No primeiro episódio da série, o professor de química Walter White fala apaixonadamente como a química para ele, acima de tudo, é o estudo da transformação. Walter faz um paralelo com a vida, porém jamais poderia imaginar no tamanho da sua própria e completa transformação.
A primeira cena desta quinta temporada mostra um pedaço do futuro próximo(algo que "Breaking Bad" e "Better Call Saul" dão aula de como se fazer), com Walter sozinho no dia no seu aniversário, num ambiente frio, se preparando para lidar com a violência do mundo que escolheu; Já na última cena do primeiro episódio, vemos o protagonista abraçando sua esposa numa cena com ares de terror. Ambos os momentos resumem bem a jornada do protagonista e o que ele se tornará para sua família na temporada.
Walter manipula Jesse. Walter aterroriza Skyler, deixando-a sem saída. Mas não é algo simples, pois ambos sabem como atingi-lo de volta - e fazem isso(em maior ou menor grau). Os embates são íntimos e familiares(de diversos tipos), e também criminosos. A série se vira muitíssimo bem ao colocar personagens subindo de posto como antagonistas e apresentando novas figuras interessantes que também se destacam nesse sentido. Mike, por exemplo, teve terreno para brilhar(por isso ganhou merecidamente tanto espaço em "Better Call Saul") e Todd fez o suficiente para se tornar, em pouco tempo, um dos vilões mais interessantes do universo "Breaking Bad".
A primeira parte deste ano é de muita investigação por parte de Hank e de consolidação de força, status e fortuna do homem que descobriu que queria construir um império no seu 'ramo'. O brilhante "Gliding Over All" fecha de forma espetacular a temporada. O episódio não só consolida o personagem principal como o poderoso chefão do crime como também faz com que o mesmo alcance seu objetivo lá do passado, de conseguir dinheiro e tranquilidade o suficiente para dar paz para sua família. O desfecho memorável que desconcerta Hank obviamente desfaz isso, e a temporada caminha para sua conclusão poderosa.
Muito mais do que a violência, a ação e o lado criminal, a melhor coisa da segunda parte é o trágico desmanche familiar. É a queda. São as consequências. A punição. É o fim doloroso da imagem de amor que um dia existiu em relação a um homem. É o fim da imagem de uma família. O incrível "Granite State"(um dos meus 3 episódios favoritos da temporada) mostra de forma melancólica as ruínas, o resultado de tudo. E temos, claro, o absurdo "Ozymandias". "Ozymandias" é o melhor episódio da série, com sobras. Não só isso, facilmente briga para ser um dos melhores da história da TV. Trata-se de um episódio extremamente duro, direto, violento(emocionalmente e fisicamente), devastador e doloroso. Como citei acima, marca o fim de uma família. Decreta a mudança definitiva de imagens antes intocáveis e afetos que um dia também foram.
Tenho algumas ressalvas em relação a "Felina", que encerra a série, acho um pouco calculado demais. Basicamente tudo sai exatamente como Walter deseja. Ainda assim, entendo a escolha da série em reforçar o mito do quase imparável e invencível Heisenberg. Definitivamente, no universo do crime ninguém nunca foi capaz de batê-lo.
A última cena de Jesse e também a derradeira de Walter são tão perfeitas que não há como não adorar o episódio. Ambas são maiores que o mesmo. Mais do que isso: elas são o episódio. Ao término, acho que a grande maioria dos espectadores se sentem satisfeitos com a conclusão da história de transformação de Walter e aliviados por Jesse.
Foi incrível rever "Breaking Bad" inteira pela primeira vez depois de mais de 10 anos e ter agora uma noção renovada de sua enorme qualidade. Foi o primeiro drama de altíssimo que finalizei, sempre terei um carinho diferente e bastante especial por essa obra. O que "Friends" fez pelas comédias, "Breaking Bad" fez pelos dramas. As duas séries abriram o caminho para que eu me apaixonasse mesmo por esse mundo fascinante.
Bryan Cranston(que entregou uma performance que briga para ser a maior dentre as séries), Aaron Paul e cia marcaram seus nomes com esses papéis.
Espetacular temporada. Uma das grandes obras televisivas de todos os tempos.
Walter White, o frustrado professor de química e pai de família comum, não existe mais. A transformação foi completada ao término da temporada. Heisenberg surgiu como um nome para impor respeito, mas virou uma persona incontrolável que tomou o controle e não possui limites.
Hank sentiu o golpe pesadíssimo visto na temporada anterior, porém se recuperou e mostrou o quanto é um investigador impressionante. A inteligência e o faro apurado do agente da DEA acrescentam muito à série, seus avanços sempre provocam ótimos momentos de tensão.
Skyler como Kim Wexler. A personagem mostrou neste quarto ano o quanto foi contaminada pelo poder e artimanhas que nunca teve antes nas mãos. Quando ela está decidida ninguém segura. Vemos como ela a essa altura do campeonato não aceita "não" como resposta, mesmo que para isso a própria tenha que romper princípios e barreiras antes inimagináveis.
Se Walter tornou-se algo que ninguém esperava, Jesse também trilhou um caminho semelhante. Parece num primeiro momento que ele não sentia mais o impacto causado pelas mortes em volta, porém vemos que o personagem apenas fugia como podia disso. Jesse chegou bem perto de figuras capazes de todo tipo de violência e tornou-se alguém capaz de encarar pessoas assim. Trata-se também de um transformação impressionante, quase tanto quanto a do protagonista. A performance de Aaron Paul é visceral, deveras marcante.
Os dois personagens principais brilham, mas pode-se dizer que Gus se destaca em igual proporção aos dois - por vezes até mais. Sem dúvida é um feito e tanto para um personagem que deveria ser 'apenas' o criminoso rival que surge durante a série. A série revela seu passado de perda e acompanhamos como o silencioso criminoso é incomparavelmente implacável, meticuloso e frio. O inesperado embate Gus x Hector(ambos com história também vista em "Better Call Saul") é incrível. O que vemos entre os dois no episódio final(com direito a trilha que remete aos westerns de Sergio Leone) está entre os momentos mais marcantes de "Breaking Bad".
O brilhante e caótico "Crawl Space" nos tirou o fôlego e inseriu terror como nunca antes foi visto na obra. O igualmente poderoso e desconcertante "Face Off" foi o auge quando pensamos em acerto de contas e revelação de quem de fato se tornou Walter White.
Cenas antológicas, fantásticos episódios e um final de temporada espetacular. Excelente ano.
Após a grande tragédia em sua vida, Jesse conseguiu se recompor e seguir em frente apenas quando entendeu e admitiu a si mesmo que é uma pessoa ruim. Walter até tentou largar o mundo do crime e produção de drogas. No início da temporada, conversando com Gus, disse que deixaria de vez, mas a grande ambição e posto alcançado já fazem parte de quem ele se tornou.
