Esse filme, que conta uma história extremamente pesada e triste, se passa todo pela voz doce e pelo olhar sensível de uma criança. Em vários momentos, a câmera tem a altura dela, alcança o que seus poucos centímetros conseguem alcançar. Há outros momentos em que assistimos às suas reações faciais aos estímulos e novas descobertas da vida, como quando ele vê o céu desnudado pela primeira vez, sem telas a separá-los. Essa cena é lindíssima, arrepia perna, braço e barriga e gela a coluna. Tem também a cena que ele toca e conhece pela primeira vez um cachorro, e o prazer que manifesta é sensível ao espectador. Por causa disso, esse filme desperta na gente a lembrança da nossa própria infância, das limitações e das enormes possibilidades de ser pequeno - e, dentre as muitas sensações que nos causa, a que mais me marcou foi a recordação de quando eu comecei a descobrir o mundo, e da dor dessa descoberta.
O Quarto de Jack faz a gente se sentir vivo - realmente reacende a nossa conexão pulsante com o Agora, o Já, o Nesse Instante, o Presente. Como uma droga que nos mostra a realidade sensitiva que não parecemos viver no restante do tempo, o filme atua como um lembrete: o que realmente importa pra ti, o que realmente tu sabe, e o famigerado questionamento: tu tá vivo?
Achamos graça de uma criança que chora ao saber que Papai Noel não existe, mas é porque há anos vivemos num mundo diferente do dela, um mundo mais explicado, maior, que se estende muito além do Quarto de Jack - há anos temos fé em forças maiores que o velho barbudo de vermelho... quer dizer, serão mesmo maiores? será que essas nossas crenças diferem tanto assim das de uma criança? e será que o Quarto no galpão, do qual Jack sente falta porque era até então toda a extensão do seu mundo (nas suas palavras: antes infinito, sem paredes, e depois muito menor do que recordava) se difere tanto assim do nosso quarto, do nosso emprego, do nosso maldito cinismo adulto, mascarado de lucidez de amadurecimento? Talvez muitos de nós ainda se encontrem trancados em quartos, sem conhecer o mundo, apenas imaginando como deve ser o Universo...
São muitas lições que esse menino de cinco sábios anos é capaz de oferecer. Escutemo-las
Acabei de assistir ao Regresso. Ainda estou em estado contemplativo, balbuciando coisas. Cheguei em casa mas sinceramente não senti os meus pés desde que saí da sala de cinema. Meu amigo, coitado, teve que dirigir de volta pra casa depois do baque que é esse filme, fiquei preocupada que fosse se acidentar ou coisa parecida. Não tô brincando. É um filme que pasma.
Será que eu consigo analisar tudo o que eu quero analisar sem deixar o meu relato caótico? São tantas cenas que me vêm à cabeça ao mesmo tempo, tantos insights, espero que quem leia isso me perdoe pela bagunça – mesmo se for eu mesmo lendo no futuro...
Pra começar, eu quero dizer que inicialmente subestimei esse filme. Pensei que fosse pecar pelo excesso de exotificação da natureza, pelo clichê do selvagem, que seria uma versão alencariana do índio, ou seja, que seria mais um relato romântico sobre o enfrentamento do colonizador e do colonizado, que daria um Oscar a DiCaprio por sua trajetória pouco reconhecida até ali, e não pela sua atuação no filme, propriamente.
Quero dizer que errei feio – errei rude.
Calei a minha boca até o próximo milênio.
‘’O Regresso’’ é um épico. Ele conta a saga de um homem em busca não só de sobrevivência, mas de vingança; sobreviver é um meio para vingar-se. A auto-superação e as experiências intensas pelas quais passa o protagonista compõem a maior parte do filme, que apesar de tratar de uma história individual, trata, afinal, de todos nós, da raça humana como um todo – e esses são os componentes de um épico.
Nosso herói, Hugh Glass, é deixado à própria sorte pelos seus companheiros após ser atacado por um urso e ficar gravemente ferido. Seu regresso é da própria experiência de morte até o reencontro com o assassino de seu filho, para então transcender, numa espécie de descanso/absolvição após cumprida a sua missão. Esse é o enredo duro, resumido. A nível mais aprofundado, ele também retrata uma viagem de ressignificação, refortalecimento e de reencontro com a própria natureza, uma saga nossa, uma saga humana.
Desde que é atacado pelo urso, Glass transforma-se num selvagem, meio animal meio homem. Tanto ele quanto os outros personagens da história são muito simples, homens incultos, brutos, pobres, sofrendo de fome, frio e cansaço. Quem toma complexidade são as cenas: o ambiente é rica, impressionantemente bem construído. A fotografia e a edição de som são algo assim surreal, fora do comum – achei a palavra: inédito. Se faltam falas? Não é necessária a palavra quando a imagem é capaz de comunicar tudo.
A natureza imensa cercando o homem imenso que por sua vez está cercando outro homem imenso que por sua vez caçou um cervo que por sua vez... a ideia de simbiose é fortemente ilustrada na história, como um retrato da real co-dependência na qual opera a natureza. É tudo muito real nesse filme, independentemente do espectador já ter desbravado a mata ou não. As poucas falas dão ideia de solidão, reflexão, viagem interior, até de animalização. Sons que se escutam mais durante a história: respiração, passos, passos na terra, passos na neve, vento (muito vento), riacho, voz de uma mulher. Sozinho na maior parte do tempo, animal abandonado pela matilha, Glass está em casa e ao mesmo tempo perdido na natureza selvagem. E como diferir um homem como ele de um animal?
Me chamou a atenção que, num dos poucos diálogos do filme, enquanto Fitzgerald divide os restos de uma caça com Bridge, ele conta de um amigo que estava numa situação semelhante a deles, há dias avançando sobre o infinito mortal, praticamente morto de fome, num deserto que só apresentava arbustos, sem animais. Então o homem enxerga à sua frente uma árvore e exclama: ‘’É Deus! É Deus!’’. Fitzgerald, que o seguia, percebe que ele estava se referindo, na verdade, não à árvore, mas a um velho esquilo gordo que se encontrava nela. O homem então devorou o esquilo. Devorou Deus.
(Animais não creem em Deus. Animais o devorariam, se ele fosse apetitoso, porque se sentem fome, eles comem sem pensar. A natureza é amoral?)
Mais um prêmio que eu daria ao filme: melhor direção. Sim, Iñárritu é um gênio – dá medo de dizer, mas ele é. A maneira como as cenas são dirigidas dá impressão do espectador participar do filme. Quando eu digo participar, não quero só dizer espiar o personagem como se estivesse do lado, quero dizer também... o espectador se sente o próprio personagem. Não são poucas as cenas em que Glass não consegue enxergar o perigo a sua frente, embora o ouça. O recurso utilizado, então, é de que a limitação visual, auditiva, emocional, física do protagonista também é do espectador. Se ele não enxerga, também nós não enxergamos. Há uma cena que ilustra exatamente o que quero dizer aqui.
Quando Glass consegue se levantar do túmulo cavado por Fitzgerald e se arrasta para encontrar o seu filho, só somos capazes de ver o que está na frente dele. Vemos neve, neve, neve e troncos de árvore, vemos trapos deixados para trás, restos de fogueira, vemos o que Glass vê, sentimos com ele o batimento acelerado do seu coração. Só quando enfim ele se depara com o cadáver do filho é quando também nos deparamos. Batimento dolorido e triste do coração.
A cena em que Hugh Glass, com sua respiração ofegante na neve, embaça a câmera é absolutamente linda. Tudo fica branco, e então corta para o nascer do sol.
Iñárritu, mexicano de descendência indígena, não podia ter retratado de forma mais ampla (realmente parece que ele faz um 360o na nossa própria consciência) a relação do europeu selvagem com o aborígene americano. Sem estereótipos – bonzinho, mauzinho, burrinho, espertinho. São homens reais, com suas complicações morais, suas contradições, suas fés bizarras... gostei muito de como a história aponta sua flecha para a discussão épica, e não perde tempo com retratos mal feitos de civilizações. Assim, a história dos aborígenes americanos não podia ter ficado mais digna, intacta. Não se escolhe lados. Não há nada para escolher. É cru como a natureza: esteja ou não perdendo para os lobos, o búfalo não é mais nem menos importante que ele – não é mais presa do que é caçador.
O nome dos personagens faz algum tipo de troça? Fiquei com essa dúvida, mas aí é dúvida pra se sanar com o escritor do livro, mesmo. Reconheci algumas referências – Fitzgerald, Beckett, Murphy, Glass... todos nomes literários. Não deve ser por acaso. Os nomes utilizados parecem retratar a própria história futura se predestinando, se fazendo ali, em meio à brutalidade da natureza. Como se a contemporaneidade estivesse presente na história. Muito, muito interessante.
A espiritualidade e o tempero de surrealismo são característicos nas obras do Iñárritu. Raramente são o mote da história, servem mais de tempero e são utilizadas na medida.
Aqui, se fazem presente nas constantes visões que Glass tem de sua esposa e do seu filho. Aliás, cenas bonitas, as que ela aparece sobre ele, como um anjo – um anjo indígena. Me lembrou um pouco o índio cristão de Érico Veríssimo, o Pedro Missioneiro, dessa vez na forma de uma mulher. A mística dos indígenas parece sutilmente contornar o enredo... seja através da sua língua (muitos dos diálogos proferidos no filme – poucos, como já foi dito – são feitos nos dialetos locais da época; aliás: DiCaprio convence bastante também no aspecto linguístico, o que eu acho um ponto importante de se ressaltar porque a mim denota respeito pela cultura retratada), seja através da forma de interagir com o inimigo ou ainda de tratar ferimentos.
