Da futilidade e riqueza exibicionista ao completo caos. O poder da circunstância. O ser humano que se adapta e se sujeita a humilhações e atos terríveis, revelando seus piores lados, com a maior facilidade do mundo para benefício próprio. Não se trata de socialismo x capitalismo(como dois personagens brincam no auge do desespero) e sim como podemos ser igualmente suscetíveis a deixarmos o nosso pior lado tomar conta quando temos oportunidade.
Faz todo sentido que o filme divida muito opiniões. "Triângulo da Tristeza" abraça o absurdo, o exagerado e o escatológico. Entendo quem enxerga como uma grande bobagem de mau gosto e/ou pretensiosa. O longa me divertiu. No fundo, todos estão cercados de merda(literalmente). Quem pode estar por cima, aproveita isso como pode. Quem agora está por baixo que se vire.
Um olhar crítico e não inovador, mas divertido sobre esses personagens e mundo vazios.
"Nada de Novo no Front" cumpre com o que se espera de um filme do gênero: impressiona com sua parte técnica e nos envolve naturalmente com a força natural de suas imagens.
Infelizmente, o longa tem dificuldade em nos emocionar. As cenas com interações entre os soldados são bem pouco marcantes. A opção de jogar os personagens de cara no conflito acabou tornando o filme mais frio do que deveria ou poderia. A parte "externa" da guerra, daqueles que determinam os rumos, mas não sujam as mãos, são excessivamente burocráticas e apáticas. Quase todos os personagens são caricaturas, o filme cai muito nesses momentos - entende-se a importância, mas não funciona.
O saldo final é que vemos mais várias sequências pesadas e aspectos técnicos de qualidade do que um longa com uma história que realmente nos marque, emocione ou apresente algo novo com algum vigor.
A guerra é péssima e nunca deveria ter ocorrido ou ocorrer. Já sabíamos disso e já vimos tudo feito aqui, porém não custa nada reforçar.
A quem não viu: indico com força a obra-prima "Sem Novidade no Front", de 1930.
O amor pela arte e a certeza da vocação que nascem das maneiras mais improváveis.
O amor irresistível pelo cinema e pela arte de filmar que simplesmente te levam em frente, que não te fazem olhar para trás e para outras opções. A família que se une e se machuca diante de seus olhos. Diante de suas lentes e de sua paixão.
O trauma, a dificuldade de perdoar e o que se perde. Filme de olhar deveras sensível sobre relações familiares e o quanto a mesma nos molda e afeta - positivamente e/ou negativamente. E, também, um longa que fala de maneira muito bonita acerca do quanto não se consegue enjaular uma paixão maior do que nós mesmos. O final com a linda homenagem de um dos mais importantes cineastas a um dos maiores diretores usando outro dos maiores é inesquecível.
Os ótimos Paul Dano e Michelle Williams estão muito muito muito bem.
Buscar de forma incansável e desesperada a companhia de quem te faz bem. Mudar algo e não ser esquecido antes do fim, deixando assim sua marca no mundo. Se agarrar como puder em algo que faça sentido, algo oposto a sua existência trágica. Cuidar dos seus, mas também cuidar de si. Não há mais tempo a perder.
Martin McDonagh filma com enorme beleza um lugar que encanta com sua imensidão impressionante. A obra nos cativa com seus personagens peculiares, sentimentos muito intensos e ações/últimos atos que representam tentativas angustiadas de se sentir vivo dentro de um lugar e cenário que não apresenta perspectivas de felicidade.
Um filme carregado de enorme melancolia e repleto de almas inquietas. O silêncio e o ambiente aconchegante não trazem paz. Na verdade, ambos escondem dor, depressão e tragédia. A paz está na fuga e no fim. A paz está na companhia daqueles que não falam.
Um humor que mais nos desconcerta do que nos faz rir. E um drama interessante e inusitado. Longa de desejos muito humanos, enorme solidão e profundas belezas e tristezas.
Colin Farrell está ótimo, lidera bem o belo elenco.
Meu favorito do diretor ainda é "In Bruges", mas "Os Banshees de Inisherin" merece ser um dos bons destaques de seu ano.