Nas duas primeiras temporadas os dois protagonistas mergulharam, agiram e reagiram ao universo que escolheram, fizeram o necessário para crescer e sobreviver. Ainda assim, sempre houve algo dentro dos dois que os balançavam a ponto de pensar que eles não pertencem a esse lugar. A reta final da temporada mostrou a ambos que eles pertencem a esse mundo. E mais do que isso: eles querem continuar pertencendo. Isso vale para os dois e, agora, numa escala menor, claro, vale para Skyler. A escolha de sujar as mãos foi dela - por mais que também exista o fator família aí no meio.
Quando se tem tanto nas mãos, infinitamente mais do que já se teve, é difícil abrir mão. Quando se mexe com mortes, perigos e poderes grandes demais se sabe que os mesmos irão atrás de você novamente.
Hank, Walter e Jesse são protagonistas de excelentes momentos de ação e imensa tensão. A terceira temporada é a mais violenta até aqui. 'One Minute', 'Half Measures' e 'Full Measure' são episódios de tirar o fôlego.
Trabalho de direção espetacular. "Breaking Bad" esbanja excelência nesse sentido, pouquíssimas séries na história fazem frente.
O universo é violento e cruel, não há escapatória. Quem vive e mexe com ele sente na pele isso. Não há volta. Nem para viver como antes, nem para ser alguém diferente de quem se tornou. Como esquecer o olhar de Jesse na cena final? A escuridão que encerra o ano diz tudo.
O gosto de viver perigosamente foi sentido na primeira temporada e, claramente, não é algo que pode-se abrir mão. Vemos agora que não apenas Walter descobriu um novo lado seu, mas que ele necessita dele. O personagem se corrói por dentro ao se sentir diminuído em qualquer cenário e não convive bem com a ideia de ter somente a vida normal de antes. Internamente Walt grita para que seus 'feitos' sejam reconhecidos.
Uma questão notória que diz muito sobre a transformação do protagonista é como o próprio se sente muito mais desconfortável e acuado lidando com sua rotina familiar do que ao ser confrontado no mundo do crime(mesmo tendo que se impor em cenários ameaçadores e correndo riscos constantemente). A mudança é gradual, notamos o processo em cada parte da temporada, mas sem deixar de mostrar que se trata de alguém em conflito interno. Um homem que ainda tem dificuldade em lidar com dois mundos tão diferentes. A brilhante atuação de Cranston é fundamental para que possamos nos envolver e fascinar com essa jornada.
Jesse cresce ainda mais nesse segundo ano. Seu parceiro o faz abrir a perigosa porta da enorme ambição(que deixa sérias sequelas após tragédias) e conhecemos como o personagem se importa com as pessoas próximas, o quanto sente as grandes pancadas do destino nos mesmos. Aaron Paul também entrega uma grande performance, digna de prêmios. Se Walt cresce, Jesse sente bastante o peso de lidar com o mundo do crime.
Algo marcante que faz a temporada funcionar bastante e dá certo frescor a "Breaking Bad" é a entrada de novos personagens. Jane é uma ótima aquisição. A personagem cresce muito com o passar dos episódios, sua sintonia e momentos com Jesse são memoráveis. Jane marcou o ano 2 da série. A sua presença e o que a cercou são fundamentais para entendermos muito sobre os dois personagens principais. Para vermos quem eles são e, principalmente, quem ambos estão se tornando e para onde estão indo.
Saul Goodman, Gus e Mike surgem na temporada e rapidamente dizem a que vieram. Eu realmente não lembrava que o trio aparecia tão cedo, revê-los aqui(especialmente por ter visto "Better Call Saul") teve um gosto bastante especial.
Uma das coisas que mais está me impressionando nessa revisão é o quanto Walt mente o tempo inteiro. De pequenas a grandes mentiras: ele não para. Quanto mais mente, mais o personagem se afasta do seu eu do passado e consequentemente afasta todos que o amam. O final(Skyler/Anna Gunn em grande momento) simboliza isso e encerra lindamente a temporada. O castelo de mentiras está grande demais para não ser percebido.
Vi pela quarta vez esta primeira temporada(apesar de nunca ter revisto a série inteira, farei isso agora pela primeira vez) e passei a adorá-la mais ainda. Walter recebe uma pancada do destino e no fundo do poço decide viver como nunca viveu. E se entrega nisso, de forma que até o próprio se surpreende. Um homem que já tem seus dias contados é capaz de tudo.
Uma das coisas mais interessantes da temporada é acompanhar os efeitos que a revelação da doença do protagonista(algo revelado já no primeiro episódio) gera na sua família. Boa parte desse ano 1 concentra-se nesse drama familiar, no grande impacto, na forma como isso mexe com seus integrantes de diferentes formas e como essa questão torna mais profunda a jornada do protagonista.
O homem com problemas financeiros e por vezes humilhado. O professor frustrado e pouco reconhecido para o seu grande conhecimento. O processo no qual Walter deixa essas questões para trás e passo a passo essa vida no passado é repleto de perigos e, acima de tudo, transformador. Não só por passar a conviver com outro mundo e tipos de pessoas totalmente diferentes, mas tal jornada transforma lentamente sua essência. O homem que escolheu influenciar positivamente vidas passa a ter que lidar e decidir sobre mortes. Certos caminhos não têm mais volta.
O ponto mais rico e complexo nessa história é acompanhar como o protagonista se sente mais vivo ao conhecer/criar uma versão que ele jamais poderia imaginar que existiria. Ao deixar sua escuridão tomar à frente de suas ações, Walter 'cresce' e começa a ver que é possível juntar dinheiro para sua família, aquele que é seu único grande objetivo no momento. O resto é história. E será sensacional acompanhá-la novamente.
Bryan Cranston brilha muito já nesse ano inicial. Performance maravilhosa.
Rever "Breaking Bad" depois de mergulhar muito como mergulhei na estupenda "Better Call Saul" será especial.
Direção, montagem, roteiro e atuações de alto nível. Excelente temporada.
8 histórias de aproximadamente 30 minutos, como 8 pequenos filmes, repletos de muita memória, família, cultura e origens. São tramas sobre imigrantes nos EUA que têm em comum a frustração com a vida atual e a busca interna por realizar/entender seu propósito de vida. A 'América' das oportunidades é desconstruída, vemos um país com pessoas passando por muitos percalços e dificuldades. Um país onde os sonhos demoram a acontecer e muitas vezes nem acontecem ou são transformados.
"Little America" é uma série baseada em fatos reais que nos envolve muito com suas histórias deveras humanas, de gente como a gente, mas a beleza da obra não é ver sonhos sendo realizados. Não se trata disso. A beleza aqui é justamente mergulhar nas angústias, falhas, medos, dúvidas, desânimo e fios de esperança. É acompanhar seres humanos nascidos nos mais diversos lugares do mundo que tiveram que olhar para dentro de si para encontrar forças(da melhor forma que puderam), paz e dar sentido as suas trajetórias. Pessoas que em algum momento não aguentaram mais não viver de acordo com o que carregam e sempre carregaram dentro de seus corações. No caminho se encontra as respostas.
