Quem já leu Agatha Christie vai reconhecer o clássico plot de 'whodunit', no qual cada cena revela algo novo sobre o que já pensávamos que sabíamos, com algumas camadas extras de metalinguagem, uma vez que o morto era um escritor de histórias como a que estamos testemunhando. Rian Johnson dirige com muito estilo, munido de uma cinematografia contrastada e edição que potencializa simbolismos imagéticos dando pistas visuais o tempo todo.
O elenco é aquela constelação dos sonhos, o que nem sempre dá certo, já que os bastidores costumam ser uma batalha de egos, afetando o produto final... mas aqui o entrosamento em cena é real, todos estão muito bem. Só Toni Collette que merecia mais.
Johnson também escreveu o roteiro original, que foi indicado ao Oscar. É daqueles que dá gosto de acompanhar de tão redondinho. Quando tudo se amarra no final, a catarse é inevitável.
Não que eu tenha me surpreendido com 100% das reviravoltas; elas são quase telegrafadas e o tom geral é de um episódio do Scooby-Doo (um dos bons), com um assassino que confessa seu crime sem nenhuma razão aparente. Além disso, o simples fato de o então "Capitão América" ter aceitado participar do filme, já me dizia que seu papel não seria tão insípido quanto a trama estava tentando me fazer acreditar.
Nada disso, contudo, tirou a diversão de assistir à trama se desenrolar, especialmente nas sequências dos investigadores procurando pistas, enquanto a personagem de Ana de Armas tenta encobrir seus rastros.
Harlan ter morrido em vão, isso sim me pegou desprevenido e deu uma dimensão tão trágica aos acontecimentos! Christopher Plummer e sua capacidade de fazer o personagem ser tão cativante mesmo com pouquíssimos minutos em cena — now that's what we call a legend. RIP.
O roteiro aborda ainda temas como imigração e relações de classe, que vão ganhando mais corpo ao longo da história. Percebam que Marta é um clássico caso de empregada que é "quase da família", porém ninguém liga para saber suas origens étnicas: cada personagem diz que sua família é de um país diferente. E a certeza da impunidade do homem branco cis-hétero e rico no clímax só deixou tudo mais explícito. Um jeito formidável de alfinetar o americano médio trumpista e xenofóbico, que age como se tudo fosse dele por direito. A alegoria sociopolítica é real.
E aqueles takes finais onde a câmera deixa visualmente claro que as relações de poder se inverteram, com Marta olhando-os literalmente de cima e o callback da caneca, carregado de novos significados, foram a cereja no bolo.
Filme que marca o retorno de Michael Myers depois de uma tentativa frustrada de levar a franquia para uma nova direção com o terceiro filme (que eu até gostei). Entretanto, quando o psicopata parece mais assustador com o rosto enfaixado de curativos do que com a máscara CAPENGA deste volume... algo errado não está certo.
O filme abre muito bem, os créditos iniciais são apresentados contra imagens de lugares ermos que remetem ao halloween e toda a sequência de abertura com os médicos transferindo Michael, onde ele comete os primeiros assassinatos do filme, são de dar arrepios.
Pena que a partir daí esses momentos vão ficando cada vez mais raros. E sem a vocação para sustos e atmosfera de John Carpenter, além da falta da icônica trilha sonora, que aqui resume-se ao tema, este quase plágio do primeiro filme tem poucos momentos que empolgam, como a sequência no telhado e seus últimos minutos.
A pequena Danielle Harris é tão boa que acaba sendo um dos destaques positivos ao lado da também competente Ellie Cornell. E, claro, Donald Pleasence com seu já calejado Dr. Loomis, que eleva o filme em cada cena que participa. Infelizmente não conseguem salvar o filme da mediocridade; O excesso de diálogos que não levam a lugar nenhum e a direção pouco inspirada são as constantes aqui.
Filme bem dinâmico, que intercala mistério, suspense e sustos, sem quedas de ritmo. Seus 111 minutos fluem sem barrigas, e com um tom que não se leva a sério desde a cena de abertura, tendo alguns momentos que beiram a sátira.
Gostei muito de como James Wan mistura tributos a diversas vertentes: tem elementos de horror psicológico, horror gótico, monster flick, filme de espírito, possessão, casa mal-assombrada, giallo, slasher, body horror e até acenos ao j-horror! Evoca ainda o estilo de cineastas como Cronenberg, Sam Raimi, Wes Craven e até Dario Argento! Bem costurado no roteiro, não de um jeito óbvio, como faz "O segredo da cabana" (superestimado) - o que não é fácil de fazer. Achei um prato cheio pra quem curte *mesmo* o gênero ao longo das décadas.
O trabalho de fotografia é outro destaque positivo. São posicionamentos e movimentos de câmera que ampliam o escopo dramático (não via um zenital tão bem utilizado no gênero desde "Midsommar"), e o uso de cores e iluminação meticulosos que, ora querem passar despercebidos, apenas servindo ao propósito da cena, ora criando uma atmosfera onírica, combinados a muita neblina.
O elenco é agradável o suficiente para torcermos por eles (e não para que morram logo, como geralmente acontece), com destaque para a investigadora interpretada por Michole Briana White, que é bem carismática. A fisicalidade da atuação de Annabelle Wallis, que faz a protagonista Madison, também é um dos pontos fortes da narrativa. E falando nisso...
O terceiro ato nos brinda com uma virada bizarra e muito bem-vinda, que injeta novo gás no filme e nos lembra porque Wan é o maior nome do gênero na atualidade. As cenas de ação (??) com muito gore na delegacia estão entre as melhores do filme e adicionam mais um gênero a partir dali até seu clímax. Para quem esteve atento, as pistas estavam por toda parte. Mesmo não tendo sido tão impactado pelo twist, não há como negar que o pay-off é eficaz e satisfatório.
Se posso apontar um detalhe que venceu a minha suspensão de descrença, foi no primeiro terço do filme, a quantidade absurda de polícia na cena da morte do Derek atendendo a um chamado por invasão de domicílio — até helicóptero teve ali! Bitch wtf?!? 😂 Esperei alguma explicação do roteiro que nunca veio.
Me diverti muito mais do que esperava com esse filme muito camp e inteligente.
Odiado por muitos, tido como um cult incompreendido para outros, "Halloween III: Season of the Witch" é inferior ao 1 (obra-prima), mas está no mesmo nível do 2.
