Eu acho que esse filme teria sido melhor dirigido pelo Iñarritú. A cena final, inclusive, parece copiar o lirismo de Birdman. Eu gosto muito da saída fantástica de enredos condenados pela dureza do seu realismo. É como se, de uma cidade tomada de asfalto, de repente uma flor tivesse o poder de romper o cimento. E as pessoas simplesmente voassem. Well played.
Apesar de alguns lugares comuns, com cenas um tanto quanto previsíveis e um cenário claustrofóbico que poderia ter sido melhor explorado com monólogos (ao invés de diálogos repetitivos), eu não consigo não creditar meu amor a esse filme, por ter resgatado o Brendan Fraser das sombras. Um cara que sempre demonstrou um nível de atuação à parte - sobretudo de melancolia. Um ator subestimado pela beleza na juventude e pela decadência estética e moral ao longo da vida, ostracizado pelo passado blockbuster. Um ator que, eu espero, retornará ao cinema pela competência dramática. Btw, vejo muitas pessoas dizendo que o filme não romantiza a obesidade. Ele romantiza pra caralho, na verdade. Apesar de não celebrar a gordura enquanto liberdade de escolha, o filme reforça a obesidade enquanto doença incontestável e tende a explorar os aspectos mais mórbidos e assustadores dessa condição. Seja de um extremo ou de outro, a abordagem não deixa de ser romântica. É claramente uma história feita por uma pessoa magra.
Filmaço! Para quem gosta de filmes de terror, então, nem se fala... Filmes como esse contrastam com toda uma tradição de narrativa fílmica, a qual estamos totalmente sujeitos. Ainda hoje, preciso continuamente de filmes como esse para lembrar de que existem outras formas de se contar uma história! O que parece arrastado e demasiado monótono em Hagazussa é uma técnica de construção e solidificação da narrativa. A minha sensação, enquanto espectadora, é a de estar perigosamente testemunhando algo que o próprio filme não parece me conceder - parece estar alheio a minha presença. A narrativa não é domesticada: ela é lenta, em desacordo com o ritmo frenético da minha atualidade (e de acordo com o contexto da personagem). Durante todo o filme, me sinto deslocada como a personagem, só por não corresponder ao ritmo daquela época. E isso não é desmérito da obra, pelo contrário, apenas reforça o propósito que o diretor deseja passar.
Hagazussa é de outra escola teórica do horror. Como muitas críticas já ressaltaram, o pavor é construído lentamente pela trama, na ausência mesma de jumpscares - pior: na escassez inusual de diálogos. O verdadeiro terror do filme é a originalidade, a singularidade, a aticipidade das imagens e das técnicas utilizadas. O pavor e o desconforto que sentimos provêm da falta de referências imagéticas do nosso arsenal de terror: estamos acostumados com outros tipos de bruxas, com outro tipo de luz, com outro tipo de movimento corporal.
Como pode, por exemplo, um simples olhar arregalado de uma mulher enferma ser tão assustador e insólito? Claudia Martini e Aleksandra Cwen entregam uma atuação impecável, digna de pintura: a expressividade, principalmente no olhar, traduz tanta aflição quanto mil diálogos jamais poderiam traduzir. Também destaco os movimentos corporais, lentos e dolorosos - as duas souberam manifestar com o próprio corpo, com suas peles e ossos, a dureza da condição feminina no século XV. Bravíssimo!
Em resumo, o que eu quero dizer é o seguinte: o estranhamento que o filme causa é o seu principal mérito. Pois, de modo geral, os filmes de terror são bastante repetitivos em suas fórmulas e simbologias, independentemente do tipo de mitologia a ser explorada - bruxas, lobisomens, vampiros, zumbis, etc. É como se o repertório para cada um desses universos já tivesse sido exaustivamente esgotado. Até que surgem verdadeiros artistas como Robert Eggers, Lukas Feigelfeld... ressignificando um gênero, até então, levado pouco a sério.
Senti falta de uma aprofundada na história da mãe de Albrun. A menção feita por um velho aldeão, logo no início, sobre a bruxa Perchta também me soou um tanto reticente. Ajudou a reforçar o tipo de crença e mentalidade dos personagens, mas não permitiu uma ligação maior com a história.
A senha do líder da indústria óptica é uma data? Sério que a casa dele não seria blindada por codificação digital? James tem o dobro de tamanho do Adrian, mas ficou desacordado com três socos no rosto... esses são só alguns exemplos de inverossimilhança que mostram que a história não é bem pensada, mas como a atuação da protagonista é maravilhosa, pode ser que passe batido pra maioria das pessoas.
Do ponto de vista técnico, um filme difícil. É impressionante que o Dolan, com seus vinte e poucos anos, tenha conseguido capturar tão bem os pensamentos de cada personagem, sem necessidade de falas. Filme denso, dramático, bastante intimista e subjetivo. A linearidade costumeira das histórias de Hollywood não se faz presente. O espectador é como se fosse um convidado nesse almoço de família, que acompanha sem interferir os diálogos que não entende direito. Fragmentos. O filme é repleto de fragmentos. A atuação do elenco é maravilhosa, com destaque para o Vicent Cassel, Léa Seydoux e a Nathalie Baye. A personagem de Marion Cotillard me pareceu um bocadinho estereotipada, irritante, insegura demais. Faltou um pouco de dosagem, porque ela não me parecia sequer um sujeito. Ainda sim, a cumplicidade existente entre ela e Louis deixa o enredo bem interessante, porque os dois são os únicos com temperamento dócil e constante na casa. Além disso, é como se os dois também fossem os únicos estrangeiros. No meu ponto de vista, Dolan foi muito ousado ao realizar esse filme. Os enquadramentos são muito bem feitos e extremamente originais. Me senti nas minhas próprias reuniões de família quando todos estavam sentados à mesa e a câmera capturava pequenos fragmentos dos seus rostos e gestos. Como entre familiares há intimidade, o que uns observam nos outros não é o rosto, porque já o conhecem, mas pequenos detalhes nostálgicos. Em termos de falhas técnicas, penso que o filme deixou a desejar no quesito trilha sonora. Alguns ritmos simplesmente não se encaixavam nas cenas, o que dava ares juvenis ao filme, num sentido oposto ao desejado, penso eu, porque a história tem muita seriedade, se passa depois da juventude, então senti falta de um teor mais sóbrio. A metáfora climática também é bem interessante. O calor, o suor, a brisa, a chuva, tudo acompanha as tensões dos confinados na casa. Realmente, a histeria chega ao seu ápice quando cai o temporal, e o suor deslizando pela nuca e pelas costas dos personagens dá a sensação de angústia ao espectador, também remetendo a uma catarse que virá à tona. A metáfora do final, entretanto, considerei desnecessária. A ideia de um pássaro se debatendo dentro de uma casa da qual não consegue sair é óbvia demais. Sensível, mas não apurada. Além disso, ficou bastante evidente que era um pássaro gráfico (não que devesse ser um real, LONGE DISSO, mas poderia ter sido melhor computadorizado). O filme deixa diversas sugestões ao espectador, e não acho que isso o enfraqueça. Pelo contrário: quanto maior a subjetividade, mais exercício mental faz o espectador, e mais ele se envolve na trama. Por exemplo, Catherine sabia que Louis estava para morrer? No final, ele pede que ela não diga nada num teor poético, denunciando a desnecessidade de despedidas e lamentos, ou ele a silencia quanto à mensagem não dita? O antigo amor de Louis morreu da mesma forma que ele morrerá (talvez possa ser AIDS ou algo do tipo, já que eles se drogavam...). E por que Louis não falou o que tinha que falar? Foi porque a mãe pediu para que ele encorajasse os irmãos, e não o contrário? Ou foi porque ele percebeu que jamais conseguiria recuperar seu vínculo com a família, apenas a faria sofrer ainda mais do que sofreu, caso contasse a verdade? E por que ele foi embora de casa? O irmão não aceitou a sua orientação sexual e o agrediu verbalmente a ponto dele querer se mudar? O que houve, o que o sufoca, por que não vomita as palavras que precisa falar? Essas são perguntas que o filme não tem por objetivo responder claramente. Acho que o principal foco do filme versa mesmo é sobre a incapacidade que uns temos com os outros, quando íntimos, a falar o que sentimos sem ferir. Uma vez que a família nos é tão amada a ponto de fazer parte da gente, machucá-la significa machucar a nós mesmos. Desse modo, o irmão tão distante, como um mártir, decide se distanciar ainda mais da família, optando por morrer longe, na ignorância deles. Ao mesmo tempo, é possível que alguns tenham achado a postura de Louis oposta à de um mártir: egoísta, ele só retorna para casa depois de doze anos para compartilhar uma notícia tristíssima que só trará mais dor. Não obtendo grandes afagos, ele covardemente desiste da ideia e foge novamente, para longe do desafio familiar que ele jamais consegue enfrentar. Seja qual for a interpretação, é inegável que o filme é instigante e que as cenas são orientadas por uma velocidade lenta e claustrofóbica, com olhares que comunicam muito mais do que as palavras - exatamente como é numa família.