Emociona, porém o que se destaca é a sensibilidade das escolhas e o olhar honesto sobre o mundo. Uma pena que a série é tão pouca vista. Bonita temporada, espero assistir outras. Ikigai para todos nós.
Pessoas horríveis se mostrando mais e mais horríveis. Sobra para religião, família e instituições. Vai de crianças à idosos. Não importa: ninguém sai ileso. A série zomba de todo mundo e os personagens exploram todos pelas razões mais egoístas possíveis. "Seinfeld" investiu na ideia e "It's Always Sunny in Philadelphia" aumentou a aposta. Funcionou muito. Temporada bastante engraçada.
Revi após 10 anos esta temporada que me impressionou muito na época. Hoje, posso dizer com minhas impressões renovadas: o ano 1 de "True Detective" merece o reconhecimento que possui.
A estrutura de diferentes linhas do tempo é elegante e funciona muito, pois dá grande profundidade aos personagens, expõe suas muitas falhas, diz muito sobre quem os mesmos são e como eles chegaram onde chegaram - para o mal e para o bem. E, claro, apresenta a complexa e rica relação entre os dois protagonistas.
A direção é deveras excelente(com direito a plano-sequência memorável), a série constrói uma tensão absurda em seus momentos de maior perigo. Rust dá o tom existencialista/pessimista da obra(vê-lo falando sobre sua visão de mundo é deveras fascinante, quase hipnotizante), com suas reflexões duras, porém racionais que vão de encontro ao mundo apresentado. Um mundo carregado de sujeira e crueldade, dono de uma dimensão que choca e só se mostra maior e maior.
Os assassinatos se multiplicam. Cadáveres expostos à luz do dia, verdades ocultas e pistas enterradas. Pensar e agir assim é confortável para quase todos, mas o mal não é vencido tão facilmente. Não quando se quer acabar com o mesmo de vez e vencer seus próprios demônios.
O roteiro apresenta e desenvolve habilmente seus mistérios, caminha dentro de uma atmosfera que cheira a rastro de mortes macabras e que quando atinge seu ápice marca o espectador de forma poderosa e inesquecível.
Woody Harrelson está ótimo e Matthew McConaughey está absolutamente fantástico. A performance do segundo é dessas que o espectador jamais esquece. Revendo, posso afirmar com mais força o que eu já achava: está entre as maiores atuações da história da TV. Não me recordo a última vez que uma série/filme fez eu chorar como aconteceu ao ver Rust falando da filha no final. Que ator enorme é McConaughey. E que episódio brilhante de encerramento! Tensão, ação e emoção em altíssimo grau de excelência.
A temporada mais pesada de "Fargo". Não em termos de mortes(todas têm muitas), mas em identificar as imagens e violência da tela e sabermos que as mesmas sempre fizeram e ainda fazem muito parte da época que vivemos, da realidade de muitas pessoas.
O caráter político da temporada também chama a atenção. A série constantemente mostrou em outros anos inúmeros confrontos sangrentos por territórios e/ou entre grupos e choques entre figuras que se esbarram e são ambiciosas demais para não passarem umas por cima das outras. Esses são temas que fazem parte do DNA da antologia.
Neste novo ano, tais temas novamente estão presentes, mas dentro de um panorama muito atual. Um mundo muito marcado por líderes que usam todas as artimanhas possíveis e privilégios que suas respectivas posições, capacidades de influenciar e regiões oferecem. O resultado não poderia ser outro. Claramente, pelos envolvidos, não é um duelo sobre bem x mal(embora seja quase impossível não torcermos por um dos lados), porém o resultado nos faz esquecer disso lindamente.
O conservadorismo exacerbado, o comportamento arcaico sobre relações e a visão estreita e egoísta de mundo são características bastante marcantes do grande vilão da história. Um vilão deveras assustador, pois é tão palpável quanto figuras que vemos fora da ficção.
Personagens exóticos que nem parecem humanos(por representarem o mal ou 'guardiões da punição inescapável' em carne e osso) são atrações fascinantes, já tradicionais da série. Como esquecer de Lorne Malvo e V. M. Varga? Impossível. Aqui essa figura também é fascinante, parece quase indestrutível, entrega o que se espera. Mas há um algo a mais que surpreende e conversa diretamente com a jornada da protagonista da história.
Dorothy. Um nome que significa uma nova vida. Uma vida que carrega da antiga a incrível capacidade de resistir e lutar como uma gigante contra as maiores crueldades e violências. Contudo, o que a torna invencível de verdade é o amor de hoje, de uma família construída. Um amor que uma mulher merece viver, que sara anos de pesadelos, traumas e feridas. Um amor capaz até mesmo de curar maldições de séculos através dos mais simples gestos de bondade e de pequenos prazeres compartilhados com grande carinho.
Juno Temple, Jon Hamm, Sam Spruell e Jennifer Jason Leigh arrebentam. Ótimas atuações, entraram na galeria de personagens marcantes da série.
Pelos envolvidos(Tom Hanks e Spielberg são os criadores) e pelo ano de realização, eu já esperava encontrar uma obra de tom e direção similares a de "O Resgate do Soldado Ryan". É bem por aí, mas gosto mais desta produção da HBO. O lado humano é bastante aprofundado, se destaca tanto quanto a impressionante parte técnica.
Sobreviver é o objetivo. Porém, a busca por demonstrar valor e encontrar propósito também são muito importantes. O desejo 100% em comum? A chegada do tempo de paz.
Coragem? Eficiência? Medo? Desespero? Afobação? Somente se sabe a reação que se terá num cenário de Guerra quando se vive a mesma na pele. E assim se entende o quanto todos os envolvidos são parecidos de alguma forma e o preço imenso que a Guerra cobra.
Muitas marcas e muitas histórias. O companheirismo e os laços criados são o que permitem seguir.
Pessoas à Beira de um Ataque de Nervos, retrato do nosso tempo. O estado externo explode ao refletir o desespero existencial interno. A solidão e a busca por algo que faça se sentir vivo como elementos universais, que reverberam em todos. Apenas quando se entende isso pode-se enxergar o outro. Yeun e Wong ótimos, em grande sintonia.
Carla Gugino é tudo em todo o lugar ao mesmo tempo.
Maldade, ambição e poder.
A troca escolhida. O preço cobrado. As vidas destruídas. As almas perdidas.
Não se pode escapar daquilo que já estava escrito.
Os episódios possuem estruturas praticamente iguais e previsíveis, mas funcionam ao nos acostumar a esperar algo visualmente atraente, um 'prazer macabro' que só o gênero é capaz de proporcionar.
Belas atuações de Carla Gugino e Bruce Greenwood. Adoro ver a 'família Flanagan' em diferentes minisséries, e ela segue crescendo.
Mike Flanagan e Edgar Allan Poe num casamento de estilos e temas que funciona muito.
