A forma como a trama é resolvida decepciona. Como o filme se sustenta sobre o mistério do passado dos irmãos, gera uma expectativa a respeito de toda a espera. A trama intriga e, isolada, é interessante, mas não convence dentro da dinâmica dos personagens, como se as atuações ultrapassassem a lógica do roteiro. Ficou descompassado. A personagem de Laia Costa é muito ruim e se mantém plana e irrelevante até os últimos segundos do filme. Os dois irmãos são interessantes, principalmente no que tange ao caráter, às fraquezas.
Gosto muito de narrativas em que não se pode confiar na parcialidade do narrador. No caso, o filme começa sob a perspectiva do marido, depois passa a contemplar a perspectiva da esposa. O personagem de Darín é sempre objeto, seja de rancor, medo ou desconfiança. A trama prende pela mudança sutil da nossa ótica sobre as reais intenções de cada um dos personagens.
As poucas quebras humorísticas do filme são realmente ótimas, bem inseridas e equilibradas - não descaracterizam o clima de drama e suspense.
O personagem de Federico Luppi é mais relevante do que aparenta. Ele oferece diversos insights sobre o cinismo que permeia o mundo, ''a cidade'', em contraste com o estoicismo do mundo rural. Assim, o irmão afastado retorna para tirar uma última vantagem sobre o outro irmão que ficou para trás. No fim das contas, não dá para dizer o que é coragem e o que é covardia, pois para manter-se são mesmo sabendo ter mentido a vida inteira, é preciso muita coragem; ao mesmo tempo, o outro irmão, aparentemente corajoso, não parece ter coragem de postar-se a par com a verdade, não parece ser capaz de defender a si mesmo, e portanto passa o resto da vida guardando rancor. Gosto quando essas questões se misturam, pois aponta para a não-superficialidade do roteiro.
Desnecessários: o incesto entre irmãos, e os excessivos flashbacks a la ghost - do outro lado da vida. Cenas excelentes: além da bem pensada cena final, a discussão no carro entre marido e mulher também é excelente, com todas as implicitudes envolvidas.
Primeiro, vamos deixar de usar essa expressão, ''humor negro'', é horrível. Segundo, sinceramente, só porque há um comentário sagaz que outro no filme, isso não quer dizer que ele seja configurado como comédia. To The Bone, assim como a própria anorexia, é um drama pesado no qual até mesmo a tentativa de humor soa estomacalmente ácida.
O mérito do filme é tratar de um tema delicado e complexo, trazer à pauta a questão do distúrbio alimentar, avassaladora entre mulheres (homens são menos de 1% dos casos). é claro que o filme tem o seu lado comercial, com as musiquinhas de superação, a família rica que banca todo o tratamento, o médico fodão que sabe exatamente o que fazer, a protagonista que nunca deixa de estar maquiada, etc. com certeza não é um filme que faz jus à luta dessas mulheres, mas fico satisfeita se ele servir para iniciar a discussão de forma mais consistente entre as pessoas. precisamos discutir e enxergar esse tema, nem que seja através do cinema, porque quando ele se explicita na realidade, geralmente é tarde demais.
desnecessário no filme: o romance com o bailarino, o sonho exageradamente simbólico, a mãe como ''lésbica desnaturada'' que não soube alimentar animicamente a própria filha, o médico despojado que fala palavrão e aparece só de vez em quando para emitir frases de efeito.
é estranho ver essa discussão ser trazida à tona na televisão através de uma atriz-modelo-de-pele-perfeita, se fosse para ser indiscutivelmente fiel à realidade, a protagonista seria medonha e o filme não teria audiência. fico dividida entre esse tipo de maquiagem sobre temas caros à contemporaneidade, mas ao mesmo tempo não sei se o filme seria difundido entre as pessoas se fosse assim tão pesado.
Quando eles descobrem que é preciso que o corpo experencie um pico de prazer para ativar a PPM, eu esperei que os dois transassem com mais qualidade, colecionando orgasmos, e daí desenvolvessem uma relação afetiva menos reprimida. E então vem esse final tosco e bizarro pra estragar a minha alegria. Final bizarro no mau sentido, mesmo, porque a Christophine de pinguim parece uma dessas modelos estranhíssimas da Prada com uma roupa e maquiagem muito a avant-garde pra minha compreensão.
Sinto que a diretora sabia das necessidades romântico-carnais do público e decidiu torturar a gente. Maldita.
Filme desesperadamente comercial. Tão triste ver um elenco de peso desses se prestando a participar de um projeto que claramente não explora profundidade humana, atuação, fotografia, roteiro... é um filme abaixo do medíocre. Me senti como se recebesse um cartão de aniversário dizendo ''feliz aniversário''. Atuações medianas, com exceção do Will Smith e da Helen Mirren. O resto do elenco é extremamente caricato. A personagem da Keira é interessante, mas pouco explorada. A história tem tanto plot twist que convulsiona. É como assistir a uma modelo desabando na passarela: primeiro, o público percebe que há algo de errado acontecendo, que a queda é inadequada e que não serve ao propósito do desfile; depois, passa-se a apreciar a queda, seja rindo ou encontrando nela um bocado de beleza (beleza justamente em infringir o propósito do desfile); finalmente, quando a modelo recupera o equilíbrio e tenta inserir-se novamente no desfile, o público não é capaz de esquecer que houve a queda e tampouco pode admirá-la pela ''anarquia''/confusão, porque já voltou à ordem. Assim me senti com o filme: inicialmente, entediada com o roteiro previsível e superficial, em que os acontecimentos rolam com facilidade suspeita, pré-arranjada, e as cenas parecem clipes de música pop
(o quão péssima é a cena em que o will smith derruba as peças de dominó em cima da mesa e sai da sala, enquanto elas desabam, ao som de uma música de efeito...? nossa eu quase vomitei nessa parte)
;após, estupefata por o quão ruim a história vai se tornando, criando inúmeros degraus e subtextos, como se os roteiristas não tivessem decidido o norte que queriam seguir e acabaram concordando em utilizar todos os finais possíveis pro filme. Triste :( podia ser bom!
Edward Norton e Kate Winslet podiam viver sem ter esse filme registrado na carreira.
Tem muita beleza nesse filme. Há teatro na tessitura das cenas. Esteticamente, não se pode criticá-lo. A fotografia é maravilhosa. Mas falta conteúdo: prevalece a caricatura, o enredo não acerta na dramaticidade, o romantismo fica às vezes simplesmente bobo e mimado. A substância comovente de Romeu e Julieta, que neste filme poderia atingir o seu ápice, não soube ser conduzida. Alguns recursos interpretativos ao longo do filme (as cenas mais teatrais) fazem toda a diferença para tornar o filme mais interessante. Destaque para o lirismo fabuloso das cenas finais, sob a potência do poema ''We two, how long we were fool'd'', do Whitman.
Resumo: Roteiro e direção medianos. Ótima e inteligente fotografia. Muito boa atuação de McAvoy. A ideia central do filme é promissora, e talvez por isso mesmo o roteiro tenha se sabotado, pois desaponta na confecção (o velho 'prometeu, tem de cumprir'). Destaque para a originalidade de Shyamalan.
Atuação de James McAvoy é bastante boa, mas lembremos que transtorno de personalidade é o arroz com feijão de todo ator - com isso quero dizer que é o tipo de personagem mais desejado, no qual o ator pode evidenciar suas múltiplas facetas e expressões, portanto não é um papel muito desafiador a alguém como McAvoy. Por ser um papel tão íntimo aos exercícios de atuação convencionais, o desempenho do artista precisa ser elevado, e nisso o nosso amigo irlandês não é extraordinário, ainda que muito bom (ator que teria uma atuação extraordinária nesse papel, ao meu ver: Joaquin Phoenix; claro que também há outros). As personalidades convencem, principalmente no que tange à profundeza emocional. Há um limiar bastante tênue entre o quão profundos conseguem ser os olhos de McAvoy e a multiplicidade da sua expressão corporal (excelente) e alguns momentos em que sua atuação flerta com a caricatura.
Na minha opinião, Anya-Taylor desaponta nesse filme, mas não mais que o roteiro e a direção. Isso se dá por dois motivos:
1) a personagem é muito interessante, seu potencial de força é elevado, existe entre ela e os 23-4 James M. uma ligação que possibilitaria um plot-twist excelente ao roteiro, mas suas interações ao longo do filme vão se embaçando, como se ela se tornasse menos relevante. No início, dado o mistério que guarda, Casey manifesta certo poder desconhecido ao público, como se soubesse controlar melhor a situação do que as suas duas colegas (cuja atuação deixa a desejar) e tivesse poder sobre a mente de Kevin+23 - E ISSO GERA UMA EXPECTATIVA. No entanto, passados alguns momentos, as ações da menina começam a revelar uma paralisia difícil de crer (de repente forçada).
Isso é verossímil quando levamos em conta que ela termina o filme ainda sofrendo abusos por parte do tio - final, aliás, que eu achei incrivelmente forte, inesperado e original, se pararmos para pensar que geralmente filmes americanos tendem a finalizar os enredos de maneira normativa (com instrução moral ao público), enquanto esse parece deixar como lembrete indigesto a dificuldade de uma presa (ainda em processo de formação) de se livrar de um predador adulto, 'formado' e tão asquerososamente manipulador (e próximo). Ao mesmo tempo, não é ela que aprendeu com o pai a caçar? Não foi ela que apontou o rifle ao tio, ameaçando matá-lo? E não foi ela que, durante todo o filme, demonstrou uma elevada capacidade de raciocínio sob stress? Podemos ver uma série de rachaduras na sua condição de presa, pois é como se a todo instante ebulisse da menina uma possibilidade de catarse e libertação - mas cadê essa força? Ela é constantemente esquecida. Por quê? Já no que tange a Kevin, os enfrentamentos que dela partiram revelaram tanta impotência que, quando a besta se defronta com as suas cicatrizes e decide não matá-la, parece mais que Shyamalan decidiu intervir no próprio roteiro e salvar a personagem. É sutil, mas faz diferença no filme, como se faltasse um tempero essencial.
Havia um potencial de força em Casey que não soube ser agregado à história. Havia um gesto que, ao ser feito, traria toda diferença ao enredo. Havia. E esperávamos por ele.
2) acima falei de uma falha de roteiro e direção, e agora me refiro estritamente à Anya: me parece que alguém disse a ela que os seus olhos são a parte mais importante da sua atuação nos filmes. O que antes era uma elegante característica (talvez por ser inconsciente) transformou-se em um recurso vulgar de atuação. Durante o filme inteiro Casey parece um réptil, com os olhos sempre úmidos na iminência de chorar (isso sem contar a maquiagem da presa: Casey é a única sequestrada do mundo que se mantém maquiada, com a boca pintada durante absolutamente todo o cativeiro). A introspecção da personagem também é um fator comprometedor ao filme. A impressão do espectador é que Casey está planejando a sua fuga sem nunca colocá-la em ação, justamente porque o olhar de Anya sugere uma concentração muito subjetiva, a qual nos deixa a todos expectantes, mas que depois se dilui reiteradamente com as novas circunstâncias, como se antes ela não tivesse pensado em nada e os iludidos fôssemos nós. Para explicar melhor: é como se a personagem parasse de se comunicar com o público para voltar-se a si mesma - e esse é um recurso interessante, mas quando perde-se o controle dele o espectador deixa de acompanhar o enredo, e essa interrupção não se comprova útil à narrativa. Anya é uma atriz tão, mas tão promissora, que seria uma pena se fosse diluída à costumeira fetichização hollywoodiana (como aconteceu com Scarlett Johansson, Jennifer Lawrence, etc).