Crescer tanto e de tal maneira a ponto de perder a noção dos males que suas palavras e poder podem causar. Elevar sua arte, a forma de enxergar a mesma e ensiná-la até se sentir quase intocável. Encarar as consequências de seus erros irreversíveis. Enjaular seu maravilhoso talento. Perder-se em seus demônios. Os pesadelos viram realidade. A realidade vira um pesadelo. "Tár" discute temas atuais como 'cancelamento', 'assédio' e separação entre 'obra e artista' de forma inteligente, não julga. O que temos aqui é um belo, convincente e trágico estudo de personagem.
Brilhante atuação da espetacular Cate Blanchett. Talvez seja a melhor performance da incrível carreira da atriz, briga fortemente por esse posto(tenho que pensar melhor sobre esse assunto). Que atriz é Blanchett. Uma das mais talentosas que a sétima arte já viu(e a minha favorita de sua geração). Que sorte temos de vivermos na mesma que essa maravilhosa artista.
O mal que não se dá por vencido facilmente. A ditadura que cai, porém continua ameaçando. "Argentina, 1985" mostra o quanto é preciso combater, encarar e buscar punir com coragem, por mais que a burocracia política constantemente tente atrapalhar e as ameaças existam. Pequenas vitórias geram grande vitórias. Grandes vitórias geram justiça. Justiça proporciona um país melhor. Ver os depoimentos daqueles que sofreram arduamente durante o regime militar e o esforço dos que lutam por uma justa punição nos toca.
O longa não impressiona com suas opções narrativas bem tradicionais e pouco inventivas, mas funciona bem como um filme de um tema super relevante, atual e universal. Aqueles que tanto feriram e afetaram pessoas, países e gerações devem ser punidos e as consequências mostradas. Os acontecimentos devastadores de outrora devem sempre ser lembrados para que os mesmos erros não se repitam.
E que maravilhoso é ver o grande Ricardo Darín em ação.
Aprender a amar passando por cima de grandes obstáculos, diferenças e tristezas do passado.
Del Toro recria e reapresenta uma história mágica para uma nova geração com imensa beleza. Del Toro ousa e reinventa colocando elementos mágicos e sombrios dignos de seus belos filmes e filmografia. O espaço dado ao fascismo que corrompe/tenta corromper o que há de mais puro é um toque novo bem interessante e surpreendente.
A vida que acontece em pequenos momentos. A troca e o contato que parecem simples, mas se tornam inesquecíveis. A profunda tristeza que só pode dar as caras na solidão. O que tanto se sente, mas não se diz. O ontem que permanece profundamente guardado em nós.
"Aftersun" constrói uma história deveras humana sobre pai e filha. Um filme rico em gestos, silêncios e fragmentos. Não de arrebatadores acontecimentos e emoções.
O que se perde e o que perdura. Tocante obra sobre as inevitáveis belezas e mágoas que o tempo inevitavelmente deixa em nós.
Paul Mescal (Calum) e Francesca Corio (Sophie) são maravilhosos juntos. Duas atuações carregadas de verdade e sutilezas. Sentimos o não dito. Captamos fortemente os sentimentos nas ações. Notamos de forma palpável a curiosidade, as alegrias, as dores, as tristezas, os desejos e, especialmente, como a companhia do outro faz toda a diferença.
Que ótimo ver Paul Mescal(maravilhoso em "Normal People") em grandes filmes e belos papéis no cinema. Que bela estreia de Charlotte Wells na direção.
O passado e o presente sempre estarão ligados e nos conectarão as pessoas que tanto amamos. Um dos mais belos e sensíveis filmes de 2022.
"RRR" abraça a fantasia e as muitas possibilidades que uma obra de ficção oferece sem medo de ser feliz. Uma obra que investe na grande energia que seus diferentes gêneros proporcionam e no coração de seus personagens.
Da música à ação, o filme indiano é um grito de revolta e resistência contra um mundo bárbaro que massacra os menos favorecidos sem a menor piedade.
Exagerado e empolgante em proporções parecidas. Gostando ou não, não se pode questionar que o longa tem a total noção do que deseja ser do início ao fim.
Espero ver mais obras de países pouco vistos como a Índia de "RRR" ganhando espaço e repercussão pelo mundo.
