Don’t Breathe cria uma nova proposta no gênero de terror propondo um roteiro com certa credibilidade. Fede Alvarez deixa de lado a herança maldita nos tradicionais clichês que criaram um fortíssimo vínculo visual e sonoro: parece que para impressionar o espectador, torna-se necessário o uso de cortes rápidos que assustem, mesmo que a qualidade geral da produção seja bastante questionável.
A parte técnica é o destaque - é impressionante o trabalho feito em torno da fotografia. Ela é diferente da corrente que prega um filme de terror baseado em closes fechados para a captação de emoções que transmitam pânico ao público. Sim, Fede Alvarez por vezes utiliza do recurso, mas ele sempre fica em segundo plano, já que o grande destaque está justamente na apresentação de um ambiente hostil. É por causa disso que o clímax está em uma cena na escuridão total, onde os jovens estão nas mesmas condições do veterano cego. O simbolismo, neste caso, funciona. Mas isso não pode esconder as graves falhas de roteiro. No entanto, Fede abusa da boa vontade ao promover três grandes cliffhangers – editados com uma transição em silêncio e em tela preta, como se o diretor perguntasse ao espectador se aquele, de fato, seria o final do filme. Se nos primeiros trinta minutos o toque introdutório foi bastante positivo, com claros estabelecimentos de personagens, contexto e até mesmo de objetivos pessoais, a partir do momento em que o cego vira um predador em habitat natural é que temos visão de problemas que afetam a continuidade.
O final de Don’t Breathe infelizmente mantém a mesma previsibilidade da maior parte dos longas do gênero nos últimos anos. Por conta do sucesso nos EUA e da boa resposta no exterior, é muito provável que se estabeleça uma franquia de bastante poder.
Zac Efron tem um ótimo potencial artístico. Mas às vezes parece que eu acredito mais nisso do que ele mesmo, só escolhe papéis parecidos de comédia. Em Mike and Dave Need Wedding Dates, não é nem um pouco diferente e Adam Devine a mesma coisa, Anna Kendrick, que, na verdade, não faz muito sentido. Ela é excelente atriz já reconhecida e pegou um papel que não combina muito com seu estilo. Isso fica notório em muitas cenas. Ainda assim, ela tem uma química muito boa com Zac, o que torna tudo mais fluido.
O longa tem seus momentos, isso é inegável. Mas infelizmente tudo fica muito escondido pela narrativa cansativa e parecida, que mostra o óbvio desde o começo. Entenda, não é que o filme não preste. Ele é divertido e faz valer o ingresso, mas é banal demais para ser levado à sério.
Como um todo, o filme é uma comédia besteirol como muitas outras e no final das contas, cumpre seu objetivo de fazer o espectador rir repetidas vezes. Mas diferente de Anjos da Lei 2, por exemplo, que faz o público lembrar durante meses depois, esse é um daqueles longas que a gente vai esquecer ou atrapalhar com outro filme, já que ele mistura vários roteiros em um só.
A comédia de humor-negro realista, criada por Dan Kwan e Daniel Scheinert, é podre - tocante, expressivo, incrível e inteligente ao tratar sobre vida, amor, solidão, e, sim, peidos – poderia se perder no meio da censura.
Difícil de vender, censurado, mas, acredite, Swiss Army Man é muito mais do que um monte de peidos, porém muita gente vai se levantar e ir embora nos primeiros 5 minutos de filme.
A melhor adaptação dos livros The Free State of Jones e The State of Jones. A autenticidade é marca principal do filme.
Os grandes trunfos do filme é de saber discutir a relação entre História e cinema de maneira bastante clara, ainda que o resumo da vida de Knight possa soar apressado para o espectador com profundo conhecimento prévio, o resultado é bastante positivo para um filme de 140 minutos de duração. Sim, vários momentos da vida de Knight ficaram de lado no corte final, mas a complexidade do evento é tão grande que o tempo para discutir tudo o que ocorreu em Jones Country precisaria, no mínimo, de uma mini-serie. Por outro lado, considero extremamente louvável a atitude do diretor e dos produtores criarem um site complementar para discutir cada cena do filme, apresentando inúmeros documentos originais e até mesmo fazendo um mea culpa em questões de estilo.
As técnicas usadas pela produção é muito eficiente, e apresenta cenários amplos, com um nível de detalhe impressionante, com influência direta dos dez acadêmicos consultados durante as filmagens. A maquiagem é pontual, todos andam sujos e lutam pelas suas sobrevivências. Ainda assim, é possível notar a atenção para objetivos secundários, como o começo da discussão sobre o papel do negro livre na sociedade dos Estados Unidos – que ganha mais poder na medida em que os confederados começam a perder território.
Florian David Fitz e Matthias dois atores alemães ou deutsche famosos por lá produziram um dos melhores filmes alemães que já pude ver - o dia mais feliz pode parecer ser mais do mesmo, porém posso garantir que você não vai se arrepender, os protagonistas tem química, diálogos que te deixaram presos ao filme, sem dúvida Der geilste Tag é mais que um bom filme, você vai se emocionar e dar muitas risadas com as viradas da trama.
Robbie Amell com todas as sua limitações, não fez feio aqui, talvez pelo roteiro não exigir mais do que um rosto sério e tenso praticamente o tempo todo, pois bem Imagine a fusão de Feitiço do Tempo, Contra o Tempo e No Limite do Amanhã em um espaço confinado e orçamento à la Primer. Imaginou? Pois é isso, essencialmente, ARQ.
Tony Elliott faz milagre com um design de produção espetacular em que a casa de Renton é compartimentalizada a ponto de novos cômodos serem revelados na medida em que mais tempo é vivido pelo personagem a cada loop, mantendo a novidade também no campo visual. A tensão é palpável graças a uma câmera nervosa, mas sem ser tremida e uma fotografia que empresta um ar desesperançoso, quase monocromáticos para a história, cortesia de um trabalho preciso com câmeras digitais de Daniel Grant, profissional com vasta experiência em curtas-metragens.
As motivações dos personagens não ganham grande desenvolvimento, mas existe uma razão clara para isso: a produção tem como foco a questão do loop temporal, ainda que haja sim espaço para que os dois sejam suficientemente trabalhados para que eles não pareçam unidimensionais.
ARQ é uma amálgama de muitos e ótimos filmes que existem por aí, mas ele, mesmo assim, consegue trazer elementos novos a cada punhado de minutos de projeção em seus corridos 88 no total, mantendo o espectador curioso e constantemente quebrando a cabeça. É diversão garantida e um potencial gerador de muitas conversas posteriores com as mais diversas teorias sobre viagem no tempo.
Aos sessenta anos de idade, a vitalidade de Gibson é foda. Richet e seus roteiristas, no entanto, não conseguiram transformar sua energia em um elemento chave para a história. Temos cenas de tiroteios e violência, mas faltou um toque autoral mais refinado, talvez como apresentado em Assault on Precinct 13 (2005). A caracterização dos personagens é muito básica, com Gibson vivendo o típico criminoso arrependido e Moriarty atuando como a jovem drogada, sem rumo. William H. Macy faz uma breve aparição como vizinho de Gibson, e sua passagem na tela é modesta.
Talvez o grande pecado esteja na indefinição do projeto: o livro original de Peter Craig teve baixa aceitação, mas vendeu-se em Cannes a ideia de que a adaptação para o cinema daria uma nova interpretação para passagens que foram alvo da crítica literária nos Estados Unidos. E mesmo pelos contratos de distribuição assinados, garantindo o filme nos cinemas de diversos países, nota-se claramente que os produtores buscaram dar ar de um filme bem sucedido a um projeto concebido como longa B para o mercado de home video.
Blood Father torna-se atraente para o fã que estava com saudades do estilo Gibson. Como filme de ação, no entanto, peca pela falta de balanceamento, já que abusa de traços melodramáticos.
1 ano após o lançamento e cá estou eu, este sem dúvida é o meu filme favorito, tanto que levei 1 ano para escrever sobre ele, assisti na pré-estreia e depois umas 10 vezes pelo menos.
Considerado um dos maiores lançamentos do ano de 2015, The Martian apostou no talento de Matt Damon para prender a atenção dos espectadores durante as duas horas e vinte minutos de exibição e acertou em cheio, foi a combinação perfeita..
Ultimamente os produtores de Hollywood têm apostado alto nas ficções que envolvem a exploração especial. Gravity chamou a atenção pelos efeitos; Interstellar, levou ao público uma história típica de Nolan. Mas, ao contrário do que se possa imaginar, as coincidências dentre os dois filmes citados com The Martian para por aqui.
A diferença já começa na escrita: a obra homônima de Andy Weir, lançada em 2011, pecava pela falta de estrutura entre os diálogos. Mas nada que tornasse a leitura uma experiência cansativa – muito pelo contrário: Weir reconheceu suas deficiências e apostou alto na ciência nua e crua. Uma gigantesca diferença de Interstellar, por exemplo, que dá explicações superficiais e coloca como chave teorias sem cunho científico – que, por sua vez, geraram altas discussões na comunidade acadêmica.
