Quantos filhos tiveram, quantas vezes casaram e quais profissões tomaram para si. Porque são essas questões que atravessam todos os tempos, ainda que reduzam as vidas a uma tríplice indissolúvel: o que deixamos no mundo, o que fazemos dele e com quem nos relacionamos. É a fluidez desses conflitos que importa. Como aquela mãe é, na verdade, todas as mães que se defrontam com as dificuldades de criar filhos, como aquela adolescente é o símbolo de todas aquelas que se descobrem na delicadeza de relações com homens e com as próprias crenças. É esse conflito, são esses gestos, essas trocas de olhares, esses corpos em constante descoberta e produção que importam. Quando aposta nessa mise-en-scène, as mulheres do século passado e deste século nos dão as mãos e a organicidade das histórias se mescla ao prazer de quem as vê.
O roteiro não só acompanha de maneira inteligente o crescimento de Jamie, crescimento que vemos apenas em termos ideológicos e culturais, não em idade, o que pode parecer estranho no começo, mas deve-se admitir que foi uma boa escolha do diretor; mas também do espaço geográfico, das mudanças sociais na Califórnia e em todos os Estados Unidos. Acontecimentos como marchas pelos Direitos Civis (da mesma safra, ver Eu Não Sou Seu Negro para ampliar essa discussão), a libertação sexual dos anos 1960, o final do movimento hippie e a verdadeira entrada do movimento punk e sua chegada e derivações nos EUA são abordados e mostrados na obra através de fotografias, que servem como contexto histórico, relevo para o roteiro e composição mais “modernosa” (e isso não é demérito) da estética do filme.
Existe uma narração de Jamie e dos outros personagens, que contam seus destinos, quase como uma confissão para o espectador. A forma como o fator humano é mostrado no longa tem sua maior força nessas vozes, que não deixam de mostrar suas fraquezas, seus erros, seus exageros e arrependimentos muitas vezes não assumidos. Sabendo o que acontece com eles, temos ali a história de uma vida, o caminho percorrido por essas mulheres (e homens!) até sua morte. E acreditem, não haverá um espectador que já tenha passado da adolescência e que não se sinta tocado ou veja algo de suas próprias vidas representado nesse filme; coisas como um amor de infância perdido; como uma grande amizade que se afasta e jamais entra em contato depois; como influências e ideias de uma certa idade que mais tarde se dissiparão e darão lugar a novos pensamentos.
Ninguém dita a liberdade de ninguém! Patriots Day é mais do que um filme, é praticamente um registro semi-documental, em torno do atentado terrorista ocorrido durante a Maratona de Boston, como filme só passa uma coisa; liberdade é amor.
O roteiro extremamente coeso do próprio Berg, é didático e completo, mas sem ser cansativo. O dinamismo tanto na direção quanto no texto da narrativa é fundamental para que O Dia do Atentado funcione mais do que apenas como um registro documental, e adentre com passos firmes as terras do thriller propriamente dito, e o filme empolga nas sequências em torno da investigação e captura dos terroristas, onde brilham as peças do afiado elenco da produção.
É interessante também a maneira com que Berg e companhia abordam toda a situação também pelo prisma humano. O diretor equilibra com perfeição os elementos emocionais envolvendo seus protagonistas, o que ajuda demais o público a compactuar com cada um deles. Graças à este cuidado e carinho de Berg com a narrativa e desenvolvimento dos personagens centrais, O Dia do Atentado consegue reverenciar cada um destes heróis da vida real de maneira honesta e merecida, sem soar pedante ou mesmo melodramático.
Uma produção extremamente séria, relevante e equilibrada com perfeição entre o didatismo profissional, e o elemento humano dos eventos que retrata com sólida veracidade, O Dia do Atentado é mais um ótimo exemplo do cinema utilizado como importante ferramenta de aprendizado e reflexão, sem distorções ou inverdades desnecessárias em troca de uma rica bilheteria.
Para leigos é um belo filme, mas analisando o longa fica desastroso, além das técnicas de fazer o público chorar, falta profundidade no roteiro, ou seja história de sustentação.
Não se trata de entender ou sentir a história, até porque não há nada para entender ou sentir diante de um vazio tão imenso, não é uma questão de inteligibilidade ou sensibilidade: o texto é oco, dele não se extrai nada de realmente profundo. Existem muitos dramas infinitamente superiores. O roteiro não é emocionante, apenas tem aparência de emocionante. No fundo, menospreza seu público em razão do caráter superficial e apelativo, enganando espectadores ingênuos, que se deixam levar por uma história triste interpretada por rostos famosos, cheios de frases de efeito.
Como todo roteiro ruim, furos e pontas soltas também não faltam: se o depressivo protagonista sai de casa apenas para trabalhar e ir a um parque, como Amor pode encontrá-lo em uma lanchonete? Tudo que começa a ser problematizado na subtrama se esvai em um texto covarde, que usa o melodrama como pretexto para solucionar magicamente qualquer arco dramático menor.
Também abusada fica a paciência de qualquer indivíduo que se propõe a assistir ao filme com um mínimo olhar crítico. Ao invés de se deixar levar pelo dramalhão velado por atuações descompromissadas, melhor atentar para o que realmente está na telona. Nesse caso, a conclusão é inevitável: “Beleza Oculta” não tem beleza nenhuma para ocultar.
Não precisa me crucificar, pelo meu comentário, é apenas um ponto de vista. obg rs
Excelente, aos críticos que dizem que o diretor quis hollywoodizar ao máximo o longa para estabelecer heroínas, menos mimimi, por favor. É mais que obvio que os feitos de Katherine Johnson e cia são tão relevantes que não precisariam em nenhum momento de personagens superficiais para conseguir provar sua capacidade em um longa metragem, mas é filme e contou perfeitamente a história.
Esse filme consegue ser mais mentiroso do que o primeiro kk, xXx: Reativado é piada do começo ao fim, o que o roteiro deixa saliente no subtexto ao silenciar o discurso de Samuel L. Jackson sobre geopolítica com uma grande explosão à moda Armagedon. É o nicho de Triplo X, sem dúvida, embora dê para argumentar que existem outras comédias muito mais arrojadas hoje, como sátira a machões e ao cinema de ação, de Anjos da Lei a MacGruber.
A única coisa que Triplo X leva a sério, até demais, é sua insistência em se posicionar como produto. As frases de efeito, as viradas no roteiro, a resolução que deixa tudo pronto para continuações - tudo se organiza neste filme em nome de um nicho de mercado, e não deixa de ser irônico que uma das melhores piadas de xXx: Reativado junte Samuel L. Jackson e os Vingadores (que afinal são o grande benchmark de franquia neste século). Vamos ver até quando Vin Diesel consegue embalar e vender esse produto acabadinho, sem arestas, com o rótulo da rebeldia.
Chorei igual criança, pqp. É um filme muito envolvente, revela uma tocante lição de vida sobre como lidar com o luto, sendo uma criança. Com um enredo desses, o filme tenderia a caminhar na fina linha entre o melodrama forçoso e a emoção genuína. Mas e essa é a boa notícia desequilibra para o segundo lado. Na forma, há o contraponto entre a grandiosidade dos efeitos visuais, com uma impressionante riqueza de detalhes que vai desde a “construção” do tal monstro ao cenário de ruínas do entorno, e o capricho milimétrico com que o diretor trata os quadros, sobretudo quando filma em macro os belíssimos desenhos do protagonista (ponto para a direção de arte), e captura a mansidão com que o apontador descama o lápis.
Mas é na costura das relações pessoas e diálogos do roteiro que A Monster Calls ganha definitivamente o espectador. Se, por um lado, o pano de fundo da situação da mãe corta o coração da plateia, a necessária dureza da avó balanceia a trama como um chamado à vida. Mas é no olhar que o jovem Lewis MacDougall consegue reter toda a melancolia represada, fundamental a seu personagem. Para completar, se é para chamar um monstro, que ele venha com a voz de Liam Neeson.
Portanto, partindo de um ponto inocente e até clichê da “busca pela identidade”, Sete Minutos Depois da Meia-Noite resulta em uma metáfora madura sobre como lidar com uma conjuntura tão triste quanto inevitável: a iminência da perda de um ente querido. Ainda mais numa fase em que se é "velho demais para ser criança e muito novo para ser um homem". O choro é livre. E genuíno.