Cenas legais como a do "missfire" e a da 🎃🐍, o ar meio silly de tudo e a trilha que tem a assinatura do Carpenter, à base de synths que dão arrepios, são pontos a favor do filme. O ritmo irregular foi a única coisa que me incomodou, porque todo o resto me ganhou, até a mistura de elementos como
bruxaria aliada a tecnologia na forma de um exército de robôs e infanticídio em massa com um vilão que explica seu plano diabólico para o herói no melhor estilo James Bond.
O fato de o filme "Halloween" existir no universo desta história (como visto na cena do bar) resolve a questão da ausência de Michael Myers e traz uma camada de metalinguagem muito inesperada; O que não deixa de ser irônico, pois a trama passada neste universo, que seria o nosso, é muito mais inacreditável que a de Michael Myers;
Poderia ser um episódio de "The Twilight Zone" ou uma temporada de "American Horror Story".
O uruguaio Fede Alvarez é um dos nomes mais interessantes do suspense/terror contemporâneo na minha opinião. Apesar de ter poucos trabalhos no currículo, desde o curta viral "Panic Attack!" de 2009, passando pelo remake surpreendentemente bom de "Evil Dead", ele tem demonstrado proficiência como realizador, principalmente quando consideramos o que ele consegue fazer com orçamentos modestos em matéria de efeitos visuais e práticos.
Aqui não é diferente, uma premissa intrigante que prioriza atuações em lugar dos efeitos, quase inexistentes. Fazendo bom uso de elementos como a escuridão/iluminação para criar suspense, apostando em atuações competentes e a exploração daquele ambiente da casa, Alvarez reafirma sua inteligência cênica e bom domínio da tensão, causando aquela agoniazinha boa que te deixa na ponta da poltrona - isso é um bom diretor.
Só não achei tuuudo isso que meus amigos alardearam. Bom filme.
James Wan, que é um dos produtores da película, pode ser responsável pelo cuidado com os efeitos visuais impecáveis de gelo, fogo, raios, mas principalmente o gore nas cenas mais sangrentas. Trilha sonora e cinematografia também são pontos fortes. Os figurinos, essenciais para a construção de verossimilhança, cumprem bem seu papel.
Alguns personagens como Sub-Zero, Kano, Sonya e Jax até funcionam, mas todo o resto do elenco é sofrível. Raiden, Liu Kang e Shang Tsung, só pra citar alguns, são um total desperdício de bons personagens, cujos intérpretes apenas dão as falas como se estivessem lendo a lista de compras do mês. O personagem principal, Cole, simplesmente não precisava existir, já que o interesse principal do filme é em Scorpion vs Sub-Zero (torneio? Hahaha esquece), e o ator Lewis Tan é outro incompetente. E o que fizeram com Reptile aqui foi tão hediondo quanto sua encarnação no filme de 1995.
O roteiro resume-se a "precisamos ir do ponto A ao ponto B bater no cara C". E é isso. Nem quero comentar. Mais idiota impossível.
Mesmo com mais defeitos que qualidades, esta versão de "Mortal Kombat" me divertiu, graças aos easter eggs gratuitos, à parte técnica impecável e a mim, que não sou um fã tão apaixonado assim.
Únicos momentos que parecem ter sido de fato dirigidos/fotografados pelo Snyder são a sequência de abertura (patética); a montagem dos créditos iniciais; a horda de zumbis em torno da piscina (que até remeteu a coisas renascentistas como a Santa Ceia); e a cena
daquela menina chata chorando sobre o corpo do pai após a queda do helicóptero, bem contrastada como é característico do diretor.
O resto do filme ele deixou na mão do diretor assistente e foi pra casa.
Filme feito sem capricho, elenco fraco e sem química, um monte de inconsistências com o que o próprio roteiro estabelece e forçações gratuitas... fui com -1 de expectativa e nem como guilty pleasure serviu. Muito fraco. Apenas a dona Netflix querendo pegar carona no lançamento do Snydercut e faturar.
Gosto da maneira como a história começa de onde o filme original parou e dos resquícios de suspense que vemos no início, com Michael se esgueirando pelas casas das pessoas. Mas isso logo é posto de lado e a influência de "Sexta-feira 13" (que saiu entre o primeiro e este) entra em ação, com uma abordagem que foca mais no valor de choque das mortes, o que para mim perde muito.
Laurie em nada se assemelha à personagem inteligente que conhecemos, e tem seu papel diminuído/emburrecido; aquele hospital quase vazio é um tanto forçado e aquele momento de "olhos sangrando/liberação de gás" no clímax foi involuntariamente cartunesco. Também tive dificuldade em comprar a construção da imortalidade de Michael e não tenho certeza sobre essa revelação envolvendo os dois protagonistas.
A trilha sonora de Carpenter ainda é magistral e foi responsável pelos maiores calafrios.
Gore Verbinski tem uma assinatura estética muito bem acabada e faz aqui uma parceria com Johnny Depp tão boa ou melhor que os filmes da franquia "Piratas do Caribe".
O diretor (que eu acho subestimado) tem pleno domínio narrativo e manda bem tanto nas cenas de ação quanto nas piadas - mérito dividido com o roteiro de John Logan, que é uma aula de ritmo, apresentando novos elementos a cada cena. O trabalho de câmera é dinâmico, sempre preenchendo o quadro com alguma piada visual ao fundo da cena.
A qualidade da animação também enche os olhos: design dos cenários e diferentes texturas das peles/pêlos dos personagens e suas expressões faciais são tão impressionantes quanto há 10 anos, quando foi lançado.
A trilha magistral do Hans Zimmer, à base de banjos e violas, dá o tom da história; o trabalho de voz do elenco estelar e os efeitos sonoros são impecáveis no estabelecimento da verossimilhança daquele universo.
"Rango" é uma bela homenagem ao gênero 'western' com uma mensagem sobre o processo de desertificação dos biomas causado pelo progresso do homem.
Enquanto o primeiro filme foi um êxito com um roteiro redondinho a partir de um material-fonte tão inusitado (o livro é literalmente uma enciclopédia super curta de bichos sem nenhum arco dramático) e uma progressão simples, mas que entregou bons plot twists... este segundo se perdeu.