Weir passou pela mesma prova ao ter sua obra apreciada por estudiosos do mundo todo. A diferença é que o diretor Ridley Scott deixou clara sua visão de manter toda a estrutura original do livro homônimo ao seu filme, o que é notado desde os primeiros minutos do longa. Deste modo, todas as explicações do protagonista de certa forma já foram discutidas em peso pelos pares de Weir (é claro que Hollywood sempre acha um jeito de diminuir polêmicas e Scott preferiu ocultar alguns detalhes pequenos sobre a trajetória do homem que foi esquecido em Marte).
De modo geral, os filmes de um homem só são trágicos e despertam sentimentos que variam da solidão até à depressão. Até por enrolar no roteiro a história secundária do resgate de Watney e a repercussão do caso no Planeta Terra, The Martian foge completamente a regra. Com muito bom humor, Damon consegue tirar boas risadas com a improvisação deliciosa de seu personagem para se manter vivo. Outro fator relevante: Scott manteve a pegada de Weir e não deixou a história cair em um chato looping de melodrama. Existem momentos de tensão, existem momentos de decisão, mas nunca Watney é visto como um coitado (e ele mesmo não faz questão de ser, afinal, ele era o ‘maior biólogo de Marte’ – e também o ‘primeiro pirata espacial’, pegando algumas de suas linhas). Neste ponto, a trilha sonora de alto astral ajudou muito.
Jeff Daniels e Chiwetel Ejiofor comandam o elenco de apoio que relatam o dia a dia da NASA para arrecadar fundos e organizar a missão de resgate. A ótima contextualização e a excelente estruturação da edição do filme fazem jus aos milhões de dólares gastos pela Fox. Tiro certeiro.
Richard Linklater deu show com Boyhood, Linklater entrega uma ambientação perfeita dos anos 80. O cuidado nos detalhes mínimos impressiona muito. Dos penteados até os carros da época, a busca dos homens por sexo e álcool tem um tom irreverente e sereno.
Os diferentes estilos de personagem apresentados ao longo do filme despertam curiosidade e interesse. Apesar de unidos em torno do baseball, cada um tem seu próprio estilo, tornando os diálogos dinâmicos e engraçados. McReynolds (Tyler Hoechlin), é o típico líder, extremamente competitivo; Finn (Glen Powell) é o que busca conquistar o maior número possíve de mulheres; Willoughby (Wyatt Russell) tem uma profunda paixão pela maconha e por seus poderes telepáticos; e “Raw Dog” (Justin Street) faz o perfil do adolescente inseguro, que não sabe como se provar para o grupo.
O arco narrativo tem duas grandes frentes: a primeira segue o modelo de Dazed and Confused, com piadas prontas e situações típicas da idade. A outra – talvez mais polêmica – encaixa Beverly (Zoey Deutch), jovem pensadora que conquista o coração de Jake. A comédia, é claro, desponta como gênero principal – e até por isso o desfecho romanceado causa certa estranheza. Jake funciona como um bom neutralizador, ou seja, balanceando os excessos de seus novos colegas. É claro que ele mesmo acaba cometendo deslizes, justificados pelo seu contexto e pela sua idade. A química entre os jovens atores é excelente, deixando a impressão de que realmente estamos acompanhando uma história de amigos.
Everybody Wants Some é um filme inteligente, que oferece boas risadas, mas que não tem a mesma força e o mesmo apelo de seu antecessor. Toda a pressão feita em cima de Linklater para aceitar o marketing em cima do sucesso de Dazed and Confused criou uma expectativa e uma pressão extremamente desnecessária. A vibe é a boa, mas falta um diferencial claro que permita identificar que essa produção caminha por si mesma, independente de comparações.
O filme não consegue achar o tom certo, misturando cenas de comédia (absolutamente sem graça) com um drama de vingança, que não convence por um segundo sequer.
O roteiro foi baseado no bestseller homônimo de Rosalie Ham, que certamente não deve estar satisfeita com a forma com que seu personagens foram levados para as telas do cinema.É estranho ver Winslet em um papel tão diferente de tudo o que ela fez em sua carreira. Geralmente ela é vista como uma atriz séria, que aceita trabalhos em dramas com conteúdo. The Dressmaker é um filme que depende exclusivamente da imagem de sua protagonista, mas aposta em passagens como uma cruzada de pernas em meio de trinta homens para buscar seu sucesso de forma não convencional.
A ideia de Moorhouse foi mostrar uma história de vingança pessoal (se é que ela de fato existe) através de uma perspectiva mais despojada, sem compromisso. Por este motivo, todo o drama e as lágrimas de Tilly não passam confiança e credibilidade. Essa poderia ser uma ótima ferramenta para desestruturar um filme de comédia, mas este não é o caso aqui. O problema é que acontece uma inversão de gêneros, e existem tantas passagens que buscam ridicularizar os personagens secundários que o filme entra em um movimento cíclico desagradável. Por conta disso, The Dressmaker pouco fala sobre vestidos – e cria uma protagonista perdida em seu próprio mundo. E a tão proclamada vingança ao estilo Unforgiven é apenas marketing barato.
Para um filme baseado no romance homônimo de Jean Hegland, o filme de Patricia Rozema traz uma visão bastante distinta do que é o apocalipse. Otimista - ainda que difícil e triste - e com uma sensibilidade feminina poderosa, o drama narra a jornada das duas em busca de sobrevivência em meio a uma situação completamente inimaginável. Solidão, dependência, criatividade e moralidade são discutidos, com Page e Wood dominando cada cena, enquanto o apocalipse mais plausível possível se desfralda ao redor de maneira extremamente intimista.
Achei o percurso dramático interpretado pelas irmãs bem amena, o grande problema do filme se torna a dinâmica narrativa pouco impressionante, no último ato fiquei pensando qual será o fim dessa história que não leva a nada?
A excelente fotografia de Philippe Rousselot utiliza filtros interessantes em determinados momentos que parecem dar a impressão de que o filme o filme foi rodado nos anos 70, com os tradicionais granulados visíveis em um anúncio de televisão, por exemplo, ou com breves pulos de quadros. A qualidade do conteúdo de Black é comprovada a partir do momento em que o próprio espectador passa a rir de cenas que retratam o inferno vivido pelos investigadores para chegar até Amélia.
A edição é bastante precisa, e mostra com o plano dá errado, já que o cadáver cai no meio de uma mesa de jantar. É esse estilo mais solto e livre que o público amante do antigo cinema policial delicia-se. Como esperado, no entanto, a história contém boas doses de cenas clichê – onde a sorte está sempre ao lado dos protagonistas. Aliás, o próprio Shane Black reconhece isso, e dá para Gosling proferir uma passagem onde o mesmo diz se sentir invencível.
O único pecado de The Nice Guys está na decadência do último quarto de rodagem, onde tudo é costurado rapidamente para apresentar um final que poderia ter sofrido alterações mais firmes para ser mais sucinto e sólido. Fica claro, por exemplo, que a cidade parece estar livre para ambos fazerem o que bem entenderem – e a impunidade vira um lema secundário – apesar da mensagem final tentar desfazer completamente tal noção.
Ótima opção de entretenimento, The Nice Guys apresenta boas atuações e tem tudo para estabelecer uma interessante franquia ao estilo dos parceiros de investigação comum no cinema americano na década de 1980. Resta esperar pela decisão final de Black e da Warner.
Este ano não foi bom para os blockbusters. Suicide Squad antes considerado um dos filmes mais esperados do ano, não consegue transmitir sequer um momento satisfatório.
Assim como em Batman, o grande problema está na edição: várias cenas deixam a clara impressão de que os cortes foram grosseiros, visando o número mágico de 120 minutos. O problema é que ao mesmo tempo que o diretor e roteirista David Ayer luta para criar um contexto geral que explique de forma satisfatória cada um dos personagens, os mesmos têm pouco tempo para mostrar seu potencial (exceção de Will Smith). Jared Leto, que até então era apontado como protagonista, atua em poucas cenas, com um tempo tão pequeno que uma avaliação sobre sua interpretação tornaria-se até injusta. Essas falhas poderiam ser deixadas de lado caso a história fosse boa o suficiente para apagar essa má impressão. Mas não foi o caso: Suicide Squad é extremamente cansativo. O principal motivo para isso é a falta de um grande clímax (muito por conta dos péssimos vilões). Os anti-heróis aos poucos se desfazem de suas personalidades próprias para defender uma causa ‘nobre’, mas com um número incrível de falhas: o mundo é incrivelmente pobre e vazio, sem nenhum tipo de interferência externa; os efeitos especiais causam surpresa e espanto pela pouca eficácia, tendo em vista o enorme orçamento de quase duzentos milhões de dólares; e os arcos narrativos envolvem toques de melodrama completamente desnecessários.
