O trabalho de câmera é simples, mas bonito, passeando pelas ruas na abertura, registrando os maneirismos da sociedade napolitana pós-queda do Muro de Berlim, e testemunhando a intimidade daquele núcleo, movimentos suaves e planos mais abertos que abraçam a família e contrastam com a frieza da neve que cai e do sombrio desfecho.
A narração a partir do olhar lúdico do pequeno Mauro acrescenta detalhes que enriquecem a narrativa e ajudam na construção dos personagens, que aliás são o grande motor do filme com suas personalidades, inter-relações e questões, representadas por um elenco muito bem entrosado. Destaco o vovô Saverio e Lina, a mãe do menino - hilários!
A comédia de humor negro do filme foi outro ponto que me agradou demaais, pois ela está em vários elementos: as atuações, os diálogos (que geraram identificação em mim dada nossa latinidade compartilhada), a câmera fluida combinada a cortes secos dão o timing perfeito para piadas visuais e, claro, tudo isso fruto da direção rica de Monicelli.
A forma como tudo é construído criando um clima aconchegante, que vai ruindo gradativamente após a primeira hora de filme, culminando naquele final frio e terrível, é uma crônica cáustica de como a família pode ser um ambiente tóxico, não importa quanto amor você dê aos que partilham seu sangue.
Apesar de uma escala bem menor perante os filmes que antecederam, a diretora Cate Shortland faz um trabalho muito competente ao equilibrar cenas de ação eletrizantes e o lado emocional da história de Natasha Romanoff.
O aspecto mais "pé no chão" da trama de espionagem lembra os melhores momentos de filmes como "Missão Impossível" e da franquia "Bourne", com cenas de luta muitíssimo bem coreografadas, jogo de câmera inteligente e edição de som/imagem que maximizam o impacto das pancadas.
O outro pilar do filme está no quarteto formado por Natasha, Yelena, Melina e Alexei, cuja relação familiar é estabelecida com muito êxito pela diretora e pelo roteiro (que surpreende pela coesão, uma vez que teve 5 escritores), capaz de criar uma conexão real não só entre os personagens, mas também com o espectador. Eles são o coração do filme, e o elenco entrega. David Harbour abusa de seu lado mais cômico, Rachel Weisz sempre enigmática, Scarlet Johansson faz uma Natasha cansada, em busca de redenção, e Florence Pugh traz frescor e aquele 'je ne sais quoi' que só ela tem... Suas cenas com Johansson têm os melhores diálogos do filme. Sem dúvida um dos maiores talentos a surgir nos últimos anos.
"Viúva Negra" nos conecta emocionalmente com o passado de Natasha para além dos Vingadores, dando mais contexto para o que sentimos depois dos eventos de 'Ultimato' e abre novas possibilidades para o futuro, que continua a empolgar. Cumpriu sua missão.
A parábola é super atual, o assunto é urgente e as pessoas envolvidas no projeto, as mais indicadas em todos os quesitos. Então, o que aconteceu aqui? Algo não funcionou em vários níveis e eu não consigo explicar...
Senti que a questão toda foi suavizada, o tom era de especial de fim de ano da Globo, e não de cinema nacional... não entendi o que Lázaro quis fazer ali com aquela narrativa quase toda baseada em sequências paralelas desinteressantes que não avançavam, o roteiro raso parecia esquecer coisas que ele mesmo estabeleceu (como a necessidade de insulina de determinado personagem, por exemplo) e questões sérias tratadas de forma superficial demais, as atuações fracas de bons atores acabaram comigo, me restando apenas Seu Jorge... o final também achei tão cafona... ai gente, que dó.
Parece que filmaram uma thread do Twitter de alguém que não conhece a fundo um tema, mas quer dar uma "lacrada" (odeio esse termo, mas falo no sentido irônico mesmo) por likes.
Fui no fim de semana de estreia com o coração cheio de alegria para o cinema, pronto para vir aqui e rasgar elogios efusivos como foi com "Bacurau", mas fiquei negativamente surpreso quando o filme foi me perdendo ao longo da projeção... A melhor parte mesmo foram os aplausos e os gritos de "Fora Bolsonaro!" que tomaram conta da sala quando os créditos subiram e reaqueceram meu coração. Esse é o legado de "Medida Provisória".
Legalzinho, divertidinho e inofensivo. Sam Raimi sendo autorreferente o tempo todo foi minha parte preferida, se desconsiderar o tom de "terrir" constante, que não acho que funcionou nesta franquia... o roteiro preguiçoso não ajudou, com soluções fáceis para problemas que pareciam grandes, exposição barata e personagens agindo mais para a plateia do que em função da trama em si.
Dado o potencial de um filme do Doutor Estranho, capitaneado por Raimi, com as palavras "multiverso" e "loucura" no título... parecia a tempestade perfeita... mas para mim, não foi o bastante.
Boa direção do Matt Reeves, bom elenco, pegada mais noir/thriller tipo "Se7en"... gostei dessa versão mais "possível" (?) do Batman, focando mais em suas características investigativas (era Detective Comics, nera?)... A duração não me incomodou muito, mas se tivesse menos tempo, acho que ficava mais dinâmico. E poderia ser apenas um pouco mais memorável.
Estilo de animação naquele padrão fascinante do Studio Ghibli, personagens femininas fortes e mensagem ambiental muito bonita, como também é recorrente na obra de Miyazaki. Gosto também da ausência de um "vilão" per se. Cenas de ação e batalhas excepcionais. Porém não me sensibilizou muito, não consegui "embarcar" no filme.
"Rocketman" mexeu bastante comigo já na cena da família cantando "I Want Love". Um pouco cafona, mas estabeleceu essa busca dele por afeto, ainda criança, e que acaba sendo o fio condutor da trama.
A forma como o longa aborda os diferentes aspectos da vida de Reggie/Elton John sem perder o foco ou passar pano é um dos grandes méritos aqui. Temos o garoto-prodígio da música; a relação conturbada com a mãe e distante com o pai, e essa necessidade de aprovação deles; o namorado/empresário tóxico e como ele lidava com a própria homossexualidade em uma época que isso não era tão comum; a vida de excessos, hedonismo, drogas e autodestruição, tudo intercalado às apresentações e figurinos icônicos; as inúmeras canções atemporais... Sua amizade linda com Bernie Taupin (o melhor aspecto do filme), que é até hoje o poeta por trás das canções e uma das únicas pessoas que realmente o amava, ao lado de sua avó...
O roteiro de Lee Hall sintetiza praticamente uma vida inteira em pouco mais de 2h sem atropelos, e a ideia de amarrar tudo com as cenas no rehab - o que elimina a necessidade de cronologia - foi uma bela sacada; a direção de Dexter Fletcher derrapa no sentimentalismo no início, porém acerta ao inserir elementos de delírio e fantasia para traduzir as sensações e o estado de espírito do personagem. A atuação de Taron Egerton é impressionante! Reza a lenda que o ator foi escolhido pelo próprio Elton no set de "Kingsman: O Círculo Dourado", pois ele queria um ator que realmente cantasse. Jamie Bell é outro puta ator, seu Bernie é econômico e cheio de sentimento no olhar; e Richard Madden como John Reid me deu muito ódio...
Elton John tem uma importância muito particular em minha vida, pois aprendi a gostar de músicas como "Skyline Pigeon" desde criança com meu pai, que é um grande fã, e tenho certeza que sua influência foi essencial para fazê-lo aceitar de boa anos mais tarde minha saída do armário, e isso não tem preço.
Nesta obra dos Studios Ghibli temos uma animação belíssima, movimentação muito fluida com cenários ricos em detalhes, estética que flerta com o steampunk e boas cenas de ação. A paixão de Miyazaki pelos ares, o céu e máquinas voadoras, que viria a ser explorada em outros de seus filmes, também está lá... Queria ter mais coisas legais para falar sobre o filme, mas foi só. A duração de mais de 2h foi um pouco maçante, os personagens não me cativaram e além da parte técnica impecável, achei um pouco superestimado.