Três foram as cenas que mais me flecharam o peito: a cena inicial (uma ótima, boquiabertante primeira impressão), a cena do ataque do urso e a última – em especial a última. Tratarei delas abaixo:
A cena inicial retrata um ataque indígena ao acampamento de comerciantes de pele norte-americanos. Cercados e morrendo aos montes, os homens correm pela floresta sob o acompanhamento fiel da câmera, e então vemos a morte de um por um; quando um morre, a câmera acompanha o outro, que estava do lado, até que este morra também e outro, logo na frente, dê seguimento à corrida contínua pela sobrevivência – a comparação pode ser boba, mas lembra uma corrida olímpica de revezamento: os homens se revezando na morte. É uma cena muito impactante e diferente, muito bem feita e bem pensada. Sabe o que mais me lembrou? O quadro A Liberdade Guiando o Povo. Há que ver para entender o que eu digo. Palavras não bastam.
A cena do urso lembra o conto Pai Contra a Mãe, do Machado. Glass se embrenha na mata para caçar enquanto o resto da companhia está no acampamento, recuperando-se dos ferimentos e da fuga. Ele avista dois filhotes de urso – aliás, eu demorei para entender que eram dois ursinhos, pois a câmera demora para mostrar a imagem deles, primeiro só se ouve o som que emitem. Glass aponta a arma. Dois ursinhos dariam uma ótima refeição para os homens – pensa principalmente no filho, que é jovem demais para a empreitada e precisa se alimentar. Então uma ursa enorme corre em sua direção e, antes que ele tenha tempo para atirar nela, já foi derrubado. É impressionante essa cena. Sou extremamente crítica quanto à intervenção digital extrema nos filmes, ainda mais os com toque realista – como é o caso -, mas a ursa sinceramente não parece ter sido feita no computador. É chocante. Ela pisoteia o caçador dos seus filhotes, ela morde o seu pescoço, ela arranca pedaços das suas costas, ela o morde até que ele pare de se mexer e ela pense que está morto. Então volta para seus dois ursinhos.
Glass tenta então pegar a sua arma, já extremamente ferido, pois nada garante que a ursa não vá matá-lo em seguida, mas quando ele se mexe, ela volta a atacá-lo, incansável, determinada, furiosa. Glass consegue acertar-lhe um tiro no que seria o ombro dela (acima da pata dianteira) e, no enfrentamento com a fera, inflige-lhe diversas facadas, enquanto também é mordido e arranhado pelas patas enorme do animal. Os dois corpos desabam de um monte, e a mãe cai morta sobre o corpo semimorto do pai. Ouve-se os gritos dos ursinhos. Quando os companheiros de Glass chegam, os filhotes saem correndo. O filho de Glass enxerga o corpo do pai e se desespera também. Riquíssima cena.
A cena final é, de longe, a minha favorita. Para se ter noção, o arrepio só veio depois que eu saí do cinema, perplexa, assustada, surpresa, tonta, me sentindo extrema, EXATAMENTE viva. Na hora o que ela me causou foi um frio na barriga e um baque no peito. É uma cena simples, na verdade, mas conduzida com maestria por todos os pilares do filme: enredo, fotografia, som, direção e atuação brilhantes. Morto está Fitzgerald, feita está a vingança e, restabelecida a justiça no mundo, o regresso parece ter chegado quase ao fim. Mas que fim é esse, afinal? O que pode vir depois de uma vingança que requer da gente a nossa própria vida, um esforço sobre-humano? Glass enxerga a figura da mãe de seu filho, da sua amada, e é uma cena belíssima, porque ela caminha de uma forma absolutamente digna, verdadeira, etérea, pela mata, como um animal protetor da floresta, como um ser mitológico, até, mas que é humano. Ele está novamente ferido – feridas novas sobre antigas feridas mal cicatrizadas -, resultado do enfrentamento com Fitzgerald, seu corpo parece exausto, parece nem sequer doer mais, de tão machucado, e então, sem falas, absolutamente crua, a cena pulsa, como se fosse um grande pulmão – o protagonista, o herói, o animal-homem, Glass, DiCaprio, reflete por alguns instantes, toma uma decisão (que decisão?) e olha para a tela, olha para a tela como se fosse um espelho! Sou eu mesma me olhando. Eu me decidi. Eu sei o que o personagem vai fazer porque estou ele, porque eu sou ele.
FIM.
(É preciso muita sensibilidade para encerrar o filme desse jeito, justamente quando o espectador sente que a história terminou. É preciso muita empatia, sentir o público, pôr-se no lugar dele, prever as suas reações – coisa de artista. Me senti absolutamente contemplada. Poucas vezes senti em filmes tão brutos, violentos – masculinos, talvez – esse grau de representatividade. O enredo parece invocar a experiência que tive com autores que me expandiram os olhos da própria alma, como Thoreau e alguns beatniks.
Posso ter dado a entender isso no início, mas a simbologia da vingança* não é o mote do filme. O subtexto trata da própria jornada humana, o nosso regresso à selva dentro da gente. É importante ter isso em mente.
*legal observar que a vingança se dá metade nas mãos de Glass e metade nas mãos da tribo Arikakas. Faz todo o sentido, uma vez que Hawk era mestiço.
Quanta falácia contida num só filme, credo. Totalmente comercial - se ao menos fosse um astronomy for dummies, mas não ensina, e sim desinforma. Além disso, a quantidade de piadinhas idiotas e frases de efeito tiram a beleza da mensagem e prejudicam o envolvimento com o enredo. Patriótico, é também mais um desses filmes que cantam a supremacia norteamericana no espaço - não só dentro, como fora da Terra.
Sinceramente, as únicas atuações que convencem são a do fofo do Donald Glover e da magnânima Jessica Chastain. O resto é tão superficial que entedia. Matt Damon, apesar de bom ator, aparece no filme como um cara que passa mais de 500 dias em Marte e não tem nenhuma crise psicológica, personagem plano, nada complexo, sem profundidade emocional. Além disso, o cara nem se deu ao trabalho de emagrecer pra deixar o filme mais crível - a utilização do dublê é evidente demais, a ponto de interromper o fluxo do espectador.
Enfim, um filme que faz parte da coqueluche hollywoodiana de retratar o espaço sob a megalomania estadounidense e ganhar bastante dinheiro.
O sangue dos Coppola não erra na fotografia. Impecável. Os tons, as texturas, as cores dos lábios dos personagens... o filme vai criando um gosto na gente. Quero ler o livro, sou uma pessoa otimista, dou segundas chances, eu acredito nas coisas quando vejo potencial, e a história realmente é interessante e pode ser - eu disse pode - que no livro a juventude não tenha sido transcrita de uma forma tão caricata. Mas, ok, vamos falar do filme.
As falas e a ambientação são um pouco bobas, não sei se por incompetência técnica ou por uma tentativa de ser fiel à bobice teen. Entendamos bem: talvez o filme tenha sido mais ou menos só porque o livro é bom, e daí não dá pra falar que o filme tem mérito. Ou pode ser que o livro seja péssimo e o filme, baseado no livro (no que a diretora se inspirou dele), seja mais ou menos - mérito da Gina, nesse caso. Especulações à parte, meu palpite é que ambos são medianos porque, quando qualquer pessoa que não um jovem tenta falar sobre juventude acaba pendendo a um julgamento extremado muito irritante: se não saudosista, espetacularmente traumatizado (de todo modo, idealizado), de modo que o mundo jovem é totalmente desfigurado pela memória dos trintões/quarentões de plantão. Ainda sim, é claro que isso pode ser interessante, e de fato não é como se a Gina (ou ainda se o Franco) tivesse(m) errado completamente: existe uma certa veracidade em adolescentes fúteis falando sobre peitos no banheiro (só que isso é bem bem óbvio, é a primeira coisa sobre a qual se fala, esses adolescentes falando de peito são quase como atemporais, protagonistas duma mitologia sobre a juventude que nunca se apaga, e é chato quando um filme tem potencial pra ir além disso e fica nisso, como uma pessoa que mexe o cafezinho com a colherzinha mas não toma a porcaria do café, deixa amornecer e então oferece pra gente tomar. Resumir adolescentes fúteis a só isso é uma violência, eu diria. Ok, uma desistência (pra não soar tão horrível). Uma desistência solene em nos entender. A futilidade tem explicação! A futilidade tem infância! A futilidade tem contexto! A futilidade também tem sonhos, gostos, nome, signo, mapa astral, conta no Filmow, etc. Acredito que num filme (e principalmente em livros) dá pra tornar a futilidade uma coisa menos tosca, porque é como se o personagem estivesse sendo bisbilhotado por nós - nós, os leitores/espectadores estamos invadindo a privacidade do personagem e fazendo anotações dele no nosso bloquinho que outras pessoas ainda não se deram ao trabalho de fazer, então meu recado pro filme é DEIXE COM QUE FAÇAMOS NOSSAS ANOTAÇÕES, não acabem com o nosso gostinho por mistério - chega de desabafo, bruna. Olha, isso não quer dizer que todo personagem precisa ter seus milhares de vida na Terra repassado pra gente, não é isso, se é um personagem pouco importante ok ser superficial (você por acaso sabe sobre a vida da sua vizinha idosa e estranha desimportante? não, e ok, porque você não se interessa por ela e tampouco ela por você, MAS É IMPORTANTE QUE OS PERSONAGENS PRINCIPAIS sejam um pouco mais do que estereótipos, porque você sabe bastante sobre seus amigos, certo, e sobre pessoas importantes para você na sua vida; a mesma coisa deveria valer para pessoas importantes pruma história). Enfim.
