poderoso Chefão?) e novamente pensamos que Logan sobressaíra, dobrara seu filho, que vê aquilo como uma forma de “pagar pelo garoto”. Mas a isca roteirizada vira um Tubarão Branco, um matador, e o sangue na água se torna o “...Mas” na declaração. A finale se encerra com Kendall finalmente dando um passo fora do caminho que seu pai lhe desenhara, junto de Gregg e vários documentos capciosos. A cena é acompanhada por “You Have To Be A Killer”, de Nicholas Britell, e tudo escala para uma camada absurdamente épica. “A verdade é que meu pai é uma presença maligna, um intimidador e um mentiroso. E ele sabia que essas coisas aconteciam há anos e fez esforços para ocultá-las e encobri-las.”
Logan, que havia assistido pela TV, no começo da temporada, Kendall recitar, robótico e tremendo, o que ele escreveu enquanto suava nervosamente (“Senhoras e senhores, a primeira coisa que meu filho fez certo em toda a sua vida!”), dá um meio-sorriso que exulta tanto orgulho quanto ódio ao vê-lo, agora sério, impassível, eloquente, rasgar suas palavras e jogá-lo aos leões. Talvez houvesse ali uma satisfação de finalmente contemplar como seu plano , a longo prazo, de pressionar e controlar seu “filho número um” até ele explodir deu certo. São tantas nuances nessa cena que, meu Deus. Perfeição de atuações, arco dramático e desenvolvimento de personagens. Essencialmente shakespeariano.
3 cenários: Vingança, perdão, entendimento. Temas: abuso, consentimento, prazer passivo, intimidade, dominação, poder, autorreflexão e crescimento. I May Destroy You se encerra da maneira mais forte e poética possível. Michaela Coel, você merece o mundo e todo amor possível por ter transformado uma experiência tão pesada em algo tão, mas TÃO importante como essa minissérie. É daquelas que genuinamente "todo mundo deveria assistir", e principalmente discutir; sobre tudo. Primorosa. Powerful.
"- Você comprou tudo rosa. Até o chocalho. - Sim, porque é uma menina. - E daí? Primeiro, não há cores para meninos e meninas. Segundo, você a está condicionando. Você não sabe se ela vai se sentir como menina, menino ou sei lá o quê. Ela não tem nem um dia e você já a está traumatizando."
Ouviram isso? É o som do tabu de papel sendo rasgado!
Episódio especial de 1 hora e meia que serve tanto como ponte entre a segunda e a terceira temporada (que ainda não tem data de estreia) da série de zumbis sul-coreana Kingdom (Netflix), quanto spin-off para contar a “história de origem” da personagem misteriosa que apareceu no fim segundo ano da produção, Ashin (Jun Ji Hyun, numa boa performance de criança à adulta, rapidamente se tornando fria e impiedosa). Funciona quase como um Fear The Walking Dead que deu certo em explorar os primeiros “surtos espontâneos”: em veados e tigres descritos num santuário abandonado, ao comerem folhas de Ginseng Silvestre, a planta que “traz o morto de volta à vida, mas um preço deve ser pago”. O CGI nesse trecho não é dos melhores, mas é interessante ver como a tentativa de livrar seu pai (pobre e espião) e salvar sua mãe (doente) com a essência da flor, seguidas de ataques na mata, caças, invasões, tragédias, massacres e traições moldaram a vida da protagonista. A ponto de ela ser, basicamente, a responsável por todos os eventos apocalípticos da série original acontecerem: por vingança; usando os zumbis como arma.
Visualmente (à parte do CGI), o “filme” segue o padrão elevado da série em cenários, figurinos, fotografia (cheia de contrastes de cores fortes) e trilha sonora. Claro, também no sangue (apesar de ter menos destaque aqui). Espero que não demore tanto para ela voltar.
Poderia ter um episódio a mais para tanto adicionar mais detalhes (o documentário, os namoros, a banda, o primo padre, o casos das garotas sequestradas, algumas deixas que não retornam, personagens pouco trabalhados e passados que ficam no ar) à tela, quanto para cobrir certos elementos e pontas elipsadas. Ou talvez seja só eu querendo que a série se alongasse por mais 50 minutos, pois não há real problema aqui. Na real, é uma minissérie dramaticamente muito intensa. O elenco é seguro e o suspense investigativo gera investimento, por mais que eu não tenha sentido tanta tensão e que o "principal" se resolva não da maneira mais inspirada (é o custo do plot, que me surpreendeu no fim, então vale).
Kate Winslet já pode ir pegar o Emmy, porque sua Mare é uma personagem muito carregada emocionalmente, e ela entrega tudo. Tudo. Ainda mais sendo Produtora Executiva. Ajudando, até, no roteiro de Brad Ingelsby. A direção de Craig Zobel também é boa.
Aliás, "carregada" é o sinônimo de Easttown (pequena cidade, já sabem), na figura de suas mães e dos relacionamentos com seus filhos e maridos. Como traumas, perdas, vícios, crimes, casos (nos diversos significados da palavra) e lutos, acumulados ou omitidos, os afetam de diferentes maneiras: sendo o centro de gravidade da história. Em segundo grau, além de Kate, na pele de Julianne Nicholson. Espero que o Evan Peters tenha mais papéis assim, mais sérios, fugindo do porão do Ryan Murphy. Mesmo que, junto à ótima Jean Smart, sejam meio que os pontos mais leves/cômicos da série.
"Estou apaixonado por você. Sinto muito, sério, se acha estranho ouvir isso. Mas eu precisava que ouvisse. Provavelmente não a melhor hora. Eu sei... Precisava que soubesse. Uma vez."
Doutor Estranho, pelo amor de Deus, acorda, acorda, por favor! Tem um monte de Kang se multiplicando, tem mundo variando, tem realidade se sobrepondo, tem gatilho se ramificando! Apaga, apaga, por favor! Tem gente passando mal e desmaiando no Multiverso, tem bebê chorando em todo canto e causando Eventos Nexus! Tem um monte de Wanda procurando os filhos! Tem Mefisto pra tudo que é lado infernizando! Todo mundo tá pedindo pra você acordar. Apaga, apaga, apaga!
É um The Boys animado (com traços mais quadrados e pouco fluidos, não sei se intencionalmente ou por orçamento), num teor mais adolescente (dramas e dilemas clichês, mas funcionais) embebido de violência extrema e gráfica aqui e ali, sendo que o protagonista, Invencível, vive levando surras. Tal violência é usada de maneira chocante ao final do primeiro episódio (mas não só nele, veja bem), que levanta um mistério para todos os personagens da história, pautando e se mantendo durante toda a temporada e se encerrando com a teoria que todo mundo pensou primeiramente (acho): Supremacia manda abraços.
Mesmo sendo bem episódica e atropelada em estabelecer e construir subtramas que não parecem voltar com relevância depois e de ter poucos plots ou personagens realmente interessantes, entre coalizões planetárias, invasões, cidades destruídas todo dia, impérios intergalácticos, clonagem, “robôs sentimentais”, sangue (muito sangue), tripas (muitas tripas), romances sem química e pontas soltas (muitas mesmo, espero que se amarrem), é uma série legal (definição rasa, mas é mesmo), por vezes divertida e que entretém bastante ao longo de 8 episódios (o que já vale).
O grupo de dubladores colabora bastante pra isso: J.K. Simmons (como Omni-Man), Steven Yeun (Mark Grayson, o Invencível), Sandra Oh (Debbie Grayson), Seth Rogen (Allen, o Alien), Mark Hamill (Arthur Rosembaum), Zachary Quinto (Rudy Conners, ou Robô) Walton Goggins (Cecil Stedman, parece o Biden kkkk) dentre outros. Enfim, Nolan e Mark: Amor de Pai ❤
Batroc, em sua luta com Sam, já em novos trajes e asas de Vibranium nas cores da América, retornando até com o antes falecido Asa Vermelha, fala que “O robe não faz o monge”, mas aqui há muito mais do que só um visual fantástico, movimentos de voo com o escudo e resgates no ar. Há muita honra, um home bom, íntegro, agora seguro do que tem de fazer e que entende que sangue é último recurso. Por isso ele novamente tenta o diálogo com Karli, enquanto esta só parte ao extremo da luta, depois de seus planos falharem. Tentando jogar o carro com os líderes do CRG de uma altura que os mataria. Uma cena em que 3 pessoas com vieses de uma mesma coisa se envolvem para evitar o pior: Bucky espera para poder diminuir o impacto da queda, John faz algo de bom pela primeira vez, ao segurar o caminhão, mas é Sam, com seu propulsor, sem Soro Super soldado, que o faz, num clássico momento de... Falcão Negro? Capitão Falcão? Não, de Capitão América. Bucky sorri, e os 3 se juntam na busca dos Apátridas. Mas é Sharon que a mata, e Sam carrega o corpo desta “garota desorientada” que ele tanto tentou dialogar e salvar...
Se as “Tropas da Paz”, armadas, forçam a realocação de milhões de pessoas pelo mundo e os Apátridas estavam lutando, da maneira avessa deles, por elas, quem são os terroristas? Certamente o Estalo de Thanos e o Blip foram eventos que abalaram profundamente tudo que o mundo era antes e tudo o que o mundo nos 5 anos em que metade da população desapareceu. Desabrigados, desamparados, divorciados, viúvos, órfãos, refugiados, bandidos: os que ficaram, os que retornaram. É, finalmente, uma luta que podem chamar de em comum, não algo a se impor fronteiras fáceis e responsabilidades seccionadas, e Sam os questiona sobre isso nas lentes do mundo. É a cena definitiva para o definir como Capitão, e para usar o “Um Mundo, Um Povo” tão falado. É só verem o outro lado, perguntarem “Por quê?” e decidirem usar o poder que têm para tal. Até John o respeita ali.
Sam agora carrega toda a responsabilidade e legado que o escudo pesa, nas dores e mortes do passado, às negligências do presente e às esperanças do futuro. E que ele não representa tal arma de um governo, nem o que os EUA são de verdade (isso é com John e seu escudo instável, sangrado ou de latão, levando mais uma vez uma surra). E sim o que os EUA podem ser. E ver ele ser exaltado pelo povo é lindo. Sam é o Capitão América que precisávamos. E agora vai ter seu próprio e merecido filme. No mais, Walker veste negro, Val o torna sua contraparte das HQs: Agente Americano (Wyatt Russel foi uma surpresa). E Bucky começa a dar seus “encerramentos”, fechando o caderno de Steve, enfim.
Do entretenimento puro a grandes sequências de ação, da química entre a dupla principal ao desenvolvimento de sua relação, entre questionamentos psicológicos, discussões raciais e um apelo político, histórico e social fortíssimo, Falcão e o Soldado Invernal conclui seus 6 episódios com espaço pra mais (o passado de Isaiah que o diga). A passagem do manto gerou rusgas internas e externas, mas foi lindo de ver como a série evoluiu a temática dos filmes do Capitão junto aos seus parceiros. Um homem negro e um Super Soldado ainda assombrado por fantasmas que ele mesmo fabricou.
Assim como WandaVision com Darcy e James Woo, a série tomou seu tempo para incluir o senso de universo compartilhado do UCM de maneira interessante, com retornos e até ressignificações de Barão Zemo (que riu por último através de seu mordomo) e Sharon Carter, que, já vindo agindo suspeitamente, se revela como o Mercador do Poder, que “queria controlar o mundo que a feriu” e que foi perdoada e terá acesso direto ao governo (linha narrativa que ficou sem explicar certos pontos, mas aguardemos). Acima de qualquer facilitação ou coincidências aqui e ali, foi uma jornada sobre lutas, corretas ou com métodos injustificáveis, mas sempre por “algo maior que você mesmo”, sobre autoconhecimento e autoconfiança, e como também achá-los nos outros. A Marvel acertou novamente no que mais sabe: seus personagens, humanos, e as conexões que eles tecem sobre nós. E já quero Loki!
Há exatos 10 anos, a HBO lançava uma fantasia medieval, uma aposta que viria a se tornar uma das maiores séries da história, seja por audiência, por prêmios ou por ter mudado para sempre o escopo da TV. Era Game Of Thrones, que começava com uma promessa da estação mais fria e temerosa: "Winter Is Coming", dirigido por Timothy Van Patten abriria os portões de Winterfell e de Westeros para nós.
"O homem que dá a sentença deve brandir a espada", falava Ned Stark, nosso "protagonista", a Bran, seu segundo filho mais novo, após executar um desertor da Patrulha da Noite que afirmava ter presenciado um ataque daqueles que trazem o inverno, uma lenda da Ama de Leite: os Caminhantes Brancos. No mesmo dia, encontrariam uma Loba Gigante, símbolo da casa, morta por um veado. Ela estava prenha, e seus filhotes foram dados entre seus filhos, incluindo o bastardo Jon Snow. Um Fantasma para a família. Pouco depois, o Rei dos Sete Reinos, Robert Baratheon, carregando um veado coroado em seu símbolo, e os irmãos Lannister, Tyrion, Jaime e Cersei, viriam para o Norte, jogariam Bran de uma torre e arrastariam Ned, velho amigo, irmão de criação de Robert, para a fétida Porto Real, onde tudo mudaria.
