Que decepção enorme vi aqui. Roteiro profundamente mal organizado, direção péssima, montagem de cenas que lembram um filme amador e atuações coadjuvantes caricatas (onde arranjam essas pessoas e dizem que eles são atores?).
O plot do Corey não serviu muito - talvez apenas para mostrar como o problema está naquela cidade, que precisa sempre de um "monstro", de um culpado, e ele acabou internalizando essa culpa e os olhares de "assassino" até pensar de fato que é um. Porém... absolutamente tudo foi extremamente mal executado. E ao final, fica a sensação de que o filme se sairia bem melhor sem essa inserção e sem a interação com a neta da Laurie (feita de maneira genérica e repleto de diálogos que você encontra no filme de romance mais barato). Outra falha bisonha foi terem dado muito tempo para os traumas do Corey, quando nas primeiras cenas já havia ficado bem claro o quanto que ele sofria. Senti falta de um toque de investigação em meio a todos aqueles assassinatos que ele estava cometendo, como se não existisse polícia naquela cidade e como se ninguém fosse sentir a falta de um médico no hospital, por exemplo. Pareceu que queriam mostrar mais esse desenvolvimento do lado violento do Corey, porém não foi bem feito, não conseguiu me prender e me deixar curioso. O personagem, de maneira geral, é ruim e sem presença.
O foco do filme ter sido nessa construção desse personagem genérico foi um grande erro, em minha humilde opinião. E como já falaram aqui, as personalidades dos personagens parecem ter sido modificadas, e para a pior. Até a Laurie sofre um pouco com esse péssimo enredo, mas quem saiu mesmo da linha foi a neta dela.
Eu sinceramente não sei o que aconteceu aqui. Mas absolutamente NADA nesse filme foi bom (exceto os minutos finais, e olhe lá!) e eu estava torcendo tanto para funcionasse.
Sai positivamente surpreso. Bom elenco, bons personagens e uma história até que bem contada. Visualmente é algo que lembra o aspecto sanguinário dos primeiros filmes, e a maquiagem dos cenobitas está muito bem feita. Gostei bastante. Acho que cabe uma continuação.
Pelos relatos, mesmo de quem nunca a viu, parecia ser uma pessoa encantadora e que, infelizmente, teve a vida destruída por um verme. Aquilo não é um ser humano, e sim a junção de toda a maldade que pode existir. É impossível não ficar surpreso a cada descoberta da investigação sobre aquele ser miserável.
os pais verdadeiros da Suzanne não estavam fazendo nada para encontrar ela? E aí descobrimos que ela têm mais duas irmãs e... os pais não se moveram para procura-las? A forma como a mãe biológica dela fala é como se fosse no automático. O pai, do mesmo jeito. Não dá para captar sentimentos ali. É difícil, aqui do meu lugar e através desse documentário, tentar "entender" possíveis motivações que fazem os pais não procurarem por sua filha raptada. Na realidade... não há. Simples.
Esse documentário foi bem mais forte do que eu pensava, é realmente algo pesado. Mas infelizmente a violência sexual é uma realidade, e ela está presente nos locais onde menos imaginamos. Por isso, a necessidade de permanecer em alerta, de estar sempre atento a sinais de agressão para que vidas como a de Suzanne não sejam tragicamente interrompidas.
Estava ansioso para conferir o novo trabalho do Jordan Peele, e não fiquei decepcionado. "Nope" é muito dinâmico, tem uma excelente atmosfera de horror e apresenta traços diferentes dos trabalhos mais conhecidos do diretor, muito embora o seu humor muito bem afiado e seu vasto campo de ideias continuem fortes nessa nova obra.
A tensão é muito bem levada, e gosto quando optam por um tipo de horror que, na maior parte das cenas, é aquilo que "não é visto", ou seja, que atrai pelo silêncio e consegue desequilibrar os personagens com uma espécie de presença invisível, e que quando aparece não apela para a parte gráfica para sustentar o enredo. E com isso temos a apresentação de personagens bastante carismáticos que sustentam bem a história, com destaque para a Keke Palmer que rouba as cenas.
Na minha concepção, o Peele abordou bem essa parte do estranho e do desconhecido. Embora eu pense que o ato final seja um tanto previsível - e aí eu realmente teria gostado de um final um pouco mais "impactante" - isso não tira o brilho do filme.
O plot twist é bem bom, hein. Acaba que no final a gente "torce" para a Lena, porque... a mãe acobertou a morte da própria filha num esquema bizarro com o filho dela. Foi uma ideia interessante, mas poderia ter tomado mais tempo. Uns 15 minutos a mais de filme para melhorar o suspense e deixar ele um pouco mais denso já seriam suficientes, pois a impressão que fica após o momento em que a mãe descobre é que o roteiro agiliza demais os acontecimentos.
Mas, de toda forma, pelo que foi apresentado e considerando que eu não esperava muito, foi uma grata surpresa.
Um verdadeiro desastre. Nem o retorno de Sam Neil e da Laura Dern conseguem fazer com que a história tenha algum nível de interesse. O roteiro parece jogar várias pontas de qualquer forma, numa trama que é bem rasa. As cenas de ação, em sua maioria, não passam emoção ou sentimento de perigo real para que o espectador tema pelos personagens. O ritmo do filme é constantemente quebrado, seja por piadinhas sem graça (algumas são pura vergonha alheia), seja por diálogos e cenas que simplesmente não se encaixavam. E ao final, não senti uma boa dinâmica entre o elenco, me pareceu muito genérico e sem vida. Completamente esquecível.
Bom filme, mais pelo seu começo e até a metade que manteve o bom tom de suspense investigativo e personagens interessantes. Infelizmente parece outro filme em seu final, com cenas beirando ao caricato e muito anticlimáticas. Ainda assim, te prende ali durante um tempo, só o final que poderia ter sido bem melhor.
Me pareceu muito sem objetivo, arrastado, com muitos plots jogados de toda forma e esperando que fizessem sentido. Poderiam facilmente ter tirado pelos menos uns 40 minutos da obra que talvez ajudasse no seu ritmo. Como já falaram aqui, o nome "Animais fantásticos" também não ajuda, é sem sentido e pode até limitar ainda mais o enredo, e poderiam de fato ter dado mais importância na parte dos "segredos" do Dumbledore.
A sensação que fica é de um filme que no final não encontra seu propósito, com cenas muito anticlimáticas, batalhas enfadonhas e personagens não tão interessantes - salvo o Dumbledore do Jude Law. O primeiro filme da série é muito bom, e deveriam ter ficado nele. Ele tem essa essência mais original para a franquia. Mas esse me pareceu uma série de recortes mal feitos, e que poderia ser diferente se tivessem focado de fato na relação Dumbledore/Grindelwald. Enfim, uma decepção.