É um filme mediano, na minha opinião. Peca pela forma como se expõe o conteúdo, que é complexo mas foi contaminado pela futilidade excessiva a la Bling Ring. Existe uma diferença entre expor a crueza de algo e só com essa amostra fazer uma crítica totalmente implícita sobre o assunto e expor algo usando a linguagem extremamente estereotipada a fim de tentar soar o mais realista possível. O que eu quero dizer com isso? Bom, eu enxergo perfeitamente o James Franco por trás dessa história, e a Gia também. Pessoas a partir dos 25 anos escrevendo sobre adolescentes e juventude tendem a falar muita babaquice. Esse é um dos méritos do Salinger. Ele não soou babaca em Catcher in the Rye. Ao contrário, tenho em mim até hoje que ele não escreveu esse livro, que ele simplesmente foi dar uma fumadinha na sacada e quando voltou, lá estava o livro pronto e um chapéu de caça vermelho (na verdade, Salinger foi muito além do que simplesmente escrever com fidelidade sobre algo que adultos perdem necessariamente a capacidade de escrever ao crescer; ele não só fez isso como o fez DURANTE A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL; ele escrevia alguns trechos durante a iminência constante de um bombardeio, então quando havia uma explosão ele pegava a máquina de escrever e se arrastava pela terra fria com ela, tentando salvar seu manuscrito; talvez seja esse o problema, a gente não tem mais escritores assim). Enfim. O que eu quero dizer com tudo isso é que a Gia Coppola me parece uma imitação chinesa (ou seja, com menos qualidade e mais barata) da Sofhia - porque não tem personalidade; o James Franco (ao escrever o livro e querer fazer o professor de ed. física) me pareceu um coitado com pânico dos quarenta e tesão por menininhas jovens (quem não se lembra do escândalo sexual dele com a fã de 17 e da sua resposta de macho babaca, se esquivando de toda conjectura do assunto?); as expressões de Emma Roberts estão para as expressões Kirsten Stewart assim como pudim está para pudim; Teddy é o PERFEITO bostão indie sensível sem ser sensível (não me pergunte como isso é possível), ou seja, de complexidade fútil (por exemplo: ele corta a árvore antiquíssima e linda na qual a guria dos sonhos dele desenhou um coração numa noite maravilhosa onde tudo era possível e eles estavam juntos, ELE AINDA POR CIMA CONTA PRA ELA COM UMA RISADINHA IDIOTA NA CARA e continua sorrindo depois dela ter dito ''isso é triste''! o quão babaca é isso?), embora isso ainda seja interessante na medida que ele ainda é um gurizinho maconheiro muito frustrado e entediado, bancando o adulto e não deixando de ser um completo cabaço, o que torna o personagem, sim, fiel ao comportamento dos jovens-indies-classe-média-brancos dessa idade; e que Fred é a única ousadia que dá certo no filme, que não soa forçada, que é uma invenção que tinha tudo pra dar errado mas funciona, o Fred atrai e é crível, o Fred é complexo e sobre ele dá pra fazer algumas reflexões desagradáveis (do tipo: o pai abusou dele? onde está a mãe do Fred? o Fred é gay? por que o Fred gosta de judiar do Teddy?). Por último, confesso que gostei da Emily, poderiam ter dado um pouco mais de atenção pra ela no roteiro. Ela é uma personagem que merece mais consideração. Me pareceu que a própria Gia usou a coitadinha e não ligou no dia seguinte.
Resumindo: dou duas convictas estrelas por TRILHA SONORA e FOTOGRAFIA. Depois dou um cuspe no chão por ROTEIRO FRACO e me mando.
O trailer me pareceu pouco científico, falacioso e bem arrogante. Tipo de filme que se não é o Clooney fazendo, é algum outro ator que se presta a reproduz falas idiotas do tipo ''Supere essa, Neil Armstrong''.
Queria algo mais bonito do que meramente estético. Não me convenceu muito.
Dos filmes que eu já vi até agora do Xavier, a maioria pende prum grau crescente de maturidade, sendo este o mais maduro até agora em termos cinematográficos, na minha opinião. Gosto de como ele trata a relação do filho único com sua mãe, ambos com gênios bastante similares e intensos (como se fossem dois arianos numa mesma casa). Me lembrou um pouco ''Eu matei minha mãe'', faz uma clara referência talvez à vida de Dolan ou mesmo a imersão dele no antigo personagem, Hubert Minel. Minha crítica principal aos filmes de Dolan (os que eu já vi) é que, na maioria das vezes, eles se baseiam numa estética profunda e numa superficialidade emocional. Mas, de longe, são bem menos superficiais que a maioria dos filmes franceses que eu já vi com Garrel e companhia (não sei por que lembrei tanto de Les Chansons D'amour assistindo a esse filme!). Os filmes de Dolan revelam um menino jovem, audacioso, ousado, persistente e em busca de maturação profissional - e ele está conseguindo alcançá-la, pois sempre apresenta algum tipo de proposta. Seus filmes não são meramente expositivos, como seria de se esperar de alguém da sua idade. Ele realmente tem algo a dizer... às vezes exagera um pouco, às vezes enrola o enredo com muito glacê ou acelera demais e superficializa a trama, mas ele diz.
O enredo de Mommy, até a metade do filme, flui fácil demais, os problemas se resolvem numa questão de minutos, e muitas vezes o que se vê é uma trama de 40 problemas e 40 resoluções ao invés de 2 ou 3 bons, intensos e complexos problemas, que tenham um apelo mais real... até essa metade do filme eu senti que faltaou aprofundamento na trama, fidelidade à vida real e falta principalmente ''uma consequência'' pruma visão tão hedonista de mundo quanto aos dos seus personagens (a maioria passa o tempo rindo, cantando, dançando e gozando da vida; mesmo no final, se a gente for perceber, se deixa em aberto a questão de se o menino vai enfim conseguir fugir da clínica e voltar pra sua mãe - se vão voltar a ser felizes juntos -, ou seja, mais superficialidade, ou se simplesmente as coisas só vão piorar cada vez mais, se a realidade vai bater na porta e ele terá que pagar pelo incêndio que provocou). É claro que o final não se propõe a tratar dessas questões, ele está mais para a natureza selvagem dentro do menino, ele pende pros desejos intensos dele, pra tão ansiada libertação, a volta dele pro seu mundo familiar.
Gostei que em Mommy a mãe do menino quebra um pouco a superficialidade dos personagens de Xavier, mas o mesmo não acontece com a vizinha nem mesmo com o menino. Achei a atuação da vizinha muito boa, mas a personagem é um pouco fraca. Possui claramente problemas familiares e não sabemos do que se tratam os seus traumas, mas ao invés disso permanecer até o final do filme, ela simplesmente abdica da sua família durante quase todo o enredo para viver aquela intensidade da mãe e do filho (intensidade a qual não possui acesso no seu nicho familiar rígido - daí um pouco da persistência da gagueira, no meu palpite) pra no final não abandonar a sua família. Ela é deixada um pouco de lado pelo roteiro, na minha opinião, e não deveria. O filme poderia ser ainda mais intenso do que já é se ela fosse devidamente exposta pro espectador.
Quanto ao ator que faz Steve: meu deus, ele tem 17 anos. No meio do filme eu fui conferir a idade dele porque uma das minhas reclamacoes mentais era de que ele parecia velho demais pra dezesseis anos. Que geração é essa? Enfim. Achei bacana que o Xavier foi fiel à idade do personagem.
Quanto ao Steve: a sexualidade dele ficou bem sugestiva durante o filme - isso não é uma crítica, é só uma análise. Claramente a mãe pensava que ele era heterossexual, embora na minha opinião logo no início do filme ele encara um rapaz jogando na quadra perto da sua casa. Por isso o filme dialoga um pouco com ''Eu Matei a Minha Mãe'', porque é como se o garoto fosse obcecado sexualmente pela genitora num apego mesmo edipiano, embora sua sexualidade (de dezesseis anos, vale ressaltar) ainda esteja em processo contraditório (=livre) de manifestação.
Achei muito rápido o processo em que ele se deixa ensinar pela nova professora. Pro grau de tdah, hiperatividade e possivelmente bipolaridade dele, isso seria bem mais demorado. Faltou uma espécie de linha do tempo nessa parte do enredo.
Minha crítica geral ao filme é, portanto, que falta um tempero realista pra dar mais madureza pro filme, embora ele entre num ritmo muito convincente no final. Um ponto positivo que eu destaco é a jovialidade de Dolan: ele dá um ar contemporâneo aos seus filmes, como podemos ver na cena que o garoto abre a tela com as mãos, simbolizando algo como uma expansão de horizontes, uma libertação decorrente da solução dos seus problemas, a cena é como uma expansão pulmonar, que gera alargamento da visão e enfrentamento dos obstáculos. Foi um recurso muito bem utilizado - esse tipo de ousadia não falta nele, e isso é ótimo! À sétima arte é sempre importante trazer recursos novos, reciclados, novos diálogos e metalinguagens.