Era o começo de uma metáfora/foreshadowing do jogo e da guerra entre as casas pelo Trono, pela "Roda", que se arrastaria por 8 temporadas. Com muitas cabeças decapitadas, amassadas, montanhas e víboras, cães de caça, pescoços cortados, mulheres vermelhas, beijadas pelo fogo, casamentos vermelhos, traições, explosões de septos, exércitos queimados por Mães de Dragão, e alianças pela "Grande Guerra". Que veio, e decepcionou.
Há quase dois anos ela acabava, mas não falaremos daqueles-que-não-devem-ser-nomeados hoje, todos sabemos que eles queimam, graças aos Deuses Antigos e Novos, nos Sete Infernos da Cultura Pop. 10 anos atrás, Thrones se iniciava, num domingo. E aqui estamos nós, num sábado de outono, e o inverno ainda está chegando, mesmo tendo acabado da maneira que acabou, pelas mãos de Arya Stark e sua Agulha.
A questão é: por quase 9 anos, os domingos de GOT sempre quebravam e movimentavam as redes. A série praticamente inaugurou os canais de react no YouTube quando Catelyn, Robb e Talisa Stark foram massacrados pelos Frey. Era o epítome do "ninguém está seguro", iniciado quando Ned foi executado, pela sua própria espada, Gelo, em "Baelor", episódio 9 da primeira temporada; que também inauguraria uma tradição.
Pessoas se reuniam pra ver em bares, spoilers e teorias rolavam feito cachoeiras logo que o episódio acabava: então era sagrado ver assim que possível. Óbvio que no fim nada disso importou, mas nunca nenhuma outra série teve tanto impacto generalizado. E nem tanta força em mim. É a série do meu coração.
"Quando a neve cai e o vento branco sopra, o lobo solitário morre, mas a alcatéia sobrevive"
Entre Lannister, Stark, Karstark, Mormont, Tyrell, Baratheon, Bolton, Targaryen, Tarly, Frey, Greyjoy e tantas outras, "raios da roda" ou não, entre Os Sete, os Deuses Antigos e R'hllor, o Senhor da Luz, das Terras de Sempre Inverno ao Rochedo Casterly à Pedra do Dragão e à Lançassolar, GOT apresentou o universo riquíssimo de George Martin ao mundo. O qual me viciei. E agora teremos os spin-offs, a começar por House Of The Dragon. Que a HBO e Rian Condal façam justiça por Daenerys Targaryen. Tendo Ramin Djawadi na trilha, meu herói, já dou como ganho ❤️
"Por vezes, estradas diferentes levam ao mesmo castelo." ❄️🐺♥️
Falcão e o Soldado Invernal, Episódio 1: “Nova Ordem Mundial”
Logo de prima, a série dirigida por Kari Skogland e com Henry Jackman de volta à trilha, imprime bem uma proposta completamente diferente de WandaVision: não temos mistérios aqui, ao menos não naquele nível, nem uma trama pautada na aceitação do luto, apesar do peso de uma grande perda para o mundo, Capitão América, moldar esse começo de jornada para seus amigos, Bucky e Sam. Eles, responsáveis maior de seu legado, de seu manto, começam separados, ainda mais depois de terem retornado do Blip. O escudo, seu maior símbolo, inicia sem portador, já que Sam ainda não o aceita, por sentir que ele ainda pertence a Steve. “Precisamos de novos heróis, condizentes com os tempos que vivemos. Símbolos não são nada sem os homens e as mulheres que dão a eles significado. E este escudo... Não sei se já existiu um símbolo maior. Mas é mais sobre o homem que o erguia, e ele se foi.”
Porém, em linhas parecidas, temos já aqui a exploração mais profunda da vida pessoal e passado, como Sam visitando sua irmã, Sarah, e sobrinhos, discutindo vender o barco de seus pais e fazer empréstimos para continuar o negócio da família (cadê o salário, Stark?), tentando salvar o seu próprio legado. Além da questão psicológica dos dois heróis, aqui focada em Barnes, cidadão de 106 anos, perdoado pelo Governo, que ainda tem pesadelos sobre seus momentos de controle da HYDRA, se isolando de todos, fazendo “reparações” e mentindo pra uma terapeuta sem sutileza. Ele quer “paz” depois de 90 anos lutando, e sem dançar desde 1943. Yori, que a princípio soa como um “novo velho amigo”, arranja uma “dança” meio constrangedora para ele e fala de seu filho morto no exterior, sem que lhe tivessem dado informações. Até entendermos o porquê dessa “amizade” e disso ter afetado James tanto: ele foi o responsável por matá-lo...
“Eu já fui uma boa soldada, vi vários corpos e sei como isso pode travar alguém. E, se você está sozinho, é seu inferno mais pessoal e silencioso. E James, é muito difícil de escapar.”
Enfim, é Marvel mais “pura” aqui, já abrindo com uma grande sequência de ação, remetente ao segundo filme do Capitão, mais corpo a corpo e ágil, e também mais elevada, voando entre cânions e mísseis. Ainda bem que o Asa Vermelha voltou, apesar de já ter levado um tiro kkkk. E há a introdução de um grupo antagonista, os Apátridas, que “acreditavam que o mundo estava melhor durante o Blip”. “Acredite em mim, sempre que algo fica melhor para um grupo, fica pior para outro.”, fala Sam.
Engraçado que até criaram teorias da conspiração sobre o Steve, até que o levaram para a Lua. E, enquanto o espaço ficou vago, enquanto “amigos viraram inimigos e alianças se romperam” nesses 5 anos, e já que “o mundo está quebrado e todos querem alguém pra consertá-lo”, manufaturaram outra figura “para carregar o símbolo e ideais da América, um novo herói para inspirar e proteger os Estados Unidos”: o Agente Americano, John Walker, um “patriota” bem... complicado. Aguardemos.
Versando sobre luto e aceitação, sendo a abertura para a Marvel na TV, trazendo personagens de outros filmes para dar um senso de Universo Compartilhado mais natural, começando novos arcos heroicos e encerrando outros, e inaugurando o Multiverso da próxima fase, WandaVision encerra sua jornada divertida e emocionante num episódio que, mesmo não sendo o mais inspirado, conclui bem a trama construída com um tom mais Marvel de ação e conclusão que matou quase todas as teorias. Estas que eram exageradas, mas apoiadas por easter-eggs e referências ótimas que mantiveram o engajamento forte nesses 2 meses. É o que eu chamo de subversão de expectativa bem feita. Vamos aos momentos menos inspirados:
Jimmy Woo sendo preso do nada, usando do “floreio” para se livrar das algemas e ligar para Quantico. Hayward diz que não vai precisar encobrir as provas sobre o Catarata quando matarem Wanda, mas logo entra no Hex quando uma fissura se abre. Um pouco de decepção por Evan Peters, ou Fietro, ser na verdade o “marido” de Agatha: Ralph Bohner (um personagem na “série”, já cancelada segundo Hayward, da Wanda que foi controlado em duas camadas), e não a entrada dos X-Men no UCM. Foi meio abrupto. A carta do banco do passageiro no ep. anterior também não foi explicada e os efeitos especiais em certos momentos são um pouco fracos. Mas sigamos.
O resto do episódio se baseia na luta para “proteger nosso lar”: Agatha, que notoriamente absorve poderes “dos que não merecem”, passa a brincar de pique-esconde e provocar Wanda por WestView, revelando que o livro em seu porão era mesmo o DarkHold (O Livro dos Condenados), onde há um capítulo inteiro sobre ela, que “é mais poderosa que o Mago Supremo e se destina a destruir o mundo”. Wanda ainda está em negação, mas explode quando Agatha “corta os fios dos fantoches humanos”, inclusive Dottie, os quais não estão em paz, e sim sentindo sua dor, luto e pesadelos. Sendo pressionada a abrir o Hex e libertá-los; já que “heróis não torturam pessoas”. Mas isso faz com que Visão e os filhos se desfaçam, pois não podem viver fora do domo. Visão este que passou o começo do episódio lutando com Visão Branco, objetivando eliminá-los.
Entre raios de energia, socos e mudanças de densidade corporal, os dois vão parar na Biblioteca, onde discutem, no melhor estilo Visão de ser, a metafísica de suas identidades, a Teoria das Tábuas do Navio de Teseu. Um não tem a joia da mente, o outro não tem uma grama do material original, nenhum dos dois tem acesso às memórias, “a podridão do desgaste das viagens”, por motivos de “controle”. Então o “Visão do Hex” liberta seu eu verdadeiro do Visão Branco ao desbloquear seu arquivo de lembranças. E nunca mais o vemos, pois ele vai embora voando. Isso ainda vai dar treta.
Partimos para uma sequência cheias de casualidades e talvez clichês. Wanda, depois de tanta pressão, começa jogar com seus poderes, assim como Tommy e Billy, “cuidando dos militares”, e Monica, que chega na hora para impedir que Hayward atinja os garotos com um de seus poderes ainda não especificados, absorvendo o impacto das balas. Hayward, covarde, foge e Darcy o atinge com seu carro do circo. Confluência, camaradas kkkkk Wanda retorna aos seus dias de “dar pesadelos” com Agatha e Salem. Mas esta toma controle e a coloca na estaca, em julgamento como Percursora do Caos, pois, novamente, ela “não sabe nada sobre seus poderes”. Agatha revela seu objetivo: tomar eles de Wanda e corrigir os erros do feitiço do Hex para todos viverem “em paz, sem dor”. Mas aí vemos a representação do “feitiço virando contra a bruxa”, porque Wanda aprendeu as lições do porão no episódio anterior, “dando” todo o seu poder à Agatha e usando as paredes do Hex para desenhar as Runas de Proteção/Anulação. Absorvendo toda sua força de volta, e assumindo seu verdadeiro eu: Feiticeira Escarlate, com uniforme completo, numa cena arrepiante. Ela então transforma nossa bruxa no papel que escolheu: da vizinha enxerida, presa em WestView. Mas não morta, pois ela mesmo diz que “você ainda vai precisar de mim, você não sabe o que libertou.” Chthon vem aí?
Enfim, eles voltam pra casa enquanto o Hex começa a encolher, põem as crianças para dormir e se despedem dizendo que estão orgulhosos, que família é para sempre. O “Obrigado por me escolherem para ser sua mãe” quebra qualquer um. Wanda e Visão aguardam o fim daquela realidade perfeita quando ele faz seu último questionamento: “Quem eu sou?”, ao qual Wanda responde, honestamente: “Você é a parte da Joia da Mente que vive em mim. Um corpo de fios, sangue e ossos que eu criei. Você é minha tristeza e minha esperança. Mas, acima de tudo, você é meu amor.” Uma voz sem corpo, um corpo sem ser humano, uma memória tornada real, um sintozoide: e ele chora. Quem sabe se eles não dirão “Olá” novamente? Mas dizem adeus e Wanda reaparece nas fundações de sua “casa”, sozinha de novo. Ela se aceita, aceita o papel das perdas na sua vida e encontra sua humanidade no luto. No amor que perdura. Ela passa pelas ruas de WestView sob olhares acusatórios e encontra Monica, que fala exatamente o sentimento geral do luto: “Se eu tivesse seus poderes, eu sei que traria minha mãe de volta.” Wanda então vai embora, sob um pôr do Sol escarlate.
Sem Mefisto, sem Doutor Estranho (deve estar ocupado reconstruindo o Sanctum Sanctorum e pondo ordem no caos que deve ter ocorrido no Plano Astral com trilhões de mortes e ressuscitamentos), sem X-Men e sem grandes reviravoltas, a Marvel soube manipular nossas expectativas sobre os “diabos nos detalhes”, numa produção diferente e cheia de coração, com Christopher Beck e o casal Lopez compondo a trilha sonora que já ganhou meu apreço total. De homenagens à TV a embates mágicos, desenvolveu sua personagem mais poderosa da maneira que ela precisava, dando-lhe os poderes originais e espaço para Elizabeth Olsen brilhar, finalmente. Kathryn Hahn, Paul Bettany e Teyonah Parris não ficaram muito atrás. A minissérie não é perfeita, há pontas soltas que só o tempo dirá se serão amarradas, mas foi fantástico acompanhar semanalmente. O Emmy vem.
Com o final das sitcoms no episódio anterior, adentramos aqui nos últimos estágios da série que transitam da Depressão à Aceitação, com Agatha e Wanda revisitando seus passados, sombrios ou penosos.
Começamos em Salém, 1693, quando Agatha enfrenta o julgamento de seu Clã de Bruxas, encabeçados por sua mãe, por ter o traído ao “roubar conhecimento acima de sua idade e posição e praticar a mais maligna das magias”, acusação a qual Agatha nega e diz que elas “simplesmente se dobraram ao seu poder, que ela não consegue controlar”. E é o que se mostra depois, após usarem algum tipo de magia de punição: Agatha simplesmente o usa como corrente para absorver a energia vital de todas, mesmo com a promessa de “Eu posso ser boa”...