O diretor Travis Knight apresenta um nível de qualidade visual impressionante. As pessoas muitas vezes não tem a noção da dificuldade de produzir um stop-motion deste calibre. São tantos detalhes, e tudo é feito com tanta segurança, que chega a ser desleal estabelecer um parâmetro de comparação com qualquer animação da Pixar ou Disney, já que temos duas técnicas inversas.
Kubo and the Two Strings é uma animação que deve disputar o Oscar com grandes chances de vitória. A impecável trilha de Dario Marianelli é perfeita, mas ás vezes aposta cegamente que o público abrace sua proposta narrativa. Ao invés de voltar suas atenções para as crianças, Kubo toca em assuntos como morte, memória e luto, puxando para uma audiência mais madura. Nas cenas finais, Kubo implora por um desfecho feliz. A impressão final é de que a Laika(produtora) tem tudo para marcar história dentro do gênero, mas muitas vezes dúvida de seu próprio potencial para manter clichês do gênero. Qualidade e potencial não faltam.
Sou loco por filme de guerra e esse é mais um que vai para os favoritos. Mel Gibson como diretor está de parabéns. A primeira cena do filme deixa claro que a guerra é o inferno. Sem qualquer contexto o espectador é lançado para o meio de uma batalha dos americanos contra os japoneses, com muito sangue e sofrimento. O uso moderado do CGI enobrece o filme, toma uma posição extremamente conservadora. Para dar credibilidade à história que apresenta, foram usados os bons e velhos dublês aliado ao excelente trabalho do diretor de fotografia Duggan, do editor John Gilbert e do veretano Chris Godfrey para mostrar a carnificina do campo de batalha. Não existe nenhuma preocupação em dar uma versão light da guerra, e a constante violência e mutilação ganham tons ainda mais dramáticos com o desespero japonês nos dias finais da guerra. É na justaposição com a personalidade de Doss que Hacksaw Ridge ganha alma e constrói sua mensagem. Chega a ser estranho (e bizarro) pensar que o longa foi engavetado por vários executivos de Hollywood justamente por duvidar do potencial da história.
O roteiro do filme divide-se na atenção para a formação moral de Doss e na sua preparação para a sangrenta Batalha de Okinawa. O grande pecado, no entanto, está no fato de Gibson mostrar a entrada de Doss na guerra e pular diretamente para o gran finale. Em meio disso, vários fatos são resumidos e alterados para conseguir manter o filme em um tempo tolerável, pensando na viabilidade comercial. Neste sentido, Hacksaw Ridge não é a cinebiografia de Doss, mas é um filme sobre o episódio mais importante de sua vida, que por si só é extremamente notório.
Hacksaw Ridge entra na lista das ótimas produções sobre a Segunda Guerra Mundial. A sabedoria de Gibson em encerrar seu filme com depoimentos de Doss e de outros membros do exército que aparecem no filme aumenta ainda mais a imersão na história, deixando uma forte impressão final no público. A tradicional discussão sobre religião e guerra, duas palavras tão distintas mas que nos dias atuais são tão próximas – ganha vida a partir da paixão demonstrada pelo diretor sobre a história que tem em mãos.
A Academia vai ter que dar o braço a torce para os negros, com apenas cinco milhões de dólares Barry Jenkins conseguiu mostrar o outro lado de Miami.
O roteiro de Moonlight impressiona pela a incrível forma como as três histórias se completam. Mais que isso, elas também tomam rumos independentes que deixam uma série de marcas no público, levantando boas discussões sobre sexualidade, presente nos três atos sem partir para a apelação. A introdução é especial, e a atuação de Mahershala Ali é o destaque máximo entre todos os bons atores que trabalharam no filme. Assim como Sean Baker fez ano passado com Tangerine, Jenkins dá voz aos oprimidos a partir da história de um garoto destinado a viver na sombra dos outros. Não existe uma crítica direta ao governo, mas a intenção é mostrar o quanto a população negra é marginalizada dentro dos Estados Unidos, com grupos muito fechados e com pouquíssimas oportunidades de viver o american dream. É na busca pela sua afirmação na sociedade, que observamos a mudança de comportamento de Chiron a partir do segundo ato.
O que torna Moonlight uma experiência especial no cinema é a belíssima fotografia de James Laxton. Ele aumenta o contraste da paleta de cores para buscar a justaposição do sol de Miami com o sofrimento no rosto de Chiron durante todo o filme, ressaltando suas expressões faciais. Se no último ano a Academia fechou os olhos para as produções e para os atores negros, este ano Moonlight desponta como franco favorito ao Oscar de melhor filme, com plenas condições de buscar premiações em ator e atriz coadjuvantes, roteiro, fotografia e edição.
Brilhante, Denzel Washington e Viola Davis, numa obra que no papel já era de excelência, por si só, mas foi tão bom que é poético. O cheirinho de Oscar por indicação já é praticamente garantido, porém Denzel e Viola tem grandes chances de levar a estatueta para casa, principalmente Viola, os dois já interpretaram os mesmos papéis na Broadway - e saíram do Tony Awards de 2010 com estatuetas por suas performances.
Diálogos intensos vão-te fazer ficar de olhos secos, se você piscar perdeu muitas histórias, tem muita sensibilidade para se identificar com um público variado, com certeza você vai se encantar de alguma forma.
Por conta de uma peça de teatro o roteiro pode dar umas falhadas, mas o todo compensa os fatos, as atuações são ótimas, acredito que poderia ser mais curto. Quando liberarem a pré estreia novamente, voltarei com novidades.
Um dos mais fodas do ano, com certeza tem Globo de Ouro aqui, esse é aquele que você fala Crlooooooo! (rs). Austin Wright deve está muito feliz pelo seu bestseller ter sido impecavelmente reproduzido nas telonas. Tom Ford criou uma memorável narrativa que percorre o mundo real e o mundo fictício, criando um laço de união espetacular entre as histórias.
Quem mergulhar na história proposta por Ford certamente terá seu coração batendo forte. Nocturnal Animals consegue mexer com os mais variados sentimentos negativos (como nojo, raiva, tristeza) para construir junto do espectador a ideia de vingança. Se Gyllenhaal é a chave para a compreensão do filme em atuação inspirada, sem dúvida alguma a principal estrela é Michael Shannon, que parece colocar na tela toda a agonia do público. Todo o desenrolar é feito como nos filmes de David Lynch, onde o público evita até mesmo piscar o olho para não perder informações que ajudem a entender tanto o contexto geral como para dar uma explicação satisfatória para o que foi apresentado, é cada flashbacks que você pira.
Nocturnal Animals é incrível. Tem um poder único de reflexão e ressalta a qualidade de Ford como diretor. É o tipo de produção que merece ser vista mais de uma vez junto com a leitura do livro para aplaudir a adaptação impecável e toda a construção do longa, com bela fotografia de Seamus McGarvey e banda sonora de Abel Korzeniowski. Vencedor do Leão de Prata de Veneza e indicado para três prêmios Globo de Ouro.
Demorei de mais para assistir, não por que não seja bom, mas sim pelo medo, odeio filme de terror, mais ainda quando tem espírito, ai eu não vejo mesmo, então fica claro que essa resenha não será tão boa, até porque filmes assim são bons pelos sustos certo? Errado, clichê mata filme, e é o que mais vemos em filmes do gênero - Jumpscare. A narrativa se perde também ao utilizar atalhos, como a resolução milagrosa dos problemas financeiros da família, eu acho essas coisas muito ruim.
Apesar de algumas boas cenas, o longa não é capaz de criar uma atmosfera de tensão, embora a câmera faça um bom trabalho em transformar a casa em um lugar claustrofóbico ao abusar dos closes e ação em espaços apertados. É uma boa técnica, mas não o suficiente para manter o longa interessante do começo ao fim, especialmente no fraco terceiro ato, quando os sustos não empolgam e dependem completamente de barulhos altos e cenas de criaturas horripilantes para tentar tirar alguma reação, o que para eu é mais do que o suficiente para ter medo de ir a cozinha depois.
Alguns erros de roteiro e de lógica, como a decisão dos protagonistas de apenas mudar de quarto para confabular contra os fantasmas na esperança de estarem sozinhos, como se a porta fechada os impedisse de ouvi-los, são detalhes que atrapalham, acabam de vez com a tensão e tiram os espectadores do sério, transformando essa obra em mais um filme genérico de possessão sobrenatural.
Porém é bem melhor do que o primeiro filme, não que isso seja algo difícil de se conseguir, mas, ao menos, já é uma boa notícia para os amantes do terror.