Sempre que a crítica "massacra" um filme, tento primeiro não ler nenhuma dessas críticas e não me deixar levar por prints de sites com a porcentagem daqueles que estão gostando da obra. De fato, isso em nada deve influenciar a sua experiência com a produção, dentro do cinema, pois você terá sua própria maneira de recepcionar esse filme. Dito isso... a maneira como recebi "Thor: Amor e Trovão" foi das mais abertas possíveis, confiando no trabalho do Taika (que já havia feito algo muito divertido em "Ragnarok"). Mas infelizmente sai da sessão um pouco decepcionado.
Thor: Amor e Trovão sofre de vários problemas, e para começar devo citar a péssima promoção que a Marvel Studios fez, com um trabalho de propaganda bastante questionável. Talvez aí estivesse o primeiro alerta de que nem o próprio estúdio estava de fato se preocupando com o seu produto. E seguindo para a obra em si, ela não tem um bom enredo, o roteiro é muito simples (não de uma forma boa) não apresenta nenhum perigo real para seus personagens, não emociona e diverte pouco. O humor está ali, e até dá para rir um pouco, mas me pareceu cansativo e repetitivo em outras cenas. Um ponto positivo é a trilha sonora, que é responsável por pregar uma boa intensidade nas bem coreografadas cenas de batalha - que são realmente muito boas, e os efeitos visuais não deixam a desejar. As lutas entre Gorr e Thor são muito boas.
Quanto ao retorno da Natalie Portman, até que gostei. A Poderosa Thor é uma baita personagem nas HQs, uma das melhores já feitas nos últimos anos, e fiquei muito feliz de ver ela adaptada. Mas não sei se foi o "novo" papel, mas a atriz me parecia um pouco deslocada quando estava de “Poderosa Thor”. Claro, foi apenas o primeiro filme dela como a Thor, há uma necessidade de ajuste, e nesse ponto o roteiro até deixa bem claro que ela é a “novata”. O único ponto que para mim que não é problemático é o Christian Bale que faz uma boa entrega como vilão, e levanta questionamentos sobre deuses e crenças (lembrando que é de forma bem superficial, pois não é um filme para produzir reflexões existenciais) e sua caracterização está perfeita.
Acho que o filme tem problemas, sim. Em determinado ponto, senti que o roteiro pareceu facilitar demais para os personagens, e o ritmo vai ficando cada vez mais rápido como se houvesse uma pressa em concluir. Mas, de toda forma, é preciso dizer que ele serviu para expandir o universo cósmico da Marvel ao mostrar mais planetas, ao inserir um personagem de extrema importância do universo dos quadrinhos (muito embora aqui tenham dado uma derrapada nos efeitos no momento de representa-lo) e mostrou que ainda há muitas possibilidades para o universo do Thor.
Demasiadamente longo e absurdamente pretensioso. Falha ao tentar contar uma história sobrenatural mais complexa. E as atuações são horríveis. A direção é interessante em algumas cenas.
"The Northman" é forte, de uma beleza técnica fantástica e uma história maravilhosa que mergulha profundamente na mitologia nórdica. Esse é apenas o terceiro filme da carreira do diretor Robert Eggers, e também o terceiro que é sucesso de crítica e público. O trabalho desse diretor é simplesmente incrível e certamente figura entre os melhores da atualidade.
O roteiro é maravilhoso, uma tragédia bem contada. A vingança e o mais puro sentimento de ódio move o personagem Amleth, brilhantemente vivido por Alexander Skarsgård, em uma verdadeira jornada de violência. Nesse tempo, ele encontra Olga (Anya Taylor-Joy, que mais uma vez repete a parceira com Eggers após o também maravilhoso "A Bruxa"), e com ela passa a dividir seu destino.
É verdade que podemos apontar que a história se torna um pouco previsível do ponto de vista do que realmente aconteceu com a família de Amleth, mas sinceramente isso em nada é negativo nesse caso, pois os personagens tem camadas e motivações interessantes, e juntando a isso temos todo o misticismo nórdico que engloba a obra. E assim nós ganhamos uma história rica de referências, que se preocupa com os detalhes da mitologia que representa, desde os cenários bem detalhados ao cuidado com as palavras e a forma como os diálogos são feitos entre os atores.
O Eggers é um gênio em aproveitar os belíssimos cenários de gravação, e também na forma como usa as cenas mais escuras para adicionar camadas de cores e contrastar com a cores mais vibrantes. Ele consegue fazer essas transições de forma perfeita, e uma cena em específica me lembrou muito "O Sétimo Selo", do Ingmar Bergman.
Skarsgård entregou o que, na minha opinião, foi a melhor atuação da sua carreira, e mostra todo seu comprometimento com o papel. Ele consegue encarnar esse personagem que deve ter exigido muito dele fisicamente. E a Anya Taylor-Joy fica em segundo plano, mas faz uma boa dupla com o ator sueco.
Um excelente drama (com muito suspense) que não busca romantizar a mitologia nórdica. E embora o tema da vingança não seja apresentado da maneira mais inovadora, ainda é muito funcional dentro daquele universo. Robert Eggers acertou. De novo.
"Doutor Estranho: No Multiverso da Loucura" é um excelente filme, bem amarrado e que cumpre com seu propósito. Confesso que estava com expectativas para ver um ou outro personagem e mais "eventos", digamos assim. Mas nesse ponto a culpa em nada é da obra, e sim de quem cria todo um espaço daquilo que quer ver e como quer ver. E parece que o roteiro meio que conseguiu "prever" essas expectativas, e conseguiu ser muito "pé no chão" com seu objetivo. Por mais que trabalhe esses conceitos malucos do multiverso, ele se mantém firme a um determinado limite e não engana o espectador durante aquelas duas horas. É como se o Sam Raimi estivesse dizendo "por enquanto, nós só vamos mostrar até aqui, mas vocês estão vendo o tanto de coisas que ainda podemos fazer".
Por falar em Sam Raimi, a direção dele foi muito efetiva. Desde as cenas de batalhas até o uso dos sons (tem uma cena de batalha no final, que foi bem divertida e criativa), passando pela construção de mundo dos personagens e chegando nessa atmosfera de horror (algumas cenas até que fazem referência a obras clássicas do gênero). Ele dá muito tempo de tela para o desenvolvimento humano e emocional de cada personagem. Então podemos esperar um Strange e uma Wanda bem mais pensativos e sentimentais em suas ações.
As piadas continuam lá, porém de forma muito reduzida. O diretor conseguiu dar o tom de seriedade que a narrativa precisava. Isso significa que foi algo inovador e fugiu da fórmula Marvel? Não. Não fugiu. Mas no resultado final, parece um filme um pouco mais "diferente" dos outros, ou que ao menos buscou mostrar alguma diferença.