Eu particularmente gosto de terror cômico, porém a combinação aqui ficou mal dosada. O tom da comédia do filme é até bem dirigida para o meu gosto, várias piadas funcionam naquele estilo meio Judd Apatow de personagem falando algo no fundo que te faz soltar uma gargalhada inesperada, a galeria de personagens é promissora, têm carisma, assim como o elenco, clima de 'whodunit'... tinha tudo pra dar bom, mas infelizmente a direção falhou em criar aquela montanha-russa, com momentos realmente assustadores entrecortando, pra dar uma dinamizada.
Realmente demora muito para algo acontecer, fazendo a curta duração do filme se arrastar em alguns momentos, o roteiro poderia explorar mais cada personagem para aumentar a atmosfera de mistério ou trabalhar melhor a subtrama do gasoduto... preguiçoso. Uma pena, pois é um roteiro que não pede um grande orçamento, poucas locações, elenco reduzido... o tipo de produção que me atrai. Poderia ter tido aquele twist de genialidade, mas caiu no lugar-comum.
Um documento histórico poderoso e relevante baseado no livro escrito pelo próprio Solomon, com passagens muito fortes dos mais variados tipos de abusos que o sistema racista permitia naquela sociedade, onde até os que tinham vontade de ajudar, como o personagem de Benedict Cumberbatch, não o fazem por covardia/receio de represálias da sociedade sulista cujo sistema econômico era todo baseado na prática escravagista. Ou seja, 99% dos brancos do filme são uns desgraçados fdp pela própria contradição de serem proprietários de escravos.
O filme de Steve McQueen retrata as locações de New Orleans com pillow shots de beleza quase poética, contrastando com a crueldade da falta de humanidade com que os negros eram tratados. Dentre os muitos momentos duros de testemunhar durante o filme, destaco a cena
do quase enforcamento de Solomon, que segue por intermináveis minutos.
Aliás essa foi uma questão para mim como espectador: apesar de entender que a intenção do diretor com as repetidas cenas de torturas físicas e psicológicas tenha sido dar apenas uma ideia do quão brutal era estar na pele do seu povo, narrativamente achei que ficou devendo um pouco e também na linguagem, que foge muito pouco da fórmula de filme de Oscar.
Sobre as atuações, é onde reside a maior força do filme a meu ver: Chiwetel Ejiofor, Lupita Nyong'o, Michael Fassbender, Sarah Paulson e Alfre Woodard mereciam todos os prêmios daquele ano! Excepcionais!
"12 Anos de Escravidão" tem um final bittersweet (feliz, mas nem tanto), e com certeza será um clássico daqui a uns anos, pois mesmo depois de 170 anos dessa história, vemos diariamente nos noticiários diversos Solomons sendo subtraídos de suas vidas e jogados na cadeia ou mortos apenas pela cor da sua pele. A mensagem aqui é muito mais importante e necessária do que a forma com que é contada.
Finalmente assisti a este filme envolto em histórias de bastidores de feud entre suas protagonistas e que deu origem ao termo 'hagsploitation' para filmes de suspense que se utilizavam da imagem de velhas atrizes para retratar megeras loucas.
Apesar de ter sido produzido por Joan Crawford numa jogada genial de marketing que se utilizou do já público desafeto entre ela e Bette Davis para dar um novo gás na carreira de ambas, é a atuação de mrs. Davis, que salta ao olhos com as melhores falas do filme, como a inesquecível "BUT Y'ARE, BLANCHE! Y'AARE!"
Tudo se resume ao tenso relacionamento das duas irmãs, cheio de uma metalinguagem refinada, aludindo ao clima de disputa, inveja e ressentimento que existia entre as atrizes. Enquanto a insanidade e os abusos crescentes de Baby Jane podem ser um deleite para quem assiste, a sensação de impotência e aprisionamento de Blanche causa bastante aflição, especialmente ao sabermos que a ajuda muitas vezes está tão perto, mas tão longe!
Da direção curti alguns planos, como a câmera praticamente no chão em frente à escada, nos dando uma visão dos dois andares da casa e o zenital quando Blanche tem o breakdown nervoso rodopiando a cadeira.
O roteiro ainda teve aquele plot twist na praia sobre o acidente que realmente me pegou de surpresa e colocou tudo em perspectiva, e o final em aberto, que era algo bastante incomum na época.
Toda vez que vejo Ron Perlman em um filme do Del Toro, abro um sorriso. Acho tão bonita essa amizade :)
Sobre o neo-noir do nosso mestre mexicano... o primeiro ato no universo circense do final da crítica década de 1930 tem um certo charme graças à atmosfera de mistério anti-ilusionista dos bastidores. Estende-se por longos minutos onde pouca coisa acontece, e a construção de Stan (Bradley Cooper) é cansativa e fracassou em gerar, em mim, empatia pelo personagem e suas relações. A presença magnética de Toni Collette gera expectativa de desdobramentos empolgantes que nunca chegam de fato.
O segundo ato dá um gás, os cenários ficam mais vistosos, as luzes mais quentes. A ascensão do protagonista nos pega novamente e temos a adição mais interessante ao elenco, que é Cate Blanchett. Considero esta a fatia mais saborosa do longa, pois cria um bom clima de tensão e intriga psicossexual que parece se encaminhar para um terceiro ato carregado de tragédia e grandiosidade nos acontecimentos, como num inevitável efeito bola de neve...
Tenho um profundo afeto e respeito pela obra do Del Toro, contudo, em "Nightmare Alley" só senti sua marca em alguns detalhes mais 'gore' nos minutos finais - o cineasta me pareceu sem 'tesão' ao dirigir este filme. Nem sua característica assinatura visual deslumbrante enxerguei aqui; nenhum enquadramento empolga, não há movimentos de câmera dignos de nota e a coloração é... ok. Achei o roteiro pouco inspirado, as atuações boas (nada digno de prêmios, não, nem para o Richard Jenkins) e a direção teria sido acima da média se não estivéssemos falando de um dos mais originais, criativos e habilidosos diretores em atividade.
O final "coming full-circle" estava muito claro para mim desde a primeira aparição do comedor de galinhas. E não entendi a insistência de dar ênfase no bebê-ciclope, que não amarrou nada ali.
Talvez enxugando uns 30 minutos da duração, melhorasse bastante o longa.
Eu particularmente gosto de roteiros onde decisões equivocadas vão gradativamente causando um efeito bola de neve; a direção do Ridley Scott é sensível sem panfletar, joga a real; boa construção das personagens, a trilha sonora ajuda a setar o mood do filme, coisa de mestre, assim como a cinematografia deslumbrante, árida, empoeirada, enquadramentos perfeitos... o cara sempre posiciona a câmera no melhor lugar possível para contar aquela história!
Um grande filme de orçamento médio como não se fazem mais em tempos de mega blockbusters ou filmes de baixíssimo orçamento em Hollywood. Envelheceu como um bom vinho! Acho que esse passa no teste de Bechdel (risos).
Com "Homem-Aranha: Sem Volta para Casa" quebrando recordes de bilheteria, não seria errado afirmar que a nostalgia nunca esteve tão em alta. E após o falecimento do diretor Wes Craven, em 2015, eis que desenhou-se a ocasião perfeita para "Pânico" servir-se um pouco desta tendência.
O aspecto autorreferente das homenagens é divertido (algumas meio forçadas?) e o tom de reverência a Wes é onipresente, vira quase a temática principal do filme, o que também funciona para o bem e para o mal.
As mortes mais violentas da franquia estão neste filme, o que é legal, e pelo menos uma delas foi significativa. Tentei gostar dos novos personagens, mas a única que ficou comigo após subirem os créditos - como aconteceu com Kirby do "Scre4m" - foi Tara, cujo papel é meramente acessório e responsivo, ou seja, desperdiçado. O trio clássico está de volta, mas parece que só um deles está "vivendo" o filme realmente, os outros dois estão pensando no feijão que deixaram no fogo.
A estrutura do longa poderia ter dado alguma renovada, subverter mais, pois traz quase nada de novo ao 'template' já existente. Claro, todo o comentário sobre como o "horror elevado" ou "pós-horror" enterrou o slasher e o conceito de "requel" (reboot+sequel) é o tipo de observação meta que é uma das marcas de "Pânico" e não nos deixam dúvidas de que estamos vendo um filme da franquia... entretanto não consigo afastar o pensamento de que faltou um pouco daquele refinamento do Kevin Williamson na escolha das palavras.