Outros aspectos aos quais eu chamo atenção: - As metáforas de presa/caçador são interessantes no filme, mas mal executadas. Ou seja, houve a ameaça de um gesto, mas não a sua elaboração: caso Casey se tornasse inesperadamente caçadora (junto com Kevin e seus 23/4 amigos), o filme se revelaria bem melhor, pois exploraria a difícil dialética entre opressão e opressor. - Uma constante desnecessária e bastante criticável do filme é a hipersexualização das meninas para além da perversão de Kevin et al. Ou seja, apesar de uma das personas do ''vilão'' ser tarada a respeito de meninas de lingerie, desde o início do filme cada uma delas se mostra, além de adeptas ao padrão estético aceitável na cinegrafia a la hollywood, sempre maquiadas, bem arrumadas, com roupas apertadas, bonitas e sedutoras inclusive na própria fuga. Casey é a única que se pode dizer mais discrepante entre as outras, mas mesmo ela é sexualizada no decorrer da história. As cenas em que estão semi-desnudas é uma estética que faz da perversão do vilão a perversão (voyeurismo) do público, e isso não é uma perversão minha que eu projeto na crítica: isso faz parte da cultura machista do cinema como um todo, afinal de contas a psiquiatra não é sexualizada porque é velha, nenhum dos personagens de Kevin é sexualizado em relação às meninas (aliás, James M. está positivamente ''feio'' para cumprir o seu papel, o que faz com que nos prendamos de maneira mais construtiva e atenta à sua atuação), enquanto as meninas do filme não sentem frio nem calor, tampouco se sujam (uma das personagens usa um sutiã branco que parece cada vez mais brilhante a cada cena). A mim isso comprova uma necessidade do filme em atender à perversão pra além dos personagens: a 'nossa'. - Uma breve conjectura: levando em consideração a sua experiência como vítima de sequestro e tortura, pode-se supor que a tutela do tio sobre a Casey tem seus dias contados. Alguém mais teve essa impressão? - Gostei do Bruce Willis no final porque tenho um tremendo encanto por intertexto e sugestividade narrativa. Muita gente detesta esse tipo de recurso, porque é como se o filme respondesse uma pergunta do espectador com outra pergunta. Então eu ao menos pontuaria a audácia do diretor ao apresentar logo ao final um novo incremento ao filme. Aliás, esse final também pareceu sugerir uma possibilidade de continuação da história, não? Fragmentado 2: agora com 84 personalidades. E com Casey-olhos-chuvosos. - Num primeiro momento, ''Fragmentado'' parece ser um suspense/thriller psicológico. No entanto, eu acho que o próprio filme sofre de TDI: as aparições de Hedwig conferem demasiada descontração ao enredo, ainda que não o comprometam demais (pois riso e temor são irmãos), no entanto a elaboração da imagem da besta vai afastando o filme do thriller (no qual funcionaria melhor) para aproximá-lo da fantasia a la X-Men. No entanto, é inegável que a ideia por trás da fantasia praticada é muito boa: alguém que, ao tomar outra personalidade, adquire também os poderes e capacidades dessa personalidade... - Legal a participação do Kevin? Achei um sujeito dócil, sofrido, prudente, sensato. Gostei, ainda que tenha sido muito rápida. Gosto de como os olhos de McAvoy conseguem expressar um sofrimento que puxa a nossa piedade dos confins mais profundos.
Concordo com o Danilo abaixo, mas acredito que o ritmo do filme condiz com o ritmo do cinema europeu de uma forma geral. Não existe tanto apego ao clímax, porque o enfoque parece ser recortar e desenvolver um pedaço da realidade, sem o intento de torná-la fantástica (como fazem os filmes americanos, por exemplo). A ideia, como ele comentou, é muito interessante e, apesar do teor fantástico, o filme se mantém num drama relativamente crível, o que lhe confere verossimilhança. O desenvolvimento, concordo com ele, é mais monótono do que deveria - apesar de estarem vivendo em terra estranha, com constantes atividades desgastantes e sob muita tensão, ansiedade e desgaste físico-emocional, o filme deveria passar essa angústia ao invés de monotonia... ali estamos vendo soldados desgastados pelo conflito, ansiando pela volta à casa, e algo então inexplicável, intrigante e apavorante acontece: monotonia não pode ser o sentimento que o público obtém disso. Contudo, acho que a monotonia do enredo não tem a ver com a falta de clímax, necessariamente. Ah, outra observação que tenho a fazer é de que o filme teria acabado muito bem uma cena antes...
Roteiro bastante inteligente e enredo estranhamente interessante. Não há clímax nem uma grande motivação no filme - a vida de Samir é pouco ou nada movimentada. O encontro com o pai, o início do seu relacionamento e outros aspectos da sua vida são tratados com tanta permissividade (ou passividade?) pelo protagonista, que até mesmo o espectador se vê inalterado pelas novidades. No entanto, é um erro pensar que isso prejudica inteiramente o filme: os personagens são agradáveis, o mistério por trás dos acontecimentos (aquele resquício que não foi dito nem explicado) puxa a atenção do espectador, a tecelagem divertida das diversas nuances do universo judaico e a reviravolta do roteiro (
No fim, é interessante perceber a ironia de Samir ter conhecido a si mesmo no filho de Jeane (ainda sem perceber), o que confere caráter edipiano à história, e ao mesmo tempo ter assumido o caráter de um pai desertor (ainda que não fosse pai do menino, mas padrasto).
Achei difícil de tirar impressões finais sobre a narrativa, mas ela é marcante de alguma forma - parece nos deixar uma conclusão inteligível.
Achei que 'Os Apaches' se trata de um filme positivamente intrigante e inteligente, como um conto de Bashevis Singer.
Os pais dela eram bem fora da casinha, né? Como é que acharam normal aquele comportamento? Coitada da guria, além de sofrer todo aquele terror psicológico e uma série de abusos físicos, também tava cercada por pessoas idiotas e negligentes... aff. Essa história é SURREAL
Revi hoje. É um filme muito original e criativo (destaque para o Anjo Gabriel e Lúcifer), talvez uma continuação mais madura e bem produzida fosse interessante.
As cenas têm algumas falhas grotescas, como o fato do Constantine conversar com Angela enquanto come sem nunca de fato comer (!!!!!)*, ela estar molhada numa cena e seca na outra, a atração forçada e clichê entre os dois, etc. Além disso, a voz forçada que Keanu encontrou para fazer o personagem, a la Batman, tampouco funciona.
* ele fica tirando e colocando a comida no prato repetidamente!
Agora, fica a dúvida: Chas Kramer era um anjo desde o início, e por isso soube ajudar tanto Constantine (inclusive nas rezas), ou ele só se tornou um pela nobreza da sua morte?
Em resumo, o filme tem diversos fatores ao seu favor, detalhes técnicos difíceis que a maioria dos filmes de terror peca em desenvolver. Acredito que um roteiro mais elaborado, um maior cuidado nas falhas técnicas e uma nova elaboração dos personagens deixaria a história sensacional.
Vamos falar de uma outra Segunda Guerra. Da guerra interior, das cenas que não foram registradas nos livros, das complexidades que nunca escutamos.
Presta atenção nas microcenas apresentadas, as mais ''insignificantes'', da Segunda Guerra Mundial. Olha pro rosto dessas pessoas. Escuta a história, a complexidade de cada uma. Já não é mais tão fácil ter ódio.
Esse filme consegue transcrever a essência de um dos momentos históricos mais discutidos e estudados da história mundial, e o faz de uma maneira completamente original. O que é apresentado tem e não tem a ver com o embate entre o bem e o mal, porque não é simples o bastante para caber em uma dicotomia. O genocídio nazista é finalmente analisado sob a ótica de cada lado, mostrando o que às vezes preferimos não lembrar: a matança nos campos de concentração não foi feita por demônios, e sim por humanos. Humanos como nós, que em face de uma conjuntura específica que envolvia essencialmente medo e ódio, agiram como agiram. E o melhor de tudo: em nenhum momento o espectador absolve o nazista; ele simplesmente enxerga o seu lado na história - toma ciência.
Fazia muito tempo que eu não me sentia tão impressionada. Para escritores, ''Paraíso'' é especialmente agregador devido ao esplendoroso recurso narrativo do qual faz uso. O espectador não se sente acompanhando a história de um indivíduo, mas de todos (daí o motivo do filme precisar ser um pouco mais longo do que a média). Sons e imagens acentuam a sensação de se estar dentro do filme. Há cenas que te fazem sentir medo, desespero ou comoção acentuada, que te fazem querer fugir para bem longe, até que tu te lembra que tá no cinema, e não dentro do filme.
E as cenas.
Nossa, o que dizer das cenas?
Três histórias são apresentadas em um entrelaço impressionante. A violência, a perda de humanidade e a desilusão daquela época são evidenciadas através de cenas inéditas, cuja simbologia, sutil ou não, lembram pequenos contos sobre um mesmo assunto, diferentes perspectiva acerca de um mesmo incidente. O roteiro, criado por Elena Kiseleva e Andrei Konchalovsky, é absolutamente primoroso; as ações e a forma com que cada personagem está inserido na história invejam qualquer escritor.
Há quem reclame, sonolento, nesses dias de ''sucesso de bilheteria? só com menos de 120min'', que o filme é longo demais. Bom, para se criar a possibilidade do espectador nutrir empatia por pessoas que aprendeu a automaticamente condenar e para que o espectador também seja capaz de abrir a mente para uma nova visão sobre a pesada, vergonhosa e traumática história do holocausto (um assunto sobre o qual, sinceramente, é mais fácil querer ter uma visão superficial), talvez fosse mesmo necessário mais de duas horas.
A verdade é que eu não vi o tempo passar.
Quando me dei conta, uma história cristalizada por gerações e gerações finalmente tinha cedido à temperatura da reflexão empática. E por causa disso estou mais perto de entender o porquê das matanças em massa. Todo mundo tem crença, todo mundo tem alguma linha de raciocínio, todo mundo tem algum motivo. A vida, assim, feito matéria abstrata, ela pode não ter - um vulcão pode erupcionar e isso não significar nenhuma tentativa de punição ao homem. Agora, nós? Nós temos intenções. E é quando não diferimos intenção de ação que passamos a enxergar o outro da forma que queremos. É mais fácil chamar de ruim a pessoa que praticou o mal do que talvez encontrar alguma boa intenção no que ela praticou de ruim. E isso sem absolver o que de fato ela fez. Isso para tentar encontrar o equívoco no seu raciocínio, e dialogar com outras pessoas que pensam da mesma forma, mas ainda não cometeram ações maléficas.
Olha o nível da discussão que esse filme traz. Que isso.
E ele discute destacadamente através da relatividade da ideia de ''Paraíso'' entre as pessoas.
Para Helmut, o paraíso seria viver com Olga, mulher que ele amava nos seus termos. Para Olga, paraíso seria a retomada da própria vida - a personagem não demonstra qualquer afeição verdadeira pelo oficial nazista, e nem poderia: está desesperada para sobreviver. Para a linha de raciocínio de Helmut, havia na ideologia nazista a intenção de presentear a posteridade com a perfeição, e isso não necessariamente teria de envolver tortura ou hierarquia - me pareceu que, para Helmut, mais importante era o reconhecimento do intento germânico. Ainda sim, ele pratica e é conivente com muitas ações basilares do genocídio de 30/40. Mas nunca leríamos tão claramente em nenhum livro de história que Helmut agia dessa forma com a ilusão de que o que estava fazendo era o melhor para a humanidade. E assim seguem, as cenas.
Vê bem.
Não existe ponto alto no filme.
Ele é 5 estrelas do início ao fim.
Fotografia: primorosa; o preto e branco convence tão bem de que a história se passa em uma época antiga, que parece que estamos com uma foto dos nossos bisavós na mão, e que ela se mexe; a poeira que surge na tela faz com que o espectador tenha vontade de espirrar; os enquadramentos fazem parte do que só consigo entender como expertise magistral.
Atuações: quando atores humanos se tornam outros humanos, e não personagens... como se pudessem viver em dois corpos, carregando dois conteúdos de vida distintos. Sai pra lá.