A narrativa é excessivamente episódica, parecendo capítulos de um livro - o que não funciona em termos de linguagem cinematográfica -; nenhuma sequência se conecta com a anterior, dando aquela sensação de colcha de retalhos; a trama de Dumbledore e Grindelwald é muito mais interessante do que qualquer coisa envolvendo o protagonista e os animais, que são distrações e parecem barrigas de roteiro; detestei a origem de Nagini, me pareceu tirada do c*; os efeitos especiais são lindos, mas vazios, sem peso dramático e o filme se escora neles 90% do tempo; e o elenco é cheio de estrelas desperdiçadas (mas isso já é quase tradição nesse universo).
JK Rowling perdeu a mão e provou aquela máxima de que nem todo grande escritor é um grande roteirista. Temo que se não for afastada dos projetos envolvendo suas crias, ela se torne algo como foi George Lucas para a franquia "Star Wars".
Filme divertido, aventura vertiginosa e comédia que funciona a maior parte do tempo apesar de exigir certo comprometimento do público, dado o exagero de algumas cenas, como a do ônibus, mas isso é uma característica da comédia de absurdos; gostei que deram algo para todos os personagens fazerem, eles não ficam como meros acessórios de roteiro, gosto bastante desse elenco: Zendaya, Jake, Jacob... surra de carisma.
Duas grandes cenas que destaco foram aquela lisérgica ilusão do Mysterio no fim do segundo ato e o clímax na ponte com os drones (embora meio repetitiva).
JJ Jameson na primeira cena pós-créditos me deixou indeciso se o que vi foi um bom fan-service ou uma bomba que confirma que a realidade do Tobey Maguire existe; e a revelação das identidades Skrulls de Sam L Jackson e da parceira foram um mini-surto que apontaram para caminhos empolgantes.
Mas o aspecto que mais me agradou e chamou a atenção no filme, como um todo, foi o discurso que o roteiro faz a partir das falas e do próprio arco de Mysterio, de que
"smoke and mirrors" (homens fantasiados voando em trajes coloridos e capas esvoaçantes) ou as "fake news", se preferir (as ilusões pirotécnicas que ele produz), são mais relevantes na sociedade atual do que a ciência - já que o trabalho de toda aquela equipe de pesquisadores foi menosprezado por Tony Stark e pelo público que riu deles na conferência.
Indireta sócio-política em forma de alegoria fílmica recebida com sucesso.
Gosto muito do estilo de direção do Lanthimos, bizarro, meio nonsense, flerta com o surrealismo dentro de um universo realista, personagens estranhos, trilha sonora grandiosa, fotografia que aumenta o senso de loucura...
Eu sinto que, enquanto arte, nem tudo em um filme precisa fazer sentido e seguir a cartilha batida do cinema produzido em modo industrial a que Hollywood nos condicionou. Encare como uma tela abstrata. Abra sua cabeça... às vezes muita coisa é passada apenas com o olhar, silêncios dizem muito... às vezes é sobre sensações que o filme te causa e isto nem sempre passa pelo racional. Enfim, pessoas diferentes têm sensibilidades diferentes e vão perceber arte de formas variadas, e esse é o barato, eu acho.
A forma que a música é usada pra criar suspense nesse filme é fodaa! Putz eu ameei! 🤩
John Carpenter mto mestre, é muito domínio:V Acho que este é o filme dele que mais gostei, e digo isto num mundo onde "The Thing (1982)" existe.
A câmera é incrível, tem sempre algo acontecendo em segundo plano, muita sutileza, a construção da Laurie é natural, ela parece uma pessoa de verdade, é inteligente, a gente se importa com ela! Jaime Lee Curtis herdou o talento da mãe.
O diretor cria muito aquele senso de terror "creep", aquela coisa que te persegue, aquela paranoia crescente, dá um desespero! 😫 E também 'jump scares' bem executados... Leva boa parte do filme criando o universo então quando as mortes finalmente acontecem, a tensão já está no limite!! 😫
E que roteiro enxuto, falas bem escritas, boas atuações do restante do elenco... Escreveu mesmo o livro que todo o gênero 'slasher' tentaria emular, mas olha... Desde "Pânico" não via um desse quilate. (não, eu nunca tinha visto Halloween, me julguem)
Neste filme, Robert Zemeckis exercita os dois lados mais marcantes de sua assinatura como diretor: o domínio de efeitos especiais e o estudo de personagem, assim como em "Forrest Gump" e "Náufrago".
Toda a sequência do tal voo é bem maneira, tensa demais. Mas o mais legal é ver o diretor abrir mão dessa parte pirotécnica para focar na jornada de declínio do piloto alcoólatra Whip Whitaker.
Denzel Washington é sempre competente e aqui cria um personagem complexo, de moral duvidosa, que se recusa a fazer média para conquistar a plateia, mas cujo destino nos instiga até o fim.
O meio do filme, o miolo, foi meio repetitivo pra mim, por mais que estejamos falando de vício e recaídas, achei a estrutura das cenas ali parecidas. E aquele romance que, penso eu, devia tornar Whip mais 'likeable', serviu pra nada. John Goodman melhor personagem.
O dilema ético que o comandante enfrenta durante todo o filme, a culpa pelas mortes, o refúgio na bebida, tudo bem construído, gostei.
Se no primeiro tudo era ultrajante, os tempos loucos que vivemos fazem este aqui parecer a timeline de uma rede social qualquer - o que não significa que o humor constrangedor perdeu a eficácia. A incorreção política de Sacha Baron Cohen permanece a mesma, porém a mensagem final mostra que o alvo das piadas é mais certeiro.
A forma que Cohen deflagra a estupidez e a xenofobia do conservadorismo americano médio é brilhante e muito corajoso.
Simbólico o bastante a única personagem decente do filme ser uma mulher negra.
A mão de J. J. Abrams na produção é uma das coisas boas neste filme que é parte thriller de guerra, parte zombie flick; a primeira sequência é espetacular e remete ao estilo do cineasta.
A direção deu o tom certo, conseguindo passear por vários gêneros com fluidez e não poupando gore. Os personagens são carismáticos, criando identificação com o espectador com facilidade e há também um capricho notável na cinematografia. Efeitos visuais convincentes e bem executados fecham o pacote.
O principal problema, que realmente me incomodou, foi o roteiro que, embora tenha um bom ritmo com viradas bem distribuídas, tem algumas situações forçadas que beiram o "Scooby-Doo" e exigem ainda mais suspensão de descrença de quem assiste, pegando o personagem Boyce pela mão e levando por vários lugares no momento exato em que acontecem certas ações e ele permanece imperceptível, como artifício para nos mostrar aquilo, meio forçado, convenhamos.