A vontade desesperada de ser amada, desejada, feliz, bem sucedida e viver uma vida de estrela, de viver uma realidade que seja a mais oposta possível a sua condição atual e verdadeiras possibilidades. Não há mais como aceitar tristezas, rejeições e fracassos. Não há mais como aceitar não ter o que se pensa que é seu por direito.
Muito mais do que um filme com uma grande história ou de desenvolvimento impressionante, "Pearl" é uma obra de poderosas e marcantes cenas e, especialmente, um grande palco para que sejamos hipnotizados por Pearl(Mia Goth) - essa que é uma das melhores personagens dos últimos anos.
Sorriam(sem assustar ninguém) por termos um belo e tão particular longa como este em 2022.
Prisão e liberdade. A tristeza de viver uma vida sem perspectivas e de mágoa/culpa faz com que a fuga seja algo inevitável. Mergulhar de cabeça no desconhecido é ter certeza de que algo crescentemente assustador está e estará perto, mas não há como voltar atrás.
Uma relação mental e emocional absolutamente devastadora entre uma mulher, que está desesperadamente tentando se sentir viva, e uma casa, filmada de forma super impressionante como um organismo vivo, como um buraco negro que suga tudo que quer.
Lindamente filmado(alguns ângulos e sequências são primorosas, inesquecíveis), construído com um classicismo maravilhoso e dono de uma atmosfera hipnotizante. Trágico e fascinante.
Uma mãe querendo reencontrar seus filhos. Uma filha que quer achar suas mães. O acerto de contas com um amor perdido.
"Doutor Estranho no Multiverso da Loucura" aposta num ritmo intenso(já começa como se estivéssemos no meio do filme, no clímax de uma trama já iniciada) e em diferentes gêneros para contar uma história sobre aceitar perdas, assumir as próprias falhas e corrigir as mesmas por um bem maior.
O visual atraente(cheio de boas ideias, Sam Raimi é craque nisso), a pegada de terror, os ótimos personagens, as boas surpresas para quem curte o universo de super-heróis e o coração que move a obra enriquecem a ação, fazem o longa passar voando. Algumas soluções muito fáceis do final impedem que o filme seja ainda melhor, mas no geral o que vemos é entretenimento de qualidade.
Como não adorar a dupla Wanda e Doutor Estranho? Impossível.
Olhe para ela, brilhando tanto. E, no entanto, está tão sozinha.
Enquanto foca em apresentar o ser humano por trás do ícone(o que deseja, o que sente e o estado de espírito inquieto, triste e carente de Norma) o filme funciona. A personagem queria apenas ser amada como Norma(como de fato ela nunca foi). E não como a estrela Marilyn Monroe, a mulher quase intocável e desejada por todos.
Infelizmente, a parte final é de tremendo mau gosto. Cenas muito ruins como a "conversa com o futuro bebê" e a do sexo oral são apenas exemplos das escolhas bastante fracas do longa. Lamentavelmente, por conta da queda de qualidade, "Blonde" será mais lembrado como uma cinebiografia de terror ruim, de escolhas muito questionáveis, que explora as tragédias de uma lenda e, pode-se discutir muito também, as imagens de duas atrizes(Marilyn Monroe e Ana de Armas) mais do que deveria.
Andrew Dominik é talentoso, algumas cenas muito bem dirigidas aqui e trabalhos seus como os belos "O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford" e "O Homem da Máfia" comprovam isso, mas aqui o diretor errou a mão.
Muito mais sobre o mundo em volta, o que cerca e quem cerca Elvis Presley do que um filme a respeito do próprio - e por incrível que pareça essa escolha inusitada para abordar a obra funciona(especialmente quando cai a ficha de vez que estamos diante de um longa com tal objetivo).
A censura, os muitos medos existentes nestas décadas efervescentes e a instabilidade da carreira afetam o astro. Claramente a pressão é um grande fardo. Porém nada o suga mais do que seu empresário predador, uma figura traiçoeira obcecada por atrair incontáveis pessoas e dólares através de sua mais mágica atração, da maior das estrelas.
"Elvis" nunca deixa de mostrar claramente que estamos vendo uma história sob o ponto de vista do vilão, há algo de errado ou sombrio escondido o tempo todo(existem pequenos momentos que flertam com o terror) que sempre precisa ser combatido de alguma forma. Se Elvis é o 'fruto proibido', o Coronel Parker(Tom Hanks) é o próprio Mefistófeles de Fausto, uma figura que seduz e oferece o mundo à custa de um preço muito caro.