Som: ruídos, ventos, passos, tiros, estilhaços. Os silêncios. Que isso. A humanidade sonhando há séculos com uma máquina do tempo e esse filme exibe a capacidade de teletransportar o espectador para aquela época. Assustador.
Roteiro: de uma inteligência que faz falta. Aborda uma miríade de reflexões através de um único tema. E isso tudo tão sutilmente que o espectador não se vê obrigado a concordar ou mesmo a assimilar, mas em simplesmente observar - o diretor parece dizer: ''acho importante tu ver isso... mas não precisa ter uma opinião agora''.
Filme excelente, do roteiro à fotografia. Paisagens absurdas, figurino impecável, palheta de cores absolutamente linda, erotismo que não se torna vulgaridade, violência tratada sem sangue, atuações ótimas, roteiro envolvente e muito bem arquitetado. Impossível não se impressionar com as reviravoltas do filme - engenhosidade do início ao fim.
A forma como a trama vai conduzindo a um final bastante inédito na história do cinema oriental, de superação conjunta e cumplicidade feminina, parece ser inclusive uma sátira às tradições antigas de subjugo da mulher na cinematografia japonesa, chinea e coreana. Em ''A Criada'', as mulheres são fortes e inteligentes, protagonistas do seu destino, enquanto a misoginia e a perversão presente nos homens, aliada à defesa constante do DESAPEGO AOS SENTIMENTOS (para se obter uma suposta racionalidade), é o que os leva ao insucesso: a vitória se destina a quem tem afeto a oferecer (a quem tem capacidade de sentir pena e respeito pelo próximo). Muito bom mesmo!
Tenho apenas duas críticas ao filme: a primeira diz respeito ao final. A cena da lua cheia foi uma das mais bonitas que eu já vi na história do cinema, principalmente porque contrasta com a lua minguante na noite de núpcias do ''casal''. Entretanto, todo o trecho que vai desde a cena do conde remando até ao sexo das duas no navio foi, na minha opinião, desnecessário, o que anula a necessidade da cena da lua. Teria sido bem mais bonito se o final fosse o gradual desaparecimento da imagem dele remando, enquanto sua respiração fosse mantida, ainda que a cena paralisasse - deixaria implícita a morte do conde e não precisaria mostrar o óbvio, que as duas passariam a vida juntas. No entanto, as cenas seguintes não acrescentam nada ao espectador em termos de informação sobre a trama - apenas mais uma cena de sexo é apresentada, utilizando como referência alguns dos textos eróticos da coleção do tio. Outra crítica que faço, embora esta seja mais leve, é que não pude deixar de sentir um certo voyeurismo masculino permanente no filme. As cenas de sexo, apesar de muito bonitas e repletas de entrega, não deixam de ser comerciais e esteticamente feitas para agradar também o público masculino. Há carência de naturalidade em alguns momentos. Ainda sim, reconheço que as cenas de sexo desse filme me pareceram melhores que as de Azul É A Cor Mais Quente e que, em comparação com outros filmes japoneses e coreanos, também foram mais autênticas e envolventes.
Na minha opinião, faltou algo de mais sólido no filme, o roteiro ficou demasiado etéreo - o final é bonito, mas tem o gosto insosso. Também a expressão da Dakota não impressiona na última cena (mas impressiona durante o resto do filme!). As comparações com a pintura de Ofélia por Millais é bem inteligente e a fotografia e trilha sonora trabalham muito bem durante o filme. Infelizmente, o problema foi de roteiro: sugestividade que não vinga, sede que não se mata, fome que continua... são as sensações do espectador, que acompanha a história privado de alguns de seus elementos essenciais.
O problema do filme não é a falta de cenas de sexo, mas a falta de material mais humano - há muito celibato, rigidez e frieza no ambiente da família Ruskin, o que é compreensível, posto a personalidade de cada um deles, mas a presença de Effie deveria ter adicionado uma nova cor ao roteiro, bem como a presença de outros personagens, e senti que isso não foi bem conduzido. Além disso, a relação dela com a Lady Eastlake começou de forma muito pouco crível, efusiva, e quando realmente importava, essa importante personagem perdeu a presença no enredo. Uma estranha impressão que eu tive foi de que todos os outros personagens eram impotentes quanto à família Ruskin, de maneira que as intervenções deles pareciam sempre muito limitadas. O protagonismo do pintor ficou aquém do desejado, as cenas no chalé escocês são um tanto bizarras e essa parte do filme é confusa. O temperamento de Ruskin, na minha opinião, sofreu acentuações muito previsíveis em certos trechos do filme, o que corrobora a minha ideia de que houve má condução de elementos centrais da trama. Que o porquê do comportamento dele não fosse explicado, apenas implicitado, tudo bem, mas por que há um aumento de desprezo da parte dele por ela, se não há cenas que justificam esses desentendimentos? Mais ao fim, Effie cita situações do relacionamento dos dois que ao espectador não foram expostas, e isso causa incômodo. Reserva-se, nesse filme, muitas cenas de sugestividade, expressividade no olhar, introspecção dos personagens, pequenos gestos que muitas coisas podem indicar, falas dispersas, mas não os enfrentamentos e o que realmente é dito. Isso pode ser um ótimo artifício para prender o espectador ao roteiro, mas no caso desse filme acredito não ter funcionado: o final passa uma sensação de deslealdade para quem assiste.
[LA LA LAND] [DISCUSSÃO] [BRANCO SÓ FAZ BRANQUICE] [QUEM AÍ JÁ VIU?]
Hoje eu vou ser queimada viva, mas acho válida a discussão:
La La Land é positivamente um dos piores filmes que eu já assisti na minha vida, levando em consideração o peso do elenco, o alarde sobre a qualidade do filme, as premiações, o orçamento, etc. Digo isso porque pelo menos os piores filmes da sessão da tarde foram baratos, enquanto La La Land é, na minha opinião, um desastre em termos de roteiro, de atuações, de trilha sonora (quando cantada) e PRINCIPALMENTE em termos de equiparação a um musical. A direção eu não considero tão desastrosa, mas também não manjo (e nem faço questão de manjar) de aspectos técnicos no cinema. Lendo os comentários do pessoal que gostou, fico com a impressão de ter sido trollada pelo projecionista, pois não sinto que assisti ao mesmo filme 4/5 estrelas do qual a galera comenta. Ryan Gosling é simplesmente inexpressivo no filme inteiro e Emma Stone em raras cenas convence não estar se contorcendo para aparentar dor ou qualquer outra emoção - as cenas de sapateado fazem com que qualquer amante de musical se contorça de agonia e, meu deus, cada música cantada por eles parecia destruir todos os meus sonhos. Realmente torturante assistir a esse filme. As pequenas transgressões feitas à tradição dos musicais simplesmente não funcionam, e o uso de clichês (aposta no tradicionalismo) não acrescenta absolutamente em nada - tudo parece equivocado. As cenas de dança não passam emoção (aliás, um dos poucos musicais que assisti na minha vida que não me envolveram em nenhum momento), a vida afetiva do casal não tem paixão convincente, a presença do toque de celular é interessante mas utilizava excessivamente durante o filme (como se eles tivessem descoberto que gengibre dá um gosto bom na comida e assim colocaram gengibre por tudo, até não ser mais possível comer), as músicas cantadas são terríveis em termos não só de performance mas de conteúdo (OUVIR A TRILHA SONORA FOI UMA DAS COISAS MAIS TORTUOSAS QUE EU JÁ SOFRI), é realmente um inferno de Dante para quem cresceu assistindo aos antigos musicais da broadway ou para quem viu musicais mais recentes que gostou (Moulin Rouge, Sweeney Todd, etc) ou pra quem gosta de jazz e tem paixão por compositores como Cole Porter. Não recomendaria que fosse assistido, mas a aceitação do público é tamanha que penso ser perigoso desencorajar alguém de participar desse debate. Com isso eu quero dizer: vale a pena ver para dimensionar o quão ruim é o filme.
Analisando alguns aspectos: (SPOILERZÃO)
[spoiler] 1) Canções e danças: o início do filme, com a cantoria em pleno trânsito, é tolerável, não chegando a ser um mau presságio realmente significativo, porque a pessoa pensa ''ok, não vai ser assim, vai melhorar'' - a cena se enquadra mais como um clipe do Bruno Mars ou uma cena de Pitch Perfect. Depois ainda há a cena das mulheres trocando de roupa, etc, e foi quando o desespero se instalou em mim, porque percebi que o filme seria naquele nível mesmo. Todas as cantorias são perturbadoras. Emma Stone aposta numa voz aguda extremamente artificial e irritante, Ryan Gosling canta para dentro e parece congelado em termos de expressões corporais, as letras das músicas são extremamente superficiais (embora as melodias sejam realmente boas, o que é uma pena, porque poderiam ser promessa de algo melhor), as danças em casal são péssimas (Emma Stone parece que dança sozinha) e o clássico sapateado é absolutamente assassinado. E isso não é transgredir uma tradição, é falta de talento, mesmo.
2) Cenas clichês: apesar do filme ser original em alguns momentos (poucos, como em seu final, por exemplo), as cenas restantes são absolutamente mais do mesmo, só que bem pior, parecem reproduções de reproduções: os passeios com Ryan Gosling parecem cenas de um filme ruim do Woody Allen, a primeira festa a que a protagonista vai é uma adaptação bem medíocre de Gatsby, as pequenas paródias a Cantando na Chuva são absolutamente óbvias e ainda bem que diminuem ao longo do filme, o afastamento dos dois parece ter sido pensado depois do diretor/roteirista assistir The Way We Were (1973), com a Barbra Streisand, e a dança no observatório, bem como outras danças mais etéreas do casal, são tão carregadas de efeitos especiais que a simplicidade que um musical costuma trazer (a possibilidade que ele apresenta ao espectador, cuja vida não contém trilha sonora ou passos de dança com um amor ao lado) é minada. São poucos os momentos em que os atores de fato cantam durante a gravação da cena, no restante do tempo eles parecem só mimicar com a voz, algo muito brochante (até porque cantam pessimamente).
3) Jazz: coadjuvantes negros são utilizados no filme para descargo de consciência, e isso é tão explícito que dá mal estar. Se o filme tivesse sido protagonizado por um casal negro, por exemplo, com certeza teria sido melhor, em termos de inovação e de local de fala, inclusive. Dois brancos são o centro das atenções, em detrimento de todos os outros coadjuvantes negros, em pequenos porões e bares escondidos em que se toca jazz. Brancos que descobrem uma arte negra e adaptam-na, fazem sucesso e, embora Sebastian tenha uma banda composta por músicos negros, ele não só é o líder dela, mas também o dono do lugar. Qualquer espaço cedido a atores negros parece ser uma gentileza do filme. E o casal branco dança o tempo inteiro ao som da banda que o espectador nem enxerga. Achei que faltou muita sensibilidade do diretor nesse aspecto.
4) Duração do filme: é difícil discernir se o final é realmente interessante ou se o espectador só fica aliviado pelo filme ter acabado.
5) Mocinho e mocinha: Sebastian ensina o mundo (e o óbvio) para a bobinha Mia - se o filme flertava transgredir, por que não nesse aspecto? O homem precisa sempre ser o primeiro na quebra da própria mediocridade, aquele que influencia a mulher a mudar totalmente de vida e arriscar tudo, como se não tivesse nada a perder? Sim, isso está presente em filmes antigos, em musicais, etc, mas o filme, dada todas as péssimas adaptações que fez, não podia deixar ao menos isso original? A grande descoberta do talento de Mia só acontece por causa de Sebastian. Ela sozinha jamais teria atingido sucesso...
Ah, outra coisa: através de falas forçadas e comentários superficiais (até porque em nenhum momento Ryan Gosling convence como músico), Mia é ensinada a apreciar jazz, pois suas capacidades ''palativas'' até então só compreendiam músicas comerciais ou de fácil deglutição. Bobinha, deixa que o cara que apresente o que tu realmente deve gostar!