O que dizer desse ator-mirim Thomas Gloria, cuja veracidade frente à câmera prende a atenção do espectador do início ao fim? Como pode uma criança tão novinha saber chorar com tanta convicção... fiquei maravilhada pela atuação dele!
Um filme lindo, lindo, lindo, lindo, lindo... duma beleza dessas de passarinho. José e Gabrielle são personagens comoventes, parecem saídos de um livro.
No entanto, o ponto alto do filme não me convenceu muito. Digamos que a ilusão de Gabrielle se justifique porque ela tem problemas psicológicos - sofreu de uma crise dissociativa ou algo do gênero. Ok. E daí ela nunca mais apresentou nenhuma outra crise? Difícil. Além do mais, normalmente as pessoas sofrem apagões, não é como se substituíssem inteiramente uma lembrança com uma invenção tão complexa (com diálogos, temporalidade, referências, etc). Além disso, a versão de José não bate com as cenas que assistimos (com as memórias de Gabrielle): na sua memória, ela e André transaram depois que ele voltou do hospital; na versão de José, o sexo ocorreu antes (motivado pelo ciúme). Por causa desses aspectos, o clímax me pareceu uma saída forçada. Talvez o filme tivesse ficado mais interessante se a própria Gabrielle se lembrasse que ela inventou tudo - ou se ela fosse obrigada a admitir que nunca teve nada com André, que essa foi apenas uma fantasia a qual precisou se agarrar para suportar o vazio da sua vida.
O final, no entanto, é muito lindo. Cheio de resignação. E esperança.
O filme é longo e cansa o espectador porque relações abusivas são longas, cheias de altos e baixos, e esgotam todos os envolvidos (inclusive os indiretamente envolvidos, como o Solal).
Eu acreditei no poder de libertação da protagonista na maior parte do tempo, para então me decepcionar no final. Isso foi o que deixou o filme ainda mais realista e interessante, na minha opinião. Os dois personagens são viciados um no outro e não vão parar até se consumirem por inteiro.
A cena em que Tony mira a fisionomia de Georgio com desejo, mesmo após meses de recuperação e desintoxicação, é de uma morbidez impressionante. Não deu certo, não dá certo e nem dará certo, mas ela não consegue resistir ao impulso de continuar repetindo o mesmo erro, os mesmos gestos. São dez anos. Falta força para romper a inércia. Eles envelheceram juntos, constituíram família, um patrimônio, uma identidade, várias identidades: essas coisas custam muito para ter um fim. Por causa disso, todo o empenho despendido na sua recuperação não é o bastante frente a alguns segundos mirando o rosto do homem que, para bem e para mal, a ama dessa forma bizarra, lisonjeadora e única. Como no início do relacionamento dos dois ela se mostrava muito insegura, acho que é isso que ela passou a sentir por Georgio: além de amor, uma gigantesca gratidão por ser amada (por isso, o amor dele lhe parece lisonjeador, ainda que doentio).
Percebi que muitas pessoas, ao contrário de mim, prestaram muita atenção no título ''Mon Roi''. Será que não se deve à resignação da personagem? Georgio é o único que a ama dessa forma insana, intensa, destrutiva e completamente apaixonada. Ele é escroto com ela, mas também a faz rir. E ele é o pai do seu filho. Penso que ela simplesmente se entrega à ideia de que ele é a sua cara metade, o seu homem, o seu rei, aquela pessoa que a fará sempre voltar, basta um chamado, um gesto, um sorriso. Ele a tem. O título é a manifestação dessa entrega.
Entrega, aliás, que deve ser entendida mais como desistência do que como uma impulsividade jovial ou um voto de fé no amor. Quanto mais Tony continua se entregando a Georgio, mais longe de si ela fica. Mais traída por si ela é.
Houve dois momentos do filme em que eu precisei sair rapidamente da sala, e ele continuou rodando, então não sei se essa pergunta vai soar estúpida ou não: afinal, o filme explica como foi que Tony se lesionou? Agradeceria se me respondessem essa dúvida!
Uma história tão pesada quanto essa só funcionaria decentemente num humor mais inteligente. Da forma como é, o filme é de um mau gosto absurdo. Comercial, sensacionalista, superficial. Até tecnicamente o filme parece preguiçoso - a fotografia é óbvia, a trilha sonora é óbvia... se era pra ressuscitar uma história dessas, tinham que ter feito melhor, explorado nuances que não tinham sido exploradas antes.
O roteiro sabe como prender o espectador e tem diálogos muito interessantes, mas ressalto que o mérito em si é da obra da Agatha Christie. Demorei um bom tempo para reconhecer o Kenneth Branagh, porque ele adotou o visual do personagem de uma tal forma que parecia 2x mais velho. A cena na estação de trem adota um estilo megalomaníaco que não funciona direito - nessa parte inicial do filme eu achei que fosse detestar assistir à história.
Embora a megalomania continue no decorrer da trama, com atuações exageradas em alguns momentos, a fotografia e a direção de cena acabaram me prendendo.
A cena final, com todos sentados na mesa (Santa Ceia?), é belíssima, bem como a cena em que se revela que todos os passageiros mataram Ratchett, se revezando nas facadas.
Nesses momentos, o filme me surpreendeu muito. É como encontrar preciosidades dentro de um baú cheio de cacarecos. Por isso eu digo: dê uma chance à história, talvez você seja pego de surpresa.
Gostaria de destacar a Michelle Pfeiffer não só pela sua atuação no filme, mas porque descobri que ela canta (!). Fiquei pasma. O filme encerra com uma belíssima canção entoada por ela.
Como eu nunca li o livro nem assisti ao filme original, não posso fazer comparações. O que posso dizer é que a aposta no elenco de peso acabou tornando o filme um pouco ''oscarizado''. Para mim, os atores mais interessantes eram os menos conhecidos, que não pareciam viciados na própria imagem. Algumas das cenas me pareceram patetas, hollywoodianas e artificiais. Se era para chamar atores já consagrados, por que não escolheram nomes como DiCaprio, Adrien Brody, Colin Farrell? Acho que eles teriam contribuído para conceder mais ''arte'' e ''sensibilidade'' ao filme, porque são mais maduros e menos narcisistas (na minha opinião).