Suicide Squad apresenta algumas cenas que sustentam o projeto de criar um Universo DC, que, teoricamente, deve ter seu ponto alto com Justice League. No entanto, causa surpresa e estranheza o fato dos produtores não terem aprendido a lição do fracasso anterior (ora, se o filme foi concluído apenas em junho, será que não seria possível privilegiar um corte com mais conteúdo e com menos piadas sem graça?). Mais uma vez, talvez a versão do diretor explique pontos que ficaram abertos. Resultado geral: decepção.
The Bourne consegue responder algumas questões que ficaram abertas na trilogia, mas comete graves equívocos na narrativa que acabam tornando a experiência geral bem abaixo das entradas anteriores da série.
O roteiro assinado por Greengrass e por seu fiel editor, Christopher Rouse, propõe cenas de perseguição, tiroteios e, claro, várias passagens com Bourne tendo que se virar com os objetos em sua volta. Para os fãs do gênero ação, um prato cheio, sem sombra de dúvidas. Mas infelizmente a narrativa não consegue transmitir ao público as histórias paralelas de forma satisfatória. A motivação de Bourne não é tão forte e marcante quanto nos longas anteriores, e o protagonista parece muito mais apagado. Para piorar a situação, algumas decisões mostram o quanto o filme parece desnivelado, deixando de lado o mundo real para levar em conta apenas o que era repassado nas telas.
Na questão técnica, a edição e mixagem de som mantém o altíssimo nível da trilogia anterior, e provavelmente entrarão para a shortlist do Oscar dessas categorias. Barry Ackroyd, diretor de fotografia, tem pouca culpa no péssimo jogo de câmeras proposto pelo diretor Greengrass, que torna irrelevante algumas cenas para tentar criar um clima de tensão, abusando de ampliações desnecessárias, com uma notória falta de foco. Também é de Greengrass a culpa pelo abuso do instante decisivo, que acaba, por pelo menos três vezes, tornando cenas em cliffhanger pouco relevantes.
Ainda assim, o filme tem seus bons momentos – pegando o bom espírito da perseguição entre gato e rato – mas um olhar mais apurado e exigente talvez não consiga deixar de lado os grandes buracos deixados durante o decorrer da história, cobertos com explicações pouco convincentes e com um final aberto, que deixa a possibilidade de retorno de Damon futuramente, mas que não tem o mesmo poder da inesquecível passagem final de The Bourne Ultimatum.
A Netflix está melhor que as grandes produtoras de Hollywood e um dos grandes acertos sem dúvida vem sendo o elenco. Eric Bana tem o charme de dez George Clooneys interpretando o repórter canastrão; Vera Farmiga está ótima como a companheira do técnico de som – papel de Gervais, que nunca tem muito o que surpreender com suas atuações, mas não compromete. Raúl Castillo e America Ferrera, que dão vida ao casal de imigrantes cúmplice dos jornalistas, são os responsáveis por alguns dos momentos mais divertidos. O roteiro tem um humor ácido, com boas piadas que cutucam a mídia e a espetaculização das coisas. Mas a história se perde no meio, e o espectador pode sofrer mais que do qualquer correspondente de guerra. A mentira da dupla vira uma bola de neve quando ela é dada como desaparecida na América do Sul sem sequer ter saído dos Estados Unidos, você sem dúvida vai ficar puto, e isso cria um novo enredo que passa a ter mais destaque que o principal. Este só volta a ganhar desdobramentos próximo ao fim, quando Gervais talvez tenha pensando “caramba, é mesmo, eu preciso concluir isso”. E então tudo volta a acontecer do nada. Também vale avisar que a dica é se desligar da realidade. O roteiro tem momentos completamente inverossímeis, mas não vou me aprofundar nessa parte para evitar spoilers. Apenas tente não pensar que todas as armações, do primeiro ao último minuto, poderiam ser desmascaras com quatro minutos de investigação do FBI. Assistir Special Correspondents, com todos os poréns, pode ser divertido.
A Warner tornou Tarzan em mais um super-herói, perdendo boa parte da essência concebida por Edgar Rice Burroughs. Neste último ponto, uma ressalva: apesar da fala com os animais e o domínio da selva ainda são bem representados, mas assim que os créditos começam a rolar existe um enorme vazio. Era só isso mesmo?
Skarsgard, dentro da proposta geral, entrega uma boa atuação. No entanto, o excessivo destaque de sua aparência física parece criar um herói com a cabeça do ator sueco e com o corpo de CGI, aproveitando o alto investimento da Warner. Aliás, os efeitos especiais são um show a parte, competindo duramente com The Jungle Book pela criação da melhor floresta e dos melhores animais já registrados no cinema. Mas isso não é o suficiente. Todo o foco em cima de Tarzan, Jane, Williams e Rom dentro do Congo soa incrivelmente falso, com um punhado de decisões de roteiro que expõe a fraqueza desta adaptação.
O personagem de L. Jackson, por exemplo, é apenas um dos vários erros que comprometem duramente a continuidade. Ele segue Tarzan no Congo, apesar da enorme distância física que separam os dois. No entanto, ambos chegam ao mesmo lugar em questão de poucos minutos de diferença. Ora, se o filme luta para convencer dos atributos especiais de Tarzan, um personagem secundário literalmente carregado nas costas não apenas arrasta o roteiro, como também deixa de lado, por exemplo, a possibilidade de um foco maior na selva. Waltz faz um vilão com sua assinatura, mas sem o mínimo carisma de outros projetos – totalmente perdido dentro de um mar de erros grotescos.
Os flashbacks que emendam a narrativa principal conseguem ser melhores e mais sólidos do que a própria história original. Isso ocorre pelo comprometimento único em estabelecer uma base de apoio, na qual o diretor David Yates não consegue respeitar por um minuto, algo bastante estranho, tendo em conta seus trabalhos em Harry Potter.
The Legend of Tarzan soa desnecessário e não repassa o mínimo de credibilidade ao seu público. Infelizmente faltou força no roteiro, força na fotografia, força na direção (e assim por diante).
As atuações são notáveis, tanto individualmente quanto, e, sobretudo, em conjunto. Essa unidade ajuda a denotar o excelente trabalho diretivo. A solidez da dramaturgia é responsável por equilibrar, com efeitos expressivos, o árido e o sentimental, âmbitos distintos das emoções experimentadas e/ou suscitadas. As reminiscências são apresentadas como elemento essencial, para o bem e para o mal. Especialmente as dolorosas potencializam a fragilidade, abrindo buracos por onde escapam tudo aquilo se pretende relegar aos confins da mais profunda intimidade. O cineasta Joachim Trier acolhe os personagens, se compadece de suas impossibilidades, sem para isso lançar sobre eles olhares paternalistas ou condescendentes. Neste filme, em que a poesia também se faz presente – vide as belas cenas em câmera lenta, para ficar apenas nas mais óbvias -, não se privilegia tons conciliatórios, nem os de julgamento, mas a imersão nos pormenores e o tratamento de todos como seres limitados, à mercê das agruras.
Mais do que um típico drama de acerto de contas com o passado, Mais Forte que Bombas trata de acertos com a imagem que projetamos e com o que os outros esperam de nós - na vida adulta, no convívio social. Não é exatamente da depressão como um estado clínico que o filme fala, mas mais do perigo do isolamento e da alienação.
Até arrepia ouvir Walk the moon - tã tã tã Ghostbusteeeers rs
Só ficou na música mesmo, porque de resto foi um fracasso. É extremamente triste assistir a um filme de orçamento tão alto se sustentar apenas no CGI, fraco, por sinal, visto que sua narrativa é cheia de problemas, sem nenhum ponto alto. Apesar de se passar no mesmo universo do clássico de 1984 (graças a uma referência ao personagem Egon Spengler), o que assistimos não é uma sequência direta. Pelo contrário, a história é nova e busca introduzir as novas caçadores de fantasma e tudo o que as cerca.
O roteiro é aterrorizante no pior sentido da palavra, com diálogos mal orquestrados e péssimas piadas secundárias. Para um filme PG nos Estados Unidos, surpreende o fato de que a maior parte das falas da personagem de Wiig são sustentadas em piadas sem graça sobre a beleza de Chris Hemsworth. A impressão é de que Feig tentou reproduzir um pouco do sucesso de Bridesmaids, mas sem a menor eficácia por conta do tamanho deslocamento de gênero. Os fantasmas não têm vida, não assustam e não têm a mínima graça, um verdadeiro desperdício de CGI, tendo em conta o potencial do estúdio. Em determinada cena, um fantasma ataca um show de uma banda de metal – e torna-se nítido que existia alguém coordenando o que o público deveria ou não fazer. Uma pessoa usa um selfie stick para tirar uma foto, mas as demais estão fazendo caras e bocas dispersas. O pior é que ninguém mais usava um celular em pleno show – que torna frágil engolir o roteiro final justamente pela falta de noção de convergência de mídias (produtores, não estamos mais na década de 1980!).