Em seguida, voltamos aos dias atuais e ao porão, no qual fica atestado que Agatha tem seus pensamentos blindados, “não disponíveis”, por isso é “quieta por dentro”, como Billy falou. Sobre os gêmeos (aprisionados), ao ser questionada, Harkness, em tom ora sarcástico ora ameaçador, faz uma apresentação de feitiços, questiona-a sobre o sotaque e sobre seus conhecimentos dos “Princípios Fundamentais da Magia”, sobre runas antigas de proteção e anulação de feitiços alheios. Além de revelar que usou de uma “Possessão Cristalina” para, através de “Fietro” (Fake Fietro), forçá-la a assumir sua verdadeira forma e extensão de poderes, travados por “inseguranças”. Ela viu e sentiu o “Brilho Residual” da carga pesada de controle mental que Wanda lançou em WestView, forçando as pessoas a seguirem linhas narrativas sob a lente detalhista de sua ilusão: “Magia no Controle Automático”, algo especial e complexo demais para não esmiuçar. E é aí que o episódio começa sua jornada emocional, tanto de enfrentamento da realidade, sem mais “faz de conta” para nossa “estrela”, quanto de conhecimento sobre os “pedaços” desse quebra-cabeça de questões para Agatha. “A única forma de seguir é voltar.”
Sob as notas de “I Feel You” e “The Porch” de Guerra Infinita, vemos a família Maximoff: Irina, Oleg, Wanda e Pietro em Sokovia, na “Noite da TV”, em que seu pai traz todas as sitcoms clássicas homenageadas ao longo de WandaVision para “treinar o inglês” (“Dick Van Dyke de novo? É sempre sitcom, sitcom, sitcom”), enquanto a guerra civil acontece nas ruas. Afinal, na TV, toda confusão e peripécia ou são engraçadas e acabam bem ou são simplesmente um pesadelo. Mas não foi o que aconteceu aquela família quando um míssil Stark atingiu o apartamento e uma bomba ficou piscando por 2 dias enquanto as duas crianças apavoradas ouviam as risadas numa TV soterrada na sala. O que antes era visto como um “defeito” da bomba é revelado como um “Feitiço de Probabilidade”. Como Agatha resume: “O que eu vejo é uma bruxa bebê, obcecada por Sitcoms, e com anos e anos de terapia pela frente.”
Seguindo, voltamos aos “tempos de rebeldia” da HYDRA, ao qual Wanda diz que “queriam mudar o mundo” como voluntária nos experimentos com a joia da Mente do Cetro de Loki. Esta que se “desfaz” e revela uma visão de uma mulher com vestes similares às da Feiticeira, o que viria a ser pontuado mais tarde. Curiosamente, as câmeras de segurança não captam o momento, exatamente como a “censura” dita por Darcy no episódio 4. Na cela, novamente uma sitcom a acompanha: The Brady Bunch. “Então a pequena órfã ficou íntima com uma Joia do Infinito que amplificou aquilo que teria sido esquecido?”
Partindo ao Complexo dos Vingadores, o primeiro lar que ela e Visão compartilharam, em um novo país, sozinha, após Pietro morrer, Wanda assiste a Malcolm In The Middle, que “não é o tipo de série em que se machucam”. Mas, ali, Wanda está destruída, e revela a Visão que é como uma onda que passa por ela sem parar, é como se afogar (Monica descreveu o mesmo sobre o Hex). Visão, que sempre esteve sozinho, diz que “não sente a falta”, que não vivenciou a perda porque nunca teve alguém para amar e perder. Mas questiona, numa linha que atinge feito um touro: “O que é luto senão o amor que perdura?” Ali, mais do que nunca, a conexão entre os dois é palpável. E “o que aconteceu quando ele não esteve lá para te buscar das trevas” foi devastador: ela o queria de volta. Mais que tudo.
Assim vamos à sede da E.S.P.A.D.A., em que Wanda vai à procura do corpo de seu falecido companheiro, pois ambos merecem uma despedida. Só que, em um ato cruel, Hayward faz Wanda assistir enquanto Visão (“a arma inteligente mais poderosa já criada”) é esfacelado, dividido e explorado, por “obrigação moral e ética”. Interessantemente, Hayward fala que “Nem todo mundo tem o poder de fazer sua alma gêmea voltar à vida”, como se induzisse Wanda, que só queria enterrá-lo, a pensar que poderia mesmo alcançar tal feito, já que eles não iriam deixar que Wanda levasse “3 bilhões de Dólares em Vibranium”. Ela então “invade” o laboratório, Hayward não impede, porém ela não consegue sentir Visão, em mais uma sequência dolorosa na qual a faixa de Alan Silvestri toca. Chris Beck está se superando aqui.
Ela não sequestra Visão, como Hayward mostrou ao tentar vilanizá-la. Ela simplesmente entra em seu carro e vai embora, vendo que há um documento no banco do passageiro: era a compra de um terreno em WestView, aonde ela vai, passando por aquelas ruas e por todos os “personagens” já tão conhecidos por nós. É naquela propriedade, vazia, onde o amor que os dois nutriam iria se transformar num lar, que Wanda desaba. Todos os sentimentos, dores, perdas e luto acumulados desde a infância explodem em um desejo de sua vida perfeita, de sua própria sitcom. Assim, ela cria, literalmente do zero, um constructo em que ela poderia viver com Visão; não um corpo reativado, mas a representação de um desejo: de ficar em casa, de assistir à TV, de esquecer de seus traumas lá fora e envelhecer juntos.
Então vemos o estúdio do 1º episódio e gritos. Agatha, em suas roupas de Bruxa, segurando os gêmeos, afirma que Wanda deveria ser um “Mito”, um ser capaz de criação espontânea, alguém que não sabe o quão poderoso e perigoso é, e que usa em “trivialidades”. Tudo o que ela criou, toda aquela “vidinha” com Visão e os gêmeos, é fruto da Magia do Caos, o que faz dela uma “Feiticeira Escarlate”. É a primeira vez que estes termos, essenciais nas HQs, são usados no UCM.
Não dá para saber exatamente quais são os objetivos de Agatha com os poderes de Wanda ou se ela está de conluio com mais alguém (um Clã da cidade, talvez). Porque ela funcionou quase como uma mentora para Feiticeira nesse episódio, mostrando quem ela é de fato, o que a moldou e quem ela pode ser. E, meu Deus, eu chorei umas 4 vezes. Estudo de personagem fortíssimo, talvez o maior da Marvel até aqui. Elizabeth Olsen vem com tudo para o Emmy. Mal posso esperar pela season finale.
WandaVision, Episódio 7: “Quebrando a Quarta Parede” (SPOILERS ABAIXO!!!)
Enquanto todos quebram a quarta parede, passamos da mistura dos anos 90 e 2000 e chegamos à década de 10, com um estilo mockumentário e o início do Terceiro Ato da produção.
“Todos nós já passamos por isso, né? Expandindo as barreiras do mundo falso que criamos.” Expandir sua realidade criada 13 km certamente não fez bem à Wanda, que acorda na cama sozinha, com reclamações dos gêmeos sobre a instabilidade de tudo aquilo (Billy, inclusive, está com a cabeça “barulhenta”), e parece ter largado de mão tudo. Visão não quer estar ali? Ok. Tudo ao seu redor começa a bugar em design de produção? Certo. Mostrar seus poderes pra todos verem? Quem se importa? Ela não tem respostas nem sentido, está perdida, e dá graças a Deus por Agnes (toda de roxo e com “uma verruga em suas costas) chegar e levar seus filhos para longe de sua “mãe pirada” (“Prometo não mordê-los”). Ela assume uma espécie de “quarentena terapêutica com ela mesma” (até na abertura) após a noite passada, repetindo que “está bem”, mesmo não funcionando muito. “Pietro” desapareceu, e ela também não se importa. Piadas matam. Ela merecia isso?
Visão acorda no Circo, em que é confundido com um palhaço “Ao menos já está maquiado” e é conduzido para a Escapista: nossa Darcy, que queria ser a Mulher Barbuda. Sendo uma Escapista de respeito, consegue escapar do controle já destoante de Wanda por intermédio de Visão, com o qual foge do Picadeiro e ajuda a recobrar o passado do ex-Vingador, resumindo da criação (Jarvis + Vibranium + Ultron + Genocídio Global) à sua morte por Wanda e Thanos (que alcançou seu sonhado Genocídio com Joia da Mente, tirada de sua testa), e dizendo que o amor deles é real. Visão tenta retornar pra casa por entender finalmente o sofrimento de sua mulher. Mas é atrasado seguidamente até largar o microfone e ir voando. Quando ele chegar lá...
Monica e Woo recebem os e-mails de Lewis, confirmando que Hayward estava tentando reativar Visão para, provavelmente, “criar uma Arma Sentiente própria (já que a E.S.P.A.D.A. deixou de “observar” para “construir”) e que ele deve ter facilitado o “roubo” de Visão por Wanda. Ademais, de maneira meio anticlimática por conta de tantas teorias, o Tanque Especial/Módulo Espacial Reforçado de Monica não foi feito por nenhum dos Richards ou por Shuri ou por Riri ou por sua amiga Skrull, e sim por um grupo do exército “leal a Maria”. Sem surpresas, a estrutura do tanque não foi o suficiente pra conseguir ultrapassar a barreira, metade sendo reescrita e a missão falhando. Se fosse Reed Richards, nada disso teria acontecido.
Mas é aí que vemos o belo nascimento de uma nova heroína: Spectrum (aparentemente), numa sequência foda. Rambeau, sem capacete, adentra na camada, lembrando de frases do tipo “Mãe, talvez eu possa voar e te encontrar no meio do caminho” e “Só quando você brilhar igual a sua tia Carol”, fazendo com que suas células fossem reescritas pela terceira vez e seus olhos ficassem brancos, enxergando o espectro luminoso das coisas ao redor. Logo ela parte para tentar dizer as verdades à Wanda, mostrar que ela não é a vilã ali e demonstrar sua forte empatia: “A pior coisa que podia acontecer comigo já aconteceu, e não posso mudar, desfazer ou controlar essa dor; nem acho que quero. Porque essa é a minha verdade.” (personagem forte aí). Só que Feiticeira não quer ouvir e joga Monica longe (na rua mesmo, com todos assistindo, inclusive a sumida Dottie), já que acha que a E.S.P.A.D.A. que infiltrou Pietro ali. Agnes logo vem ao resgate e leva Wanda à sua casa, na qual adentramos pela primeira vez (e seu esposo não está lá de novo), onde um clima sombrio se abate. Wanda vai à procura de seus filhos no porão, mas tudo que ela acha é um lugar cheio de colunas, símbolos, bodes, ossos e livros brilhantes.
“Agnes” se revela, finalmente, do melhor jeito expositivo para a cabeça já abalada de sua “amiga”: com uma música tema bem cativante e distorcida. Ela é Agatha Harkness, grande bruxa-madrinha-amiga-babá dos Quadrinhos da Marvel. excluindo (por hora) toda e qualquer teoria sobre Mephistos, Pesadelos e Ralphs. Foi Agatha que manipulou tudo, que sabia de tudo, que estava sempre lá quando preciso, que mandou Pietro atiçar e interrogar sua irmã, que se fez de louca pra Visão. Ela é a Showrunner da série. Foi ela que nos enganou dizendo que os episódios finais teriam 1 hora cada. E pior: foi ela quem matou o pobre do Faísca. Mas esse enfoque todo ainda me deixa em dúvida...
Em cena pós-crédito, Monica e “Pietro” se encontram quando a primeira descobre as portas para o porão. Será que ele é o Ralph? Ou ainda está sob os comandos da nossa nova bruxa? E onde estão os gêmeos? O fato é que Olsen e Hann estão cada vez melhores.
Sem mais risadas em off, os anos 90 começam com a preparação para o Halloween. Todos encarnam seus visuais e trajes clássicos das HQs. Billy está com sua faixa na cabeça e capa vermelha meio torta. Este também passa o episódio falando diretamente para a câmera, como narrador onisciente e sentindo os “distúrbios na força” entre seus pais. Wanda, lindíssima, toda em escarlate, veste seu colã, capa e tiara (Chapeuzinho Vermelho velha ou Vidente Sokoviana?). Visão usa suas cores originais: corpo verde e cara vermelha, com uma capa amarela de gola alta. Totalmente inundado de questionamentos sobre a natureza de sua realidade, ele, saindo da narrativa de sua esposa, parte numa patrulha solo e observa cada vez mais “erros na Matrix”.