Apesar da trama em si surpreender pela aparente falta de acontecimentos, Ian McKellen tá dando um dos mais impressionantes shows de atuação que eu já vi na minha vida. Filme sensível, delicado, humano e muito bonito. Não pensei que fosse me fazer chorar. Uma trama que enlaça questionamentos existenciais, passado, memórias e o confronto entre diferentes gerações. Laura Linney incorporou muito bem o papel, dá pra ver que ela é uma atriz muito esforçada. Milo Parker tá muito carismático. Um bom filme, especialmente para aqueles que estão cansados da imagem artificialmente genial e impassível do mais famoso detetive da história.
Bah, que filme bem podre. Desserviço à imagem de Lou Andreas Salomé. As ideias dela são extremamente mal explicadas, a sua relação com os homens parece guiar boa parte do filme, como se o interior dela (e a sua obra) importasse menos.
As cenas em que Deus aparece é dum mau gosto impressionante. Não que eu seja religiosa, é que são péssimas mesmo!
Uma pena que uma produção alemã tenha chutado tão fora do gol na hora de contar uma história tão fascinante. Espero que filmes sobre essa incrível mulher não parem por aí!
nossa sem hora que filme ridículo... figurino e cenários perfeitos, mas a jessica chastain carregou a trama (uma merda, diga-se de passagem) nas costas.
Gostei muito. Me deixou com gostinho de quero mais. Pena que o filme apresenta tantas discussões interessantes e não as desenvolve muito. Por mim, ele poderia ter umas três horas. Essa Ecem Uzun é uma baita atriz. Excelente atuação!
Shirley MacLaine e Jack Nicholson dando um show de atuação! Os personagens são humanos e envolventes, o que prende o espectador até o fim. A forma com que se aborda as relações amorosas e o matrimônio também é interessante, até mesmo despojado pra época.
Achei que o filme se perde depois da primeira metade, principalmente quando a Emma descobre que está com câncer. A doença evolui do nada e não há um desenvolvimento dos afetos - ela mesma não definha nem lamenta, o que torna essa parte do roteiro demasiado artificial.
Não dá pra subestimar. Engana de primeira, com roteiro clichê e forçado. Mas depois mostra pro que veio. Pequenos detalhes que se encaixam, trama arquitetada minuciosamente.
Jamie Dornan é muito gostoso e que bom há o estímulo pra que ele continue agradando o público feminino. 50 tons de cinza foi feito por uma mulher para outras mulheres. Ponto. É simplesmente uma brincadeira que mistura fantasia com erotismo, e a E. L. James foi bem sucedida em trazer a pauta do sadomasoquismo de uma forma leve, divertida, tosca e constrangedora. Nem todo mundo tem estômago, paciência ou simplesmente acesso ao Sade e afins. A trama é super problemática (como todas as histórias que envolvem jogo de poder entre homem e mulher, principalmente as que reforçam estereótipos de gênero) e eu gosto de ver como as pessoas reagem a essas questões. Há quem defenda a liberdade de se fazer filmes ''errados'', há quem se indigne com o machismo do filme, há quem discuta as fronteiras entre o público e o privado, etc. Todas essas são questões relevantes, e a E.L. James teve um certo mérito em ocasionar essa série de discussões (ainda que ela possa ser uma pamonha sem nenhuma auto-reflexão).
50 tons de cinza não é uma história mirabolante, então é óbvio que o roteiro do filme também não vai ser. Grey e Anastasia eram estereótipos do denso e do leve no primeiro filme, e agora, no segundo, esse contraste diminuiu porque ele perdeu um pouco do próprio poder/autonomia, enquanto ela ganhou. Há uma clara mudança na personalidade de Grey e isso é interessante, porque faz com que se desenvolva um equilíbrio entre os desejos dos dois - da parte dele, de submissão; da parte dela, de romance. Assim, quem realmente se submete a quem, na história? Pelo que eu pude perceber, Grey mudou a vida de Anastacia materialmente, mas ela deu ocasionou nela uma transformação muito mais profunda (se é que se pode falar de profundidade no que tange a qualquer coisa referente a 50 tons...).
O mérito da história é simplesmente trazer à tona a discussão de que submeter-se também pode ser uma forma de libertação. Fora isso, o filme é um desastre, muito tosco, as cenas de sexo são insipientes e MUITO repetitivas. Aliás, alguém precisa dizer: será que eles sabem que existe sexo oral? Pelo amor de Sade, será que tem como fazer sexo sem ser de quatro sempre? E tanto o Jamie quando a Dakota precisam mudar um pouco de expressão na hora do sexo, se não o terceiro filme vai ser uma regurgitação muito entediante. Eles são lindos, mas não conseguem se sustentar desse jeito.
Outra coisa: aquela cena em que a Anastasia tá de lingerie, toda cheia de si e provocante... por que é que ela se mantém tão sem graça e a iniciativa vem sempre dele? Existem limites de verossimilhança pra submissão e insegurança. Nem a Bella do Crepúsculo consegue ser tão baunilha usando uma lingerie daquelas. Senti falta de uma provocação mais forte da parte dela. A Anastasia é uma mulher adulta que não tem noção de si nem do próprio corpo.
Ainda sim, onde o Jamie Dornan for, eu vou atrás :))
Excelente comédia/drama romântico. Como já foi dito abaixo, um dos melhores filmes do gênero já realizados, porque não se estrutura em caricaturas e não subestima a inteligência do público. Personagens complexos, envolventes, engraçados, humanos e sobretudo reais - são bonitos e fortes ao mesmo tempo que feios e fracos. Há diálogos sublimes no filme, conversas nada clichês e uma série de epifanias inspiradoras. Ah, também há constantes referências intelectuais, o que prendeu a minha curiosidade para além da sessão (cheguei em casa e fui pesquisar as tais referências). O humor francês acerca da relação entre homem e mulher está no seu ápice aqui, exibindo lucidez e promovendo reflexões. Achei sobretudo de bom gosto a forma com a qual o matrimônio e o amor heterossexual foram tratados. E nem dá pra dizer que o filme tem um tom feminista: na verdade, as mulheres francesas vivem uma realidade muito distinta da nossa, e culturalmente estão desvinculadas de certos estereótipos que ainda nos aprisionam em vários lugares do mundo - portanto, o que para nós pode ser tido como feminista, para elas não denota luta ou qualquer aspecto de enfrentamento em relação ao patriarcado (é um direito conquistado há mais tempo). Além disso, apesar de Sarah ser forte e competente, o que é bastante evidenciado no filme, me incomoda que ela passa a vida inteira vivendo como dona de casa e que seu envelhecimento é retratado com mais sexualidade que o do marido. Por um lado, sei que envelhecer não significa deixar de desejar e sentir prazer, mas me incomodou a força estética com que ela teve de terminar o filme, ao contrário do marido (que engordou, ficou calvo, chato, disfuncional, etc). Por que a personagem feminina tem de ser magra e tão bem conservada? Talvez o roteiro tenha optado por isso para empoderá-la, mas eu acho que a necessidade da beleza é o grilhão mais pesado do cárcere feminino. Ainda sim, o filme é mega ''desconstruídão'' comparado a qualquer outra comédia romântica.
Ao meu ver, o roteiro também falha um pouco no excesso de conteúdo humorístico, que diminui o lado dramático do filme, ainda que não o anule.
A cena da venda dos olhos, ao final, me fez chorar e surpreendeu enormemente, mas acho que teria um impacto ainda maior se o filme não tivesse se desenvolvido de forma tão jocosa até ali. Há momentos de seriedade dentro do enredo que o leitor não consegue experimentar completamente porque ainda está se recuperando da risada de antes. A cumplicidade do casal, que sabe exatamente como e quando fugir juntos, por exemplo, é absolutamente maravilhosa, mas também acho que foi um pouco ofuscada pelas bobices que comentei. Ainda sim, que delícia assistir àquelas fugas!