Outras Pessoas? Um filme que provavelmente entrará escondido em serviços de streaming e terá um público alvo muito específico.
Uma vez que a narrativa desenvolve dois arcos completamente diferentes, que pesam na avaliação final do filme. A análise de David é muito bem construída, com toda uma contextualização sobre seus desejos e indecisões. De forma gradual ele começa a revelar segredos e deixa de lado a vergonha que ainda guardava para se revelar como uma pessoa doce e bondosa. O espectador acompanha a evolução de seu personagem nos noventa minutos de rodagem, e este sem dúvida torna-se o fator de destaque. Por outro lado, tudo o que envolve Joanne tem uma boa dose de melodrama envolvido, e o diretor parece implorar por lágrimas nos minutos finais. Ainda que compreensível por ser uma decisão mais conservadora de roteiro, seria possível entregar algo bem melhor, com mais foco nas relações e na importância da mãe nas decisões da David. Talvez o fato de Kelly querer tornar este filme como um relato semi-biográfico tenha pesado de forma negativa na forma como todos os coadjuvantes se integram com a história em si.
Other People não obteve sucesso comercial nos Estados Unidos, talvez pela falta de recursos na promoção do filme. Mas não deixa de ser uma opção interessante de drama para quem busca por filmes que tratem sobre a resolução de problemas familiares. Méritos para Chris Kelly por ter reunido bons atores em sua estreia nas telas.
Sony colocar Jennifer Lawrence e Chris Pratt não justificada a fraquíssima história contada, obrigado.
Melodrama de ficção científica, com o plano de fundo de uma viagem espacial, com investimento alto, mas de nada adianta tamanho investimento se o filme é fraco. Nem mesmo os efeitos especiais justificam os erros grosseiros na narrativa, já que eles são escassos. A grande sensação é que o diretor confiou demasiadamente em um roteiro pouco polido e apostou no carisma de seus protagonistas para deixar o público feliz (aliás, a péssima sugestão de que o filme seria um Titanic foi forçada e cruel). Como consequência, uma porção de clichês são atirados para tapar buracos. Temos, por exemplo, um cliffhanger que torna os personagens de Pratt e Lawrence heróis e um romance que passa por turbulências até sua redenção. As breves pontas de humor são restritas a um personagem secundário, o androide Arthur (Michael Sheen). As participações posteriores de Laurence Fishburne e de Andy Garcia (uma cena) não acrescentam nada na experiência final.
Após excelentes filmes como Interstellar e The Martian é triste observar como tanto dinheiro pode ser jogado fora para um projeto sem qualquer ambição. Aos poucos Passengers abraça uma narrativa catastrófica que não convence nunca. Uma grande bola fora da Sony e de Tyldum.
Eitah lá vamos nós ...uma das franquias mais aguardada do cinema. Assassin’s Creed só é especial graças a Ubisoft, que mescla a ficção com personagens reais, cria uma imersão única, certamente é um dos maiores atrativos do universo oferecido aos gamers. Como todos sabem, é um desafio enorme fazer a transição dos games para o cinema, muitas vezes as expectativas são altíssimas e ai está o problema.
A questão destas franquias é que os produtores tem que agradar dois tipos de perfis diferentes: o primeiro é o do jogador e fã da franquia, ou seja, não é nem um pouco simples montar um roteiro com tamanho peso nas costas. Achei que o pontapé inicial da Regency foi muito prudente, mas os escritores que conseguiram fazer uma boa adaptação de Shakespeare não conseguiram dar gás a uma história que poderia oferecer muito, e Kurzel mostrou-se inefetivo na condução de seu filme.
A base de fundo apresentada na introdução é bem interessante, mostrando a iniciativa dos templários para colocar as mãos na maça do éden. A história até que seria boa para um game, mas no cinema tudo ficou perdido e confuso. O panorama é muito superficial, e os editores provavelmente sofreram para conseguir criar um filme em duas horas. Digo isto pois é evidente que várias cenas foram estraçalhadas, e fica claro em pelo menos duas ocasiões a falta de um elemento de transição nos diálogos. As cenas no mundo medieval não são boas. A apresentação de Boabdil, que seria o grande personagem histórico da trama, beira ao ridículo. A fotografia segue a mesma passividade das outras áreas técnicas, e apenas uma cena de parkour na Andaluzia está acima da média.
É evidente que temos aqui um belo exemplo de uma produção construída a partir de bases muito frágeis. Mas pelo menos deve agradar aos fãs com uma narrativa mais coerente, que talvez explore fatores deixados de lado.
O Oscar vai para "Arrival", com certeza um dos melhores filmes do ano, se não o melhor. Arrival é uma obra prima. É o tipo de filme que marca época por renovar o potencial do cinema. Não é uma simples história sobre uma possível invasão alienígena, mas sim uma parábola perfeita sobre o mundo moderno, ressaltando a necessidade da comunicação com tudo e com todos. Também é a melhor expressão visual sobre o Amor fati de Friedrich Nietzsche. Villeneuve apresenta a melhor ficção científica dos últimos tempos e eleva ainda mais o nível de qualidade esperado de Blade Runner 2049.
Villeneuve rompe com qualquer tipo de clichê do gênero ao estabelecer uma temporalidade cíclica. Breves passagens da introdução contém fatos das cenas finais. A elegante estrutura é melhor do que Interstellar. É com a maravilhosa trilha de Jóhann Jóhannsson (que finalmente deve levar um Oscar) e com um open shot lindo do diretor de fotografia Bradford Young que Villeneuve propõe uma conversa com o seu público através de Amy Adams (em uma atuação de luxo), que interpreta a Doutora Louise Banks.
Estrutura narrativa sólida, as duas horas de filme são marcadas por cenas inesquecíveis. O principal mérito de Villeneuve e de seus produtores foi levar ao público várias possibilidades de análise, tornando a experiência final muito subjetiva e peculiar. Graças ao excelente material base – Story of Your Life, de Ted Chiang – teorias de viagem no tempo misturam-se com breves reflexões sobre o passado, presente e futuro.
Senti falta de um rumo, de uma "estória", uma virada, parece uma crônica, uma mini-novela, não te leva a lugar nenhum, da mesma forma que começo também terminou, quase não há uma história, com muitas reviravoltas e suspense e desfecho, mas o registro a seco dessas vidas jovens tentando se ajustar a um mundo careta. E ajustar-se a si mesmas. Contudo, é através da sinceridade empregada pelos protagonistas que a empatia e identificação é gerada até no espectador bem longe do isolado mundinho hipster apresentado aqui. Muitos dos tipos que compõem a narrativa orbitam a área artística, no teatro, música, moda e gastronomia, e refletem uma geração que goza de uma liberdade de escolha muita maior do que as anteriores no aspecto profissional e em outras questões. No entanto, o pensamento livre cultivado nestes filhos da MTV, agora balzaquianos, contrasta com sua falta de maturidade emocional. Neste sentido, Amores Urbanos mostra-se uma obra em total sintonia com seu público.
Não deixe de ver Doctor Strange em IMAX, como foi feito para ser visto, já que a sensação de imersão é ímpar. Um dos melhores uso do CGI dos últimos tempos e um elenco de altíssimo padrão. O Universo Marvel já demonstrou que é grande o suficiente para abrigar os mais diferentes tipos de heróis e vilões.
Como é padrão na Marvel, o filme dedica boa parte de seu tempo preparando o terreno para o futuro ao apresentar. A direção de Scott Derrickson propõe um filme que é construído através de gags que exploram a complexa personalidade de Strange. Algumas são efetivas, outras extremamente forçadas. Outro problema está em Kaecilius (Mads Mikkelsen), que é introduzido como um super-vilão mas aos poucos apresenta falhas que tiram todo crédito prévio. O grande destaque de Doctor Strange está nos vários efeitos especiais caleidoscópicos. Eles diferenciam-se das tradicionais cenas eye-candy da Marvel por adicionarem uma importância em todo o cenário apresentado, e não apenas em três ou quatro personagens.
Doctor Strange tem um ator dedicado e produtores apaixonados que podem tornar este filme e toda sua franquia em uma adição positiva no portfólio cinematográfico da Marvel. As duas cenas exibidas durante os créditos finais deixaram os fãs especulando sobre o futuro, com várias possibilidades de histórias com muito potencial.