Mas apesar disso e da galera sem criatividade nem senso de humor que nunca ouviu falar de revisionismo histórico, gostei do filme, bem divertido e bem realizado.
Marc é incapaz de comunicar o que sente a não ser através de gestos brutos que reforçam seu status de macho, a crueza de seus atos só permite ternura quando está nos braços de Kay.
Essa falta de verbalização cria tensão e só torna o filme mais interessante, pois demanda uma direção mais cirúrgica e atuações idem. Esse é daqueles filmes onde os silêncios falam mais alto e os olhares tem mais importância que os diálogos.
As corridas inicialmente são usadas como metáfora para o desejo reprimido de Marc, que parece querer fugir disso como em um jogo de gato e rato.
Um filme emocionante sobre desejo, autodescoberta, escolhas e suas consequências.
Fui com expectativas baixas e mesmo assim, me decepcionou.
O comentário social acerca do sofrimento do povo negro contado pela estética do horror é uma ideia boa, pena que para por aí.
A duração é muito extensa sem a menor necessidade, a edição não tem ritmo, o roteiro é muito repetitivo, o fato de ter 4 diretores só torna a produção irregular e há erros básicos de enquadramento na fotografia. Fora que o terror ficou só na promessa.
Entendo super porque Zezé Motta aceitou participar do projeto, mas está perdidinha aqui, coitada.
O início é cheio de exposição barata para explicar do que se trata o tal poço, que é um recurso preguiçoso, existe uma crítica social ali que tb achei mto na cara, pouco sutil... Gosto da questão de se passar em uma só locação, mas no geral, achei o roteiro bem meh.
O filme independente do diretor Tavinho Teixeira sobre um casal abusivo, porém simbiótico formado por já coroas Batman e Robin versão tupiniquim num futuro sombrio assolado por uma epidemia que já tomou 50% da população mundial (profético enough, 2020?), já mostra o que esperar dele em suas duas primeiras cenas.
É explícito, experimental, não-linear, metalinguístico e nada do que você espera, tendo lido esta breve tentativa de sinopse. A dificuldade em categorizá-lo, pra mim, depõe mais a favor do que contra.
Existe uma pá de boas ideias, como por exemplo, nesta realidade distópica, banana valer mais que ouro e as cenas que quebram a diegese, mostrando câmera, equipamentos de iluminação e o telão atrás do carro que "dirigem", nos tirando do transe fílmico e evidenciando o artificialismo do "fazer filme", só para nos convidar a embarcar novamente na proposta. O problema é que nem sempre funciona.
Diálogos e atuações que são poéticos e flertam com a subjetividade; as escolhas da direção de arte são obviamente limitadas pelo orçamento e a montagem que evita convenções narrativas, abre mão de fluidez e aposta em recortes; ora sugerem um filme corajoso e contestador, ora um projeto de final de curso de universidade cheio de pretensão.
Mas não me arrependi de tê-lo assistido, pois apesar dos pesares, a entrega do diretor (que também interpreta Robin) é louvável.
A história do casal gay de Hong Kong que viaja à Argentina e como essa viagem muda suas vidas, me conquistou.
Uma espécie de recorte de um período na vida desses personagens, lindamente fotografado por Christopher Doyle com sua cores primárias que captam todo o espírito boêmio da noite portenha, também onipresente na trilha sonora composta de tangos. Mexeu bastante comigo esse filme.
Olha, minhas expectativas estavam tão baixas para este filme (visto que nem me apressei a assistí-lo), que considero que saí no lucro. Conseguiu me manter interessado, porém sem nunca empolgar de fato.
Tudo aqui é fraco demais; Direção, roteiro cheio de furos de continuidade e motivações fracas, elenco mal entrosado, falta química; Jennifer Lawrence e seu desastre de Mística (tá mais para outra Katniss 😒)... até cabelo/maquiagem e os figurinos desse filme me incomodaram para se ter uma ideia... mas acaba sendo aquele filme ruim inerte, esquecível, inofensivo... que não ofende.
É ruim Temer, não chega a ser ruim Bolsonaro, sabe?
Super Cine.
PS: Gostei de como filmaram a batida do início; Detestei como filmaram a batalha no meio do trânsito... aqueles ângulos de câmera no modo aleatóriokkk??
Me surpreendi com este filme. Esperava ser só um apanhado de r*las e soft porn com alguma trama boring, mas até que ele se mantém interessante até o fim.
Gostei da pegada meio existencial, os questionamentos, a forma como os personagens se relacionam, bem orgânica e tal... cinematografia que aproveita bem a luz natural do ambiente, cheia de composições visuais interessantes; o roteiro, cheio de bons diálogos, vai se adensando aos poucos, caminhando para um thriller sexual onde tudo mora nos detalhes.
As cenas de sexo são filmadas com delicadeza ou vigor de acordo com a situação, mas achei tudo de bom gosto, não soou vulgar em momento nenhum, pelo contrário. Parece que o diretor busca mais aquela nudez dos quadros da renascença ou das esculturas gregas, do que hipersexualizar o corpo masculino.
Achei o filme inteligente por conseguir contar esta história com um elenco limitadíssimo e talentoso, usando uma só locação, apesar do ritmo meio contemplativo, o roteiro é ágil e faz os 100 min do filme voarem. 👌🏽
Entre Facas e Segredos
4.0 1,5K Assista AgoraQuem já leu Agatha Christie vai reconhecer o clássico plot de 'whodunit', no qual cada cena revela algo novo sobre o que já pensávamos que sabíamos, com algumas camadas extras de metalinguagem, uma vez que o morto era um escritor de histórias como a que estamos testemunhando. Rian Johnson dirige com muito estilo, munido de uma cinematografia contrastada e edição que potencializa simbolismos imagéticos dando pistas visuais o tempo todo.
O elenco é aquela constelação dos sonhos, o que nem sempre dá certo, já que os bastidores costumam ser uma batalha de egos, afetando o produto final... mas aqui o entrosamento em cena é real, todos estão muito bem. Só Toni Collette que merecia mais.
Johnson também escreveu o roteiro original, que foi indicado ao Oscar. É daqueles que dá gosto de acompanhar de tão redondinho. Quando tudo se amarra no final, a catarse é inevitável.