Com certeza o filme fica maravilhoso nos seus trinta minutos finais, principalmente na sequência de cenas de quando a vizinha dá a notícia da sua ida para Toronto, quando em seguida a mãe demonstra solidão e fraqueza na sua cena muito atípica e ao mesmo tempo tão humanamente universal de choro, e, é claro, o gran finale, que na minha opinião conseguiu unir o timing perfeito, a sucessão de gestos e expressões do personagem, dando uma espécie de continuidade ao filme, como se ele terminasse com grandes reticências. Quer dizer, não há realmente um desfecho, o final não é feliz, as pessoas não se casam, o final tampouco é triste, as pessoas não morre, ele simplesmente sai correndo em direção à porta, à mãe, à casa, aos seus sonhos. Fica a dúvida se isso ocasionará novas internações forçadas e escândalos ou se ele finalmente conseguirá se controlar e não se envolver em mais confusões.
Não posso deixar de citar também a música escolhida - nunca pensei que colocariam Lana del Rey numa trilha sonora desse tipo de filme, nesse tipo de final. Eu fiquei emocionada. É um filme realmente jovem e ousado. Deposito muita fé na carreira de Dolan. Espero que ele fale sobre a nossa geração com temas e referências da nossa geração
Alzheimer não demora alguns meses (ou anos) pra ter esse feito devastador do filme? Achei meio estranho... mas talvez a dela, por ser precoce, seja mais violenta, sei lá.
Para mim, não há semelhança com Shame. Theresa não é viciada em sexo, ela tem problemas psicológicos que a levam a esse fundo universo decadente numa tentativa de arrancar a si mesma do tédio dos seus dias e da sua existência paralítica - algo que sacuda sua coluna antes torta e engessada. É mais uma resposta ao tipo de vida que teve - um pai violento, uma mãe religiosa, uma irmã egocêntrica, alguém sempre em segundo plano, a moça desacreditada, a professorinha de futuro medíocre - do que uma condição patológica. Importante lembrar, também, que ela leva um tremendo pé na bunda no início do filme, o que pode tê-la traumatizado em relação ao amor e tê-la tornado frígida. É por isso que procurava sexo fácil e companhia divertida, misturando-se com homens problemáticos e cheios de neuroses, porque eles são incapazes de amar, condenados à frigidez. Quanto à ambientação dos anos 70, é interessante perceber que há indícios do discurso feminista no filme (principalmente quando aparece na televisão exatamente numa fase da vida de Theresa em que ela está se submetendo a um homem extremamente grosseiro e machista). O filme tem marcos de violência verbal machista muito fortes, por exemplo, o professor do início do filme diz a ela ''não suporto uma mulher depois de fodê-la'', o personagem de Richard Gere no filme diz que prefere uma televisão porque não precisa fodê-la para fique satisfeita, e o último personagem, um homossexual totalmente transfigurado com a ideia de realmente sê-lo, numa época em que os gays ainda viviam sob à margem da sociedade (importante lembrar que a AIDS surgirá em seguida na pauta sócio-política), diz a ela ''vocês mulheres só precisam deitar, enquanto todo o trabalho é com a gente''. É um filme com muita violência verbal e psicológica. Mesmo na família, Theresa se acostumou a ouvir do pai um sem-número de impropérios, enquanto sua irmã problemática era vista como o anjo loiro e lindo da família. Vê-se em pauta no filme também a questão do aborto e dos métodos contraceptivos. Enquanto a irmã de Theresa aborta umas trocentas vezes, esta opta por algum tipo de cirurgia, principalmente porque tem medo de transmitir ao seu bebê a escoliose congênita. No meu entendimento, a escoliose tem um pouco a ver com o gesso social da mulher. Theresa supera esse problema, ela vinga, mas sua vida também acaba se tornando um gesso - a tímida, a quieta, a comportada Theresa... -, o seu gênero é um gesso, daí os comprimidos e analgésicos que toma para curar a própria ''alma'' (ou nervos, se preferir). Theresa não era viciada em sexo na minha opinião, mas uma grande perturbada à procura de um murro que a fizesse mais verdade e menos osso (nas palavras de Hilst), uma desorientada à procura do carinho masculino a que estava acostumada desde pequena (o violento). O final é a cereja desse bolo.
O Mundo de Cima representa os países desenvolvidos e o Mundo de Baixo, os subdesenvolvidos. Aqueles exploram estes para manter seu padrão de vida – o filme, muito inteligentemente, mostra como aqueles são dependentes do petróleo do Mundo de Baixo. Exatamente como é no mundo real.
Da mesma maneira como fazem os europeus com imigrantes africanos, pessoas do Mundo de Baixo são impedidas de entrarem no de Cima. Aos de baixo, o aviso: vivam eu seu próprio mundo, aceitem sua condição subalterna, lidem com a injustiça. Tiram tudo dos de baixo, a dignidade, a perspectiva, a riqueza, o conforto, a vida humana, enfim. Mas eles, de alguma maneira, sobrevivem. Eles resistem.
O filme fala sobre segregação, desprezo, exploração, interdependência, temas geopolíticos tão atuais para nós. Um amor entre jovens de mundos diferentes é visto como absurdo porque significa uma possível fusão entre Norte e Sul (poderíamos falar também em Leste e Oeste, considerando o nosso globo). A gravidez não só é capaz de unir o casal, mas representa o futuro: a miscigenação simbolizando a igualdade, a capacidade de conexão entre os dois mundos. A fusão das duas gravidades faz com que o indivíduo possa transitar pelos dois mundos, pois ele pertence a ambos. Sacada genial do diretor. Engraçado: durante todo o filme eu pensei mesmo que ele fosse latino.
Outra coisa importante: perceberam como ambos os mundos ficam parecidos, no final? Isso significa distribuição de recursos. E também que o Mundo de Baixo não era pobre, nunca foi pobre, ele era refém do escoamento de sua própria riqueza. Era roubado. África, Oriente Médio, América Latina... não são regiões pobres, são reféns de um sistema internacional. Um jogo entre colonizadores e colonizados, ocidentais e orientais. Laicos e não-laicos. Quem quer jogar o jogo internacional, precisa se render aos valores desses países que desde muito cedo aprenderam a fazer guerras entre si, conquistar de territórios, navegar, etc. Esses povos que desde muito cedo ambicionavam dominar o mundo e fazer valer seus próprios valores.
''Mundos Opostos'' é uma reflexão simplesmente necessária.
Uma fotografia de cair o queixo. Um roteiro de dar câimbra, de tanto que se ri. E uma história surreal, riquíssima em detalhes sutis e irônicos (quase debochados), como
''segunda cópia do segundo testamento'', uma escada gigantesca que é inteiramente filmada, um gato atirado pela janela e irmãs que dizem que não foi atirado, etc
. Um filme que parece um quadro renascentista por causa dos detalhes arquitetônicos, dos figurinos e gestos dos personagens, e também por causa do resgate de uma era aristocrática, tudo como se fosse um bolo de cinco andares de glacê ou, então, um doce de Agatha. Toda a pompa de um hotel de luxo, por assim dizer, com falas divertidíssimas. O filme é um absurdo, no sentido mais positivo da palavra.
Zero diz ao escritor (Jude Law) que o mundo de Gustave H. já havia acabado muito antes dele nascer. De fato, ele próprio me lembrou Santiago, o mordomo da família Salles, que nasceu como mordomo mas que a vida inteira cultivou e imaginou a vida e os costumes da clássica alta sociedade.
Ademais, eu sempre me sinto extremamente empolgada ao ver um elenco marcado por tantos ídolos e mestres da atuação. Uma pena, entretanto, que Owen Wilson tenha sido escalado, porque, ao meu ver, ele quebrou bastante a estética dos funcionários do hotel (e dos atores elencados para o filme). Não que não seja um bom ator, mas para esse tipo de filme é necessária uma excentricidade madura e não apelativa, quase que característica de cada um dos atores. Seria o próprio Owen o início da decadência do hotel? Cruel palpite, mas até que pode ser.
Quando eles voltam para o Hotel a fim de buscar o quadro, repara-se na decadência dos novos funcionários contratados, tanto do novo Lobby boy quanto do novo concierge.
Achei bacana como eles tornaram a Malévola, uma personagem tão marcante, num ser tão complexo e ''humano''. Gostei da versão da história, só não gostei do modo como foi sendo conduzida. Mas, né.
que filme ridículo - a começar pelos personagens falando em inglês! desde o início, não dá pra esperar muita coisa. uma versão (e uma visão) americanizada da história do Guevara.
O Quarto de Jack
4.4 3,3K Assista AgoraHoje eu vi O Quarto de Jack. Um filme que, quem realmente se ama, baixa no computador ou assiste no cinema - mas assiste de uma forma ou de outra.
Esse filme, que conta uma história extremamente pesada e triste, se passa todo pela voz doce e pelo olhar sensível de uma criança. Em vários momentos, a câmera tem a altura dela, alcança o que seus poucos centímetros conseguem alcançar. Há outros momentos em que assistimos às suas reações faciais aos estímulos e novas descobertas da vida, como quando ele vê o céu desnudado pela primeira vez, sem telas a separá-los. Essa cena é lindíssima, arrepia perna, braço e barriga e gela a coluna. Tem também a cena que ele toca e conhece pela primeira vez um cachorro, e o prazer que manifesta é sensível ao espectador. Por causa disso, esse filme desperta na gente a lembrança da nossa própria infância, das limitações e das enormes possibilidades de ser pequeno - e, dentre as muitas sensações que nos causa, a que mais me marcou foi a recordação de quando eu comecei a descobrir o mundo, e da dor dessa descoberta.
