Como lidar com a perda de um ente querido? A resposta encontrada em Demolition, novo longa de Jean-Marc Vallée, talvez não seja repassada ao espectador da forma mais sútil, mas ainda assim é extremamente notória e eficaz.
O componente emocional funciona bem para esse tipo de dramédia. Os cinco minutos iniciais deixam o público em um estado de apreensão, buscando entender como Davis iria agir depois de tamanha tragédia. Mas sua aparente falta de sentimentos – nenhuma lágrima verdadeira sai de seus olhos – passa a chamar a atenção dos que estão ao seu lado. É o gancho que o diretor precisava para vender um personagem extremamente atípico.
A construção do roteiro é muito sólida. A demolição do título é demonstrada de forma visual e simbólica, a partir de um punhado de cenas em que Davis aparece destruindo um computador, sua geladeira e até mesmo sua casa. Ao mesmo tempo, é compreendendo a real noção da falta de Julie em sua vida que ele passa a assumir um comportamento diferente perante seus amigos, deixando de lado sua postura fria e profissional para contemplar o mundo como ele é, prestando atenção em pequenos detalhes.
Demolition confirma a excelente fase vivida por Gyllenhaal. Recentemente, suas atuações em Enemy, Nightcrawler e Southpaw apenas mostram toda sua genialidade. O ator tem uma facilidade impressionante de se adaptar aos mais variados estilos de diretores, e consegue tirar o máximo de cada roteiro – seja com entonações diferentes ou com expressões que demonstram a complexa personalidade dos seus personagens. E também curiosa a mudança de foco do diretor. Seus últimos dois filmes (Dallas Buyers Club e Wild) apostaram alto na história de superação pessoal. Neste caso, apesar do padrão do protagonista forte ser o mesmo, existe toda uma contextualização em volta de um sangramento interno que parece que pode ser contido pelo tempo. É por conta de tudo isso que a cena final de Demolition praticamente dividiu a audiência entre aqueles que entenderam a proposta geral com os que consideraram a trama fajuta.
Infelizmente a distribuição de Demolition foi comprometida pela Fox Searchlight – mesmo com a boa estreia no Festival de Toronto do último ano. O resultado foi uma curta passagem pelos cinemas dos Estados Unidos e lançamentos pingados no mercado europeu. No entanto, o filme tem tudo para se consolidar como uma das principais opções desta temporada nos serviços de streaming – tanto pelo seu protagonista quanto pela direção caprichada de Vallée.
Zaytoun é considerado um desses filmes capazes de mudar a ideia do telespectador ou, ao menos reacender alguns aspectos humanitários naqueles que já se encontram incrédulos quando o assunto abordado relaciona-se ao conflito árabe-israelense e sua longevidade. Um cenário de muita violência e devastação em Beirute em plena guerra do Líbano de 1982. Recomendo que assista legendado, porque a dublagem deixa o filme muito tosco.
É inegável que a ideia por trás de Sabotage é muito interessante. Tentar adaptar o clássico And Then There Were None de Agatha Christie para o submundo do crime foi uma arriscada aposta que poderia render bons frutos. Mas entre drogas, tiros, traição e muita violência, o roteiro deixa todo seu potencial de lado para focar na persona de Arnold Schwarzenegger, a grande estrela do longa, e trazer um kill-em-up preso a velhos clichês deste gênero.
Por melhor que seja a atuação de Arnold, que dá bastante credibilidade ao personagem principal, na metade final do longa parece que a história do sumiço do dinheiro fica de lado apenas para Wharton resolver seus problemas com o cartel. É notável que o diretor David Ayer explorou a figura de seu ator principal a todo custo em detrimento ao andamento do filme, inclusive apostando em um improvável romance entre John e Caroline. Outra coisa que irrita é a movimentação da câmera, que ora tenta repetir o estilo de End of Watch, ora foca excessivamente nas expressões faciais de Schwarzenegger. O elenco de apoio é integrado por nomes como Terrence Howard e Joe Manganiello, que não conseguem tempo suficiente na tela para provar a que vieram justamente pelo enfoque excessivo em Arnold.
Muito mais violento do que Agatha Christie poderia imaginar, Sabotage se torna cansativo pelos vários tiroteios sem sentido e pelos desfechos previsíveis das situações apresentadas. A trilha sonora falha ao tentar criar um ambiente de mistério e os roteiristas prepararam uma surpresa que na verdade não condiz com toda a tentativa de tornar o caso mais absurdo do que deveria ser.
Bem para começa, cinema não é bufê, logo alguns conservadores não passaram do primeiro ato.
Do ponto de vista técnico o filme é bom: de cara a fotografia e a música se destacam e como se nos fosse dado um golpe de chave de braço, ficamos presos ao filme no início a uma história que nos conta mais pelos seus silêncios do que pelos diálogos.
Ponto para a direção de Karim Aïnouz que conseguiu tirar dos atores Wagner Moura e Jesuíta Barbosa interpretações incríveis em cenas em que ambos dispensam a fala e se comunicam de formas menos usuais.
A questão da homossexualidade, não é o foco da história, embora o personagem central da trama seja gay, os conflitos que se estabelecem vão muito além de sua orientação sexual. De tal forma que o fato dele ser gay, acaba por ser um detalhe, isso se deve muito a excelente atuação de Wagner Moura que não caiu no erro de compor um personagem estereotipado e a sensível direção de Karin que conseguiu fazer com que o assunto fosse absorvido de forma mais orgânica pelo público.
A trilha sonora é melancólica e expressiva, ela aparece nos momentos mais felizes do filme, como a cena da balada e a cena onde o casal aparece na encosta do mar. Uma escolha bastante interessante, que dá a nós telespectadores a possibilidade de interpretar que talvez toda aquela felicidade mostrada nas imagens não seja real. E que a música neste caso esteja desempenhando o papel do eu interior que comumente tentamos disfarçar e ignorar.
Talvez o ponto mais interessante do filme seja o fato de ele nos prender mesmo com tão poucos diálogos, sem dúvida o roteiro ajudou muito nesse sentido, apesar de ser parado, monótono e fraco.
É um filme que vale a pena conferir para não dizer que você não assisti filmes nacionais, para quem gosta de um bom filme é um prato cheio para analisar, e para quem diz que o cinema nacional não produz nada de bom é uma grande chance para ter uma opinião.
Começa bem, fica perdido, volta ficar bom, se perde de novo, e por fim, não tem um fim que te convença, mas dá para assistir, uma vez que a ideia é baseada no livro de Stephen King.
Se o filme seguisse uma visão crítica – a partir da análise da interferência dos EUA em um território estrangeiro, certamente teríamos um bom produto final, com amplas possibilidades de discussões. Mas não é o caso. A jornalista logo se envolve com um fotógrafo escocês (Martin Freeman) – e aprende a lógica da ‘beleza de Cabul’ – que avalia o grau de atração de uma mulher. Para sustentar essa argumentação, Margot Robbie interpreta uma repórter desesperada por sexo, e Billy Bob Thornton mais uma vez dá vida a um general durão, com poucas linhas de diálogo.
O que mais perturba em WTF é a consistente tentativa de fazer seu espectador engolir uma xenofobia através de piadas secundárias. Fey dá vida a uma personagem vazia, sem nenhuma consideração com o sofrimento das milhares de pessoas que morriam diariamente na guerra. Ao contrário, tão logo ela descobre a traição de seu ex-namorado, ela passa a frequentar inúmeras festas. Durante todo o filme temos uma visão de uma americana branca – que tenta se colocar no papel de oprimida – para uma sociedade acostumada a denegrir culturas diferentes e abraçar grandes generalizações.
Ficarra e Requa tentam emular parte da lógica do filme de maior sucesso em suas filmografias – I Love You Phillip Morris – com um melodrama repleto de falsos moralismos. O problema é que o problemático contexto de WTF não permite esse tipo de brincadeira rasa e descompromissada. E é justamente pela falta de feeling que Whiskey Tango Foxtrot teve uma modesta recepção nos Estados Unidos – o que restringiu muito sua distribuição mundial.
Bryan Cranston merece um Globo de Ouro e um Emmy por sua interpretação. Quem viveu com o presidente Johnson sempre relatava certo constrangimento por conta do chamado ‘Johnson Treatment’ – uma técnica de persuasão do político que envolvia gestos, gritarias e contato físico. All the Way explora este método a partir de cenas em que LBJ discute com Luther King (Anthony Mackie) e com o Senador Richard Russell (Frank Langella)- os dois principais coadjuvantes de All The Way, sobre o esboço do documento que seria levado ao Congresso como Lei dos Direitos Civis de 1964.
O impressionante elenco de apoio impressiona. Nomes da política como o assessor de LBJ, Walter Jenkins (Todd Weeks), envolvido em um escândalo homossexual em 1964, o diretor do FBI, J. Edgar Hoover (Stephen Root), e o líder da ala liberal dos democratas, Hubert Humphrey (Bradley Whitford) dão uma boa dimensão das negociatas para LBJ conseguir seus objetivos. Como proposta da peça, infelizmente o cenário externo fica de lado, com breves passagens sobre a União Soviética e sobre a investida no Vietnã.
All the Way é, sem sombra de dúvidas, um dos melhores filmes feitos para a TV deste milênio. A atuação de luxo de Cranston apenas coroa uma produção que já era consagrada no teatro. Mérito da HBO.
Muito antes dos casos sobrenaturais serem alvo de programas diários em canais como History, Discovery e National Geographic, o casal Ed e Lorraine Warren fazia sucesso nas principais redes dos Estados Unidos com especiais que atingiam altos índices de audiência. A curiosidade do público em saber detalhes de situações que envolviam espíritos e casas mal assombradas teve seu auge na década de 1970. Em The Conjuring 2 (Invocação do Mal 2, no Brasil), o diretor James Wan apresenta mais um capítulo de sua série sobre o casal, desta vez com uma dos casos mais controversos da Inglaterra.
O segundo capítulo apresenta uma interessante transformação estrutural: deste vez, existe um interesse muito maior em assustar com os tradicionais clichês – já que a exploração da criança é justificada pela história “real”*. A fotografia é bastante interessante, e explora bem os tons negros para, junto de uma eficaz trilha sonora, gerar um ambiente de tensão muito forte. Mas ao mesmo tempo que existem cenas maduras, sólidas e bem construídas – como as tomadas introdutórias e finais – o filme tem uma quantidade expressiva de cenas um tanto quanto desnecessárias, especialmente as que envolvem Lorraine e suas visões, que poderiam facilmente ser cortadas até para diminuir o tempo final de rodagem (de mais de duas horas). Em suma, como filme de terror, Wan entrega um resultado bom, mas que perde o fôlego pela falta de inovação e pelo uso de velhos truques do gênero.
The Conjuring tem tudo para se fixar com uma franquia, tendo em vista a vasta carreira de Ed e Lorraine. No entanto, Wan precisa tomar uma grande decisão: focar no terror – pura e simplesmente – ou tomar posição, abraçar os escritos dos dois pesquisadores americanos e manter uma proximidade ‘histórica’ com os registros de ambos, se é que isto é possível, tendo em vista a alta porção de acadêmicos céticos. Caso o diretor opte pela mesma fórmula deste segundo filme, infelizmente o futuro da série pode estar comprometido, já que cairá no mesmo ciclo repetitivo e tendencioso produzido em Hollywood, onde um grito vale muito mais do que um bom roteiro.
Desde 1968, pelo menos um filme com forte teor político é lançado justamente no ano de eleição presidencial. Em 2016, os holofotes estavam voltados para 13 Hours: The Secret Soldiers of Benghazi(13 Horas: Os Soldados Secretos de Benghazi, no Brasil). No entanto, o diretor Michael Bay decidiu respeitar o livro homônimo escrito por Mitchell Zuckoff, que foi a base para a composição do roteiro, e nem sequer tratou sobre o papel do Departamento de Estado comandado por Hillary Clinton em um dos fatos mais estudados da política externa americana dos últimos anos. Disso tudo, surge uma grande questão: será que o filme foi concebido apenas para o entretenimento? Caso a resposta seja negativa, então por qual motivo o longa não levou adiante uma discussão necessária sobre a interferência dos Estados Unidos na Líbia e a subsequente falta de comunicação de Clinton e de seus auxiliares com o comando militar do Oriente Médio?
Jack Da Silva (John Krasinski) e seu parceiro Tyrone “Rone” Woods (James Badge Dale) acabam de chegar à missão da CIA na Líbia, que tenta se reconstruir após a revolução. No dia 11 de setembro de 2012, o posto americano em Benghazi é atacado por rebeldes – e junto de outros quatro atiradores, Jack e Rone tem a missão de proteger o Embaixador e os demais empregados do local.