Ghostbusters reúne em invejável elenco, com uma invejável produção, mas não consegue emular o carisma da história de 1984. No fundo, uma comparação direta torna-se inviável, e as únicas coisas positivas são justamente as memórias do clássico, como o logotipo, a poderosa trilha sonora e os bons cameos.
Todas as produções que envolvem o Holocausto – de uma forma ou de outra – são polêmicas. Apesar de ser inquestionável o massacre judeu empregado pela Alemanha Nazista, existe um movimento dentro de Hollywood – com pretensões mundiais, inclusive – que visa barrar produções que queiram pegar o embalo da dor e do sofrimento da década de 1940 para fazer dinheiro. The Eichmann Show tem seu mérito ao saber dividir o filme em duas histórias de grande interesse: enquanto o julgamento de Adolf Eichmann em Israel é contado ao público de forma bastante linear, ao mesmo tempo acompanhamos como se deu a burocracia envolvida para levar as imagens do tribunal para o mundo inteiro. Porém, a simplificação extrema do caso que envolve um dos nazistas mais estudados até hoje – a personificação da “banalidade do mal”, nas palavras de Arendt, é notória e perigosa.
Se todo o trabalho de cenário e maquiagem foi muito bem feito para um filme com recursos limitados, chama a atenção o fato da BBC não explorar a história do nazista e dissertar pouco sobre o Holocausto – fugindo completamente dos padrões estabelecidos pela produtora em filmes deste gênero. A simplificação – neste caso, o corte de tempo em uma cena para focar mais em outra – não nos permite caracterizar de forma satisfatória nem o alemão e nem mesmo produtores americanos. Talvez alongar em meia hora uma produção destas não faria mal algum.
The Eichmann Show é interessante para quem conhece a fundo a história do criminoso de guerra nazista, mas não deve ser, de forma alguma, o ponto de partida para tratar dos fatos aqui apresentados.
Diretores e produtores da nova geração estão dispostos a mudar a indústria do cinema estadunidense. Anos atrás, um pequeno projeto independente dificilmente conseguiria financiamento sem uma grande contrapartida (que, geralmente, envolve o controle de receitas e distribuição). A era dos financiamentos coletivos veio para adicionar mais uma variável positiva, deixando realizadores com mais campo e espaço para brilhar. Foi assim que Jeremy Saulnier tirou Blue Ruin do papel. Seu novo filme, Green Room, segue os mesmos passos do sucesso que conquistou o mundo dois anos atrás.
A chave do sucesso está na atmosfera carregada de tensão – que é concebida desde o primeiro minuto. A imprevisibilidade parece se consolidar como uma das marcas de Saulnier, que gosta de construir personagens dinâmicos e dá um bom espaço para um desenvolvimento sagaz do roteiro.
A violência, mantendo o tom de Blue Ruin, tem um tom obscuro. A grande motivação por trás do pânico dos jovens está na falta de conhecimento da real motivação dos neonazistas, algo que o espectador tem conhecimento prévio, e que se torna uma das grandes cartas na manga do filme para fidelizar seu público.
Dois são os destaques: Anton Yelchin dá voz a um homem extremamente emocional, carregado de vontade de viver, enquanto Stewart abusa de sua experiência para fazer o contraste perfeito através de um homem frio e calculista.
A fotografia usa muito bem ângulos de dois terços, captando o drama. Histórias que envolvem a fuga de um lugar misterioso estão aumentando muito. 10 Cloverfield Lane tentou, sem sucesso, gerar um ambiente de medo. Green Room parte do mesmo conceito, mas consegue um desenvolvimento interessante graças a interposição de duas forças antagônicas, com objetivos gerais claros e bem definidos.
Este filme definitivamente coloca Jeremy Saulnier na lista dos grandes diretores independentes de seu gênero. Resta esperar seu próximo passo. O fato é que filmes como lt Follows e Green Room impressionam com um orçamento mínimo, deixando claro que a construção geral da narrativa deve ser vista como prioridade principal – sempre.
Sempre achei que o longa de 1996 sofre de problemas graves, e que sua fama é muito maior do que seus créditos, propriamente ditos. Mas nada comparado ao que é apresentado aqui. Furos e buracos de roteiro não cobrem as falhas estruturais de personagens e de contextualização. O mundo de Indepencence Day é tão vazio que é difícil imaginar um investimento de mais de 160 milhões de dólares. Tudo é baseado em um número mínimo de pessoas, e todas elas se encontram nas cenas finais do filme. Ou seja, toda a tentativa de credibilidade de passar um mundo destruído cai por terra quando, por exemplo, um homem salva-se de uma tsunami em um pequeno barco.
A decisão de colocar um CGI destrutivo em um filme PG-13 segue o mesmo padrão recente da indústria, como apresentado em San Andreas. Não existem corpos, não existe sangue, o que seria até compreensível se não fossem os cenários vazios. No fim, a ‘destruição’ é apenas um instrumento do roteiro, que mais parece como um tornado. Os alienígenas apresentados são absurdos! Mais absurda ainda é a tentativa de misturar as tecnologias dos humanos com a de seres que, teoricamente, estariam milhares de anos na frente. A moral da história é que os Estados Unidos sempre vencem, sendo o país responsável pela condução do mundo. A paz mundial, portanto, depende do homem estadunidense.
Independence Day: Resurgence é um verdadeiro fracasso – no mais amplo sentido dessa palavra. Deve servir como exemplo para produtores e diretores que levam adiante projetos com o intuito único de buscar dinheiro: o público não suporta mais histórias sem nexo e construções baseadas apenas em CGI. Essa falta de respeito e toda a repercussão negativa atinge em cheio a Fox e coloca em jogo o destino da franquia. Que vexame, Roland Emmerich.
Curiosidade: A cena em que Nancy bate violentamente seu nariz e sangra horrores perto do final foi real! :)
Eis que surge Águas Rasas, ou The Shallows, produção dirigida pelo Jaume Collet-Serra, veio para salvar os filmes de tubarão e terror.
De um modo ou de outro, temos uma protagonista bem carismática, assim como uma personagem que sofre, sofre, mas sofre bastante. A coitada além de ter a perna mordida no início do ataque, sai batendo em tudo que é lugar. Parece comigo, dentro de casa, batendo nas paredes e nos móveis e aparecendo cheio de hematomas depois, rs. Devo dizer que a Blake fez um bom trabalho, apesar de achar algumas de suas cenas não muito boas.
A direção de Collet-Serra é boa e mesmo que por vezes seja bem datada, com os detalhes das cenas em câmera lenta, ele consegue criar outras ótimas cenas, tanto fora d'água quando embaixo. Destaque para as seguintes cenas: o primeiro vislumbre do tubarão em meio a uma onda (foto acima), Nancy batendo violentamente nas rochas no primeiro ataque e a cena final. Não sei se considero aquela cena das águas vivas que me lembrou Procurando Nemo, mas deixo registrado.
Primeiro filme da Pixar em IMAX desde Carros 2, os incríveis detalhes de Procurando Dory tornam este trabalho o mais impressionante já feito em termos gráficos. Todo oceano tem vida! Quando desviamos nossa atenção em algum momento para outro canto da tela, veremos peixes, plantas e solo com reações naturais. É o padrão Pixar em jogo, mais uma vez, aumentando ainda mais sua própria barra de qualidade.
Por conta de sua proposta, obviamente uma comparação direta com Up! ou mesmo com Inside Out tornam-se inválidas. Procurando Dory aposta no carisma de personagens consolidados, com destaque para o retorno de Nemo, e constrói ótimos laços sobre a relação familiar a partir da ausência e da saudade – que, de alguma forma, está sempre presente. Não existe, portanto, um traço de forte análise psicológica para refletir nos nossos impactos cotidianos, como ocorreu com o vencedor do Oscar do último ano. Ou seja, abordagens diferentes para chegar em um final feliz.
Procurando Dory passar por cima da impressão extremamente negativa de The Good Dinosaur e se credencia como uma das grandes forças para todos os prêmios de sua categoria. A maravilhosa música Unforgettable, de Sia, fecha com chave de ouro uma das grandes animações de 2016!
Não assista!!! Não recomendo para pessoas que estão passando por qualquer bad da vida ou pessoas sensíveis, mas se assistir mesmo assim, serão bons aprendizados.
O Homem nas Trevas
3.7 1,9K Assista AgoraDon’t Breathe cria uma nova proposta no gênero de terror propondo um roteiro com certa credibilidade. Fede Alvarez deixa de lado a herança maldita nos tradicionais clichês que criaram um fortíssimo vínculo visual e sonoro: parece que para impressionar o espectador, torna-se necessário o uso de cortes rápidos que assustem, mesmo que a qualidade geral da produção seja bastante questionável.