Tinha tudo pra ser bom, \: mas tem problemas técnicos e narrativos de mais, a adaptação de Ransom Riggs é um dos livros mais cultuados dessa década no gênero fantasia juvenil, que deixa a desejar na experiência final.
A introdução - essa primeira parte é recheada de surpresas, com uma delicadeza na condução da história, criando um ambiente envolvente e dinâmico. Quando se cria a existência de um grande vilão, Burton não consegue sustentar duas realidades paralelas em dois campos temporais distintos. Ele bem que tenta explicar suas decisões e simplifica discussões científicas para criar uma teoria própria de viagem ao tempo, mas ela mesma é desmentida na medida em que caminhamos para a conclusão, criando uma terceira linha paralela (1943, 1943a e 2016).
O filme é apressado e mal conduzido (fator que considerei surpreendente, especialmente pela filmografia do diretor) muito por conta da falta de carisma do protagonista e do vilão. Quem dá certo equilíbrio é Eva Green, que é retirada do arco narrativo principal pouco depois da primeira hora do filme. A tentativa de aparar arestas nos vinte minutos finais cria uma confusão sem precedentes: os temidos vilões passam a cair em pequenos golpes, as crianças triunfam e a vida segue. Mas não sem antes explorar um leve abuso do instante decisivo, um ou outro breve cliffhanger e uma pitadinha de melodrama.
O trabalho gráfico em torno de Miss Peregrine’s Home for Peculiar Children é relevante, com efeitos de primeiro nível, mas falta coração para repassar a magia da obra de Riggs.
Cadê a direção? USS Indianapolis: Men of Courage não tem direção, o filme perde o rumo da narrativa por vezes, parecendo em certos momentos não ter uma história e ser apenas um amontoado de cenas e movimentação militar dentro de um navio.
Ele até funciona no começo, depois de uns 15 minutos o filme entra numa espiral de decadência narrativa impressionante, onde brotam os diálogos mal elaborados, as sequências de patriotismo melodramáticas e uma apresentação desenfreada de histórias dos coadjuvantes.
The Girl on the Train tinha potencial para ser uma das grandes surpresas de 2016. Infelizmente não é. A direção de Tate Taylor seria a garantia de muita tensão em torno de um grande mistério, porém é justamente no roteiro, principal acerto da equipe de David Fincher, que mora o pecado que torna o longa de Taylor em uma decepção. O resultado, ainda que previsível, é desagradável: desconstrução temporal, falta de coerência na narrativa e um timing no mínimo controverso que prendem à força o espectador para uma conclusão apressada. O filme é rodado a partir de flashbacks, que não conseguem mostrar a ideia de memórias – ou memórias alteradas. Para quem não leu Hawkins, parece um filme picotado, que abusa do anacronismo temporal para apontar culpados.
Emily Blunt faz sempre um bom trabalho, mas achei que seu papel foi extremamente forçado. Outra oportunidade perdida para tratar sobre os problemas do alcoolismo, já que suas recaídas tem pouco conteúdo (e mesmo no final, quando tudo parece tomar outro caminho, nada disso volta a ser tratado). A maquiagem pesada busca traços brutais em expressões faciais que não acompanham o contexto proposto. Ainda assim, a atriz dá seu máximo para levar ao público seu melhor.
Eu gostei. O diretor Tom Tykwer que F#$@% cometendo pecados básicos na transição da estória de Eggers para o cinema. Dave Eggers é um dos novelistas mais destacados deste novo milênio. Seu padrão de escrita impressiona – e o reconhecimento dos críticos literários tornaram suas obras um alvo para Hollywood. A Hologram for the King (Negócio das Arábias, no Brasil) é o primeiro filme adaptado.
Temos duas histórias paralelas, que se encontram em um final apressado e inconclusivo. Tykwer não consegue captar o espírito do personagem central, e fez recortes absurdos para não cansar seu espectador. Por isso o roteiro parece flutuar no deserto: as cenas repetitivas são alvo de piada pelo próprio Clay, como se o diretor reconhecesse a necessidade de dizer ao público que estava apresentando em seu filme seis tomadas iguais para dar fiabilidade ao roteiro. É claro que isso toma o efeito contrário, e tais tomadas formam um conjunto desnecessário, que certamente seriam alvo da tesoura de uma boa equipe de edição.
Em determinado momento do filme, o espectador passa a se tudo o que ele está vendo seria uma pegadinha ou uma conspiração. O melodrama final e as frases de efeito dos últimos minutos são uma tentativa de fazer o próprio público esquecer os erros anteriores, mandando uma mensagem positiva.
Justiça seja feita: os erros grotescos na construção do roteiro jamais passam pela atuação do ator principal. Hanks é o destaque do filme (e não poderia ser diferente). Apesar de ter um personagem precário, tendo em conta o potencial da obra original, ele consegue extrair o máximo de seus diálogos para tentar dar certa credibilidade ao longa. Sem Hanks, A Hologram for the King seria um filme B fruto de uma péssima adaptação, mas sua presença torna a obra atrativa para distribuição internacional – ainda sem esconder o fato de que estamos falando de um frustrante longa, outrora visto como uma grande aposta do mercado de Hollywood.
Simplesmente não dá para começar a comentar sem dizer sensacional, ou melhor fantástico. O confronto de culturas e as diversidades é a base, você pensará duas vezes antes de julgar. O relacionamento dos filhos de Ben com as crianças de mesma idade cria cenas hilárias, propondo um choque ao mesmo estilo de Borat. A partir da observação da cultura dominante, Ben e seus filhos passam por uma espécie de sincretismo, adaptando sua realidade para o cenário apresentado. Viggo Mortensen é perfeito como protagonista pois ele faz um tipo com pouco carisma – que é justamente o que chama a atenção. Ele não faz a mínima questão de seguir as etiquetas impostas pela elite, e sua camisa da campanha de Jesse Jackson em 1988 (além das discussões sobre teorias marxistas) montam a estrutura familiar a partir de ações vistas nos pequenos detalhes.
Ross procura não arriscar, e opta por um estilo de humor que não deixa o controle do filme escapar de suas mãos. As cenas das crianças bebendo vinho, ou da caça aos animais, tem seu lado cômico reforçado com a maravilhosa fotografia da francesa Stéphane Fontaine (que conseguiu uma linda trinca de filmes em 2016, também com Elle e Jackie). Captain Fantastic é uma ótima opção de entretenimento – com piadas geniais construídas a partir de frases marcantes de Chomsky, por exemplo. Cabe ao espectador não criar grandes expectativas e entender que a proposta de Ross não tem qualquer ligação com uma dramédia.
Tudo que deu certo no clássico de 1999, não deu certo aqui. O problema é os inúmeros clichês que se intercalam e se repetem entre si, ao invés de procurar renovar as narrativas, trata apenas de copiar os mesmos padrões que já não causam nenhum efeito prático no espectador. O que mais incomoda é o abuso do jump scare. Em mais de uma dezena de situações, o diretor Adam Wingard tenta desesperadamente criar um clima sinistro, tentando passar credibilidade à imensidão da floresta. No entanto, ele mesmo trata de desconstruir, visto que não investe tempo na análise dos personagens e anula de forma bizarra a utilidade dos próprios gadgets que ele introduz, como o caso de um drone.
O filme apresenta erros de continuidade primários, mas que talvez fiquem em segundo plano para o espectador casual por conta da narrativa, bastante rápida. A fotografia de Robby Baumgartner busca planos fechados para captar expressões de sofrimento. Na metade final, o grande foco passa para a solução do caso, iluminando parcialmente a faixa central da tela, como se a luz mostrasse ao espectador o caminho. A opção por filmar todo em primeira pessoa cria cenas contraditórias, já que a edição não acompanha o movimento da câmera feito pelos personagens. Completamente desnecessário, Blair Witch é mais um fracasso.
Mulheres do Século XX
4.0 415 Assista AgoraQuantos filhos tiveram, quantas vezes casaram e quais profissões tomaram para si. Porque são essas questões que atravessam todos os tempos, ainda que reduzam as vidas a uma tríplice indissolúvel: o que deixamos no mundo, o que fazemos dele e com quem nos relacionamos. É a fluidez desses conflitos que importa. Como aquela mãe é, na verdade, todas as mães que se defrontam com as dificuldades de criar filhos, como aquela adolescente é o símbolo de todas aquelas que se descobrem na delicadeza de relações com homens e com as próprias crenças. É esse conflito, são esses gestos, essas trocas de olhares, esses corpos em constante descoberta e produção que importam. Quando aposta nessa mise-en-scène, as mulheres do século passado e deste século nos dão as mãos e a organicidade das histórias se mescla ao prazer de quem as vê.