Tem muito fã service. Tem muita referência aos quadrinhos, seja do próprio Estranho, claro, mas também de fases dos Vingadores. Como era de se esperar, têm referências a Wandavision e Loki. É uma história que explora bastante a magia e a feitiçaria do universo Marvel, o certo e o errado entre os personagens e até mesmo o limite deles e seus próprios medos.
Com uma proposta mais séria e madura, "Doutor Estranho no Multiverso da Loucura" cumpriu bem com seu papel e foi bastante objetivo - um dos meus receios é que, por se tratar do multiverso, o roteiro se distanciasse e ficasse muito difícil, mas felizmente isso não ocorreu. Há alguns problemas de cenas anticlimáticas, mas nada que prejudique seriamente o filme. Tem mais violência, cenas que não pensei que veria em um filme da Marvel, tem novos personagens que prometem ser muito importantes para o futuro (afinal, pouco sabemos sobre o multiverso), e aparições de velhos conhecidos. Mais um grande passo da Marvel para expandir e trabalhar seus universos com todas as possibilidades.
É um filme desconfortável, tanto no aspecto técnico quanto em sua história. É verdade que as atuações e a direção de forma geral deixam a desejar, mas tem outro fator que faz o filme se sobressair: o uso da trilha sonora. Não é algo inovador, mas colocar músicas com ritmos que em nada tem relação com o clima da obra ainda é algo que gosto muito, e para mim, nesse filme, funcionou.
É um terror sobre uma família dominada pela figura repressiva do pai, que pega para si todas as características do "homem cidadão de bem, com ótimo emprego, ótima família, uma vida perfeita"... mas que esconde comportamentos doentios. Profundamente misógino, trata as mulheres como seres que precisam ser civilizadas por um homem. A temática do abuso familiar (verbal e físico) também está presente aqui, e eu diria que essas questões são até bem abordadas.
Claro que o fato de parecer um filme "B", muitos podem ignorar as temáticas importantes que o filme aborda, e focar somente no banho de sangue. Mas é algo que certamente vale a pena ser visto.
Como gosto de dizer: nós não esquecemos, a História não esquece. A História tem voz, sons que capturam gerações, imagens que nos mostram quem somos. Esse filme é muito feliz ao tratar sobre essas questões de origens e antepassados, desde o aspecto da maternidade e chegando até um período triste da História espanhola.
Esses dois principais pontos do enredo poderiam ser mais bem conectados, mas o resultado final foi excelente aos meus olhos - e os ultimos trinta minutos de filme, de uma sensibilidade muito precisa, fizeram tudo valer a pena. Aqui temos duas mães que se encontram, que se apoiam, que criam uma rede de proteção uma para a outra - mesmo após fortes revelações. E ambas também estão conectadas ao passado e, cada uma de sua forma, tendo que lidar com ele. A amizade e a cumplicidade que surge desse relacionamento é algo simplesmente humano e bonito. Com os erros e acertos de ambas, mas humano.
É um filme bonito que celebra a História, nos faz pensar sobre nossas relações cotidianas e na nossa própria humanidade - e se estamos esquecendo-a.
É uma "cinebiografia" com uma estrutura diferente da que estamos acostumados a ver, e que infelizmente acaba por não funcionar tão bem. Aqueles momentos das falsas entrevistas com os atores não convence, não se conecta com o ritmo da obra. O filme não expõe muito bem os anos em que cada acontecimento se passa - sabemos somente que é no contexto da conhecida "lista negra de Hollywood", após o fim da segunda guerra mundial e no começo da guerra fria, em que artistas de todas as áreas eram caçados por suas supostas ligações com o comunismo (e até esse contexto histórico, muito importante e interessante, é posto de lado).
A Nicole Kidman está excelente, e sua química com o Javier Bardem é espetacular - muito embora eu tenha achado que ele acabou ficando muito em segundo plano. A Lucille Ball é retratada como uma mulher muito forte, e o Aaron Sorkin deixa isso muito claro ao mostrar várias cenas de reuniões em que ela é a única mulher na sala e ainda assim se faz ouvir. Isso para a Hollywood daquele período era definitivamente algo transgressor, considerando que é um espaço dominado pela figura masculina. Assim, vemos uma mulher se impor com ideias inovadoras diante de um contexto machista, e assim ela passa a ter de fato uma grande presença.
Infelizmente algumas ideias foram perdidas, ou mal executadas no meio do caminho. Do meio para o final, senti que o roteiro estava sendo jogado (se atrapalhava entre o universo pessoal dos protagonistas, seu passado e presente, com os problemas com o comitê e a própria visão deles sobre o show), e o filme não me passou mais segurança. A história de Lucille Ball é de fato muito interessante, mas precisava de mais cuidado em sua execução.
É um filme bastante frio em sua forma de abordar o que é o homem. A figura do "selvagem" e a sua desumanização casam com os sentimentos do personagem de Bradley Cooper, e ao final ele percebe aquilo que ele realmente é. Além do ambicioso e manipulador, é um ser carregado por um passado obscuro, embore tente ser indiferente a ele. É uma construção interessante.
A primeira hora não me agradou muito, pois senti que foi um ritmo muito acelerado
- não houve uma construção do relacionamento de Stan com Molly, por exemplo.
O filme seguia do ponto "a" até o "b" de forma muito rápida, e isso me incomodou (para 2h30m, poderia ter sido mais bem contextualizado). No geral, a história não é nova (o manipulador que cai em desgraça e etc) mas consegue divertir e ainda provocar algumas reflexões.
Um filme com uma abordagem crua sobre a maternidade precoce. É perfeitamente possível questionar as ações da Leda, e ainda assim compreender a personagem e o turbilhão de emoções e memórias que passam por ela. É uma personagem em seu limite, que sente o peso do seu passado, mas que entende perfeitamente o que fez e quem ela é. Olivia Colman, mais uma vez, está um espetáculo. Ótimo filme.
A História de "Belfast" se torna muito mais fácil de ser compreendida e, por consequência apreciada, se procurarmos a própria História de vida do Kenneth Branagh. Esse filme funciona claramente como uma espécie de "autoretrato" da sua infância, no contexto dos conflitos na Irlanda do Norte. É o principal ponto: é uma obra muito pessoal.
E tudo nele funciona muito bem. As atuações estão na medida certa, os personagens são cativantes de sua forma - especialmente o Buddy. Mas o que me deixou hipinotizado foi a qualidade técnica do filme. Belfast tem cenários discretos, porém há uma beleza nessa simplicidade. As imagens e a fotografia são lindas, e a trilha sonora é um caso espetacular que dá um tom diferenciado a obra. Aliás, sobre o roteiro, que fosse mais "cru", mas felizmente teve uma abordagem que também alcançou alguns momentos mais leves e cômicos.