Não era necessário: a cena clichê do hospital (psiquiatra x Victor), a morte da mãe de Victor e o filho do casal, este último, no caso, um personagem que aparece no roteiro somente para ser alvo de raiva e recalque (não tem nenhuma humanidade tampouco interação consciente com o seu meio). Abordagens interessantes: além dos dois aspectos que comentei acima, achei interessante a reviravolta do casal no que tange ao ciúmes (quando Victor passa a atrair a atenção de outras mulheres pelo charme do seu intelecto); o plot-twist de que ela é quem escrevia os melhores livros do marido genial (a mulher por trás do sucesso de um homem, etc); o fato do romance não ter iniciado à primeira vista e de que Victor era e seguiu sendo um desastre na cama.
Sei que muitas pessoas ficaram maravilhadas com a personagem Sarah, que de fato é uma mulher fortíssima, inteligente, intrigante, charmosa, envolvente, engraçada e complexa, mas devo admitir que também gostei bastante do Victor, que é sentimental, auto-condescendente, frágil, narcisista, terno, desesperadamente apaixonado (ora por Sarah como amante, ora por Sarah como mãe/editora), absurdo, etc. Há diversas cenas em que Victor falava algo com seriedade e eu me dobrava de tanto rir da forma ridícula com que ele olhava para o seu entorno (além da sua fala infantil e contraditória). Esses pequenos detalhes me cativam nas comédias românticas. Sei que são filmes muito diferentes, mas Victor e Sarah me lembraram o casal de O Lado Bom da Vida, Pat e Tiffany, doidos e sublimes. Excelente trabalho conjunto entre Doria Tillier e Nicolas Bedos.
Realmente, Mr et Mme Adelman é um filme consistente, inteligente, divertido e relevante. Não saí da sessão me sentindo triste por não pertencer ao universo romântico do filme, como normalmente acontece quando assisto às comédias estadunidenses onde tudo é estético, leve, fácil e superficial. Pelo contrário: saí da sessão sentindo a mornidão de ter, por fim, assistido a um retrato fiel das relações humanas (ainda que o filme se baseie em alguns estereótipos aqui e ali), certa de que a comédia dramática que acompanhei na tela de cinema tratava realmente de uma história de amor, e não de uma comercialização barata de todas as necessidades fantasiosas que desenvolvemos por causa da esterilidade do cotidiano. Seguirei atenta aos próximos filmes de Bedos! :)
Obra-prima. Que filme maravilhoso! Em vários momentos, me vi às lágrimas sem saber exatamente o porquê. Logo no início, por exemplo, quando Juan passeia com Little de carro, ou mesmo nas cenas em que Paula aparece... lágrimas, lágrimas, lágrimas. O filme é lindo e dispensa explicações. É bastante intuitivo. Ao assistir, o espectador também fica em profundo silêncio, acabrunhado, receoso de estragar o momento (o que está vendo) com palavras, explicações. O que eu quero dizer: o filme tem vida própria, e a existência dele é completa, não precisa de ajuda das palavras.
As atuações excepcionais. Tô até agora arrepiada. Nossa, quanto diálogo nos silêncios! O que dizer do Mahershala Ali? E da Naomi Harris? Puta merda! Arrepiante! Destaque pros talentos precoces Ashton Sanders e Alex Hibbert. A fotografia é de en-lou-que-cer. Impressionante como a primeira parte do filme conta com uma fotografia mais idílica, de reminiscência, como se fosse uma reprodução da memória do Black, e ao final do filme ela fica mais limpa, moderna, ampla - de certa forma, até mesmo mais cínica e estéril.
Achei interessante que o filme se sustenta super bem mesmo sem diálogo - durante a maior parte do tempo, o espectador entende o porquê do silêncio e até mesmo infere os pensamentos dos personagens. Pra quem tá reclamando disso aí nos comentários: que tipo de diálogo vocês sugeririam? O que há pra dizer num contexto desses? Uma criança nas condições de Little, carente de um ambiente saudável, de uma estrutura, de amor parental, o que uma criança dessas deveria fazer? E quem pertence a essa realidade compreende esse silêncio. Por exemplo, a comunicação de Juan com o Little, que é estruturada na cumplicidade. O silêncio, aliás, É A LINGUAGEM. Nessa realidade, calar vale ouro, e transparecer vulnerabilidade é um luxo. A nossa fala sucede o suprimento de outras necessidades que o protagonista do filme não têm supridas.
A forma com que o filme dialoga me prendeu do início ao fim e é o que mais dá consistência ao filme (ao tema que ele retrata). Achei bem interessante que o viés da sexualidade não é o foco principal da história: o filme trata simplesmente do crescimento de mais uma vida emaranhada à periferia e ao tráfico. O recorte da masculinidade é bem mais presente na história do que o recorte da homossexualidade, porque a presença de personagens femininas se dá somente na borda. Existe toda uma trama cheia de violência, repressão e medo que ocorre sob a tutela dos homens, como um universo masculino à parte - o tráfico, o bullying, a homofobia, o sistema etc. As mulheres surgem como personagens que não compreendem o que se passa nesse lapso do cotidiano, em que após a escola é preciso correr para casa para fugir do espancamento.
Bravo! Por mais filmes como esse, que reflitam tanto conteúdo humano e tantas questões políticas!
A parte final, da troca de identidade entre as duas, é chata, me deu a impressão de que o filme deveria ter terminado logo ali naquela denúncia matinal sobre a morte/desaparecimento de uma ou mesmo antes. As atuações não são ótimas, mas suficientemente boas. Nenhuma das duas personagens é realmente boa/má. O olhar de Mackenzie Davis é muito comunicativo - eu só não sei se a atuação dela foi exagerada ou se a personagem por si só é densa/desagradável demais.
Amo as histórias fantásticas, principalmente as da Literatura, mas às vezes as narrativas não conseguem obter sustentação na caricatura dos personagens. No decorrer da trama, achei que isso se aplica ao filme. Inicialmente, a trama é tensa, inteligente, elegante e inovadora. O espectador se vê conectado à trama por não saber optar por somente um dos lados; compreende e até mesmo se identifica as razões de cada uma das mulheres. Gradualmente, no entanto, a história se torna paranóica, cansativa e forçada.
Por mais que a boazinha Beth se revele um pouquinho podre, e Anna se mostre injustiçada pela constante secundarização, parece pouco crível que as duas viajariam juntas, conhecendo esse abismo entre as suas personalidades, e ainda menos crível que a única coisa que pudesse dar cabo da competitividade entre as duas fosse uma briga física seguida de morte (sem prenúncios de brigas verbais anteriores, apenas ressentimentos acumulados). Acho interessante o desenvolvimento de uma latência negativa entre as duas, mas acho que isso condenou o roteiro, já que ele é baseado numa co-dependência estranha e mal construída. Talvez outras agressões indiretas e comentários de duplo sentido pudessem ter levado a história para um caminho diferente e mais interessante. A catarse da troca de identidades, a qual também é pura psicose da personagem, poderia ter sido mais sutil ou silenciosa - denúncia que espantaria positivamente o espectador.
O ponto alto do filme, eu diria, é a ousadia da direção e da fotografia, o que confere uma certa assinatura (além de subtexto) à história.
O Exorcista do Papa
2.8 353 Assista Agorafim da carreira do russell crowe
A Baleia
4.0 1,0K Assista AgoraEu acho que esse filme teria sido melhor dirigido pelo Iñarritú. A cena final, inclusive, parece copiar o lirismo de Birdman. Eu gosto muito da saída fantástica de enredos condenados pela dureza do seu realismo. É como se, de uma cidade tomada de asfalto, de repente uma flor tivesse o poder de romper o cimento. E as pessoas simplesmente voassem. Well played.