6) The Messengers: La La Land é a banda The Messengers. Ao criticar, implicitamente, o que a tal banda faz em cima do jazz tradicional, o filme parece esquecer de olhar o próprio umbigo sujo, uma vez que faz exatamente o mesmo com o gênero musical. Transgressões são ótimas quando funcionam e anunciam a capacidade do novo de sobrepor-se ao velho sem eliminá-lo ou com ele competir, mas com ele se unir, dançar, agregar. La La Land é um musical que destroça a sensibilidade do espectador amante de Cabaret, A Star is Born, West Side Story, Cats, etc, e NÃO OFERECE ABSOLUTAMENTE NADA EM TROCA. É como se um cachorro de pelúcia fosse apresentado como um cachorro de verdade e todo mundo se esforçasse para tentar acreditar na verossimilhança dele porque é mais conceitual. Se não isso, algo como isso.
Um outro argumento de quem gostou do filme pode ser que ele é mais acessível a um grande público, uma vez que claramente conquistou o coração de várias pessoas (e, surrealmente, inclusive da crítica), e portanto logra sucesso em aproximar o gênero musical à atualidade. Esse é um argumento verdadeiro, pois de fato houve essa aproximação - lembro que durante a exibição do belo Os Miseráveis (2012), muitas pessoas se sentiram entediadas durante a exibição ou saíram da sala. Embora eu entenda esse aspecto de uma possível defesa ao filme, não dá para culpar quem se sentiu ofendido ou decepcionado com esse quê comercial que ele apresenta. Querendo ou não, ele é uma profanação do sonho de algumas pessoas sem oferecer nada muito trabalhado/esculpido em troca. Mas aqui eu posso soar bem elitista ao falar dessa maneira, porque no debate acerca do que possui ou não valor artístico esse risco está sempre presente. Então não vou ficar contestando esse argumento.
Enfim, para encerrar, vale também dizer que a música ''tema'' dos dois é tão desnecessariamente repetida que se torna irritante, e que a melhor atuação do filme é a de J.K. Simmons, em sua pequena participação no restaurante. Sim, é bem difícil acreditar que esse diretor é o mesmo de Whiplash.
A cena que as duas estão abraçadas debaixo do chuveiro e o idílio que precede a paulada na cabeça de Blue são exemplos que me vêm à mente.
Atitudes burras? Sinceramente, não esperava mais de uma menina burguesa recém chegada no subúrbio, fascinada pela realidade local, principalmente dos jovens negros pobres, os quais ela absolutamente não conhece.
A volta dela pra escola é um final sensacional e reforça a ingenuidade e a inconsequência das atitudes que ela tomou. A história de amor com o traficante da rua começa com uma brincadeira da parte dela, que o vê como um contato útil, depois a aventura do mundo das drogas, do dinheiro fácil e do sexo chapado faz com que ela continue seu relacionamento com o rapaz. Em nenhum momento um afeto profundo é realmente demonstrado por ela, o que se pode perceber pelo espanto ao pedido de casamento. Leah é uma menina jovem, ainda muito bobinha, e a nova realidade na qual ela mergulha a engole por inteiro, mostrando que as ruas não são um parque de diversões. Inferi que o chefe e a colega de trabalho roubaram o dinheiro da menina, ou seja, ela foi ludibriada e nem se deu conta justamente por lhe faltar malícia. O advogado a estuprou por perceber que era uma menina junkie e facilmente drogável (e por ser um misógino escroto, é claro). A cena do traficante apertando os mamilos dela também é bastante forte e emblemática. Achei que cada uma das grandes tensões do filme se encaixaram muito bem no enredo, pois o filme demonstra, através das atuações (que eu achei relativamente boas, considerando que são atores pouco conhecidos e bem jovens) pensamentos, trejeitos e reações condizentes com a sorte de cada personagem. A amiga ruiva é carinhosa, porém alheia - mais sossegada e menos impulsiva. Isso já dava pra prever pela sua resistência no envolvimento com os traficantes, com o pouco uso de cocaína e pela preferência por maconha e semelhantes. Blue é o típico passional, Romeu apaixonado, o coração é o ponto fraco, logo se deixa cegar pela ambição de lucrar em cima da gente rica. O problema é que a vida continua sendo muito dura com pessoas como ele, mesmo que estas tenham novas ambições, e então ele é preso por policiais sacanas. Leah tem uma personalidade estranha, às vezes parece ter algum problema mental, mas no geral é agradável acompanhar a sua trajetória porque seu jeitinho não irrita, na verdade intriga, e relativamente convence.
O endeusamento da vida malandra, drogada, noturna e desregrada, os ideais duma liberdade que alguns jovens tentam alcançar quando longe da cada dos pais, dá origem a esse interessante e original drama envolvendo pessoas de mundos diferentes que, justamente por causa disso, têm rumos diferentes no desenrolar da história.
O que achei que ficou faltando: a crítica geral é boa, mas sinto que faltou um pouco de profundidade nos personagens em determinados momentos.
Blue inicialmente declara não se envolver com pessoas que cheiram mas depois aceita com naturalidade que Leah use pó? Enfraqueceu um pouco a história.
O passado de Leah e de sua amiga poderia ter sido melhor explorado, para que entendêssemos alguns aspectos mais misteriosos (ou superficiais) das personagens. Algumas cenas de sexo poderiam ser reduzidas, nesse sentido, para dar mais espaço ao conteúdo psicológico.
Uma possibilidade diferente de final poderia ser uma imagem de Blue na prisão, agora realmente lascado, e ela na sala de aula - pros brancos, a vida que segue. Mas o final como é também é muito bom.
Surrealismo latinoamericano: nosso jeito de fazer cinema é lindo (quisera eu que o Brasil apostasse mais em narrativas assim). Linearidade livre, imagens poéticas, atuações sutilíssimas - a poesia desse filme é a técnica originalíssima por trás, e não os versos de Neruda. Metalinguagem, paisagens de tirar o fôlego e uma trama de belíssima execução. Me parece que a perseguição Óscar-Neruda pode ser entendida sob o viés da questão do duplo. Quem ali escreveu quem? E por que os dois precisam um do outro para serem algo? Quem é o protagonista, quem é o caçador e quem é o caçado?
O teor poético dificulta o entendimento de algumas partes da trama, bem como a própria direção de imagem, que evidencia uma sequencia narrativa não-linear e bastante intimista, de certa forma até secreta, reservada aos personagens. Isso talvez estranhe muitos espectadores e faça com que o filme crie uma espécie de barreira em ser saboreado. Pra mim, no entanto, é um filme que eu adoraria ver de novo.
Agora, uma dúvida bem específica: alguém entendeu aquela cena em que o detetive Óscar fala com a esposa?
Ela diz que ela é real, e portanto eterna... e que o Oscar não, porque era um personagem da história do seu marido. Eu não entendi a moral desse diálogo. O real não é efêmero, uma vez que fenece? E não é eterno o abstrato, que serve como um conceito? E não estaria ela também envolvida nos poemas do marido, sendo, portanto, menos real do que supõe?
Do ponto de vista técnico, um filme difícil. É impressionante que o Dolan, com seus vinte e poucos anos, tenha conseguido capturar tão bem os pensamentos de cada personagem, sem necessidade de falas. Filme denso, dramático, bastante intimista e subjetivo. A linearidade costumeira das histórias de Hollywood não se faz presente. O espectador é como se fosse um convidado nesse almoço de família, que acompanha sem interferir os diálogos que não entende direito. Fragmentos. O filme é repleto de fragmentos. A atuação do elenco é maravilhosa, com destaque para o Vicent Cassel, Léa Seydoux e a Nathalie Baye. A personagem de Marion Cotillard me pareceu um bocadinho estereotipada, irritante, insegura demais. Faltou um pouco de dosagem, porque ela não me parecia sequer um sujeito. Ainda sim, a cumplicidade existente entre ela e Louis deixa o enredo bem interessante, porque os dois são os únicos com temperamento dócil e constante na casa. Além disso, é como se os dois também fossem os únicos estrangeiros. No meu ponto de vista, Dolan foi muito ousado ao realizar esse filme. Os enquadramentos são muito bem feitos e extremamente originais. Me senti nas minhas próprias reuniões de família quando todos estavam sentados à mesa e a câmera capturava pequenos fragmentos dos seus rostos e gestos. Como entre familiares há intimidade, o que uns observam nos outros não é o rosto, porque já o conhecem, mas pequenos detalhes nostálgicos. Em termos de falhas técnicas, penso que o filme deixou a desejar no quesito trilha sonora. Alguns ritmos simplesmente não se encaixavam nas cenas, o que dava ares juvenis ao filme, num sentido oposto ao desejado, penso eu, porque a história tem muita seriedade, se passa depois da juventude, então senti falta de um teor mais sóbrio.
A metáfora climática também é bem interessante. O calor, o suor, a brisa, a chuva, tudo acompanha as tensões dos confinados na casa. Realmente, a histeria chega ao seu ápice quando cai o temporal, e o suor deslizando pela nuca e pelas costas dos personagens dá a sensação de angústia ao espectador, também remetendo a uma catarse que virá à tona. A metáfora do final, entretanto, considerei desnecessária. A ideia de um pássaro se debatendo dentro de uma casa da qual não consegue sair é óbvia demais. Sensível, mas não apurada. Além disso, ficou bastante evidente que era um pássaro gráfico (não que devesse ser um real, LONGE DISSO, mas poderia ter sido melhor computadorizado). O filme deixa diversas sugestões ao espectador, e não acho que isso o enfraqueça. Pelo contrário: quanto maior a subjetividade, mais exercício mental faz o espectador, e mais ele se envolve na trama. Por exemplo, Catherine sabia que Louis estava para morrer? No final, ele pede que ela não diga nada num teor poético, denunciando a desnecessidade de despedidas e lamentos, ou ele a silencia quanto à mensagem não dita? O antigo amor de Louis morreu da mesma forma que ele morrerá (talvez possa ser AIDS ou algo do tipo, já que eles se drogavam...). E por que Louis não falou o que tinha que falar? Foi porque a mãe pediu para que ele encorajasse os irmãos, e não o contrário? Ou foi porque ele percebeu que jamais conseguiria recuperar seu vínculo com a família, apenas a faria sofrer ainda mais do que sofreu, caso contasse a verdade? E por que ele foi embora de casa? O irmão não aceitou a sua orientação sexual e o agrediu verbalmente a ponto dele querer se mudar? O que houve, o que o sufoca, por que não vomita as palavras que precisa falar?
Essas são perguntas que o filme não tem por objetivo responder claramente. Acho que o principal foco do filme versa mesmo é sobre a incapacidade que uns temos com os outros, quando íntimos, a falar o que sentimos sem ferir. Uma vez que a família nos é tão amada a ponto de fazer parte da gente, machucá-la significa machucar a nós mesmos.
Desse modo, o irmão tão distante, como um mártir, decide se distanciar ainda mais da família, optando por morrer longe, na ignorância deles. Ao mesmo tempo, é possível que alguns tenham achado a postura de Louis oposta à de um mártir: egoísta, ele só retorna para casa depois de doze anos para compartilhar uma notícia tristíssima que só trará mais dor. Não obtendo grandes afagos, ele covardemente desiste da ideia e foge novamente, para longe do desafio familiar que ele jamais consegue enfrentar.
Seja qual for a interpretação, é inegável que o filme é instigante e que as cenas são orientadas por uma velocidade lenta e claustrofóbica, com olhares que comunicam muito mais do que as palavras - exatamente como é numa família.
Neve Negra
3.4 159A forma como a trama é resolvida decepciona. Como o filme se sustenta sobre o mistério do passado dos irmãos, gera uma expectativa a respeito de toda a espera. A trama intriga e, isolada, é interessante, mas não convence dentro da dinâmica dos personagens, como se as atuações ultrapassassem a lógica do roteiro. Ficou descompassado. A personagem de Laia Costa é muito ruim e se mantém plana e irrelevante até os últimos segundos do filme. Os dois irmãos são interessantes, principalmente no que tange ao caráter, às fraquezas.