Entre “I feel the need… for speed”, “Let’s go kick-ass”, “Liberem o inferno, meus demônios”, “Não é do jeito que eu lembrava” e “Se você encontrasse Shangrilá, iria querer lembrar do passado?”, o relacionamento desse novo Pietro com seus sobrinhos e com sua irmã são definitivamente diferentes. Enquanto Wanda percebe disparidades entre as memórias de ambos sobre suas infâncias, sempre com sorrisos amarelos e olhos confusos/desconfiados e sempre o testando, seus filhos caem nas graças deste tio descolado que “até ronca legal.” Já que Tommy compartilha dos mesmos poderes que ele, compartilham também seus “uniformes”, azuis, com um raio em cinza mercúrio cruzando o peito e cabelos “chifrados” que apenas colaboram com as tantas teorias.
Ao fazerem a maior zona roubando doces, amassando abóboras e etc. (má influência que chama), Herb recebe em seu fone todas essas informações enquanto acontecem, como se lendo um roteiro alterado ou escrito ao desenrolar da cena. O que me leva a crer que ele e Agnes podem ser como corroteristas, revisores ou ainda continuístas, já que ele pergunta: “Você quer que algo mude?” à Feiticeira. “Os detalhes são confusos, cara”, diz Pietro depois de responder à irritação de Wanda, quase como cumprindo tópicos de seu roteiro. Citando que foi “baleado na rua sem motivo e depois ouvi você me chamando.” O que embolou várias questões.
Ele é mesmo o Pietro de Era de Ultron “com a cara errada” e personalidade de sua versão X-Men? Porque ele também questiona sua irmã sobre tudo e onde estavam as outras crianças. Dormindo pacificamente? “É uma grande evolução de causar pesadelos e atirar coisas vermelhas pelas mãos.” O interrogatório (estranho) muda de lado e Wanda passa reforçar que não sabe como tudo começou, que só lembra de sentir totalmente sozinha num “nada infinito”, e logo ela vê seu irmão morto e baleado, como o Visão no episódio 4.
Do lado de fora, Hayward continua a evoluir como babacão pragmático querendo “acabar com Wanda para que esse pesadelo (hmmm) acabe”, enquanto Jimmy, Darcy e Monica formam o lado racional da equipe, pois não sabem o que pode acontecer dentro e fora do domo se matarem Feiticeira, devido aos seus poderes em crescimento. “Se ela é o problema, ela tem que ser a solução.” Mas Hayward (envolvido com certa “Catarata”) acaba atacando Monica com golpes baixos (inclusive sobre a Maria) e os expulsa da operação.
Mas eles não desistem facilmente e conseguem se infiltrar em parte da rede do chefe, observando, como Visão (rastreado por Hayward), que as pessoas nos limites da cidade estão paralisadas (Wanda não gasta seus poderes aqui). Visão só ouve sussurros de “Feliz Halloween” até encontrar Agnes, diferentemente de seu “papel consciente do episódio anterior, também paralisada na proibida Avenida Ellis. Ela é acordada em desespero, perguntando se ele é um Vingador que está ali para salvá-los. Mas Visão não sabe o que é um “Vingador” (ele não lembra de nada do “antes”) e Agnes revela, sem perdão, que ele está morto no “mundo real” e que não há como sair dali porque “Wanda não nos deixa nem pensar nisso”. Ela entra num ataque de risos histéricos e um quase choro (Kathryn Hann braba), então o sintozoide segue seu caminho após “religá-la” à narrativa.
As amostras de sangue de Rambeau revelam o óbvio: suas células foram “reescritas” a nível molecular duas vezes: quando ela entrou e quando saiu do Hex, por conta da radiação (poderes à vista). Mas ela lembra do câncer de sua mãe e reforça a sua empatia com a dor de Wanda, querendo ajudá-la ao invadir o local com o tanque encomendado antes (que ficou pronto, indo logo buscá-lo). Mas é outro alguém que sai: Visão, se desfazendo e morrendo no processo. Com isso, Billy avisa sua mãe do ocorrido e o que ela faz? Dá uma sova em Pietro (piadista sem timing), paralisa a todos e o episódio acaba com a expansão incontrolável do Hex, transformando em elementos circenses tudo que tocou, incluindo Darcy, (e salvando o marido) em cenas visualmente incríveis e tensas pra caramba. Fica a questão: até onde vão os poderes de Wanda? Certamente muitas pessoas estão querendo saber também, dados os últimos questionamentos que foram transferidos de Agnes ao Pietro.
Se os anos 80 chegaram para marcar e mudar de vez o cinema com diversos clássicos, o quinto episódio de WandaVision vem para mudar (de lei) estética, narrativa (agora “dentro” e “fora”) e abrir um mundo (ou mundos) de possibilidades na Marvel com o melhor e mais longo episódio da minissérie até aqui. Senta que hoje tem muita coisa pra falar kkkkk.
Agora pais dos gêmeos barulhentos Tommy e Billy (o Luke criança de Hill House), Wanda e Visão não sabem como fazê-los parar de chorar. Mas, como boa convenção narrativa de uma sitcom, logo alguém vem para ajudar: “tia Agnes”, em roupas de exercícios, surgindo numa cena em que ela basicamente pergunta à diretora/roteirista/editora se precisa refazer a cena, após errar uma fala e não saber reagir à interferência de Visão. Disfarçam de qualquer jeito e ela borrifa uma “colônia calmante”, logo os bebês pulam para 5 anos; depois para 10, quando encontram um cachorrinho na rua. Ao mesmo tempo (depois da abertura mostrar sua versão bebê kkkk), Visão fica consternado com Wanda e seus filhos demonstrando seus poderes na frente de Agnes e mais encucado com esta por sempre aparecer na hora certa com exatamente o que eles precisam. “Não dá para controlá-los. Não importa o quanto tente.”
Do lado de fora, Monica Rambeau (a qual Darcy é fã) revela que, assim que foi “sugada”, um sentimento excruciante e aterrorizante se abateu sobre ela: um desespero, uma tristeza, como se a afogasse. Era Wanda e seu luto. Assim como vemos quando Visão recebe um e-mail da Dra. Lewis e “desativa” o papel de Norm, que repete o mesmo padrão de aflição. Interessante que o exame eletromagnético de Monica deu um “branco”. Indício para os seus poderes de Spectrum ou Fóton?
Após um breve resumo sobre a vida de Feiticeira (inclusive perguntando se ela tem algum “apelido”, já que tal nome não é usado no UCM) e um enviesamento de Hayward para caracterizá-la como terrorista (por conta dos incidentes em Sokovia e em Lagos, que é “abordado” num comercial de papel-toalha: “Para quando você faz uma bagunça sem querer”), é mostrado que Wanda invadiu a Sede da E.S.P.A.D.A 9 dias antes para roubar o corpo de Visão (eles não fizeram nada depois disso?). Violando tanto o Acordo de Sokovia quanto o testamento de “não ser usado como arma” do sintezoide.
Darcy nomeia a Anomalia de Hex(agonal, ou “feitiço” em inglês) ao discutir, com Woo (que trouxe o café!) e Rambeau (se mostrando uma personagem forte) a extensão dos poderes da Wanda, “bem mais do que ela jamais demonstrou”, e que ela não cria ilusões, mas “reescreve a realidade” de acordo com a “época” e com a matéria. Como o Kevlar de seu colete que virou uma roupa.
Assim ela tem uma ideia de mandar um drone dos anos 80 (que não precisa ser “adaptado”, mas isso é um contra-golpe, pois Wanda sai ela mesmo do seu domo, carregando o drone destruído, e dá um único aviso (ameaça, né?): “Fiquem fora do meu lar. Se vocês não me incomodarem, eu não incomodarei vocês.” Marcando de fato que, agora, ela age em total consciência da sua situação, e que não vai deixar ninguém tirar sua “vida perfeita”. Olsen assustadora na medida certa.
Se “família é para sempre” é o que Wanda ensina para os seus gêmeos, estes clamam: “Você pode consertar tudo, mãe. Conserte a morte” quando seu cachorrinho, Faísca, morre ao comer folhas de azaleia. Ao qual ela responde hipocritamente que há certas regras na vida, e algumas coisas são para sempre, como a morte. Em seguida, Visão explode, se revolta e enfrenta sua mulher sobre sua dissimulação, mentiras e controle. Ela tenta encerrar o episódio, os créditos sobem, mas não dá mais para desviar de foco das suas dúvidas sobre o que tem além de WestView e sobre o "antes" daquilo tudo. Wanda também diz que não sabe como tudo isso começou, numa clara demonstração de supressão de memória/trauma.
E se o episódio já não fosse forte o bastante, o que temos no fim? Isso mesmo, Wanda “reescalando Pietro”. Como um “tio descolado”, Evan Peters (res)surge na pele de Mercúrio. “O irmão perdido não pode abraçar a irmã fedorenta até a morte?” Isso me levou a pensar que seus poderes não se estendem a “ressuscitar”, e sim (não apenas) a reescrever a realidade, ao seu bel prazer, com elementos físicos presentes nela, como Rambeau pontuou. Seja esta realidade qual for: paralela, do Multiverso ou dos X-Men da Fox. Ou seria este um indício de Mephisto? Ele está nos detalhes, como já sabemos. E no começo do episódio, Agnes fala “(...) Mas não tem como domar este tigre”, e depois um tigre aparece na mesa da cozinha...
“ – Por que você achou que fosse perder a Rue? - Porque como seria possível de a Rue me amar tanto quanto eu a amava? - Uma melhor pergunta seria: 'Por que você acha que isso seria impossível?'"
Interessante como a série escolheu (ou foi obrigada já que a Pandemia impossibilitou quase tudo) dois episódios especiais para passar a voz às suas personagens principais. Explorando (revivendo ou indo além dos acontecimentos da primeira temporada) cada um dos lados, cada uma das verdades, desse relacionamento complexo e tempestivo, e de suas vidas mais complexas ainda.
Acho bem legal como o Sam Levinson (criador, diretor e roteirista) é respeitoso e confia nas duas. Além de Zendaya (Rue) ser produtora, Hunter Schafer, a Jules, mais do que uma ótima atriz, co-roteirizou este episódio.
E não poderia ser mais sensível, forte e pessoal, tendo em vista que ela estava buscando hospitais psiquiátricos na internet, à época em que Sam a ligou para falar de sua ideia, por não estar conseguindo lidar bem com a quarentena. Então, basicamente, o especial foi tanto uma terapia para a personagem quanto para a atriz, sendo muito reflexivo e autocrítico. Uma confrontação sobre sua sexualidade, sua personalidade, seus traumas e sobre o amor, a dependência e a toxicidade que ela e Rue compartilham mutuamente entre si.
É visualmente e narrativamente lindo, tão profundo, conturbado e poético como o mar no qual Jules tanto se sente à vontade.
Atlanta (3ª Temporada)
4.4 83"O que é golden shower?"
Hacks (1ª Temporada)
4.2 91"Now get the fuck out of the stage."
Euphoria (2ª Temporada)
4.0 540A cronologia dessa temporada, pelo amor de Deus???
The Underground Railroad: Os Caminhos Para a Liberdade (1ª Temporada)
4.4 58 Assista AgoraA cinematografia perfeita de James Laxton, a ótima trilha sonora de praxe de Nicholas Britell, a atuação cheia de peso de Thuso Mbedu e a minissérie lenta e pungentemente dolorida de Barry Jenkins. The Underground Railroad merecia aquele Emmy bem mais que O Gambito da Rainha.
Round 6 (1ª Temporada)
4.0 1,2K Assista AgoraTem suas incongruências, facilitações e anticlímax bem previsível, mas ganha valor pelas críticas e discussões que pontua sobre as estruturas da sociedade capitalista e pela criatividade de vários momentos trama (especialmente ao usar de brincadeiras de criança para uma metáfora cruel sobre meritocracia). Ficam muitas, muitas pontas soltas e alguns buracos que servem ou para deixar o roteiro faltoso ou abrir espaço para uma segunda temporada.
La Casa de Papel (Parte 5)
3.7 526 Assista AgoraAcabou, amém!
American Horror Story: Double Feature (10ª Temporada)
2.7 251Double Feature? Desgraça em Dobro!
Succession (2ª Temporada)
4.5 228 Assista Agora“Este pode ser o momento decisivo da sua vida. E acabaria com tudo. Um jovem rico mata um rapaz... Você não será mais nada. Ou pode ser o que deve: nada mesmo. Um detalhezinho triste de um casamento lindo onde pai e filho se reconciliam.”
Kendall Roy, além de Shiv, Roman e Connor, como é natural para filhos, sempre quis o amor de seu pai, sua aprovação, seu reconhecimento. Mas ele, dentre todos, foi o mais podado, controlado e quebrado pelas palavras e atitudes de Logan. Kendall parecia ser o sucessor natural por sua inteligência, mas também parecia ser o elo mais frágil e solitário durante sua vida. A cena final da primeira temporada, em “Nobody Is Ever Missing”, descreve isso muito bem. Mais uma vez manipulado, mais uma vez Logan o isola e usa a vulnerabilidade emocional dele (pelo consumo de drogas e pelo que havia acontecido no acidente de carro anterior) para dominar os ímpetos do seu filho. Ele poderia vencer, mas perdeu conta de si mesmo.