Apesar de alguns lugares comuns, com cenas um tanto quanto previsíveis e um cenário claustrofóbico que poderia ter sido melhor explorado com monólogos (ao invés de diálogos repetitivos), eu não consigo não creditar meu amor a esse filme, por ter resgatado o Brendan Fraser das sombras. Um cara que sempre demonstrou um nível de atuação à parte - sobretudo de melancolia. Um ator subestimado pela beleza na juventude e pela decadência estética e moral ao longo da vida, ostracizado pelo passado blockbuster. Um ator que, eu espero, retornará ao cinema pela competência dramática.
Btw, vejo muitas pessoas dizendo que o filme não romantiza a obesidade. Ele romantiza pra caralho, na verdade. Apesar de não celebrar a gordura enquanto liberdade de escolha, o filme reforça a obesidade enquanto doença incontestável e tende a explorar os aspectos mais mórbidos e assustadores dessa condição. Seja de um extremo ou de outro, a abordagem não deixa de ser romântica. É claramente uma história feita por uma pessoa magra.
Out of Thin Air
3.2 10Documentário tão ruim que conseguiu transformar um caso bizarro e interessante num tédio sem fim.
A Maldição da Bruxa
3.2 172 Assista AgoraFilmaço! Para quem gosta de filmes de terror, então, nem se fala...
Filmes como esse contrastam com toda uma tradição de narrativa fílmica, a qual estamos totalmente sujeitos. Ainda hoje, preciso continuamente de filmes como esse para lembrar de que existem outras formas de se contar uma história! O que parece arrastado e demasiado monótono em Hagazussa é uma técnica de construção e solidificação da narrativa. A minha sensação, enquanto espectadora, é a de estar perigosamente testemunhando algo que o próprio filme não parece me conceder - parece estar alheio a minha presença. A narrativa não é domesticada: ela é lenta, em desacordo com o ritmo frenético da minha atualidade (e de acordo com o contexto da personagem). Durante todo o filme, me sinto deslocada como a personagem, só por não corresponder ao ritmo daquela época. E isso não é desmérito da obra, pelo contrário, apenas reforça o propósito que o diretor deseja passar.
Hagazussa é de outra escola teórica do horror. Como muitas críticas já ressaltaram, o pavor é construído lentamente pela trama, na ausência mesma de jumpscares - pior: na escassez inusual de diálogos. O verdadeiro terror do filme é a originalidade, a singularidade, a aticipidade das imagens e das técnicas utilizadas. O pavor e o desconforto que sentimos provêm da falta de referências imagéticas do nosso arsenal de terror: estamos acostumados com outros tipos de bruxas, com outro tipo de luz, com outro tipo de movimento corporal.
Como pode, por exemplo, um simples olhar arregalado de uma mulher enferma ser tão assustador e insólito? Claudia Martini e Aleksandra Cwen entregam uma atuação impecável, digna de pintura: a expressividade, principalmente no olhar, traduz tanta aflição quanto mil diálogos jamais poderiam traduzir. Também destaco os movimentos corporais, lentos e dolorosos - as duas souberam manifestar com o próprio corpo, com suas peles e ossos, a dureza da condição feminina no século XV. Bravíssimo!
Senti falta de uma aprofundada na história da mãe de Albrun. A menção feita por um velho aldeão, logo no início, sobre a bruxa Perchta também me soou um tanto reticente. Ajudou a reforçar o tipo de crença e mentalidade dos personagens, mas não permitiu uma ligação maior com a história.
O Céu da Meia-Noite
2.7 510o clooney conseguiu destruir com o livro kkkkkk a história original nem se compara com esse roteiro bobo
O Homem Invisível
3.8 2,0K Assista AgoraSalvo só pela atuação impecável da Moss, porque o roteiro é ruim demais, chega a ser ridículo.
A senha do líder da indústria óptica é uma data? Sério que a casa dele não seria blindada por codificação digital? James tem o dobro de tamanho do Adrian, mas ficou desacordado com três socos no rosto... esses são só alguns exemplos de inverossimilhança que mostram que a história não é bem pensada, mas como a atuação da protagonista é maravilhosa, pode ser que passe batido pra maioria das pessoas.
É Apenas o Fim do Mundo
3.5 302 Assista AgoraDo ponto de vista técnico, um filme difícil. É impressionante que o Dolan, com seus vinte e poucos anos, tenha conseguido capturar tão bem os pensamentos de cada personagem, sem necessidade de falas. Filme denso, dramático, bastante intimista e subjetivo. A linearidade costumeira das histórias de Hollywood não se faz presente. O espectador é como se fosse um convidado nesse almoço de família, que acompanha sem interferir os diálogos que não entende direito. Fragmentos. O filme é repleto de fragmentos. A atuação do elenco é maravilhosa, com destaque para o Vicent Cassel, Léa Seydoux e a Nathalie Baye. A personagem de Marion Cotillard me pareceu um bocadinho estereotipada, irritante, insegura demais. Faltou um pouco de dosagem, porque ela não me parecia sequer um sujeito. Ainda sim, a cumplicidade existente entre ela e Louis deixa o enredo bem interessante, porque os dois são os únicos com temperamento dócil e constante na casa. Além disso, é como se os dois também fossem os únicos estrangeiros.
No meu ponto de vista, Dolan foi muito ousado ao realizar esse filme. Os enquadramentos são muito bem feitos e extremamente originais. Me senti nas minhas próprias reuniões de família quando todos estavam sentados à mesa e a câmera capturava pequenos fragmentos dos seus rostos e gestos. Como entre familiares há intimidade, o que uns observam nos outros não é o rosto, porque já o conhecem, mas pequenos detalhes nostálgicos.
Em termos de falhas técnicas, penso que o filme deixou a desejar no quesito trilha sonora. Alguns ritmos simplesmente não se encaixavam nas cenas, o que dava ares juvenis ao filme, num sentido oposto ao desejado, penso eu, porque a história tem muita seriedade, se passa depois da juventude, então senti falta de um teor mais sóbrio.
A metáfora climática também é bem interessante. O calor, o suor, a brisa, a chuva, tudo acompanha as tensões dos confinados na casa. Realmente, a histeria chega ao seu ápice quando cai o temporal, e o suor deslizando pela nuca e pelas costas dos personagens dá a sensação de angústia ao espectador, também remetendo a uma catarse que virá à tona. A metáfora do final, entretanto, considerei desnecessária. A ideia de um pássaro se debatendo dentro de uma casa da qual não consegue sair é óbvia demais. Sensível, mas não apurada. Além disso, ficou bastante evidente que era um pássaro gráfico (não que devesse ser um real, LONGE DISSO, mas poderia ter sido melhor computadorizado).
O filme deixa diversas sugestões ao espectador, e não acho que isso o enfraqueça. Pelo contrário: quanto maior a subjetividade, mais exercício mental faz o espectador, e mais ele se envolve na trama. Por exemplo, Catherine sabia que Louis estava para morrer? No final, ele pede que ela não diga nada num teor poético, denunciando a desnecessidade de despedidas e lamentos, ou ele a silencia quanto à mensagem não dita? O antigo amor de Louis morreu da mesma forma que ele morrerá (talvez possa ser AIDS ou algo do tipo, já que eles se drogavam...). E por que Louis não falou o que tinha que falar? Foi porque a mãe pediu para que ele encorajasse os irmãos, e não o contrário? Ou foi porque ele percebeu que jamais conseguiria recuperar seu vínculo com a família, apenas a faria sofrer ainda mais do que sofreu, caso contasse a verdade? E por que ele foi embora de casa? O irmão não aceitou a sua orientação sexual e o agrediu verbalmente a ponto dele querer se mudar? O que houve, o que o sufoca, por que não vomita as palavras que precisa falar?