O Quarto de Jack faz a gente se sentir vivo - realmente reacende a nossa conexão pulsante com o Agora, o Já, o Nesse Instante, o Presente. Como uma droga que nos mostra a realidade sensitiva que não parecemos viver no restante do tempo, o filme atua como um lembrete: o que realmente importa pra ti, o que realmente tu sabe, e o famigerado questionamento: tu tá vivo?
Achamos graça de uma criança que chora ao saber que Papai Noel não existe, mas é porque há anos vivemos num mundo diferente do dela, um mundo mais explicado, maior, que se estende muito além do Quarto de Jack - há anos temos fé em forças maiores que o velho barbudo de vermelho... quer dizer, serão mesmo maiores? será que essas nossas crenças diferem tanto assim das de uma criança? e será que o Quarto no galpão, do qual Jack sente falta porque era até então toda a extensão do seu mundo (nas suas palavras: antes infinito, sem paredes, e depois muito menor do que recordava) se difere tanto assim do nosso quarto, do nosso emprego, do nosso maldito cinismo adulto, mascarado de lucidez de amadurecimento? Talvez muitos de nós ainda se encontrem trancados em quartos, sem conhecer o mundo, apenas imaginando como deve ser o Universo...
São muitas lições que esse menino de cinco sábios anos é capaz de oferecer. Escutemo-las
O Regresso
4.0 3,5K Assista AgoraAcabei de assistir ao Regresso. Ainda estou em estado contemplativo, balbuciando coisas. Cheguei em casa mas sinceramente não senti os meus pés desde que saí da sala de cinema. Meu amigo, coitado, teve que dirigir de volta pra casa depois do baque que é esse filme, fiquei preocupada que fosse se acidentar ou coisa parecida. Não tô brincando. É um filme que pasma.
Será que eu consigo analisar tudo o que eu quero analisar sem deixar o meu relato caótico? São tantas cenas que me vêm à cabeça ao mesmo tempo, tantos insights, espero que quem leia isso me perdoe pela bagunça – mesmo se for eu mesmo lendo no futuro...
Pra começar, eu quero dizer que inicialmente subestimei esse filme. Pensei que fosse pecar pelo excesso de exotificação da natureza, pelo clichê do selvagem, que seria uma versão alencariana do índio, ou seja, que seria mais um relato romântico sobre o enfrentamento do colonizador e do colonizado, que daria um Oscar a DiCaprio por sua trajetória pouco reconhecida até ali, e não pela sua atuação no filme, propriamente.
Quero dizer que errei feio – errei rude.
Calei a minha boca até o próximo milênio.
‘’O Regresso’’ é um épico. Ele conta a saga de um homem em busca não só de sobrevivência, mas de vingança; sobreviver é um meio para vingar-se. A auto-superação e as experiências intensas pelas quais passa o protagonista compõem a maior parte do filme, que apesar de tratar de uma história individual, trata, afinal, de todos nós, da raça humana como um todo – e esses são os componentes de um épico.
Nosso herói, Hugh Glass, é deixado à própria sorte pelos seus companheiros após ser atacado por um urso e ficar gravemente ferido. Seu regresso é da própria experiência de morte até o reencontro com o assassino de seu filho, para então transcender, numa espécie de descanso/absolvição após cumprida a sua missão. Esse é o enredo duro, resumido. A nível mais aprofundado, ele também retrata uma viagem de ressignificação, refortalecimento e de reencontro com a própria natureza, uma saga nossa, uma saga humana.
Desde que é atacado pelo urso, Glass transforma-se num selvagem, meio animal meio homem. Tanto ele quanto os outros personagens da história são muito simples, homens incultos, brutos, pobres, sofrendo de fome, frio e cansaço. Quem toma complexidade são as cenas: o ambiente é rica, impressionantemente bem construído. A fotografia e a edição de som são algo assim surreal, fora do comum – achei a palavra: inédito. Se faltam falas? Não é necessária a palavra quando a imagem é capaz de comunicar tudo.
A natureza imensa cercando o homem imenso que por sua vez está cercando outro homem imenso que por sua vez caçou um cervo que por sua vez... a ideia de simbiose é fortemente ilustrada na história, como um retrato da real co-dependência na qual opera a natureza. É tudo muito real nesse filme, independentemente do espectador já ter desbravado a mata ou não. As poucas falas dão ideia de solidão, reflexão, viagem interior, até de animalização. Sons que se escutam mais durante a história: respiração, passos, passos na terra, passos na neve, vento (muito vento), riacho, voz de uma mulher. Sozinho na maior parte do tempo, animal abandonado pela matilha, Glass está em casa e ao mesmo tempo perdido na natureza selvagem. E como diferir um homem como ele de um animal?
Me chamou a atenção que, num dos poucos diálogos do filme, enquanto Fitzgerald divide os restos de uma caça com Bridge, ele conta de um amigo que estava numa situação semelhante a deles, há dias avançando sobre o infinito mortal, praticamente morto de fome, num deserto que só apresentava arbustos, sem animais. Então o homem enxerga à sua frente uma árvore e exclama: ‘’É Deus! É Deus!’’. Fitzgerald, que o seguia, percebe que ele estava se referindo, na verdade, não à árvore, mas a um velho esquilo gordo que se encontrava nela. O homem então devorou o esquilo. Devorou Deus.
(Animais não creem em Deus. Animais o devorariam, se ele fosse apetitoso, porque se sentem fome, eles comem sem pensar. A natureza é amoral?)
Mais um prêmio que eu daria ao filme: melhor direção. Sim, Iñárritu é um gênio – dá medo de dizer, mas ele é. A maneira como as cenas são dirigidas dá impressão do espectador participar do filme. Quando eu digo participar, não quero só dizer espiar o personagem como se estivesse do lado, quero dizer também... o espectador se sente o próprio personagem. Não são poucas as cenas em que Glass não consegue enxergar o perigo a sua frente, embora o ouça. O recurso utilizado, então, é de que a limitação visual, auditiva, emocional, física do protagonista também é do espectador. Se ele não enxerga, também nós não enxergamos. Há uma cena que ilustra exatamente o que quero dizer aqui.
Quando Glass consegue se levantar do túmulo cavado por Fitzgerald e se arrasta para encontrar o seu filho, só somos capazes de ver o que está na frente dele. Vemos neve, neve, neve e troncos de árvore, vemos trapos deixados para trás, restos de fogueira, vemos o que Glass vê, sentimos com ele o batimento acelerado do seu coração. Só quando enfim ele se depara com o cadáver do filho é quando também nos deparamos. Batimento dolorido e triste do coração.
A cena em que Hugh Glass, com sua respiração ofegante na neve, embaça a câmera é absolutamente linda. Tudo fica branco, e então corta para o nascer do sol.
Iñárritu, mexicano de descendência indígena, não podia ter retratado de forma mais ampla (realmente parece que ele faz um 360o na nossa própria consciência) a relação do europeu selvagem com o aborígene americano. Sem estereótipos – bonzinho, mauzinho, burrinho, espertinho. São homens reais, com suas complicações morais, suas contradições, suas fés bizarras... gostei muito de como a história aponta sua flecha para a discussão épica, e não perde tempo com retratos mal feitos de civilizações. Assim, a história dos aborígenes americanos não podia ter ficado mais digna, intacta. Não se escolhe lados. Não há nada para escolher. É cru como a natureza: esteja ou não perdendo para os lobos, o búfalo não é mais nem menos importante que ele – não é mais presa do que é caçador.
O nome dos personagens faz algum tipo de troça? Fiquei com essa dúvida, mas aí é dúvida pra se sanar com o escritor do livro, mesmo. Reconheci algumas referências – Fitzgerald, Beckett, Murphy, Glass... todos nomes literários. Não deve ser por acaso. Os nomes utilizados parecem retratar a própria história futura se predestinando, se fazendo ali, em meio à brutalidade da natureza. Como se a contemporaneidade estivesse presente na história. Muito, muito interessante.
A espiritualidade e o tempero de surrealismo são característicos nas obras do Iñárritu. Raramente são o mote da história, servem mais de tempero e são utilizadas na medida.
Aqui, se fazem presente nas constantes visões que Glass tem de sua esposa e do seu filho. Aliás, cenas bonitas, as que ela aparece sobre ele, como um anjo – um anjo indígena. Me lembrou um pouco o índio cristão de Érico Veríssimo, o Pedro Missioneiro, dessa vez na forma de uma mulher. A mística dos indígenas parece sutilmente contornar o enredo... seja através da sua língua (muitos dos diálogos proferidos no filme – poucos, como já foi dito – são feitos nos dialetos locais da época; aliás: DiCaprio convence bastante também no aspecto linguístico, o que eu acho um ponto importante de se ressaltar porque a mim denota respeito pela cultura retratada), seja através da forma de interagir com o inimigo ou ainda de tratar ferimentos.
Três foram as cenas que mais me flecharam o peito: a cena inicial (uma ótima, boquiabertante primeira impressão), a cena do ataque do urso e a última – em especial a última. Tratarei delas abaixo:
A cena inicial retrata um ataque indígena ao acampamento de comerciantes de pele norte-americanos. Cercados e morrendo aos montes, os homens correm pela floresta sob o acompanhamento fiel da câmera, e então vemos a morte de um por um; quando um morre, a câmera acompanha o outro, que estava do lado, até que este morra também e outro, logo na frente, dê seguimento à corrida contínua pela sobrevivência – a comparação pode ser boba, mas lembra uma corrida olímpica de revezamento: os homens se revezando na morte. É uma cena muito impactante e diferente, muito bem feita e bem pensada. Sabe o que mais me lembrou? O quadro A Liberdade Guiando o Povo. Há que ver para entender o que eu digo. Palavras não bastam.