Sou fã do Kenneth Branagh desde que vi "Wallander", e procurei seguir mais da sua carreira. E aqui ele conseguiu novamente. O toque sensível e pessoal está presente em toda a sua direção, que capta um espírito de um tempo difícil para sua cidade natal e para sua família. É realmente um belíssimo trabalho do resgate e respeito as memorias.
"Spencer" é uma cinebiografia sobre Lady Di, "Diana, Princesa de Gales", ou "A Princesa do Povo", ou talvez você prefira "uma das personalidades britânicas mais importantes da História". São muitas as formas de chamar a Lady Diana, muitas que conseguem expressar o incrível fenômeno que sua imagem causou nas últimas décadas do conturbado século XX. Ela definitivamente foi uma das figuras mais expressivas daquele período, e desde então há um extenso material que cobre desde os espaços mais íntimos de sua vida, passando pela conflituosa relação com a Família Real Britânica até as teorias conspiratórias mais absurdas sobre sua morte.
Diana possui uma imagem muito influente ainda hoje, e o filme em questão aborda aspectos intensos da sua personalidade, o conflituoso casamento com Charles, como ela se enxergava e a perseguição que sofria - seja da mídia, seja da sua "nova família". Interessante que toda a história se passa somente no feriado de Natal, e mesmo com um pequeno recorte de dias, é perfeitamente possível entender o aprisionamento que Diana sentia. Os primeiros minutos já mostram uma Diana sofrendo uma pressão que já a desgata física e mentalmente: o controle exercido sobre seu corpo, sobre suas vestimentas, sobre suas próprias palavras. Aqui cabe mencionar um incrível documentário entitulado "Lady Dy: suas últimas palavras" (Diana: In Her Own Words), de 2017, que reúne uma série de entrevistas que a própria Diana deu em 1991. Mostra muito da sua vulnerabilidade diante de um contexto a qual ela não se sentia dona de si mesma.
Esses sentimentos de Diana são muito bem explorados em "Spencer", tanto que a primeira meia hora de filme mostra ela interagindo somente com os funcionários, e em duas cenas com seus filhos, e vemos uma Diana que se sente mais a vontade, porém ainda refém das palavras e do tradicionalismo da realeza.
O roteiro de Steven Knight sabe mostrar o sentimento amargo, essa angústia gritante que mora no silêncio e nos olhares dos personagens, na trilha sonora arrepiante aliada a cenários com um toque de frieza e imagens foscas. Por alguns momentos não parecia um drama, mas uma espécie de terror psicológico, com algumas cenas que são pura aflição. O trabalho do diretor Pablo Larraín foi de uma sensibilidade aguçada para os detalhes, com uma liberdade para reimaginar a Diana, respeitando a sua presença e também sua própria História.
E quanto a Kristen Stewart... Beirou a perfeição. Comentar que ela foi brilhante seria comum. Realmente faltam palavras para descrever tamanha entrega e intensidade. Ela é o pilar do filme, e ainda mais com uma responsabilidade de interpretar uma personalidade que foi tão grande. E ela segurou muito bem. É impossível não ficar aflito ao ver seus olhares de tristeza e dúvida, de raiva e indiferença. Ela flutua pelo roteiro com uma facilidade tremenda, produzindo várias faces de uma única Diana. Foi esplêndido.
Uma cinebiografia. Uma "fábula de uma tragédia verdadeira", como o diretor inseriu no começo. A tragédia do seu casamento e de costumes de uma família real podre que cortavam suas palavras e fizeram com que ela se machucasse. A tragédia que levou a sua vida ao fim. Mas é um fato que Lady Di continua sendo lembrada e celebrada, e que deixou um legado indiscutível que nem mesmo a realeza pode manchar.
Vi potencial, mas no final acaba sendo mais do mesmo do gênero. Ao menos não apelaram para cenas de nudez gratuítas, o que se tornou quase que "obrigatório" em filmes do tipo. As questões dos personagens ficaram somente na superfície, sendo difícil até mesmo se importar com o destino de qualquer um deles -
a que mais consegue despertar alguma empatia é a protagonista, e gostaria de ver mais dela (se houver uma continuação).
Continuo pensando que atualmente um bom caminho para revisitar clássicos do terror seja o formato de série. Chucky, por exemplo, teve uma qualidade muito boa. Talvez possa ser um formato interessante para outras franquias que não conseguem mais se destacar enquanto filme. O universo do Leatherface merece bem mais do que esses últimos longas de gosto duvidoso.
A beleza de um filme é quando ele consegue ser tão profundo e emocional que, sem você perceber, já está conectado e sendo levado pelo enredo, abraçando os personagens e seus dramas. E aqui, fui levado por todos os sentimentos de "No Ritmo do Coração". Que filme importante e representativo.
O roteiro tratou a comunidade surda de uma forma muito sensível, de uma maneira que é impossível para quem assiste não se colocar no lugar daquela familia. Existe muita empatia nesse filme, e tudo feito de uma forma bastante natural. Em determinado momento, o irmão da Ruby questiona que "eles que precisam entrar no nosso mundo"... o que é verdade. Infelizmente, não há grande incentivo para especialização na linguagem, nem mesmo dentro das universidades. Pegue isso com a visão já esteriotipada, errada e repleta de "piadas" sobre pessoas surdas. Imaginem as inúmeras famílias que não tem uma Ruby.
- Quando o coral está se apresentando e gradualmente se estabelece um silêncio, conseguimos ver pela perspectiva da família de Ruby. Isso foi muito forte. Logo em seguida vem a emocionante cena da Ruby cantando para o pai. E a sequência final, quando ela começa a traduzir a letra do que canta para sua família.
Aí não me segurei e chorei muito. Pra mim foi uma obra que teve uma enorme inteligência emocional, que conseguiu mostrar um pouco de uma realidade que nós desconhecemos.
Halloween Ends
2.3 537 Assista AgoraQue decepção enorme vi aqui. Roteiro profundamente mal organizado, direção péssima, montagem de cenas que lembram um filme amador e atuações coadjuvantes caricatas (onde arranjam essas pessoas e dizem que eles são atores?).
O plot do Corey não serviu muito - talvez apenas para mostrar como o problema está naquela cidade, que precisa sempre de um "monstro", de um culpado, e ele acabou internalizando essa culpa e os olhares de "assassino" até pensar de fato que é um. Porém... absolutamente tudo foi extremamente mal executado. E ao final, fica a sensação de que o filme se sairia bem melhor sem essa inserção e sem a interação com a neta da Laurie (feita de maneira genérica e repleto de diálogos que você encontra no filme de romance mais barato). Outra falha bisonha foi terem dado muito tempo para os traumas do Corey, quando nas primeiras cenas já havia ficado bem claro o quanto que ele sofria. Senti falta de um toque de investigação em meio a todos aqueles assassinatos que ele estava cometendo, como se não existisse polícia naquela cidade e como se ninguém fosse sentir a falta de um médico no hospital, por exemplo. Pareceu que queriam mostrar mais esse desenvolvimento do lado violento do Corey, porém não foi bem feito, não conseguiu me prender e me deixar curioso. O personagem, de maneira geral, é ruim e sem presença.