Apesar de todas as ressalvas, não se pode deixar de lado a boa atuação de John Krasinski e cia. O filme tem ótimas cenas de troca de tiro e capta muito bem a tensão de um grupo de homens isolados em um país extremamente hostil em uma missão que sequer constava oficialmente nos registros da CIA. Como é de praxe – o diretor busca refúgio sentimental nas famílias dos agentes envolvidos, criando um campo para que o espectador se envolva ainda mais na história apresentada – especialmente o americano.
Por abordar um fato polêmico, que deve ser profundamente discutido no campo acadêmico somente após a liberação oficial dos arquivos – o que deve demorar alguns bons anos – 13 Hours diferencia-se por completo de American Sniper. Clint Eastwood não teve dificuldade nenhuma em elencar um herói e vários vilões em sua história – mas Bay, justamente por não querer ser demasiado político, monta sua narrativa com um grande foco na ação. Ou seja, temos aqui dois casos típicos de História do Tempo Presente. Enquanto uma produção já fixa suas bases, a outra deixa tudo aberto, e não aponta culpados. O fato é que o cinema, como ferramenta que é, tem o papel não só de informar e contextualizar, mas também de tomar partido. E essa pegada em cima do muro, de não querer criticar – independente do certo ou errado – que incomoda.
Mas não tenha dúvidas: em nenhum momento Bay pensa em questionar a legitimidade da missão americana na Líbia, nem mesmo o impacto no final da ditadura de Muammar Gaddafi. As várias tomadas de exaltação à bandeira dos Estados Unidos e tomadas no mínimo questionáveis sobre a moral estadunidense tornam o filme duro de engolir para o espectador externo – ou mesmo para o americano mais crítico.
Foster é notável. O toque e andamento do roteiro escrito por Alan Di Fiore, Jim Kouf e Jamie Linden é bastante agradável, com várias passagens tensas e muita movimentação, o que impressiona pelos poucos personagens envolvidos. A atuação de Clooney e de O’Connel são boas o suficiente para manter a atenção, com boas contribuições de Roberts, que serve como um fio de equilíbrio.
Obviamente, existe um número considerável de situações que são agravadas pela decisão de mesclar o tradicional thriller com uma situação de sequestro – tão explorada por Hollywood. Infelizmente, tão logo que os motivos de Kyle ficam claros, o filme perde uma porção considerável de momentum, e o foco volta-se apenas para a resolução dos possíveis crimes cometidos pela empresa comandada pelo persongem de Dominic West, que estaria envolvido com em negócios ilegais na África do Sul.
Money Monster está longe de ser um filme que figure como destaque na filmografia de Clooney e de Roberts, mas isso não quer dizer, necessariamente, de que estamos tratando de um filme ruim ou mal produzido. Pelo contrário, dependendo da pretensão do público, o longa é capaz oferecer um bom programa casual – e nada mais que isso.
Triple 9 parte da retórica ‘anti-clichê’, mas que é tão mal utilizada que o filme acaba caindo em contradição diversas vezes. O roteiro base de Matt Cook é sólido, tanto é que acabou sendo referenciado na Black List de 2010 – que seleciona os melhores guiões que ainda não haviam sido alvo de produção cinematográfica. No entanto, o diretor John Hillcoat erra absurdamente ao fazer da imprevisibilidade seu pilar de apoio, deixando de lado a construção da personalidade de personagens importantes. Winslet, por exemplo, nada faz além de falar inglês com sotaque. Seus objetivos nunca ficam inteiramente claros. E isto não acontece – ao contrário do que se pode pensar – por uma tentativa de trazer um tom misterioso ao filme, mas pela falha de abrir espaço para contextos e mais diálogos.
A fotografia de Nicholas Karakatsanis ganha espaço para mostrar uma Atlanta colorida e viva. Aliás, a opção pela cidade nunca é claramente discutida – e fica claro que a seleção do Estado da Geórgia para a rodagem ocorreu apenas pela isenção de impostos. A atuação do elenco é boa, com destaque especial para Anthony Mackie. Mas Aaron Paul, Affleck e Harrelson apenas repetem atuações que cansaram de fazer em sua carreira – um homem arrependido e abatido, um homem que não vê a maldade perto de si e um homem bêbado/drogado que tem uma percepção de mundo ímpar, respectivamente.
Para uma produção que não teve qualquer dificuldade de financiamento e que teve amplo apoio doméstico de propaganda e distribuição, Triple 9 decepciona quando se leva em conta o potencial que Cook tinha em mãos. No entanto, oferece uma opção viável de entretenimento e algumas boas cenas de ação.
A maior polêmica, sem sombra de dúvidas, está na interpretação de Affleck. Sua estreia era esperada por Hollywood, e o ator carregava nas costas o peso de substituir Christian Bale, unanimidade tanto na Warner quanto com os fãs do homem morcego. Os produtores optaram por uma renovação na identidade visual – o que causa uma desagradável estranheza. Ao contrário dos excelentes filmes da trilogia anterior, o Batman de Ben Affleck é lento, e parece ser muito mais dependente de seus gadgets. Na cena do combate com Superman, o traje lembra o de um robô, descaraterizando completamente o perfil do personagem. As poucas linhas de diálogo e a necessidade por frases marcantes para reafirmar território lembram o vexame da interpretação de Clooney. Mas isso não quer dizer que Ben não possa se tornar um bom Batman: é necessário sentar e repensar o personagem como todo. Enquanto Bruce Wayne, sua atuação não compromete – com boas tomadas que buscam reforçar suas expressões faciais. O lado galanteador fica de lado pela necessidade de divisão do tempo de tela – o que é extremamente compreensível. Acredito que Affleck tenha em mente reestruturar e deixar seu Batman o mais próximo possível de Bale, visto que sua interpretação neste filme beira o fracasso. No caso de Henry Cavill, a situação é um pouco melhor. Ele fixou sua imagem após ser bem recebido com sua atuação em Man of Steel, mas seu potencial é cortado pela raiz na medida em que o filme avança e abre campo para personagens secundários, como a Mulher Maravilha e Lois entrarem na história. Por conta disso, Eisenberg é quem mais consegue entreter, com uma despojada interpretação, que é um refresco no meio dos dois heróis durões.
As cenas de confronto são vazias, e nem mesmo os efeitos especiais – que foram alvo de imensa propaganda por parte dos produtores – são bons o suficiente para chamar a atenção do espectador casual. A opção por um final aberto foi péssima, já que não consegue costurar uma grande questão na cabeça do espectador que faça valer a espera para assistir The Justice League Part One, por exemplo. Neste caso, a Warner precisa tomar urgentemente lições com a Marvel, que tem o trunfo de saber estruturar seu Universo a partir de finais com ampla abertura para discussão e teorias.
Por mais que tenha errado feio na construção do roteiro e nas controversas decisões em torno da produção, a Warner prometeu lançar a versão do diretor de Batman v Superman, com meia hora a mais de cenas. Em um mercado difícil como o dos EUA, onde uma classificação indicativa errada separa o sucesso do fracasso, não deve ser encarada como nenhuma surpresa o fato do filme ficar bem mais coerente com as adições que levariam o longa a um rating R nas telas americanas. Suicide Squad, com lançamento previsto para o final do ano, deve apagar parte do incêndio e tem tudo para reestruturar o frágil Universo DC, que, mesmo assim, deve lucrar mais de um bilhão de dólares com essa produção.
Carismático e inspirador é a definição perfeita. Uma história de superação emocionante e uma direção econômica, que não atrapalha a evolução da narrativa proposta. A superação de Eddie "The Eagle" é uma receita pronta para o sucesso e isso é comprovado no longa.
Os primeiros minutos mostram um Egerton caricato. Se o espectador não souber como é a fisionomia do Eddie real, que de verdade parece um personagem de cartum, talvez ache a atuação fora de tom. Quando a foto verdadeira dele aparece nos créditos finais, fica evidente o ótimo trabalho de Egerton. Mais do que as feições, o ator consegue reproduzir a força de vontade sem barreiras que Edwards possuía, e contagia o filme neste aspecto.
Jackman, o mau humor e o jeitão de caipira ajudam o ator a compor uma química interessante com Egerton. A dupla é o motor do filme, pois, sem apelar em nenhum momento para a amizade infinita ou amor eterno, consegue emocionar e tornar a relação entre duas pessoas muito diferentes algo crível.
A fotografia de George Richmond é muito boa, principalmente ao mostrar as lindíssimas paisagens das montanhas nevadas da Áustria e da Alemanha, onde parte do filme foi feito. Já a música de Matthew Margeson não tem nada demais, embora não seja ruim. Isso é compensado pelas canções da época que são tocadas, com destaque para Jump (saltar ou pular, em inglês), da banda de Hard Rock estadunidense Van Halen.
Eu só faço três restrições a Voando Alto. A primeira é quanto às cenas de salto de esqui. Elas estão muito boas, especialmente as que foram feitas com uma câmera no capacete, mas, estranhamente, não aparecem tanto quanto deviam. Parece que Dexter Fletcher ficou com medo de por mais cenas por achar que poderia exagerar. Mas, no melhor estilo Eddie Edwards, acabou exagerando, sim, mas de modo contrário: ao invés de ser demais, foi de menos.
A segunda restrição é sobre o vestuário de Hugh Jackman no filme. Enquanto todos estão com agasalhos pesados e, mesmo assim, morrendo de frio, Hugh, frequentemente, aparece vestido apenas com uma camisa social ou, no máximo com um agasalho leve. Tem-se a impressão que os produtores fizeram isso – mostrar a boa forma do astro – numa tentativa de atrair mais público feminino. Por favor, me poupem…
A terceira restrição que faço, como os leitores de minhas críticas já devem ter percebido, é, de novo, quanto ao horrível título nacional do filme. O título original em inglês é “Eddie, The Eagle”, que significa, literalmente, “Eddie, a Águia”. Porém, nossos brilhantes tradutores resolveram colocar o mesmo título de uma comédia chinfrim de 2003 estrelada por Gwyneth Paltrow (Homem de Ferro) e dirigida pelo brasileiro Bruno Barreto (Crô – O Filme). Isso vai, com certeza, causar confusão. Dá vontade de pegar esses mesmos tradutores, colocá-los no topo de uma rampa de 90 metros e empurrá-los para baixo sem os esquis.
Na vida real assim como no filme, Eddie Edwards lutava contra tudo e contra todos, mas, na maior parte das vezes, nem se tocava. Ele não ganhou nenhuma medalha nas Olimpíadas de Calgary – aliás, ficou em último lugar nas duas categorias nas quais competiu. Porém, pouquíssimos atletas encarnaram o ideal olímpico tão bem como ele. Isso leva a um dos méritos de Voando Alto, que é a sua mensagem edificante: para vencer não é necessário chegar em primeiro lugar ou conquistar uma medalha. Se acreditar em si mesmo e fizer o seu melhor, já será uma vitória e o reconhecimento, inevitavelmente, virá.
Corneliu Porumboiu é um dos diretores romenos que ganharam espaço por conta da New Wave de seu país, que apostou numa ruptura narrativa com o padrão vigente e buscou a criação de uma própria identidade cinematográfica.
A questão social da Romênia está completamente vinculada na busca pelo tesouro. O país mantém uma das políticas mais duras nessa questão – tudo o que é encontrado no solo romeno pertence ao governo, com apenas 30% do valor total para o ‘caçado’ – e o descumprimento desta lei dá prisão. Ao mesmo tempo, existe o sonho de que a descoberta dos dois possa trilhar a independência financeira de ambos, que não tem nenhum luxo em suas vidas.
Nas entrelinhas, O Tesouro trata através de seu roteiro minimalista os vários rumos do capitalismo. Costi e Adrian, que tiveram suas infâncias no contexto da crise do comunismo de Ceausescu, não tem a mínima noção do que fazer caso consigam uma grande quantidade de dinheiro, pela provável falta de comida e precariedade vivida na década de 1980. Essa fantasia do tesouro é apenas uma das tantas fantasias sonhadas por milhares de romenos que buscavam melhorar de vida através de um milagre. É por isso que os dois não desistem de cavar o buraco que pode conter algum tipo de item raro- afinal, o que eles tem a perder?