Quis o destino que em 2023, ano do grande "Assassino da Lua das Flores", de Martin Scorsese, tivéssemos também a belíssima despedida da linda "Reservation Dogs"(detalhe: a maravilhosa Lily Gladstone está nas duas obras).
A série que mostra com imensa sensibilidade temas como o valor da comunidade, ancestralidade, espiritualidade, tradições, folclores, pertencimento, amadurecimento, perdão, luto e as inquietações dos nativos norte-americanos de hoje e ontem chegou ao seu auge neste terceiro ano.
Os adolescentes que protagonizam a série constantemente buscaram encontrar seu lugar no mundo e ao mesmo tempo lidaram com o medo de não encontrar. As caminhadas por longas estradas, as conversas entre diferentes gerações e as trocas que apenas os próprios olhos podem enxergar e o coração sentir mostram que as respostas são muito mais simples do que parecem. Elas estavam por perto o tempo inteiro.
Nem a morte impede a proteção de quem se ama e precisa de ajuda. A proteção e valorização dos seus foi algo mais forte do que nunca nessa temporada. E é assim que esses personagens se encontram e reencontram: ao entenderem que a felicidade e clareza desejadas estão em contribuir da melhor forma para tornar a comunidade e o mundo em volta melhor. Não há despedidas, apenas até logo. Pois, independente do que aconteça, todos sempre viverão em cada um deles. Lindo ano final.
Que tenhamos mais e mais histórias de tão alto nível que retratem histórias de povos que costumam ficar longe dos holofotes. Uma das melhores séries da atualidade chegou ao fim, mas vou me apropriar e distorcer um pouco o que a jovem Willie Jack disse e levar comigo da seguinte forma: esses personagens e história são para sempre.
Uma temporada com cenários diferentes, mas com o mesma capacidade enorme de debater de forma aberta e eloquente e tocar em questões emocionais e sexuais importantes de uma maneira que apenas ela faz. "Sex Education" entregou 4 sólidos anos, apresentou personagens jovens(em sua maioria, mas não apenas jovens) cativantes e nos fez sempre torcer para que eles pudessem vencer seus demônios e descobrir quem de fato são e querem ser.
Amores e relacionamentos românticos entregaram euforia, constrangimento, momentos bonitos e tristes. Porém, independente de como as coisas terminaram para os muitos casais, neste quarto ano a série fez questão de dizer algo de forma bela: quem passou por nossas vidas sempre fará parte da nossa história e molda parte de quem somos.
Um acerto da netflix. Sentirei saudade de Maeve, Otis, Eric, Ruby, Aimee e companhia.
Um terceiro ano sobre entender para onde se está indo e resolver importantes questões que seguem nos afetando.
As temporadas anteriores são melhores e mais sólidas, mas é um desfecho digno da jornada de crescimento de um pequeno clube que se torna muito melhor e de pessoas que unidas também se tornaram melhores do que eram.
"Ted Lasso" se despede como uma inesperada obra de qualidade sobre o mundo do futebol(precisávamos!). Uma história dona de um espírito acolhedor e otimista, que lembra inclusive os filmes de Frank Capra, mas que também toca com seriedade em dramas e questões atuais e atemporais - adoro como a série aborda saúde mental e a necessidade de terapias no mundo esportivo(e não apenas nele).
Ted Lasso é um dos grandes protagonistas recentes da TV. Personagem especial. Terminou bem e na hora certa(P.S.: Há conversas sobre uma possível quarta temporada no futuro). Os personagens cativantes, a ambientação e as participações especiais vão ficar na nossa memória.
A quinta temporada continua mostrando o humor engraçadíssimo e seus maravilhosos personagens com particularidades tão únicas. Como digo com frequência: é a série mais engraçada do momento.
Sonho consumado, bloqueio, identidade e questionamento sobre o que realmente traz felicidade. Guillermo foi o destaque. Na verdade, os rumos do personagem são sempre o fator principal que dita para qual caminho a história irá. Se, nesse sentido, o desfecho da temporada não foi original, a jornada foi bastante divertida e envolvente.
Dentro desse plot de Guillermo(especialmente nele) vimos relações crescendo e personagens mostrando maior cuidado e proteção em relação ao outro. Uma bonita e, por vezes surpreendente, valorização da companhia de vários anos(dentro do que eles são, sem descaracterizar os personagens, obviamente). A série ainda aproveita isso para fazer um contraponto maravilhoso com a Guia dos vampiros(uma figura sempre completamente ignorada por quase todos) em cenas sempre muito engraçadas.
Um ano de belas participações especiais(com atores interpretando eles mesmos de forma bastante divertida), alguns questionamentos existenciais, muito constrangimento e a criatividade de sempre. E, claro, sem deixar de lado algo fundamental na série: ser uma comédia acima de tudo.
O espetacular e desconcertante "Local News" é um dos episódios mais engraçados dos últimos tempos. E há outros com momentos de humor inspirado e caos de um jeito que apenas "What We Do in the Shadows" faz.
Outra temporada de muito bom nível dessa que é uma das melhores séries da atualidade.
A nona temporada ainda sofreu por conta da queda de nível inevitável do ano anterior(após o desfalque que sabemos que provocou uma clara instabilidade), mas aqui a série consegue ter uma solidez maior nos plots e rumo dos personagens. Dwight e Andy meio que assumem o protagonismo e não fazem feio. Angela(me emocionou bem em alguns momentos) e Erin brilham e Jim & Pam passam por momentos que o público não esperava ver. O coração da série esteve mais presente do que nunca, só que aqui a emoção foi proporcionada de forma mais distribuída e não mais focada em Jim e Pam.
A metalinguagem foi elevada a outro nível, andou de mãos dados com o passar do tempo e as mudanças nas vidas dos personagens. Vê-los em outros estágios em suas existências é muito bonito, mas nada nos toca mais do que ver as memórias, reflexões sobre suas jornadas e a importância de cada escolha e pessoa em suas vidas.
Como definiu bem a Pam(dona das grandes frases do episódio final): não há tempo a perder quando encontramos o que queremos, quem queremos e sabemos o que merecemos.
A poesia e a loucura do cotidiano de todos nós em uma das comédias essenciais da TV. Temporada final muito boa e tocante.
A amizade de opostos. Os opostos que aprendem a se gostar e se defender com unhas e dentes. O texto é muito muito engraçado e inteligente(as piadas não param). Fiquei feliz em ver que o humor é bem mais afiado e "sujo" do que eu esperava, as companheiras não poupam umas as outras ao "carinhosamente" se ofenderem.
Entendo o motivo desta temporada ter vencido o Emmy de melhor comédia, trata-se de um ano realmente muito divertido, que toca em temas universais e atemporais e constrói/apresenta ótimas e sólidas personagens.
Uma série sobre uma grande família. Sobre a família de onde viemos e a que criamos. Uma família forjada nas incertezas, no companheirismo, nas dificuldades, nas decepções, nas brigas e no amor. Vemos como os ambientes nos formam e como formamos o ambiente - para o bem e para o mal.