Apesar do caráter surpreendente, o filme sabiamente deixa a trama fluir naturalmente. Investe também em nos apresentar influências, interesses e pessoas próximas de Elvis e permite que a estrela maior brilhe e embale a história. O longa aproveita bem o privilégio de ter nas mãos as músicas de um dos maiores cantores de todos os tempos e a oportunidade de retratar uma das mais marcantes e famosas pessoas que já pisaram neste planeta.
Austin Butler se sai bem e entrega uma competente performance que cresce na última parte do filme, atuação intensa. A carreira do jovem ator tem tudo para mudar a partir de agora.
Um conto do mal que sempre puxa de volta. Das sombras ao redor da luz. Uma obra sobre como a indústria e seus oportunistas são capazes de afetar tragicamente qualquer ser humano(não que o cantor seja retratado como uma figura inocente e perfeita, vimos que ele é responsável também por seus pecados), porém não possuem força suficiente para impedir que alguém como Elvis Presley se torne um rei imortal.
Viver
3.3 75Bom.
A Baleia
4.0 1,0K Assista AgoraFraco.
A Fera do Mar
3.7 237 Assista AgoraSimpático.
A Menina Silenciosa
4.0 129 Assista AgoraMuito Bom.
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Glass Onion: Um Mistério Knives Out
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Eo
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Marcel a Concha de Sapatos
3.8 104 Assista AgoraMuito Bom.
Triângulo da Tristeza
3.6 730 Assista AgoraO fútil e o irônico.
Da futilidade e riqueza exibicionista ao completo caos.
O poder da circunstância. O ser humano que se adapta e se sujeita a humilhações e atos terríveis, revelando seus piores lados, com a maior facilidade do mundo para benefício próprio.
Não se trata de socialismo x capitalismo(como dois personagens brincam no auge do desespero) e sim como podemos ser igualmente suscetíveis a deixarmos o nosso pior lado tomar conta quando temos oportunidade.
Faz todo sentido que o filme divida muito opiniões. "Triângulo da Tristeza" abraça o absurdo, o exagerado e o escatológico. Entendo quem enxerga como uma grande bobagem de mau gosto e/ou pretensiosa.
O longa me divertiu. No fundo, todos estão cercados de merda(literalmente). Quem pode estar por cima, aproveita isso como pode. Quem agora está por baixo que se vire.
Um olhar crítico e não inovador, mas divertido sobre esses personagens e mundo vazios.
.
Bom.
Nada de Novo no Front
4.0 611 Assista AgoraO horror da guerra.
E nada de novo...
"Nada de Novo no Front" cumpre com o que se espera de um filme do gênero: impressiona com sua parte técnica e nos envolve naturalmente com a força natural de suas imagens.
Infelizmente, o longa tem dificuldade em nos emocionar. As cenas com interações entre os soldados são bem pouco marcantes. A opção de jogar os personagens de cara no conflito acabou tornando o filme mais frio do que deveria ou poderia.
A parte "externa" da guerra, daqueles que determinam os rumos, mas não sujam as mãos, são excessivamente burocráticas e apáticas. Quase todos os personagens são caricaturas, o filme cai muito nesses momentos - entende-se a importância, mas não funciona.
O saldo final é que vemos mais várias sequências pesadas e aspectos técnicos de qualidade do que um longa com uma história que realmente nos marque, emocione ou apresente algo novo com algum vigor.
A guerra é péssima e nunca deveria ter ocorrido ou ocorrer. Já sabíamos disso e já vimos tudo feito aqui, porém não custa nada reforçar.
A quem não viu: indico com força a obra-prima "Sem Novidade no Front", de 1930.
.
Simpático.
Os Fabelmans
4.0 388A vida é um filme. A vida em um filme.
O amor pela arte e a certeza da vocação que nascem das maneiras mais improváveis.
O amor irresistível pelo cinema e pela arte de filmar que simplesmente te levam em frente, que não te fazem olhar para trás e para outras opções.
A família que se une e se machuca diante de seus olhos. Diante de suas lentes e de sua paixão.
O trauma, a dificuldade de perdoar e o que se perde. Filme de olhar deveras sensível sobre relações familiares e o quanto a mesma nos molda e afeta - positivamente e/ou negativamente.