A estruturação narrativa de Comoara destoa da New Wave e da própria filmografia de Porumboiu, o que sugere um movimento de transição interna no cinema do país, buscando outros tópicos e outras ambientações, apesar de manter o foco social. Longe de ser um filme ruim, seu humor seco e a lento desenvolvimento acabam atrapalhando o plano geral do longa, que torna o filme limitado para um pequeno público – como pode ser comprovado na baixa distribuição internacional do filme.
Jeff Nichols conquistou o cinema mundial com Take Shelter, um dos filmes mais discutidos dos últimos anos. Por conta do sucesso e da boa recepção tanto dos críticos quanto do público em geral, qualquer produção com sua assinatura terá altas expectativas. Midnight Special é um filme de ficção independente que começa poderoso, mas perde força ao querer copiar a receita de sucesso de Take Shelter de todas as formas.
A tensão e o suspense gerados desde o primeiro minuto, empolgam muito. Até a metade do filme, passamos a nos perguntar o que há de errado com os protagonistas, e se o segredo que eles buscam afastar do governo é real ou apenas produto das mentes de um culto. Mais uma vez Michael Shannon rouba a cena e entrega uma atuação de alto nível, tornando-se em um dos principais motivos pelo qual o longa não se perde completamente de seu eixo na meia hora final, quando Kirsten Dunst entra em cena na tarefa de ajudar a esconder o menino.
Para tentar inspirar seu público em ver um roteiro parecido com o de Take Shelter, Nichols peca ao não querer discutir fatores que tornariam seu longa bem mais atraente (como as coordenadas e a participação da NSA na busca pelo garoto). Isso ocorre apenas pelo fato de levar um final aberto, onde cabe ao espectador juntar as peças para montar o quebra-cabeça. Funcionou bem em Take Shelter pela quantidade de informações secundárias que não estavam atreladas ao objeto central da análise. Em Midnight Special, o mesmo não chega nem perto de ocorrer, muito por culpa de uma edição perdida e de uma trilha sonora que não passa para as telas a mesma intensidade que é colocada através dos atores.
Geralmente, em filmes deste gênero, recomenda-se assistir mais de uma vez a produção para captar toda a história. Neste caso, a dica não se aplica, já que uma atenta análise já basta para entender o quanto o diretor e seus produtores cercaram-se mais em uma ficção aberta do que em um thriller que pudesse nos questionar se o que estávamos vendo era real ou apenas fruto da mente dos protagonistas.
Não se trata de boicote aos filmes Brasileiros, mas aos que usurpam do dinheiro das estatais e povo pobre e desgraçado. Trabalhar com próprio dinheiro é mais difícil né? Bem-vindo a realidade Brasileira fdp. Todos temos talentos, mas vivemos do próprio suor.
Kleber Mendonça Filho está hospedado em um dos melhores hotéis de Paris tomando champanhe de $800 e Sônia Braga com vestido de 40mil. Fica fácil com R$10.000.000 do governo, nem com bilheteria eles precisam se preocupar.
Crie projetos construtivos e quaisquer empresa privada há de patrocinar, não só irá melhorar o conteúdo como a cultura.
Por muito tempo esperei um filme de Deadpool. Pra falar a verdade, tinha poucas esperanças de ver uma grande produção, já que Wade Wilson está no segundo escalão da Marvel. Até me recordo do anúncio de 2005 em que Ryan Reynolds foi chamado para o papel – e de como fiquei surpreso e contente pela decisão. Onze anos mais tarde, após a companhia fundada por Stan Lee conseguir vários recordes de bilheteria no cinema mundial, Deadpool saiu do papel, e Reynolds finalmente pôde dar vida ao personagem ‘politicamente incorreto’ do Universo dos quadrinhos.
Wade Wilson (Reynolds) é um ex-militar que ganha dinheiro fazendo bicos sujos. Após descobrir que ele está com câncer terminal, ele é convidado a fazer parte do programa Weapon X (o mesmo de Wolverine). Apesar de ser curado e de receber superpoderes, ele vai atrás de Ajax (Ed Skrein), responsável pelo experimento que pensava que Wade havia morrido em um incêndio, para corrigir seu rosto, que ficou desfigurado. Durante a jornada, dois X-Men (Colossus, interpretado por Stefan Kapicic, e Negasonic Teenage Warhead, por Brianna Hildebrand) juntam-se a ele. Ao mesmo tempo, Wade busca contado com sua ex-noiva, Vanessa (Morena Baccarin), que também pensava que ele estava morto. T.J. Miller, por sua vez, interpreta Weasel, melhor amigo de Deadpool.
Ryan Reynolds é o menor dos problemas em um filme que tem profundas falhas de estruturação. A seleção do protagonista foi excelente pelo fato do ator ser um dos melhores ‘fast-talkers’ dos Estados Unidos. A tomada inicial dá uma falsa impressão sobre o desenrolar da história, pois é muito bem bolada (pequenos spoilers engraçados, digamos assim). As referências externas são várias, provavelmente as que mais chamam a atenção são as referências sobre a péssima aparição do personagem no filme de Wolverine, o problemático papel de Reynolds em Green Lantern e a escolha do ator como o homem mais sexy do mundo em 2010. Se tais brincadeiras fossem secundárias, elas seriam uma boa adição no filme, mas elas só existem pelo fato do roteiro ser uma bagunça generalizada, sem um objetivo específico.
Como todo o filme da Marvel, existe uma contextualização geral da história. Neste caso, a mistura de flashbacks com a sequência do filme não é bem editada, e apenas ressalta o quanto a produção perde a essência dos quadrinhos. Existem apenas duas cenas de ação. Será que o diretor Tim Miller teve alguma influência nisto ou foi uma pressão interna? Não é aceitável um personagem como Wade Wilson passar o filme todo dentro de um bar ou pensando no que vai dizer para sua namorada. Ele é o sinônimo de ação, um perfeito anti-herói. A decepção, portanto, é enorme. Dentre todo o festival de filmes de heróis lançados neste novo milênio só me lembro de dois que conseguiram dar uma boa base da história – Batman Begins e Iron Man. Nem mesmo o fracasso estrondoso de The Fantastic Four não foi o suficiente para a Fox reconsiderar a decisão, que não deve ter sido das mais fáceis, já que o roteiro foi modificado uma porção de vezes.
Deadpool é um filme que, apesar da boa introdução, falha completamente em estabelecer as bases para a franquia. A história acaba se tornando justamente o que o filme não deveria ser, e é bastante constrangedor observar como a produção foi finalizada com o típico toque de Hollywood, apostando cegamente no romance e em duas ou três piadas sem graça. O mais impactante disto tudo é que o rating R é mal aproveitado, e Wade sai de cena com muito menos do que poderia oferecer.
Dalton Trumbo tem uma história fantástica em Hollywood. Boa parte das controvérsias em sua longa carreira é alvo de análise de Trumbo (Trumbo: Lista Negra, no Brasil). A impecável direção de arte e a brilhante atuação de Bryan Cranston dão corpo ao filme dirigido por Jay Roach, que comete o pecado de não saber distribuir o tempo de exibição – e, consequentemente, omitir os anos finais da carreira de Trumbo.
O foco do filme está na análise do período da Hollywood Blacklist, buscando mostrar como Trumbo (Cranston) teve que lidar com a pressão por ser um comunista. Em 1947, o roteirista que já era famoso nos Estados Unidos por conta de seu trabalho na década anterior, foi pressionado a depor no Comitê de Atividades Antiamericanas, que mostrava preocupação com a influência dos comunistas no cinema dos EUA. Após Trumbo e outros nove roteiristas (conhecidos como Hollywood Ten) se negarem a responder as perguntas do órgão, eles foram condenados pelo Congresso por obstrução e serviram penas que variam de seis meses até um ano.
Após cumprir seu tempo na cadeia, Trumbo teve outro problema: dinheiro. Após viver anos como milionário graças a contratos fartos com MGM e Paramount, o roteirista sentiu na pele as restrições impostas aos comunistas – Ronald Reagan e Richard Nixon davam seus primeiros passos na política americana neste período. No filme, a colunista social Hedda Hopper (Helen Mirren) atua junto do líder do Sindicato dos Atores, John Wayne (David James Elliott) para evitar que qualquer um dos ex-comunistas volte a trabalhar em Hollywood.
O filme distancia-se da realidade em certos momentos (como em diálogos falsos atribuídos à Edward G. Robinson), mas dá um bom panorama sobre como Trumbo vendeu roteiros de 100 páginas feitos em três ou quatro dias por uma quantidade de dinheiro suficiente para manter sua família. O longa trata sobre os casos de Roman Holiday e The Brave One, escritos por Trumbo e vencedores do Oscar de melhor roteiro. No primeiro caso, Dalton usou seu amigo, Ian McLellan Hunter, para vender os direitos para a Paramount. No segundo, Trumbo criou o pseudônimo de Robert Rich.
A base do roteiro foi duramente criticada tão logo o projeto foi anunciado. A biografia escrita por Bruce Cook, duramente criticada no período de publicação, conta a história através de relatos de terceiros e não faz, de forma alguma, um trabalho criterioso na seleção de fontes– fica o aviso para quem for comprar o livro no Brasil, lançado junto do filme. Cook não teve o cuidado de mediar o discurso de Trumbo, portanto não foi atrás para ouvir o outro lado, tornando sua obra em um trabalho de defesa do legado do roteirista e de ataque à Hollywood.
Ainda assim, o bom elenco secundário dá vida a um número incrível de estrelas do cinema. Kirk Douglas e Otto Preminger também foram citados, já que Trumbo trabalhou tanto em Spartacus quanto em Exodus. O desenrolar da história é agradável, e a quantidade de detalhes que rodeiam as décadas analisadas é de chamar a atenção. O filme tem como trunfo a crítica aberta aos anos negros de Hollywood – onde as pessoas eram acusadas apenas por desconfiança. A forma como a história é trabalhada, no entanto, não permite uma análise geral do sucesso do roteirista (não custava nada mencionar que ele também esteve por trás dos sucessos de Papillon e até mesmo sentou na cadeira de diretor em Johnny Got His Gun).
Apesar de fracassar no objetivo de ser um dos protagonistas no Oscar 2016 e de ter uma bilheteria muito abaixo do esperado, Trumbo é o passo inicial da parceria de Cranston com Jay Roach – que devem lançar All The Way na metade deste ano.
O outro lado do jornalismo. Ou melhor, como não fazer jornalismo. Se Spotlight mostrou como uma equipe unida em torno de um objetivo claro consegue montar uma reportagem de extrema relevância a partir de muita investigação, a história de Truth (Conspiração e Poder, no Brasil) trata justamente do oposto, analisando como uma série de desencontros (e, talvez, interesses políticos) causaram uma das mais discutidas reportagens da história recente dos Estados Unidos (referido na literatura acadêmica como Memogate, ou Rathergate).
Antes de entrar na história em si, considero necessária uma explicação sobre alguns tópicos que podem ser desconhecidos do grande público de língua portuguesa. Primeiro: Dan Rather é, sem dúvida alguma, um dos maiores âncoras da história da televisão americana. Seu trabalho na CBS é reverenciado nas universidades até hoje, afinal, não é qualquer pessoa que passa 24 anos na frente do principal telejornal de uma das maiores emissoras do mundo. Seu estilo único, misturando jargões com uma postura séria, deu a ele um poder invejável na CBS News. Segundo: o grande estopim da polêmica aconteceu em um programa ’60 minutes’, que é especializado em matérias de grande impacto (entrevistas especiais, investigações), e é conhecido pela credibilidade junto do público estadunidense.
Em 2004, a CBS colocou no ar uma matéria investigando o registro do então presidente George W. Bush na Guarda Nacional dos EUA. Na época de eleição presidencial, enquanto John Kerry era atacado por conta de suas ações no Vietnã, Bush ‘conseguiu’ cumprir seu serviço obrigatório em solo americano. A discussão sobre o passado do então presidente era urgente. Mapes (Cate Blanchett) e sua esquipe de pesquisadores (interpretados por Dennis Quaid, Topher Grace e Elisabeth Moss), conseguem colocar as mãos em documentos privados do Tenente Coronel Jerry B Killian, que criticava a ausência de Bush no período entre 1972-3. Pressionados para fazer uma matéria em uma semana sobre este caso, a equipe do 60 Minutes e seu âncora, Dan Rather (Robert Redfor) correm para esclarecer os pontos abertos.
O primeiro trabalho de James Vanderbilt como diretor tem como destaque o laço entre Redford e Blanchett – extremamente interessante e sólido. Eles conseguem dar vida a dois personagens complexos, cheios de questionamentos internos – e com uma reputação a defender. Com um roteiro bastante ágil e direto, Truth reconstrói o ambiente na redação da CBS desde o primeiro dia da investigação de forma clara e precisa.