Uma série sobre individualidades e indivíduos. Sobre aquilo que carregamos de mais doído no nosso íntimo e que não somos capazes de colocar para fora ou fazer com que os outros nos entendam inteiramente. Ou que nem mesmo nós dominamos ou sabemos por inteiro. Que mostra como o passado nos afeta, nos limita e determina muito do que somos. Que evidencia as razões pelas quais os nossos medos e demônios nos sabota repetidamente.
Uma série sobre recomeços e propósitos. Sobre se surpreender consigo mesmo quando parece que somos diferentes de todos os outros ou que nosso tempo já passou. Que revela que o comprometimento com a equipe, com o esforço do outro e também com o carinho de quem nos deposita confiança é algo especial. Que diz que respeitar seu tempo e trabalho é respeitar a si mesmo.
Uma série sobre motivação e desmotivação. Sobre crescimento e traumas, os traumas que nos travam. Que fala de amor e do medo/dificuldade de amar.
Uma série sobre altos e baixos. Muitos, muitos altos e baixos. Muitas incertezas. Pois a vida é exatamente assim. E por isso cada vitória arranca sorrisos, lágrimas e tiram uma tonelada de tensão do corpo, da mente e da alma.
"Fishes", "Forks" e "The Bear" são episódios incríveis! 3 dos melhores do ano. E o que são as participações especiais?!? Sem comentários. "Fishes" é o meu episódio favorito. Vemos uma inesquecível e caótica reunião familiar com um tanto de amor perdido no meio daquele tanto de raiva, incômodo e desentendimentos. A personagem da grande Jamie Lee Curtis me fez lembrar da imensa Gena Rowlands em "Uma Mulher Sob Influência". Acho que não poderia haver elogio melhor do que esse, não é mesmo?
As atuações são tocantes e complexas, deveras especiais. O elenco é algo espetacular. Impressiona o número de ótimos personagens e o desenvolvimento brilhante dos mesmos. Alguns dos principais personagens ganham episódios praticamente só para eles e isso não soa nada gratuito, pois vemos que os mesmos os levam para outro lugar, os fazem crescer de alguma forma.
A direção é do mais alto nível. Sentimos o peso que cada um carrega dentro de si o tempo todo. Sentimos cada pequena felicidade. Sentimos tudo nos olhares, nas palavras e nas hesitações. Obra de enorme sensibilidade e humanidade.
"The Bear" teve um belo ano inicial, mas aqui a série subiu bastante seu nível. Espetacular temporada. A nota só pode ser a mais alta possível.
Uma grande jornada apocalíptica sobre perda e reencontro. Tensão e ação de alto nível e ótimas doses de emoção. A construção de um mundo em ruínas e de grandes perigos impressiona e os elos entre os personagens nos comovem.
Joel é o resultado humano de um mundo devastado. Um mundo onde vemos tudo de bom que se perdeu e os resquícios de sentimentos que movem e distorceram completamente o "certo e o errado" numa realidade sem perspectivas. Uma realidade dominada pela solidão e destruição onde o presente é tudo que se tem. Ellie é o coração de "The Last of Us". É a força genuína que resiste. É o milagre. É a esperança num mundo desumano. A empolgação da menina descobrindo o novo, as coisas, os sentimentos, a vida e se descobrindo proporciona boa parte dos momentos mais belos da série até o momento. E não posso deixar de citar Frank e Bill, os protagonistas do brilhante episódio 3, o melhor da obra.
Política, família, violência e a busca por dignidade. Obra de ação muito bem dirigida e que respira brasilidade. As articulações de poder, a ambientação, as motivações, as manifestações e costumes culturais e a fé só poderiam ser de uma obra nacional. E justamente por isso é uma obra com qualidade capaz de romper fronteiras. Belos personagens.
Dwight e Andy ganhando muito protagonismo na temporada. Foi muito interessante vê-los com tanto destaque. E a Erin brilhou também. Certamente a mais fraca temporada até aqui, mas The Office ainda mantém um bom nível. Bom oitavo ano.
A suada recompensa após perder tudo que se esperava viver. A carreira que transforma e redefine o ser. A carreira que abre caminhos e subverte expectativas da época, de gêneros e de todos.
O último ano viaja com sabedoria por passado, presente e futuro de forma melancólica e reflexiva. Vimos como cada semente plantada em cada caminho e relação sempre estiveram lá(para o bem e para o mal - felizmente mais para o bem).
Midge e Susie formam o casal que mais importa na série. E nas jornadas de ambas, com tamanhos contratempos, adversidades e desilusões de todos os tipos, apenas tomando o que é compatível ao talento das duas na marra é que se consegue sucesso. E que prazer foi ver isso! O desfecho é de reconhecimento, paz e risadas. Não por tudo ter sido perfeito, sem falhas e perdas, mas por suas vidas terem sido traçadas por suas próprias cabeças e corações. Não poderia terminar de outra maneira: maravilhoso final!
Sentirei saudade dos diálogos rápidos e inteligentes, da elegância geral que contamina, dos bons personagens, do enorme coração, do olhar tão articulado sobre a época e também dessas mulheres lutadoras e brilhantes que merecem conquistar tudo que sonham.
Bela última temporada. Guardarei com carinho a série no meu coração.
A América de almas sofredoras. A América também da esperança. A América de todos. A chegada da AIDS. Um novo milênio se aproxima. O medo. O medo de um país em mudanças, de se perder, de não pertencer. Maravilhosa obra. E que elenco incrível!
Breaking Bad (5ª Temporada)
4.8 3,0K Assista AgoraTransformação e perdição.
Crime e família. Ascensão e queda.
No primeiro episódio da série, o professor de química Walter White fala apaixonadamente como a química para ele, acima de tudo, é o estudo da transformação. Walter faz um paralelo com a vida, porém jamais poderia imaginar no tamanho da sua própria e completa transformação.
A primeira cena desta quinta temporada mostra um pedaço do futuro próximo(algo que "Breaking Bad" e "Better Call Saul" dão aula de como se fazer), com Walter sozinho no dia no seu aniversário, num ambiente frio, se preparando para lidar com a violência do mundo que escolheu; Já na última cena do primeiro episódio, vemos o protagonista abraçando sua esposa numa cena com ares de terror. Ambos os momentos resumem bem a jornada do protagonista e o que ele se tornará para sua família na temporada.
Walter manipula Jesse. Walter aterroriza Skyler, deixando-a sem saída. Mas não é algo simples, pois ambos sabem como atingi-lo de volta - e fazem isso(em maior ou menor grau).
Os embates são íntimos e familiares(de diversos tipos), e também criminosos. A série se vira muitíssimo bem ao colocar personagens subindo de posto como antagonistas e apresentando novas figuras interessantes que também se destacam nesse sentido. Mike, por exemplo, teve terreno para brilhar(por isso ganhou merecidamente tanto espaço em "Better Call Saul") e Todd fez o suficiente para se tornar, em pouco tempo, um dos vilões mais interessantes do universo "Breaking Bad".