Gosto muito de narrativas em que não se pode confiar na parcialidade do narrador. No caso, o filme começa sob a perspectiva do marido, depois passa a contemplar a perspectiva da esposa. O personagem de Darín é sempre objeto, seja de rancor, medo ou desconfiança. A trama prende pela mudança sutil da nossa ótica sobre as reais intenções de cada um dos personagens.
O personagem de Federico Luppi é mais relevante do que aparenta. Ele oferece diversos insights sobre o cinismo que permeia o mundo, ''a cidade'', em contraste com o estoicismo do mundo rural. Assim, o irmão afastado retorna para tirar uma última vantagem sobre o outro irmão que ficou para trás. No fim das contas, não dá para dizer o que é coragem e o que é covardia, pois para manter-se são mesmo sabendo ter mentido a vida inteira, é preciso muita coragem; ao mesmo tempo, o outro irmão, aparentemente corajoso, não parece ter coragem de postar-se a par com a verdade, não parece ser capaz de defender a si mesmo, e portanto passa o resto da vida guardando rancor. Gosto quando essas questões se misturam, pois aponta para a não-superficialidade do roteiro.
Desnecessários: o incesto entre irmãos, e os excessivos flashbacks a la ghost - do outro lado da vida.
Cenas excelentes: além da bem pensada cena final, a discussão no carro entre marido e mulher também é excelente, com todas as implicitudes envolvidas.
Coração do Ártico
2.4 36Pior que não consegui tirar o filme da cabeça. Achei a sutileza do envolvimento dos dois tão marcante.
O Mínimo Para Viver
3.5 622 Assista Agora''Comédia de humor negro sobre anorexia''.
Primeiro, vamos deixar de usar essa expressão, ''humor negro'', é horrível.
Segundo, sinceramente, só porque há um comentário sagaz que outro no filme, isso não quer dizer que ele seja configurado como comédia. To The Bone, assim como a própria anorexia, é um drama pesado no qual até mesmo a tentativa de humor soa estomacalmente ácida.
O Mínimo Para Viver
3.5 622 Assista AgoraO mérito do filme é tratar de um tema delicado e complexo, trazer à pauta a questão do distúrbio alimentar, avassaladora entre mulheres (homens são menos de 1% dos casos). é claro que o filme tem o seu lado comercial, com as musiquinhas de superação, a família rica que banca todo o tratamento, o médico fodão que sabe exatamente o que fazer, a protagonista que nunca deixa de estar maquiada, etc. com certeza não é um filme que faz jus à luta dessas mulheres, mas fico satisfeita se ele servir para iniciar a discussão de forma mais consistente entre as pessoas. precisamos discutir e enxergar esse tema, nem que seja através do cinema, porque quando ele se explicita na realidade, geralmente é tarde demais.
desnecessário no filme: o romance com o bailarino, o sonho exageradamente simbólico, a mãe como ''lésbica desnaturada'' que não soube alimentar animicamente a própria filha, o médico despojado que fala palavrão e aparece só de vez em quando para emitir frases de efeito.
é estranho ver essa discussão ser trazida à tona na televisão através de uma atriz-modelo-de-pele-perfeita, se fosse para ser indiscutivelmente fiel à realidade, a protagonista seria medonha e o filme não teria audiência. fico dividida entre esse tipo de maquiagem sobre temas caros à contemporaneidade, mas ao mesmo tempo não sei se o filme seria difundido entre as pessoas se fosse assim tão pesado.
dou 2 estrelas pelo impacto
Coração do Ártico
2.4 36Vou ser bem sincera: o filme tava desenvolvendo um amor doído, fazendo com que o espectador romântico se contorcesse de angústia.
Quando eles descobrem que é preciso que o corpo experencie um pico de prazer para ativar a PPM, eu esperei que os dois transassem com mais qualidade, colecionando orgasmos, e daí desenvolvessem uma relação afetiva menos reprimida. E então vem esse final tosco e bizarro pra estragar a minha alegria. Final bizarro no mau sentido, mesmo, porque a Christophine de pinguim parece uma dessas modelos estranhíssimas da Prada com uma roupa e maquiagem muito a avant-garde pra minha compreensão.
One Night
3.3 36gostosinho e original. kyle allen é a cara do heath ledger, desconcertante. trilha sonora muito delicada!
Beleza Oculta
3.7 887 Assista AgoraFilme desesperadamente comercial. Tão triste ver um elenco de peso desses se prestando a participar de um projeto que claramente não explora profundidade humana, atuação, fotografia, roteiro... é um filme abaixo do medíocre. Me senti como se recebesse um cartão de aniversário dizendo ''feliz aniversário''. Atuações medianas, com exceção do Will Smith e da Helen Mirren. O resto do elenco é extremamente caricato. A personagem da Keira é interessante, mas pouco explorada. A história tem tanto plot twist que convulsiona. É como assistir a uma modelo desabando na passarela: primeiro, o público percebe que há algo de errado acontecendo, que a queda é inadequada e que não serve ao propósito do desfile; depois, passa-se a apreciar a queda, seja rindo ou encontrando nela um bocado de beleza (beleza justamente em infringir o propósito do desfile); finalmente, quando a modelo recupera o equilíbrio e tenta inserir-se novamente no desfile, o público não é capaz de esquecer que houve a queda e tampouco pode admirá-la pela ''anarquia''/confusão, porque já voltou à ordem. Assim me senti com o filme: inicialmente, entediada com o roteiro previsível e superficial, em que os acontecimentos rolam com facilidade suspeita, pré-arranjada, e as cenas parecem clipes de música pop
(o quão péssima é a cena em que o will smith derruba as peças de dominó em cima da mesa e sai da sala, enquanto elas desabam, ao som de uma música de efeito...? nossa eu quase vomitei nessa parte)
Edward Norton e Kate Winslet podiam viver sem ter esse filme registrado na carreira.
O Clube
3.9 146QUE FILME PESADO
Marguerite & Julien: Um Amor Proibido
3.4 17 Assista AgoraTem muita beleza nesse filme. Há teatro na tessitura das cenas. Esteticamente, não se pode criticá-lo. A fotografia é maravilhosa. Mas falta conteúdo: prevalece a caricatura, o enredo não acerta na dramaticidade, o romantismo fica às vezes simplesmente bobo e mimado. A substância comovente de Romeu e Julieta, que neste filme poderia atingir o seu ápice, não soube ser conduzida. Alguns recursos interpretativos ao longo do filme (as cenas mais teatrais) fazem toda a diferença para tornar o filme mais interessante. Destaque para o lirismo fabuloso das cenas finais, sob a potência do poema ''We two, how long we were fool'd'', do Whitman.
Fragmentado
3.9 3,0K Assista AgoraPara contribuir à discussão!
Resumo: Roteiro e direção medianos. Ótima e inteligente fotografia. Muito boa atuação de McAvoy. A ideia central do filme é promissora, e talvez por isso mesmo o roteiro tenha se sabotado, pois desaponta na confecção (o velho 'prometeu, tem de cumprir'). Destaque para a originalidade de Shyamalan.
Atuação de James McAvoy é bastante boa, mas lembremos que transtorno de personalidade é o arroz com feijão de todo ator - com isso quero dizer que é o tipo de personagem mais desejado, no qual o ator pode evidenciar suas múltiplas facetas e expressões, portanto não é um papel muito desafiador a alguém como McAvoy. Por ser um papel tão íntimo aos exercícios de atuação convencionais, o desempenho do artista precisa ser elevado, e nisso o nosso amigo irlandês não é extraordinário, ainda que muito bom (ator que teria uma atuação extraordinária nesse papel, ao meu ver: Joaquin Phoenix; claro que também há outros). As personalidades convencem, principalmente no que tange à profundeza emocional. Há um limiar bastante tênue entre o quão profundos conseguem ser os olhos de McAvoy e a multiplicidade da sua expressão corporal (excelente) e alguns momentos em que sua atuação flerta com a caricatura.
Na minha opinião, Anya-Taylor desaponta nesse filme, mas não mais que o roteiro e a direção. Isso se dá por dois motivos:
1) a personagem é muito interessante, seu potencial de força é elevado, existe entre ela e os 23-4 James M. uma ligação que possibilitaria um plot-twist excelente ao roteiro, mas suas interações ao longo do filme vão se embaçando, como se ela se tornasse menos relevante. No início, dado o mistério que guarda, Casey manifesta certo poder desconhecido ao público, como se soubesse controlar melhor a situação do que as suas duas colegas (cuja atuação deixa a desejar) e tivesse poder sobre a mente de Kevin+23 -
E ISSO GERA UMA EXPECTATIVA. No entanto, passados alguns momentos, as ações da menina começam a revelar uma paralisia difícil de crer (de repente forçada).
Isso é verossímil quando levamos em conta que ela termina o filme ainda sofrendo abusos por parte do tio - final, aliás, que eu achei incrivelmente forte, inesperado e original, se pararmos para pensar que geralmente filmes americanos tendem a finalizar os enredos de maneira normativa (com instrução moral ao público), enquanto esse parece deixar como lembrete indigesto a dificuldade de uma presa (ainda em processo de formação) de se livrar de um predador adulto, 'formado' e tão asquerososamente manipulador (e próximo). Ao mesmo tempo, não é ela que aprendeu com o pai a caçar? Não foi ela que apontou o rifle ao tio, ameaçando matá-lo? E não foi ela que, durante todo o filme, demonstrou uma elevada capacidade de raciocínio sob stress? Podemos ver uma série de rachaduras na sua condição de presa, pois é como se a todo instante ebulisse da menina uma possibilidade de catarse e libertação - mas cadê essa força? Ela é constantemente esquecida. Por quê? Já no que tange a Kevin, os enfrentamentos que dela partiram revelaram tanta impotência que, quando a besta se defronta com as suas cicatrizes e decide não matá-la, parece mais que Shyamalan decidiu intervir no próprio roteiro e salvar a personagem. É sutil, mas faz diferença no filme, como se faltasse um tempero essencial.
2) acima falei de uma falha de roteiro e direção, e agora me refiro estritamente à Anya: me parece que alguém disse a ela que os seus olhos são a parte mais importante da sua atuação nos filmes. O que antes era uma elegante característica (talvez por ser inconsciente) transformou-se em um recurso vulgar de atuação. Durante o filme inteiro Casey parece um réptil, com os olhos sempre úmidos na iminência de chorar (isso sem contar a maquiagem da presa: Casey é a única sequestrada do mundo que se mantém maquiada, com a boca pintada durante absolutamente todo o cativeiro). A introspecção da personagem também é um fator comprometedor ao filme. A impressão do espectador é que Casey está planejando a sua fuga sem nunca colocá-la em ação, justamente porque o olhar de Anya sugere uma concentração muito subjetiva, a qual nos deixa a todos expectantes, mas que depois se dilui reiteradamente com as novas circunstâncias, como se antes ela não tivesse pensado em nada e os iludidos fôssemos nós. Para explicar melhor: é como se a personagem parasse de se comunicar com o público para voltar-se a si mesma - e esse é um recurso interessante, mas quando perde-se o controle dele o espectador deixa de acompanhar o enredo, e essa interrupção não se comprova útil à narrativa. Anya é uma atriz tão, mas tão promissora, que seria uma pena se fosse diluída à costumeira fetichização hollywoodiana (como aconteceu com Scarlett Johansson, Jennifer Lawrence, etc).
Outros aspectos aos quais eu chamo atenção:
- As metáforas de presa/caçador são interessantes no filme, mas mal executadas. Ou seja, houve a ameaça de um gesto, mas não a sua elaboração: caso Casey se tornasse inesperadamente caçadora (junto com Kevin e seus 23/4 amigos), o filme se revelaria bem melhor, pois exploraria a difícil dialética entre opressão e opressor.