Truth recebeu inúmeras críticas nos Estados Unidos pelo fato de ser um filme político, de contar a história apenas pelo viés de Mary Mapes. Aqui,algumas considerações: 1) o filme, de fato, tem como base o livro Truth and Duty: The Press, the President, and the Privilege of Power, que se tornou alvo de ataques pelos apoiadores de Bush e de aplausos dos democratas. A decisão de focar na história de Mary é pessoal, e acredito que tenha sido a correta. Isto ocorre pelo fato de que, tão logo os créditos rolam, uma grande questão fica em aberto: por qual motivo a pergunta lançada no programa, sobre o serviço militar de Bush, foi deixada de lado e apenas o lado ruim e vexatório foi abordado?
Sim, Dan e Mary cometeram o erro grotesco de terem autorizado a publicação a matéria sem a verificação completa sobre os documentos. Mas foram calados por sua emissora, com poucas chances de defesa. Truth simplifica boa parte dos eventos após a transmissão do 60 Minutes que acarretou na demissão de Mary e de sua equipe, além de afastar Rather de seu telejornal. É compreensível, dada a complexidade do caso. Mas a grande vitória é reascender a discussão em torno do papel da imprensa, e, especialmente, sobre os métodos usados no jornalismo para levar a notícia ao público.
James Dean foi uma das figuras mais polêmicas e controversas de sua época. Life (Life – Um Retrato de James Dean, no Brasil) propõe analisar o perfil do ator estadunidense a partir da relação dele com um fotógrafo. Dirigido por Anton Corbijn, o filme basicamente é um making of das famosas fotografias publicadas pela Time, com pouco conteúdo externo.
Um fotógrafo ambicioso atrás de sua grande matéria de capa. Um ator em ascensão, preocupado apenas com novas experiências. Dennis Stock (Robert Pattinson) encontrou o jovem James Dean (Dane DeHaan) logo após o teste do ator para o papel principal de Rebel Without a Cause, e começa a tirar fotos para sua coleção pessoal. Pouco antes da trágica morte de Dean, Stock percorre Hollywood, Nova York e regiões do estado de Indiana para oferecer ao seu chefe um retrato de quem era aquele ator que tanto chamava a atenção de Jack Warner (Ben Kingsley).
É interessante notar o quanto Corbijn parece apostar que sua história é boa o suficiente para prender a atenção de seu público. Essa confiança gera uma série de pequenos problemas. O principal, e facilmente visto desde as primeiras cenas, é que não existe química entre Pattinson e DeHann, tornando o longa cansativo e forçado. A orientação do roteiro é voltada, na maior parte do tempo, apenas para os pontos de desentendimento dos dois protagonistas, simplificando Dean como um homem problemático, sem oferecer claras explicações sobre sua carreira fora as menções de filmes como East of Eden e Giant. Isso é um fato um tanto quanto curioso, já que quem assina o guião é Luke Davies, autor de Candy (2006), um dos grandes romances feitos neste século, que destaca-se pelo ótimo desenvolvimento dos personagens. Outro problema é que são feitas simplificações apressadas e desnecessárias para colocar as viagens de Dean e Stock em uma hora e quarenta minutos e dar uma espécie de panorama completo da relação entre os dois – o que certamente não chega nem perto de ocorrer de fato.
O ponto positivo – que deve aproximar os fãs do ator desta produção – está na tentativa de simular o ambiente das fotografias alvo de tantas publicações especiais sobre Dean (para quem se interessar, é possível acessar a coleção clicando aqui). Elas são a chave para o mínimo de entretenimento que o filme trás ao espetador. Apesar de desenrolar uma história vazia, sem foco, Life também apresenta uma boa maquiagem e cuidadosa, mas não deve ser considerado, por nem um segundo, como um retrato do ator.
10 Cloverfield Lane (Rua Cloverfield, 10, no Brasil) é um filme de mistério, que apresenta uma construção linear de cenas que visa despertar o sentimento de medo em seu espectador. Mas a tão comentada produção de J.J Abrams, que tenta estabelecer uma espécie de sucessor espiritual do aclamado Cloverfield (2008), torna-se interessante apenas nos quinze minutos finais. E o terror – principal produto do marketing em cima deste longa – na verdade dá lugar a uma simples curiosidade sobre o desfecho final.
Michelle (Mary Elizabeth Winstead) vive problemas em seu casamento. Ela pega suas coisas e deixa para trás seu marido (voz de Bradley Cooper), carregando consigo vários sonhos e uma grande expectativa de mudar o rumo de sua vida. Após se envolver em um acidente na estrada, ela acorda no bunker de Howard (John Goodman), um homem que não quer que a jovem pense em sair dali. Ele justifica dizendo que o país sofreu uma invasão (talvez dos russos, talvez de alienígenas) e que o ar é tóxico. Junto deles está Emmett (John Gallagher Jr.), que conseguiu entrar no local pouco antes do misterioso evento.
O grande problema do roteiro está na sua própria estruturação. A história passa muito tempo dentro do bunker, que por sua vez, tem pouco a oferecer senão investir no perfil do trio. Ao contrário do original, nesta versão a dinâmica é cansativa, não oferece um elemento surpresa e não inova. Os diálogos são precários, e pouco ajudam na formulação de um perfil. Aliás, justamente no momento em que mais interessa desvendar quem é quem a história toma um rumo brusco. Em suma, tal opção anula todas as falas anteriores, e o filme poderia ser facilmente compreendido sem áudio – a trilha sonora pouco ajuda na criação de um ambiente tenso, salvo a cena final.
O estreante diretor Dan Trachtenberg mantém pontos do longa original, apostando em um final aberto com potencial para mais uma continuação e estabelecimento de uma franquia. Ele falha absurdamente, no entanto, ao apostar no enquadramento excessivo de seus personagens, como quem grita a mensagem que quer passar ao público. Neste caso, a desconfiança de Michelle é tão clara que as cenas finais tornam-se, infelizmente, previsíveis.
Por mais que a comparação seja injusta, 10 Cloverfield Lane é duramente prejudicado pela expectativa criada em torno de si. Se o espectador busca um bom longa sobre confinamento, saiba que experiência de Room é bem mais marcante, sem excessos, sem apelação, e com uma boa produção.
The Survivalist é um filme extremamente competente sobre um tema que cada vez mais ganha adeptos. Em meio a um cenário pós-apocalíptico, a produção dirigida por Stephen Fingleton destaca-se por não oferecer qualquer perspectiva de mudança. para seus personagens. A palavra chave é sobreviver.
Martin McCann interpreta o personagem que inspira o título do filme. O primeiro quarto do filme, sem uma linha de diálogo, dá uma boa dimensão do isolamento. Não descobrimos o nome do homem, mas presenciamos sua luta para vencer os desafios do cotidiano. Uma casa completamente protegida, uma pequena horta de subsistência e armadilhas (que servem tanto para animais quanto para humanos que se atrevem a tentar chegar perto de sua área). Em uma sociedade perdida, as páginas da Bíblia só servem para dar vida às chamas, e as fotos trazem memórias de lembranças que podem machucar. Certo dia, duas mulheres – Kathryn (Olwyn Fouere) e sua filha, Milja (Mia Goth) – aparecem em sua porta pedindo comida. Após anos de masturbação, o homem aceita a oferta de dividir seus alimentos em troca de sexo, o que pode colocar em risco sua própria segurança.
Fingleton teve identidade própria ao construir seu roteiro, e merece créditos por isso. The Survivalist não precisa de nenhum apoio secundário, nem visa prestar tributo aos longas clássicos de seu gênero. As imagens chocantes são a prova disso. Não existe nenhuma linha definida para a história, e esse desenrolar torna-se especial a medida que o próprio espectador é convidado a antecipar os passos do homem e das duas mulheres. Neste sentido, existe um tom misterioso em torno de ambas – também notado pelo personagem de McCann. Será que elas estão ligadas a algum outro grupo de sobreviventes? Será que elas vão matar o homem? Será que Milja pode criar um sentimento de amor?
The Survivalist também é um belo exemplo de sucesso na contenção de custos. O resultado é surpreendente para um filme com orçamento de menos de três milhões de dólares. A floresta dá espaço para uma fotografia segura, que busca jogar com o alto contraste do verde para mostrar que não existe uma saída mágica, a vida começa a partir da plantação. O homem aos poucos conta detalhes de sua história pessoal, que também deixa um pouco mais claro o contexto em que o caso se passa. Discussões sobre lealdade e confiança tomam conta dos minutos finais. Mais uma vez somos convidados pelo diretor a nos colocarmos no papel de todos os personagens – julgando suas atitudes e nos questionando se teríamos coragem para fazer o mesmo.
Para a felicidade dos fãs da Marvel, os diretores Joe e Anthony Russo demonstram uma maturidade ímpar ao levar para as telas vários personagens complexos – e, ainda assim, conseguirem tirar proveito de várias diferenças em um filme repleto de ação e boas surpresas. Ultimamente, os filmes de super-heróis focam muito na construção de um determinado universo para abrir campo para filmes posteriores. É justamente neste ponto que Civil War destaca-se: ao saber aproveitar todo legado construído nos últimos anos, a Marvel entrega uma experiência completa nas telas, com início, meio e fim bem definidos e articulados.
A premissa básica do filme segue o modelo adotado no decepcionante Batman v Superman, mas a abordagem é completamente diferente. Após a morte de inocentes em Sokovia e na Nigéria (cena de abertura) – a ONU passa a questionar a interferência dos heróis. Neste sentido, Steve Rogers, o Capitão América (Chris Evans) vê uma grande injustiça tomar lugar. Seu amigo de infância, Bucky (Sebastian Stan) – que sofreu lavagem cerebral para se tornar o temido Winter Soldier é considerado culpado de um incidente terrorista que ocorre na reunião da ONU em Viena, matando dezenas de líderes mundiais. Ele afasta-se gradualmente de Tony Stark (Downey Jr.), que decide ficar ao lado da ONU e aceita se submeter às regras impostas por 117 países, que limitam duramente suas atividades. Com uma série de problemas políticos, um novo vilão – Helmut Zemo (Daniel Brühl) – deixa claro a ruptura entre os vingadores, divididos entre os favoráveis ao Capitão contra os liderados por Stark.
As cenas de batalhas são de tirar o fôlego! Enquanto Batman v Superman oferece limitados minutos de entretenimento em uma direção problemática, Civil War consegue aproveitar cada peculiaridade dos tantos heróis apresentados na tela para gerar algumas as melhores tomadas de ação de todos os filmes da Marvel. Tanto os novos heróis, como Scarlet Witch (Elizabeth Olsen) e Falcon (Anthony Mackie), quanto os populares War Machine (Don Cheadle) e Black Widow (Scarlett Johansson) têm o tempo necessário para deliciar seus fãs. A atuação de Tom Holland como Spider-Man é excelente, e a Marvel merece aplausos por apostar em um reboot de um personagem deste nível dentro de um filme tão poderoso. Deu (muito) certo!
A Marvel parece ganhar experiência a cada filme que passa – e sabe muito bem fazer a complementação de seus objetivos primários com os secundários. Pode-se notar, por exemplo, que a divisão ideológica dos heróis é apenas uma das tantas possibilidades de análise oferecidas neste filme, que envolve com primazia panos de fundo que servem para Stark e Rogers resolverem suas diferenças. O editor Jeffrey Ford merece os louros por saber envolver tão bem tantas cidades diferentes em pequenos cortes, que não deixam o clímax da batalha cair até a rolagem final dos créditos.
Captain America: Civil War é o melhor filme do Universo Marvel, impactante desde sua cena inicial e incrível ao ponto de prender seu espectador pelo roteiro agradável que se assemelha muito a leitura de uma boa história em quadrinhos.
Demolição
3.8 448 Assista AgoraComo lidar com a perda de um ente querido? A resposta encontrada em Demolition, novo longa de Jean-Marc Vallée, talvez não seja repassada ao espectador da forma mais sútil, mas ainda assim é extremamente notória e eficaz.
O componente emocional funciona bem para esse tipo de dramédia. Os cinco minutos iniciais deixam o público em um estado de apreensão, buscando entender como Davis iria agir depois de tamanha tragédia. Mas sua aparente falta de sentimentos – nenhuma lágrima verdadeira sai de seus olhos – passa a chamar a atenção dos que estão ao seu lado. É o gancho que o diretor precisava para vender um personagem extremamente atípico.