O roteiro não só acompanha de maneira inteligente o crescimento de Jamie, crescimento que vemos apenas em termos ideológicos e culturais, não em idade, o que pode parecer estranho no começo, mas deve-se admitir que foi uma boa escolha do diretor; mas também do espaço geográfico, das mudanças sociais na Califórnia e em todos os Estados Unidos. Acontecimentos como marchas pelos Direitos Civis (da mesma safra, ver Eu Não Sou Seu Negro para ampliar essa discussão), a libertação sexual dos anos 1960, o final do movimento hippie e a verdadeira entrada do movimento punk e sua chegada e derivações nos EUA são abordados e mostrados na obra através de fotografias, que servem como contexto histórico, relevo para o roteiro e composição mais “modernosa” (e isso não é demérito) da estética do filme.
Existe uma narração de Jamie e dos outros personagens, que contam seus destinos, quase como uma confissão para o espectador. A forma como o fator humano é mostrado no longa tem sua maior força nessas vozes, que não deixam de mostrar suas fraquezas, seus erros, seus exageros e arrependimentos muitas vezes não assumidos. Sabendo o que acontece com eles, temos ali a história de uma vida, o caminho percorrido por essas mulheres (e homens!) até sua morte. E acreditem, não haverá um espectador que já tenha passado da adolescência e que não se sinta tocado ou veja algo de suas próprias vidas representado nesse filme; coisas como um amor de infância perdido; como uma grande amizade que se afasta e jamais entra em contato depois; como influências e ideias de uma certa idade que mais tarde se dissiparão e darão lugar a novos pensamentos.
O Dia do Atentado
3.6 190 Assista AgoraNinguém dita a liberdade de ninguém!
Patriots Day é mais do que um filme, é praticamente um registro semi-documental, em torno do atentado terrorista ocorrido durante a Maratona de Boston, como filme só passa uma coisa; liberdade é amor.
O roteiro extremamente coeso do próprio Berg, é didático e completo, mas sem ser cansativo. O dinamismo tanto na direção quanto no texto da narrativa é fundamental para que O Dia do Atentado funcione mais do que apenas como um registro documental, e adentre com passos firmes as terras do thriller propriamente dito, e o filme empolga nas sequências em torno da investigação e captura dos terroristas, onde brilham as peças do afiado elenco da produção.
É interessante também a maneira com que Berg e companhia abordam toda a situação também pelo prisma humano. O diretor equilibra com perfeição os elementos emocionais envolvendo seus protagonistas, o que ajuda demais o público a compactuar com cada um deles. Graças à este cuidado e carinho de Berg com a narrativa e desenvolvimento dos personagens centrais, O Dia do Atentado consegue reverenciar cada um destes heróis da vida real de maneira honesta e merecida, sem soar pedante ou mesmo melodramático.
Uma produção extremamente séria, relevante e equilibrada com perfeição entre o didatismo profissional, e o elemento humano dos eventos que retrata com sólida veracidade, O Dia do Atentado é mais um ótimo exemplo do cinema utilizado como importante ferramenta de aprendizado e reflexão, sem distorções ou inverdades desnecessárias em troca de uma rica bilheteria.
Beleza Oculta
3.7 888 Assista AgoraPara leigos é um belo filme, mas analisando o longa fica desastroso, além das técnicas de fazer o público chorar, falta profundidade no roteiro, ou seja história de sustentação.
Não se trata de entender ou sentir a história, até porque não há nada para entender ou sentir diante de um vazio tão imenso, não é uma questão de inteligibilidade ou sensibilidade: o texto é oco, dele não se extrai nada de realmente profundo. Existem muitos dramas infinitamente superiores. O roteiro não é emocionante, apenas tem aparência de emocionante. No fundo, menospreza seu público em razão do caráter superficial e apelativo, enganando espectadores ingênuos, que se deixam levar por uma história triste interpretada por rostos famosos, cheios de frases de efeito.
Como todo roteiro ruim, furos e pontas soltas também não faltam: se o depressivo protagonista sai de casa apenas para trabalhar e ir a um parque, como Amor pode encontrá-lo em uma lanchonete? Tudo que começa a ser problematizado na subtrama se esvai em um texto covarde, que usa o melodrama como pretexto para solucionar magicamente qualquer arco dramático menor.
Também abusada fica a paciência de qualquer indivíduo que se propõe a assistir ao filme com um mínimo olhar crítico. Ao invés de se deixar levar pelo dramalhão velado por atuações descompromissadas, melhor atentar para o que realmente está na telona. Nesse caso, a conclusão é inevitável: “Beleza Oculta” não tem beleza nenhuma para ocultar.
Não precisa me crucificar, pelo meu comentário, é apenas um ponto de vista. obg rs
Estrelas Além do Tempo
4.3 1,5K Assista AgoraExcelente, aos críticos que dizem que o diretor quis hollywoodizar ao máximo o longa para estabelecer heroínas, menos mimimi, por favor. É mais que obvio que os feitos de Katherine Johnson e cia são tão relevantes que não precisariam em nenhum momento de personagens superficiais para conseguir provar sua capacidade em um longa metragem, mas é filme e contou perfeitamente a história.
xXx: Reativado
2.6 377 Assista AgoraEsse filme consegue ser mais mentiroso do que o primeiro kk, xXx: Reativado é piada do começo ao fim, o que o roteiro deixa saliente no subtexto ao silenciar o discurso de Samuel L. Jackson sobre geopolítica com uma grande explosão à moda Armagedon. É o nicho de Triplo X, sem dúvida, embora dê para argumentar que existem outras comédias muito mais arrojadas hoje, como sátira a machões e ao cinema de ação, de Anjos da Lei a MacGruber.
A única coisa que Triplo X leva a sério, até demais, é sua insistência em se posicionar como produto. As frases de efeito, as viradas no roteiro, a resolução que deixa tudo pronto para continuações - tudo se organiza neste filme em nome de um nicho de mercado, e não deixa de ser irônico que uma das melhores piadas de xXx: Reativado junte Samuel L. Jackson e os Vingadores (que afinal são o grande benchmark de franquia neste século). Vamos ver até quando Vin Diesel consegue embalar e vender esse produto acabadinho, sem arestas, com o rótulo da rebeldia.
Sete Minutos Depois da Meia-Noite
4.1 992 Assista AgoraChorei igual criança, pqp. É um filme muito envolvente, revela uma tocante lição de vida sobre como lidar com o luto, sendo uma criança. Com um enredo desses, o filme tenderia a caminhar na fina linha entre o melodrama forçoso e a emoção genuína. Mas e essa é a boa notícia desequilibra para o segundo lado. Na forma, há o contraponto entre a grandiosidade dos efeitos visuais, com uma impressionante riqueza de detalhes que vai desde a “construção” do tal monstro ao cenário de ruínas do entorno, e o capricho milimétrico com que o diretor trata os quadros, sobretudo quando filma em macro os belíssimos desenhos do protagonista (ponto para a direção de arte), e captura a mansidão com que o apontador descama o lápis.
Mas é na costura das relações pessoas e diálogos do roteiro que A Monster Calls ganha definitivamente o espectador. Se, por um lado, o pano de fundo da situação da mãe corta o coração da plateia, a necessária dureza da avó balanceia a trama como um chamado à vida. Mas é no olhar que o jovem Lewis MacDougall consegue reter toda a melancolia represada, fundamental a seu personagem. Para completar, se é para chamar um monstro, que ele venha com a voz de Liam Neeson.
Portanto, partindo de um ponto inocente e até clichê da “busca pela identidade”, Sete Minutos Depois da Meia-Noite resulta em uma metáfora madura sobre como lidar com uma conjuntura tão triste quanto inevitável: a iminência da perda de um ente querido. Ainda mais numa fase em que se é "velho demais para ser criança e muito novo para ser um homem". O choro é livre. E genuíno.
Kubo e as Cordas Mágicas
4.2 635 Assista AgoraO diretor Travis Knight apresenta um nível de qualidade visual impressionante. As pessoas muitas vezes não tem a noção da dificuldade de produzir um stop-motion deste calibre. São tantos detalhes, e tudo é feito com tanta segurança, que chega a ser desleal estabelecer um parâmetro de comparação com qualquer animação da Pixar ou Disney, já que temos duas técnicas inversas.