Não que eu tenha me surpreendido com 100% das reviravoltas; elas são quase telegrafadas e o tom geral é de um episódio do Scooby-Doo (um dos bons), com um assassino que confessa seu crime sem nenhuma razão aparente. Além disso, o simples fato de o então "Capitão América" ter aceitado participar do filme, já me dizia que seu papel não seria tão insípido quanto a trama estava tentando me fazer acreditar.
Nada disso, contudo, tirou a diversão de assistir à trama se desenrolar, especialmente nas sequências dos investigadores procurando pistas, enquanto a personagem de Ana de Armas tenta encobrir seus rastros.
Harlan ter morrido em vão, isso sim me pegou desprevenido e deu uma dimensão tão trágica aos acontecimentos! Christopher Plummer e sua capacidade de fazer o personagem ser tão cativante mesmo com pouquíssimos minutos em cena — now that's what we call a legend. RIP.
O roteiro aborda ainda temas como imigração e relações de classe, que vão ganhando mais corpo ao longo da história. Percebam que Marta é um clássico caso de empregada que é "quase da família", porém ninguém liga para saber suas origens étnicas: cada personagem diz que sua família é de um país diferente. E a certeza da impunidade do homem branco cis-hétero e rico no clímax só deixou tudo mais explícito. Um jeito formidável de alfinetar o americano médio trumpista e xenofóbico, que age como se tudo fosse dele por direito. A alegoria sociopolítica é real.
E aqueles takes finais onde a câmera deixa visualmente claro que as relações de poder se inverteram, com Marta olhando-os literalmente de cima e o callback da caneca, carregado de novos significados, foram a cereja no bolo.
Halloween 4: O Retorno de Michael Myers
3.1 374 Assista AgoraFilme que marca o retorno de Michael Myers depois de uma tentativa frustrada de levar a franquia para uma nova direção com o terceiro filme (que eu até gostei). Entretanto, quando o psicopata parece mais assustador com o rosto enfaixado de curativos do que com a máscara CAPENGA deste volume... algo errado não está certo.
O filme abre muito bem, os créditos iniciais são apresentados contra imagens de lugares ermos que remetem ao halloween e toda a sequência de abertura com os médicos transferindo Michael, onde ele comete os primeiros assassinatos do filme, são de dar arrepios.
Pena que a partir daí esses momentos vão ficando cada vez mais raros. E sem a vocação para sustos e atmosfera de John Carpenter, além da falta da icônica trilha sonora, que aqui resume-se ao tema, este quase plágio do primeiro filme tem poucos momentos que empolgam, como a sequência no telhado e seus últimos minutos.
A pequena Danielle Harris é tão boa que acaba sendo um dos destaques positivos ao lado da também competente Ellie Cornell. E, claro, Donald Pleasence com seu já calejado Dr. Loomis, que eleva o filme em cada cena que participa. Infelizmente não conseguem salvar o filme da mediocridade; O excesso de diálogos que não levam a lugar nenhum e a direção pouco inspirada são as constantes aqui.
Maligno
3.3 1,2KFilme bem dinâmico, que intercala mistério, suspense e sustos, sem quedas de ritmo. Seus 111 minutos fluem sem barrigas, e com um tom que não se leva a sério desde a cena de abertura, tendo alguns momentos que beiram a sátira.
Gostei muito de como James Wan mistura tributos a diversas vertentes: tem elementos de horror psicológico, horror gótico, monster flick, filme de espírito, possessão, casa mal-assombrada, giallo, slasher, body horror e até acenos ao j-horror! Evoca ainda o estilo de cineastas como Cronenberg, Sam Raimi, Wes Craven e até Dario Argento! Bem costurado no roteiro, não de um jeito óbvio, como faz "O segredo da cabana" (superestimado) - o que não é fácil de fazer. Achei um prato cheio pra quem curte *mesmo* o gênero ao longo das décadas.
O trabalho de fotografia é outro destaque positivo. São posicionamentos e movimentos de câmera que ampliam o escopo dramático (não via um zenital tão bem utilizado no gênero desde "Midsommar"), e o uso de cores e iluminação meticulosos que, ora querem passar despercebidos, apenas servindo ao propósito da cena, ora criando uma atmosfera onírica, combinados a muita neblina.
O elenco é agradável o suficiente para torcermos por eles (e não para que morram logo, como geralmente acontece), com destaque para a investigadora interpretada por Michole Briana White, que é bem carismática. A fisicalidade da atuação de Annabelle Wallis, que faz a protagonista Madison, também é um dos pontos fortes da narrativa. E falando nisso...
O terceiro ato nos brinda com uma virada bizarra e muito bem-vinda, que injeta novo gás no filme e nos lembra porque Wan é o maior nome do gênero na atualidade. As cenas de ação (??) com muito gore na delegacia estão entre as melhores do filme e adicionam mais um gênero a partir dali até seu clímax. Para quem esteve atento, as pistas estavam por toda parte. Mesmo não tendo sido tão impactado pelo twist, não há como negar que o pay-off é eficaz e satisfatório.
Se posso apontar um detalhe que venceu a minha suspensão de descrença, foi no primeiro terço do filme, a quantidade absurda de polícia na cena da morte do Derek atendendo a um chamado por invasão de domicílio — até helicóptero teve ali! Bitch wtf?!? 😂 Esperei alguma explicação do roteiro que nunca veio.
Me diverti muito mais do que esperava com esse filme muito camp e inteligente.
Halloween III: A Noite das Bruxas
2.3 482 Assista AgoraOdiado por muitos, tido como um cult incompreendido para outros, "Halloween III: Season of the Witch" é inferior ao 1 (obra-prima), mas está no mesmo nível do 2.
Cenas legais como a do "missfire" e a da 🎃🐍, o ar meio silly de tudo e a trilha que tem a assinatura do Carpenter, à base de synths que dão arrepios, são pontos a favor do filme. O ritmo irregular foi a única coisa que me incomodou, porque todo o resto me ganhou, até a mistura de elementos como
bruxaria aliada a tecnologia na forma de um exército de robôs e infanticídio em massa com um vilão que explica seu plano diabólico para o herói no melhor estilo James Bond.