A parte técnica é o destaque - é impressionante o trabalho feito em torno da fotografia. Ela é diferente da corrente que prega um filme de terror baseado em closes fechados para a captação de emoções que transmitam pânico ao público. Sim, Fede Alvarez por vezes utiliza do recurso, mas ele sempre fica em segundo plano, já que o grande destaque está justamente na apresentação de um ambiente hostil. É por causa disso que o clímax está em uma cena na escuridão total, onde os jovens estão nas mesmas condições do veterano cego. O simbolismo, neste caso, funciona. Mas isso não pode esconder as graves falhas de roteiro. No entanto, Fede abusa da boa vontade ao promover três grandes cliffhangers – editados com uma transição em silêncio e em tela preta, como se o diretor perguntasse ao espectador se aquele, de fato, seria o final do filme. Se nos primeiros trinta minutos o toque introdutório foi bastante positivo, com claros estabelecimentos de personagens, contexto e até mesmo de objetivos pessoais, a partir do momento em que o cego vira um predador em habitat natural é que temos visão de problemas que afetam a continuidade.
O final de Don’t Breathe infelizmente mantém a mesma previsibilidade da maior parte dos longas do gênero nos últimos anos. Por conta do sucesso nos EUA e da boa resposta no exterior, é muito provável que se estabeleça uma franquia de bastante poder.
Os Caça-Noivas
2.9 204Zac Efron tem um ótimo potencial artístico. Mas às vezes parece que eu acredito mais nisso do que ele mesmo, só escolhe papéis parecidos de comédia. Em Mike and Dave Need Wedding Dates, não é nem um pouco diferente e Adam Devine a mesma coisa, Anna Kendrick, que, na verdade, não faz muito sentido. Ela é excelente atriz já reconhecida e pegou um papel que não combina muito com seu estilo. Isso fica notório em muitas cenas. Ainda assim, ela tem uma química muito boa com Zac, o que torna tudo mais fluido.
O longa tem seus momentos, isso é inegável. Mas infelizmente tudo fica muito escondido pela narrativa cansativa e parecida, que mostra o óbvio desde o começo. Entenda, não é que o filme não preste. Ele é divertido e faz valer o ingresso, mas é banal demais para ser levado à sério.
Como um todo, o filme é uma comédia besteirol como muitas outras e no final das contas, cumpre seu objetivo de fazer o espectador rir repetidas vezes. Mas diferente de Anjos da Lei 2, por exemplo, que faz o público lembrar durante meses depois, esse é um daqueles longas que a gente vai esquecer ou atrapalhar com outro filme, já que ele mistura vários roteiros em um só.
Um Cadáver para Sobreviver
3.5 936 Assista AgoraA comédia de humor-negro realista, criada por Dan Kwan e Daniel Scheinert, é podre - tocante, expressivo, incrível e inteligente ao tratar sobre vida, amor, solidão, e, sim, peidos – poderia se perder no meio da censura.
Difícil de vender, censurado, mas, acredite, Swiss Army Man é muito mais do que um monte de peidos, porém muita gente vai se levantar e ir embora nos primeiros 5 minutos de filme.
Um Estado de Liberdade
3.7 215 Assista AgoraA melhor adaptação dos livros The Free State of Jones e The State of Jones. A autenticidade é marca principal do filme.
Os grandes trunfos do filme é de saber discutir a relação entre História e cinema de maneira bastante clara, ainda que o resumo da vida de Knight possa soar apressado para o espectador com profundo conhecimento prévio, o resultado é bastante positivo para um filme de 140 minutos de duração. Sim, vários momentos da vida de Knight ficaram de lado no corte final, mas a complexidade do evento é tão grande que o tempo para discutir tudo o que ocorreu em Jones Country precisaria, no mínimo, de uma mini-serie. Por outro lado, considero extremamente louvável a atitude do diretor e dos produtores criarem um site complementar para discutir cada cena do filme, apresentando inúmeros documentos originais e até mesmo fazendo um mea culpa em questões de estilo.
As técnicas usadas pela produção é muito eficiente, e apresenta cenários amplos, com um nível de detalhe impressionante, com influência direta dos dez acadêmicos consultados durante as filmagens. A maquiagem é pontual, todos andam sujos e lutam pelas suas sobrevivências. Ainda assim, é possível notar a atenção para objetivos secundários, como o começo da discussão sobre o papel do negro livre na sociedade dos Estados Unidos – que ganha mais poder na medida em que os confederados começam a perder território.
O Dia Mais Bonito
3.8 7Florian David Fitz e Matthias dois atores alemães ou deutsche famosos por lá produziram um dos melhores filmes alemães que já pude ver - o dia mais feliz pode parecer ser mais do mesmo, porém posso garantir que você não vai se arrepender, os protagonistas tem química, diálogos que te deixaram presos ao filme, sem dúvida Der geilste Tag é mais que um bom filme, você vai se emocionar e dar muitas risadas com as viradas da trama.
ARQ
3.1 218 Assista AgoraRobbie Amell com todas as sua limitações, não fez feio aqui, talvez pelo roteiro não exigir mais do que um rosto sério e tenso praticamente o tempo todo, pois bem Imagine a fusão de Feitiço do Tempo, Contra o Tempo e No Limite do Amanhã em um espaço confinado e orçamento à la Primer. Imaginou? Pois é isso, essencialmente, ARQ.
Tony Elliott faz milagre com um design de produção espetacular em que a casa de Renton é compartimentalizada a ponto de novos cômodos serem revelados na medida em que mais tempo é vivido pelo personagem a cada loop, mantendo a novidade também no campo visual. A tensão é palpável graças a uma câmera nervosa, mas sem ser tremida e uma fotografia que empresta um ar desesperançoso, quase monocromáticos para a história, cortesia de um trabalho preciso com câmeras digitais de Daniel Grant, profissional com vasta experiência em curtas-metragens.
As motivações dos personagens não ganham grande desenvolvimento, mas existe uma razão clara para isso: a produção tem como foco a questão do loop temporal, ainda que haja sim espaço para que os dois sejam suficientemente trabalhados para que eles não pareçam unidimensionais.
ARQ é uma amálgama de muitos e ótimos filmes que existem por aí, mas ele, mesmo assim, consegue trazer elementos novos a cada punhado de minutos de projeção em seus corridos 88 no total, mantendo o espectador curioso e constantemente quebrando a cabeça. É diversão garantida e um potencial gerador de muitas conversas posteriores com as mais diversas teorias sobre viagem no tempo.
Herança de Sangue
3.1 201 Assista AgoraAos sessenta anos de idade, a vitalidade de Gibson é foda. Richet e seus roteiristas, no entanto, não conseguiram transformar sua energia em um elemento chave para a história. Temos cenas de tiroteios e violência, mas faltou um toque autoral mais refinado, talvez como apresentado em Assault on Precinct 13 (2005). A caracterização dos personagens é muito básica, com Gibson vivendo o típico criminoso arrependido e Moriarty atuando como a jovem drogada, sem rumo. William H. Macy faz uma breve aparição como vizinho de Gibson, e sua passagem na tela é modesta.
Talvez o grande pecado esteja na indefinição do projeto: o livro original de Peter Craig teve baixa aceitação, mas vendeu-se em Cannes a ideia de que a adaptação para o cinema daria uma nova interpretação para passagens que foram alvo da crítica literária nos Estados Unidos. E mesmo pelos contratos de distribuição assinados, garantindo o filme nos cinemas de diversos países, nota-se claramente que os produtores buscaram dar ar de um filme bem sucedido a um projeto concebido como longa B para o mercado de home video.
Blood Father torna-se atraente para o fã que estava com saudades do estilo Gibson. Como filme de ação, no entanto, peca pela falta de balanceamento, já que abusa de traços melodramáticos.
Perdido em Marte
4.0 2,3K Assista Agora1 ano após o lançamento e cá estou eu, este sem dúvida é o meu filme favorito, tanto que levei 1 ano para escrever sobre ele, assisti na pré-estreia e depois umas 10 vezes pelo menos.
Considerado um dos maiores lançamentos do ano de 2015, The Martian apostou no talento de Matt Damon para prender a atenção dos espectadores durante as duas horas e vinte minutos de exibição e acertou em cheio, foi a combinação perfeita..
Ultimamente os produtores de Hollywood têm apostado alto nas ficções que envolvem a exploração especial. Gravity chamou a atenção pelos efeitos; Interstellar, levou ao público uma história típica de Nolan. Mas, ao contrário do que se possa imaginar, as coincidências dentre os dois filmes citados com The Martian para por aqui.
A diferença já começa na escrita: a obra homônima de Andy Weir, lançada em 2011, pecava pela falta de estrutura entre os diálogos. Mas nada que tornasse a leitura uma experiência cansativa – muito pelo contrário: Weir reconheceu suas deficiências e apostou alto na ciência nua e crua. Uma gigantesca diferença de Interstellar, por exemplo, que dá explicações superficiais e coloca como chave teorias sem cunho científico – que, por sua vez, geraram altas discussões na comunidade acadêmica.