A cena do urso lembra o conto Pai Contra a Mãe, do Machado. Glass se embrenha na mata para caçar enquanto o resto da companhia está no acampamento, recuperando-se dos ferimentos e da fuga. Ele avista dois filhotes de urso – aliás, eu demorei para entender que eram dois ursinhos, pois a câmera demora para mostrar a imagem deles, primeiro só se ouve o som que emitem. Glass aponta a arma. Dois ursinhos dariam uma ótima refeição para os homens – pensa principalmente no filho, que é jovem demais para a empreitada e precisa se alimentar. Então uma ursa enorme corre em sua direção e, antes que ele tenha tempo para atirar nela, já foi derrubado. É impressionante essa cena. Sou extremamente crítica quanto à intervenção digital extrema nos filmes, ainda mais os com toque realista – como é o caso -, mas a ursa sinceramente não parece ter sido feita no computador. É chocante. Ela pisoteia o caçador dos seus filhotes, ela morde o seu pescoço, ela arranca pedaços das suas costas, ela o morde até que ele pare de se mexer e ela pense que está morto. Então volta para seus dois ursinhos.
Glass tenta então pegar a sua arma, já extremamente ferido, pois nada garante que a ursa não vá matá-lo em seguida, mas quando ele se mexe, ela volta a atacá-lo, incansável, determinada, furiosa. Glass consegue acertar-lhe um tiro no que seria o ombro dela (acima da pata dianteira) e, no enfrentamento com a fera, inflige-lhe diversas facadas, enquanto também é mordido e arranhado pelas patas enorme do animal. Os dois corpos desabam de um monte, e a mãe cai morta sobre o corpo semimorto do pai. Ouve-se os gritos dos ursinhos. Quando os companheiros de Glass chegam, os filhotes saem correndo. O filho de Glass enxerga o corpo do pai e se desespera também. Riquíssima cena.
A cena final é, de longe, a minha favorita. Para se ter noção, o arrepio só veio depois que eu saí do cinema, perplexa, assustada, surpresa, tonta, me sentindo extrema, EXATAMENTE viva. Na hora o que ela me causou foi um frio na barriga e um baque no peito. É uma cena simples, na verdade, mas conduzida com maestria por todos os pilares do filme: enredo, fotografia, som, direção e atuação brilhantes. Morto está Fitzgerald, feita está a vingança e, restabelecida a justiça no mundo, o regresso parece ter chegado quase ao fim. Mas que fim é esse, afinal? O que pode vir depois de uma vingança que requer da gente a nossa própria vida, um esforço sobre-humano? Glass enxerga a figura da mãe de seu filho, da sua amada, e é uma cena belíssima, porque ela caminha de uma forma absolutamente digna, verdadeira, etérea, pela mata, como um animal protetor da floresta, como um ser mitológico, até, mas que é humano. Ele está novamente ferido – feridas novas sobre antigas feridas mal cicatrizadas -, resultado do enfrentamento com Fitzgerald, seu corpo parece exausto, parece nem sequer doer mais, de tão machucado, e então, sem falas, absolutamente crua, a cena pulsa, como se fosse um grande pulmão – o protagonista, o herói, o animal-homem, Glass, DiCaprio, reflete por alguns instantes, toma uma decisão (que decisão?) e olha para a tela, olha para a tela como se fosse um espelho! Sou eu mesma me olhando. Eu me decidi. Eu sei o que o personagem vai fazer porque estou ele, porque eu sou ele.
FIM.
(É preciso muita sensibilidade para encerrar o filme desse jeito, justamente quando o espectador sente que a história terminou. É preciso muita empatia, sentir o público, pôr-se no lugar dele, prever as suas reações – coisa de artista. Me senti absolutamente contemplada. Poucas vezes senti em filmes tão brutos, violentos – masculinos, talvez – esse grau de representatividade. O enredo parece invocar a experiência que tive com autores que me expandiram os olhos da própria alma, como Thoreau e alguns beatniks.
Posso ter dado a entender isso no início, mas a simbologia da vingança* não é o mote do filme. O subtexto trata da própria jornada humana, o nosso regresso à selva dentro da gente. É importante ter isso em mente.
*legal observar que a vingança se dá metade nas mãos de Glass e metade nas mãos da tribo Arikakas. Faz todo o sentido, uma vez que Hawk era mestiço.
Concluindo, give that man an Oscar!!!
Perdido em Marte
4.0 2,3K Assista AgoraQuanta falácia contida num só filme, credo. Totalmente comercial - se ao menos fosse um astronomy for dummies, mas não ensina, e sim desinforma. Além disso, a quantidade de piadinhas idiotas e frases de efeito tiram a beleza da mensagem e prejudicam o envolvimento com o enredo. Patriótico, é também mais um desses filmes que cantam a supremacia norteamericana no espaço - não só dentro, como fora da Terra.
Sinceramente, as únicas atuações que convencem são a do fofo do Donald Glover e da magnânima Jessica Chastain. O resto é tão superficial que entedia. Matt Damon, apesar de bom ator, aparece no filme como um cara que passa mais de 500 dias em Marte e não tem nenhuma crise psicológica, personagem plano, nada complexo, sem profundidade emocional. Além disso, o cara nem se deu ao trabalho de emagrecer pra deixar o filme mais crível - a utilização do dublê é evidente demais, a ponto de interromper o fluxo do espectador.
Enfim, um filme que faz parte da coqueluche hollywoodiana de retratar o espaço sob a megalomania estadounidense e ganhar bastante dinheiro.
Sucker Punch: Mundo Surreal
3.4 3,1K Assista AgoraMuito ruim. História idiota, personagens planos e estereotipados... sem falar na total objetificação feminina.
Palo Alto
3.2 429Pra quem interessar, aí vão algumas considerações minhas sobre o filme...
O sangue dos Coppola não erra na fotografia. Impecável. Os tons, as texturas, as cores dos lábios dos personagens... o filme vai criando um gosto na gente. Quero ler o livro, sou uma pessoa otimista, dou segundas chances, eu acredito nas coisas quando vejo potencial, e a história realmente é interessante e pode ser - eu disse pode - que no livro a juventude não tenha sido transcrita de uma forma tão caricata. Mas, ok, vamos falar do filme.
As falas e a ambientação são um pouco bobas, não sei se por incompetência técnica ou por uma tentativa de ser fiel à bobice teen. Entendamos bem: talvez o filme tenha sido mais ou menos só porque o livro é bom, e daí não dá pra falar que o filme tem mérito. Ou pode ser que o livro seja péssimo e o filme, baseado no livro (no que a diretora se inspirou dele), seja mais ou menos - mérito da Gina, nesse caso. Especulações à parte, meu palpite é que ambos são medianos porque, quando qualquer pessoa que não um jovem tenta falar sobre juventude acaba pendendo a um julgamento extremado muito irritante: se não saudosista, espetacularmente traumatizado (de todo modo, idealizado), de modo que o mundo jovem é totalmente desfigurado pela memória dos trintões/quarentões de plantão. Ainda sim, é claro que isso pode ser interessante, e de fato não é como se a Gina (ou ainda se o Franco) tivesse(m) errado completamente: existe uma certa veracidade em adolescentes fúteis falando sobre peitos no banheiro (só que isso é bem bem óbvio, é a primeira coisa sobre a qual se fala, esses adolescentes falando de peito são quase como atemporais, protagonistas duma mitologia sobre a juventude que nunca se apaga, e é chato quando um filme tem potencial pra ir além disso e fica nisso, como uma pessoa que mexe o cafezinho com a colherzinha mas não toma a porcaria do café, deixa amornecer e então oferece pra gente tomar. Resumir adolescentes fúteis a só isso é uma violência, eu diria. Ok, uma desistência (pra não soar tão horrível). Uma desistência solene em nos entender. A futilidade tem explicação! A futilidade tem infância! A futilidade tem contexto! A futilidade também tem sonhos, gostos, nome, signo, mapa astral, conta no Filmow, etc. Acredito que num filme (e principalmente em livros) dá pra tornar a futilidade uma coisa menos tosca, porque é como se o personagem estivesse sendo bisbilhotado por nós - nós, os leitores/espectadores estamos invadindo a privacidade do personagem e fazendo anotações dele no nosso bloquinho que outras pessoas ainda não se deram ao trabalho de fazer, então meu recado pro filme é DEIXE COM QUE FAÇAMOS NOSSAS ANOTAÇÕES, não acabem com o nosso gostinho por mistério - chega de desabafo, bruna. Olha, isso não quer dizer que todo personagem precisa ter seus milhares de vida na Terra repassado pra gente, não é isso, se é um personagem pouco importante ok ser superficial (você por acaso sabe sobre a vida da sua vizinha idosa e estranha desimportante? não, e ok, porque você não se interessa por ela e tampouco ela por você, MAS É IMPORTANTE QUE OS PERSONAGENS PRINCIPAIS sejam um pouco mais do que estereótipos, porque você sabe bastante sobre seus amigos, certo, e sobre pessoas importantes para você na sua vida; a mesma coisa deveria valer para pessoas importantes pruma história). Enfim.