Finalmente, o terceiro ato tem revelação previsível e falha em criar qualquer senso de importância no clímax, não há um 'crescendo'.
Narrativamente preguiçoso, mas com toneladas de easter eggs, estilo de sobra e umas poucas decisões arriscadas, o novo "Pânico" de 2022 é uma carta apaixonada para os fãs, mas principalmente para o homem que começou tudo isso. "For Wes".
Este filme é a crônica/sátira do negacionismo perante a pandemia do covid-19 que estive esperando desde que isso tudo começou. Muito bom ver todos os políticos, a mídia e os bilionários que lançam foguetes em forma de piroca sendo tratados como a horda de gananciosos estúpidos que são.
A forma como tudo é politizado para benefício próprio dos poderosos, até uma questão de sobrevivência da raça humana (!), é tão desesperador quanto real.
A personagem da Jennifer Lawrence recorrentemente inconformada que o militar cobrou por lanches da Casa Branca que eram grátis, me representa num grau... 😂 a química dela com Jonah Hill foi ótima.
Aquele Elon Musk deles me deu muito nervoso, que agonia aquele homem falando! Ugh..
Sabe aquele filme que você está tão imerso e curtindo tanto, que nem se liga em notar se o roteiro é bom, se tem coesão, se é corrido, se realmente anda com a trama ou se é tudo uma grande "micareta de fan service"? Pois é, "Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa" foi exatamente este filme para mim.
Entregou tudo e mais um pouco. Chegou uma hora ali pelo final do segundo ato que eu comecei a chorar e não parei nunca mais até o final, minha máscara pff2 estava tão encharcada que tirei e passei a molhar a gola da camisa de lágrimas.
Muita nostalgia ao rever os vilões dos filmes antigos e os Peters antigos, Andrew e Tobey. Todas as conversas sobre os "problemas de homem-aranha" deles, as referências a seus filmes, o sarro tirado com as questões que povoam os fandoms, o meme deles se apontando... Tudo muito gratificante. Mas o momento mais satisfatório, para mim, foi Peter/Andrew salvando a MJ naquela cena idêntica à de "Ameaça de Electro" em que ele não foi capaz de salvar a Gwen e sentindo que finalmente teve ali sua redenção. A morte da May Marisa Tomei também acabou comigo.
Então, sim, eu caí em todas as armadilhas emocionais sentimentalóides do filme e não sinto vergonha nenhuma de admitir. Quando a experiência na sala escura é catártica nesse nível, e você nem quer acessar o racional para analisar... esse momento ninguém tira de você, não tem preço, na moral.
O filme é redondinho, tem toda a questão familiar, que é bem desenvolvida ao longo da aventura, tem toda a progressão de filme de artes marciais para filme fantasia, que é muito bem feita, sem costura. Alguma cena de luta é meio coreografada demais? É. Mas isso tem quase zero importância diante de toda a construção de universo rica e crível, respeitando a ancestralidade da cultura chinesa, bem como fizeram com a África em Wakanda. Todas as criaturas são belíssimas, o dragão em especial, que CG lindo!
Bem editado, com ritmo bom, gostei muito do tempo que o roteiro dedica à amizade entre o protagonista e a personagem da Awkwafina, o melhor alívio cômico do filme, quase perdendo o posto para Ben Kingsley, reprisando seu falso Mandarin e adressando a problemática daquele papel em "Homem de Ferro 3"... o tom do humor também funcionou demais pra mim.
Todas as muitas cenas de ação são empolgantes e tão bem filmadas (sem câmera trepidando nem cortes ininterruptos) que saí do filme com a impressão de que "Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis" é o mais próximo de uma adaptação (decente) de "Dragon Ball Z" que já testemunhamos.
A substituição de Patricia Arquette por Tuesday Knight foi um choque, mas aparentemente Patricia estava grávida e não pôde fazer o filme.
Eu particularmente não gostava do personagem do Kincaid com aquela voz estridente irritante, não vou sentir falta.
A justificativa do retorno de Freddy por causa do cão foi fraquíssima.
Um aspecto do filme que eu curti foi como os estereótipos oitentistas dos personagens (a virgem, a nerd, o karate kid, o jock, a vadia...) sugeriam que ia rolar algum bullying aqui e ali, mas o clima de camaradagem geral subverte isso muito bem, chegando a ser um filme até bem feminista nesse sentido.
O roteiro é meio fraco: o próprio conceito do "mestre dos sonhos", que dá subtítulo ao filme, é deixado de lado e acaba não servindo para nada. Os pontos fortes aqui são os personagens, carismáticos e merecedores da nossa torcida; Alice, por exemplo, é uma 'final girl' mais simpática do que a Kristen da shopee, que é despachada logo (ainda bem), e Sheila foi uma morte que doeu.
Robert Englund continua inspiradíssimo como Freddy, lançando one-liners a cada morte, mesmo que o vilão penda cada vez menos para o assustador e cada vez mais para a caricatura, mas todo o tom do filme traduz o zeitgeist dos anos 80 e funciona.
Os efeitos especiais e a maquiagem das sequências de sonho seguem sendo o grande barato dos filmes: a ressurreição de Freddy bebe direto de "Hellraiser"; a morte de Joey é quase um Johnny Depp 2.0 do primeiro filme; Freddy travestido como aquela enfermeira alugou um triplex nos meus pesadelos; toda a sequência da morte de Kristen com aquele belo uso de câmera zenital em movimento no quarto e depois aquela trucagem dela andando no teto; e a transformação de Debbie no melhor estilo "A Mosca", foram vários momentos dignos de nota do filme.
Todo o orçamento já havia estourado na cena da morte de Rick naquele cenário cheio de lençóis baratos em que ele luta contra o Freddy "invisível" - aquilo foi um 'reshoot' ridiculamente óbvio. Ele devia ter morrido no elevador. E aquela cena de Alice e Dan andando em círculos deu bem aquela sensação de correr sem sair do lugar num sonho, mas... foi tão interminável que não me surpreenderia se fosse apenas mais uma encheção de linguiça para driblar a falta de grana e preencher a metragem do filme.
O confronto final é qualquer nota, com um monte de baboseira envolvendo artes marciais, uma traquitana estilo "Caça-fantasmas" e um espelho (?)... porém as almas das vítimas de Freddy consumindo-o entregou horrores, um dos melhores efeitos do filme.
Gostaria que detalhes que traduzem a cultura adolescente da época como a ascensão da MTV, das artes marciais e do culto ao corpo fossem mais explorados, mas seria pedir demais talvez.
Difícil de acreditar que o mesmo Rick Rosenthal que dirigiu o decente "Halloween II" (1981), também dirigiu esta verdadeira bomba de filme, que nasceu do simples desejo dos produtores Akkad + Weinstein faturarem ainda mais com o Michael que, por contrato, não pode morrer...
Seria até irônico se não fosse de um cinismo nojento o personagem de Busta Rhymes no fim de tudo proferir que "Michael Myers não é um produto ou uma peça publicitária", porque é exatamente assim que ele é tratado pelos que detêm seus direitos e simplesmente não sabem a hora de parar, afinal de contas pra que desativar uma máquina de dinheiro, não é mesmo? E isso nunca foi tão evidente quanto neste filme vergonhoso.
A direção de Rosenthal é meramente acessória. Este é um filme de produtor até o último fotograma. A fotografia aliás é outro dos aspectos pavorosos aqui, uma das piores que eu já vi; a textura da imagem dá um aspecto barato à "obra" (e não me refiro às microcâmeras diegéticas), qualquer noção de enquadramento ou iluminação é inexistente. Combinados à edição caótica, falham em estabelecer algo básico, como a geografia da casa onde se passa a maior parte da ação do filme. A casa de Michael, aliás, é um set horrível.
As atuações seguem o nível do resto do filme, ou seja... nem vale a pena comentar. O roteiro tenta capitalizar em cima da onda dos reality shows do início dos anos 2000 e é uma analogia perfeita do modo que o filme é tratado numa espécie de metalinguagem maldita em que os realizadores riem da cara dos idiotas que pagaram para ver isso, e não tem um único momento inspirado. Respeito máximo a Jamie Lee Curtis, que já entrou aqui sabendo que ia sair de cena nos primeiros minutos e se poupar desta desgraça. Pior que "Halloween 5" e "6" porque este aqui me ofende de verdade.