Weir passou pela mesma prova ao ter sua obra apreciada por estudiosos do mundo todo. A diferença é que o diretor Ridley Scott deixou clara sua visão de manter toda a estrutura original do livro homônimo ao seu filme, o que é notado desde os primeiros minutos do longa. Deste modo, todas as explicações do protagonista de certa forma já foram discutidas em peso pelos pares de Weir (é claro que Hollywood sempre acha um jeito de diminuir polêmicas e Scott preferiu ocultar alguns detalhes pequenos sobre a trajetória do homem que foi esquecido em Marte).
De modo geral, os filmes de um homem só são trágicos e despertam sentimentos que variam da solidão até à depressão. Até por enrolar no roteiro a história secundária do resgate de Watney e a repercussão do caso no Planeta Terra, The Martian foge completamente a regra. Com muito bom humor, Damon consegue tirar boas risadas com a improvisação deliciosa de seu personagem para se manter vivo. Outro fator relevante: Scott manteve a pegada de Weir e não deixou a história cair em um chato looping de melodrama. Existem momentos de tensão, existem momentos de decisão, mas nunca Watney é visto como um coitado (e ele mesmo não faz questão de ser, afinal, ele era o ‘maior biólogo de Marte’ – e também o ‘primeiro pirata espacial’, pegando algumas de suas linhas). Neste ponto, a trilha sonora de alto astral ajudou muito.
Jeff Daniels e Chiwetel Ejiofor comandam o elenco de apoio que relatam o dia a dia da NASA para arrecadar fundos e organizar a missão de resgate. A ótima contextualização e a excelente estruturação da edição do filme fazem jus aos milhões de dólares gastos pela Fox. Tiro certeiro.
Jovens, Loucos e Mais Rebeldes
3.4 147 Assista AgoraRichard Linklater deu show com Boyhood, Linklater entrega uma ambientação perfeita dos anos 80. O cuidado nos detalhes mínimos impressiona muito. Dos penteados até os carros da época, a busca dos homens por sexo e álcool tem um tom irreverente e sereno.
Os diferentes estilos de personagem apresentados ao longo do filme despertam curiosidade e interesse. Apesar de unidos em torno do baseball, cada um tem seu próprio estilo, tornando os diálogos dinâmicos e engraçados. McReynolds (Tyler Hoechlin), é o típico líder, extremamente competitivo; Finn (Glen Powell) é o que busca conquistar o maior número possíve de mulheres; Willoughby (Wyatt Russell) tem uma profunda paixão pela maconha e por seus poderes telepáticos; e “Raw Dog” (Justin Street) faz o perfil do adolescente inseguro, que não sabe como se provar para o grupo.
O arco narrativo tem duas grandes frentes: a primeira segue o modelo de Dazed and Confused, com piadas prontas e situações típicas da idade. A outra – talvez mais polêmica – encaixa Beverly (Zoey Deutch), jovem pensadora que conquista o coração de Jake. A comédia, é claro, desponta como gênero principal – e até por isso o desfecho romanceado causa certa estranheza. Jake funciona como um bom neutralizador, ou seja, balanceando os excessos de seus novos colegas. É claro que ele mesmo acaba cometendo deslizes, justificados pelo seu contexto e pela sua idade. A química entre os jovens atores é excelente, deixando a impressão de que realmente estamos acompanhando uma história de amigos.
Everybody Wants Some é um filme inteligente, que oferece boas risadas, mas que não tem a mesma força e o mesmo apelo de seu antecessor. Toda a pressão feita em cima de Linklater para aceitar o marketing em cima do sucesso de Dazed and Confused criou uma expectativa e uma pressão extremamente desnecessária. A vibe é a boa, mas falta um diferencial claro que permita identificar que essa produção caminha por si mesma, independente de comparações.
A Vingança Está na Moda
3.6 328 Assista AgoraO filme não consegue achar o tom certo, misturando cenas de comédia (absolutamente sem graça) com um drama de vingança, que não convence por um segundo sequer.
O roteiro foi baseado no bestseller homônimo de Rosalie Ham, que certamente não deve estar satisfeita com a forma com que seu personagens foram levados para as telas do cinema.É estranho ver Winslet em um papel tão diferente de tudo o que ela fez em sua carreira. Geralmente ela é vista como uma atriz séria, que aceita trabalhos em dramas com conteúdo. The Dressmaker é um filme que depende exclusivamente da imagem de sua protagonista, mas aposta em passagens como uma cruzada de pernas em meio de trinta homens para buscar seu sucesso de forma não convencional.
A ideia de Moorhouse foi mostrar uma história de vingança pessoal (se é que ela de fato existe) através de uma perspectiva mais despojada, sem compromisso. Por este motivo, todo o drama e as lágrimas de Tilly não passam confiança e credibilidade. Essa poderia ser uma ótima ferramenta para desestruturar um filme de comédia, mas este não é o caso aqui. O problema é que acontece uma inversão de gêneros, e existem tantas passagens que buscam ridicularizar os personagens secundários que o filme entra em um movimento cíclico desagradável. Por conta disso, The Dressmaker pouco fala sobre vestidos – e cria uma protagonista perdida em seu próprio mundo. E a tão proclamada vingança ao estilo Unforgiven é apenas marketing barato.
No Escuro da Floresta
3.1 191 Assista AgoraPara um filme baseado no romance homônimo de Jean Hegland, o filme de Patricia Rozema traz uma visão bastante distinta do que é o apocalipse. Otimista - ainda que difícil e triste - e com uma sensibilidade feminina poderosa, o drama narra a jornada das duas em busca de sobrevivência em meio a uma situação completamente inimaginável. Solidão, dependência, criatividade e moralidade são discutidos, com Page e Wood dominando cada cena, enquanto o apocalipse mais plausível possível se desfralda ao redor de maneira extremamente intimista.
Achei o percurso dramático interpretado pelas irmãs bem amena, o grande problema do filme se torna a dinâmica narrativa pouco impressionante, no último ato fiquei pensando qual será o fim dessa história que não leva a nada?
Dois Caras Legais
3.6 639 Assista AgoraA excelente fotografia de Philippe Rousselot utiliza filtros interessantes em determinados momentos que parecem dar a impressão de que o filme o filme foi rodado nos anos 70, com os tradicionais granulados visíveis em um anúncio de televisão, por exemplo, ou com breves pulos de quadros. A qualidade do conteúdo de Black é comprovada a partir do momento em que o próprio espectador passa a rir de cenas que retratam o inferno vivido pelos investigadores para chegar até Amélia.
A edição é bastante precisa, e mostra com o plano dá errado, já que o cadáver cai no meio de uma mesa de jantar. É esse estilo mais solto e livre que o público amante do antigo cinema policial delicia-se. Como esperado, no entanto, a história contém boas doses de cenas clichê – onde a sorte está sempre ao lado dos protagonistas. Aliás, o próprio Shane Black reconhece isso, e dá para Gosling proferir uma passagem onde o mesmo diz se sentir invencível.
O único pecado de The Nice Guys está na decadência do último quarto de rodagem, onde tudo é costurado rapidamente para apresentar um final que poderia ter sofrido alterações mais firmes para ser mais sucinto e sólido. Fica claro, por exemplo, que a cidade parece estar livre para ambos fazerem o que bem entenderem – e a impunidade vira um lema secundário – apesar da mensagem final tentar desfazer completamente tal noção.
Ótima opção de entretenimento, The Nice Guys apresenta boas atuações e tem tudo para estabelecer uma interessante franquia ao estilo dos parceiros de investigação comum no cinema americano na década de 1980. Resta esperar pela decisão final de Black e da Warner.
Esquadrão Suicida
2.8 4,0K Assista AgoraEste ano não foi bom para os blockbusters. Suicide Squad antes considerado um dos filmes mais esperados do ano, não consegue transmitir sequer um momento satisfatório.
Assim como em Batman, o grande problema está na edição: várias cenas deixam a clara impressão de que os cortes foram grosseiros, visando o número mágico de 120 minutos. O problema é que ao mesmo tempo que o diretor e roteirista David Ayer luta para criar um contexto geral que explique de forma satisfatória cada um dos personagens, os mesmos têm pouco tempo para mostrar seu potencial (exceção de Will Smith). Jared Leto, que até então era apontado como protagonista, atua em poucas cenas, com um tempo tão pequeno que uma avaliação sobre sua interpretação tornaria-se até injusta. Essas falhas poderiam ser deixadas de lado caso a história fosse boa o suficiente para apagar essa má impressão. Mas não foi o caso: Suicide Squad é extremamente cansativo. O principal motivo para isso é a falta de um grande clímax (muito por conta dos péssimos vilões). Os anti-heróis aos poucos se desfazem de suas personalidades próprias para defender uma causa ‘nobre’, mas com um número incrível de falhas: o mundo é incrivelmente pobre e vazio, sem nenhum tipo de interferência externa; os efeitos especiais causam surpresa e espanto pela pouca eficácia, tendo em vista o enorme orçamento de quase duzentos milhões de dólares; e os arcos narrativos envolvem toques de melodrama completamente desnecessários.