A construção do roteiro é muito sólida. A demolição do título é demonstrada de forma visual e simbólica, a partir de um punhado de cenas em que Davis aparece destruindo um computador, sua geladeira e até mesmo sua casa. Ao mesmo tempo, é compreendendo a real noção da falta de Julie em sua vida que ele passa a assumir um comportamento diferente perante seus amigos, deixando de lado sua postura fria e profissional para contemplar o mundo como ele é, prestando atenção em pequenos detalhes.
Demolition confirma a excelente fase vivida por Gyllenhaal. Recentemente, suas atuações em Enemy, Nightcrawler e Southpaw apenas mostram toda sua genialidade. O ator tem uma facilidade impressionante de se adaptar aos mais variados estilos de diretores, e consegue tirar o máximo de cada roteiro – seja com entonações diferentes ou com expressões que demonstram a complexa personalidade dos seus personagens. E também curiosa a mudança de foco do diretor. Seus últimos dois filmes (Dallas Buyers Club e Wild) apostaram alto na história de superação pessoal. Neste caso, apesar do padrão do protagonista forte ser o mesmo, existe toda uma contextualização em volta de um sangramento interno que parece que pode ser contido pelo tempo. É por conta de tudo isso que a cena final de Demolition praticamente dividiu a audiência entre aqueles que entenderam a proposta geral com os que consideraram a trama fajuta.
Infelizmente a distribuição de Demolition foi comprometida pela Fox Searchlight – mesmo com a boa estreia no Festival de Toronto do último ano. O resultado foi uma curta passagem pelos cinemas dos Estados Unidos e lançamentos pingados no mercado europeu. No entanto, o filme tem tudo para se consolidar como uma das principais opções desta temporada nos serviços de streaming – tanto pelo seu protagonista quanto pela direção caprichada de Vallée.
Zaytoun
3.5 14Zaytoun é considerado um desses filmes capazes de mudar a ideia do telespectador ou, ao menos reacender alguns aspectos humanitários naqueles que já se encontram incrédulos quando o assunto abordado relaciona-se ao conflito árabe-israelense e sua longevidade. Um cenário de muita violência e devastação em Beirute em plena guerra do Líbano de 1982. Recomendo que assista legendado, porque a dublagem deixa o filme muito tosco.
Sabotagem
3.0 259 Assista AgoraÉ inegável que a ideia por trás de Sabotage é muito interessante. Tentar adaptar o clássico And Then There Were None de Agatha Christie para o submundo do crime foi uma arriscada aposta que poderia render bons frutos. Mas entre drogas, tiros, traição e muita violência, o roteiro deixa todo seu potencial de lado para focar na persona de Arnold Schwarzenegger, a grande estrela do longa, e trazer um kill-em-up preso a velhos clichês deste gênero.
Por melhor que seja a atuação de Arnold, que dá bastante credibilidade ao personagem principal, na metade final do longa parece que a história do sumiço do dinheiro fica de lado apenas para Wharton resolver seus problemas com o cartel. É notável que o diretor David Ayer explorou a figura de seu ator principal a todo custo em detrimento ao andamento do filme, inclusive apostando em um improvável romance entre John e Caroline. Outra coisa que irrita é a movimentação da câmera, que ora tenta repetir o estilo de End of Watch, ora foca excessivamente nas expressões faciais de Schwarzenegger. O elenco de apoio é integrado por nomes como Terrence Howard e Joe Manganiello, que não conseguem tempo suficiente na tela para provar a que vieram justamente pelo enfoque excessivo em Arnold.
Muito mais violento do que Agatha Christie poderia imaginar, Sabotage se torna cansativo pelos vários tiroteios sem sentido e pelos desfechos previsíveis das situações apresentadas. A trilha sonora falha ao tentar criar um ambiente de mistério e os roteiristas prepararam uma surpresa que na verdade não condiz com toda a tentativa de tornar o caso mais absurdo do que deveria ser.
Praia do Futuro
3.4 935 Assista AgoraBem para começa, cinema não é bufê, logo alguns conservadores não passaram do primeiro ato.
Do ponto de vista técnico o filme é bom: de cara a fotografia e a música se destacam e como se nos fosse dado um golpe de chave de braço, ficamos presos ao filme no início a uma história que nos conta mais pelos seus silêncios do que pelos diálogos.
Ponto para a direção de Karim Aïnouz que conseguiu tirar dos atores Wagner Moura e Jesuíta Barbosa interpretações incríveis em cenas em que ambos dispensam a fala e se comunicam de formas menos usuais.
A questão da homossexualidade, não é o foco da história, embora o personagem central da trama seja gay, os conflitos que se estabelecem vão muito além de sua orientação sexual. De tal forma que o fato dele ser gay, acaba por ser um detalhe, isso se deve muito a excelente atuação de Wagner Moura que não caiu no erro de compor um personagem estereotipado e a sensível direção de Karin que conseguiu fazer com que o assunto fosse absorvido de forma mais orgânica pelo público.
A trilha sonora é melancólica e expressiva, ela aparece nos momentos mais felizes do filme, como a cena da balada e a cena onde o casal aparece na encosta do mar. Uma escolha bastante interessante, que dá a nós telespectadores a possibilidade de interpretar que talvez toda aquela felicidade mostrada nas imagens não seja real. E que a música neste caso esteja desempenhando o papel do eu interior que comumente tentamos disfarçar e ignorar.
Talvez o ponto mais interessante do filme seja o fato de ele nos prender mesmo com tão poucos diálogos, sem dúvida o roteiro ajudou muito nesse sentido, apesar de ser parado, monótono e fraco.
É um filme que vale a pena conferir para não dizer que você não assisti filmes nacionais, para quem gosta de um bom filme é um prato cheio para analisar, e para quem diz que o cinema nacional não produz nada de bom é uma grande chance para ter uma opinião.
Conexão Mortal
2.1 280 Assista AgoraComeça bem, fica perdido, volta ficar bom, se perde de novo, e por fim, não tem um fim que te convença, mas dá para assistir, uma vez que a ideia é baseada no livro de Stephen King.
Lendas do Crime
3.3 183A atuação de Tom Hardy é sensacional, o filme só poderia ser mais curto.
Uma Repórter em Apuros
3.3 72 Assista AgoraBom filme para assistir sem analisar, porém...
Se o filme seguisse uma visão crítica – a partir da análise da interferência dos EUA em um território estrangeiro, certamente teríamos um bom produto final, com amplas possibilidades de discussões. Mas não é o caso. A jornalista logo se envolve com um fotógrafo escocês (Martin Freeman) – e aprende a lógica da ‘beleza de Cabul’ – que avalia o grau de atração de uma mulher. Para sustentar essa argumentação, Margot Robbie interpreta uma repórter desesperada por sexo, e Billy Bob Thornton mais uma vez dá vida a um general durão, com poucas linhas de diálogo.
O que mais perturba em WTF é a consistente tentativa de fazer seu espectador engolir uma xenofobia através de piadas secundárias. Fey dá vida a uma personagem vazia, sem nenhuma consideração com o sofrimento das milhares de pessoas que morriam diariamente na guerra. Ao contrário, tão logo ela descobre a traição de seu ex-namorado, ela passa a frequentar inúmeras festas. Durante todo o filme temos uma visão de uma americana branca – que tenta se colocar no papel de oprimida – para uma sociedade acostumada a denegrir culturas diferentes e abraçar grandes generalizações.
Ficarra e Requa tentam emular parte da lógica do filme de maior sucesso em suas filmografias – I Love You Phillip Morris – com um melodrama repleto de falsos moralismos. O problema é que o problemático contexto de WTF não permite esse tipo de brincadeira rasa e descompromissada. E é justamente pela falta de feeling que Whiskey Tango Foxtrot teve uma modesta recepção nos Estados Unidos – o que restringiu muito sua distribuição mundial.
Até o Fim
3.7 31 Assista AgoraBryan Cranston merece um Globo de Ouro e um Emmy por sua interpretação. Quem viveu com o presidente Johnson sempre relatava certo constrangimento por conta do chamado ‘Johnson Treatment’ – uma técnica de persuasão do político que envolvia gestos, gritarias e contato físico. All the Way explora este método a partir de cenas em que LBJ discute com Luther King (Anthony Mackie) e com o Senador Richard Russell (Frank Langella)- os dois principais coadjuvantes de All The Way, sobre o esboço do documento que seria levado ao Congresso como Lei dos Direitos Civis de 1964.
O impressionante elenco de apoio impressiona. Nomes da política como o assessor de LBJ, Walter Jenkins (Todd Weeks), envolvido em um escândalo homossexual em 1964, o diretor do FBI, J. Edgar Hoover (Stephen Root), e o líder da ala liberal dos democratas, Hubert Humphrey (Bradley Whitford) dão uma boa dimensão das negociatas para LBJ conseguir seus objetivos. Como proposta da peça, infelizmente o cenário externo fica de lado, com breves passagens sobre a União Soviética e sobre a investida no Vietnã.
All the Way é, sem sombra de dúvidas, um dos melhores filmes feitos para a TV deste milênio. A atuação de luxo de Cranston apenas coroa uma produção que já era consagrada no teatro. Mérito da HBO.
Invocação do Mal 2
3.8 2,1K Assista AgoraMuito antes dos casos sobrenaturais serem alvo de programas diários em canais como History, Discovery e National Geographic, o casal Ed e Lorraine Warren fazia sucesso nas principais redes dos Estados Unidos com especiais que atingiam altos índices de audiência. A curiosidade do público em saber detalhes de situações que envolviam espíritos e casas mal assombradas teve seu auge na década de 1970. Em The Conjuring 2 (Invocação do Mal 2, no Brasil), o diretor James Wan apresenta mais um capítulo de sua série sobre o casal, desta vez com uma dos casos mais controversos da Inglaterra.
O segundo capítulo apresenta uma interessante transformação estrutural: deste vez, existe um interesse muito maior em assustar com os tradicionais clichês – já que a exploração da criança é justificada pela história “real”*. A fotografia é bastante interessante, e explora bem os tons negros para, junto de uma eficaz trilha sonora, gerar um ambiente de tensão muito forte. Mas ao mesmo tempo que existem cenas maduras, sólidas e bem construídas – como as tomadas introdutórias e finais – o filme tem uma quantidade expressiva de cenas um tanto quanto desnecessárias, especialmente as que envolvem Lorraine e suas visões, que poderiam facilmente ser cortadas até para diminuir o tempo final de rodagem (de mais de duas horas). Em suma, como filme de terror, Wan entrega um resultado bom, mas que perde o fôlego pela falta de inovação e pelo uso de velhos truques do gênero.
The Conjuring tem tudo para se fixar com uma franquia, tendo em vista a vasta carreira de Ed e Lorraine. No entanto, Wan precisa tomar uma grande decisão: focar no terror – pura e simplesmente – ou tomar posição, abraçar os escritos dos dois pesquisadores americanos e manter uma proximidade ‘histórica’ com os registros de ambos, se é que isto é possível, tendo em vista a alta porção de acadêmicos céticos. Caso o diretor opte pela mesma fórmula deste segundo filme, infelizmente o futuro da série pode estar comprometido, já que cairá no mesmo ciclo repetitivo e tendencioso produzido em Hollywood, onde um grito vale muito mais do que um bom roteiro.
13 Horas - Os Soldados Secretos de Benghazi
3.5 311Desde 1968, pelo menos um filme com forte teor político é lançado justamente no ano de eleição presidencial. Em 2016, os holofotes estavam voltados para 13 Hours: The Secret Soldiers of Benghazi(13 Horas: Os Soldados Secretos de Benghazi, no Brasil). No entanto, o diretor Michael Bay decidiu respeitar o livro homônimo escrito por Mitchell Zuckoff, que foi a base para a composição do roteiro, e nem sequer tratou sobre o papel do Departamento de Estado comandado por Hillary Clinton em um dos fatos mais estudados da política externa americana dos últimos anos. Disso tudo, surge uma grande questão: será que o filme foi concebido apenas para o entretenimento? Caso a resposta seja negativa, então por qual motivo o longa não levou adiante uma discussão necessária sobre a interferência dos Estados Unidos na Líbia e a subsequente falta de comunicação de Clinton e de seus auxiliares com o comando militar do Oriente Médio?
Jack Da Silva (John Krasinski) e seu parceiro Tyrone “Rone” Woods (James Badge Dale) acabam de chegar à missão da CIA na Líbia, que tenta se reconstruir após a revolução. No dia 11 de setembro de 2012, o posto americano em Benghazi é atacado por rebeldes – e junto de outros quatro atiradores, Jack e Rone tem a missão de proteger o Embaixador e os demais empregados do local.