Kubo and the Two Strings é uma animação que deve disputar o Oscar com grandes chances de vitória. A impecável trilha de Dario Marianelli é perfeita, mas ás vezes aposta cegamente que o público abrace sua proposta narrativa. Ao invés de voltar suas atenções para as crianças, Kubo toca em assuntos como morte, memória e luto, puxando para uma audiência mais madura. Nas cenas finais, Kubo implora por um desfecho feliz. A impressão final é de que a Laika(produtora) tem tudo para marcar história dentro do gênero, mas muitas vezes dúvida de seu próprio potencial para manter clichês do gênero. Qualidade e potencial não faltam.
Até o Último Homem
4.2 2,0K Assista AgoraSou loco por filme de guerra e esse é mais um que vai para os favoritos. Mel Gibson como diretor está de parabéns. A primeira cena do filme deixa claro que a guerra é o inferno. Sem qualquer contexto o espectador é lançado para o meio de uma batalha dos americanos contra os japoneses, com muito sangue e sofrimento. O uso moderado do CGI enobrece o filme, toma uma posição extremamente conservadora. Para dar credibilidade à história que apresenta, foram usados os bons e velhos dublês aliado ao excelente trabalho do diretor de fotografia Duggan, do editor John Gilbert e do veretano Chris Godfrey para mostrar a carnificina do campo de batalha. Não existe nenhuma preocupação em dar uma versão light da guerra, e a constante violência e mutilação ganham tons ainda mais dramáticos com o desespero japonês nos dias finais da guerra. É na justaposição com a personalidade de Doss que Hacksaw Ridge ganha alma e constrói sua mensagem. Chega a ser estranho (e bizarro) pensar que o longa foi engavetado por vários executivos de Hollywood justamente por duvidar do potencial da história.
O roteiro do filme divide-se na atenção para a formação moral de Doss e na sua preparação para a sangrenta Batalha de Okinawa. O grande pecado, no entanto, está no fato de Gibson mostrar a entrada de Doss na guerra e pular diretamente para o gran finale. Em meio disso, vários fatos são resumidos e alterados para conseguir manter o filme em um tempo tolerável, pensando na viabilidade comercial. Neste sentido, Hacksaw Ridge não é a cinebiografia de Doss, mas é um filme sobre o episódio mais importante de sua vida, que por si só é extremamente notório.
Hacksaw Ridge entra na lista das ótimas produções sobre a Segunda Guerra Mundial. A sabedoria de Gibson em encerrar seu filme com depoimentos de Doss e de outros membros do exército que aparecem no filme aumenta ainda mais a imersão na história, deixando uma forte impressão final no público. A tradicional discussão sobre religião e guerra, duas palavras tão distintas mas que nos dias atuais são tão próximas – ganha vida a partir da paixão demonstrada pelo diretor sobre a história que tem em mãos.
Moonlight: Sob a Luz do Luar
4.1 2,4K Assista AgoraA Academia vai ter que dar o braço a torce para os negros, com apenas cinco milhões de dólares Barry Jenkins conseguiu mostrar o outro lado de Miami.
O roteiro de Moonlight impressiona pela a incrível forma como as três histórias se completam. Mais que isso, elas também tomam rumos independentes que deixam uma série de marcas no público, levantando boas discussões sobre sexualidade, presente nos três atos sem partir para a apelação. A introdução é especial, e a atuação de Mahershala Ali é o destaque máximo entre todos os bons atores que trabalharam no filme. Assim como Sean Baker fez ano passado com Tangerine, Jenkins dá voz aos oprimidos a partir da história de um garoto destinado a viver na sombra dos outros. Não existe uma crítica direta ao governo, mas a intenção é mostrar o quanto a população negra é marginalizada dentro dos Estados Unidos, com grupos muito fechados e com pouquíssimas oportunidades de viver o american dream. É na busca pela sua afirmação na sociedade, que observamos a mudança de comportamento de Chiron a partir do segundo ato.
O que torna Moonlight uma experiência especial no cinema é a belíssima fotografia de James Laxton. Ele aumenta o contraste da paleta de cores para buscar a justaposição do sol de Miami com o sofrimento no rosto de Chiron durante todo o filme, ressaltando suas expressões faciais. Se no último ano a Academia fechou os olhos para as produções e para os atores negros, este ano Moonlight desponta como franco favorito ao Oscar de melhor filme, com plenas condições de buscar premiações em ator e atriz coadjuvantes, roteiro, fotografia e edição.
Um Limite Entre Nós
3.8 1,1K Assista AgoraBrilhante, Denzel Washington e Viola Davis, numa obra que no papel já era de excelência, por si só, mas foi tão bom que é poético. O cheirinho de Oscar por indicação já é praticamente garantido, porém Denzel e Viola tem grandes chances de levar a estatueta para casa, principalmente Viola, os dois já interpretaram os mesmos papéis na Broadway - e saíram do Tony Awards de 2010 com estatuetas por suas performances.
Diálogos intensos vão-te fazer ficar de olhos secos, se você piscar perdeu muitas histórias, tem muita sensibilidade para se identificar com um público variado, com certeza você vai se encantar de alguma forma.
Por conta de uma peça de teatro o roteiro pode dar umas falhadas, mas o todo compensa os fatos, as atuações são ótimas, acredito que poderia ser mais curto. Quando liberarem a pré estreia novamente, voltarei com novidades.
Animais Noturnos
4.0 2,2K Assista AgoraUm dos mais fodas do ano, com certeza tem Globo de Ouro aqui, esse é aquele que você fala Crlooooooo! (rs). Austin Wright deve está muito feliz pelo seu bestseller ter sido impecavelmente reproduzido nas telonas. Tom Ford criou uma memorável narrativa que percorre o mundo real e o mundo fictício, criando um laço de união espetacular entre as histórias.
Quem mergulhar na história proposta por Ford certamente terá seu coração batendo forte. Nocturnal Animals consegue mexer com os mais variados sentimentos negativos (como nojo, raiva, tristeza) para construir junto do espectador a ideia de vingança. Se Gyllenhaal é a chave para a compreensão do filme em atuação inspirada, sem dúvida alguma a principal estrela é Michael Shannon, que parece colocar na tela toda a agonia do público. Todo o desenrolar é feito como nos filmes de David Lynch, onde o público evita até mesmo piscar o olho para não perder informações que ajudem a entender tanto o contexto geral como para dar uma explicação satisfatória para o que foi apresentado, é cada flashbacks que você pira.
Nocturnal Animals é incrível. Tem um poder único de reflexão e ressalta a qualidade de Ford como diretor. É o tipo de produção que merece ser vista mais de uma vez junto com a leitura do livro para aplaudir a adaptação impecável e toda a construção do longa, com bela fotografia de Seamus McGarvey e banda sonora de Abel Korzeniowski. Vencedor do Leão de Prata de Veneza e indicado para três prêmios Globo de Ouro.
Ouija: Origem do Mal
2.8 476 Assista AgoraDemorei de mais para assistir, não por que não seja bom, mas sim pelo medo, odeio filme de terror, mais ainda quando tem espírito, ai eu não vejo mesmo, então fica claro que essa resenha não será tão boa, até porque filmes assim são bons pelos sustos certo? Errado, clichê mata filme, e é o que mais vemos em filmes do gênero - Jumpscare. A narrativa se perde também ao utilizar atalhos, como a resolução milagrosa dos problemas financeiros da família, eu acho essas coisas muito ruim.
Apesar de algumas boas cenas, o longa não é capaz de criar uma atmosfera de tensão, embora a câmera faça um bom trabalho em transformar a casa em um lugar claustrofóbico ao abusar dos closes e ação em espaços apertados. É uma boa técnica, mas não o suficiente para manter o longa interessante do começo ao fim, especialmente no fraco terceiro ato, quando os sustos não empolgam e dependem completamente de barulhos altos e cenas de criaturas horripilantes para tentar tirar alguma reação, o que para eu é mais do que o suficiente para ter medo de ir a cozinha depois.
Alguns erros de roteiro e de lógica, como a decisão dos protagonistas de apenas mudar de quarto para confabular contra os fantasmas na esperança de estarem sozinhos, como se a porta fechada os impedisse de ouvi-los, são detalhes que atrapalham, acabam de vez com a tensão e tiram os espectadores do sério, transformando essa obra em mais um filme genérico de possessão sobrenatural.