A diferença entre fazer um filme de baixo orçamento e fazer um filme desleixado é a diferença entre o "Halloween" original de '78 e este aqui.
Assisti a "Halloween H20" em VHS, há longínquos 21 anos; foi meu primeiro 'Halloween', assim como o primeiro filme que aluguei na vida. Com 11 anos e um senso crítico que levava em consideração o número de vítimas do mascarado para determinar a qualidade da obra, este filme não fez nada por mim. Foi uma decepção total, mesmo para um jovem que já conhecia Jamie Lee Curtis do divertido "True Lies" (eu estava há pouco mais de uma década nesta Terra).
Hoje, com a bagagem de quem recentemente assistiu aos 6 números anteriores desta irregular franquia, uma mente mais aberta e um olhar mais educado, reassisti a "Halloween H20". E posso dizer que se tornou o meu segundo filme preferido da série, ficando atrás apenas do original de John Carpenter. Como pude achar este filme ruim?? Depois de tanta bomba, 4, 5, 6... Finalmente um roteiro enxuto, que pelo menos aparenta um mínimo de cuidado na escrita; que desenvolve razoavelmente bem seus personagens e suas relações adjacentes, sem atitudes absurdas ou idiotas, com falas espertas e que continua o que se estabeleceu nos dois primeiros.
O filme tem muito mais acertos do que erros, e focar em Laurie considero uma das boas decisões, ao mesmo tempo que não perde o olho em Michael. Jamie Lee Curtis constrói uma personagem tridimensional; cheia de traumas, porém badass. Adorei a participação de sua mãe Janet Leigh, a inesquecível Marion Crane de "Psicose", duas das maiores 'scream queens' dividindo a tela. Donald Pleasence foi uma falta que senti, icônico Dr. Loomis R. I. P.
Eu ficaria até amanhã falando tudo que me agradou aqui, então resumindo: o diretor não tenta emular o estilo do Carpenter, faz o filme dele e funciona muito bem, quase todo o elenco funciona, a locação da Hillcrest Academy é como um labirinto, cheia de corredores estreitos que aumentam a agonia, o suspense voltou a ser um dos pontos altos da série, Michael está ameaçador de novo e há referências sutis aos primeiros filmes aqui e ali (como a infame facada em que Michael ergue sua vítima) e alguns outros elementos de metalinguagem, mas nada exagerado. E o final, que é perfeito. Ou teria sido, não fosse o próximo filme que retconga tudo.
Eu gosto do estilo de trilha do Marco Beltrami para terror, exceto em alguns momentos que ela está idêntica a "Pânico", não me incomoda, porém CLARO que um uso mais ostensivo dos temas de Carpenter aqui era essencial, descaracterizou um pouco. E outro detalhe que eu mudaria aqui seria os olhos na máscara; talvez se tivessem permanecido obscuros, desumanos, como descritos pela voz over de Dr. Loomis na abertura, ficando visíveis apenas naquele momento final de súplica a Laurie, teria potencializado tanto o senso de terror nas cenas de perseguição, quanto o vislumbre de humanidade dele neste clímax. Mas nenhum pecado imperdoável.
Com um roteiro coeso e satisfatório, co-escrito por Frank Darabont (diretor do devastador "O Nevoeiro") e Wes Craven, criador do "Pesadelo" original, além de contar com um elenco que inclui Patricia Arquette em seu debut, Larry Fishburne e o retorno de Heather Langenkamp como Nancy, agora uma médica especializada em distúrbios do sono; esta parte 3 da saga de Freddy é bem mais sólida do que o filme anterior, chegando a se aproximar do clássico que foi o primeiro.
Os personagens são cativantes e poucas cenas são o suficiente para que nos importemos com eles. Os efeitos especiais das sequências de sonho são impressionantes para 1987, até stop-motion os caras usaram! Aqui dá pra ver que tiveram um budget que Wes não dispôs lá atrás.
O filme cumpre bem seu papel de divertir e assustar, fazendo bom uso da linguagem cinematográfica para contar sua história. Curti bem.
Se eu já tinha achado aquele retcon do 2 forçado, o que dizer de toda essa história sem pé nem cabeça de seita druida e runas tatuadas para justificar a matança de Michael? E para quê explicar, sabe? O original não tentou explicar o Michael (ou the shape, whatever)! Tudo o que sabemos é que ele é um psicopata, o mal encarnado, e só isso já foi o bastante para dar arrepios naquele filme...
O mais louco é pensar que o filme anterior (sofrível) já previa esta sequência, pois introduziu os elementos principais desta presepada. Para não dizer que não gostei de nada, aquela cena que faz referência ao primeiro em que Kara bate na porta gritando por Tommy com Michael em seu encalço foi legal, mas é só um fan service.
O debut do Homem-Formiga (que ainda assinava Paul Stephen Rudd) no cinema mostra que o auge pode chegar tardiamente, mesmo para um dos rostos mais bonitos do showbiz. E Donald Pleasence em seu último trabalho merecia mais.
Este foi o atestado final de que o gênero slasher estava puro desgaste e o que fez com que Wes Craven, no ano seguinte, virasse o jogo com "Pânico", que injetou frescor no gênero quase morto, e que ironicamente viabilizou a sequência "Halloween H20" em 1998.
Eu sinceramente dou risada de quem vê o 5 e o 6 e ainda tem CORAGEM de dizer que o 3 é pior só por não ter Michael Myers...😒
Os malabarismos que o roteiro deste aqui fez para dar continuidade ao final do 4 (que foi até surpreendente) são risíveis.
Um festival de sustos falsos que mais irritam do que divertem... Michael nunca mais teve a presença ou o senso de 'gravitas' do primeiro filme... e a máscara deste só não é pior que a do anterior. Danielle Harris segue entregando tudo na atuação, mas toda essa coisa de ligação psíquica da Jamie com o assassino cansou na primeira cena... Dr. Loomis completamente esclerosado, perdeu toda a sua credibilidade, pobre Donald Pleasence... E aquela dupla de policiais ridículos como alívio cômico completamente desnecessário?... E ainda temos tatuagens de um símbolo misterioso que jamais fora mencionado e um personagem misterioso da bota com efeito sonoro que jamais soubemos quem é?
O filme tem zero ritmo, zero suspense, não acerta o tom... uma colcha de retalhos muito da mal costurada.
O competente diretor Marcos Prado (do excepcional "Estamira") parte de um ponto interessante, que é a ideia de dar um contexto sociocultural mais complexo e dúbio para o caso dos "irmão necrófilos", caso noticiado nos jornais da primeira metade dos anos 90, sempre com os excessos sensacionalistas característicos da época, o que contribuiu para a opinião pública julgar o caso antes mesmo da prisão dos suspeitos.
Como tudo ficou nebuloso até hoje, acho importante o filme mostrar que a comunidade suíça da região (que já foi quilombola) era abertamente racista e a família dos rapazes negros era bastante desestruturada.
A região da Serra dos Órgãos é explorada ao máximo pela belíssima fotografia de Azul Serra, que faz do ambiente local quase uma personagem (e o maior atrativo do filme, na minha opinião). Entretanto o foco demasiado do roteiro nos dramas do protagonista interpretado por Renato Góes, cria problemas de ritmo e desvia muito da premissa inicial e da própria investigação - muito mais interessantes.
O filme ter sido 'marketado' como um filme de terror e não como um suspense policial, também foi meio que um um tiro no pé, a meu ver.
No fim, ficou aquela sensação de que bateu na trave.
Parente é Serpente
3.9 92Gostei mais do que esperava!
O trabalho de câmera é simples, mas bonito, passeando pelas ruas na abertura, registrando os maneirismos da sociedade napolitana pós-queda do Muro de Berlim, e testemunhando a intimidade daquele núcleo, movimentos suaves e planos mais abertos que abraçam a família e contrastam com a frieza da neve que cai e do sombrio desfecho.
A narração a partir do olhar lúdico do pequeno Mauro acrescenta detalhes que enriquecem a narrativa e ajudam na construção dos personagens, que aliás são o grande motor do filme com suas personalidades, inter-relações e questões, representadas por um elenco muito bem entrosado. Destaco o vovô Saverio e Lina, a mãe do menino - hilários!