E, também, um longa que fala de maneira muito bonita acerca do quanto não se consegue enjaular uma paixão maior do que nós mesmos.
O final com a linda homenagem de um dos mais importantes cineastas a um dos maiores diretores usando outro dos maiores é inesquecível.
Os ótimos Paul Dano e Michelle Williams estão muito muito muito bem.
Bela e super pessoal obra de Steven Spielberg.
.
Muito Bom.
Os Banshees de Inisherin
3.9 569 Assista AgoraO desespero silencioso no paraíso.
Buscar de forma incansável e desesperada a companhia de quem te faz bem.
Mudar algo e não ser esquecido antes do fim, deixando assim sua marca no mundo.
Se agarrar como puder em algo que faça sentido, algo oposto a sua existência trágica.
Cuidar dos seus, mas também cuidar de si. Não há mais tempo a perder.
Martin McDonagh filma com enorme beleza um lugar que encanta com sua imensidão impressionante. A obra nos cativa com seus personagens peculiares, sentimentos muito intensos e ações/últimos atos que representam tentativas angustiadas de se sentir vivo dentro de um lugar e cenário que não apresenta perspectivas de felicidade.
Um filme carregado de enorme melancolia e repleto de almas inquietas. O silêncio e o ambiente aconchegante não trazem paz. Na verdade, ambos escondem dor, depressão e tragédia.
A paz está na fuga e no fim. A paz está na companhia daqueles que não falam.
Um humor que mais nos desconcerta do que nos faz rir. E um drama interessante e inusitado.
Longa de desejos muito humanos, enorme solidão e profundas belezas e tristezas.
Colin Farrell está ótimo, lidera bem o belo elenco.
Meu favorito do diretor ainda é "In Bruges", mas "Os Banshees de Inisherin" merece ser um dos bons destaques de seu ano.
.
Muito Bom.
Tár
3.7 394 Assista AgoraA artista e a autoperdição.
Crescer tanto e de tal maneira a ponto de perder a noção dos males que suas palavras e poder podem causar.
Elevar sua arte, a forma de enxergar a mesma e ensiná-la até se sentir quase intocável.
Encarar as consequências de seus erros irreversíveis. Enjaular seu maravilhoso talento.
Perder-se em seus demônios. Os pesadelos viram realidade. A realidade vira um pesadelo.
"Tár" discute temas atuais como 'cancelamento', 'assédio' e separação entre 'obra e artista' de forma inteligente, não julga. O que temos aqui é um belo, convincente e trágico estudo de personagem.
Brilhante atuação da espetacular Cate Blanchett. Talvez seja a melhor performance da incrível carreira da atriz, briga fortemente por esse posto(tenho que pensar melhor sobre esse assunto). Que atriz é Blanchett. Uma das mais talentosas que a sétima arte já viu(e a minha favorita de sua geração). Que sorte temos de vivermos na mesma que essa maravilhosa artista.
.
Muito Bom.
Argentina, 1985
4.3 334O bem que não pode descansar.
O mal que não se dá por vencido facilmente. A ditadura que cai, porém continua ameaçando.
"Argentina, 1985" mostra o quanto é preciso combater, encarar e buscar punir com coragem, por mais que a burocracia política constantemente tente atrapalhar e as ameaças existam. Pequenas vitórias geram grande vitórias. Grandes vitórias geram justiça. Justiça proporciona um país melhor.
Ver os depoimentos daqueles que sofreram arduamente durante o regime militar e o esforço dos que lutam por uma justa punição nos toca.
O longa não impressiona com suas opções narrativas bem tradicionais e pouco inventivas, mas funciona bem como um filme de um tema super relevante, atual e universal.
Aqueles que tanto feriram e afetaram pessoas, países e gerações devem ser punidos e as consequências mostradas. Os acontecimentos devastadores de outrora devem sempre ser lembrados para que os mesmos erros não se repitam.
E que maravilhoso é ver o grande Ricardo Darín em ação.
.
Bom.
Pinóquio
4.2 542 Assista AgoraAmor sem barreiras.
Aprender a amar passando por cima de grandes obstáculos, diferenças e tristezas do passado.
Del Toro recria e reapresenta uma história mágica para uma nova geração com imensa beleza.