- Uma constante desnecessária e bastante criticável do filme é a hipersexualização das meninas para além da perversão de Kevin et al. Ou seja, apesar de uma das personas do ''vilão'' ser tarada a respeito de meninas de lingerie, desde o início do filme cada uma delas se mostra, além de adeptas ao padrão estético aceitável na cinegrafia a la hollywood, sempre maquiadas, bem arrumadas, com roupas apertadas, bonitas e sedutoras inclusive na própria fuga. Casey é a única que se pode dizer mais discrepante entre as outras, mas mesmo ela é sexualizada no decorrer da história. As cenas em que estão semi-desnudas é uma estética que faz da perversão do vilão a perversão (voyeurismo) do público, e isso não é uma perversão minha que eu projeto na crítica: isso faz parte da cultura machista do cinema como um todo, afinal de contas a psiquiatra não é sexualizada porque é velha, nenhum dos personagens de Kevin é sexualizado em relação às meninas (aliás, James M. está positivamente ''feio'' para cumprir o seu papel, o que faz com que nos prendamos de maneira mais construtiva e atenta à sua atuação), enquanto as meninas do filme não sentem frio nem calor, tampouco se sujam (uma das personagens usa um sutiã branco que parece cada vez mais brilhante a cada cena). A mim isso comprova uma necessidade do filme em atender à perversão pra além dos personagens: a 'nossa'.
- Uma breve conjectura: levando em consideração a sua experiência como vítima de sequestro e tortura, pode-se supor que a tutela do tio sobre a Casey tem seus dias contados. Alguém mais teve essa impressão?
- Gostei do Bruce Willis no final porque tenho um tremendo encanto por intertexto e sugestividade narrativa. Muita gente detesta esse tipo de recurso, porque é como se o filme respondesse uma pergunta do espectador com outra pergunta. Então eu ao menos pontuaria a audácia do diretor ao apresentar logo ao final um novo incremento ao filme. Aliás, esse final também pareceu sugerir uma possibilidade de continuação da história, não? Fragmentado 2: agora com 84 personalidades. E com Casey-olhos-chuvosos.
- Num primeiro momento, ''Fragmentado'' parece ser um suspense/thriller psicológico. No entanto, eu acho que o próprio filme sofre de TDI: as aparições de Hedwig conferem demasiada descontração ao enredo, ainda que não o comprometam demais (pois riso e temor são irmãos), no entanto a elaboração da imagem da besta vai afastando o filme do thriller (no qual funcionaria melhor) para aproximá-lo da fantasia a la X-Men. No entanto, é inegável que a ideia por trás da fantasia praticada é muito boa: alguém que, ao tomar outra personalidade, adquire também os poderes e capacidades dessa personalidade...
- Legal a participação do Kevin? Achei um sujeito dócil, sofrido, prudente, sensato. Gostei, ainda que tenha sido muito rápida. Gosto de como os olhos de McAvoy conseguem expressar um sofrimento que puxa a nossa piedade dos confins mais profundos.
Nem o Cèu, Nem a Terra
3.1 3Concordo com o Danilo abaixo, mas acredito que o ritmo do filme condiz com o ritmo do cinema europeu de uma forma geral. Não existe tanto apego ao clímax, porque o enfoque parece ser recortar e desenvolver um pedaço da realidade, sem o intento de torná-la fantástica (como fazem os filmes americanos, por exemplo). A ideia, como ele comentou, é muito interessante e, apesar do teor fantástico, o filme se mantém num drama relativamente crível, o que lhe confere verossimilhança. O desenvolvimento, concordo com ele, é mais monótono do que deveria - apesar de estarem vivendo em terra estranha, com constantes atividades desgastantes e sob muita tensão, ansiedade e desgaste físico-emocional, o filme deveria passar essa angústia ao invés de monotonia... ali estamos vendo soldados desgastados pelo conflito, ansiando pela volta à casa, e algo então inexplicável, intrigante e apavorante acontece: monotonia não pode ser o sentimento que o público obtém disso. Contudo, acho que a monotonia do enredo não tem a ver com a falta de clímax, necessariamente. Ah, outra observação que tenho a fazer é de que o filme teria acabado muito bem uma cena antes...
Os Apaches
2.8 1Roteiro bastante inteligente e enredo estranhamente interessante. Não há clímax nem uma grande motivação no filme - a vida de Samir é pouco ou nada movimentada. O encontro com o pai, o início do seu relacionamento e outros aspectos da sua vida são tratados com tanta permissividade (ou passividade?) pelo protagonista, que até mesmo o espectador se vê inalterado pelas novidades. No entanto, é um erro pensar que isso prejudica inteiramente o filme: os personagens são agradáveis, o mistério por trás dos acontecimentos (aquele resquício que não foi dito nem explicado) puxa a atenção do espectador, a tecelagem divertida das diversas nuances do universo judaico e a reviravolta do roteiro (
ao menos eu achei uma reviravolta quando me dei conta de que Samir e o menino não eram a mesma pessoa conversando em flashback
No fim, é interessante perceber a ironia de Samir ter conhecido a si mesmo no filho de Jeane (ainda sem perceber), o que confere caráter edipiano à história, e ao mesmo tempo ter assumido o caráter de um pai desertor (ainda que não fosse pai do menino, mas padrasto).
Achei que 'Os Apaches' se trata de um filme positivamente intrigante e inteligente, como um conto de Bashevis Singer.
The Monster of Mangatiti
3.2 39Os pais dela eram bem fora da casinha, né? Como é que acharam normal aquele comportamento? Coitada da guria, além de sofrer todo aquele terror psicológico e uma série de abusos físicos, também tava cercada por pessoas idiotas e negligentes... aff. Essa história é SURREAL
Constantine
3.8 1,7K Assista AgoraRevi hoje. É um filme muito original e criativo (destaque para o Anjo Gabriel e Lúcifer), talvez uma continuação mais madura e bem produzida fosse interessante.
As cenas têm algumas falhas grotescas, como o fato do Constantine conversar com Angela enquanto come sem nunca de fato comer (!!!!!)*, ela estar molhada numa cena e seca na outra, a atração forçada e clichê entre os dois, etc. Além disso, a voz forçada que Keanu encontrou para fazer o personagem, a la Batman, tampouco funciona.
* ele fica tirando e colocando a comida no prato repetidamente!
Agora, fica a dúvida: Chas Kramer era um anjo desde o início, e por isso soube ajudar tanto Constantine (inclusive nas rezas), ou ele só se tornou um pela nobreza da sua morte?
Em resumo, o filme tem diversos fatores ao seu favor, detalhes técnicos difíceis que a maioria dos filmes de terror peca em desenvolver. Acredito que um roteiro mais elaborado, um maior cuidado nas falhas técnicas e uma nova elaboração dos personagens deixaria a história sensacional.
Paraíso
3.8 20 Assista AgoraAtenção.
Esse filme é uma obra-prima.
Esquece Hitler por um minuto.
Vamos falar de uma outra Segunda Guerra. Da guerra interior, das cenas que não foram registradas nos livros, das complexidades que nunca escutamos.
Presta atenção nas microcenas apresentadas, as mais ''insignificantes'', da Segunda Guerra Mundial. Olha pro rosto dessas pessoas. Escuta a história, a complexidade de cada uma. Já não é mais tão fácil ter ódio.
Esse filme consegue transcrever a essência de um dos momentos históricos mais discutidos e estudados da história mundial, e o faz de uma maneira completamente original. O que é apresentado tem e não tem a ver com o embate entre o bem e o mal, porque não é simples o bastante para caber em uma dicotomia. O genocídio nazista é finalmente analisado sob a ótica de cada lado, mostrando o que às vezes preferimos não lembrar: a matança nos campos de concentração não foi feita por demônios, e sim por humanos. Humanos como nós, que em face de uma conjuntura específica que envolvia essencialmente medo e ódio, agiram como agiram. E o melhor de tudo: em nenhum momento o espectador absolve o nazista; ele simplesmente enxerga o seu lado na história - toma ciência.
Fazia muito tempo que eu não me sentia tão impressionada. Para escritores, ''Paraíso'' é especialmente agregador devido ao esplendoroso recurso narrativo do qual faz uso. O espectador não se sente acompanhando a história de um indivíduo, mas de todos (daí o motivo do filme precisar ser um pouco mais longo do que a média). Sons e imagens acentuam a sensação de se estar dentro do filme. Há cenas que te fazem sentir medo, desespero ou comoção acentuada, que te fazem querer fugir para bem longe, até que tu te lembra que tá no cinema, e não dentro do filme.
E as cenas.
Nossa, o que dizer das cenas?
Três histórias são apresentadas em um entrelaço impressionante. A violência, a perda de humanidade e a desilusão daquela época são evidenciadas através de cenas inéditas, cuja simbologia, sutil ou não, lembram pequenos contos sobre um mesmo assunto, diferentes perspectiva acerca de um mesmo incidente. O roteiro, criado por Elena Kiseleva e Andrei Konchalovsky, é absolutamente primoroso; as ações e a forma com que cada personagem está inserido na história invejam qualquer escritor.
Há quem reclame, sonolento, nesses dias de ''sucesso de bilheteria? só com menos de 120min'', que o filme é longo demais. Bom, para se criar a possibilidade do espectador nutrir empatia por pessoas que aprendeu a automaticamente condenar e para que o espectador também seja capaz de abrir a mente para uma nova visão sobre a pesada, vergonhosa e traumática história do holocausto (um assunto sobre o qual, sinceramente, é mais fácil querer ter uma visão superficial), talvez fosse mesmo necessário mais de duas horas.
A verdade é que eu não vi o tempo passar.
Quando me dei conta, uma história cristalizada por gerações e gerações finalmente tinha cedido à temperatura da reflexão empática. E por causa disso estou mais perto de entender o porquê das matanças em massa. Todo mundo tem crença, todo mundo tem alguma linha de raciocínio, todo mundo tem algum motivo. A vida, assim, feito matéria abstrata, ela pode não ter - um vulcão pode erupcionar e isso não significar nenhuma tentativa de punição ao homem. Agora, nós? Nós temos intenções. E é quando não diferimos intenção de ação que passamos a enxergar o outro da forma que queremos. É mais fácil chamar de ruim a pessoa que praticou o mal do que talvez encontrar alguma boa intenção no que ela praticou de ruim. E isso sem absolver o que de fato ela fez. Isso para tentar encontrar o equívoco no seu raciocínio, e dialogar com outras pessoas que pensam da mesma forma, mas ainda não cometeram ações maléficas.
Olha o nível da discussão que esse filme traz. Que isso.
E ele discute destacadamente através da relatividade da ideia de ''Paraíso'' entre as pessoas.
Para Helmut, o paraíso seria viver com Olga, mulher que ele amava nos seus termos. Para Olga, paraíso seria a retomada da própria vida - a personagem não demonstra qualquer afeição verdadeira pelo oficial nazista, e nem poderia: está desesperada para sobreviver. Para a linha de raciocínio de Helmut, havia na ideologia nazista a intenção de presentear a posteridade com a perfeição, e isso não necessariamente teria de envolver tortura ou hierarquia - me pareceu que, para Helmut, mais importante era o reconhecimento do intento germânico. Ainda sim, ele pratica e é conivente com muitas ações basilares do genocídio de 30/40. Mas nunca leríamos tão claramente em nenhum livro de história que Helmut agia dessa forma com a ilusão de que o que estava fazendo era o melhor para a humanidade. E assim seguem, as cenas.
Vê bem.
Não existe ponto alto no filme.
Ele é 5 estrelas do início ao fim.
Fotografia: primorosa; o preto e branco convence tão bem de que a história se passa em uma época antiga, que parece que estamos com uma foto dos nossos bisavós na mão, e que ela se mexe; a poeira que surge na tela faz com que o espectador tenha vontade de espirrar; os enquadramentos fazem parte do que só consigo entender como expertise magistral.