A primeira parte deste ano é de muita investigação por parte de Hank e de consolidação de força, status e fortuna do homem que descobriu que queria construir um império no seu 'ramo'. O brilhante "Gliding Over All" fecha de forma espetacular a temporada. O episódio não só consolida o personagem principal como o poderoso chefão do crime como também faz com que o mesmo alcance seu objetivo lá do passado, de conseguir dinheiro e tranquilidade o suficiente para dar paz para sua família.
O desfecho memorável que desconcerta Hank obviamente desfaz isso, e a temporada caminha para sua conclusão poderosa.
Muito mais do que a violência, a ação e o lado criminal, a melhor coisa da segunda parte é o trágico desmanche familiar. É a queda. São as consequências. A punição. É o fim doloroso da imagem de amor que um dia existiu em relação a um homem. É o fim da imagem de uma família.
O incrível "Granite State"(um dos meus 3 episódios favoritos da temporada) mostra de forma melancólica as ruínas, o resultado de tudo. E temos, claro, o absurdo "Ozymandias". "Ozymandias" é o melhor episódio da série, com sobras. Não só isso, facilmente briga para ser um dos melhores da história da TV. Trata-se de um episódio extremamente duro, direto, violento(emocionalmente e fisicamente), devastador e doloroso. Como citei acima, marca o fim de uma família. Decreta a mudança definitiva de imagens antes intocáveis e afetos que um dia também foram.
Tenho algumas ressalvas em relação a "Felina", que encerra a série, acho um pouco calculado demais. Basicamente tudo sai exatamente como Walter deseja. Ainda assim, entendo a escolha da série em reforçar o mito do quase imparável e invencível Heisenberg. Definitivamente, no universo do crime ninguém nunca foi capaz de batê-lo.
A última cena de Jesse e também a derradeira de Walter são tão perfeitas que não há como não adorar o episódio. Ambas são maiores que o mesmo. Mais do que isso: elas são o episódio.
Ao término, acho que a grande maioria dos espectadores se sentem satisfeitos com a conclusão da história de transformação de Walter e aliviados por Jesse.
Foi incrível rever "Breaking Bad" inteira pela primeira vez depois de mais de 10 anos e ter agora uma noção renovada de sua enorme qualidade. Foi o primeiro drama de altíssimo que finalizei, sempre terei um carinho diferente e bastante especial por essa obra.
O que "Friends" fez pelas comédias, "Breaking Bad" fez pelos dramas. As duas séries abriram o caminho para que eu me apaixonasse mesmo por esse mundo fascinante.
Bryan Cranston(que entregou uma performance que briga para ser a maior dentre as séries), Aaron Paul e cia marcaram seus nomes com esses papéis.
Espetacular temporada. Uma das grandes obras televisivas de todos os tempos.
Breaking Bad (4ª Temporada)
4.7 1,2K Assista AgoraO novo Rei de Albuquerque.
Walter White, o frustrado professor de química e pai de família comum, não existe mais.
A transformação foi completada ao término da temporada. Heisenberg surgiu como um nome para impor respeito, mas virou uma persona incontrolável que tomou o controle e não possui limites.
Hank sentiu o golpe pesadíssimo visto na temporada anterior, porém se recuperou e mostrou o quanto é um investigador impressionante. A inteligência e o faro apurado do agente da DEA acrescentam muito à série, seus avanços sempre provocam ótimos momentos de tensão.
Skyler como Kim Wexler. A personagem mostrou neste quarto ano o quanto foi contaminada pelo poder e artimanhas que nunca teve antes nas mãos. Quando ela está decidida ninguém segura. Vemos como ela a essa altura do campeonato não aceita "não" como resposta, mesmo que para isso a própria tenha que romper princípios e barreiras antes inimagináveis.
Se Walter tornou-se algo que ninguém esperava, Jesse também trilhou um caminho semelhante. Parece num primeiro momento que ele não sentia mais o impacto causado pelas mortes em volta, porém vemos que o personagem apenas fugia como podia disso.
Jesse chegou bem perto de figuras capazes de todo tipo de violência e tornou-se alguém capaz de encarar pessoas assim. Trata-se também de um transformação impressionante, quase tanto quanto a do protagonista. A performance de Aaron Paul é visceral, deveras marcante.
Os dois personagens principais brilham, mas pode-se dizer que Gus se destaca em igual proporção aos dois - por vezes até mais. Sem dúvida é um feito e tanto para um personagem que deveria ser 'apenas' o criminoso rival que surge durante a série. A série revela seu passado de perda e acompanhamos como o silencioso criminoso é incomparavelmente implacável, meticuloso e frio. O inesperado embate Gus x Hector(ambos com história também vista em "Better Call Saul") é incrível. O que vemos entre os dois no episódio final(com direito a trilha que remete aos westerns de Sergio Leone) está entre os momentos mais marcantes de "Breaking Bad".
O brilhante e caótico "Crawl Space" nos tirou o fôlego e inseriu terror como nunca antes foi visto na obra.
O igualmente poderoso e desconcertante "Face Off" foi o auge quando pensamos em acerto de contas e revelação de quem de fato se tornou Walter White.
Cenas antológicas, fantásticos episódios e um final de temporada espetacular. Excelente ano.
Ele venceu.
Breaking Bad (3ª Temporada)
4.6 838Os bad guys.
Após a grande tragédia em sua vida, Jesse conseguiu se recompor e seguir em frente apenas quando entendeu e admitiu a si mesmo que é uma pessoa ruim.
Walter até tentou largar o mundo do crime e produção de drogas. No início da temporada, conversando com Gus, disse que deixaria de vez, mas a grande ambição e posto alcançado já fazem parte de quem ele se tornou.
Nas duas primeiras temporadas os dois protagonistas mergulharam, agiram e reagiram ao universo que escolheram, fizeram o necessário para crescer e sobreviver. Ainda assim, sempre houve algo dentro dos dois que os balançavam a ponto de pensar que eles não pertencem a esse lugar.
A reta final da temporada mostrou a ambos que eles pertencem a esse mundo. E mais do que isso: eles querem continuar pertencendo.
Isso vale para os dois e, agora, numa escala menor, claro, vale para Skyler. A escolha de sujar as mãos foi dela - por mais que também exista o fator família aí no meio.
Quando se tem tanto nas mãos, infinitamente mais do que já se teve, é difícil abrir mão.
Quando se mexe com mortes, perigos e poderes grandes demais se sabe que os mesmos irão atrás de você novamente.
Hank, Walter e Jesse são protagonistas de excelentes momentos de ação e imensa tensão.
A terceira temporada é a mais violenta até aqui. 'One Minute', 'Half Measures' e 'Full Measure' são episódios de tirar o fôlego.
Trabalho de direção espetacular. "Breaking Bad" esbanja excelência nesse sentido, pouquíssimas séries na história fazem frente.