O foco do filme ter sido nessa construção desse personagem genérico foi um grande erro, em minha humilde opinião. E como já falaram aqui, as personalidades dos personagens parecem ter sido modificadas, e para a pior. Até a Laurie sofre um pouco com esse péssimo enredo, mas quem saiu mesmo da linha foi a neta dela.
Eu sinceramente não sei o que aconteceu aqui. Mas absolutamente NADA nesse filme foi bom (exceto os minutos finais, e olhe lá!) e eu estava torcendo tanto para funcionasse.
Hellraiser
3.2 406 Assista AgoraSai positivamente surpreso. Bom elenco, bons personagens e uma história até que bem contada. Visualmente é algo que lembra o aspecto sanguinário dos primeiros filmes, e a maquiagem dos cenobitas está muito bem feita. Gostei bastante. Acho que cabe uma continuação.
Morte Morte Morte
3.1 638 Assista AgoraEU AMEI ESSE SURTO kkkkkkkkkkkkkkkk. Pensei "ah, então seria assim se o twitter fosse um filme".
"A lua dele é em Libra, isso diz muito"
"Você atirou em mim... Com uma arma!"
Striptease
2.7 314 Assista AgoraEu... o que foi isso?
Uma trama que tinha um potencial interessante para ser um drama denso e bonito, mas que se jogou ao completo absurdo e caricato. Não rolou.
Não Fale o Mal
3.6 678Não sabendo que era possível, esse filme foi lá e despertou em mim um novo nível de ódio pela humanidade.
Brutal. Desconfortável.
A Garota da Foto
3.8 139 Assista Agora"Ela tinha tanto a oferecer ao mundo".
Pelos relatos, mesmo de quem nunca a viu, parecia ser uma pessoa encantadora e que, infelizmente, teve a vida destruída por um verme. Aquilo não é um ser humano, e sim a junção de toda a maldade que pode existir. É impossível não ficar surpreso a cada descoberta da investigação sobre aquele ser miserável.
Chorei com o final,
e com as falas da filha dela.
os pais verdadeiros da Suzanne não estavam fazendo nada para encontrar ela? E aí descobrimos que ela têm mais duas irmãs e... os pais não se moveram para procura-las? A forma como a mãe biológica dela fala é como se fosse no automático. O pai, do mesmo jeito. Não dá para captar sentimentos ali. É difícil, aqui do meu lugar e através desse documentário, tentar "entender" possíveis motivações que fazem os pais não procurarem por sua filha raptada. Na realidade... não há. Simples.
Esse documentário foi bem mais forte do que eu pensava, é realmente algo pesado. Mas infelizmente a violência sexual é uma realidade, e ela está presente nos locais onde menos imaginamos. Por isso, a necessidade de permanecer em alerta, de estar sempre atento a sinais de agressão para que vidas como a de Suzanne não sejam tragicamente interrompidas.
Não! Não Olhe!
3.5 1,3K Assista AgoraEstava ansioso para conferir o novo trabalho do Jordan Peele, e não fiquei decepcionado. "Nope" é muito dinâmico, tem uma excelente atmosfera de horror e apresenta traços diferentes dos trabalhos mais conhecidos do diretor, muito embora o seu humor muito bem afiado e seu vasto campo de ideias continuem fortes nessa nova obra.
A tensão é muito bem levada, e gosto quando optam por um tipo de horror que, na maior parte das cenas, é aquilo que "não é visto", ou seja, que atrai pelo silêncio e consegue desequilibrar os personagens com uma espécie de presença invisível, e que quando aparece não apela para a parte gráfica para sustentar o enredo. E com isso temos a apresentação de personagens bastante carismáticos que sustentam bem a história, com destaque para a Keke Palmer que rouba as cenas.
Na minha concepção, o Peele abordou bem essa parte do estranho e do desconhecido. Embora eu pense que o ato final seja um tanto previsível - e aí eu realmente teria gostado de um final um pouco mais "impactante" - isso não tira o brilho do filme.
Órfã 2: A Origem
2.7 773 Assista AgoraAssim...
O plot twist é bem bom, hein. Acaba que no final a gente "torce" para a Lena, porque... a mãe acobertou a morte da própria filha num esquema bizarro com o filho dela. Foi uma ideia interessante, mas poderia ter tomado mais tempo. Uns 15 minutos a mais de filme para melhorar o suspense e deixar ele um pouco mais denso já seriam suficientes, pois a impressão que fica após o momento em que a mãe descobre é que o roteiro agiliza demais os acontecimentos.
Mas, de toda forma, pelo que foi apresentado e considerando que eu não esperava muito, foi uma grata surpresa.
Jurassic World: Domínio
2.8 548 Assista AgoraUm verdadeiro desastre. Nem o retorno de Sam Neil e da Laura Dern conseguem fazer com que a história tenha algum nível de interesse. O roteiro parece jogar várias pontas de qualquer forma, numa trama que é bem rasa. As cenas de ação, em sua maioria, não passam emoção ou sentimento de perigo real para que o espectador tema pelos personagens. O ritmo do filme é constantemente quebrado, seja por piadinhas sem graça (algumas são pura vergonha alheia), seja por diálogos e cenas que simplesmente não se encaixavam. E ao final, não senti uma boa dinâmica entre o elenco, me pareceu muito genérico e sem vida. Completamente esquecível.
Busca Frenética
3.5 103 Assista AgoraBom filme, mais pelo seu começo e até a metade que manteve o bom tom de suspense investigativo e personagens interessantes. Infelizmente parece outro filme em seu final, com cenas beirando ao caricato e muito anticlimáticas. Ainda assim, te prende ali durante um tempo, só o final que poderia ter sido bem melhor.
Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore
3.3 571Me pareceu muito sem objetivo, arrastado, com muitos plots jogados de toda forma e esperando que fizessem sentido. Poderiam facilmente ter tirado pelos menos uns 40 minutos da obra que talvez ajudasse no seu ritmo. Como já falaram aqui, o nome "Animais fantásticos" também não ajuda, é sem sentido e pode até limitar ainda mais o enredo, e poderiam de fato ter dado mais importância na parte dos "segredos" do Dumbledore.