Apesar de todas as ressalvas, não se pode deixar de lado a boa atuação de John Krasinski e cia. O filme tem ótimas cenas de troca de tiro e capta muito bem a tensão de um grupo de homens isolados em um país extremamente hostil em uma missão que sequer constava oficialmente nos registros da CIA. Como é de praxe – o diretor busca refúgio sentimental nas famílias dos agentes envolvidos, criando um campo para que o espectador se envolva ainda mais na história apresentada – especialmente o americano.
Por abordar um fato polêmico, que deve ser profundamente discutido no campo acadêmico somente após a liberação oficial dos arquivos – o que deve demorar alguns bons anos – 13 Hours diferencia-se por completo de American Sniper. Clint Eastwood não teve dificuldade nenhuma em elencar um herói e vários vilões em sua história – mas Bay, justamente por não querer ser demasiado político, monta sua narrativa com um grande foco na ação. Ou seja, temos aqui dois casos típicos de História do Tempo Presente. Enquanto uma produção já fixa suas bases, a outra deixa tudo aberto, e não aponta culpados. O fato é que o cinema, como ferramenta que é, tem o papel não só de informar e contextualizar, mas também de tomar partido. E essa pegada em cima do muro, de não querer criticar – independente do certo ou errado – que incomoda.
Mas não tenha dúvidas: em nenhum momento Bay pensa em questionar a legitimidade da missão americana na Líbia, nem mesmo o impacto no final da ditadura de Muammar Gaddafi. As várias tomadas de exaltação à bandeira dos Estados Unidos e tomadas no mínimo questionáveis sobre a moral estadunidense tornam o filme duro de engolir para o espectador externo – ou mesmo para o americano mais crítico.
Jogo do Dinheiro
3.4 402 Assista AgoraFoster é notável. O toque e andamento do roteiro escrito por Alan Di Fiore, Jim Kouf e Jamie Linden é bastante agradável, com várias passagens tensas e muita movimentação, o que impressiona pelos poucos personagens envolvidos. A atuação de Clooney e de O’Connel são boas o suficiente para manter a atenção, com boas contribuições de Roberts, que serve como um fio de equilíbrio.
Obviamente, existe um número considerável de situações que são agravadas pela decisão de mesclar o tradicional thriller com uma situação de sequestro – tão explorada por Hollywood. Infelizmente, tão logo que os motivos de Kyle ficam claros, o filme perde uma porção considerável de momentum, e o foco volta-se apenas para a resolução dos possíveis crimes cometidos pela empresa comandada pelo persongem de Dominic West, que estaria envolvido com em negócios ilegais na África do Sul.
Money Monster está longe de ser um filme que figure como destaque na filmografia de Clooney e de Roberts, mas isso não quer dizer, necessariamente, de que estamos tratando de um filme ruim ou mal produzido. Pelo contrário, dependendo da pretensão do público, o longa é capaz oferecer um bom programa casual – e nada mais que isso.
Triple 9: Polícia em Poder da Máfia
2.8 144 Assista AgoraTriple 9 parte da retórica ‘anti-clichê’, mas que é tão mal utilizada que o filme acaba caindo em contradição diversas vezes. O roteiro base de Matt Cook é sólido, tanto é que acabou sendo referenciado na Black List de 2010 – que seleciona os melhores guiões que ainda não haviam sido alvo de produção cinematográfica. No entanto, o diretor John Hillcoat erra absurdamente ao fazer da imprevisibilidade seu pilar de apoio, deixando de lado a construção da personalidade de personagens importantes. Winslet, por exemplo, nada faz além de falar inglês com sotaque. Seus objetivos nunca ficam inteiramente claros. E isto não acontece – ao contrário do que se pode pensar – por uma tentativa de trazer um tom misterioso ao filme, mas pela falha de abrir espaço para contextos e mais diálogos.
A fotografia de Nicholas Karakatsanis ganha espaço para mostrar uma Atlanta colorida e viva. Aliás, a opção pela cidade nunca é claramente discutida – e fica claro que a seleção do Estado da Geórgia para a rodagem ocorreu apenas pela isenção de impostos. A atuação do elenco é boa, com destaque especial para Anthony Mackie. Mas Aaron Paul, Affleck e Harrelson apenas repetem atuações que cansaram de fazer em sua carreira – um homem arrependido e abatido, um homem que não vê a maldade perto de si e um homem bêbado/drogado que tem uma percepção de mundo ímpar, respectivamente.
Para uma produção que não teve qualquer dificuldade de financiamento e que teve amplo apoio doméstico de propaganda e distribuição, Triple 9 decepciona quando se leva em conta o potencial que Cook tinha em mãos. No entanto, oferece uma opção viável de entretenimento e algumas boas cenas de ação.
Batman vs Superman - A Origem da Justiça
3.4 5,0K Assista AgoraA maior polêmica, sem sombra de dúvidas, está na interpretação de Affleck. Sua estreia era esperada por Hollywood, e o ator carregava nas costas o peso de substituir Christian Bale, unanimidade tanto na Warner quanto com os fãs do homem morcego. Os produtores optaram por uma renovação na identidade visual – o que causa uma desagradável estranheza. Ao contrário dos excelentes filmes da trilogia anterior, o Batman de Ben Affleck é lento, e parece ser muito mais dependente de seus gadgets. Na cena do combate com Superman, o traje lembra o de um robô, descaraterizando completamente o perfil do personagem. As poucas linhas de diálogo e a necessidade por frases marcantes para reafirmar território lembram o vexame da interpretação de Clooney. Mas isso não quer dizer que Ben não possa se tornar um bom Batman: é necessário sentar e repensar o personagem como todo. Enquanto Bruce Wayne, sua atuação não compromete – com boas tomadas que buscam reforçar suas expressões faciais. O lado galanteador fica de lado pela necessidade de divisão do tempo de tela – o que é extremamente compreensível. Acredito que Affleck tenha em mente reestruturar e deixar seu Batman o mais próximo possível de Bale, visto que sua interpretação neste filme beira o fracasso. No caso de Henry Cavill, a situação é um pouco melhor. Ele fixou sua imagem após ser bem recebido com sua atuação em Man of Steel, mas seu potencial é cortado pela raiz na medida em que o filme avança e abre campo para personagens secundários, como a Mulher Maravilha e Lois entrarem na história. Por conta disso, Eisenberg é quem mais consegue entreter, com uma despojada interpretação, que é um refresco no meio dos dois heróis durões.
As cenas de confronto são vazias, e nem mesmo os efeitos especiais – que foram alvo de imensa propaganda por parte dos produtores – são bons o suficiente para chamar a atenção do espectador casual. A opção por um final aberto foi péssima, já que não consegue costurar uma grande questão na cabeça do espectador que faça valer a espera para assistir The Justice League Part One, por exemplo. Neste caso, a Warner precisa tomar urgentemente lições com a Marvel, que tem o trunfo de saber estruturar seu Universo a partir de finais com ampla abertura para discussão e teorias.
Por mais que tenha errado feio na construção do roteiro e nas controversas decisões em torno da produção, a Warner prometeu lançar a versão do diretor de Batman v Superman, com meia hora a mais de cenas. Em um mercado difícil como o dos EUA, onde uma classificação indicativa errada separa o sucesso do fracasso, não deve ser encarada como nenhuma surpresa o fato do filme ficar bem mais coerente com as adições que levariam o longa a um rating R nas telas americanas. Suicide Squad, com lançamento previsto para o final do ano, deve apagar parte do incêndio e tem tudo para reestruturar o frágil Universo DC, que, mesmo assim, deve lucrar mais de um bilhão de dólares com essa produção.
Voando Alto
3.8 173Carismático e inspirador é a definição perfeita. Uma história de superação emocionante e uma direção econômica, que não atrapalha a evolução da narrativa proposta. A superação de Eddie "The Eagle" é uma receita pronta para o sucesso e isso é comprovado no longa.
Os primeiros minutos mostram um Egerton caricato. Se o espectador não souber como é a fisionomia do Eddie real, que de verdade parece um personagem de cartum, talvez ache a atuação fora de tom. Quando a foto verdadeira dele aparece nos créditos finais, fica evidente o ótimo trabalho de Egerton. Mais do que as feições, o ator consegue reproduzir a força de vontade sem barreiras que Edwards possuía, e contagia o filme neste aspecto.
Jackman, o mau humor e o jeitão de caipira ajudam o ator a compor uma química interessante com Egerton. A dupla é o motor do filme, pois, sem apelar em nenhum momento para a amizade infinita ou amor eterno, consegue emocionar e tornar a relação entre duas pessoas muito diferentes algo crível.
A fotografia de George Richmond é muito boa, principalmente ao mostrar as lindíssimas paisagens das montanhas nevadas da Áustria e da Alemanha, onde parte do filme foi feito. Já a música de Matthew Margeson não tem nada demais, embora não seja ruim. Isso é compensado pelas canções da época que são tocadas, com destaque para Jump (saltar ou pular, em inglês), da banda de Hard Rock estadunidense Van Halen.
Eu só faço três restrições a Voando Alto. A primeira é quanto às cenas de salto de esqui. Elas estão muito boas, especialmente as que foram feitas com uma câmera no capacete, mas, estranhamente, não aparecem tanto quanto deviam. Parece que Dexter Fletcher ficou com medo de por mais cenas por achar que poderia exagerar. Mas, no melhor estilo Eddie Edwards, acabou exagerando, sim, mas de modo contrário: ao invés de ser demais, foi de menos.
A segunda restrição é sobre o vestuário de Hugh Jackman no filme. Enquanto todos estão com agasalhos pesados e, mesmo assim, morrendo de frio, Hugh, frequentemente, aparece vestido apenas com uma camisa social ou, no máximo com um agasalho leve. Tem-se a impressão que os produtores fizeram isso – mostrar a boa forma do astro – numa tentativa de atrair mais público feminino. Por favor, me poupem…
A terceira restrição que faço, como os leitores de minhas críticas já devem ter percebido, é, de novo, quanto ao horrível título nacional do filme. O título original em inglês é “Eddie, The Eagle”, que significa, literalmente, “Eddie, a Águia”. Porém, nossos brilhantes tradutores resolveram colocar o mesmo título de uma comédia chinfrim de 2003 estrelada por Gwyneth Paltrow (Homem de Ferro) e dirigida pelo brasileiro Bruno Barreto (Crô – O Filme). Isso vai, com certeza, causar confusão. Dá vontade de pegar esses mesmos tradutores, colocá-los no topo de uma rampa de 90 metros e empurrá-los para baixo sem os esquis.
Na vida real assim como no filme, Eddie Edwards lutava contra tudo e contra todos, mas, na maior parte das vezes, nem se tocava. Ele não ganhou nenhuma medalha nas Olimpíadas de Calgary – aliás, ficou em último lugar nas duas categorias nas quais competiu. Porém, pouquíssimos atletas encarnaram o ideal olímpico tão bem como ele. Isso leva a um dos méritos de Voando Alto, que é a sua mensagem edificante: para vencer não é necessário chegar em primeiro lugar ou conquistar uma medalha. Se acreditar em si mesmo e fizer o seu melhor, já será uma vitória e o reconhecimento, inevitavelmente, virá.
O Tesouro
3.3 19Corneliu Porumboiu é um dos diretores romenos que ganharam espaço por conta da New Wave de seu país, que apostou numa ruptura narrativa com o padrão vigente e buscou a criação de uma própria identidade cinematográfica.
A questão social da Romênia está completamente vinculada na busca pelo tesouro. O país mantém uma das políticas mais duras nessa questão – tudo o que é encontrado no solo romeno pertence ao governo, com apenas 30% do valor total para o ‘caçado’ – e o descumprimento desta lei dá prisão. Ao mesmo tempo, existe o sonho de que a descoberta dos dois possa trilhar a independência financeira de ambos, que não tem nenhum luxo em suas vidas.
Nas entrelinhas, O Tesouro trata através de seu roteiro minimalista os vários rumos do capitalismo. Costi e Adrian, que tiveram suas infâncias no contexto da crise do comunismo de Ceausescu, não tem a mínima noção do que fazer caso consigam uma grande quantidade de dinheiro, pela provável falta de comida e precariedade vivida na década de 1980. Essa fantasia do tesouro é apenas uma das tantas fantasias sonhadas por milhares de romenos que buscavam melhorar de vida através de um milagre. É por isso que os dois não desistem de cavar o buraco que pode conter algum tipo de item raro- afinal, o que eles tem a perder?