Suicide Squad apresenta algumas cenas que sustentam o projeto de criar um Universo DC, que, teoricamente, deve ter seu ponto alto com Justice League. No entanto, causa surpresa e estranheza o fato dos produtores não terem aprendido a lição do fracasso anterior (ora, se o filme foi concluído apenas em junho, será que não seria possível privilegiar um corte com mais conteúdo e com menos piadas sem graça?). Mais uma vez, talvez a versão do diretor explique pontos que ficaram abertos. Resultado geral: decepção.
Jason Bourne
3.5 460 Assista AgoraThe Bourne consegue responder algumas questões que ficaram abertas na trilogia, mas comete graves equívocos na narrativa que acabam tornando a experiência geral bem abaixo das entradas anteriores da série.
O roteiro assinado por Greengrass e por seu fiel editor, Christopher Rouse, propõe cenas de perseguição, tiroteios e, claro, várias passagens com Bourne tendo que se virar com os objetos em sua volta. Para os fãs do gênero ação, um prato cheio, sem sombra de dúvidas. Mas infelizmente a narrativa não consegue transmitir ao público as histórias paralelas de forma satisfatória. A motivação de Bourne não é tão forte e marcante quanto nos longas anteriores, e o protagonista parece muito mais apagado. Para piorar a situação, algumas decisões mostram o quanto o filme parece desnivelado, deixando de lado o mundo real para levar em conta apenas o que era repassado nas telas.
Na questão técnica, a edição e mixagem de som mantém o altíssimo nível da trilogia anterior, e provavelmente entrarão para a shortlist do Oscar dessas categorias. Barry Ackroyd, diretor de fotografia, tem pouca culpa no péssimo jogo de câmeras proposto pelo diretor Greengrass, que torna irrelevante algumas cenas para tentar criar um clima de tensão, abusando de ampliações desnecessárias, com uma notória falta de foco. Também é de Greengrass a culpa pelo abuso do instante decisivo, que acaba, por pelo menos três vezes, tornando cenas em cliffhanger pouco relevantes.
Ainda assim, o filme tem seus bons momentos – pegando o bom espírito da perseguição entre gato e rato – mas um olhar mais apurado e exigente talvez não consiga deixar de lado os grandes buracos deixados durante o decorrer da história, cobertos com explicações pouco convincentes e com um final aberto, que deixa a possibilidade de retorno de Damon futuramente, mas que não tem o mesmo poder da inesquecível passagem final de The Bourne Ultimatum.
Special Correspondents
3.1 86 Assista AgoraA Netflix está melhor que as grandes produtoras de Hollywood e um dos grandes acertos sem dúvida vem sendo o elenco. Eric Bana tem o charme de dez George Clooneys interpretando o repórter canastrão; Vera Farmiga está ótima como a companheira do técnico de som – papel de Gervais, que nunca tem muito o que surpreender com suas atuações, mas não compromete. Raúl Castillo e America Ferrera, que dão vida ao casal de imigrantes cúmplice dos jornalistas, são os responsáveis por alguns dos momentos mais divertidos. O roteiro tem um humor ácido, com boas piadas que cutucam a mídia e a espetaculização das coisas. Mas a história se perde no meio, e o espectador pode sofrer mais que do qualquer correspondente de guerra. A mentira da dupla vira uma bola de neve quando ela é dada como desaparecida na América do Sul sem sequer ter saído dos Estados Unidos, você sem dúvida vai ficar puto, e isso cria um novo enredo que passa a ter mais destaque que o principal. Este só volta a ganhar desdobramentos próximo ao fim, quando Gervais talvez tenha pensando “caramba, é mesmo, eu preciso concluir isso”. E então tudo volta a acontecer do nada. Também vale avisar que a dica é se desligar da realidade. O roteiro tem momentos completamente inverossímeis, mas não vou me aprofundar nessa parte para evitar spoilers. Apenas tente não pensar que todas as armações, do primeiro ao último minuto, poderiam ser desmascaras com quatro minutos de investigação do FBI. Assistir Special Correspondents, com todos os poréns, pode ser divertido.
A Lenda de Tarzan
3.1 793 Assista AgoraA Warner tornou Tarzan em mais um super-herói, perdendo boa parte da essência concebida por Edgar Rice Burroughs. Neste último ponto, uma ressalva: apesar da fala com os animais e o domínio da selva ainda são bem representados, mas assim que os créditos começam a rolar existe um enorme vazio. Era só isso mesmo?
Skarsgard, dentro da proposta geral, entrega uma boa atuação. No entanto, o excessivo destaque de sua aparência física parece criar um herói com a cabeça do ator sueco e com o corpo de CGI, aproveitando o alto investimento da Warner. Aliás, os efeitos especiais são um show a parte, competindo duramente com The Jungle Book pela criação da melhor floresta e dos melhores animais já registrados no cinema. Mas isso não é o suficiente. Todo o foco em cima de Tarzan, Jane, Williams e Rom dentro do Congo soa incrivelmente falso, com um punhado de decisões de roteiro que expõe a fraqueza desta adaptação.
O personagem de L. Jackson, por exemplo, é apenas um dos vários erros que comprometem duramente a continuidade. Ele segue Tarzan no Congo, apesar da enorme distância física que separam os dois. No entanto, ambos chegam ao mesmo lugar em questão de poucos minutos de diferença. Ora, se o filme luta para convencer dos atributos especiais de Tarzan, um personagem secundário literalmente carregado nas costas não apenas arrasta o roteiro, como também deixa de lado, por exemplo, a possibilidade de um foco maior na selva. Waltz faz um vilão com sua assinatura, mas sem o mínimo carisma de outros projetos – totalmente perdido dentro de um mar de erros grotescos.
Os flashbacks que emendam a narrativa principal conseguem ser melhores e mais sólidos do que a própria história original. Isso ocorre pelo comprometimento único em estabelecer uma base de apoio, na qual o diretor David Yates não consegue respeitar por um minuto, algo bastante estranho, tendo em conta seus trabalhos em Harry Potter.
The Legend of Tarzan soa desnecessário e não repassa o mínimo de credibilidade ao seu público. Infelizmente faltou força no roteiro, força na fotografia, força na direção (e assim por diante).
Mais Forte que Bombas
3.5 133 Assista AgoraAs atuações são notáveis, tanto individualmente quanto, e, sobretudo, em conjunto. Essa unidade ajuda a denotar o excelente trabalho diretivo. A solidez da dramaturgia é responsável por equilibrar, com efeitos expressivos, o árido e o sentimental, âmbitos distintos das emoções experimentadas e/ou suscitadas. As reminiscências são apresentadas como elemento essencial, para o bem e para o mal. Especialmente as dolorosas potencializam a fragilidade, abrindo buracos por onde escapam tudo aquilo se pretende relegar aos confins da mais profunda intimidade. O cineasta Joachim Trier acolhe os personagens, se compadece de suas impossibilidades, sem para isso lançar sobre eles olhares paternalistas ou condescendentes. Neste filme, em que a poesia também se faz presente – vide as belas cenas em câmera lenta, para ficar apenas nas mais óbvias -, não se privilegia tons conciliatórios, nem os de julgamento, mas a imersão nos pormenores e o tratamento de todos como seres limitados, à mercê das agruras.
Mais do que um típico drama de acerto de contas com o passado, Mais Forte que Bombas trata de acertos com a imagem que projetamos e com o que os outros esperam de nós - na vida adulta, no convívio social. Não é exatamente da depressão como um estado clínico que o filme fala, mas mais do perigo do isolamento e da alienação.
Caça-Fantasmas
3.2 1,3K Assista AgoraAté arrepia ouvir Walk the moon - tã tã tã Ghostbusteeeers rs
Só ficou na música mesmo, porque de resto foi um fracasso. É extremamente triste assistir a um filme de orçamento tão alto se sustentar apenas no CGI, fraco, por sinal, visto que sua narrativa é cheia de problemas, sem nenhum ponto alto. Apesar de se passar no mesmo universo do clássico de 1984 (graças a uma referência ao personagem Egon Spengler), o que assistimos não é uma sequência direta. Pelo contrário, a história é nova e busca introduzir as novas caçadores de fantasma e tudo o que as cerca.
O roteiro é aterrorizante no pior sentido da palavra, com diálogos mal orquestrados e péssimas piadas secundárias. Para um filme PG nos Estados Unidos, surpreende o fato de que a maior parte das falas da personagem de Wiig são sustentadas em piadas sem graça sobre a beleza de Chris Hemsworth. A impressão é de que Feig tentou reproduzir um pouco do sucesso de Bridesmaids, mas sem a menor eficácia por conta do tamanho deslocamento de gênero. Os fantasmas não têm vida, não assustam e não têm a mínima graça, um verdadeiro desperdício de CGI, tendo em conta o potencial do estúdio. Em determinada cena, um fantasma ataca um show de uma banda de metal – e torna-se nítido que existia alguém coordenando o que o público deveria ou não fazer. Uma pessoa usa um selfie stick para tirar uma foto, mas as demais estão fazendo caras e bocas dispersas. O pior é que ninguém mais usava um celular em pleno show – que torna frágil engolir o roteiro final justamente pela falta de noção de convergência de mídias (produtores, não estamos mais na década de 1980!).