A sensação que fica é de um filme que no final não encontra seu propósito, com cenas muito anticlimáticas, batalhas enfadonhas e personagens não tão interessantes - salvo o Dumbledore do Jude Law. O primeiro filme da série é muito bom, e deveriam ter ficado nele. Ele tem essa essência mais original para a franquia. Mas esse me pareceu uma série de recortes mal feitos, e que poderia ser diferente se tivessem focado de fato na relação Dumbledore/Grindelwald. Enfim, uma decepção.
Thor: Amor e Trovão
2.9 973 Assista AgoraSempre que a crítica "massacra" um filme, tento primeiro não ler nenhuma dessas críticas e não me deixar levar por prints de sites com a porcentagem daqueles que estão gostando da obra. De fato, isso em nada deve influenciar a sua experiência com a produção, dentro do cinema, pois você terá sua própria maneira de recepcionar esse filme. Dito isso... a maneira como recebi "Thor: Amor e Trovão" foi das mais abertas possíveis, confiando no trabalho do Taika (que já havia feito algo muito divertido em "Ragnarok"). Mas infelizmente sai da sessão um pouco decepcionado.
Thor: Amor e Trovão sofre de vários problemas, e para começar devo citar a péssima promoção que a Marvel Studios fez, com um trabalho de propaganda bastante questionável. Talvez aí estivesse o primeiro alerta de que nem o próprio estúdio estava de fato se preocupando com o seu produto. E seguindo para a obra em si, ela não tem um bom enredo, o roteiro é muito simples (não de uma forma boa) não apresenta nenhum perigo real para seus personagens, não emociona e diverte pouco. O humor está ali, e até dá para rir um pouco, mas me pareceu cansativo e repetitivo em outras cenas. Um ponto positivo é a trilha sonora, que é responsável por pregar uma boa intensidade nas bem coreografadas cenas de batalha - que são realmente muito boas, e os efeitos visuais não deixam a desejar. As lutas entre Gorr e Thor são muito boas.
Quanto ao retorno da Natalie Portman, até que gostei. A Poderosa Thor é uma baita personagem nas HQs, uma das melhores já feitas nos últimos anos, e fiquei muito feliz de ver ela adaptada. Mas não sei se foi o "novo" papel, mas a atriz me parecia um pouco deslocada quando estava de “Poderosa Thor”. Claro, foi apenas o primeiro filme dela como a Thor, há uma necessidade de ajuste, e nesse ponto o roteiro até deixa bem claro que ela é a “novata”. O único ponto que para mim que não é problemático é o Christian Bale que faz uma boa entrega como vilão, e levanta questionamentos sobre deuses e crenças (lembrando que é de forma bem superficial, pois não é um filme para produzir reflexões existenciais) e sua caracterização está perfeita.
Acho que o filme tem problemas, sim. Em determinado ponto, senti que o roteiro pareceu facilitar demais para os personagens, e o ritmo vai ficando cada vez mais rápido como se houvesse uma pressa em concluir. Mas, de toda forma, é preciso dizer que ele serviu para expandir o universo cósmico da Marvel ao mostrar mais planetas, ao inserir um personagem de extrema importância do universo dos quadrinhos (muito embora aqui tenham dado uma derrapada nos efeitos no momento de representa-lo) e mostrou que ainda há muitas possibilidades para o universo do Thor.
O Mensageiro do Último Dia
2.6 163 Assista AgoraDemasiadamente longo e absurdamente pretensioso. Falha ao tentar contar uma história sobrenatural mais complexa. E as atuações são horríveis. A direção é interessante em algumas cenas.
O Homem do Norte
3.7 945 Assista Agora"The Northman" é forte, de uma beleza técnica fantástica e uma história maravilhosa que mergulha profundamente na mitologia nórdica. Esse é apenas o terceiro filme da carreira do diretor Robert Eggers, e também o terceiro que é sucesso de crítica e público. O trabalho desse diretor é simplesmente incrível e certamente figura entre os melhores da atualidade.
O roteiro é maravilhoso, uma tragédia bem contada. A vingança e o mais puro sentimento de ódio move o personagem Amleth, brilhantemente vivido por Alexander Skarsgård, em uma verdadeira jornada de violência. Nesse tempo, ele encontra Olga (Anya Taylor-Joy, que mais uma vez repete a parceira com Eggers após o também maravilhoso "A Bruxa"), e com ela passa a dividir seu destino.
É verdade que podemos apontar que a história se torna um pouco previsível do ponto de vista do que realmente aconteceu com a família de Amleth, mas sinceramente isso em nada é negativo nesse caso, pois os personagens tem camadas e motivações interessantes, e juntando a isso temos todo o misticismo nórdico que engloba a obra. E assim nós ganhamos uma história rica de referências, que se preocupa com os detalhes da mitologia que representa, desde os cenários bem detalhados ao cuidado com as palavras e a forma como os diálogos são feitos entre os atores.
O Eggers é um gênio em aproveitar os belíssimos cenários de gravação, e também na forma como usa as cenas mais escuras para adicionar camadas de cores e contrastar com a cores mais vibrantes. Ele consegue fazer essas transições de forma perfeita, e uma cena em específica me lembrou muito "O Sétimo Selo", do Ingmar Bergman.
Skarsgård entregou o que, na minha opinião, foi a melhor atuação da sua carreira, e mostra todo seu comprometimento com o papel. Ele consegue encarnar esse personagem que deve ter exigido muito dele fisicamente. E a Anya Taylor-Joy fica em segundo plano, mas faz uma boa dupla com o ator sueco.
Um excelente drama (com muito suspense) que não busca romantizar a mitologia nórdica. E embora o tema da vingança não seja apresentado da maneira mais inovadora, ainda é muito funcional dentro daquele universo. Robert Eggers acertou. De novo.
Doutor Estranho no Multiverso da Loucura
3.5 1,2K Assista Agora"Doutor Estranho: No Multiverso da Loucura" é um excelente filme, bem amarrado e que cumpre com seu propósito. Confesso que estava com expectativas para ver um ou outro personagem e mais "eventos", digamos assim. Mas nesse ponto a culpa em nada é da obra, e sim de quem cria todo um espaço daquilo que quer ver e como quer ver. E parece que o roteiro meio que conseguiu "prever" essas expectativas, e conseguiu ser muito "pé no chão" com seu objetivo. Por mais que trabalhe esses conceitos malucos do multiverso, ele se mantém firme a um determinado limite e não engana o espectador durante aquelas duas horas. É como se o Sam Raimi estivesse dizendo "por enquanto, nós só vamos mostrar até aqui, mas vocês estão vendo o tanto de coisas que ainda podemos fazer".