A estruturação narrativa de Comoara destoa da New Wave e da própria filmografia de Porumboiu, o que sugere um movimento de transição interna no cinema do país, buscando outros tópicos e outras ambientações, apesar de manter o foco social. Longe de ser um filme ruim, seu humor seco e a lento desenvolvimento acabam atrapalhando o plano geral do longa, que torna o filme limitado para um pequeno público – como pode ser comprovado na baixa distribuição internacional do filme.
Destino Especial
3.3 159Jeff Nichols conquistou o cinema mundial com Take Shelter, um dos filmes mais discutidos dos últimos anos. Por conta do sucesso e da boa recepção tanto dos críticos quanto do público em geral, qualquer produção com sua assinatura terá altas expectativas. Midnight Special é um filme de ficção independente que começa poderoso, mas perde força ao querer copiar a receita de sucesso de Take Shelter de todas as formas.
A tensão e o suspense gerados desde o primeiro minuto, empolgam muito. Até a metade do filme, passamos a nos perguntar o que há de errado com os protagonistas, e se o segredo que eles buscam afastar do governo é real ou apenas produto das mentes de um culto. Mais uma vez Michael Shannon rouba a cena e entrega uma atuação de alto nível, tornando-se em um dos principais motivos pelo qual o longa não se perde completamente de seu eixo na meia hora final, quando Kirsten Dunst entra em cena na tarefa de ajudar a esconder o menino.
Para tentar inspirar seu público em ver um roteiro parecido com o de Take Shelter, Nichols peca ao não querer discutir fatores que tornariam seu longa bem mais atraente (como as coordenadas e a participação da NSA na busca pelo garoto). Isso ocorre apenas pelo fato de levar um final aberto, onde cabe ao espectador juntar as peças para montar o quebra-cabeça. Funcionou bem em Take Shelter pela quantidade de informações secundárias que não estavam atreladas ao objeto central da análise. Em Midnight Special, o mesmo não chega nem perto de ocorrer, muito por culpa de uma edição perdida e de uma trilha sonora que não passa para as telas a mesma intensidade que é colocada através dos atores.
Geralmente, em filmes deste gênero, recomenda-se assistir mais de uma vez a produção para captar toda a história. Neste caso, a dica não se aplica, já que uma atenta análise já basta para entender o quanto o diretor e seus produtores cercaram-se mais em uma ficção aberta do que em um thriller que pudesse nos questionar se o que estávamos vendo era real ou apenas fruto da mente dos protagonistas.
Aquarius
4.2 1,9K Assista AgoraNão se trata de boicote aos filmes Brasileiros, mas aos que usurpam do dinheiro das estatais e povo pobre e desgraçado. Trabalhar com próprio dinheiro é mais difícil né? Bem-vindo a realidade Brasileira fdp. Todos temos talentos, mas vivemos do próprio suor.
Kleber Mendonça Filho está hospedado em um dos melhores hotéis de Paris tomando champanhe de $800 e Sônia Braga com vestido de 40mil. Fica fácil com R$10.000.000 do governo, nem com bilheteria eles precisam se preocupar.
Crie projetos construtivos e quaisquer empresa privada há de patrocinar, não só irá melhorar o conteúdo como a cultura.
Do meu dinheiro não mais, e a critica é livre.
Deadpool
4.0 3,0K Assista AgoraPor muito tempo esperei um filme de Deadpool. Pra falar a verdade, tinha poucas esperanças de ver uma grande produção, já que Wade Wilson está no segundo escalão da Marvel. Até me recordo do anúncio de 2005 em que Ryan Reynolds foi chamado para o papel – e de como fiquei surpreso e contente pela decisão. Onze anos mais tarde, após a companhia fundada por Stan Lee conseguir vários recordes de bilheteria no cinema mundial, Deadpool saiu do papel, e Reynolds finalmente pôde dar vida ao personagem ‘politicamente incorreto’ do Universo dos quadrinhos.
Wade Wilson (Reynolds) é um ex-militar que ganha dinheiro fazendo bicos sujos. Após descobrir que ele está com câncer terminal, ele é convidado a fazer parte do programa Weapon X (o mesmo de Wolverine). Apesar de ser curado e de receber superpoderes, ele vai atrás de Ajax (Ed Skrein), responsável pelo experimento que pensava que Wade havia morrido em um incêndio, para corrigir seu rosto, que ficou desfigurado. Durante a jornada, dois X-Men (Colossus, interpretado por Stefan Kapicic, e Negasonic Teenage Warhead, por Brianna Hildebrand) juntam-se a ele. Ao mesmo tempo, Wade busca contado com sua ex-noiva, Vanessa (Morena Baccarin), que também pensava que ele estava morto. T.J. Miller, por sua vez, interpreta Weasel, melhor amigo de Deadpool.
Ryan Reynolds é o menor dos problemas em um filme que tem profundas falhas de estruturação. A seleção do protagonista foi excelente pelo fato do ator ser um dos melhores ‘fast-talkers’ dos Estados Unidos. A tomada inicial dá uma falsa impressão sobre o desenrolar da história, pois é muito bem bolada (pequenos spoilers engraçados, digamos assim). As referências externas são várias, provavelmente as que mais chamam a atenção são as referências sobre a péssima aparição do personagem no filme de Wolverine, o problemático papel de Reynolds em Green Lantern e a escolha do ator como o homem mais sexy do mundo em 2010. Se tais brincadeiras fossem secundárias, elas seriam uma boa adição no filme, mas elas só existem pelo fato do roteiro ser uma bagunça generalizada, sem um objetivo específico.
Como todo o filme da Marvel, existe uma contextualização geral da história. Neste caso, a mistura de flashbacks com a sequência do filme não é bem editada, e apenas ressalta o quanto a produção perde a essência dos quadrinhos. Existem apenas duas cenas de ação. Será que o diretor Tim Miller teve alguma influência nisto ou foi uma pressão interna? Não é aceitável um personagem como Wade Wilson passar o filme todo dentro de um bar ou pensando no que vai dizer para sua namorada. Ele é o sinônimo de ação, um perfeito anti-herói. A decepção, portanto, é enorme. Dentre todo o festival de filmes de heróis lançados neste novo milênio só me lembro de dois que conseguiram dar uma boa base da história – Batman Begins e Iron Man. Nem mesmo o fracasso estrondoso de The Fantastic Four não foi o suficiente para a Fox reconsiderar a decisão, que não deve ter sido das mais fáceis, já que o roteiro foi modificado uma porção de vezes.
Deadpool é um filme que, apesar da boa introdução, falha completamente em estabelecer as bases para a franquia. A história acaba se tornando justamente o que o filme não deveria ser, e é bastante constrangedor observar como a produção foi finalizada com o típico toque de Hollywood, apostando cegamente no romance e em duas ou três piadas sem graça. O mais impactante disto tudo é que o rating R é mal aproveitado, e Wade sai de cena com muito menos do que poderia oferecer.
Trumbo
3.7 11Dalton Trumbo tem uma história fantástica em Hollywood. Boa parte das controvérsias em sua longa carreira é alvo de análise de Trumbo (Trumbo: Lista Negra, no Brasil). A impecável direção de arte e a brilhante atuação de Bryan Cranston dão corpo ao filme dirigido por Jay Roach, que comete o pecado de não saber distribuir o tempo de exibição – e, consequentemente, omitir os anos finais da carreira de Trumbo.
O foco do filme está na análise do período da Hollywood Blacklist, buscando mostrar como Trumbo (Cranston) teve que lidar com a pressão por ser um comunista. Em 1947, o roteirista que já era famoso nos Estados Unidos por conta de seu trabalho na década anterior, foi pressionado a depor no Comitê de Atividades Antiamericanas, que mostrava preocupação com a influência dos comunistas no cinema dos EUA. Após Trumbo e outros nove roteiristas (conhecidos como Hollywood Ten) se negarem a responder as perguntas do órgão, eles foram condenados pelo Congresso por obstrução e serviram penas que variam de seis meses até um ano.
Após cumprir seu tempo na cadeia, Trumbo teve outro problema: dinheiro. Após viver anos como milionário graças a contratos fartos com MGM e Paramount, o roteirista sentiu na pele as restrições impostas aos comunistas – Ronald Reagan e Richard Nixon davam seus primeiros passos na política americana neste período. No filme, a colunista social Hedda Hopper (Helen Mirren) atua junto do líder do Sindicato dos Atores, John Wayne (David James Elliott) para evitar que qualquer um dos ex-comunistas volte a trabalhar em Hollywood.
O filme distancia-se da realidade em certos momentos (como em diálogos falsos atribuídos à Edward G. Robinson), mas dá um bom panorama sobre como Trumbo vendeu roteiros de 100 páginas feitos em três ou quatro dias por uma quantidade de dinheiro suficiente para manter sua família. O longa trata sobre os casos de Roman Holiday e The Brave One, escritos por Trumbo e vencedores do Oscar de melhor roteiro. No primeiro caso, Dalton usou seu amigo, Ian McLellan Hunter, para vender os direitos para a Paramount. No segundo, Trumbo criou o pseudônimo de Robert Rich.
A base do roteiro foi duramente criticada tão logo o projeto foi anunciado. A biografia escrita por Bruce Cook, duramente criticada no período de publicação, conta a história através de relatos de terceiros e não faz, de forma alguma, um trabalho criterioso na seleção de fontes– fica o aviso para quem for comprar o livro no Brasil, lançado junto do filme. Cook não teve o cuidado de mediar o discurso de Trumbo, portanto não foi atrás para ouvir o outro lado, tornando sua obra em um trabalho de defesa do legado do roteirista e de ataque à Hollywood.
Ainda assim, o bom elenco secundário dá vida a um número incrível de estrelas do cinema. Kirk Douglas e Otto Preminger também foram citados, já que Trumbo trabalhou tanto em Spartacus quanto em Exodus. O desenrolar da história é agradável, e a quantidade de detalhes que rodeiam as décadas analisadas é de chamar a atenção. O filme tem como trunfo a crítica aberta aos anos negros de Hollywood – onde as pessoas eram acusadas apenas por desconfiança. A forma como a história é trabalhada, no entanto, não permite uma análise geral do sucesso do roteirista (não custava nada mencionar que ele também esteve por trás dos sucessos de Papillon e até mesmo sentou na cadeira de diretor em Johnny Got His Gun).
Apesar de fracassar no objetivo de ser um dos protagonistas no Oscar 2016 e de ter uma bilheteria muito abaixo do esperado, Trumbo é o passo inicial da parceria de Cranston com Jay Roach – que devem lançar All The Way na metade deste ano.
Conspiração e Poder
3.7 108 Assista AgoraO outro lado do jornalismo. Ou melhor, como não fazer jornalismo. Se Spotlight mostrou como uma equipe unida em torno de um objetivo claro consegue montar uma reportagem de extrema relevância a partir de muita investigação, a história de Truth (Conspiração e Poder, no Brasil) trata justamente do oposto, analisando como uma série de desencontros (e, talvez, interesses políticos) causaram uma das mais discutidas reportagens da história recente dos Estados Unidos (referido na literatura acadêmica como Memogate, ou Rathergate).
Antes de entrar na história em si, considero necessária uma explicação sobre alguns tópicos que podem ser desconhecidos do grande público de língua portuguesa. Primeiro: Dan Rather é, sem dúvida alguma, um dos maiores âncoras da história da televisão americana. Seu trabalho na CBS é reverenciado nas universidades até hoje, afinal, não é qualquer pessoa que passa 24 anos na frente do principal telejornal de uma das maiores emissoras do mundo. Seu estilo único, misturando jargões com uma postura séria, deu a ele um poder invejável na CBS News. Segundo: o grande estopim da polêmica aconteceu em um programa ’60 minutes’, que é especializado em matérias de grande impacto (entrevistas especiais, investigações), e é conhecido pela credibilidade junto do público estadunidense.
Em 2004, a CBS colocou no ar uma matéria investigando o registro do então presidente George W. Bush na Guarda Nacional dos EUA. Na época de eleição presidencial, enquanto John Kerry era atacado por conta de suas ações no Vietnã, Bush ‘conseguiu’ cumprir seu serviço obrigatório em solo americano. A discussão sobre o passado do então presidente era urgente. Mapes (Cate Blanchett) e sua esquipe de pesquisadores (interpretados por Dennis Quaid, Topher Grace e Elisabeth Moss), conseguem colocar as mãos em documentos privados do Tenente Coronel Jerry B Killian, que criticava a ausência de Bush no período entre 1972-3. Pressionados para fazer uma matéria em uma semana sobre este caso, a equipe do 60 Minutes e seu âncora, Dan Rather (Robert Redfor) correm para esclarecer os pontos abertos.