Atuações: quando atores humanos se tornam outros humanos, e não personagens... como se pudessem viver em dois corpos, carregando dois conteúdos de vida distintos. Sai pra lá.
Som: ruídos, ventos, passos, tiros, estilhaços. Os silêncios. Que isso. A humanidade sonhando há séculos com uma máquina do tempo e esse filme exibe a capacidade de teletransportar o espectador para aquela época. Assustador.
Roteiro: de uma inteligência que faz falta. Aborda uma miríade de reflexões através de um único tema. E isso tudo tão sutilmente que o espectador não se vê obrigado a concordar ou mesmo a assimilar, mas em simplesmente observar - o diretor parece dizer: ''acho importante tu ver isso... mas não precisa ter uma opinião agora''.
Ai, bravo.
A Criada
4.4 1,3K Assista AgoraFilme excelente, do roteiro à fotografia. Paisagens absurdas, figurino impecável, palheta de cores absolutamente linda, erotismo que não se torna vulgaridade, violência tratada sem sangue, atuações ótimas, roteiro envolvente e muito bem arquitetado. Impossível não se impressionar com as reviravoltas do filme - engenhosidade do início ao fim.
A forma como a trama vai conduzindo a um final bastante inédito na história do cinema oriental, de superação conjunta e cumplicidade feminina, parece ser inclusive uma sátira às tradições antigas de subjugo da mulher na cinematografia japonesa, chinea e coreana. Em ''A Criada'', as mulheres são fortes e inteligentes, protagonistas do seu destino, enquanto a misoginia e a perversão presente nos homens, aliada à defesa constante do DESAPEGO AOS SENTIMENTOS (para se obter uma suposta racionalidade), é o que os leva ao insucesso: a vitória se destina a quem tem afeto a oferecer (a quem tem capacidade de sentir pena e respeito pelo próximo). Muito bom mesmo!
Tenho apenas duas críticas ao filme: a primeira diz respeito ao final. A cena da lua cheia foi uma das mais bonitas que eu já vi na história do cinema, principalmente porque contrasta com a lua minguante na noite de núpcias do ''casal''. Entretanto, todo o trecho que vai desde a cena do conde remando até ao sexo das duas no navio foi, na minha opinião, desnecessário, o que anula a necessidade da cena da lua. Teria sido bem mais bonito se o final fosse o gradual desaparecimento da imagem dele remando, enquanto sua respiração fosse mantida, ainda que a cena paralisasse - deixaria implícita a morte do conde e não precisaria mostrar o óbvio, que as duas passariam a vida juntas. No entanto, as cenas seguintes não acrescentam nada ao espectador em termos de informação sobre a trama - apenas mais uma cena de sexo é apresentada, utilizando como referência alguns dos textos eróticos da coleção do tio. Outra crítica que faço, embora esta seja mais leve, é que não pude deixar de sentir um certo voyeurismo masculino permanente no filme. As cenas de sexo, apesar de muito bonitas e repletas de entrega, não deixam de ser comerciais e esteticamente feitas para agradar também o público masculino. Há carência de naturalidade em alguns momentos. Ainda sim, reconheço que as cenas de sexo desse filme me pareceram melhores que as de Azul É A Cor Mais Quente e que, em comparação com outros filmes japoneses e coreanos, também foram mais autênticas e envolventes.
Eddie Reynolds e os Anjos do Rock
2.6 3 Assista AgoraIncrível a fotografia do filme. História boba, mas engraçada. Um tanto original, mesmo apresentando clichês.
Effie Gray: Uma Paixão Reprimida
3.2 110Na minha opinião, faltou algo de mais sólido no filme, o roteiro ficou demasiado etéreo - o final é bonito, mas tem o gosto insosso. Também a expressão da Dakota não impressiona na última cena (mas impressiona durante o resto do filme!). As comparações com a pintura de Ofélia por Millais é bem inteligente e a fotografia e trilha sonora trabalham muito bem durante o filme. Infelizmente, o problema foi de roteiro: sugestividade que não vinga, sede que não se mata, fome que continua... são as sensações do espectador, que acompanha a história privado de alguns de seus elementos essenciais.
O problema do filme não é a falta de cenas de sexo, mas a falta de material mais humano - há muito celibato, rigidez e frieza no ambiente da família Ruskin, o que é compreensível, posto a personalidade de cada um deles, mas a presença de Effie deveria ter adicionado uma nova cor ao roteiro, bem como a presença de outros personagens, e senti que isso não foi bem conduzido. Além disso, a relação dela com a Lady Eastlake começou de forma muito pouco crível, efusiva, e quando realmente importava, essa importante personagem perdeu a presença no enredo. Uma estranha impressão que eu tive foi de que todos os outros personagens eram impotentes quanto à família Ruskin, de maneira que as intervenções deles pareciam sempre muito limitadas. O protagonismo do pintor ficou aquém do desejado, as cenas no chalé escocês são um tanto bizarras e essa parte do filme é confusa. O temperamento de Ruskin, na minha opinião, sofreu acentuações muito previsíveis em certos trechos do filme, o que corrobora a minha ideia de que houve má condução de elementos centrais da trama. Que o porquê do comportamento dele não fosse explicado, apenas implicitado, tudo bem, mas por que há um aumento de desprezo da parte dele por ela, se não há cenas que justificam esses desentendimentos? Mais ao fim, Effie cita situações do relacionamento dos dois que ao espectador não foram expostas, e isso causa incômodo. Reserva-se, nesse filme, muitas cenas de sugestividade, expressividade no olhar, introspecção dos personagens, pequenos gestos que muitas coisas podem indicar, falas dispersas, mas não os enfrentamentos e o que realmente é dito. Isso pode ser um ótimo artifício para prender o espectador ao roteiro, mas no caso desse filme acredito não ter funcionado: o final passa uma sensação de deslealdade para quem assiste.
La La Land: Cantando Estações
4.1 3,6K Assista Agora[LA LA LAND] [DISCUSSÃO] [BRANCO SÓ FAZ BRANQUICE] [QUEM AÍ JÁ VIU?]
Hoje eu vou ser queimada viva, mas acho válida a discussão:
La La Land é positivamente um dos piores filmes que eu já assisti na minha vida, levando em consideração o peso do elenco, o alarde sobre a qualidade do filme, as premiações, o orçamento, etc. Digo isso porque pelo menos os piores filmes da sessão da tarde foram baratos, enquanto La La Land é, na minha opinião, um desastre em termos de roteiro, de atuações, de trilha sonora (quando cantada) e PRINCIPALMENTE em termos de equiparação a um musical. A direção eu não considero tão desastrosa, mas também não manjo (e nem faço questão de manjar) de aspectos técnicos no cinema. Lendo os comentários do pessoal que gostou, fico com a impressão de ter sido trollada pelo projecionista, pois não sinto que assisti ao mesmo filme 4/5 estrelas do qual a galera comenta. Ryan Gosling é simplesmente inexpressivo no filme inteiro e Emma Stone em raras cenas convence não estar se contorcendo para aparentar dor ou qualquer outra emoção - as cenas de sapateado fazem com que qualquer amante de musical se contorça de agonia e, meu deus, cada música cantada por eles parecia destruir todos os meus sonhos. Realmente torturante assistir a esse filme. As pequenas transgressões feitas à tradição dos musicais simplesmente não funcionam, e o uso de clichês (aposta no tradicionalismo) não acrescenta absolutamente em nada - tudo parece equivocado. As cenas de dança não passam emoção (aliás, um dos poucos musicais que assisti na minha vida que não me envolveram em nenhum momento), a vida afetiva do casal não tem paixão convincente, a presença do toque de celular é interessante mas utilizava excessivamente durante o filme (como se eles tivessem descoberto que gengibre dá um gosto bom na comida e assim colocaram gengibre por tudo, até não ser mais possível comer), as músicas cantadas são terríveis em termos não só de performance mas de conteúdo (OUVIR A TRILHA SONORA FOI UMA DAS COISAS MAIS TORTUOSAS QUE EU JÁ SOFRI), é realmente um inferno de Dante para quem cresceu assistindo aos antigos musicais da broadway ou para quem viu musicais mais recentes que gostou (Moulin Rouge, Sweeney Todd, etc) ou pra quem gosta de jazz e tem paixão por compositores como Cole Porter. Não recomendaria que fosse assistido, mas a aceitação do público é tamanha que penso ser perigoso desencorajar alguém de participar desse debate. Com isso eu quero dizer: vale a pena ver para dimensionar o quão ruim é o filme.
Analisando alguns aspectos: (SPOILERZÃO)
[spoiler] 1) Canções e danças: o início do filme, com a cantoria em pleno trânsito, é tolerável, não chegando a ser um mau presságio realmente significativo, porque a pessoa pensa ''ok, não vai ser assim, vai melhorar'' - a cena se enquadra mais como um clipe do Bruno Mars ou uma cena de Pitch Perfect. Depois ainda há a cena das mulheres trocando de roupa, etc, e foi quando o desespero se instalou em mim, porque percebi que o filme seria naquele nível mesmo. Todas as cantorias são perturbadoras. Emma Stone aposta numa voz aguda extremamente artificial e irritante, Ryan Gosling canta para dentro e parece congelado em termos de expressões corporais, as letras das músicas são extremamente superficiais (embora as melodias sejam realmente boas, o que é uma pena, porque poderiam ser promessa de algo melhor), as danças em casal são péssimas (Emma Stone parece que dança sozinha) e o clássico sapateado é absolutamente assassinado. E isso não é transgredir uma tradição, é falta de talento, mesmo.
2) Cenas clichês: apesar do filme ser original em alguns momentos (poucos, como em seu final, por exemplo), as cenas restantes são absolutamente mais do mesmo, só que bem pior, parecem reproduções de reproduções: os passeios com Ryan Gosling parecem cenas de um filme ruim do Woody Allen, a primeira festa a que a protagonista vai é uma adaptação bem medíocre de Gatsby, as pequenas paródias a Cantando na Chuva são absolutamente óbvias e ainda bem que diminuem ao longo do filme, o afastamento dos dois parece ter sido pensado depois do diretor/roteirista assistir The Way We Were (1973), com a Barbra Streisand, e a dança no observatório, bem como outras danças mais etéreas do casal, são tão carregadas de efeitos especiais que a simplicidade que um musical costuma trazer (a possibilidade que ele apresenta ao espectador, cuja vida não contém trilha sonora ou passos de dança com um amor ao lado) é minada. São poucos os momentos em que os atores de fato cantam durante a gravação da cena, no restante do tempo eles parecem só mimicar com a voz, algo muito brochante (até porque cantam pessimamente).
3) Jazz: coadjuvantes negros são utilizados no filme para descargo de consciência, e isso é tão explícito que dá mal estar. Se o filme tivesse sido protagonizado por um casal negro, por exemplo, com certeza teria sido melhor, em termos de inovação e de local de fala, inclusive. Dois brancos são o centro das atenções, em detrimento de todos os outros coadjuvantes negros, em pequenos porões e bares escondidos em que se toca jazz. Brancos que descobrem uma arte negra e adaptam-na, fazem sucesso e, embora Sebastian tenha uma banda composta por músicos negros, ele não só é o líder dela, mas também o dono do lugar. Qualquer espaço cedido a atores negros parece ser uma gentileza do filme. E o casal branco dança o tempo inteiro ao som da banda que o espectador nem enxerga. Achei que faltou muita sensibilidade do diretor nesse aspecto.
4) Duração do filme: é difícil discernir se o final é realmente interessante ou se o espectador só fica aliviado pelo filme ter acabado.
5) Mocinho e mocinha: Sebastian ensina o mundo (e o óbvio) para a bobinha Mia - se o filme flertava transgredir, por que não nesse aspecto? O homem precisa sempre ser o primeiro na quebra da própria mediocridade, aquele que influencia a mulher a mudar totalmente de vida e arriscar tudo, como se não tivesse nada a perder? Sim, isso está presente em filmes antigos, em musicais, etc, mas o filme, dada todas as péssimas adaptações que fez, não podia deixar ao menos isso original? A grande descoberta do talento de Mia só acontece por causa de Sebastian. Ela sozinha jamais teria atingido sucesso...