A comédia de humor negro do filme foi outro ponto que me agradou demaais, pois ela está em vários elementos: as atuações, os diálogos (que geraram identificação em mim dada nossa latinidade compartilhada), a câmera fluida combinada a cortes secos dão o timing perfeito para piadas visuais e, claro, tudo isso fruto da direção rica de Monicelli.
A forma como tudo é construído criando um clima aconchegante, que vai ruindo gradativamente após a primeira hora de filme, culminando naquele final frio e terrível, é uma crônica cáustica de como a família pode ser um ambiente tóxico, não importa quanto amor você dê aos que partilham seu sangue.
Viúva Negra
3.5 1,0K Assista AgoraApesar de uma escala bem menor perante os filmes que antecederam, a diretora Cate Shortland faz um trabalho muito competente ao equilibrar cenas de ação eletrizantes e o lado emocional da história de Natasha Romanoff.
O aspecto mais "pé no chão" da trama de espionagem lembra os melhores momentos de filmes como "Missão Impossível" e da franquia "Bourne", com cenas de luta muitíssimo bem coreografadas, jogo de câmera inteligente e edição de som/imagem que maximizam o impacto das pancadas.
O outro pilar do filme está no quarteto formado por Natasha, Yelena, Melina e Alexei, cuja relação familiar é estabelecida com muito êxito pela diretora e pelo roteiro (que surpreende pela coesão, uma vez que teve 5 escritores), capaz de criar uma conexão real não só entre os personagens, mas também com o espectador. Eles são o coração do filme, e o elenco entrega. David Harbour abusa de seu lado mais cômico, Rachel Weisz sempre enigmática, Scarlet Johansson faz uma Natasha cansada, em busca de redenção, e Florence Pugh traz frescor e aquele 'je ne sais quoi' que só ela tem... Suas cenas com Johansson têm os melhores diálogos do filme. Sem dúvida um dos maiores talentos a surgir nos últimos anos.
"Viúva Negra" nos conecta emocionalmente com o passado de Natasha para além dos Vingadores, dando mais contexto para o que sentimos depois dos eventos de 'Ultimato' e abre novas possibilidades para o futuro, que continua a empolgar. Cumpriu sua missão.
Medida Provisória
3.6 432A parábola é super atual, o assunto é urgente e as pessoas envolvidas no projeto, as mais indicadas em todos os quesitos. Então, o que aconteceu aqui? Algo não funcionou em vários níveis e eu não consigo explicar...
Senti que a questão toda foi suavizada, o tom era de especial de fim de ano da Globo, e não de cinema nacional... não entendi o que Lázaro quis fazer ali com aquela narrativa quase toda baseada em sequências paralelas desinteressantes que não avançavam, o roteiro raso parecia esquecer coisas que ele mesmo estabeleceu (como a necessidade de insulina de determinado personagem, por exemplo) e questões sérias tratadas de forma superficial demais, as atuações fracas de bons atores acabaram comigo, me restando apenas Seu Jorge... o final também achei tão cafona... ai gente, que dó.
Parece que filmaram uma thread do Twitter de alguém que não conhece a fundo um tema, mas quer dar uma "lacrada" (odeio esse termo, mas falo no sentido irônico mesmo) por likes.
Fui no fim de semana de estreia com o coração cheio de alegria para o cinema, pronto para vir aqui e rasgar elogios efusivos como foi com "Bacurau", mas fiquei negativamente surpreso quando o filme foi me perdendo ao longo da projeção... A melhor parte mesmo foram os aplausos e os gritos de "Fora Bolsonaro!" que tomaram conta da sala quando os créditos subiram e reaqueceram meu coração. Esse é o legado de "Medida Provisória".
Doutor Estranho no Multiverso da Loucura
3.5 1,2K Assista AgoraLegalzinho, divertidinho e inofensivo. Sam Raimi sendo autorreferente o tempo todo foi minha parte preferida, se desconsiderar o tom de "terrir" constante, que não acho que funcionou nesta franquia... o roteiro preguiçoso não ajudou, com soluções fáceis para problemas que pareciam grandes, exposição barata e personagens agindo mais para a plateia do que em função da trama em si.
Dado o potencial de um filme do Doutor Estranho, capitaneado por Raimi, com as palavras "multiverso" e "loucura" no título... parecia a tempestade perfeita... mas para mim, não foi o bastante.
Batman
4.0 1,9K Assista AgoraBoa direção do Matt Reeves, bom elenco, pegada mais noir/thriller tipo "Se7en"... gostei dessa versão mais "possível" (?) do Batman, focando mais em suas características investigativas (era Detective Comics, nera?)... A duração não me incomodou muito, mas se tivesse menos tempo, acho que ficava mais dinâmico. E poderia ser apenas um pouco mais memorável.
Princesa Mononoke
4.4 944 Assista AgoraEstilo de animação naquele padrão fascinante do Studio Ghibli, personagens femininas fortes e mensagem ambiental muito bonita, como também é recorrente na obra de Miyazaki. Gosto também da ausência de um "vilão" per se. Cenas de ação e batalhas excepcionais. Porém não me sensibilizou muito, não consegui "embarcar" no filme.
Rocketman
4.0 921 Assista Agora"Rocketman" mexeu bastante comigo já na cena da família cantando "I Want Love". Um pouco cafona, mas estabeleceu essa busca dele por afeto, ainda criança, e que acaba sendo o fio condutor da trama.
A forma como o longa aborda os diferentes aspectos da vida de Reggie/Elton John sem perder o foco ou passar pano é um dos grandes méritos aqui. Temos o garoto-prodígio da música; a relação conturbada com a mãe e distante com o pai, e essa necessidade de aprovação deles; o namorado/empresário tóxico e como ele lidava com a própria homossexualidade em uma época que isso não era tão comum; a vida de excessos, hedonismo, drogas e autodestruição, tudo intercalado às apresentações e figurinos icônicos; as inúmeras canções atemporais... Sua amizade linda com Bernie Taupin (o melhor aspecto do filme), que é até hoje o poeta por trás das canções e uma das únicas pessoas que realmente o amava, ao lado de sua avó...
O roteiro de Lee Hall sintetiza praticamente uma vida inteira em pouco mais de 2h sem atropelos, e a ideia de amarrar tudo com as cenas no rehab - o que elimina a necessidade de cronologia - foi uma bela sacada; a direção de Dexter Fletcher derrapa no sentimentalismo no início, porém acerta ao inserir elementos de delírio e fantasia para traduzir as sensações e o estado de espírito do personagem. A atuação de Taron Egerton é impressionante! Reza a lenda que o ator foi escolhido pelo próprio Elton no set de "Kingsman: O Círculo Dourado", pois ele queria um ator que realmente cantasse. Jamie Bell é outro puta ator, seu Bernie é econômico e cheio de sentimento no olhar; e Richard Madden como John Reid me deu muito ódio...
Elton John tem uma importância muito particular em minha vida, pois aprendi a gostar de músicas como "Skyline Pigeon" desde criança com meu pai, que é um grande fã, e tenho certeza que sua influência foi essencial para fazê-lo aceitar de boa anos mais tarde minha saída do armário, e isso não tem preço.
O Castelo no Céu
4.2 326 Assista AgoraNesta obra dos Studios Ghibli temos uma animação belíssima, movimentação muito fluida com cenários ricos em detalhes, estética que flerta com o steampunk e boas cenas de ação. A paixão de Miyazaki pelos ares, o céu e máquinas voadoras, que viria a ser explorada em outros de seus filmes, também está lá... Queria ter mais coisas legais para falar sobre o filme, mas foi só. A duração de mais de 2h foi um pouco maçante, os personagens não me cativaram e além da parte técnica impecável, achei um pouco superestimado.
Um Lobo entre Nós
2.7 79 Assista AgoraEu particularmente gosto de terror cômico, porém a combinação aqui ficou mal dosada. O tom da comédia do filme é até bem dirigida para o meu gosto, várias piadas funcionam naquele estilo meio Judd Apatow de personagem falando algo no fundo que te faz soltar uma gargalhada inesperada, a galeria de personagens é promissora, têm carisma, assim como o elenco, clima de 'whodunit'... tinha tudo pra dar bom, mas infelizmente a direção falhou em criar aquela montanha-russa, com momentos realmente assustadores entrecortando, pra dar uma dinamizada.