Por falar em Sam Raimi, a direção dele foi muito efetiva. Desde as cenas de batalhas até o uso dos sons (tem uma cena de batalha no final, que foi bem divertida e criativa), passando pela construção de mundo dos personagens e chegando nessa atmosfera de horror (algumas cenas até que fazem referência a obras clássicas do gênero). Ele dá muito tempo de tela para o desenvolvimento humano e emocional de cada personagem. Então podemos esperar um Strange e uma Wanda bem mais pensativos e sentimentais em suas ações.
As piadas continuam lá, porém de forma muito reduzida. O diretor conseguiu dar o tom de seriedade que a narrativa precisava. Isso significa que foi algo inovador e fugiu da fórmula Marvel? Não. Não fugiu. Mas no resultado final, parece um filme um pouco mais "diferente" dos outros, ou que ao menos buscou mostrar alguma diferença.
Tem muito fã service. Tem muita referência aos quadrinhos, seja do próprio Estranho, claro, mas também de fases dos Vingadores. Como era de se esperar, têm referências a Wandavision e Loki. É uma história que explora bastante a magia e a feitiçaria do universo Marvel, o certo e o errado entre os personagens e até mesmo o limite deles e seus próprios medos.
Com uma proposta mais séria e madura, "Doutor Estranho no Multiverso da Loucura" cumpriu bem com seu papel e foi bastante objetivo - um dos meus receios é que, por se tratar do multiverso, o roteiro se distanciasse e ficasse muito difícil, mas felizmente isso não ocorreu. Há alguns problemas de cenas anticlimáticas, mas nada que prejudique seriamente o filme. Tem mais violência, cenas que não pensei que veria em um filme da Marvel, tem novos personagens que prometem ser muito importantes para o futuro (afinal, pouco sabemos sobre o multiverso), e aparições de velhos conhecidos. Mais um grande passo da Marvel para expandir e trabalhar seus universos com todas as possibilidades.
A Mulher do Pântano
2.9 304 Assista AgoraÉ um filme desconfortável, tanto no aspecto técnico quanto em sua história. É verdade que as atuações e a direção de forma geral deixam a desejar, mas tem outro fator que faz o filme se sobressair: o uso da trilha sonora. Não é algo inovador, mas colocar músicas com ritmos que em nada tem relação com o clima da obra ainda é algo que gosto muito, e para mim, nesse filme, funcionou.
É um terror sobre uma família dominada pela figura repressiva do pai, que pega para si todas as características do "homem cidadão de bem, com ótimo emprego, ótima família, uma vida perfeita"... mas que esconde comportamentos doentios. Profundamente misógino, trata as mulheres como seres que precisam ser civilizadas por um homem. A temática do abuso familiar (verbal e físico) também está presente aqui, e eu diria que essas questões são até bem abordadas.
Claro que o fato de parecer um filme "B", muitos podem ignorar as temáticas importantes que o filme aborda, e focar somente no banho de sangue. Mas é algo que certamente vale a pena ser visto.
Mães Paralelas
3.7 411Como gosto de dizer: nós não esquecemos, a História não esquece. A História tem voz, sons que capturam gerações, imagens que nos mostram quem somos. Esse filme é muito feliz ao tratar sobre essas questões de origens e antepassados, desde o aspecto da maternidade e chegando até um período triste da História espanhola.
Esses dois principais pontos do enredo poderiam ser mais bem conectados, mas o resultado final foi excelente aos meus olhos - e os ultimos trinta minutos de filme, de uma sensibilidade muito precisa, fizeram tudo valer a pena. Aqui temos duas mães que se encontram, que se apoiam, que criam uma rede de proteção uma para a outra - mesmo após fortes revelações. E ambas também estão conectadas ao passado e, cada uma de sua forma, tendo que lidar com ele. A amizade e a cumplicidade que surge desse relacionamento é algo simplesmente humano e bonito. Com os erros e acertos de ambas, mas humano.
É um filme bonito que celebra a História, nos faz pensar sobre nossas relações cotidianas e na nossa própria humanidade - e se estamos esquecendo-a.
Apresentando os Ricardos
3.2 179É uma "cinebiografia" com uma estrutura diferente da que estamos acostumados a ver, e que infelizmente acaba por não funcionar tão bem. Aqueles momentos das falsas entrevistas com os atores não convence, não se conecta com o ritmo da obra. O filme não expõe muito bem os anos em que cada acontecimento se passa - sabemos somente que é no contexto da conhecida "lista negra de Hollywood", após o fim da segunda guerra mundial e no começo da guerra fria, em que artistas de todas as áreas eram caçados por suas supostas ligações com o comunismo (e até esse contexto histórico, muito importante e interessante, é posto de lado).
A Nicole Kidman está excelente, e sua química com o Javier Bardem é espetacular - muito embora eu tenha achado que ele acabou ficando muito em segundo plano. A Lucille Ball é retratada como uma mulher muito forte, e o Aaron Sorkin deixa isso muito claro ao mostrar várias cenas de reuniões em que ela é a única mulher na sala e ainda assim se faz ouvir. Isso para a Hollywood daquele período era definitivamente algo transgressor, considerando que é um espaço dominado pela figura masculina. Assim, vemos uma mulher se impor com ideias inovadoras diante de um contexto machista, e assim ela passa a ter de fato uma grande presença.
Infelizmente algumas ideias foram perdidas, ou mal executadas no meio do caminho. Do meio para o final, senti que o roteiro estava sendo jogado (se atrapalhava entre o universo pessoal dos protagonistas, seu passado e presente, com os problemas com o comitê e a própria visão deles sobre o show), e o filme não me passou mais segurança. A história de Lucille Ball é de fato muito interessante, mas precisava de mais cuidado em sua execução.
O Beco do Pesadelo
3.5 496 Assista AgoraÉ um filme bastante frio em sua forma de abordar o que é o homem. A figura do "selvagem" e a sua desumanização casam com os sentimentos do personagem de Bradley Cooper, e ao final ele percebe aquilo que ele realmente é. Além do ambicioso e manipulador, é um ser carregado por um passado obscuro, embore tente ser indiferente a ele. É uma construção interessante.
A primeira hora não me agradou muito, pois senti que foi um ritmo muito acelerado
- não houve uma construção do relacionamento de Stan com Molly, por exemplo.
A Filha Perdida
3.6 573Um filme com uma abordagem crua sobre a maternidade precoce. É perfeitamente possível questionar as ações da Leda, e ainda assim compreender a personagem e o turbilhão de emoções e memórias que passam por ela. É uma personagem em seu limite, que sente o peso do seu passado, mas que entende perfeitamente o que fez e quem ela é. Olivia Colman, mais uma vez, está um espetáculo. Ótimo filme.
Belfast
3.5 291 Assista AgoraA História de "Belfast" se torna muito mais fácil de ser compreendida e, por consequência apreciada, se procurarmos a própria História de vida do Kenneth Branagh. Esse filme funciona claramente como uma espécie de "autoretrato" da sua infância, no contexto dos conflitos na Irlanda do Norte. É o principal ponto: é uma obra muito pessoal.