Essas são perguntas que o filme não tem por objetivo responder claramente. Acho que o principal foco do filme versa mesmo é sobre a incapacidade que uns temos com os outros, quando íntimos, a falar o que sentimos sem ferir. Uma vez que a família nos é tão amada a ponto de fazer parte da gente, machucá-la significa machucar a nós mesmos. Desse modo, o irmão tão distante, como um mártir, decide se distanciar ainda mais da família, optando por morrer longe, na ignorância deles. Ao mesmo tempo, é possível que alguns tenham achado a postura de Louis oposta à de um mártir: egoísta, ele só retorna para casa depois de doze anos para compartilhar uma notícia tristíssima que só trará mais dor. Não obtendo grandes afagos, ele covardemente desiste da ideia e foge novamente, para longe do desafio familiar que ele jamais consegue enfrentar. Seja qual for a interpretação, é inegável que o filme é instigante e que as cenas são orientadas por uma velocidade lenta e claustrofóbica, com olhares que comunicam muito mais do que as palavras - exatamente como é numa família.
The Bunny Game
2.1 65esse lixo não merece nem meia estrela
Custódia
4.2 157O que dizer desse ator-mirim Thomas Gloria, cuja veracidade frente à câmera prende a atenção do espectador do início ao fim? Como pode uma criança tão novinha saber chorar com tanta convicção... fiquei maravilhada pela atuação dele!
Um Instante de Amor
3.6 93 Assista AgoraUm filme lindo, lindo, lindo, lindo, lindo... duma beleza dessas de passarinho. José e Gabrielle são personagens comoventes, parecem saídos de um livro.
No entanto, o ponto alto do filme não me convenceu muito. Digamos que a ilusão de Gabrielle se justifique porque ela tem problemas psicológicos - sofreu de uma crise dissociativa ou algo do gênero. Ok. E daí ela nunca mais apresentou nenhuma outra crise? Difícil. Além do mais, normalmente as pessoas sofrem apagões, não é como se substituíssem inteiramente uma lembrança com uma invenção tão complexa (com diálogos, temporalidade, referências, etc). Além disso, a versão de José não bate com as cenas que assistimos (com as memórias de Gabrielle): na sua memória, ela e André transaram depois que ele voltou do hospital; na versão de José, o sexo ocorreu antes (motivado pelo ciúme). Por causa desses aspectos, o clímax me pareceu uma saída forçada. Talvez o filme tivesse ficado mais interessante se a própria Gabrielle se lembrasse que ela inventou tudo - ou se ela fosse obrigada a admitir que nunca teve nada com André, que essa foi apenas uma fantasia a qual precisou se agarrar para suportar o vazio da sua vida.
O final, no entanto, é muito lindo. Cheio de resignação. E esperança.
Meu Rei
3.9 137Caramba, que atuações absurdas. Cinema francês é tão verdadeiro, dá quase pra sentir a secreção humana.
O filme é longo e cansa o espectador porque relações abusivas são longas, cheias de altos e baixos, e esgotam todos os envolvidos (inclusive os indiretamente envolvidos, como o Solal).
Eu acreditei no poder de libertação da protagonista na maior parte do tempo, para então me decepcionar no final. Isso foi o que deixou o filme ainda mais realista e interessante, na minha opinião. Os dois personagens são viciados um no outro e não vão parar até se consumirem por inteiro.
A cena em que Tony mira a fisionomia de Georgio com desejo, mesmo após meses de recuperação e desintoxicação, é de uma morbidez impressionante. Não deu certo, não dá certo e nem dará certo, mas ela não consegue resistir ao impulso de continuar repetindo o mesmo erro, os mesmos gestos. São dez anos. Falta força para romper a inércia. Eles envelheceram juntos, constituíram família, um patrimônio, uma identidade, várias identidades: essas coisas custam muito para ter um fim. Por causa disso, todo o empenho despendido na sua recuperação não é o bastante frente a alguns segundos mirando o rosto do homem que, para bem e para mal, a ama dessa forma bizarra, lisonjeadora e única. Como no início do relacionamento dos dois ela se mostrava muito insegura, acho que é isso que ela passou a sentir por Georgio: além de amor, uma gigantesca gratidão por ser amada (por isso, o amor dele lhe parece lisonjeador, ainda que doentio).
Percebi que muitas pessoas, ao contrário de mim, prestaram muita atenção no título ''Mon Roi''. Será que não se deve à resignação da personagem? Georgio é o único que a ama dessa forma insana, intensa, destrutiva e completamente apaixonada. Ele é escroto com ela, mas também a faz rir. E ele é o pai do seu filho. Penso que ela simplesmente se entrega à ideia de que ele é a sua cara metade, o seu homem, o seu rei, aquela pessoa que a fará sempre voltar, basta um chamado, um gesto, um sorriso. Ele a tem. O título é a manifestação dessa entrega.
Entrega, aliás, que deve ser entendida mais como desistência do que como uma impulsividade jovial ou um voto de fé no amor. Quanto mais Tony continua se entregando a Georgio, mais longe de si ela fica. Mais traída por si ela é.
Houve dois momentos do filme em que eu precisei sair rapidamente da sala, e ele continuou rodando, então não sei se essa pergunta vai soar estúpida ou não: afinal, o filme explica como foi que Tony se lesionou? Agradeceria se me respondessem essa dúvida!
Eu, Tonya
4.1 1,4K Assista AgoraUma história tão pesada quanto essa só funcionaria decentemente num humor mais inteligente. Da forma como é, o filme é de um mau gosto absurdo. Comercial, sensacionalista, superficial. Até tecnicamente o filme parece preguiçoso - a fotografia é óbvia, a trilha sonora é óbvia... se era pra ressuscitar uma história dessas, tinham que ter feito melhor, explorado nuances que não tinham sido exploradas antes.
Assassinato no Expresso do Oriente
3.4 938 Assista AgoraO roteiro sabe como prender o espectador e tem diálogos muito interessantes, mas ressalto que o mérito em si é da obra da Agatha Christie. Demorei um bom tempo para reconhecer o Kenneth Branagh, porque ele adotou o visual do personagem de uma tal forma que parecia 2x mais velho. A cena na estação de trem adota um estilo megalomaníaco que não funciona direito - nessa parte inicial do filme eu achei que fosse detestar assistir à história.
Embora a megalomania continue no decorrer da trama, com atuações exageradas em alguns momentos, a fotografia e a direção de cena acabaram me prendendo.
A cena final, com todos sentados na mesa (Santa Ceia?), é belíssima, bem como a cena em que se revela que todos os passageiros mataram Ratchett, se revezando nas facadas.
Gostaria de destacar a Michelle Pfeiffer não só pela sua atuação no filme, mas porque descobri que ela canta (!). Fiquei pasma. O filme encerra com uma belíssima canção entoada por ela.
Como eu nunca li o livro nem assisti ao filme original, não posso fazer comparações. O que posso dizer é que a aposta no elenco de peso acabou tornando o filme um pouco ''oscarizado''. Para mim, os atores mais interessantes eram os menos conhecidos, que não pareciam viciados na própria imagem. Algumas das cenas me pareceram patetas, hollywoodianas e artificiais. Se era para chamar atores já consagrados, por que não escolheram nomes como DiCaprio, Adrien Brody, Colin Farrell? Acho que eles teriam contribuído para conceder mais ''arte'' e ''sensibilidade'' ao filme, porque são mais maduros e menos narcisistas (na minha opinião).