Na segunda temporada, veríamos Logan avisar que teria tortura psicológica mais tarde numa busca incessante pelo “Killer” a suceder seu reinado. Não há amor no seu relacionamento com a prole, nada de afeição paternal, apenas a procura por alguém como ele para comandar a Companhia e proteger seus interesses e a imagem da mesma a qualquer custo. Kendall continuava sozinho, quase sempre distante, mas seu senso de querer sair das sombras do pai e expurgar seus demônios crescia exponencialmente a cada episódio e tentativas (falhas ou não) de conquistar negócios e escrever sua própria história.
Em “This Is Not For Tears”, mais uma vez a questão da “imagem da empresa” vem à tona numa crise e precisam escolher alguém para se fazer de sacrifício aos “tubarões” da imprensa, para o “Sol dos Incas”. Uma criança. Quem é o escolhido? Kendall. “O que você ama tanto que poderia matar para fazer o Sol nascer de novo?”. Ele aceita, dá um beijo na bochecha de seu pai (o Beijo de Judas ou da Morte, como em O Poderoso Chefão?) e novamente pensamos que Logan sobressaíra, dobrara seu filho, que vê aquilo como uma forma de “pagar pelo garoto”. Mas a isca roteirizada vira um Tubarão Branco, um matador, e o sangue na água se torna o “...Mas” na declaração. A finale se encerra com Kendall finalmente dando um passo fora do caminho que seu pai lhe desenhara, junto de Gregg e vários documentos capciosos. A cena é acompanhada por “You Have To Be A Killer”, de Nicholas Britell, e tudo escala para uma camada absurdamente épica.
“A verdade é que meu pai é uma presença maligna, um intimidador e um mentiroso. E ele sabia que essas coisas aconteciam há anos e fez esforços para ocultá-las e encobri-las.”
Logan, que havia assistido pela TV, no começo da temporada, Kendall recitar, robótico e tremendo, o que ele escreveu enquanto suava nervosamente (“Senhoras e senhores, a primeira coisa que meu filho fez certo em toda a sua vida!”), dá um meio-sorriso que exulta tanto orgulho quanto ódio ao vê-lo, agora sério, impassível, eloquente, rasgar suas palavras e jogá-lo aos leões. Talvez houvesse ali uma satisfação de finalmente contemplar como seu plano , a longo prazo, de pressionar e controlar seu “filho número um” até ele explodir deu certo. São tantas nuances nessa cena que, meu Deus. Perfeição de atuações, arco dramático e desenvolvimento de personagens. Essencialmente shakespeariano.
I May Destroy You
4.5 277 Assista Agora3 cenários: Vingança, perdão, entendimento. Temas: abuso, consentimento, prazer passivo, intimidade, dominação, poder, autorreflexão e crescimento. I May Destroy You se encerra da maneira mais forte e poética possível. Michaela Coel, você merece o mundo e todo amor possível por ter transformado uma experiência tão pesada em algo tão, mas TÃO importante como essa minissérie. É daquelas que genuinamente "todo mundo deveria assistir", e principalmente discutir; sobre tudo. Primorosa. Powerful.
La Casa de Papel (Parte 5)
3.7 526 Assista Agora"- Você comprou tudo rosa. Até o chocalho.
- Sim, porque é uma menina.
- E daí? Primeiro, não há cores para meninos e meninas. Segundo, você a está condicionando. Você não sabe se ela vai se sentir como menina, menino ou sei lá o quê. Ela não tem nem um dia e você já a está traumatizando."
Ouviram isso? É o som do tabu de papel sendo rasgado!
Kingdom: Ashin of the North
3.6 67Episódio especial de 1 hora e meia que serve tanto como ponte entre a segunda e a terceira temporada (que ainda não tem data de estreia) da série de zumbis sul-coreana Kingdom (Netflix), quanto spin-off para contar a “história de origem” da personagem misteriosa que apareceu no fim segundo ano da produção, Ashin (Jun Ji Hyun, numa boa performance de criança à adulta, rapidamente se tornando fria e impiedosa). Funciona quase como um Fear The Walking Dead que deu certo em explorar os primeiros “surtos espontâneos”: em veados e tigres descritos num santuário abandonado, ao comerem folhas de Ginseng Silvestre, a planta que “traz o morto de volta à vida, mas um preço deve ser pago”. O CGI nesse trecho não é dos melhores, mas é interessante ver como a tentativa de livrar seu pai (pobre e espião) e salvar sua mãe (doente) com a essência da flor, seguidas de ataques na mata, caças, invasões, tragédias, massacres e traições moldaram a vida da protagonista. A ponto de ela ser, basicamente, a responsável por todos os eventos apocalípticos da série original acontecerem: por vingança; usando os zumbis como arma.
Visualmente (à parte do CGI), o “filme” segue o padrão elevado da série em cenários, figurinos, fotografia (cheia de contrastes de cores fortes) e trilha sonora. Claro, também no sangue (apesar de ter menos destaque aqui). Espero que não demore tanto para ela voltar.
Mare of Easttown
4.4 654 Assista AgoraPoderia ter um episódio a mais para tanto adicionar mais detalhes (o documentário, os namoros, a banda, o primo padre, o casos das garotas sequestradas, algumas deixas que não retornam, personagens pouco trabalhados e passados que ficam no ar) à tela, quanto para cobrir certos elementos e pontas elipsadas. Ou talvez seja só eu querendo que a série se alongasse por mais 50 minutos, pois não há real problema aqui. Na real, é uma minissérie dramaticamente muito intensa. O elenco é seguro e o suspense investigativo gera investimento, por mais que eu não tenha sentido tanta tensão e que o "principal" se resolva não da maneira mais inspirada (é o custo do plot, que me surpreendeu no fim, então vale).
Kate Winslet já pode ir pegar o Emmy, porque sua Mare é uma personagem muito carregada emocionalmente, e ela entrega tudo. Tudo. Ainda mais sendo Produtora Executiva. Ajudando, até, no roteiro de Brad Ingelsby. A direção de Craig Zobel também é boa.
Aliás, "carregada" é o sinônimo de Easttown (pequena cidade, já sabem), na figura de suas mães e dos relacionamentos com seus filhos e maridos. Como traumas, perdas, vícios, crimes, casos (nos diversos significados da palavra) e lutos, acumulados ou omitidos, os afetam de diferentes maneiras: sendo o centro de gravidade da história. Em segundo grau, além de Kate, na pele de Julianne Nicholson. Espero que o Evan Peters tenha mais papéis assim, mais sérios, fugindo do porão do Ryan Murphy. Mesmo que, junto à ótima Jean Smart, sejam meio que os pontos mais leves/cômicos da série.
The Office (2ª Temporada)
4.5 392Só precisou de uma noite no cassino pra, MEU DEUS,
Jim e Pam
"Estou apaixonado por você. Sinto muito, sério, se acha estranho ouvir isso. Mas eu precisava que ouvisse. Provavelmente não a melhor hora. Eu sei... Precisava que soubesse. Uma vez."
Loki (1ª Temporada)
4.0 489 Assista AgoraDoutor Estranho, pelo amor de Deus, acorda, acorda, por favor! Tem um monte de Kang se multiplicando, tem mundo variando, tem realidade se sobrepondo, tem gatilho se ramificando! Apaga, apaga, por favor! Tem gente passando mal e desmaiando no Multiverso, tem bebê chorando em todo canto e causando Eventos Nexus! Tem um monte de Wanda procurando os filhos! Tem Mefisto pra tudo que é lado infernizando! Todo mundo tá pedindo pra você acordar. Apaga, apaga, apaga!
Invencível (1ª Temporada)
4.3 397 Assista AgoraÉ um The Boys animado (com traços mais quadrados e pouco fluidos, não sei se intencionalmente ou por orçamento), num teor mais adolescente (dramas e dilemas clichês, mas funcionais) embebido de violência extrema e gráfica aqui e ali, sendo que o protagonista, Invencível, vive levando surras. Tal violência é usada de maneira chocante ao final do primeiro episódio (mas não só nele, veja bem), que levanta um mistério para todos os personagens da história, pautando e se mantendo durante toda a temporada e se encerrando com a teoria que todo mundo pensou primeiramente (acho): Supremacia manda abraços.
Mesmo sendo bem episódica e atropelada em estabelecer e construir subtramas que não parecem voltar com relevância depois e de ter poucos plots ou personagens realmente interessantes, entre coalizões planetárias, invasões, cidades destruídas todo dia, impérios intergalácticos, clonagem, “robôs sentimentais”, sangue (muito sangue), tripas (muitas tripas), romances sem química e pontas soltas (muitas mesmo, espero que se amarrem), é uma série legal (definição rasa, mas é mesmo), por vezes divertida e que entretém bastante ao longo de 8 episódios (o que já vale).
O grupo de dubladores colabora bastante pra isso: J.K. Simmons (como Omni-Man), Steven Yeun (Mark Grayson, o Invencível), Sandra Oh (Debbie Grayson), Seth Rogen (Allen, o Alien), Mark Hamill (Arthur Rosembaum), Zachary Quinto (Rudy Conners, ou Robô) Walton Goggins (Cecil Stedman, parece o Biden kkkk) dentre outros.
Enfim, Nolan e Mark: Amor de Pai ❤
Falcão e o Soldado Invernal
3.9 381 Assista AgoraSPOILERS ABAIXO SOBRE A TEMPORADA COMO UM TODO
Batroc, em sua luta com Sam, já em novos trajes e asas de Vibranium nas cores da América, retornando até com o antes falecido Asa Vermelha, fala que “O robe não faz o monge”, mas aqui há muito mais do que só um visual fantástico, movimentos de voo com o escudo e resgates no ar. Há muita honra, um home bom, íntegro, agora seguro do que tem de fazer e que entende que sangue é último recurso. Por isso ele novamente tenta o diálogo com Karli, enquanto esta só parte ao extremo da luta, depois de seus planos falharem. Tentando jogar o carro com os líderes do CRG de uma altura que os mataria. Uma cena em que 3 pessoas com vieses de uma mesma coisa se envolvem para evitar o pior: Bucky espera para poder diminuir o impacto da queda, John faz algo de bom pela primeira vez, ao segurar o caminhão, mas é Sam, com seu propulsor, sem Soro Super soldado, que o faz, num clássico momento de... Falcão Negro? Capitão Falcão? Não, de Capitão América. Bucky sorri, e os 3 se juntam na busca dos Apátridas. Mas é Sharon que a mata, e Sam carrega o corpo desta “garota desorientada” que ele tanto tentou dialogar e salvar...
Se as “Tropas da Paz”, armadas, forçam a realocação de milhões de pessoas pelo mundo e os Apátridas estavam lutando, da maneira avessa deles, por elas, quem são os terroristas? Certamente o Estalo de Thanos e o Blip foram eventos que abalaram profundamente tudo que o mundo era antes e tudo o que o mundo nos 5 anos em que metade da população desapareceu. Desabrigados, desamparados, divorciados, viúvos, órfãos, refugiados, bandidos: os que ficaram, os que retornaram. É, finalmente, uma luta que podem chamar de em comum, não algo a se impor fronteiras fáceis e responsabilidades seccionadas, e Sam os questiona sobre isso nas lentes do mundo. É a cena definitiva para o definir como Capitão, e para usar o “Um Mundo, Um Povo” tão falado. É só verem o outro lado, perguntarem “Por quê?” e decidirem usar o poder que têm para tal. Até John o respeita ali.
Sam agora carrega toda a responsabilidade e legado que o escudo pesa, nas dores e mortes do passado, às negligências do presente e às esperanças do futuro. E que ele não representa tal arma de um governo, nem o que os EUA são de verdade (isso é com John e seu escudo instável, sangrado ou de latão, levando mais uma vez uma surra). E sim o que os EUA podem ser. E ver ele ser exaltado pelo povo é lindo. Sam é o Capitão América que precisávamos. E agora vai ter seu próprio e merecido filme. No mais, Walker veste negro, Val o torna sua contraparte das HQs: Agente Americano (Wyatt Russel foi uma surpresa). E Bucky começa a dar seus “encerramentos”, fechando o caderno de Steve, enfim.
Do entretenimento puro a grandes sequências de ação, da química entre a dupla principal ao desenvolvimento de sua relação, entre questionamentos psicológicos, discussões raciais e um apelo político, histórico e social fortíssimo, Falcão e o Soldado Invernal conclui seus 6 episódios com espaço pra mais (o passado de Isaiah que o diga). A passagem do manto gerou rusgas internas e externas, mas foi lindo de ver como a série evoluiu a temática dos filmes do Capitão junto aos seus parceiros. Um homem negro e um Super Soldado ainda assombrado por fantasmas que ele mesmo fabricou.
Assim como WandaVision com Darcy e James Woo, a série tomou seu tempo para incluir o senso de universo compartilhado do UCM de maneira interessante, com retornos e até ressignificações de Barão Zemo (que riu por último através de seu mordomo) e Sharon Carter, que, já vindo agindo suspeitamente, se revela como o Mercador do Poder, que “queria controlar o mundo que a feriu” e que foi perdoada e terá acesso direto ao governo (linha narrativa que ficou sem explicar certos pontos, mas aguardemos).