E tudo nele funciona muito bem. As atuações estão na medida certa, os personagens são cativantes de sua forma - especialmente o Buddy. Mas o que me deixou hipinotizado foi a qualidade técnica do filme. Belfast tem cenários discretos, porém há uma beleza nessa simplicidade. As imagens e a fotografia são lindas, e a trilha sonora é um caso espetacular que dá um tom diferenciado a obra. Aliás, sobre o roteiro, que fosse mais "cru", mas felizmente teve uma abordagem que também alcançou alguns momentos mais leves e cômicos.
Sou fã do Kenneth Branagh desde que vi "Wallander", e procurei seguir mais da sua carreira. E aqui ele conseguiu novamente. O toque sensível e pessoal está presente em toda a sua direção, que capta um espírito de um tempo difícil para sua cidade natal e para sua família. É realmente um belíssimo trabalho do resgate e respeito as memorias.
Spencer
3.7 569 Assista Agora"Spencer" é uma cinebiografia sobre Lady Di, "Diana, Princesa de Gales", ou "A Princesa do Povo", ou talvez você prefira "uma das personalidades britânicas mais importantes da História". São muitas as formas de chamar a Lady Diana, muitas que conseguem expressar o incrível fenômeno que sua imagem causou nas últimas décadas do conturbado século XX. Ela definitivamente foi uma das figuras mais expressivas daquele período, e desde então há um extenso material que cobre desde os espaços mais íntimos de sua vida, passando pela conflituosa relação com a Família Real Britânica até as teorias conspiratórias mais absurdas sobre sua morte.
Diana possui uma imagem muito influente ainda hoje, e o filme em questão aborda aspectos intensos da sua personalidade, o conflituoso casamento com Charles, como ela se enxergava e a perseguição que sofria - seja da mídia, seja da sua "nova família". Interessante que toda a história se passa somente no feriado de Natal, e mesmo com um pequeno recorte de dias, é perfeitamente possível entender o aprisionamento que Diana sentia. Os primeiros minutos já mostram uma Diana sofrendo uma pressão que já a desgata física e mentalmente: o controle exercido sobre seu corpo, sobre suas vestimentas, sobre suas próprias palavras. Aqui cabe mencionar um incrível documentário entitulado "Lady Dy: suas últimas palavras" (Diana: In Her Own Words), de 2017, que reúne uma série de entrevistas que a própria Diana deu em 1991. Mostra muito da sua vulnerabilidade diante de um contexto a qual ela não se sentia dona de si mesma.
Esses sentimentos de Diana são muito bem explorados em "Spencer", tanto que a primeira meia hora de filme mostra ela interagindo somente com os funcionários, e em duas cenas com seus filhos, e vemos uma Diana que se sente mais a vontade, porém ainda refém das palavras e do tradicionalismo da realeza.
O roteiro de Steven Knight sabe mostrar o sentimento amargo, essa angústia gritante que mora no silêncio e nos olhares dos personagens, na trilha sonora arrepiante aliada a cenários com um toque de frieza e imagens foscas. Por alguns momentos não parecia um drama, mas uma espécie de terror psicológico, com algumas cenas que são pura aflição. O trabalho do diretor Pablo Larraín foi de uma sensibilidade aguçada para os detalhes, com uma liberdade para reimaginar a Diana, respeitando a sua presença e também sua própria História.
E quanto a Kristen Stewart... Beirou a perfeição. Comentar que ela foi brilhante seria comum. Realmente faltam palavras para descrever tamanha entrega e intensidade. Ela é o pilar do filme, e ainda mais com uma responsabilidade de interpretar uma personalidade que foi tão grande. E ela segurou muito bem. É impossível não ficar aflito ao ver seus olhares de tristeza e dúvida, de raiva e indiferença. Ela flutua pelo roteiro com uma facilidade tremenda, produzindo várias faces de uma única Diana. Foi esplêndido.
Uma cinebiografia. Uma "fábula de uma tragédia verdadeira", como o diretor inseriu no começo. A tragédia do seu casamento e de costumes de uma família real podre que cortavam suas palavras e fizeram com que ela se machucasse. A tragédia que levou a sua vida ao fim. Mas é um fato que Lady Di continua sendo lembrada e celebrada, e que deixou um legado indiscutível que nem mesmo a realeza pode manchar.
"Em nome de quem?"
"... Spencer".
O Massacre da Serra Elétrica: O Retorno de Leatherface
2.2 697 Assista AgoraVi potencial, mas no final acaba sendo mais do mesmo do gênero. Ao menos não apelaram para cenas de nudez gratuítas, o que se tornou quase que "obrigatório" em filmes do tipo. As questões dos personagens ficaram somente na superfície, sendo difícil até mesmo se importar com o destino de qualquer um deles -
a que mais consegue despertar alguma empatia é a protagonista, e gostaria de ver mais dela (se houver uma continuação).
Continuo pensando que atualmente um bom caminho para revisitar clássicos do terror seja o formato de série. Chucky, por exemplo, teve uma qualidade muito boa. Talvez possa ser um formato interessante para outras franquias que não conseguem mais se destacar enquanto filme. O universo do Leatherface merece bem mais do que esses últimos longas de gosto duvidoso.
No Ritmo do Coração
4.1 754 Assista AgoraA beleza de um filme é quando ele consegue ser tão profundo e emocional que, sem você perceber, já está conectado e sendo levado pelo enredo, abraçando os personagens e seus dramas. E aqui, fui levado por todos os sentimentos de "No Ritmo do Coração". Que filme importante e representativo.
O roteiro tratou a comunidade surda de uma forma muito sensível, de uma maneira que é impossível para quem assiste não se colocar no lugar daquela familia. Existe muita empatia nesse filme, e tudo feito de uma forma bastante natural. Em determinado momento, o irmão da Ruby questiona que "eles que precisam entrar no nosso mundo"... o que é verdade. Infelizmente, não há grande incentivo para especialização na linguagem, nem mesmo dentro das universidades. Pegue isso com a visão já esteriotipada, errada e repleta de "piadas" sobre pessoas surdas. Imaginem as inúmeras famílias que não tem uma Ruby.
O filme me pegou muito em três momento:
- Quando o coral está se apresentando e gradualmente se estabelece um silêncio, conseguimos ver pela perspectiva da família de Ruby. Isso foi muito forte. Logo em seguida vem a emocionante cena da Ruby cantando para o pai. E a sequência final, quando ela começa a traduzir a letra do que canta para sua família.
Aí não me segurei e chorei muito. Pra mim foi uma obra que teve uma enorme inteligência emocional, que conseguiu mostrar um pouco de uma realidade que nós desconhecemos.