O universo é violento e cruel, não há escapatória. Quem vive e mexe com ele sente na pele isso.
Não há volta. Nem para viver como antes, nem para ser alguém diferente de quem se tornou.
Como esquecer o olhar de Jesse na cena final? A escuridão que encerra o ano diz tudo.
Excelente temporada.
Breaking Bad (2ª Temporada)
4.5 773Mais Heisenberg, Menos Walt.
O gosto de viver perigosamente foi sentido na primeira temporada e, claramente, não é algo que pode-se abrir mão. Vemos agora que não apenas Walter descobriu um novo lado seu, mas que ele necessita dele. O personagem se corrói por dentro ao se sentir diminuído em qualquer cenário e não convive bem com a ideia de ter somente a vida normal de antes. Internamente Walt grita para que seus 'feitos' sejam reconhecidos.
Uma questão notória que diz muito sobre a transformação do protagonista é como o próprio se sente muito mais desconfortável e acuado lidando com sua rotina familiar do que ao ser confrontado no mundo do crime(mesmo tendo que se impor em cenários ameaçadores e correndo riscos constantemente).
A mudança é gradual, notamos o processo em cada parte da temporada, mas sem deixar de mostrar que se trata de alguém em conflito interno. Um homem que ainda tem dificuldade em lidar com dois mundos tão diferentes. A brilhante atuação de Cranston é fundamental para que possamos nos envolver e fascinar com essa jornada.
Jesse cresce ainda mais nesse segundo ano. Seu parceiro o faz abrir a perigosa porta da enorme ambição(que deixa sérias sequelas após tragédias) e conhecemos como o personagem se importa com as pessoas próximas, o quanto sente as grandes pancadas do destino nos mesmos. Aaron Paul também entrega uma grande performance, digna de prêmios.
Se Walt cresce, Jesse sente bastante o peso de lidar com o mundo do crime.
Algo marcante que faz a temporada funcionar bastante e dá certo frescor a "Breaking Bad" é a entrada de novos personagens. Jane é uma ótima aquisição. A personagem cresce muito com o passar dos episódios, sua sintonia e momentos com Jesse são memoráveis. Jane marcou o ano 2 da série. A sua presença e o que a cercou são fundamentais para entendermos muito sobre os dois personagens principais. Para vermos quem eles são e, principalmente, quem ambos estão se tornando e para onde estão indo.
Saul Goodman, Gus e Mike surgem na temporada e rapidamente dizem a que vieram.
Eu realmente não lembrava que o trio aparecia tão cedo, revê-los aqui(especialmente por ter visto "Better Call Saul") teve um gosto bastante especial.
Uma das coisas que mais está me impressionando nessa revisão é o quanto Walt mente o tempo inteiro. De pequenas a grandes mentiras: ele não para. Quanto mais mente, mais o personagem se afasta do seu eu do passado e consequentemente afasta todos que o amam. O final(Skyler/Anna Gunn em grande momento) simboliza isso e encerra lindamente a temporada. O castelo de mentiras está grande demais para não ser percebido.
Outro belíssimo ano.
Breaking Bad (1ª Temporada)
4.5 1,4K Assista AgoraTudo pela família.
Vi pela quarta vez esta primeira temporada(apesar de nunca ter revisto a série inteira, farei isso agora pela primeira vez) e passei a adorá-la mais ainda.
Walter recebe uma pancada do destino e no fundo do poço decide viver como nunca viveu.
E se entrega nisso, de forma que até o próprio se surpreende. Um homem que já tem seus dias contados é capaz de tudo.
Uma das coisas mais interessantes da temporada é acompanhar os efeitos que a revelação da doença do protagonista(algo revelado já no primeiro episódio) gera na sua família.
Boa parte desse ano 1 concentra-se nesse drama familiar, no grande impacto, na forma como isso mexe com seus integrantes de diferentes formas e como essa questão torna mais profunda a jornada do protagonista.
O homem com problemas financeiros e por vezes humilhado. O professor frustrado e pouco reconhecido para o seu grande conhecimento. O processo no qual Walter deixa essas questões para trás e passo a passo essa vida no passado é repleto de perigos e, acima de tudo, transformador. Não só por passar a conviver com outro mundo e tipos de pessoas totalmente diferentes, mas tal jornada transforma lentamente sua essência.
O homem que escolheu influenciar positivamente vidas passa a ter que lidar e decidir sobre mortes. Certos caminhos não têm mais volta.
O ponto mais rico e complexo nessa história é acompanhar como o protagonista se sente mais vivo ao conhecer/criar uma versão que ele jamais poderia imaginar que existiria.
Ao deixar sua escuridão tomar à frente de suas ações, Walter 'cresce' e começa a ver que é possível juntar dinheiro para sua família, aquele que é seu único grande objetivo no momento. O resto é história. E será sensacional acompanhá-la novamente.
Bryan Cranston brilha muito já nesse ano inicial. Performance maravilhosa.
Rever "Breaking Bad" depois de mergulhar muito como mergulhei na estupenda "Better Call Saul" será especial.
Direção, montagem, roteiro e atuações de alto nível. Excelente temporada.
Little America
3.5 3 Assista AgoraO que nos move.
8 histórias de aproximadamente 30 minutos, como 8 pequenos filmes, repletos de muita memória, família, cultura e origens. São tramas sobre imigrantes nos EUA que têm em comum a frustração com a vida atual e a busca interna por realizar/entender seu propósito de vida.
A 'América' das oportunidades é desconstruída, vemos um país com pessoas passando por muitos percalços e dificuldades. Um país onde os sonhos demoram a acontecer e muitas vezes nem acontecem ou são transformados.
"Little America" é uma série baseada em fatos reais que nos envolve muito com suas histórias deveras humanas, de gente como a gente, mas a beleza da obra não é ver sonhos sendo realizados. Não se trata disso. A beleza aqui é justamente mergulhar nas angústias, falhas, medos, dúvidas, desânimo e fios de esperança. É acompanhar seres humanos nascidos nos mais diversos lugares do mundo que tiveram que olhar para dentro de si para encontrar forças(da melhor forma que puderam), paz e dar sentido as suas trajetórias. Pessoas que em algum momento não aguentaram mais não viver de acordo com o que carregam e sempre carregaram dentro de seus corações.
No caminho se encontra as respostas.
Emociona, porém o que se destaca é a sensibilidade das escolhas e o olhar honesto sobre o mundo.
Uma pena que a série é tão pouca vista. Bonita temporada, espero assistir outras.
Ikigai para todos nós.
It's Always Sunny in Philadelphia (2ª Temporada)
4.3 33Quanto piores melhor.
Pessoas horríveis se mostrando mais e mais horríveis. Sobra para religião, família e instituições. Vai de crianças à idosos. Não importa: ninguém sai ileso. A série zomba de todo mundo e os personagens exploram todos pelas razões mais egoístas possíveis.