O primeiro trabalho de James Vanderbilt como diretor tem como destaque o laço entre Redford e Blanchett – extremamente interessante e sólido. Eles conseguem dar vida a dois personagens complexos, cheios de questionamentos internos – e com uma reputação a defender. Com um roteiro bastante ágil e direto, Truth reconstrói o ambiente na redação da CBS desde o primeiro dia da investigação de forma clara e precisa.
Truth recebeu inúmeras críticas nos Estados Unidos pelo fato de ser um filme político, de contar a história apenas pelo viés de Mary Mapes. Aqui,algumas considerações: 1) o filme, de fato, tem como base o livro Truth and Duty: The Press, the President, and the Privilege of Power, que se tornou alvo de ataques pelos apoiadores de Bush e de aplausos dos democratas. A decisão de focar na história de Mary é pessoal, e acredito que tenha sido a correta. Isto ocorre pelo fato de que, tão logo os créditos rolam, uma grande questão fica em aberto: por qual motivo a pergunta lançada no programa, sobre o serviço militar de Bush, foi deixada de lado e apenas o lado ruim e vexatório foi abordado?
Sim, Dan e Mary cometeram o erro grotesco de terem autorizado a publicação a matéria sem a verificação completa sobre os documentos. Mas foram calados por sua emissora, com poucas chances de defesa. Truth simplifica boa parte dos eventos após a transmissão do 60 Minutes que acarretou na demissão de Mary e de sua equipe, além de afastar Rather de seu telejornal. É compreensível, dada a complexidade do caso. Mas a grande vitória é reascender a discussão em torno do papel da imprensa, e, especialmente, sobre os métodos usados no jornalismo para levar a notícia ao público.
Life: Um Retrato de James Dean
3.2 84 Assista AgoraJames Dean foi uma das figuras mais polêmicas e controversas de sua época. Life (Life – Um Retrato de James Dean, no Brasil) propõe analisar o perfil do ator estadunidense a partir da relação dele com um fotógrafo. Dirigido por Anton Corbijn, o filme basicamente é um making of das famosas fotografias publicadas pela Time, com pouco conteúdo externo.
Um fotógrafo ambicioso atrás de sua grande matéria de capa. Um ator em ascensão, preocupado apenas com novas experiências. Dennis Stock (Robert Pattinson) encontrou o jovem James Dean (Dane DeHaan) logo após o teste do ator para o papel principal de Rebel Without a Cause, e começa a tirar fotos para sua coleção pessoal. Pouco antes da trágica morte de Dean, Stock percorre Hollywood, Nova York e regiões do estado de Indiana para oferecer ao seu chefe um retrato de quem era aquele ator que tanto chamava a atenção de Jack Warner (Ben Kingsley).
É interessante notar o quanto Corbijn parece apostar que sua história é boa o suficiente para prender a atenção de seu público. Essa confiança gera uma série de pequenos problemas. O principal, e facilmente visto desde as primeiras cenas, é que não existe química entre Pattinson e DeHann, tornando o longa cansativo e forçado. A orientação do roteiro é voltada, na maior parte do tempo, apenas para os pontos de desentendimento dos dois protagonistas, simplificando Dean como um homem problemático, sem oferecer claras explicações sobre sua carreira fora as menções de filmes como East of Eden e Giant. Isso é um fato um tanto quanto curioso, já que quem assina o guião é Luke Davies, autor de Candy (2006), um dos grandes romances feitos neste século, que destaca-se pelo ótimo desenvolvimento dos personagens. Outro problema é que são feitas simplificações apressadas e desnecessárias para colocar as viagens de Dean e Stock em uma hora e quarenta minutos e dar uma espécie de panorama completo da relação entre os dois – o que certamente não chega nem perto de ocorrer de fato.
O ponto positivo – que deve aproximar os fãs do ator desta produção – está na tentativa de simular o ambiente das fotografias alvo de tantas publicações especiais sobre Dean (para quem se interessar, é possível acessar a coleção clicando aqui). Elas são a chave para o mínimo de entretenimento que o filme trás ao espetador. Apesar de desenrolar uma história vazia, sem foco, Life também apresenta uma boa maquiagem e cuidadosa, mas não deve ser considerado, por nem um segundo, como um retrato do ator.
Rua Cloverfield, 10
3.5 1,9K10 Cloverfield Lane (Rua Cloverfield, 10, no Brasil) é um filme de mistério, que apresenta uma construção linear de cenas que visa despertar o sentimento de medo em seu espectador. Mas a tão comentada produção de J.J Abrams, que tenta estabelecer uma espécie de sucessor espiritual do aclamado Cloverfield (2008), torna-se interessante apenas nos quinze minutos finais. E o terror – principal produto do marketing em cima deste longa – na verdade dá lugar a uma simples curiosidade sobre o desfecho final.
Michelle (Mary Elizabeth Winstead) vive problemas em seu casamento. Ela pega suas coisas e deixa para trás seu marido (voz de Bradley Cooper), carregando consigo vários sonhos e uma grande expectativa de mudar o rumo de sua vida. Após se envolver em um acidente na estrada, ela acorda no bunker de Howard (John Goodman), um homem que não quer que a jovem pense em sair dali. Ele justifica dizendo que o país sofreu uma invasão (talvez dos russos, talvez de alienígenas) e que o ar é tóxico. Junto deles está Emmett (John Gallagher Jr.), que conseguiu entrar no local pouco antes do misterioso evento.
O grande problema do roteiro está na sua própria estruturação. A história passa muito tempo dentro do bunker, que por sua vez, tem pouco a oferecer senão investir no perfil do trio. Ao contrário do original, nesta versão a dinâmica é cansativa, não oferece um elemento surpresa e não inova. Os diálogos são precários, e pouco ajudam na formulação de um perfil. Aliás, justamente no momento em que mais interessa desvendar quem é quem a história toma um rumo brusco. Em suma, tal opção anula todas as falas anteriores, e o filme poderia ser facilmente compreendido sem áudio – a trilha sonora pouco ajuda na criação de um ambiente tenso, salvo a cena final.
O estreante diretor Dan Trachtenberg mantém pontos do longa original, apostando em um final aberto com potencial para mais uma continuação e estabelecimento de uma franquia. Ele falha absurdamente, no entanto, ao apostar no enquadramento excessivo de seus personagens, como quem grita a mensagem que quer passar ao público. Neste caso, a desconfiança de Michelle é tão clara que as cenas finais tornam-se, infelizmente, previsíveis.
Por mais que a comparação seja injusta, 10 Cloverfield Lane é duramente prejudicado pela expectativa criada em torno de si. Se o espectador busca um bom longa sobre confinamento, saiba que experiência de Room é bem mais marcante, sem excessos, sem apelação, e com uma boa produção.
O Sobrevivente
3.4 39The Survivalist é um filme extremamente competente sobre um tema que cada vez mais ganha adeptos. Em meio a um cenário pós-apocalíptico, a produção dirigida por Stephen Fingleton destaca-se por não oferecer qualquer perspectiva de mudança. para seus personagens. A palavra chave é sobreviver.
Martin McCann interpreta o personagem que inspira o título do filme. O primeiro quarto do filme, sem uma linha de diálogo, dá uma boa dimensão do isolamento. Não descobrimos o nome do homem, mas presenciamos sua luta para vencer os desafios do cotidiano. Uma casa completamente protegida, uma pequena horta de subsistência e armadilhas (que servem tanto para animais quanto para humanos que se atrevem a tentar chegar perto de sua área). Em uma sociedade perdida, as páginas da Bíblia só servem para dar vida às chamas, e as fotos trazem memórias de lembranças que podem machucar. Certo dia, duas mulheres – Kathryn (Olwyn Fouere) e sua filha, Milja (Mia Goth) – aparecem em sua porta pedindo comida. Após anos de masturbação, o homem aceita a oferta de dividir seus alimentos em troca de sexo, o que pode colocar em risco sua própria segurança.
Fingleton teve identidade própria ao construir seu roteiro, e merece créditos por isso. The Survivalist não precisa de nenhum apoio secundário, nem visa prestar tributo aos longas clássicos de seu gênero. As imagens chocantes são a prova disso. Não existe nenhuma linha definida para a história, e esse desenrolar torna-se especial a medida que o próprio espectador é convidado a antecipar os passos do homem e das duas mulheres. Neste sentido, existe um tom misterioso em torno de ambas – também notado pelo personagem de McCann. Será que elas estão ligadas a algum outro grupo de sobreviventes? Será que elas vão matar o homem? Será que Milja pode criar um sentimento de amor?
The Survivalist também é um belo exemplo de sucesso na contenção de custos. O resultado é surpreendente para um filme com orçamento de menos de três milhões de dólares. A floresta dá espaço para uma fotografia segura, que busca jogar com o alto contraste do verde para mostrar que não existe uma saída mágica, a vida começa a partir da plantação. O homem aos poucos conta detalhes de sua história pessoal, que também deixa um pouco mais claro o contexto em que o caso se passa. Discussões sobre lealdade e confiança tomam conta dos minutos finais. Mais uma vez somos convidados pelo diretor a nos colocarmos no papel de todos os personagens – julgando suas atitudes e nos questionando se teríamos coragem para fazer o mesmo.
Capitão América: Guerra Civil
3.9 2,4K Assista AgoraPara a felicidade dos fãs da Marvel, os diretores Joe e Anthony Russo demonstram uma maturidade ímpar ao levar para as telas vários personagens complexos – e, ainda assim, conseguirem tirar proveito de várias diferenças em um filme repleto de ação e boas surpresas. Ultimamente, os filmes de super-heróis focam muito na construção de um determinado universo para abrir campo para filmes posteriores. É justamente neste ponto que Civil War destaca-se: ao saber aproveitar todo legado construído nos últimos anos, a Marvel entrega uma experiência completa nas telas, com início, meio e fim bem definidos e articulados.
A premissa básica do filme segue o modelo adotado no decepcionante Batman v Superman, mas a abordagem é completamente diferente. Após a morte de inocentes em Sokovia e na Nigéria (cena de abertura) – a ONU passa a questionar a interferência dos heróis. Neste sentido, Steve Rogers, o Capitão América (Chris Evans) vê uma grande injustiça tomar lugar. Seu amigo de infância, Bucky (Sebastian Stan) – que sofreu lavagem cerebral para se tornar o temido Winter Soldier é considerado culpado de um incidente terrorista que ocorre na reunião da ONU em Viena, matando dezenas de líderes mundiais. Ele afasta-se gradualmente de Tony Stark (Downey Jr.), que decide ficar ao lado da ONU e aceita se submeter às regras impostas por 117 países, que limitam duramente suas atividades. Com uma série de problemas políticos, um novo vilão – Helmut Zemo (Daniel Brühl) – deixa claro a ruptura entre os vingadores, divididos entre os favoráveis ao Capitão contra os liderados por Stark.
As cenas de batalhas são de tirar o fôlego! Enquanto Batman v Superman oferece limitados minutos de entretenimento em uma direção problemática, Civil War consegue aproveitar cada peculiaridade dos tantos heróis apresentados na tela para gerar algumas as melhores tomadas de ação de todos os filmes da Marvel. Tanto os novos heróis, como Scarlet Witch (Elizabeth Olsen) e Falcon (Anthony Mackie), quanto os populares War Machine (Don Cheadle) e Black Widow (Scarlett Johansson) têm o tempo necessário para deliciar seus fãs. A atuação de Tom Holland como Spider-Man é excelente, e a Marvel merece aplausos por apostar em um reboot de um personagem deste nível dentro de um filme tão poderoso. Deu (muito) certo!
A Marvel parece ganhar experiência a cada filme que passa – e sabe muito bem fazer a complementação de seus objetivos primários com os secundários. Pode-se notar, por exemplo, que a divisão ideológica dos heróis é apenas uma das tantas possibilidades de análise oferecidas neste filme, que envolve com primazia panos de fundo que servem para Stark e Rogers resolverem suas diferenças. O editor Jeffrey Ford merece os louros por saber envolver tão bem tantas cidades diferentes em pequenos cortes, que não deixam o clímax da batalha cair até a rolagem final dos créditos.
Captain America: Civil War é o melhor filme do Universo Marvel, impactante desde sua cena inicial e incrível ao ponto de prender seu espectador pelo roteiro agradável que se assemelha muito a leitura de uma boa história em quadrinhos.