O fato de o filme "Halloween" existir no universo desta história (como visto na cena do bar) resolve a questão da ausência de Michael Myers e traz uma camada de metalinguagem muito inesperada; O que não deixa de ser irônico, pois a trama passada neste universo, que seria o nosso, é muito mais inacreditável que a de Michael Myers;
Poderia ser um episódio de "The Twilight Zone" ou uma temporada de "American Horror Story".
O Homem nas Trevas
3.7 1,9K Assista AgoraO uruguaio Fede Alvarez é um dos nomes mais interessantes do suspense/terror contemporâneo na minha opinião. Apesar de ter poucos trabalhos no currículo, desde o curta viral "Panic Attack!" de 2009, passando pelo remake surpreendentemente bom de "Evil Dead", ele tem demonstrado proficiência como realizador, principalmente quando consideramos o que ele consegue fazer com orçamentos modestos em matéria de efeitos visuais e práticos.
Aqui não é diferente, uma premissa intrigante que prioriza atuações em lugar dos efeitos, quase inexistentes. Fazendo bom uso de elementos como a escuridão/iluminação para criar suspense, apostando em atuações competentes e a exploração daquele ambiente da casa, Alvarez reafirma sua inteligência cênica e bom domínio da tensão, causando aquela agoniazinha boa que te deixa na ponta da poltrona - isso é um bom diretor.
Só não achei tuuudo isso que meus amigos alardearam. Bom filme.
Mortal Kombat
2.7 1,0K Assista AgoraJames Wan, que é um dos produtores da película, pode ser responsável pelo cuidado com os efeitos visuais impecáveis de gelo, fogo, raios, mas principalmente o gore nas cenas mais sangrentas. Trilha sonora e cinematografia também são pontos fortes. Os figurinos, essenciais para a construção de verossimilhança, cumprem bem seu papel.
Alguns personagens como Sub-Zero, Kano, Sonya e Jax até funcionam, mas todo o resto do elenco é sofrível. Raiden, Liu Kang e Shang Tsung, só pra citar alguns, são um total desperdício de bons personagens, cujos intérpretes apenas dão as falas como se estivessem lendo a lista de compras do mês. O personagem principal, Cole, simplesmente não precisava existir, já que o interesse principal do filme é em Scorpion vs Sub-Zero (torneio? Hahaha esquece), e o ator Lewis Tan é outro incompetente. E o que fizeram com Reptile aqui foi tão hediondo quanto sua encarnação no filme de 1995.
O roteiro resume-se a "precisamos ir do ponto A ao ponto B bater no cara C". E é isso. Nem quero comentar. Mais idiota impossível.
Mesmo com mais defeitos que qualidades, esta versão de "Mortal Kombat" me divertiu, graças aos easter eggs gratuitos, à parte técnica impecável e a mim, que não sou um fã tão apaixonado assim.
Army of the Dead: Invasão em Las Vegas
2.8 957Únicos momentos que parecem ter sido de fato dirigidos/fotografados pelo Snyder são a sequência de abertura (patética); a montagem dos créditos iniciais; a horda de zumbis em torno da piscina (que até remeteu a coisas renascentistas como a Santa Ceia); e a cena
daquela menina chata chorando sobre o corpo do pai após a queda do helicóptero, bem contrastada como é característico do diretor.
Filme feito sem capricho, elenco fraco e sem química, um monte de inconsistências com o que o próprio roteiro estabelece e forçações gratuitas... fui com -1 de expectativa e nem como guilty pleasure serviu. Muito fraco. Apenas a dona Netflix querendo pegar carona no lançamento do Snydercut e faturar.
Highlight: "Zombie" dos Cranberries no final.
Halloween 2: O Pesadelo Continua
3.4 484 Assista AgoraGosto da maneira como a história começa de onde o filme original parou e dos resquícios de suspense que vemos no início, com Michael se esgueirando pelas casas das pessoas. Mas isso logo é posto de lado e a influência de "Sexta-feira 13" (que saiu entre o primeiro e este) entra em ação, com uma abordagem que foca mais no valor de choque das mortes, o que para mim perde muito.
Laurie em nada se assemelha à personagem inteligente que conhecemos, e tem seu papel diminuído/emburrecido; aquele hospital quase vazio é um tanto forçado e aquele momento de "olhos sangrando/liberação de gás" no clímax foi involuntariamente cartunesco. Também tive dificuldade em comprar a construção da imortalidade de Michael e não tenho certeza sobre essa revelação envolvendo os dois protagonistas.
A trilha sonora de Carpenter ainda é magistral e foi responsável pelos maiores calafrios.
Rango
3.6 1,6K Assista AgoraGore Verbinski tem uma assinatura estética muito bem acabada e faz aqui uma parceria com Johnny Depp tão boa ou melhor que os filmes da franquia "Piratas do Caribe".
O diretor (que eu acho subestimado) tem pleno domínio narrativo e manda bem tanto nas cenas de ação quanto nas piadas - mérito dividido com o roteiro de John Logan, que é uma aula de ritmo, apresentando novos elementos a cada cena. O trabalho de câmera é dinâmico, sempre preenchendo o quadro com alguma piada visual ao fundo da cena.
A qualidade da animação também enche os olhos: design dos cenários e diferentes texturas das peles/pêlos dos personagens e suas expressões faciais são tão impressionantes quanto há 10 anos, quando foi lançado.
A trilha magistral do Hans Zimmer, à base de banjos e violas, dá o tom da história; o trabalho de voz do elenco estelar e os efeitos sonoros são impecáveis no estabelecimento da verossimilhança daquele universo.
"Rango" é uma bela homenagem ao gênero 'western' com uma mensagem sobre o processo de desertificação dos biomas causado pelo progresso do homem.
Animais Fantásticos - Os Crimes de Grindelwald
3.5 1,1K Assista AgoraEnquanto o primeiro filme foi um êxito com um roteiro redondinho a partir de um material-fonte tão inusitado (o livro é literalmente uma enciclopédia super curta de bichos sem nenhum arco dramático) e uma progressão simples, mas que entregou bons plot twists... este segundo se perdeu.
A narrativa é excessivamente episódica, parecendo capítulos de um livro - o que não funciona em termos de linguagem cinematográfica -; nenhuma sequência se conecta com a anterior, dando aquela sensação de colcha de retalhos; a trama de Dumbledore e Grindelwald é muito mais interessante do que qualquer coisa envolvendo o protagonista e os animais, que são distrações e parecem barrigas de roteiro; detestei a origem de Nagini, me pareceu tirada do c*; os efeitos especiais são lindos, mas vazios, sem peso dramático e o filme se escora neles 90% do tempo; e o elenco é cheio de estrelas desperdiçadas (mas isso já é quase tradição nesse universo).