É um filme mediano, na minha opinião. Peca pela forma como se expõe o conteúdo, que é complexo mas foi contaminado pela futilidade excessiva a la Bling Ring. Existe uma diferença entre expor a crueza de algo e só com essa amostra fazer uma crítica totalmente implícita sobre o assunto e expor algo usando a linguagem extremamente estereotipada a fim de tentar soar o mais realista possível. O que eu quero dizer com isso? Bom, eu enxergo perfeitamente o James Franco por trás dessa história, e a Gia também. Pessoas a partir dos 25 anos escrevendo sobre adolescentes e juventude tendem a falar muita babaquice. Esse é um dos méritos do Salinger. Ele não soou babaca em Catcher in the Rye. Ao contrário, tenho em mim até hoje que ele não escreveu esse livro, que ele simplesmente foi dar uma fumadinha na sacada e quando voltou, lá estava o livro pronto e um chapéu de caça vermelho (na verdade, Salinger foi muito além do que simplesmente escrever com fidelidade sobre algo que adultos perdem necessariamente a capacidade de escrever ao crescer; ele não só fez isso como o fez DURANTE A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL; ele escrevia alguns trechos durante a iminência constante de um bombardeio, então quando havia uma explosão ele pegava a máquina de escrever e se arrastava pela terra fria com ela, tentando salvar seu manuscrito; talvez seja esse o problema, a gente não tem mais escritores assim). Enfim. O que eu quero dizer com tudo isso é que a Gia Coppola me parece uma imitação chinesa (ou seja, com menos qualidade e mais barata) da Sofhia - porque não tem personalidade; o James Franco (ao escrever o livro e querer fazer o professor de ed. física) me pareceu um coitado com pânico dos quarenta e tesão por menininhas jovens (quem não se lembra do escândalo sexual dele com a fã de 17 e da sua resposta de macho babaca, se esquivando de toda conjectura do assunto?); as expressões de Emma Roberts estão para as expressões Kirsten Stewart assim como pudim está para pudim; Teddy é o PERFEITO bostão indie sensível sem ser sensível (não me pergunte como isso é possível), ou seja, de complexidade fútil (por exemplo: ele corta a árvore antiquíssima e linda na qual a guria dos sonhos dele desenhou um coração numa noite maravilhosa onde tudo era possível e eles estavam juntos, ELE AINDA POR CIMA CONTA PRA ELA COM UMA RISADINHA IDIOTA NA CARA e continua sorrindo depois dela ter dito ''isso é triste''! o quão babaca é isso?), embora isso ainda seja interessante na medida que ele ainda é um gurizinho maconheiro muito frustrado e entediado, bancando o adulto e não deixando de ser um completo cabaço, o que torna o personagem, sim, fiel ao comportamento dos jovens-indies-classe-média-brancos dessa idade; e que Fred é a única ousadia que dá certo no filme, que não soa forçada, que é uma invenção que tinha tudo pra dar errado mas funciona, o Fred atrai e é crível, o Fred é complexo e sobre ele dá pra fazer algumas reflexões desagradáveis (do tipo: o pai abusou dele? onde está a mãe do Fred? o Fred é gay? por que o Fred gosta de judiar do Teddy?). Por último, confesso que gostei da Emily, poderiam ter dado um pouco mais de atenção pra ela no roteiro. Ela é uma personagem que merece mais consideração. Me pareceu que a própria Gia usou a coitadinha e não ligou no dia seguinte.
Resumindo: dou duas convictas estrelas por TRILHA SONORA e FOTOGRAFIA. Depois dou um cuspe no chão por ROTEIRO FRACO e me mando.
Perdido em Marte
4.0 2,3K Assista AgoraO trailer me pareceu pouco científico, falacioso e bem arrogante. Tipo de filme que se não é o Clooney fazendo, é algum outro ator que se presta a reproduz falas idiotas do tipo ''Supere essa, Neil Armstrong''.
Queria algo mais bonito do que meramente estético. Não me convenceu muito.
Mommy
4.3 1,2K Assista AgoraDos filmes que eu já vi até agora do Xavier, a maioria pende prum grau crescente de maturidade, sendo este o mais maduro até agora em termos cinematográficos, na minha opinião. Gosto de como ele trata a relação do filho único com sua mãe, ambos com gênios bastante similares e intensos (como se fossem dois arianos numa mesma casa). Me lembrou um pouco ''Eu matei minha mãe'', faz uma clara referência talvez à vida de Dolan ou mesmo a imersão dele no antigo personagem, Hubert Minel. Minha crítica principal aos filmes de Dolan (os que eu já vi) é que, na maioria das vezes, eles se baseiam numa estética profunda e numa superficialidade emocional. Mas, de longe, são bem menos superficiais que a maioria dos filmes franceses que eu já vi com Garrel e companhia (não sei por que lembrei tanto de Les Chansons D'amour assistindo a esse filme!). Os filmes de Dolan revelam um menino jovem, audacioso, ousado, persistente e em busca de maturação profissional - e ele está conseguindo alcançá-la, pois sempre apresenta algum tipo de proposta. Seus filmes não são meramente expositivos, como seria de se esperar de alguém da sua idade. Ele realmente tem algo a dizer... às vezes exagera um pouco, às vezes enrola o enredo com muito glacê ou acelera demais e superficializa a trama, mas ele diz.
O enredo de Mommy, até a metade do filme, flui fácil demais, os problemas se resolvem numa questão de minutos, e muitas vezes o que se vê é uma trama de 40 problemas e 40 resoluções ao invés de 2 ou 3 bons, intensos e complexos problemas, que tenham um apelo mais real... até essa metade do filme eu senti que faltaou aprofundamento na trama, fidelidade à vida real e falta principalmente ''uma consequência'' pruma visão tão hedonista de mundo quanto aos dos seus personagens (a maioria passa o tempo rindo, cantando, dançando e gozando da vida; mesmo no final, se a gente for perceber, se deixa em aberto a questão de se o menino vai enfim conseguir fugir da clínica e voltar pra sua mãe - se vão voltar a ser felizes juntos -, ou seja, mais superficialidade, ou se simplesmente as coisas só vão piorar cada vez mais, se a realidade vai bater na porta e ele terá que pagar pelo incêndio que provocou). É claro que o final não se propõe a tratar dessas questões, ele está mais para a natureza selvagem dentro do menino, ele pende pros desejos intensos dele, pra tão ansiada libertação, a volta dele pro seu mundo familiar.
Gostei que em Mommy a mãe do menino quebra um pouco a superficialidade dos personagens de Xavier, mas o mesmo não acontece com a vizinha nem mesmo com o menino. Achei a atuação da vizinha muito boa, mas a personagem é um pouco fraca. Possui claramente problemas familiares e não sabemos do que se tratam os seus traumas, mas ao invés disso permanecer até o final do filme, ela simplesmente abdica da sua família durante quase todo o enredo para viver aquela intensidade da mãe e do filho (intensidade a qual não possui acesso no seu nicho familiar rígido - daí um pouco da persistência da gagueira, no meu palpite) pra no final não abandonar a sua família. Ela é deixada um pouco de lado pelo roteiro, na minha opinião, e não deveria. O filme poderia ser ainda mais intenso do que já é se ela fosse devidamente exposta pro espectador.
Quanto ao ator que faz Steve: meu deus, ele tem 17 anos. No meio do filme eu fui conferir a idade dele porque uma das minhas reclamacoes mentais era de que ele parecia velho demais pra dezesseis anos. Que geração é essa? Enfim. Achei bacana que o Xavier foi fiel à idade do personagem.
Quanto ao Steve: a sexualidade dele ficou bem sugestiva durante o filme - isso não é uma crítica, é só uma análise. Claramente a mãe pensava que ele era heterossexual, embora na minha opinião logo no início do filme ele encara um rapaz jogando na quadra perto da sua casa. Por isso o filme dialoga um pouco com ''Eu Matei a Minha Mãe'', porque é como se o garoto fosse obcecado sexualmente pela genitora num apego mesmo edipiano, embora sua sexualidade (de dezesseis anos, vale ressaltar) ainda esteja em processo contraditório (=livre) de manifestação.
Achei muito rápido o processo em que ele se deixa ensinar pela nova professora. Pro grau de tdah, hiperatividade e possivelmente bipolaridade dele, isso seria bem mais demorado. Faltou uma espécie de linha do tempo nessa parte do enredo.
Minha crítica geral ao filme é, portanto, que falta um tempero realista pra dar mais madureza pro filme, embora ele entre num ritmo muito convincente no final. Um ponto positivo que eu destaco é a jovialidade de Dolan: ele dá um ar contemporâneo aos seus filmes, como podemos ver na cena que o garoto abre a tela com as mãos, simbolizando algo como uma expansão de horizontes, uma libertação decorrente da solução dos seus problemas, a cena é como uma expansão pulmonar, que gera alargamento da visão e enfrentamento dos obstáculos. Foi um recurso muito bem utilizado - esse tipo de ousadia não falta nele, e isso é ótimo! À sétima arte é sempre importante trazer recursos novos, reciclados, novos diálogos e metalinguagens.