Porém é bem melhor do que o primeiro filme, não que isso seja algo difícil de se conseguir, mas, ao menos, já é uma boa notícia para os amantes do terror.
Outras Pessoas
3.7 116Outras Pessoas? Um filme que provavelmente entrará escondido em serviços de streaming e terá um público alvo muito específico.
Uma vez que a narrativa desenvolve dois arcos completamente diferentes, que pesam na avaliação final do filme. A análise de David é muito bem construída, com toda uma contextualização sobre seus desejos e indecisões. De forma gradual ele começa a revelar segredos e deixa de lado a vergonha que ainda guardava para se revelar como uma pessoa doce e bondosa. O espectador acompanha a evolução de seu personagem nos noventa minutos de rodagem, e este sem dúvida torna-se o fator de destaque. Por outro lado, tudo o que envolve Joanne tem uma boa dose de melodrama envolvido, e o diretor parece implorar por lágrimas nos minutos finais. Ainda que compreensível por ser uma decisão mais conservadora de roteiro, seria possível entregar algo bem melhor, com mais foco nas relações e na importância da mãe nas decisões da David. Talvez o fato de Kelly querer tornar este filme como um relato semi-biográfico tenha pesado de forma negativa na forma como todos os coadjuvantes se integram com a história em si.
Other People não obteve sucesso comercial nos Estados Unidos, talvez pela falta de recursos na promoção do filme. Mas não deixa de ser uma opção interessante de drama para quem busca por filmes que tratem sobre a resolução de problemas familiares. Méritos para Chris Kelly por ter reunido bons atores em sua estreia nas telas.
Passageiros
3.3 1,5K Assista AgoraFraco!
Sony colocar Jennifer Lawrence e Chris Pratt não justificada a fraquíssima história contada, obrigado.
Melodrama de ficção científica, com o plano de fundo de uma viagem espacial, com investimento alto, mas de nada adianta tamanho investimento se o filme é fraco. Nem mesmo os efeitos especiais justificam os erros grosseiros na narrativa, já que eles são escassos. A grande sensação é que o diretor confiou demasiadamente em um roteiro pouco polido e apostou no carisma de seus protagonistas para deixar o público feliz (aliás, a péssima sugestão de que o filme seria um Titanic foi forçada e cruel). Como consequência, uma porção de clichês são atirados para tapar buracos. Temos, por exemplo, um cliffhanger que torna os personagens de Pratt e Lawrence heróis e um romance que passa por turbulências até sua redenção. As breves pontas de humor são restritas a um personagem secundário, o androide Arthur (Michael Sheen). As participações posteriores de Laurence Fishburne e de Andy Garcia (uma cena) não acrescentam nada na experiência final.
Após excelentes filmes como Interstellar e The Martian é triste observar como tanto dinheiro pode ser jogado fora para um projeto sem qualquer ambição. Aos poucos Passengers abraça uma narrativa catastrófica que não convence nunca. Uma grande bola fora da Sony e de Tyldum.
Assassin's Creed
2.9 948 Assista AgoraEitah lá vamos nós ...uma das franquias mais aguardada do cinema. Assassin’s Creed só é especial graças a Ubisoft, que mescla a ficção com personagens reais, cria uma imersão única, certamente é um dos maiores atrativos do universo oferecido aos gamers. Como todos sabem, é um desafio enorme fazer a transição dos games para o cinema, muitas vezes as expectativas são altíssimas e ai está o problema.
A questão destas franquias é que os produtores tem que agradar dois tipos de perfis diferentes: o primeiro é o do jogador e fã da franquia, ou seja, não é nem um pouco simples montar um roteiro com tamanho peso nas costas. Achei que o pontapé inicial da Regency foi muito prudente, mas os escritores que conseguiram fazer uma boa adaptação de Shakespeare não conseguiram dar gás a uma história que poderia oferecer muito, e Kurzel mostrou-se inefetivo na condução de seu filme.
A base de fundo apresentada na introdução é bem interessante, mostrando a iniciativa dos templários para colocar as mãos na maça do éden. A história até que seria boa para um game, mas no cinema tudo ficou perdido e confuso. O panorama é muito superficial, e os editores provavelmente sofreram para conseguir criar um filme em duas horas. Digo isto pois é evidente que várias cenas foram estraçalhadas, e fica claro em pelo menos duas ocasiões a falta de um elemento de transição nos diálogos. As cenas no mundo medieval não são boas. A apresentação de Boabdil, que seria o grande personagem histórico da trama, beira ao ridículo. A fotografia segue a mesma passividade das outras áreas técnicas, e apenas uma cena de parkour na Andaluzia está acima da média.
É evidente que temos aqui um belo exemplo de uma produção construída a partir de bases muito frágeis. Mas pelo menos deve agradar aos fãs com uma narrativa mais coerente, que talvez explore fatores deixados de lado.
A Chegada
4.2 3,4K Assista AgoraO Oscar vai para "Arrival", com certeza um dos melhores filmes do ano, se não o melhor. Arrival é uma obra prima. É o tipo de filme que marca época por renovar o potencial do cinema. Não é uma simples história sobre uma possível invasão alienígena, mas sim uma parábola perfeita sobre o mundo moderno, ressaltando a necessidade da comunicação com tudo e com todos. Também é a melhor expressão visual sobre o Amor fati de Friedrich Nietzsche. Villeneuve apresenta a melhor ficção científica dos últimos tempos e eleva ainda mais o nível de qualidade esperado de Blade Runner 2049.
Villeneuve rompe com qualquer tipo de clichê do gênero ao estabelecer uma temporalidade cíclica. Breves passagens da introdução contém fatos das cenas finais. A elegante estrutura é melhor do que Interstellar. É com a maravilhosa trilha de Jóhann Jóhannsson (que finalmente deve levar um Oscar) e com um open shot lindo do diretor de fotografia Bradford Young que Villeneuve propõe uma conversa com o seu público através de Amy Adams (em uma atuação de luxo), que interpreta a Doutora Louise Banks.
Estrutura narrativa sólida, as duas horas de filme são marcadas por cenas inesquecíveis. O principal mérito de Villeneuve e de seus produtores foi levar ao público várias possibilidades de análise, tornando a experiência final muito subjetiva e peculiar. Graças ao excelente material base – Story of Your Life, de Ted Chiang – teorias de viagem no tempo misturam-se com breves reflexões sobre o passado, presente e futuro.
Amores Urbanos
3.3 98Senti falta de um rumo, de uma "estória", uma virada, parece uma crônica, uma mini-novela, não te leva a lugar nenhum, da mesma forma que começo também terminou, quase não há uma história, com muitas reviravoltas e suspense e desfecho, mas o registro a seco dessas vidas jovens tentando se ajustar a um mundo careta. E ajustar-se a si mesmas. Contudo, é através da sinceridade empregada pelos protagonistas que a empatia e identificação é gerada até no espectador bem longe do isolado mundinho hipster apresentado aqui. Muitos dos tipos que compõem a narrativa orbitam a área artística, no teatro, música, moda e gastronomia, e refletem uma geração que goza de uma liberdade de escolha muita maior do que as anteriores no aspecto profissional e em outras questões. No entanto, o pensamento livre cultivado nestes filhos da MTV, agora balzaquianos, contrasta com sua falta de maturidade emocional. Neste sentido, Amores Urbanos mostra-se uma obra em total sintonia com seu público.
Doutor Estranho
4.0 2,2K Assista AgoraNão deixe de ver Doctor Strange em IMAX, como foi feito para ser visto, já que a sensação de imersão é ímpar. Um dos melhores uso do CGI dos últimos tempos e um elenco de altíssimo padrão. O Universo Marvel já demonstrou que é grande o suficiente para abrigar os mais diferentes tipos de heróis e vilões.
Como é padrão na Marvel, o filme dedica boa parte de seu tempo preparando o terreno para o futuro ao apresentar. A direção de Scott Derrickson propõe um filme que é construído através de gags que exploram a complexa personalidade de Strange. Algumas são efetivas, outras extremamente forçadas. Outro problema está em Kaecilius (Mads Mikkelsen), que é introduzido como um super-vilão mas aos poucos apresenta falhas que tiram todo crédito prévio. O grande destaque de Doctor Strange está nos vários efeitos especiais caleidoscópicos. Eles diferenciam-se das tradicionais cenas eye-candy da Marvel por adicionarem uma importância em todo o cenário apresentado, e não apenas em três ou quatro personagens.