Del Toro ousa e reinventa colocando elementos mágicos e sombrios dignos de seus belos filmes e filmografia. O espaço dado ao fascismo que corrompe/tenta corromper o que há de mais puro é um toque novo bem interessante e surpreendente.
Sensível e muito bonito.
Um dos excelentes filmes de 2022.
.
Excelente.
Aftersun
4.1 703Memórias que ficam.
A vida que acontece em pequenos momentos.
A troca e o contato que parecem simples, mas se tornam inesquecíveis.
A profunda tristeza que só pode dar as caras na solidão.
O que tanto se sente, mas não se diz.
O ontem que permanece profundamente guardado em nós.
"Aftersun" constrói uma história deveras humana sobre pai e filha. Um filme rico em gestos, silêncios e fragmentos. Não de arrebatadores acontecimentos e emoções.
O que se perde e o que perdura. Tocante obra sobre as inevitáveis belezas e mágoas que o tempo inevitavelmente deixa em nós.
Paul Mescal (Calum) e Francesca Corio (Sophie) são maravilhosos juntos. Duas atuações carregadas de verdade e sutilezas. Sentimos o não dito. Captamos fortemente os sentimentos nas ações. Notamos de forma palpável a curiosidade, as alegrias, as dores, as tristezas, os desejos e, especialmente, como a companhia do outro faz toda a diferença.
Que ótimo ver Paul Mescal(maravilhoso em "Normal People") em grandes filmes e belos papéis no cinema.
Que bela estreia de Charlotte Wells na direção.
O passado e o presente sempre estarão ligados e nos conectarão as pessoas que tanto amamos.
Um dos mais belos e sensíveis filmes de 2022.
.
Excelente.
RRR: Revolta, Rebelião, Revolução
4.1 321 Assista AgoraVibrante revolução.
"RRR" abraça a fantasia e as muitas possibilidades que uma obra de ficção oferece sem medo de ser feliz.
Uma obra que investe na grande energia que seus diferentes gêneros proporcionam e no coração de seus personagens.
Da música à ação, o filme indiano é um grito de revolta e resistência contra um mundo bárbaro que massacra os menos favorecidos sem a menor piedade.
Exagerado e empolgante em proporções parecidas. Gostando ou não, não se pode questionar que o longa tem a total noção do que deseja ser do início ao fim.
Espero ver mais obras de países pouco vistos como a Índia de "RRR" ganhando espaço e repercussão pelo mundo.
.
Bom.
Pearl
3.9 989A dama de vermelho.
A vontade desesperada de ser amada, desejada, feliz, bem sucedida e viver uma vida de estrela, de viver uma realidade que seja a mais oposta possível a sua condição atual e verdadeiras possibilidades.
Não há mais como aceitar tristezas, rejeições e fracassos. Não há mais como aceitar não ter o que se pensa que é seu por direito.
Muito mais do que um filme com uma grande história ou de desenvolvimento impressionante, "Pearl" é uma obra de poderosas e marcantes cenas e, especialmente, um grande palco para que sejamos hipnotizados por Pearl(Mia Goth) - essa que é uma das melhores personagens dos últimos anos.
Sorriam(sem assustar ninguém) por termos um belo e tão particular longa como este em 2022.
Mia Goth: você merece todos os aplausos!
.
Muito Bom.
Desafio do Além
3.7 138 Assista AgoraLar, doce lar.
Prisão e liberdade.
A tristeza de viver uma vida sem perspectivas e de mágoa/culpa faz com que a fuga seja algo inevitável. Mergulhar de cabeça no desconhecido é ter certeza de que algo crescentemente assustador está e estará perto, mas não há como voltar atrás.
Uma relação mental e emocional absolutamente devastadora entre uma mulher, que está desesperadamente tentando se sentir viva, e uma casa, filmada de forma super impressionante como um organismo vivo, como um buraco negro que suga tudo que quer.
Lindamente filmado(alguns ângulos e sequências são primorosas, inesquecíveis), construído com um classicismo maravilhoso e dono de uma atmosfera hipnotizante.
Trágico e fascinante.
.
Excelente.
Doutor Estranho no Multiverso da Loucura
3.5 1,2K Assista AgoraPor amor e pela razão.