Acima de qualquer facilitação ou coincidências aqui e ali, foi uma jornada sobre lutas, corretas ou com métodos injustificáveis, mas sempre por “algo maior que você mesmo”, sobre autoconhecimento e autoconfiança, e como também achá-los nos outros. A Marvel acertou novamente no que mais sabe: seus personagens, humanos, e as conexões que eles tecem sobre nós. E já quero Loki!
Game of Thrones (1ª Temporada)
4.6 2,3K Assista AgoraHá exatos 10 anos, a HBO lançava uma fantasia medieval, uma aposta que viria a se tornar uma das maiores séries da história, seja por audiência, por prêmios ou por ter mudado para sempre o escopo da TV. Era Game Of Thrones, que começava com uma promessa da estação mais fria e temerosa: "Winter Is Coming", dirigido por Timothy Van Patten abriria os portões de Winterfell e de Westeros para nós.
"O homem que dá a sentença deve brandir a espada", falava Ned Stark, nosso "protagonista", a Bran, seu segundo filho mais novo, após executar um desertor da Patrulha da Noite que afirmava ter presenciado um ataque daqueles que trazem o inverno, uma lenda da Ama de Leite: os Caminhantes Brancos. No mesmo dia, encontrariam uma Loba Gigante, símbolo da casa, morta por um veado. Ela estava prenha, e seus filhotes foram dados entre seus filhos, incluindo o bastardo Jon Snow. Um Fantasma para a família.
Pouco depois, o Rei dos Sete Reinos, Robert Baratheon, carregando um veado coroado em seu símbolo, e os irmãos Lannister, Tyrion, Jaime e Cersei, viriam para o Norte, jogariam Bran de uma torre e arrastariam Ned, velho amigo, irmão de criação de Robert, para a fétida Porto Real, onde tudo mudaria.
Era o começo de uma metáfora/foreshadowing do jogo e da guerra entre as casas pelo Trono, pela "Roda", que se arrastaria por 8 temporadas. Com muitas cabeças decapitadas, amassadas, montanhas e víboras, cães de caça, pescoços cortados, mulheres vermelhas, beijadas pelo fogo, casamentos vermelhos, traições, explosões de septos, exércitos queimados por Mães de Dragão, e alianças pela "Grande Guerra". Que veio, e decepcionou.
Há quase dois anos ela acabava, mas não falaremos daqueles-que-não-devem-ser-nomeados hoje, todos sabemos que eles queimam, graças aos Deuses Antigos e Novos, nos Sete Infernos da Cultura Pop. 10 anos atrás, Thrones se iniciava, num domingo. E aqui estamos nós, num sábado de outono, e o inverno ainda está chegando, mesmo tendo acabado da maneira que acabou, pelas mãos de Arya Stark e sua Agulha.
A questão é: por quase 9 anos, os domingos de GOT sempre quebravam e movimentavam as redes. A série praticamente inaugurou os canais de react no YouTube quando Catelyn, Robb e Talisa Stark foram massacrados pelos Frey. Era o epítome do "ninguém está seguro", iniciado quando Ned foi executado, pela sua própria espada, Gelo, em "Baelor", episódio 9 da primeira temporada; que também inauguraria uma tradição.
Pessoas se reuniam pra ver em bares, spoilers e teorias rolavam feito cachoeiras logo que o episódio acabava: então era sagrado ver assim que possível. Óbvio que no fim nada disso importou, mas nunca nenhuma outra série teve tanto impacto generalizado. E nem tanta força em mim. É a série do meu coração.
"Quando a neve cai e o vento branco sopra, o lobo solitário morre, mas a alcatéia sobrevive"
Entre Lannister, Stark, Karstark, Mormont, Tyrell, Baratheon, Bolton, Targaryen, Tarly, Frey, Greyjoy e tantas outras, "raios da roda" ou não, entre Os Sete, os Deuses Antigos e R'hllor, o Senhor da Luz, das Terras de Sempre Inverno ao Rochedo Casterly à Pedra do Dragão e à Lançassolar, GOT apresentou o universo riquíssimo de George Martin ao mundo. O qual me viciei. E agora teremos os spin-offs, a começar por House Of The Dragon.
Que a HBO e Rian Condal façam justiça por Daenerys Targaryen. Tendo Ramin Djawadi na trilha, meu herói, já dou como ganho ❤️
"Por vezes, estradas diferentes levam ao mesmo castelo." ❄️🐺♥️
Falcão e o Soldado Invernal
3.9 381 Assista AgoraFalcão e o Soldado Invernal, Episódio 1: “Nova Ordem Mundial”
Logo de prima, a série dirigida por Kari Skogland e com Henry Jackman de volta à trilha, imprime bem uma proposta completamente diferente de WandaVision: não temos mistérios aqui, ao menos não naquele nível, nem uma trama pautada na aceitação do luto, apesar do peso de uma grande perda para o mundo, Capitão América, moldar esse começo de jornada para seus amigos, Bucky e Sam. Eles, responsáveis maior de seu legado, de seu manto, começam separados, ainda mais depois de terem retornado do Blip. O escudo, seu maior símbolo, inicia sem portador, já que Sam ainda não o aceita, por sentir que ele ainda pertence a Steve. “Precisamos de novos heróis, condizentes com os tempos que vivemos. Símbolos não são nada sem os homens e as mulheres que dão a eles significado. E este escudo... Não sei se já existiu um símbolo maior. Mas é mais sobre o homem que o erguia, e ele se foi.”
Porém, em linhas parecidas, temos já aqui a exploração mais profunda da vida pessoal e passado, como Sam visitando sua irmã, Sarah, e sobrinhos, discutindo vender o barco de seus pais e fazer empréstimos para continuar o negócio da família (cadê o salário, Stark?), tentando salvar o seu próprio legado. Além da questão psicológica dos dois heróis, aqui focada em Barnes, cidadão de 106 anos, perdoado pelo Governo, que ainda tem pesadelos sobre seus momentos de controle da HYDRA, se isolando de todos, fazendo “reparações” e mentindo pra uma terapeuta sem sutileza. Ele quer “paz” depois de 90 anos lutando, e sem dançar desde 1943. Yori, que a princípio soa como um “novo velho amigo”, arranja uma “dança” meio constrangedora para ele e fala de seu filho morto no exterior, sem que lhe tivessem dado informações. Até entendermos o porquê dessa “amizade” e disso ter afetado James tanto: ele foi o responsável por matá-lo...
“Eu já fui uma boa soldada, vi vários corpos e sei como isso pode travar alguém. E, se você está sozinho, é seu inferno mais pessoal e silencioso. E James, é muito difícil de escapar.”
Enfim, é Marvel mais “pura” aqui, já abrindo com uma grande sequência de ação, remetente ao segundo filme do Capitão, mais corpo a corpo e ágil, e também mais elevada, voando entre cânions e mísseis. Ainda bem que o Asa Vermelha voltou, apesar de já ter levado um tiro kkkk. E há a introdução de um grupo antagonista, os Apátridas, que “acreditavam que o mundo estava melhor durante o Blip”. “Acredite em mim, sempre que algo fica melhor para um grupo, fica pior para outro.”, fala Sam.
Engraçado que até criaram teorias da conspiração sobre o Steve, até que o levaram para a Lua. E, enquanto o espaço ficou vago, enquanto “amigos viraram inimigos e alianças se romperam” nesses 5 anos, e já que “o mundo está quebrado e todos querem alguém pra consertá-lo”, manufaturaram outra figura “para carregar o símbolo e ideais da América, um novo herói para inspirar e proteger os Estados Unidos”: o Agente Americano, John Walker, um “patriota” bem... complicado. Aguardemos.
WandaVision
4.2 844 Assista AgoraSPOILERS ABAIXO SOBRE O FINAL DA MINISSÉRIE!!!
Versando sobre luto e aceitação, sendo a abertura para a Marvel na TV, trazendo personagens de outros filmes para dar um senso de Universo Compartilhado mais natural, começando novos arcos heroicos e encerrando outros, e inaugurando o Multiverso da próxima fase, WandaVision encerra sua jornada divertida e emocionante num episódio que, mesmo não sendo o mais inspirado, conclui bem a trama construída com um tom mais Marvel de ação e conclusão que matou quase todas as teorias. Estas que eram exageradas, mas apoiadas por easter-eggs e referências ótimas que mantiveram o engajamento forte nesses 2 meses. É o que eu chamo de subversão de expectativa bem feita. Vamos aos momentos menos inspirados:
Jimmy Woo sendo preso do nada, usando do “floreio” para se livrar das algemas e ligar para Quantico. Hayward diz que não vai precisar encobrir as provas sobre o Catarata quando matarem Wanda, mas logo entra no Hex quando uma fissura se abre. Um pouco de decepção por Evan Peters, ou Fietro, ser na verdade o “marido” de Agatha: Ralph Bohner (um personagem na “série”, já cancelada segundo Hayward, da Wanda que foi controlado em duas camadas), e não a entrada dos X-Men no UCM. Foi meio abrupto. A carta do banco do passageiro no ep. anterior também não foi explicada e os efeitos especiais em certos momentos são um pouco fracos. Mas sigamos.
O resto do episódio se baseia na luta para “proteger nosso lar”: Agatha, que notoriamente absorve poderes “dos que não merecem”, passa a brincar de pique-esconde e provocar Wanda por WestView, revelando que o livro em seu porão era mesmo o DarkHold (O Livro dos Condenados), onde há um capítulo inteiro sobre ela, que “é mais poderosa que o Mago Supremo e se destina a destruir o mundo”. Wanda ainda está em negação, mas explode quando Agatha “corta os fios dos fantoches humanos”, inclusive Dottie, os quais não estão em paz, e sim sentindo sua dor, luto e pesadelos. Sendo pressionada a abrir o Hex e libertá-los; já que “heróis não torturam pessoas”. Mas isso faz com que Visão e os filhos se desfaçam, pois não podem viver fora do domo. Visão este que passou o começo do episódio lutando com Visão Branco, objetivando eliminá-los.
Entre raios de energia, socos e mudanças de densidade corporal, os dois vão parar na Biblioteca, onde discutem, no melhor estilo Visão de ser, a metafísica de suas identidades, a Teoria das Tábuas do Navio de Teseu. Um não tem a joia da mente, o outro não tem uma grama do material original, nenhum dos dois tem acesso às memórias, “a podridão do desgaste das viagens”, por motivos de “controle”. Então o “Visão do Hex” liberta seu eu verdadeiro do Visão Branco ao desbloquear seu arquivo de lembranças. E nunca mais o vemos, pois ele vai embora voando. Isso ainda vai dar treta.
Partimos para uma sequência cheias de casualidades e talvez clichês. Wanda, depois de tanta pressão, começa jogar com seus poderes, assim como Tommy e Billy, “cuidando dos militares”, e Monica, que chega na hora para impedir que Hayward atinja os garotos com um de seus poderes ainda não especificados, absorvendo o impacto das balas. Hayward, covarde, foge e Darcy o atinge com seu carro do circo. Confluência, camaradas kkkkk
Wanda retorna aos seus dias de “dar pesadelos” com Agatha e Salem. Mas esta toma controle e a coloca na estaca, em julgamento como Percursora do Caos, pois, novamente, ela “não sabe nada sobre seus poderes”. Agatha revela seu objetivo: tomar eles de Wanda e corrigir os erros do feitiço do Hex para todos viverem “em paz, sem dor”. Mas aí vemos a representação do “feitiço virando contra a bruxa”, porque Wanda aprendeu as lições do porão no episódio anterior, “dando” todo o seu poder à Agatha e usando as paredes do Hex para desenhar as Runas de Proteção/Anulação. Absorvendo toda sua força de volta, e assumindo seu verdadeiro eu: Feiticeira Escarlate, com uniforme completo, numa cena arrepiante. Ela então transforma nossa bruxa no papel que escolheu: da vizinha enxerida, presa em WestView. Mas não morta, pois ela mesmo diz que “você ainda vai precisar de mim, você não sabe o que libertou.” Chthon vem aí?
Enfim, eles voltam pra casa enquanto o Hex começa a encolher, põem as crianças para dormir e se despedem dizendo que estão orgulhosos, que família é para sempre. O “Obrigado por me escolherem para ser sua mãe” quebra qualquer um. Wanda e Visão aguardam o fim daquela realidade perfeita quando ele faz seu último questionamento: “Quem eu sou?”, ao qual Wanda responde, honestamente: “Você é a parte da Joia da Mente que vive em mim. Um corpo de fios, sangue e ossos que eu criei. Você é minha tristeza e minha esperança. Mas, acima de tudo, você é meu amor.”
Uma voz sem corpo, um corpo sem ser humano, uma memória tornada real, um sintozoide: e ele chora. Quem sabe se eles não dirão “Olá” novamente? Mas dizem adeus e Wanda reaparece nas fundações de sua “casa”, sozinha de novo. Ela se aceita, aceita o papel das perdas na sua vida e encontra sua humanidade no luto. No amor que perdura.