Doctor Strange tem um ator dedicado e produtores apaixonados que podem tornar este filme e toda sua franquia em uma adição positiva no portfólio cinematográfico da Marvel. As duas cenas exibidas durante os créditos finais deixaram os fãs especulando sobre o futuro, com várias possibilidades de histórias com muito potencial.
O Lar das Crianças Peculiares
3.3 1,5K Assista AgoraTinha tudo pra ser bom, \: mas tem problemas técnicos e narrativos de mais, a adaptação de Ransom Riggs é um dos livros mais cultuados dessa década no gênero fantasia juvenil, que deixa a desejar na experiência final.
A introdução - essa primeira parte é recheada de surpresas, com uma delicadeza na condução da história, criando um ambiente envolvente e dinâmico. Quando se cria a existência de um grande vilão, Burton não consegue sustentar duas realidades paralelas em dois campos temporais distintos. Ele bem que tenta explicar suas decisões e simplifica discussões científicas para criar uma teoria própria de viagem ao tempo, mas ela mesma é desmentida na medida em que caminhamos para a conclusão, criando uma terceira linha paralela (1943, 1943a e 2016).
O filme é apressado e mal conduzido (fator que considerei surpreendente, especialmente pela filmografia do diretor) muito por conta da falta de carisma do protagonista e do vilão. Quem dá certo equilíbrio é Eva Green, que é retirada do arco narrativo principal pouco depois da primeira hora do filme. A tentativa de aparar arestas nos vinte minutos finais cria uma confusão sem precedentes: os temidos vilões passam a cair em pequenos golpes, as crianças triunfam e a vida segue. Mas não sem antes explorar um leve abuso do instante decisivo, um ou outro breve cliffhanger e uma pitadinha de melodrama.
O trabalho gráfico em torno de Miss Peregrine’s Home for Peculiar Children é relevante, com efeitos de primeiro nível, mas falta coração para repassar a magia da obra de Riggs.
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Homens de Coragem
3.0 66 Assista AgoraCadê a direção? USS Indianapolis: Men of Courage não tem direção, o filme perde o rumo da narrativa por vezes, parecendo em certos momentos não ter uma história e ser apenas um amontoado de cenas e movimentação militar dentro de um navio.
Ele até funciona no começo, depois de uns 15 minutos o filme entra numa espiral de decadência narrativa impressionante, onde brotam os diálogos mal elaborados, as sequências de patriotismo melodramáticas e uma apresentação desenfreada de histórias dos coadjuvantes.
A Garota no Trem
3.6 1,6K Assista AgoraThe Girl on the Train tinha potencial para ser uma das grandes surpresas de 2016. Infelizmente não é. A direção de Tate Taylor seria a garantia de muita tensão em torno de um grande mistério, porém é justamente no roteiro, principal acerto da equipe de David Fincher, que mora o pecado que torna o longa de Taylor em uma decepção. O resultado, ainda que previsível, é desagradável: desconstrução temporal, falta de coerência na narrativa e um timing no mínimo controverso que prendem à força o espectador para uma conclusão apressada. O filme é rodado a partir de flashbacks, que não conseguem mostrar a ideia de memórias – ou memórias alteradas. Para quem não leu Hawkins, parece um filme picotado, que abusa do anacronismo temporal para apontar culpados.
Emily Blunt faz sempre um bom trabalho, mas achei que seu papel foi extremamente forçado. Outra oportunidade perdida para tratar sobre os problemas do alcoolismo, já que suas recaídas tem pouco conteúdo (e mesmo no final, quando tudo parece tomar outro caminho, nada disso volta a ser tratado). A maquiagem pesada busca traços brutais em expressões faciais que não acompanham o contexto proposto. Ainda assim, a atriz dá seu máximo para levar ao público seu melhor.
Negócio das Arábias
2.9 178 Assista AgoraEu gostei. O diretor Tom Tykwer que F#$@% cometendo pecados básicos na transição da estória de Eggers para o cinema. Dave Eggers é um dos novelistas mais destacados deste novo milênio. Seu padrão de escrita impressiona – e o reconhecimento dos críticos literários tornaram suas obras um alvo para Hollywood. A Hologram for the King (Negócio das Arábias, no Brasil) é o primeiro filme adaptado.
Temos duas histórias paralelas, que se encontram em um final apressado e inconclusivo. Tykwer não consegue captar o espírito do personagem central, e fez recortes absurdos para não cansar seu espectador. Por isso o roteiro parece flutuar no deserto: as cenas repetitivas são alvo de piada pelo próprio Clay, como se o diretor reconhecesse a necessidade de dizer ao público que estava apresentando em seu filme seis tomadas iguais para dar fiabilidade ao roteiro. É claro que isso toma o efeito contrário, e tais tomadas formam um conjunto desnecessário, que certamente seriam alvo da tesoura de uma boa equipe de edição.
Em determinado momento do filme, o espectador passa a se tudo o que ele está vendo seria uma pegadinha ou uma conspiração. O melodrama final e as frases de efeito dos últimos minutos são uma tentativa de fazer o próprio público esquecer os erros anteriores, mandando uma mensagem positiva.
Justiça seja feita: os erros grotescos na construção do roteiro jamais passam pela atuação do ator principal. Hanks é o destaque do filme (e não poderia ser diferente). Apesar de ter um personagem precário, tendo em conta o potencial da obra original, ele consegue extrair o máximo de seus diálogos para tentar dar certa credibilidade ao longa. Sem Hanks, A Hologram for the King seria um filme B fruto de uma péssima adaptação, mas sua presença torna a obra atrativa para distribuição internacional – ainda sem esconder o fato de que estamos falando de um frustrante longa, outrora visto como uma grande aposta do mercado de Hollywood.
Capitão Fantástico
4.4 2,7K Assista AgoraSimplesmente não dá para começar a comentar sem dizer sensacional, ou melhor fantástico. O confronto de culturas e as diversidades é a base, você pensará duas vezes antes de julgar. O relacionamento dos filhos de Ben com as crianças de mesma idade cria cenas hilárias, propondo um choque ao mesmo estilo de Borat. A partir da observação da cultura dominante, Ben e seus filhos passam por uma espécie de sincretismo, adaptando sua realidade para o cenário apresentado. Viggo Mortensen é perfeito como protagonista pois ele faz um tipo com pouco carisma – que é justamente o que chama a atenção. Ele não faz a mínima questão de seguir as etiquetas impostas pela elite, e sua camisa da campanha de Jesse Jackson em 1988 (além das discussões sobre teorias marxistas) montam a estrutura familiar a partir de ações vistas nos pequenos detalhes.
Ross procura não arriscar, e opta por um estilo de humor que não deixa o controle do filme escapar de suas mãos. As cenas das crianças bebendo vinho, ou da caça aos animais, tem seu lado cômico reforçado com a maravilhosa fotografia da francesa Stéphane Fontaine (que conseguiu uma linda trinca de filmes em 2016, também com Elle e Jackie). Captain Fantastic é uma ótima opção de entretenimento – com piadas geniais construídas a partir de frases marcantes de Chomsky, por exemplo. Cabe ao espectador não criar grandes expectativas e entender que a proposta de Ross não tem qualquer ligação com uma dramédia.
Bruxa de Blair
2.4 1,0K Assista AgoraTudo que deu certo no clássico de 1999, não deu certo aqui. O problema é os inúmeros clichês que se intercalam e se repetem entre si, ao invés de procurar renovar as narrativas, trata apenas de copiar os mesmos padrões que já não causam nenhum efeito prático no espectador. O que mais incomoda é o abuso do jump scare. Em mais de uma dezena de situações, o diretor Adam Wingard tenta desesperadamente criar um clima sinistro, tentando passar credibilidade à imensidão da floresta. No entanto, ele mesmo trata de desconstruir, visto que não investe tempo na análise dos personagens e anula de forma bizarra a utilidade dos próprios gadgets que ele introduz, como o caso de um drone.
O filme apresenta erros de continuidade primários, mas que talvez fiquem em segundo plano para o espectador casual por conta da narrativa, bastante rápida. A fotografia de Robby Baumgartner busca planos fechados para captar expressões de sofrimento. Na metade final, o grande foco passa para a solução do caso, iluminando parcialmente a faixa central da tela, como se a luz mostrasse ao espectador o caminho. A opção por filmar todo em primeira pessoa cria cenas contraditórias, já que a edição não acompanha o movimento da câmera feito pelos personagens. Completamente desnecessário, Blair Witch é mais um fracasso.