JK Rowling perdeu a mão e provou aquela máxima de que nem todo grande escritor é um grande roteirista. Temo que se não for afastada dos projetos envolvendo suas crias, ela se torne algo como foi George Lucas para a franquia "Star Wars".
Homem-Aranha: Longe de Casa
3.6 1,3K Assista AgoraFilme divertido, aventura vertiginosa e comédia que funciona a maior parte do tempo apesar de exigir certo comprometimento do público, dado o exagero de algumas cenas, como a do ônibus, mas isso é uma característica da comédia de absurdos; gostei que deram algo para todos os personagens fazerem, eles não ficam como meros acessórios de roteiro, gosto bastante desse elenco: Zendaya, Jake, Jacob... surra de carisma.
Duas grandes cenas que destaco foram aquela lisérgica ilusão do Mysterio no fim do segundo ato e o clímax na ponte com os drones (embora meio repetitiva).
JJ Jameson na primeira cena pós-créditos me deixou indeciso se o que vi foi um bom fan-service ou uma bomba que confirma que a realidade do Tobey Maguire existe; e a revelação das identidades Skrulls de Sam L Jackson e da parceira foram um mini-surto que apontaram para caminhos empolgantes.
Mas o aspecto que mais me agradou e chamou a atenção no filme, como um todo, foi o discurso que o roteiro faz a partir das falas e do próprio arco de Mysterio, de que
"smoke and mirrors" (homens fantasiados voando em trajes coloridos e capas esvoaçantes) ou as "fake news", se preferir (as ilusões pirotécnicas que ele produz), são mais relevantes na sociedade atual do que a ciência - já que o trabalho de toda aquela equipe de pesquisadores foi menosprezado por Tony Stark e pelo público que riu deles na conferência.
O Sacrifício do Cervo Sagrado
3.7 1,2K Assista AgoraGosto muito do estilo de direção do Lanthimos, bizarro, meio nonsense, flerta com o surrealismo dentro de um universo realista, personagens estranhos, trilha sonora grandiosa, fotografia que aumenta o senso de loucura...
Eu sinto que, enquanto arte, nem tudo em um filme precisa fazer sentido e seguir a cartilha batida do cinema produzido em modo industrial a que Hollywood nos condicionou. Encare como uma tela abstrata. Abra sua cabeça... às vezes muita coisa é passada apenas com o olhar, silêncios dizem muito... às vezes é sobre sensações que o filme te causa e isto nem sempre passa pelo racional.
Enfim, pessoas diferentes têm sensibilidades diferentes e vão perceber arte de formas variadas, e esse é o barato, eu acho.
Eu curti para caralho.
Halloween: A Noite do Terror
3.7 1,2K Assista AgoraA forma que a música é usada pra criar suspense nesse filme é fodaa! Putz eu ameei! 🤩
John Carpenter mto mestre, é muito domínio:V Acho que este é o filme dele que mais gostei, e digo isto num mundo onde "The Thing (1982)" existe.
A câmera é incrível, tem sempre algo acontecendo em segundo plano, muita sutileza, a construção da Laurie é natural, ela parece uma pessoa de verdade, é inteligente, a gente se importa com ela! Jaime Lee Curtis herdou o talento da mãe.
O diretor cria muito aquele senso de terror "creep", aquela coisa que te persegue, aquela paranoia crescente, dá um desespero! 😫
E também 'jump scares' bem executados... Leva boa parte do filme criando o universo então quando as mortes finalmente acontecem, a tensão já está no limite!! 😫
E que roteiro enxuto, falas bem escritas, boas atuações do restante do elenco... Escreveu mesmo o livro que todo o gênero 'slasher' tentaria emular, mas olha... Desde "Pânico" não via um desse quilate. (não, eu nunca tinha visto Halloween, me julguem)
O Voo
3.6 1,4K Assista AgoraNeste filme, Robert Zemeckis exercita os dois lados mais marcantes de sua assinatura como diretor: o domínio de efeitos especiais e o estudo de personagem, assim como em "Forrest Gump" e "Náufrago".
Toda a sequência do tal voo é bem maneira, tensa demais. Mas o mais legal é ver o diretor abrir mão dessa parte pirotécnica para focar na jornada de declínio do piloto alcoólatra Whip Whitaker.
Denzel Washington é sempre competente e aqui cria um personagem complexo, de moral duvidosa, que se recusa a fazer média para conquistar a plateia, mas cujo destino nos instiga até o fim.
O meio do filme, o miolo, foi meio repetitivo pra mim, por mais que estejamos falando de vício e recaídas, achei a estrutura das cenas ali parecidas. E aquele romance que, penso eu, devia tornar Whip mais 'likeable', serviu pra nada. John Goodman melhor personagem.
O dilema ético que o comandante enfrenta durante todo o filme, a culpa pelas mortes, o refúgio na bebida, tudo bem construído, gostei.
O plot twist na audiência foi a cereja no bolo.
Borat: Fita de Cinema Seguinte
3.6 552 Assista AgoraSe no primeiro tudo era ultrajante, os tempos loucos que vivemos fazem este aqui parecer a timeline de uma rede social qualquer - o que não significa que o humor constrangedor perdeu a eficácia.
A incorreção política de Sacha Baron Cohen permanece a mesma, porém a mensagem final mostra que o alvo das piadas é mais certeiro.
A forma que Cohen deflagra a estupidez e a xenofobia do conservadorismo americano médio é brilhante e muito corajoso.
Simbólico o bastante a única personagem decente do filme ser uma mulher negra.
V de Vingança
4.3 3,0K Assista AgoraReassisti "V de Vingança" 15 anos depois do lançamento do filme e 38 (!!) da graphic novel...
A ascensão do totalitarismo, fascismo associado a religião como ferramenta de opressão, produção de fake news, ódio ao diferente, um vírus...
Que obra profética sem defeitos! Basta olhar em volta...
Operação Overlord
3.3 503 Assista AgoraA mão de J. J. Abrams na produção é uma das coisas boas neste filme que é parte thriller de guerra, parte zombie flick; a primeira sequência é espetacular e remete ao estilo do cineasta.