Sr. Sherlock Holmes
3.8 329 Assista AgoraApesar da trama em si surpreender pela aparente falta de acontecimentos, Ian McKellen tá dando um dos mais impressionantes shows de atuação que eu já vi na minha vida. Filme sensível, delicado, humano e muito bonito. Não pensei que fosse me fazer chorar. Uma trama que enlaça questionamentos existenciais, passado, memórias e o confronto entre diferentes gerações. Laura Linney incorporou muito bem o papel, dá pra ver que ela é uma atriz muito esforçada. Milo Parker tá muito carismático. Um bom filme, especialmente para aqueles que estão cansados da imagem artificialmente genial e impassível do mais famoso detetive da história.
Lou
3.5 39Bah, que filme bem podre. Desserviço à imagem de Lou Andreas Salomé. As ideias dela são extremamente mal explicadas, a sua relação com os homens parece guiar boa parte do filme, como se o interior dela (e a sua obra) importasse menos.
As cenas em que Deus aparece é dum mau gosto impressionante. Não que eu seja religiosa, é que são péssimas mesmo!
A Colina Escarlate
3.3 1,3K Assista Agoranossa sem hora que filme ridículo...
figurino e cenários perfeitos, mas a jessica chastain carregou a trama (uma merda, diga-se de passagem) nas costas.
Luz e Sombra
3.6 25 Assista AgoraGostei muito. Me deixou com gostinho de quero mais. Pena que o filme apresenta tantas discussões interessantes e não as desenvolve muito. Por mim, ele poderia ter umas três horas. Essa Ecem Uzun é uma baita atriz. Excelente atuação!
Laços de Ternura
3.9 246 Assista AgoraShirley MacLaine e Jack Nicholson dando um show de atuação! Os personagens são humanos e envolventes, o que prende o espectador até o fim. A forma com que se aborda as relações amorosas e o matrimônio também é interessante, até mesmo despojado pra época.
Achei que o filme se perde depois da primeira metade, principalmente quando a Emma descobre que está com câncer. A doença evolui do nada e não há um desenvolvimento dos afetos - ela mesma não definha nem lamenta, o que torna essa parte do roteiro demasiado artificial.
A Rosa de Ferro
3.7 40Algumas cenas líricas, mas o filme é sofrível.
Um Contratempo
4.2 2,0KNão dá pra subestimar. Engana de primeira, com roteiro clichê e forçado. Mas depois mostra pro que veio. Pequenos detalhes que se encaixam, trama arquitetada minuciosamente.
Cinquenta Tons Mais Escuros
2.5 763 Assista AgoraJamie Dornan é muito gostoso e que bom há o estímulo pra que ele continue agradando o público feminino. 50 tons de cinza foi feito por uma mulher para outras mulheres. Ponto. É simplesmente uma brincadeira que mistura fantasia com erotismo, e a E. L. James foi bem sucedida em trazer a pauta do sadomasoquismo de uma forma leve, divertida, tosca e constrangedora. Nem todo mundo tem estômago, paciência ou simplesmente acesso ao Sade e afins. A trama é super problemática (como todas as histórias que envolvem jogo de poder entre homem e mulher, principalmente as que reforçam estereótipos de gênero) e eu gosto de ver como as pessoas reagem a essas questões. Há quem defenda a liberdade de se fazer filmes ''errados'', há quem se indigne com o machismo do filme, há quem discuta as fronteiras entre o público e o privado, etc. Todas essas são questões relevantes, e a E.L. James teve um certo mérito em ocasionar essa série de discussões (ainda que ela possa ser uma pamonha sem nenhuma auto-reflexão).
50 tons de cinza não é uma história mirabolante, então é óbvio que o roteiro do filme também não vai ser. Grey e Anastasia eram estereótipos do denso e do leve no primeiro filme, e agora, no segundo, esse contraste diminuiu porque ele perdeu um pouco do próprio poder/autonomia, enquanto ela ganhou. Há uma clara mudança na personalidade de Grey e isso é interessante, porque faz com que se desenvolva um equilíbrio entre os desejos dos dois - da parte dele, de submissão; da parte dela, de romance. Assim, quem realmente se submete a quem, na história? Pelo que eu pude perceber, Grey mudou a vida de Anastacia materialmente, mas ela deu ocasionou nela uma transformação muito mais profunda (se é que se pode falar de profundidade no que tange a qualquer coisa referente a 50 tons...).
O mérito da história é simplesmente trazer à tona a discussão de que submeter-se também pode ser uma forma de libertação. Fora isso, o filme é um desastre, muito tosco, as cenas de sexo são insipientes e MUITO repetitivas. Aliás, alguém precisa dizer: será que eles sabem que existe sexo oral? Pelo amor de Sade, será que tem como fazer sexo sem ser de quatro sempre? E tanto o Jamie quando a Dakota precisam mudar um pouco de expressão na hora do sexo, se não o terceiro filme vai ser uma regurgitação muito entediante. Eles são lindos, mas não conseguem se sustentar desse jeito.
Outra coisa: aquela cena em que a Anastasia tá de lingerie, toda cheia de si e provocante... por que é que ela se mantém tão sem graça e a iniciativa vem sempre dele? Existem limites de verossimilhança pra submissão e insegurança. Nem a Bella do Crepúsculo consegue ser tão baunilha usando uma lingerie daquelas. Senti falta de uma provocação mais forte da parte dela. A Anastasia é uma mulher adulta que não tem noção de si nem do próprio corpo.
Monsieur e Madame Adelman
4.1 134 Assista AgoraExcelente comédia/drama romântico. Como já foi dito abaixo, um dos melhores filmes do gênero já realizados, porque não se estrutura em caricaturas e não subestima a inteligência do público. Personagens complexos, envolventes, engraçados, humanos e sobretudo reais - são bonitos e fortes ao mesmo tempo que feios e fracos. Há diálogos sublimes no filme, conversas nada clichês e uma série de epifanias inspiradoras. Ah, também há constantes referências intelectuais, o que prendeu a minha curiosidade para além da sessão (cheguei em casa e fui pesquisar as tais referências). O humor francês acerca da relação entre homem e mulher está no seu ápice aqui, exibindo lucidez e promovendo reflexões. Achei sobretudo de bom gosto a forma com a qual o matrimônio e o amor heterossexual foram tratados. E nem dá pra dizer que o filme tem um tom feminista: na verdade, as mulheres francesas vivem uma realidade muito distinta da nossa, e culturalmente estão desvinculadas de certos estereótipos que ainda nos aprisionam em vários lugares do mundo - portanto, o que para nós pode ser tido como feminista, para elas não denota luta ou qualquer aspecto de enfrentamento em relação ao patriarcado (é um direito conquistado há mais tempo). Além disso, apesar de Sarah ser forte e competente, o que é bastante evidenciado no filme, me incomoda que ela passa a vida inteira vivendo como dona de casa e que seu envelhecimento é retratado com mais sexualidade que o do marido. Por um lado, sei que envelhecer não significa deixar de desejar e sentir prazer, mas me incomodou a força estética com que ela teve de terminar o filme, ao contrário do marido (que engordou, ficou calvo, chato, disfuncional, etc). Por que a personagem feminina tem de ser magra e tão bem conservada? Talvez o roteiro tenha optado por isso para empoderá-la, mas eu acho que a necessidade da beleza é o grilhão mais pesado do cárcere feminino. Ainda sim, o filme é mega ''desconstruídão'' comparado a qualquer outra comédia romântica.
Ao meu ver, o roteiro também falha um pouco no excesso de conteúdo humorístico, que diminui o lado dramático do filme, ainda que não o anule.
A cena da venda dos olhos, ao final, me fez chorar e surpreendeu enormemente, mas acho que teria um impacto ainda maior se o filme não tivesse se desenvolvido de forma tão jocosa até ali. Há momentos de seriedade dentro do enredo que o leitor não consegue experimentar completamente porque ainda está se recuperando da risada de antes. A cumplicidade do casal, que sabe exatamente como e quando fugir juntos, por exemplo, é absolutamente maravilhosa, mas também acho que foi um pouco ofuscada pelas bobices que comentei. Ainda sim, que delícia assistir àquelas fugas!