Realmente demora muito para algo acontecer, fazendo a curta duração do filme se arrastar em alguns momentos, o roteiro poderia explorar mais cada personagem para aumentar a atmosfera de mistério ou trabalhar melhor a subtrama do gasoduto... preguiçoso. Uma pena, pois é um roteiro que não pede um grande orçamento, poucas locações, elenco reduzido... o tipo de produção que me atrai. Poderia ter tido aquele twist de genialidade, mas caiu no lugar-comum.
12 Anos de Escravidão
4.3 3,0KUm documento histórico poderoso e relevante baseado no livro escrito pelo próprio Solomon, com passagens muito fortes dos mais variados tipos de abusos que o sistema racista permitia naquela sociedade, onde até os que tinham vontade de ajudar, como o personagem de Benedict Cumberbatch, não o fazem por covardia/receio de represálias da sociedade sulista cujo sistema econômico era todo baseado na prática escravagista. Ou seja, 99% dos brancos do filme são uns desgraçados fdp pela própria contradição de serem proprietários de escravos.
O filme de Steve McQueen retrata as locações de New Orleans com pillow shots de beleza quase poética, contrastando com a crueldade da falta de humanidade com que os negros eram tratados. Dentre os muitos momentos duros de testemunhar durante o filme, destaco a cena
do quase enforcamento de Solomon, que segue por intermináveis minutos.
Sobre as atuações, é onde reside a maior força do filme a meu ver: Chiwetel Ejiofor, Lupita Nyong'o, Michael Fassbender, Sarah Paulson e Alfre Woodard mereciam todos os prêmios daquele ano! Excepcionais!
"12 Anos de Escravidão" tem um final bittersweet (feliz, mas nem tanto), e com certeza será um clássico daqui a uns anos, pois mesmo depois de 170 anos dessa história, vemos diariamente nos noticiários diversos Solomons sendo subtraídos de suas vidas e jogados na cadeia ou mortos apenas pela cor da sua pele. A mensagem aqui é muito mais importante e necessária do que a forma com que é contada.
O Que Terá Acontecido a Baby Jane?
4.4 830 Assista AgoraFinalmente assisti a este filme envolto em histórias de bastidores de feud entre suas protagonistas e que deu origem ao termo 'hagsploitation' para filmes de suspense que se utilizavam da imagem de velhas atrizes para retratar megeras loucas.
Apesar de ter sido produzido por Joan Crawford numa jogada genial de marketing que se utilizou do já público desafeto entre ela e Bette Davis para dar um novo gás na carreira de ambas, é a atuação de mrs. Davis, que salta ao olhos com as melhores falas do filme, como a inesquecível "BUT Y'ARE, BLANCHE! Y'AARE!"
Tudo se resume ao tenso relacionamento das duas irmãs, cheio de uma metalinguagem refinada, aludindo ao clima de disputa, inveja e ressentimento que existia entre as atrizes. Enquanto a insanidade e os abusos crescentes de Baby Jane podem ser um deleite para quem assiste, a sensação de impotência e aprisionamento de Blanche causa bastante aflição, especialmente ao sabermos que a ajuda muitas vezes está tão perto, mas tão longe!
Da direção curti alguns planos, como a câmera praticamente no chão em frente à escada, nos dando uma visão dos dois andares da casa e o zenital quando Blanche tem o breakdown nervoso rodopiando a cadeira.
O roteiro ainda teve aquele plot twist na praia sobre o acidente que realmente me pegou de surpresa e colocou tudo em perspectiva, e o final em aberto, que era algo bastante incomum na época.
O Beco do Pesadelo
3.5 496 Assista AgoraToda vez que vejo Ron Perlman em um filme do Del Toro, abro um sorriso. Acho tão bonita essa amizade :)
Sobre o neo-noir do nosso mestre mexicano... o primeiro ato no universo circense do final da crítica década de 1930 tem um certo charme graças à atmosfera de mistério anti-ilusionista dos bastidores. Estende-se por longos minutos onde pouca coisa acontece, e a construção de Stan (Bradley Cooper) é cansativa e fracassou em gerar, em mim, empatia pelo personagem e suas relações. A presença magnética de Toni Collette gera expectativa de desdobramentos empolgantes que nunca chegam de fato.
O segundo ato dá um gás, os cenários ficam mais vistosos, as luzes mais quentes. A ascensão do protagonista nos pega novamente e temos a adição mais interessante ao elenco, que é Cate Blanchett. Considero esta a fatia mais saborosa do longa, pois cria um bom clima de tensão e intriga psicossexual que parece se encaminhar para um terceiro ato carregado de tragédia e grandiosidade nos acontecimentos, como num inevitável efeito bola de neve...
mas o anticlímax que se estabelece, decepciona.
Tenho um profundo afeto e respeito pela obra do Del Toro, contudo, em "Nightmare Alley" só senti sua marca em alguns detalhes mais 'gore' nos minutos finais - o cineasta me pareceu sem 'tesão' ao dirigir este filme. Nem sua característica assinatura visual deslumbrante enxerguei aqui; nenhum enquadramento empolga, não há movimentos de câmera dignos de nota e a coloração é... ok. Achei o roteiro pouco inspirado, as atuações boas (nada digno de prêmios, não, nem para o Richard Jenkins) e a direção teria sido acima da média se não estivéssemos falando de um dos mais originais, criativos e habilidosos diretores em atividade.
O final "coming full-circle" estava muito claro para mim desde a primeira aparição do comedor de galinhas. E não entendi a insistência de dar ênfase no bebê-ciclope, que não amarrou nada ali.
Talvez enxugando uns 30 minutos da duração, melhorasse bastante o longa.
Thelma & Louise
4.2 967 Assista AgoraEu particularmente gosto de roteiros onde decisões equivocadas vão gradativamente causando um efeito bola de neve; a direção do Ridley Scott é sensível sem panfletar, joga a real; boa construção das personagens, a trilha sonora ajuda a setar o mood do filme, coisa de mestre, assim como a cinematografia deslumbrante, árida, empoeirada, enquadramentos perfeitos... o cara sempre posiciona a câmera no melhor lugar possível para contar aquela história!
Um grande filme de orçamento médio como não se fazem mais em tempos de mega blockbusters ou filmes de baixíssimo orçamento em Hollywood. Envelheceu como um bom vinho! Acho que esse passa no teste de Bechdel (risos).
Pânico
3.4 1,1K Assista AgoraCom "Homem-Aranha: Sem Volta para Casa" quebrando recordes de bilheteria, não seria errado afirmar que a nostalgia nunca esteve tão em alta. E após o falecimento do diretor Wes Craven, em 2015, eis que desenhou-se a ocasião perfeita para "Pânico" servir-se um pouco desta tendência.
O aspecto autorreferente das homenagens é divertido (algumas meio forçadas?) e o tom de reverência a Wes é onipresente, vira quase a temática principal do filme, o que também funciona para o bem e para o mal.
As mortes mais violentas da franquia estão neste filme, o que é legal, e pelo menos uma delas foi significativa. Tentei gostar dos novos personagens, mas a única que ficou comigo após subirem os créditos - como aconteceu com Kirby do "Scre4m" - foi Tara, cujo papel é meramente acessório e responsivo, ou seja, desperdiçado. O trio clássico está de volta, mas parece que só um deles está "vivendo" o filme realmente, os outros dois estão pensando no feijão que deixaram no fogo.
A estrutura do longa poderia ter dado alguma renovada, subverter mais, pois traz quase nada de novo ao 'template' já existente. Claro, todo o comentário sobre como o "horror elevado" ou "pós-horror" enterrou o slasher e o conceito de "requel" (reboot+sequel) é o tipo de observação meta que é uma das marcas de "Pânico" e não nos deixam dúvidas de que estamos vendo um filme da franquia... entretanto não consigo afastar o pensamento de que faltou um pouco daquele refinamento do Kevin Williamson na escolha das palavras.