Com certeza o filme fica maravilhoso nos seus trinta minutos finais, principalmente na sequência de cenas de quando a vizinha dá a notícia da sua ida para Toronto, quando em seguida a mãe demonstra solidão e fraqueza na sua cena muito atípica e ao mesmo tempo tão humanamente universal de choro, e, é claro, o gran finale, que na minha opinião conseguiu unir o timing perfeito, a sucessão de gestos e expressões do personagem, dando uma espécie de continuidade ao filme, como se ele terminasse com grandes reticências. Quer dizer, não há realmente um desfecho, o final não é feliz, as pessoas não se casam, o final tampouco é triste, as pessoas não morre, ele simplesmente sai correndo em direção à porta, à mãe, à casa, aos seus sonhos. Fica a dúvida se isso ocasionará novas internações forçadas e escândalos ou se ele finalmente conseguirá se controlar e não se envolver em mais confusões.
Não posso deixar de citar também a música escolhida - nunca pensei que colocariam Lana del Rey numa trilha sonora desse tipo de filme, nesse tipo de final. Eu fiquei emocionada. É um filme realmente jovem e ousado. Deposito muita fé na carreira de Dolan. Espero que ele fale sobre a nossa geração com temas e referências da nossa geração
Trem Noturno para Lisboa
3.7 258 Assista AgoraQue roteiro péssimo.
Todo mundo em Portugal fala em inglês?
O velho tem Parkinson pra tomar café mas não pra fumar?
Muito fraco, fraco mesmo.
O livro deve ser bom, mas o filme definitivamente não é.
Para Sempre Alice
4.1 2,3K Assista AgoraAlzheimer não demora alguns meses (ou anos) pra ter esse feito devastador do filme? Achei meio estranho... mas talvez a dela, por ser precoce, seja mais violenta, sei lá.
O Abutre
4.0 2,5K Assista AgoraMe parece que um dos recados do filme é que nossas leis não estão preparada para sujeitos com um nível tão alto de inescrupulosidade.
À Procura de Mr. Goodbar
3.9 54A quem se interessar, algumas análises possíveis...
Para mim, não há semelhança com Shame. Theresa não é viciada em sexo, ela tem problemas psicológicos que a levam a esse fundo universo decadente numa tentativa de arrancar a si mesma do tédio dos seus dias e da sua existência paralítica - algo que sacuda sua coluna antes torta e engessada. É mais uma resposta ao tipo de vida que teve - um pai violento, uma mãe religiosa, uma irmã egocêntrica, alguém sempre em segundo plano, a moça desacreditada, a professorinha de futuro medíocre - do que uma condição patológica. Importante lembrar, também, que ela leva um tremendo pé na bunda no início do filme, o que pode tê-la traumatizado em relação ao amor e tê-la tornado frígida. É por isso que procurava sexo fácil e companhia divertida, misturando-se com homens problemáticos e cheios de neuroses, porque eles são incapazes de amar, condenados à frigidez. Quanto à ambientação dos anos 70, é interessante perceber que há indícios do discurso feminista no filme (principalmente quando aparece na televisão exatamente numa fase da vida de Theresa em que ela está se submetendo a um homem extremamente grosseiro e machista). O filme tem marcos de violência verbal machista muito fortes, por exemplo, o professor do início do filme diz a ela ''não suporto uma mulher depois de fodê-la'', o personagem de Richard Gere no filme diz que prefere uma televisão porque não precisa fodê-la para fique satisfeita, e o último personagem, um homossexual totalmente transfigurado com a ideia de realmente sê-lo, numa época em que os gays ainda viviam sob à margem da sociedade (importante lembrar que a AIDS surgirá em seguida na pauta sócio-política), diz a ela ''vocês mulheres só precisam deitar, enquanto todo o trabalho é com a gente''. É um filme com muita violência verbal e psicológica. Mesmo na família, Theresa se acostumou a ouvir do pai um sem-número de impropérios, enquanto sua irmã problemática era vista como o anjo loiro e lindo da família. Vê-se em pauta no filme também a questão do aborto e dos métodos contraceptivos. Enquanto a irmã de Theresa aborta umas trocentas vezes, esta opta por algum tipo de cirurgia, principalmente porque tem medo de transmitir ao seu bebê a escoliose congênita. No meu entendimento, a escoliose tem um pouco a ver com o gesso social da mulher. Theresa supera esse problema, ela vinga, mas sua vida também acaba se tornando um gesso - a tímida, a quieta, a comportada Theresa... -, o seu gênero é um gesso, daí os comprimidos e analgésicos que toma para curar a própria ''alma'' (ou nervos, se preferir). Theresa não era viciada em sexo na minha opinião, mas uma grande perturbada à procura de um murro que a fizesse mais verdade e menos osso (nas palavras de Hilst), uma desorientada à procura do carinho masculino a que estava acostumada desde pequena (o violento). O final é a cereja desse bolo.
Fale com Ela
4.2 1,0K Assista AgoraVocês sabem se a história do Alberto foi inventada pelo Almodóvar ou se realmente esse filme existe? Queria muito saber.
Mundos Opostos
3.4 611 Assista AgoraSolanas faz uma incrível metáfora nesse filme!
O Mundo de Cima representa os países desenvolvidos e o Mundo de Baixo, os subdesenvolvidos. Aqueles exploram estes para manter seu padrão de vida – o filme, muito inteligentemente, mostra como aqueles são dependentes do petróleo do Mundo de Baixo. Exatamente como é no mundo real.
Da mesma maneira como fazem os europeus com imigrantes africanos, pessoas do Mundo de Baixo são impedidas de entrarem no de Cima. Aos de baixo, o aviso: vivam eu seu próprio mundo, aceitem sua condição subalterna, lidem com a injustiça. Tiram tudo dos de baixo, a dignidade, a perspectiva, a riqueza, o conforto, a vida humana, enfim. Mas eles, de alguma maneira, sobrevivem. Eles resistem.
O filme fala sobre segregação, desprezo, exploração, interdependência, temas geopolíticos tão atuais para nós. Um amor entre jovens de mundos diferentes é visto como absurdo porque significa uma possível fusão entre Norte e Sul (poderíamos falar também em Leste e Oeste, considerando o nosso globo). A gravidez não só é capaz de unir o casal, mas representa o futuro: a miscigenação simbolizando a igualdade, a capacidade de conexão entre os dois mundos. A fusão das duas gravidades faz com que o indivíduo possa transitar pelos dois mundos, pois ele pertence a ambos. Sacada genial do diretor. Engraçado: durante todo o filme eu pensei mesmo que ele fosse latino.
Outra coisa importante: perceberam como ambos os mundos ficam parecidos, no final? Isso significa distribuição de recursos. E também que o Mundo de Baixo não era pobre, nunca foi pobre, ele era refém do escoamento de sua própria riqueza. Era roubado. África, Oriente Médio, América Latina... não são regiões pobres, são reféns de um sistema internacional. Um jogo entre colonizadores e colonizados, ocidentais e orientais. Laicos e não-laicos. Quem quer jogar o jogo internacional, precisa se render aos valores desses países que desde muito cedo aprenderam a fazer guerras entre si, conquistar de territórios, navegar, etc. Esses povos que desde muito cedo ambicionavam dominar o mundo e fazer valer seus próprios valores.
''Mundos Opostos'' é uma reflexão simplesmente necessária.
Minhas palmas.
Léo e Bia
4.2 146Tirando a Marina… :p
A Garota que Conquistou o Tempo
4.1 320Time waits for no one
Truque de Mestre
3.8 2,5K Assista AgoraO roteiro tem um derrame no final.
O Grande Hotel Budapeste
4.2 3,0KUma fotografia de cair o queixo. Um roteiro de dar câimbra, de tanto que se ri. E uma história surreal, riquíssima em detalhes sutis e irônicos (quase debochados), como
''segunda cópia do segundo testamento'', uma escada gigantesca que é inteiramente filmada, um gato atirado pela janela e irmãs que dizem que não foi atirado, etc
Adorei a cena em que
Zero diz ao escritor (Jude Law) que o mundo de Gustave H. já havia acabado muito antes dele nascer. De fato, ele próprio me lembrou Santiago, o mordomo da família Salles, que nasceu como mordomo mas que a vida inteira cultivou e imaginou a vida e os costumes da clássica alta sociedade.
Ademais, eu sempre me sinto extremamente empolgada ao ver um elenco marcado por tantos ídolos e mestres da atuação. Uma pena, entretanto, que Owen Wilson tenha sido escalado, porque, ao meu ver, ele quebrou bastante a estética dos funcionários do hotel (e dos atores elencados para o filme). Não que não seja um bom ator, mas para esse tipo de filme é necessária uma excentricidade madura e não apelativa, quase que característica de cada um dos atores. Seria o próprio Owen o início da decadência do hotel? Cruel palpite, mas até que pode ser.
Quando eles voltam para o Hotel a fim de buscar o quadro, repara-se na decadência dos novos funcionários contratados, tanto do novo Lobby boy quanto do novo concierge.
Favoritei.
O Vinho das Almas
3.5 3...
Malévola
3.7 3,8K Assista AgoraAchei bacana como eles tornaram a Malévola, uma personagem tão marcante, num ser tão complexo e ''humano''. Gostei da versão da história, só não gostei do modo como foi sendo conduzida. Mas, né.
Amante a Domicílio
3.2 234 Assista Agoradecepcionante
Adorável Professora
2.9 103 Assista Agorameu deus que filme chato
Anna Nicole
2.6 24 Assista Agorana verdade, não merecia nem 1/99 de estrela.
Causa Perdida
3.1 8que filme ridículo - a começar pelos personagens falando em inglês! desde o início, não dá pra esperar muita coisa. uma versão (e uma visão) americanizada da história do Guevara.
Deus Abençoe a América
4.0 799God bless this movie.