Ah, outra coisa: através de falas forçadas e comentários superficiais (até porque em nenhum momento Ryan Gosling convence como músico), Mia é ensinada a apreciar jazz, pois suas capacidades ''palativas'' até então só compreendiam músicas comerciais ou de fácil deglutição. Bobinha, deixa que o cara que apresente o que tu realmente deve gostar!
6) The Messengers: La La Land é a banda The Messengers. Ao criticar, implicitamente, o que a tal banda faz em cima do jazz tradicional, o filme parece esquecer de olhar o próprio umbigo sujo, uma vez que faz exatamente o mesmo com o gênero musical. Transgressões são ótimas quando funcionam e anunciam a capacidade do novo de sobrepor-se ao velho sem eliminá-lo ou com ele competir, mas com ele se unir, dançar, agregar. La La Land é um musical que destroça a sensibilidade do espectador amante de Cabaret, A Star is Born, West Side Story, Cats, etc, e NÃO OFERECE ABSOLUTAMENTE NADA EM TROCA. É como se um cachorro de pelúcia fosse apresentado como um cachorro de verdade e todo mundo se esforçasse para tentar acreditar na verossimilhança dele porque é mais conceitual. Se não isso, algo como isso.
Um outro argumento de quem gostou do filme pode ser que ele é mais acessível a um grande público, uma vez que claramente conquistou o coração de várias pessoas (e, surrealmente, inclusive da crítica), e portanto logra sucesso em aproximar o gênero musical à atualidade. Esse é um argumento verdadeiro, pois de fato houve essa aproximação - lembro que durante a exibição do belo Os Miseráveis (2012), muitas pessoas se sentiram entediadas durante a exibição ou saíram da sala. Embora eu entenda esse aspecto de uma possível defesa ao filme, não dá para culpar quem se sentiu ofendido ou decepcionado com esse quê comercial que ele apresenta. Querendo ou não, ele é uma profanação do sonho de algumas pessoas sem oferecer nada muito trabalhado/esculpido em troca. Mas aqui eu posso soar bem elitista ao falar dessa maneira, porque no debate acerca do que possui ou não valor artístico esse risco está sempre presente. Então não vou ficar contestando esse argumento.
Enfim, para encerrar, vale também dizer que a música ''tema'' dos dois é tão desnecessariamente repetida que se torna irritante, e que a melhor atuação do filme é a de J.K. Simmons, em sua pequena participação no restaurante. Sim, é bem difícil acreditar que esse diretor é o mesmo de Whiplash.
Branquinha
2.5 180 Assista AgoraAchei o filme muito bom, pra ser bem sincera. Como outros aqui, me admirei pela classificação ruim. A fotografia é muito bonita!
A cena que as duas estão abraçadas debaixo do chuveiro e o idílio que precede a paulada na cabeça de Blue são exemplos que me vêm à mente.
Atitudes burras? Sinceramente, não esperava mais de uma menina burguesa recém chegada no subúrbio, fascinada pela realidade local, principalmente dos jovens negros pobres, os quais ela absolutamente não conhece.
A volta dela pra escola é um final sensacional e reforça a ingenuidade e a inconsequência das atitudes que ela tomou. A história de amor com o traficante da rua começa com uma brincadeira da parte dela, que o vê como um contato útil, depois a aventura do mundo das drogas, do dinheiro fácil e do sexo chapado faz com que ela continue seu relacionamento com o rapaz. Em nenhum momento um afeto profundo é realmente demonstrado por ela, o que se pode perceber pelo espanto ao pedido de casamento. Leah é uma menina jovem, ainda muito bobinha, e a nova realidade na qual ela mergulha a engole por inteiro, mostrando que as ruas não são um parque de diversões. Inferi que o chefe e a colega de trabalho roubaram o dinheiro da menina, ou seja, ela foi ludibriada e nem se deu conta justamente por lhe faltar malícia. O advogado a estuprou por perceber que era uma menina junkie e facilmente drogável (e por ser um misógino escroto, é claro). A cena do traficante apertando os mamilos dela também é bastante forte e emblemática. Achei que cada uma das grandes tensões do filme se encaixaram muito bem no enredo, pois o filme demonstra, através das atuações (que eu achei relativamente boas, considerando que são atores pouco conhecidos e bem jovens) pensamentos, trejeitos e reações condizentes com a sorte de cada personagem. A amiga ruiva é carinhosa, porém alheia - mais sossegada e menos impulsiva. Isso já dava pra prever pela sua resistência no envolvimento com os traficantes, com o pouco uso de cocaína e pela preferência por maconha e semelhantes. Blue é o típico passional, Romeu apaixonado, o coração é o ponto fraco, logo se deixa cegar pela ambição de lucrar em cima da gente rica. O problema é que a vida continua sendo muito dura com pessoas como ele, mesmo que estas tenham novas ambições, e então ele é preso por policiais sacanas. Leah tem uma personalidade estranha, às vezes parece ter algum problema mental, mas no geral é agradável acompanhar a sua trajetória porque seu jeitinho não irrita, na verdade intriga, e relativamente convence.
O que achei que ficou faltando: a crítica geral é boa, mas sinto que faltou um pouco de profundidade nos personagens em determinados momentos.
Blue inicialmente declara não se envolver com pessoas que cheiram mas depois aceita com naturalidade que Leah use pó? Enfraqueceu um pouco a história.
Uma possibilidade diferente de final poderia ser uma imagem de Blue na prisão, agora realmente lascado, e ela na sala de aula - pros brancos, a vida que segue. Mas o final como é também é muito bom.
Neruda
3.5 81 Assista AgoraSurrealismo latinoamericano: nosso jeito de fazer cinema é lindo (quisera eu que o Brasil apostasse mais em narrativas assim). Linearidade livre, imagens poéticas, atuações sutilíssimas - a poesia desse filme é a técnica originalíssima por trás, e não os versos de Neruda. Metalinguagem, paisagens de tirar o fôlego e uma trama de belíssima execução. Me parece que a perseguição Óscar-Neruda pode ser entendida sob o viés da questão do duplo. Quem ali escreveu quem? E por que os dois precisam um do outro para serem algo? Quem é o protagonista, quem é o caçador e quem é o caçado?
O teor poético dificulta o entendimento de algumas partes da trama, bem como a própria direção de imagem, que evidencia uma sequencia narrativa não-linear e bastante intimista, de certa forma até secreta, reservada aos personagens. Isso talvez estranhe muitos espectadores e faça com que o filme crie uma espécie de barreira em ser saboreado. Pra mim, no entanto, é um filme que eu adoraria ver de novo.
Agora, uma dúvida bem específica: alguém entendeu aquela cena em que o detetive Óscar fala com a esposa?
Ela diz que ela é real, e portanto eterna... e que o Oscar não, porque era um personagem da história do seu marido. Eu não entendi a moral desse diálogo. O real não é efêmero, uma vez que fenece? E não é eterno o abstrato, que serve como um conceito? E não estaria ela também envolvida nos poemas do marido, sendo, portanto, menos real do que supõe?
É Apenas o Fim do Mundo
3.5 302 Assista AgoraDo ponto de vista técnico, um filme difícil. É impressionante que o Dolan, com seus vinte e poucos anos, tenha conseguido capturar tão bem os pensamentos de cada personagem, sem necessidade de falas. Filme denso, dramático, bastante intimista e subjetivo. A linearidade costumeira das histórias de Hollywood não se faz presente. O espectador é como se fosse um convidado nesse almoço de família, que acompanha sem interferir os diálogos que não entende direito. Fragmentos. O filme é repleto de fragmentos. A atuação do elenco é maravilhosa, com destaque para o Vicent Cassel, Léa Seydoux e a Nathalie Baye. A personagem de Marion Cotillard me pareceu um bocadinho estereotipada, irritante, insegura demais. Faltou um pouco de dosagem, porque ela não me parecia sequer um sujeito. Ainda sim, a cumplicidade existente entre ela e Louis deixa o enredo bem interessante, porque os dois são os únicos com temperamento dócil e constante na casa. Além disso, é como se os dois também fossem os únicos estrangeiros.
No meu ponto de vista, Dolan foi muito ousado ao realizar esse filme. Os enquadramentos são muito bem feitos e extremamente originais. Me senti nas minhas próprias reuniões de família quando todos estavam sentados à mesa e a câmera capturava pequenos fragmentos dos seus rostos e gestos. Como entre familiares há intimidade, o que uns observam nos outros não é o rosto, porque já o conhecem, mas pequenos detalhes nostálgicos.
Em termos de falhas técnicas, penso que o filme deixou a desejar no quesito trilha sonora. Alguns ritmos simplesmente não se encaixavam nas cenas, o que dava ares juvenis ao filme, num sentido oposto ao desejado, penso eu, porque a história tem muita seriedade, se passa depois da juventude, então senti falta de um teor mais sóbrio.
A metáfora climática também é bem interessante. O calor, o suor, a brisa, a chuva, tudo acompanha as tensões dos confinados na casa. Realmente, a histeria chega ao seu ápice quando cai o temporal, e o suor deslizando pela nuca e pelas costas dos personagens dá a sensação de angústia ao espectador, também remetendo a uma catarse que virá à tona. A metáfora do final, entretanto, considerei desnecessária. A ideia de um pássaro se debatendo dentro de uma casa da qual não consegue sair é óbvia demais. Sensível, mas não apurada. Além disso, ficou bastante evidente que era um pássaro gráfico (não que devesse ser um real, LONGE DISSO, mas poderia ter sido melhor computadorizado).
O filme deixa diversas sugestões ao espectador, e não acho que isso o enfraqueça. Pelo contrário: quanto maior a subjetividade, mais exercício mental faz o espectador, e mais ele se envolve na trama. Por exemplo, Catherine sabia que Louis estava para morrer? No final, ele pede que ela não diga nada num teor poético, denunciando a desnecessidade de despedidas e lamentos, ou ele a silencia quanto à mensagem não dita? O antigo amor de Louis morreu da mesma forma que ele morrerá (talvez possa ser AIDS ou algo do tipo, já que eles se drogavam...). E por que Louis não falou o que tinha que falar? Foi porque a mãe pediu para que ele encorajasse os irmãos, e não o contrário? Ou foi porque ele percebeu que jamais conseguiria recuperar seu vínculo com a família, apenas a faria sofrer ainda mais do que sofreu, caso contasse a verdade? E por que ele foi embora de casa? O irmão não aceitou a sua orientação sexual e o agrediu verbalmente a ponto dele querer se mudar? O que houve, o que o sufoca, por que não vomita as palavras que precisa falar?
Essas são perguntas que o filme não tem por objetivo responder claramente. Acho que o principal foco do filme versa mesmo é sobre a incapacidade que uns temos com os outros, quando íntimos, a falar o que sentimos sem ferir. Uma vez que a família nos é tão amada a ponto de fazer parte da gente, machucá-la significa machucar a nós mesmos.
Desse modo, o irmão tão distante, como um mártir, decide se distanciar ainda mais da família, optando por morrer longe, na ignorância deles. Ao mesmo tempo, é possível que alguns tenham achado a postura de Louis oposta à de um mártir: egoísta, ele só retorna para casa depois de doze anos para compartilhar uma notícia tristíssima que só trará mais dor. Não obtendo grandes afagos, ele covardemente desiste da ideia e foge novamente, para longe do desafio familiar que ele jamais consegue enfrentar.
Garotas Inocentes
3.1 229 Assista AgoraQual é o nome da música da cena
em que eles transam?
é algo como ''he's got you where he wants to and he'll have you when he wants to but you want too''
O Homem Irracional
3.5 551 Assista AgoraQue final ridículo.
A cena do elevador chega a dar calafrios de tão mal feita.