Finalmente, o terceiro ato tem revelação previsível e falha em criar qualquer senso de importância no clímax, não há um 'crescendo'.
Narrativamente preguiçoso, mas com toneladas de easter eggs, estilo de sobra e umas poucas decisões arriscadas, o novo "Pânico" de 2022 é uma carta apaixonada para os fãs, mas principalmente para o homem que começou tudo isso. "For Wes".
Não Olhe para Cima
3.7 1,9K Assista AgoraEste filme é a crônica/sátira do negacionismo perante a pandemia do covid-19 que estive esperando desde que isso tudo começou. Muito bom ver todos os políticos, a mídia e os bilionários que lançam foguetes em forma de piroca sendo tratados como a horda de gananciosos estúpidos que são.
A forma como tudo é politizado para benefício próprio dos poderosos, até uma questão de sobrevivência da raça humana (!), é tão desesperador quanto real.
A personagem da Jennifer Lawrence recorrentemente inconformada que o militar cobrou por lanches da Casa Branca que eram grátis, me representa num grau... 😂 a química dela com Jonah Hill foi ótima.
Aquele Elon Musk deles me deu muito nervoso, que agonia aquele homem falando! Ugh..
Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa
4.2 1,8K Assista AgoraSabe aquele filme que você está tão imerso e curtindo tanto, que nem se liga em notar se o roteiro é bom, se tem coesão, se é corrido, se realmente anda com a trama ou se é tudo uma grande "micareta de fan service"? Pois é, "Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa" foi exatamente este filme para mim.
Entregou tudo e mais um pouco. Chegou uma hora ali pelo final do segundo ato que eu comecei a chorar e não parei nunca mais até o final, minha máscara pff2 estava tão encharcada que tirei e passei a molhar a gola da camisa de lágrimas.
Muita nostalgia ao rever os vilões dos filmes antigos e os Peters antigos, Andrew e Tobey. Todas as conversas sobre os "problemas de homem-aranha" deles, as referências a seus filmes, o sarro tirado com as questões que povoam os fandoms, o meme deles se apontando... Tudo muito gratificante. Mas o momento mais satisfatório, para mim, foi Peter/Andrew salvando a MJ naquela cena idêntica à de "Ameaça de Electro" em que ele não foi capaz de salvar a Gwen e sentindo que finalmente teve ali sua redenção. A morte da May Marisa Tomei também acabou comigo.
Então, sim, eu caí em todas as armadilhas emocionais sentimentalóides do filme e não sinto vergonha nenhuma de admitir. Quando a experiência na sala escura é catártica nesse nível, e você nem quer acessar o racional para analisar... esse momento ninguém tira de você, não tem preço, na moral.
Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis
3.8 893 Assista AgoraO filme é redondinho, tem toda a questão familiar, que é bem desenvolvida ao longo da aventura, tem toda a progressão de filme de artes marciais para filme fantasia, que é muito bem feita, sem costura. Alguma cena de luta é meio coreografada demais? É. Mas isso tem quase zero importância diante de toda a construção de universo rica e crível, respeitando a ancestralidade da cultura chinesa, bem como fizeram com a África em Wakanda. Todas as criaturas são belíssimas, o dragão em especial, que CG lindo!
Bem editado, com ritmo bom, gostei muito do tempo que o roteiro dedica à amizade entre o protagonista e a personagem da Awkwafina, o melhor alívio cômico do filme, quase perdendo o posto para Ben Kingsley, reprisando seu falso Mandarin e adressando a problemática daquele papel em "Homem de Ferro 3"... o tom do humor também funcionou demais pra mim.
Todas as muitas cenas de ação são empolgantes e tão bem filmadas (sem câmera trepidando nem cortes ininterruptos) que saí do filme com a impressão de que "Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis" é o mais próximo de uma adaptação (decente) de "Dragon Ball Z" que já testemunhamos.
A Hora do Pesadelo 4: O Mestre dos Sonhos
3.1 337 Assista AgoraA substituição de Patricia Arquette por Tuesday Knight foi um choque, mas aparentemente Patricia estava grávida e não pôde fazer o filme.
Eu particularmente não gostava do personagem do Kincaid com aquela voz estridente irritante, não vou sentir falta.
A justificativa do retorno de Freddy por causa do cão foi fraquíssima.
Um aspecto do filme que eu curti foi como os estereótipos oitentistas dos personagens (a virgem, a nerd, o karate kid, o jock, a vadia...) sugeriam que ia rolar algum bullying aqui e ali, mas o clima de camaradagem geral subverte isso muito bem, chegando a ser um filme até bem feminista nesse sentido.
O roteiro é meio fraco: o próprio conceito do "mestre dos sonhos", que dá subtítulo ao filme, é deixado de lado e acaba não servindo para nada. Os pontos fortes aqui são os personagens, carismáticos e merecedores da nossa torcida; Alice, por exemplo, é uma 'final girl' mais simpática do que a Kristen da shopee, que é despachada logo (ainda bem), e Sheila foi uma morte que doeu.
Robert Englund continua inspiradíssimo como Freddy, lançando one-liners a cada morte, mesmo que o vilão penda cada vez menos para o assustador e cada vez mais para a caricatura, mas todo o tom do filme traduz o zeitgeist dos anos 80 e funciona.
Os efeitos especiais e a maquiagem das sequências de sonho seguem sendo o grande barato dos filmes: a ressurreição de Freddy bebe direto de "Hellraiser"; a morte de Joey é quase um Johnny Depp 2.0 do primeiro filme; Freddy travestido como aquela enfermeira alugou um triplex nos meus pesadelos; toda a sequência da morte de Kristen com aquele belo uso de câmera zenital em movimento no quarto e depois aquela trucagem dela andando no teto; e a transformação de Debbie no melhor estilo "A Mosca", foram vários momentos dignos de nota do filme.
Todo o orçamento já havia estourado na cena da morte de Rick naquele cenário cheio de lençóis baratos em que ele luta contra o Freddy "invisível" - aquilo foi um 'reshoot' ridiculamente óbvio. Ele devia ter morrido no elevador. E aquela cena de Alice e Dan andando em círculos deu bem aquela sensação de correr sem sair do lugar num sonho, mas... foi tão interminável que não me surpreenderia se fosse apenas mais uma encheção de linguiça para driblar a falta de grana e preencher a metragem do filme.
O confronto final é qualquer nota, com um monte de baboseira envolvendo artes marciais, uma traquitana estilo "Caça-fantasmas" e um espelho (?)... porém as almas das vítimas de Freddy consumindo-o entregou horrores, um dos melhores efeitos do filme.
Gostaria que detalhes que traduzem a cultura adolescente da época como a ascensão da MTV, das artes marciais e do culto ao corpo fossem mais explorados, mas seria pedir demais talvez.
Halloween: Ressurreição
2.4 336 Assista AgoraDifícil de acreditar que o mesmo Rick Rosenthal que dirigiu o decente "Halloween II" (1981), também dirigiu esta verdadeira bomba de filme, que nasceu do simples desejo dos produtores Akkad + Weinstein faturarem ainda mais com o Michael que, por contrato, não pode morrer...
Seria até irônico se não fosse de um cinismo nojento o personagem de Busta Rhymes no fim de tudo proferir que "Michael Myers não é um produto ou uma peça publicitária", porque é exatamente assim que ele é tratado pelos que detêm seus direitos e simplesmente não sabem a hora de parar, afinal de contas pra que desativar uma máquina de dinheiro, não é mesmo? E isso nunca foi tão evidente quanto neste filme vergonhoso.
A direção de Rosenthal é meramente acessória. Este é um filme de produtor até o último fotograma. A fotografia aliás é outro dos aspectos pavorosos aqui, uma das piores que eu já vi; a textura da imagem dá um aspecto barato à "obra" (e não me refiro às microcâmeras diegéticas), qualquer noção de enquadramento ou iluminação é inexistente. Combinados à edição caótica, falham em estabelecer algo básico, como a geografia da casa onde se passa a maior parte da ação do filme. A casa de Michael, aliás, é um set horrível.