Ela passa pelas ruas de WestView sob olhares acusatórios e encontra Monica, que fala exatamente o sentimento geral do luto: “Se eu tivesse seus poderes, eu sei que traria minha mãe de volta.” Wanda então vai embora, sob um pôr do Sol escarlate.
Sem Mefisto, sem Doutor Estranho (deve estar ocupado reconstruindo o Sanctum Sanctorum e pondo ordem no caos que deve ter ocorrido no Plano Astral com trilhões de mortes e ressuscitamentos), sem X-Men e sem grandes reviravoltas, a Marvel soube manipular nossas expectativas sobre os “diabos nos detalhes”, numa produção diferente e cheia de coração, com Christopher Beck e o casal Lopez compondo a trilha sonora que já ganhou meu apreço total.
De homenagens à TV a embates mágicos, desenvolveu sua personagem mais poderosa da maneira que ela precisava, dando-lhe os poderes originais e espaço para Elizabeth Olsen brilhar, finalmente. Kathryn Hahn, Paul Bettany e Teyonah Parris não ficaram muito atrás. A minissérie não é perfeita, há pontas soltas que só o tempo dirá se serão amarradas, mas foi fantástico acompanhar semanalmente. O Emmy vem.
WandaVision
4.2 844 Assista AgoraWandaVision, Episódio 8: “Anteriormente Em...”
(SPOILERS ABAIXO!!!)
Com o final das sitcoms no episódio anterior, adentramos aqui nos últimos estágios da série que transitam da Depressão à Aceitação, com Agatha e Wanda revisitando seus passados, sombrios ou penosos.
Começamos em Salém, 1693, quando Agatha enfrenta o julgamento de seu Clã de Bruxas, encabeçados por sua mãe, por ter o traído ao “roubar conhecimento acima de sua idade e posição e praticar a mais maligna das magias”, acusação a qual Agatha nega e diz que elas “simplesmente se dobraram ao seu poder, que ela não consegue controlar”. E é o que se mostra depois, após usarem algum tipo de magia de punição: Agatha simplesmente o usa como corrente para absorver a energia vital de todas, mesmo com a promessa de “Eu posso ser boa”...
Em seguida, voltamos aos dias atuais e ao porão, no qual fica atestado que Agatha tem seus pensamentos blindados, “não disponíveis”, por isso é “quieta por dentro”, como Billy falou. Sobre os gêmeos (aprisionados), ao ser questionada, Harkness, em tom ora sarcástico ora ameaçador, faz uma apresentação de feitiços, questiona-a sobre o sotaque e sobre seus conhecimentos dos “Princípios Fundamentais da Magia”, sobre runas antigas de proteção e anulação de feitiços alheios. Além de revelar que usou de uma “Possessão Cristalina” para, através de “Fietro” (Fake Fietro), forçá-la a assumir sua verdadeira forma e extensão de poderes, travados por “inseguranças”.
Ela viu e sentiu o “Brilho Residual” da carga pesada de controle mental que Wanda lançou em WestView, forçando as pessoas a seguirem linhas narrativas sob a lente detalhista de sua ilusão: “Magia no Controle Automático”, algo especial e complexo demais para não esmiuçar. E é aí que o episódio começa sua jornada emocional, tanto de enfrentamento da realidade, sem mais “faz de conta” para nossa “estrela”, quanto de conhecimento sobre os “pedaços” desse quebra-cabeça de questões para Agatha. “A única forma de seguir é voltar.”
Sob as notas de “I Feel You” e “The Porch” de Guerra Infinita, vemos a família Maximoff: Irina, Oleg, Wanda e Pietro em Sokovia, na “Noite da TV”, em que seu pai traz todas as sitcoms clássicas homenageadas ao longo de WandaVision para “treinar o inglês” (“Dick Van Dyke de novo? É sempre sitcom, sitcom, sitcom”), enquanto a guerra civil acontece nas ruas. Afinal, na TV, toda confusão e peripécia ou são engraçadas e acabam bem ou são simplesmente um pesadelo. Mas não foi o que aconteceu aquela família quando um míssil Stark atingiu o apartamento e uma bomba ficou piscando por 2 dias enquanto as duas crianças apavoradas ouviam as risadas numa TV soterrada na sala. O que antes era visto como um “defeito” da bomba é revelado como um “Feitiço de Probabilidade”. Como Agatha resume: “O que eu vejo é uma bruxa bebê, obcecada por Sitcoms, e com anos e anos de terapia pela frente.”
Seguindo, voltamos aos “tempos de rebeldia” da HYDRA, ao qual Wanda diz que “queriam mudar o mundo” como voluntária nos experimentos com a joia da Mente do Cetro de Loki. Esta que se “desfaz” e revela uma visão de uma mulher com vestes similares às da Feiticeira, o que viria a ser pontuado mais tarde. Curiosamente, as câmeras de segurança não captam o momento, exatamente como a “censura” dita por Darcy no episódio 4. Na cela, novamente uma sitcom a acompanha: The Brady Bunch. “Então a pequena órfã ficou íntima com uma Joia do Infinito que amplificou aquilo que teria sido esquecido?”
Partindo ao Complexo dos Vingadores, o primeiro lar que ela e Visão compartilharam, em um novo país, sozinha, após Pietro morrer, Wanda assiste a Malcolm In The Middle, que “não é o tipo de série em que se machucam”. Mas, ali, Wanda está destruída, e revela a Visão que é como uma onda que passa por ela sem parar, é como se afogar (Monica descreveu o mesmo sobre o Hex). Visão, que sempre esteve sozinho, diz que “não sente a falta”, que não vivenciou a perda porque nunca teve alguém para amar e perder. Mas questiona, numa linha que atinge feito um touro: “O que é luto senão o amor que perdura?” Ali, mais do que nunca, a conexão entre os dois é palpável. E “o que aconteceu quando ele não esteve lá para te buscar das trevas” foi devastador: ela o queria de volta. Mais que tudo.
Assim vamos à sede da E.S.P.A.D.A., em que Wanda vai à procura do corpo de seu falecido companheiro, pois ambos merecem uma despedida. Só que, em um ato cruel, Hayward faz Wanda assistir enquanto Visão (“a arma inteligente mais poderosa já criada”) é esfacelado, dividido e explorado, por “obrigação moral e ética”. Interessantemente, Hayward fala que “Nem todo mundo tem o poder de fazer sua alma gêmea voltar à vida”, como se induzisse Wanda, que só queria enterrá-lo, a pensar que poderia mesmo alcançar tal feito, já que eles não iriam deixar que Wanda levasse “3 bilhões de Dólares em Vibranium”. Ela então “invade” o laboratório, Hayward não impede, porém ela não consegue sentir Visão, em mais uma sequência dolorosa na qual a faixa de Alan Silvestri toca. Chris Beck está se superando aqui.
Ela não sequestra Visão, como Hayward mostrou ao tentar vilanizá-la. Ela simplesmente entra em seu carro e vai embora, vendo que há um documento no banco do passageiro: era a compra de um terreno em WestView, aonde ela vai, passando por aquelas ruas e por todos os “personagens” já tão conhecidos por nós. É naquela propriedade, vazia, onde o amor que os dois nutriam iria se transformar num lar, que Wanda desaba. Todos os sentimentos, dores, perdas e luto acumulados desde a infância explodem em um desejo de sua vida perfeita, de sua própria sitcom. Assim, ela cria, literalmente do zero, um constructo em que ela poderia viver com Visão; não um corpo reativado, mas a representação de um desejo: de ficar em casa, de assistir à TV, de esquecer de seus traumas lá fora e envelhecer juntos.
Então vemos o estúdio do 1º episódio e gritos. Agatha, em suas roupas de Bruxa, segurando os gêmeos, afirma que Wanda deveria ser um “Mito”, um ser capaz de criação espontânea, alguém que não sabe o quão poderoso e perigoso é, e que usa em “trivialidades”. Tudo o que ela criou, toda aquela “vidinha” com Visão e os gêmeos, é fruto da Magia do Caos, o que faz dela uma “Feiticeira Escarlate”. É a primeira vez que estes termos, essenciais nas HQs, são usados no UCM.
Não dá para saber exatamente quais são os objetivos de Agatha com os poderes de Wanda ou se ela está de conluio com mais alguém (um Clã da cidade, talvez). Porque ela funcionou quase como uma mentora para Feiticeira nesse episódio, mostrando quem ela é de fato, o que a moldou e quem ela pode ser. E, meu Deus, eu chorei umas 4 vezes. Estudo de personagem fortíssimo, talvez o maior da Marvel até aqui. Elizabeth Olsen vem com tudo para o Emmy. Mal posso esperar pela season finale.
WandaVision
4.2 844 Assista AgoraWandaVision, Episódio 7: “Quebrando a Quarta Parede” (SPOILERS ABAIXO!!!)
Enquanto todos quebram a quarta parede, passamos da mistura dos anos 90 e 2000 e chegamos à década de 10, com um estilo mockumentário e o início do Terceiro Ato da produção.
“Todos nós já passamos por isso, né? Expandindo as barreiras do mundo falso que criamos.” Expandir sua realidade criada 13 km certamente não fez bem à Wanda, que acorda na cama sozinha, com reclamações dos gêmeos sobre a instabilidade de tudo aquilo (Billy, inclusive, está com a cabeça “barulhenta”), e parece ter largado de mão tudo. Visão não quer estar ali? Ok. Tudo ao seu redor começa a bugar em design de produção? Certo. Mostrar seus poderes pra todos verem? Quem se importa? Ela não tem respostas nem sentido, está perdida, e dá graças a Deus por Agnes (toda de roxo e com “uma verruga em suas costas) chegar e levar seus filhos para longe de sua “mãe pirada” (“Prometo não mordê-los”). Ela assume uma espécie de “quarentena terapêutica com ela mesma” (até na abertura) após a noite passada, repetindo que “está bem”, mesmo não funcionando muito. “Pietro” desapareceu, e ela também não se importa. Piadas matam. Ela merecia isso?
Visão acorda no Circo, em que é confundido com um palhaço “Ao menos já está maquiado” e é conduzido para a Escapista: nossa Darcy, que queria ser a Mulher Barbuda. Sendo uma Escapista de respeito, consegue escapar do controle já destoante de Wanda por intermédio de Visão, com o qual foge do Picadeiro e ajuda a recobrar o passado do ex-Vingador, resumindo da criação (Jarvis + Vibranium + Ultron + Genocídio Global) à sua morte por Wanda e Thanos (que alcançou seu sonhado Genocídio com Joia da Mente, tirada de sua testa), e dizendo que o amor deles é real. Visão tenta retornar pra casa por entender finalmente o sofrimento de sua mulher. Mas é atrasado seguidamente até largar o microfone e ir voando. Quando ele chegar lá...
Monica e Woo recebem os e-mails de Lewis, confirmando que Hayward estava tentando reativar Visão para, provavelmente, “criar uma Arma Sentiente própria (já que a E.S.P.A.D.A. deixou de “observar” para “construir”) e que ele deve ter facilitado o “roubo” de Visão por Wanda. Ademais, de maneira meio anticlimática por conta de tantas teorias, o Tanque Especial/Módulo Espacial Reforçado de Monica não foi feito por nenhum dos Richards ou por Shuri ou por Riri ou por sua amiga Skrull, e sim por um grupo do exército “leal a Maria”. Sem surpresas, a estrutura do tanque não foi o suficiente pra conseguir ultrapassar a barreira, metade sendo reescrita e a missão falhando. Se fosse Reed Richards, nada disso teria acontecido.
Mas é aí que vemos o belo nascimento de uma nova heroína: Spectrum (aparentemente), numa sequência foda. Rambeau, sem capacete, adentra na camada, lembrando de frases do tipo “Mãe, talvez eu possa voar e te encontrar no meio do caminho” e “Só quando você brilhar igual a sua tia Carol”, fazendo com que suas células fossem reescritas pela terceira vez e seus olhos ficassem brancos, enxergando o espectro luminoso das coisas ao redor.
Logo ela parte para tentar dizer as verdades à Wanda, mostrar que ela não é a vilã ali e demonstrar sua forte empatia: “A pior coisa que podia acontecer comigo já aconteceu, e não posso mudar, desfazer ou controlar essa dor; nem acho que quero. Porque essa é a minha verdade.” (personagem forte aí). Só que Feiticeira não quer ouvir e joga Monica longe (na rua mesmo, com todos assistindo, inclusive a sumida Dottie), já que acha que a E.S.P.A.D.A. que infiltrou Pietro ali. Agnes logo vem ao resgate e leva Wanda à sua casa, na qual adentramos pela primeira vez (e seu esposo não está lá de novo), onde um clima sombrio se abate. Wanda vai à procura de seus filhos no porão, mas tudo que ela acha é um lugar cheio de colunas, símbolos, bodes, ossos e livros brilhantes.