Ghostbusters reúne em invejável elenco, com uma invejável produção, mas não consegue emular o carisma da história de 1984. No fundo, uma comparação direta torna-se inviável, e as únicas coisas positivas são justamente as memórias do clássico, como o logotipo, a poderosa trilha sonora e os bons cameos.
The Eichmann Show
3.6 26Todas as produções que envolvem o Holocausto – de uma forma ou de outra – são polêmicas. Apesar de ser inquestionável o massacre judeu empregado pela Alemanha Nazista, existe um movimento dentro de Hollywood – com pretensões mundiais, inclusive – que visa barrar produções que queiram pegar o embalo da dor e do sofrimento da década de 1940 para fazer dinheiro. The Eichmann Show tem seu mérito ao saber dividir o filme em duas histórias de grande interesse: enquanto o julgamento de Adolf Eichmann em Israel é contado ao público de forma bastante linear, ao mesmo tempo acompanhamos como se deu a burocracia envolvida para levar as imagens do tribunal para o mundo inteiro. Porém, a simplificação extrema do caso que envolve um dos nazistas mais estudados até hoje – a personificação da “banalidade do mal”, nas palavras de Arendt, é notória e perigosa.
Se todo o trabalho de cenário e maquiagem foi muito bem feito para um filme com recursos limitados, chama a atenção o fato da BBC não explorar a história do nazista e dissertar pouco sobre o Holocausto – fugindo completamente dos padrões estabelecidos pela produtora em filmes deste gênero. A simplificação – neste caso, o corte de tempo em uma cena para focar mais em outra – não nos permite caracterizar de forma satisfatória nem o alemão e nem mesmo produtores americanos. Talvez alongar em meia hora uma produção destas não faria mal algum.
The Eichmann Show é interessante para quem conhece a fundo a história do criminoso de guerra nazista, mas não deve ser, de forma alguma, o ponto de partida para tratar dos fatos aqui apresentados.
Sala Verde
3.3 546 Assista AgoraDiretores e produtores da nova geração estão dispostos a mudar a indústria do cinema estadunidense. Anos atrás, um pequeno projeto independente dificilmente conseguiria financiamento sem uma grande contrapartida (que, geralmente, envolve o controle de receitas e distribuição). A era dos financiamentos coletivos veio para adicionar mais uma variável positiva, deixando realizadores com mais campo e espaço para brilhar. Foi assim que Jeremy Saulnier tirou Blue Ruin do papel. Seu novo filme, Green Room, segue os mesmos passos do sucesso que conquistou o mundo dois anos atrás.
A chave do sucesso está na atmosfera carregada de tensão – que é concebida desde o primeiro minuto. A imprevisibilidade parece se consolidar como uma das marcas de Saulnier, que gosta de construir personagens dinâmicos e dá um bom espaço para um desenvolvimento sagaz do roteiro.
A violência, mantendo o tom de Blue Ruin, tem um tom obscuro. A grande motivação por trás do pânico dos jovens está na falta de conhecimento da real motivação dos neonazistas, algo que o espectador tem conhecimento prévio, e que se torna uma das grandes cartas na manga do filme para fidelizar seu público.
Dois são os destaques: Anton Yelchin dá voz a um homem extremamente emocional, carregado de vontade de viver, enquanto Stewart abusa de sua experiência para fazer o contraste perfeito através de um homem frio e calculista.
A fotografia usa muito bem ângulos de dois terços, captando o drama. Histórias que envolvem a fuga de um lugar misterioso estão aumentando muito. 10 Cloverfield Lane tentou, sem sucesso, gerar um ambiente de medo. Green Room parte do mesmo conceito, mas consegue um desenvolvimento interessante graças a interposição de duas forças antagônicas, com objetivos gerais claros e bem definidos.
Este filme definitivamente coloca Jeremy Saulnier na lista dos grandes diretores independentes de seu gênero. Resta esperar seu próximo passo. O fato é que filmes como lt Follows e Green Room impressionam com um orçamento mínimo, deixando claro que a construção geral da narrativa deve ser vista como prioridade principal – sempre.
Independence Day: O Ressurgimento
2.7 868 Assista AgoraSempre achei que o longa de 1996 sofre de problemas graves, e que sua fama é muito maior do que seus créditos, propriamente ditos. Mas nada comparado ao que é apresentado aqui. Furos e buracos de roteiro não cobrem as falhas estruturais de personagens e de contextualização. O mundo de Indepencence Day é tão vazio que é difícil imaginar um investimento de mais de 160 milhões de dólares. Tudo é baseado em um número mínimo de pessoas, e todas elas se encontram nas cenas finais do filme. Ou seja, toda a tentativa de credibilidade de passar um mundo destruído cai por terra quando, por exemplo, um homem salva-se de uma tsunami em um pequeno barco.
A decisão de colocar um CGI destrutivo em um filme PG-13 segue o mesmo padrão recente da indústria, como apresentado em San Andreas. Não existem corpos, não existe sangue, o que seria até compreensível se não fossem os cenários vazios. No fim, a ‘destruição’ é apenas um instrumento do roteiro, que mais parece como um tornado. Os alienígenas apresentados são absurdos! Mais absurda ainda é a tentativa de misturar as tecnologias dos humanos com a de seres que, teoricamente, estariam milhares de anos na frente. A moral da história é que os Estados Unidos sempre vencem, sendo o país responsável pela condução do mundo. A paz mundial, portanto, depende do homem estadunidense.
Independence Day: Resurgence é um verdadeiro fracasso – no mais amplo sentido dessa palavra. Deve servir como exemplo para produtores e diretores que levam adiante projetos com o intuito único de buscar dinheiro: o público não suporta mais histórias sem nexo e construções baseadas apenas em CGI. Essa falta de respeito e toda a repercussão negativa atinge em cheio a Fox e coloca em jogo o destino da franquia. Que vexame, Roland Emmerich.
Águas Rasas
3.4 1,3K Assista AgoraCuriosidade: A cena em que Nancy bate violentamente seu nariz e sangra horrores perto do final foi real! :)
Eis que surge Águas Rasas, ou The Shallows, produção dirigida pelo Jaume Collet-Serra, veio para salvar os filmes de tubarão e terror.
De um modo ou de outro, temos uma protagonista bem carismática, assim como uma personagem que sofre, sofre, mas sofre bastante. A coitada além de ter a perna mordida no início do ataque, sai batendo em tudo que é lugar. Parece comigo, dentro de casa, batendo nas paredes e nos móveis e aparecendo cheio de hematomas depois, rs. Devo dizer que a Blake fez um bom trabalho, apesar de achar algumas de suas cenas não muito boas.
A direção de Collet-Serra é boa e mesmo que por vezes seja bem datada, com os detalhes das cenas em câmera lenta, ele consegue criar outras ótimas cenas, tanto fora d'água quando embaixo. Destaque para as seguintes cenas: o primeiro vislumbre do tubarão em meio a uma onda (foto acima), Nancy batendo violentamente nas rochas no primeiro ataque e a cena final. Não sei se considero aquela cena das águas vivas que me lembrou Procurando Nemo, mas deixo registrado.
Procurando Dory
4.0 1,8K Assista AgoraPrimeiro filme da Pixar em IMAX desde Carros 2, os incríveis detalhes de Procurando Dory tornam este trabalho o mais impressionante já feito em termos gráficos. Todo oceano tem vida! Quando desviamos nossa atenção em algum momento para outro canto da tela, veremos peixes, plantas e solo com reações naturais. É o padrão Pixar em jogo, mais uma vez, aumentando ainda mais sua própria barra de qualidade.
Por conta de sua proposta, obviamente uma comparação direta com Up! ou mesmo com Inside Out tornam-se inválidas. Procurando Dory aposta no carisma de personagens consolidados, com destaque para o retorno de Nemo, e constrói ótimos laços sobre a relação familiar a partir da ausência e da saudade – que, de alguma forma, está sempre presente. Não existe, portanto, um traço de forte análise psicológica para refletir nos nossos impactos cotidianos, como ocorreu com o vencedor do Oscar do último ano. Ou seja, abordagens diferentes para chegar em um final feliz.
Procurando Dory passar por cima da impressão extremamente negativa de The Good Dinosaur e se credencia como uma das grandes forças para todos os prêmios de sua categoria. A maravilhosa música Unforgettable, de Sia, fecha com chave de ouro uma das grandes animações de 2016!
Como Eu Era Antes de Você
3.7 2,3K Assista AgoraNão assista!!! Não recomendo para pessoas que estão passando por qualquer bad da vida ou pessoas sensíveis, mas se assistir mesmo assim, serão bons aprendizados.