As atuações seguem o nível do resto do filme, ou seja... nem vale a pena comentar. O roteiro tenta capitalizar em cima da onda dos reality shows do início dos anos 2000 e é uma analogia perfeita do modo que o filme é tratado numa espécie de metalinguagem maldita em que os realizadores riem da cara dos idiotas que pagaram para ver isso, e não tem um único momento inspirado. Respeito máximo a Jamie Lee Curtis, que já entrou aqui sabendo que ia sair de cena nos primeiros minutos e se poupar desta desgraça. Pior que "Halloween 5" e "6" porque este aqui me ofende de verdade.
A diferença entre fazer um filme de baixo orçamento e fazer um filme desleixado é a diferença entre o "Halloween" original de '78 e este aqui.
Halloween H20: Vinte Anos Depois
3.1 435 Assista AgoraAssisti a "Halloween H20" em VHS, há longínquos 21 anos; foi meu primeiro 'Halloween', assim como o primeiro filme que aluguei na vida. Com 11 anos e um senso crítico que levava em consideração o número de vítimas do mascarado para determinar a qualidade da obra, este filme não fez nada por mim. Foi uma decepção total, mesmo para um jovem que já conhecia Jamie Lee Curtis do divertido "True Lies" (eu estava há pouco mais de uma década nesta Terra).
Hoje, com a bagagem de quem recentemente assistiu aos 6 números anteriores desta irregular franquia, uma mente mais aberta e um olhar mais educado, reassisti a "Halloween H20". E posso dizer que se tornou o meu segundo filme preferido da série, ficando atrás apenas do original de John Carpenter. Como pude achar este filme ruim?? Depois de tanta bomba, 4, 5, 6... Finalmente um roteiro enxuto, que pelo menos aparenta um mínimo de cuidado na escrita; que desenvolve razoavelmente bem seus personagens e suas relações adjacentes, sem atitudes absurdas ou idiotas, com falas espertas e que continua o que se estabeleceu nos dois primeiros.
O filme tem muito mais acertos do que erros, e focar em Laurie considero uma das boas decisões, ao mesmo tempo que não perde o olho em Michael. Jamie Lee Curtis constrói uma personagem tridimensional; cheia de traumas, porém badass. Adorei a participação de sua mãe Janet Leigh, a inesquecível Marion Crane de "Psicose", duas das maiores 'scream queens' dividindo a tela. Donald Pleasence foi uma falta que senti, icônico Dr. Loomis R. I. P.
Eu ficaria até amanhã falando tudo que me agradou aqui, então resumindo: o diretor não tenta emular o estilo do Carpenter, faz o filme dele e funciona muito bem, quase todo o elenco funciona, a locação da Hillcrest Academy é como um labirinto, cheia de corredores estreitos que aumentam a agonia, o suspense voltou a ser um dos pontos altos da série, Michael está ameaçador de novo e há referências sutis aos primeiros filmes aqui e ali (como a infame facada em que Michael ergue sua vítima) e alguns outros elementos de metalinguagem, mas nada exagerado. E o final, que é perfeito. Ou teria sido, não fosse o próximo filme que retconga tudo.
Eu gosto do estilo de trilha do Marco Beltrami para terror, exceto em alguns momentos que ela está idêntica a "Pânico", não me incomoda, porém CLARO que um uso mais ostensivo dos temas de Carpenter aqui era essencial, descaracterizou um pouco. E outro detalhe que eu mudaria aqui seria os olhos na máscara; talvez se tivessem permanecido obscuros, desumanos, como descritos pela voz over de Dr. Loomis na abertura, ficando visíveis apenas naquele momento final de súplica a Laurie, teria potencializado tanto o senso de terror nas cenas de perseguição, quanto o vislumbre de humanidade dele neste clímax. Mas nenhum pecado imperdoável.
A Hora do Pesadelo 3: Os Guerreiros dos Sonhos
3.5 442 Assista AgoraCom um roteiro coeso e satisfatório, co-escrito por Frank Darabont (diretor do devastador "O Nevoeiro") e Wes Craven, criador do "Pesadelo" original, além de contar com um elenco que inclui Patricia Arquette em seu debut, Larry Fishburne e o retorno de Heather Langenkamp como Nancy, agora uma médica especializada em distúrbios do sono; esta parte 3 da saga de Freddy é bem mais sólida do que o filme anterior, chegando a se aproximar do clássico que foi o primeiro.
Os personagens são cativantes e poucas cenas são o suficiente para que nos importemos com eles. Os efeitos especiais das sequências de sonho são impressionantes para 1987, até stop-motion os caras usaram! Aqui dá pra ver que tiveram um budget que Wes não dispôs lá atrás.
O filme cumpre bem seu papel de divertir e assustar, fazendo bom uso da linguagem cinematográfica para contar sua história. Curti bem.
Halloween 6: A Última Vingança
2.5 282Se eu já tinha achado aquele retcon do 2 forçado, o que dizer de toda essa história sem pé nem cabeça de seita druida e runas tatuadas para justificar a matança de Michael? E para quê explicar, sabe? O original não tentou explicar o Michael (ou the shape, whatever)! Tudo o que sabemos é que ele é um psicopata, o mal encarnado, e só isso já foi o bastante para dar arrepios naquele filme...
O mais louco é pensar que o filme anterior (sofrível) já previa esta sequência, pois introduziu os elementos principais desta presepada. Para não dizer que não gostei de nada, aquela cena que faz referência ao primeiro em que Kara bate na porta gritando por Tommy com Michael em seu encalço foi legal, mas é só um fan service.
O debut do Homem-Formiga (que ainda assinava Paul Stephen Rudd) no cinema mostra que o auge pode chegar tardiamente, mesmo para um dos rostos mais bonitos do showbiz. E Donald Pleasence em seu último trabalho merecia mais.
Este foi o atestado final de que o gênero slasher estava puro desgaste e o que fez com que Wes Craven, no ano seguinte, virasse o jogo com "Pânico", que injetou frescor no gênero quase morto, e que ironicamente viabilizou a sequência "Halloween H20" em 1998.
Eu sinceramente dou risada de quem vê o 5 e o 6 e ainda tem CORAGEM de dizer que o 3 é pior só por não ter Michael Myers...😒
Halloween 5: A Vingança de Michael Myers
2.8 290Os malabarismos que o roteiro deste aqui fez para dar continuidade ao final do 4 (que foi até surpreendente) são risíveis.
Um festival de sustos falsos que mais irritam do que divertem... Michael nunca mais teve a presença ou o senso de 'gravitas' do primeiro filme... e a máscara deste só não é pior que a do anterior. Danielle Harris segue entregando tudo na atuação, mas toda essa coisa de ligação psíquica da Jamie com o assassino cansou na primeira cena... Dr. Loomis completamente esclerosado, perdeu toda a sua credibilidade, pobre Donald Pleasence... E aquela dupla de policiais ridículos como alívio cômico completamente desnecessário?... E ainda temos tatuagens de um símbolo misterioso que jamais fora mencionado e um personagem misterioso da bota com efeito sonoro que jamais soubemos quem é?
O filme tem zero ritmo, zero suspense, não acerta o tom... uma colcha de retalhos muito da mal costurada.
Macabro
3.0 66 Assista AgoraO competente diretor Marcos Prado (do excepcional "Estamira") parte de um ponto interessante, que é a ideia de dar um contexto sociocultural mais complexo e dúbio para o caso dos "irmão necrófilos", caso noticiado nos jornais da primeira metade dos anos 90, sempre com os excessos sensacionalistas característicos da época, o que contribuiu para a opinião pública julgar o caso antes mesmo da prisão dos suspeitos.
Como tudo ficou nebuloso até hoje, acho importante o filme mostrar que a comunidade suíça da região (que já foi quilombola) era abertamente racista e a família dos rapazes negros era bastante desestruturada.
A região da Serra dos Órgãos é explorada ao máximo pela belíssima fotografia de Azul Serra, que faz do ambiente local quase uma personagem (e o maior atrativo do filme, na minha opinião). Entretanto o foco demasiado do roteiro nos dramas do protagonista interpretado por Renato Góes, cria problemas de ritmo e desvia muito da premissa inicial e da própria investigação - muito mais interessantes.
O filme ter sido 'marketado' como um filme de terror e não como um suspense policial, também foi meio que um um tiro no pé, a meu ver.
No fim, ficou aquela sensação de que bateu na trave.