“Agnes” se revela, finalmente, do melhor jeito expositivo para a cabeça já abalada de sua “amiga”: com uma música tema bem cativante e distorcida. Ela é Agatha Harkness, grande bruxa-madrinha-amiga-babá dos Quadrinhos da Marvel. excluindo (por hora) toda e qualquer teoria sobre Mephistos, Pesadelos e Ralphs. Foi Agatha que manipulou tudo, que sabia de tudo, que estava sempre lá quando preciso, que mandou Pietro atiçar e interrogar sua irmã, que se fez de louca pra Visão. Ela é a Showrunner da série. Foi ela que nos enganou dizendo que os episódios finais teriam 1 hora cada. E pior: foi ela quem matou o pobre do Faísca. Mas esse enfoque todo ainda me deixa em dúvida...
Em cena pós-crédito, Monica e “Pietro” se encontram quando a primeira descobre as portas para o porão. Será que ele é o Ralph? Ou ainda está sob os comandos da nossa nova bruxa? E onde estão os gêmeos? O fato é que Olsen e Hann estão cada vez melhores.
WandaVision
4.2 844 Assista AgoraWandaVision – Episódio 6: “Um Halloween Assustadoramente Inédito!” (SPOILERS ABAIXO!!!)
Sem mais risadas em off, os anos 90 começam com a preparação para o Halloween. Todos encarnam seus visuais e trajes clássicos das HQs. Billy está com sua faixa na cabeça e capa vermelha meio torta. Este também passa o episódio falando diretamente para a câmera, como narrador onisciente e sentindo os “distúrbios na força” entre seus pais. Wanda, lindíssima, toda em escarlate, veste seu colã, capa e tiara (Chapeuzinho Vermelho velha ou Vidente Sokoviana?). Visão usa suas cores originais: corpo verde e cara vermelha, com uma capa amarela de gola alta. Totalmente inundado de questionamentos sobre a natureza de sua realidade, ele, saindo da narrativa de sua esposa, parte numa patrulha solo e observa cada vez mais “erros na Matrix”.
Entre “I feel the need… for speed”, “Let’s go kick-ass”, “Liberem o inferno, meus demônios”, “Não é do jeito que eu lembrava” e “Se você encontrasse Shangrilá, iria querer lembrar do passado?”, o relacionamento desse novo Pietro com seus sobrinhos e com sua irmã são definitivamente diferentes. Enquanto Wanda percebe disparidades entre as memórias de ambos sobre suas infâncias, sempre com sorrisos amarelos e olhos confusos/desconfiados e sempre o testando, seus filhos caem nas graças deste tio descolado que “até ronca legal.” Já que Tommy compartilha dos mesmos poderes que ele, compartilham também seus “uniformes”, azuis, com um raio em cinza mercúrio cruzando o peito e cabelos “chifrados” que apenas colaboram com as tantas teorias.
Ao fazerem a maior zona roubando doces, amassando abóboras e etc. (má influência que chama), Herb recebe em seu fone todas essas informações enquanto acontecem, como se lendo um roteiro alterado ou escrito ao desenrolar da cena. O que me leva a crer que ele e Agnes podem ser como corroteristas, revisores ou ainda continuístas, já que ele pergunta: “Você quer que algo mude?” à Feiticeira. “Os detalhes são confusos, cara”, diz Pietro depois de responder à irritação de Wanda, quase como cumprindo tópicos de seu roteiro. Citando que foi “baleado na rua sem motivo e depois ouvi você me chamando.” O que embolou várias questões.
Ele é mesmo o Pietro de Era de Ultron “com a cara errada” e personalidade de sua versão X-Men? Porque ele também questiona sua irmã sobre tudo e onde estavam as outras crianças. Dormindo pacificamente? “É uma grande evolução de causar pesadelos e atirar coisas vermelhas pelas mãos.” O interrogatório (estranho) muda de lado e Wanda passa reforçar que não sabe como tudo começou, que só lembra de sentir totalmente sozinha num “nada infinito”, e logo ela vê seu irmão morto e baleado, como o Visão no episódio 4.
Do lado de fora, Hayward continua a evoluir como babacão pragmático querendo “acabar com Wanda para que esse pesadelo (hmmm) acabe”, enquanto Jimmy, Darcy e Monica formam o lado racional da equipe, pois não sabem o que pode acontecer dentro e fora do domo se matarem Feiticeira, devido aos seus poderes em crescimento. “Se ela é o problema, ela tem que ser a solução.” Mas Hayward (envolvido com certa “Catarata”) acaba atacando Monica com golpes baixos (inclusive sobre a Maria) e os expulsa da operação.
Mas eles não desistem facilmente e conseguem se infiltrar em parte da rede do chefe, observando, como Visão (rastreado por Hayward), que as pessoas nos limites da cidade estão paralisadas (Wanda não gasta seus poderes aqui). Visão só ouve sussurros de “Feliz Halloween” até encontrar Agnes, diferentemente de seu “papel consciente do episódio anterior, também paralisada na proibida Avenida Ellis. Ela é acordada em desespero, perguntando se ele é um Vingador que está ali para salvá-los. Mas Visão não sabe o que é um “Vingador” (ele não lembra de nada do “antes”) e Agnes revela, sem perdão, que ele está morto no “mundo real” e que não há como sair dali porque “Wanda não nos deixa nem pensar nisso”. Ela entra num ataque de risos histéricos e um quase choro (Kathryn Hann braba), então o sintozoide segue seu caminho após “religá-la” à narrativa.
As amostras de sangue de Rambeau revelam o óbvio: suas células foram “reescritas” a nível molecular duas vezes: quando ela entrou e quando saiu do Hex, por conta da radiação (poderes à vista). Mas ela lembra do câncer de sua mãe e reforça a sua empatia com a dor de Wanda, querendo ajudá-la ao invadir o local com o tanque encomendado antes (que ficou pronto, indo logo buscá-lo). Mas é outro alguém que sai: Visão, se desfazendo e morrendo no processo.
Com isso, Billy avisa sua mãe do ocorrido e o que ela faz? Dá uma sova em Pietro (piadista sem timing), paralisa a todos e o episódio acaba com a expansão incontrolável do Hex, transformando em elementos circenses tudo que tocou, incluindo Darcy, (e salvando o marido) em cenas visualmente incríveis e tensas pra caramba. Fica a questão: até onde vão os poderes de Wanda? Certamente muitas pessoas estão querendo saber também, dados os últimos questionamentos que foram transferidos de Agnes ao Pietro.
Os anos 2000 prometem!
WandaVision
4.2 844 Assista AgoraWandaVision, Episódio 5 - "Num Episódio Muito Especial..."
(SPOILERS BRUTAIS ABAIXO!!!)
Se os anos 80 chegaram para marcar e mudar de vez o cinema com diversos clássicos, o quinto episódio de WandaVision vem para mudar (de lei) estética, narrativa (agora “dentro” e “fora”) e abrir um mundo (ou mundos) de possibilidades na Marvel com o melhor e mais longo episódio da minissérie até aqui. Senta que hoje tem muita coisa pra falar kkkkk.
Agora pais dos gêmeos barulhentos Tommy e Billy (o Luke criança de Hill House), Wanda e Visão não sabem como fazê-los parar de chorar. Mas, como boa convenção narrativa de uma sitcom, logo alguém vem para ajudar: “tia Agnes”, em roupas de exercícios, surgindo numa cena em que ela basicamente pergunta à diretora/roteirista/editora se precisa refazer a cena, após errar uma fala e não saber reagir à interferência de Visão.
Disfarçam de qualquer jeito e ela borrifa uma “colônia calmante”, logo os bebês pulam para 5 anos; depois para 10, quando encontram um cachorrinho na rua. Ao mesmo tempo (depois da abertura mostrar sua versão bebê kkkk), Visão fica consternado com Wanda e seus filhos demonstrando seus poderes na frente de Agnes e mais encucado com esta por sempre aparecer na hora certa com exatamente o que eles precisam. “Não dá para controlá-los. Não importa o quanto tente.”
Do lado de fora, Monica Rambeau (a qual Darcy é fã) revela que, assim que foi “sugada”, um sentimento excruciante e aterrorizante se abateu sobre ela: um desespero, uma tristeza, como se a afogasse. Era Wanda e seu luto. Assim como vemos quando Visão recebe um e-mail da Dra. Lewis e “desativa” o papel de Norm, que repete o mesmo padrão de aflição. Interessante que o exame eletromagnético de Monica deu um “branco”. Indício para os seus poderes de Spectrum ou Fóton?
Após um breve resumo sobre a vida de Feiticeira (inclusive perguntando se ela tem algum “apelido”, já que tal nome não é usado no UCM) e um enviesamento de Hayward para caracterizá-la como terrorista (por conta dos incidentes em Sokovia e em Lagos, que é “abordado” num comercial de papel-toalha: “Para quando você faz uma bagunça sem querer”), é mostrado que Wanda invadiu a Sede da E.S.P.A.D.A 9 dias antes para roubar o corpo de Visão (eles não fizeram nada depois disso?). Violando tanto o Acordo de Sokovia quanto o testamento de “não ser usado como arma” do sintezoide.
Darcy nomeia a Anomalia de Hex(agonal, ou “feitiço” em inglês) ao discutir, com Woo (que trouxe o café!) e Rambeau (se mostrando uma personagem forte) a extensão dos poderes da Wanda, “bem mais do que ela jamais demonstrou”, e que ela não cria ilusões, mas “reescreve a realidade” de acordo com a “época” e com a matéria. Como o Kevlar de seu colete que virou uma roupa.
Assim ela tem uma ideia de mandar um drone dos anos 80 (que não precisa ser “adaptado”, mas isso é um contra-golpe, pois Wanda sai ela mesmo do seu domo, carregando o drone destruído, e dá um único aviso (ameaça, né?): “Fiquem fora do meu lar. Se vocês não me incomodarem, eu não incomodarei vocês.” Marcando de fato que, agora, ela age em total consciência da sua situação, e que não vai deixar ninguém tirar sua “vida perfeita”. Olsen assustadora na medida certa.
Se “família é para sempre” é o que Wanda ensina para os seus gêmeos, estes clamam: “Você pode consertar tudo, mãe. Conserte a morte” quando seu cachorrinho, Faísca, morre ao comer folhas de azaleia. Ao qual ela responde hipocritamente que há certas regras na vida, e algumas coisas são para sempre, como a morte. Em seguida, Visão explode, se revolta e enfrenta sua mulher sobre sua dissimulação, mentiras e controle. Ela tenta encerrar o episódio, os créditos sobem, mas não dá mais para desviar de foco das suas dúvidas sobre o que tem além de WestView e sobre o "antes" daquilo tudo. Wanda também diz que não sabe como tudo isso começou, numa clara demonstração de supressão de memória/trauma.
E se o episódio já não fosse forte o bastante, o que temos no fim? Isso mesmo, Wanda “reescalando Pietro”. Como um “tio descolado”, Evan Peters (res)surge na pele de Mercúrio. “O irmão perdido não pode abraçar a irmã fedorenta até a morte?” Isso me levou a pensar que seus poderes não se estendem a “ressuscitar”, e sim (não apenas) a reescrever a realidade, ao seu bel prazer, com elementos físicos presentes nela, como Rambeau pontuou. Seja esta realidade qual for: paralela, do Multiverso ou dos X-Men da Fox. Ou seria este um indício de Mephisto? Ele está nos detalhes, como já sabemos. E no começo do episódio, Agnes fala “(...) Mas não tem como domar este tigre”, e depois um tigre aparece na mesa da cozinha...
Enfim, meu Deus. Esperemos pelos anos 90!
Euphoria: Fuck Anyone Who’s Not a Sea Blob
4.3 128“ – Por que você achou que fosse perder a Rue?
- Porque como seria possível de a Rue me amar tanto quanto eu a amava?
- Uma melhor pergunta seria: 'Por que você acha que isso seria impossível?'"
Interessante como a série escolheu (ou foi obrigada já que a Pandemia impossibilitou quase tudo) dois episódios especiais para passar a voz às suas personagens principais. Explorando (revivendo ou indo além dos acontecimentos da primeira temporada) cada um dos lados, cada uma das verdades, desse relacionamento complexo e tempestivo, e de suas vidas mais complexas ainda.
Acho bem legal como o Sam Levinson (criador, diretor e roteirista) é respeitoso e confia nas duas. Além de Zendaya (Rue) ser produtora, Hunter Schafer, a Jules, mais do que uma ótima atriz, co-roteirizou este episódio.
E não poderia ser mais sensível, forte e pessoal, tendo em vista que ela estava buscando hospitais psiquiátricos na internet, à época em que Sam a ligou para falar de sua ideia, por não estar conseguindo lidar bem com a quarentena. Então, basicamente, o especial foi tanto uma terapia para a personagem quanto para a atriz, sendo muito reflexivo e autocrítico. Uma confrontação sobre sua sexualidade, sua personalidade, seus traumas e sobre o amor, a dependência e a toxicidade que ela e Rue compartilham mutuamente entre si.
É visualmente e narrativamente lindo, tão profundo, conturbado e poético como o mar no qual Jules tanto se sente à vontade.