Uma mãe querendo reencontrar seus filhos.
Uma filha que quer achar suas mães.
O acerto de contas com um amor perdido.
"Doutor Estranho no Multiverso da Loucura" aposta num ritmo intenso(já começa como se estivéssemos no meio do filme, no clímax de uma trama já iniciada) e em diferentes gêneros para contar uma história sobre aceitar perdas, assumir as próprias falhas e corrigir as mesmas por um bem maior.
O visual atraente(cheio de boas ideias, Sam Raimi é craque nisso), a pegada de terror, os ótimos personagens, as boas surpresas para quem curte o universo de super-heróis e o coração que move a obra enriquecem a ação, fazem o longa passar voando.
Algumas soluções muito fáceis do final impedem que o filme seja ainda melhor, mas no geral o que vemos é entretenimento de qualidade.
Como não adorar a dupla Wanda e Doutor Estranho? Impossível.
.
Bom.
Blonde
2.6 443 Assista AgoraOlhe para ela, brilhando tanto.
E, no entanto, está tão sozinha.
Enquanto foca em apresentar o ser humano por trás do ícone(o que deseja, o que sente e o estado de espírito inquieto, triste e carente de Norma) o filme funciona.
A personagem queria apenas ser amada como Norma(como de fato ela nunca foi). E não como a estrela Marilyn Monroe, a mulher quase intocável e desejada por todos.
Infelizmente, a parte final é de tremendo mau gosto. Cenas muito ruins como a "conversa com o futuro bebê" e a do sexo oral são apenas exemplos das escolhas bastante fracas do longa. Lamentavelmente, por conta da queda de qualidade, "Blonde" será mais lembrado como uma cinebiografia de terror ruim, de escolhas muito questionáveis, que explora as tragédias de uma lenda e, pode-se discutir muito também, as imagens de duas atrizes(Marilyn Monroe e Ana de Armas) mais do que deveria.
Andrew Dominik é talentoso, algumas cenas muito bem dirigidas aqui e trabalhos seus como os belos "O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford" e "O Homem da Máfia" comprovam isso, mas aqui o diretor errou a mão.
.
Regular.
Elvis
3.8 759O rei e o ilusionista.
Muito mais sobre o mundo em volta, o que cerca e quem cerca Elvis Presley do que um filme a respeito do próprio - e por incrível que pareça essa escolha inusitada para abordar a obra funciona(especialmente quando cai a ficha de vez que estamos diante de um longa com tal objetivo).
A censura, os muitos medos existentes nestas décadas efervescentes e a instabilidade da carreira afetam o astro. Claramente a pressão é um grande fardo. Porém nada o suga mais do que seu empresário predador, uma figura traiçoeira obcecada por atrair incontáveis pessoas e dólares através de sua mais mágica atração, da maior das estrelas.
"Elvis" nunca deixa de mostrar claramente que estamos vendo uma história sob o ponto de vista do vilão, há algo de errado ou sombrio escondido o tempo todo(existem pequenos momentos que flertam com o terror) que sempre precisa ser combatido de alguma forma.
Se Elvis é o 'fruto proibido', o Coronel Parker(Tom Hanks) é o próprio Mefistófeles de Fausto, uma figura que seduz e oferece o mundo à custa de um preço muito caro.
Apesar do caráter surpreendente, o filme sabiamente deixa a trama fluir naturalmente. Investe também em nos apresentar influências, interesses e pessoas próximas de Elvis e permite que a estrela maior brilhe e embale a história.
O longa aproveita bem o privilégio de ter nas mãos as músicas de um dos maiores cantores de todos os tempos e a oportunidade de retratar uma das mais marcantes e famosas pessoas que já pisaram neste planeta.
Austin Butler se sai bem e entrega uma competente performance que cresce na última parte do filme, atuação intensa. A carreira do jovem ator tem tudo para mudar a partir de agora.
Um conto do mal que sempre puxa de volta. Das sombras ao redor da luz.
Uma obra sobre como a indústria e seus oportunistas são capazes de afetar tragicamente qualquer ser humano(não que o cantor seja retratado como uma figura inocente e perfeita, vimos que ele é responsável também por seus pecados), porém não possuem força suficiente para impedir que alguém como Elvis Presley se torne um rei imortal.
.
Bom.