A direção deu o tom certo, conseguindo passear por vários gêneros com fluidez e não poupando gore. Os personagens são carismáticos, criando identificação com o espectador com facilidade e há também um capricho notável na cinematografia. Efeitos visuais convincentes e bem executados fecham o pacote.
O principal problema, que realmente me incomodou, foi o roteiro que, embora tenha um bom ritmo com viradas bem distribuídas, tem algumas situações forçadas que beiram o "Scooby-Doo" e exigem ainda mais suspensão de descrença de quem assiste, pegando o personagem Boyce pela mão e levando por vários lugares no momento exato em que acontecem certas ações e ele permanece imperceptível, como artifício para nos mostrar aquilo, meio forçado, convenhamos.
Mas apesar disso e da galera sem criatividade nem senso de humor que nunca ouviu falar de revisionismo histórico, gostei do filme, bem divertido e bem realizado.
Queda Livre
3.6 591Marc é incapaz de comunicar o que sente a não ser através de gestos brutos que reforçam seu status de macho, a crueza de seus atos só permite ternura quando está nos braços de Kay.
Essa falta de verbalização cria tensão e só torna o filme mais interessante, pois demanda uma direção mais cirúrgica e atuações idem. Esse é daqueles filmes onde os silêncios falam mais alto e os olhares tem mais importância que os diálogos.
As corridas inicialmente são usadas como metáfora para o desejo reprimido de Marc, que parece querer fugir disso como em um jogo de gato e rato.
Um filme emocionante sobre desejo, autodescoberta, escolhas e suas consequências.
O Nó do Diabo
3.0 46 Assista AgoraFui com expectativas baixas e mesmo assim, me decepcionou.
O comentário social acerca do sofrimento do povo negro contado pela estética do horror é uma ideia boa, pena que para por aí.
A duração é muito extensa sem a menor necessidade, a edição não tem ritmo, o roteiro é muito repetitivo, o fato de ter 4 diretores só torna a produção irregular e há erros básicos de enquadramento na fotografia. Fora que o terror ficou só na promessa.
Entendo super porque Zezé Motta aceitou participar do projeto, mas está perdidinha aqui, coitada.
O Poço
3.7 2,1K Assista AgoraO início é cheio de exposição barata para explicar do que se trata o tal poço, que é um recurso preguiçoso, existe uma crítica social ali que tb achei mto na cara, pouco sutil... Gosto da questão de se passar em uma só locação, mas no geral, achei o roteiro bem meh.
Batguano
3.2 14O filme independente do diretor Tavinho Teixeira sobre um casal abusivo, porém simbiótico formado por já coroas Batman e Robin versão tupiniquim num futuro sombrio assolado por uma epidemia que já tomou 50% da população mundial (profético enough, 2020?), já mostra o que esperar dele em suas duas primeiras cenas.
É explícito, experimental, não-linear, metalinguístico e nada do que você espera, tendo lido esta breve tentativa de sinopse. A dificuldade em categorizá-lo, pra mim, depõe mais a favor do que contra.
Existe uma pá de boas ideias, como por exemplo, nesta realidade distópica, banana valer mais que ouro e as cenas que quebram a diegese, mostrando câmera, equipamentos de iluminação e o telão atrás do carro que "dirigem", nos tirando do transe fílmico e evidenciando o artificialismo do "fazer filme", só para nos convidar a embarcar novamente na proposta. O problema é que nem sempre funciona.
Diálogos e atuações que são poéticos e flertam com a subjetividade; as escolhas da direção de arte são obviamente limitadas pelo orçamento e a montagem que evita convenções narrativas, abre mão de fluidez e aposta em recortes; ora sugerem um filme corajoso e contestador, ora um projeto de final de curso de universidade cheio de pretensão.
Mas não me arrependi de tê-lo assistido, pois apesar dos pesares, a entrega do diretor (que também interpreta Robin) é louvável.
Felizes Juntos
4.2 261 Assista AgoraA história do casal gay de Hong Kong que viaja à Argentina e como essa viagem muda suas vidas, me conquistou.
Uma espécie de recorte de um período na vida desses personagens, lindamente fotografado por Christopher Doyle com sua cores primárias que captam todo o espírito boêmio da noite portenha, também onipresente na trilha sonora composta de tangos.
Mexeu bastante comigo esse filme.
X-Men: Fênix Negra
2.6 1,1K Assista AgoraOlha, minhas expectativas estavam tão baixas para este filme (visto que nem me apressei a assistí-lo), que considero que saí no lucro. Conseguiu me manter interessado, porém sem nunca empolgar de fato.
Tudo aqui é fraco demais; Direção, roteiro cheio de furos de continuidade e motivações fracas, elenco mal entrosado, falta química; Jennifer Lawrence e seu desastre de Mística (tá mais para outra Katniss 😒)... até cabelo/maquiagem e os figurinos desse filme me incomodaram para se ter uma ideia... mas acaba sendo aquele filme ruim inerte, esquecível, inofensivo... que não ofende.
É ruim Temer, não chega a ser ruim Bolsonaro, sabe?
Super Cine.
PS: Gostei de como filmaram a batida do início; Detestei como filmaram a batalha no meio do trânsito... aqueles ângulos de câmera no modo aleatóriokkk??
Um Estranho no Lago
3.3 465 Assista AgoraMe surpreendi com este filme. Esperava ser só um apanhado de r*las e soft porn com alguma trama boring, mas até que ele se mantém interessante até o fim.
Gostei da pegada meio existencial, os questionamentos, a forma como os personagens se relacionam, bem orgânica e tal... cinematografia que aproveita bem a luz natural do ambiente, cheia de composições visuais interessantes; o roteiro, cheio de bons diálogos, vai se adensando aos poucos, caminhando para um thriller sexual onde tudo mora nos detalhes.
As cenas de sexo são filmadas com delicadeza ou vigor de acordo com a situação, mas achei tudo de bom gosto, não soou vulgar em momento nenhum, pelo contrário. Parece que o diretor busca mais aquela nudez dos quadros da renascença ou das esculturas gregas, do que hipersexualizar o corpo masculino.
Achei o filme inteligente por conseguir contar esta história com um elenco limitadíssimo e talentoso, usando uma só locação, apesar do ritmo meio contemplativo, o roteiro é ágil e faz os 100 min do filme voarem. 👌🏽