Não era necessário: a cena clichê do hospital (psiquiatra x Victor), a morte da mãe de Victor e o filho do casal, este último, no caso, um personagem que aparece no roteiro somente para ser alvo de raiva e recalque (não tem nenhuma humanidade tampouco interação consciente com o seu meio). Abordagens interessantes: além dos dois aspectos que comentei acima, achei interessante a reviravolta do casal no que tange ao ciúmes (quando Victor passa a atrair a atenção de outras mulheres pelo charme do seu intelecto); o plot-twist de que ela é quem escrevia os melhores livros do marido genial (a mulher por trás do sucesso de um homem, etc); o fato do romance não ter iniciado à primeira vista e de que Victor era e seguiu sendo um desastre na cama.
Sei que muitas pessoas ficaram maravilhadas com a personagem Sarah, que de fato é uma mulher fortíssima, inteligente, intrigante, charmosa, envolvente, engraçada e complexa, mas devo admitir que também gostei bastante do Victor, que é sentimental, auto-condescendente, frágil, narcisista, terno, desesperadamente apaixonado (ora por Sarah como amante, ora por Sarah como mãe/editora), absurdo, etc. Há diversas cenas em que Victor falava algo com seriedade e eu me dobrava de tanto rir da forma ridícula com que ele olhava para o seu entorno (além da sua fala infantil e contraditória). Esses pequenos detalhes me cativam nas comédias românticas. Sei que são filmes muito diferentes, mas Victor e Sarah me lembraram o casal de O Lado Bom da Vida, Pat e Tiffany, doidos e sublimes. Excelente trabalho conjunto entre Doria Tillier e Nicolas Bedos.
Realmente, Mr et Mme Adelman é um filme consistente, inteligente, divertido e relevante. Não saí da sessão me sentindo triste por não pertencer ao universo romântico do filme, como normalmente acontece quando assisto às comédias estadunidenses onde tudo é estético, leve, fácil e superficial. Pelo contrário: saí da sessão sentindo a mornidão de ter, por fim, assistido a um retrato fiel das relações humanas (ainda que o filme se baseie em alguns estereótipos aqui e ali), certa de que a comédia dramática que acompanhei na tela de cinema tratava realmente de uma história de amor, e não de uma comercialização barata de todas as necessidades fantasiosas que desenvolvemos por causa da esterilidade do cotidiano. Seguirei atenta aos próximos filmes de Bedos! :)
Moonlight: Sob a Luz do Luar
4.1 2,4K Assista AgoraObra-prima. Que filme maravilhoso! Em vários momentos, me vi às lágrimas sem saber exatamente o porquê. Logo no início, por exemplo, quando Juan passeia com Little de carro, ou mesmo nas cenas em que Paula aparece... lágrimas, lágrimas, lágrimas. O filme é lindo e dispensa explicações. É bastante intuitivo. Ao assistir, o espectador também fica em profundo silêncio, acabrunhado, receoso de estragar o momento (o que está vendo) com palavras, explicações. O que eu quero dizer: o filme tem vida própria, e a existência dele é completa, não precisa de ajuda das palavras.
As atuações excepcionais. Tô até agora arrepiada. Nossa, quanto diálogo nos silêncios! O que dizer do Mahershala Ali? E da Naomi Harris? Puta merda! Arrepiante! Destaque pros talentos precoces Ashton Sanders e Alex Hibbert. A fotografia é de en-lou-que-cer. Impressionante como a primeira parte do filme conta com uma fotografia mais idílica, de reminiscência, como se fosse uma reprodução da memória do Black, e ao final do filme ela fica mais limpa, moderna, ampla - de certa forma, até mesmo mais cínica e estéril.
Achei interessante que o filme se sustenta super bem mesmo sem diálogo - durante a maior parte do tempo, o espectador entende o porquê do silêncio e até mesmo infere os pensamentos dos personagens. Pra quem tá reclamando disso aí nos comentários: que tipo de diálogo vocês sugeririam? O que há pra dizer num contexto desses? Uma criança
nas condições de Little, carente de um ambiente saudável, de uma estrutura, de amor parental, o que uma criança dessas deveria fazer? E quem pertence a essa realidade compreende esse silêncio. Por exemplo, a comunicação de Juan com o Little, que é estruturada na cumplicidade. O silêncio, aliás, É A LINGUAGEM. Nessa realidade, calar vale ouro, e transparecer vulnerabilidade é um luxo. A nossa fala sucede o suprimento de outras necessidades que o protagonista do filme não têm supridas.
A forma com que o filme dialoga me prendeu do início ao fim e é o que mais dá consistência ao filme (ao tema que ele retrata). Achei bem interessante que o viés da sexualidade não é o foco principal da história: o filme trata simplesmente do crescimento de mais uma vida emaranhada à periferia e ao tráfico. O recorte da masculinidade é bem mais presente na história do que o recorte da homossexualidade, porque a presença de personagens femininas se dá somente na borda. Existe toda uma trama cheia de violência, repressão e medo que ocorre sob a tutela dos homens, como um universo masculino à parte - o tráfico, o bullying, a homofobia, o sistema etc. As mulheres surgem como personagens que não compreendem o que se passa nesse lapso do cotidiano, em que após a escola é preciso correr para casa para fugir do espancamento.
Bravo! Por mais filmes como esse, que reflitam tanto conteúdo humano e tantas questões políticas!
Brilho Eterno
3.2 37 Assista AgoraO filme segue bacana até um certo trecho e depois simplesmente desanda, como um motorista que desmaia na direção.
A parte final, da troca de identidade entre as duas, é chata, me deu a impressão de que o filme deveria ter terminado logo ali naquela denúncia matinal sobre a morte/desaparecimento de uma ou mesmo antes. As atuações não são ótimas, mas suficientemente boas. Nenhuma das duas personagens é realmente boa/má. O olhar de Mackenzie Davis é muito comunicativo - eu só não sei se a atuação dela foi exagerada ou se a personagem por si só é densa/desagradável demais.
Amo as histórias fantásticas, principalmente as da Literatura, mas às vezes as narrativas não conseguem obter sustentação na caricatura dos personagens. No decorrer da trama, achei que isso se aplica ao filme. Inicialmente, a trama é tensa, inteligente, elegante e inovadora. O espectador se vê conectado à trama por não saber optar por somente um dos lados; compreende e até mesmo se identifica as razões de cada uma das mulheres.
Gradualmente, no entanto, a história se torna paranóica, cansativa e forçada.
Por mais que a boazinha Beth se revele um pouquinho podre, e Anna se mostre injustiçada pela constante secundarização, parece pouco crível que as duas viajariam juntas, conhecendo esse abismo entre as suas personalidades, e ainda menos crível que a única coisa que pudesse dar cabo da competitividade entre as duas fosse uma briga física seguida de morte (sem prenúncios de brigas verbais anteriores, apenas ressentimentos acumulados). Acho interessante o desenvolvimento de uma latência negativa entre as duas, mas acho que isso condenou o roteiro, já que ele é baseado numa co-dependência estranha e mal construída. Talvez outras agressões indiretas e comentários de duplo sentido pudessem ter levado a história para um caminho diferente e mais interessante. A catarse da troca de identidades, a qual também é pura psicose da personagem, poderia ter sido mais sutil ou silenciosa - denúncia que espantaria positivamente o espectador.
O ponto alto do filme, eu diria, é a ousadia da direção e da fotografia, o que confere uma certa assinatura (além de subtexto) à história.