"Seinfeld" investiu na ideia e "It's Always Sunny in Philadelphia" aumentou a aposta. Funcionou muito. Temporada bastante engraçada.
True Detective (1ª Temporada)
4.7 1,6K Assista AgoraEm busca de alguma luz na escuridão.
Revi após 10 anos esta temporada que me impressionou muito na época. Hoje, posso dizer com minhas impressões renovadas: o ano 1 de "True Detective" merece o reconhecimento que possui.
A estrutura de diferentes linhas do tempo é elegante e funciona muito, pois dá grande profundidade aos personagens, expõe suas muitas falhas, diz muito sobre quem os mesmos são e como eles chegaram onde chegaram - para o mal e para o bem. E, claro, apresenta a complexa e rica relação entre os dois protagonistas.
A direção é deveras excelente(com direito a plano-sequência memorável), a série constrói uma tensão absurda em seus momentos de maior perigo.
Rust dá o tom existencialista/pessimista da obra(vê-lo falando sobre sua visão de mundo é deveras fascinante, quase hipnotizante), com suas reflexões duras, porém racionais que vão de encontro ao mundo apresentado. Um mundo carregado de sujeira e crueldade,
dono de uma dimensão que choca e só se mostra maior e maior.
Os assassinatos se multiplicam. Cadáveres expostos à luz do dia, verdades ocultas e pistas enterradas. Pensar e agir assim é confortável para quase todos, mas o mal não é vencido tão facilmente. Não quando se quer acabar com o mesmo de vez e vencer seus próprios demônios.
O roteiro apresenta e desenvolve habilmente seus mistérios, caminha dentro de uma atmosfera que cheira a rastro de mortes macabras e que quando atinge seu ápice marca o espectador de forma poderosa e inesquecível.
Woody Harrelson está ótimo e Matthew McConaughey está absolutamente fantástico.
A performance do segundo é dessas que o espectador jamais esquece. Revendo, posso afirmar com mais força o que eu já achava: está entre as maiores atuações da história da TV.
Não me recordo a última vez que uma série/filme fez eu chorar como aconteceu ao ver Rust falando da filha no final. Que ator enorme é McConaughey. E que episódio brilhante de encerramento! Tensão, ação e emoção em altíssimo grau de excelência.
Temporada maravilhosa. Absolutamente obrigatória.
Se existe luz, há possibilidade de seguir.
Fargo (5ª Temporada)
4.0 28O amor e a bondade curam.
A temporada mais pesada de "Fargo". Não em termos de mortes(todas têm muitas), mas em identificar as imagens e violência da tela e sabermos que as mesmas sempre fizeram e ainda fazem muito parte da época que vivemos, da realidade de muitas pessoas.
O caráter político da temporada também chama a atenção. A série constantemente mostrou em outros anos inúmeros confrontos sangrentos por territórios e/ou entre grupos e choques entre figuras que se esbarram e são ambiciosas demais para não passarem umas por cima das outras. Esses são temas que fazem parte do DNA da antologia.
Neste novo ano, tais temas novamente estão presentes, mas dentro de um panorama muito atual. Um mundo muito marcado por líderes que usam todas as artimanhas possíveis e privilégios que suas respectivas posições, capacidades de influenciar e regiões oferecem.
O resultado não poderia ser outro. Claramente, pelos envolvidos, não é um duelo sobre bem x mal(embora seja quase impossível não torcermos por um dos lados), porém o resultado nos faz esquecer disso lindamente.
O conservadorismo exacerbado, o comportamento arcaico sobre relações e a visão estreita e egoísta de mundo são características bastante marcantes do grande vilão da história. Um vilão deveras assustador, pois é tão palpável quanto figuras que vemos fora da ficção.
Personagens exóticos que nem parecem humanos(por representarem o mal ou 'guardiões da punição inescapável' em carne e osso) são atrações fascinantes, já tradicionais da série. Como esquecer de Lorne Malvo e V. M. Varga? Impossível. Aqui essa figura também é fascinante, parece quase indestrutível, entrega o que se espera. Mas há um algo a mais que surpreende e conversa diretamente com a jornada da protagonista da história.
Dorothy. Um nome que significa uma nova vida. Uma vida que carrega da antiga a incrível capacidade de resistir e lutar como uma gigante contra as maiores crueldades e violências. Contudo, o que a torna invencível de verdade é o amor de hoje, de uma família construída. Um amor que uma mulher merece viver, que sara anos de pesadelos, traumas e feridas. Um amor capaz até mesmo de curar maldições de séculos através dos mais simples gestos de bondade e de pequenos prazeres compartilhados com grande carinho.
Juno Temple, Jon Hamm, Sam Spruell e Jennifer Jason Leigh arrebentam. Ótimas atuações, entraram na galeria de personagens marcantes da série.
Bela e intensa temporada de "Fargo".
Irmãos de Guerra
4.7 618 Assista AgoraMemórias eternas.
Pelos envolvidos(Tom Hanks e Spielberg são os criadores) e pelo ano de realização, eu já esperava encontrar uma obra de tom e direção similares a de "O Resgate do Soldado Ryan". É bem por aí, mas gosto mais desta produção da HBO.
O lado humano é bastante aprofundado, se destaca tanto quanto a impressionante parte técnica.
Sobreviver é o objetivo. Porém, a busca por demonstrar valor e encontrar propósito também são muito importantes. O desejo 100% em comum? A chegada do tempo de paz.
Coragem? Eficiência? Medo? Desespero? Afobação? Somente se sabe a reação que se terá num cenário de Guerra quando se vive a mesma na pele. E assim se entende o quanto todos os envolvidos são parecidos de alguma forma e o preço imenso que a Guerra cobra.
Muitas marcas e muitas histórias. O companheirismo e os laços criados são o que permitem seguir.
Uma das grandes minisséries da TV.
Treta
4.1 308 Assista AgoraA raiva devora a alma.
Pessoas à Beira de um Ataque de Nervos, retrato do nosso tempo.
O estado externo explode ao refletir o desespero existencial interno.
A solidão e a busca por algo que faça se sentir vivo como elementos universais, que reverberam em todos. Apenas quando se entende isso pode-se enxergar o outro.
Yeun e Wong ótimos, em grande sintonia.
A Queda da Casa de Usher
4.0 286 Assista AgoraCarla Gugino é tudo em todo o lugar ao mesmo tempo.
Maldade, ambição e poder.
A troca escolhida.
O preço cobrado.
As vidas destruídas.
As almas perdidas.
Não se pode escapar daquilo que já estava escrito.
Os episódios possuem estruturas praticamente iguais e previsíveis, mas funcionam ao
nos acostumar a esperar algo visualmente atraente, um 'prazer macabro' que só o gênero é capaz de proporcionar.
Belas atuações de Carla Gugino e Bruce Greenwood.
Adoro ver a 'família Flanagan' em diferentes minisséries, e ela segue crescendo.
Mike Flanagan e Edgar Allan Poe num casamento de estilos e temas que funciona muito.
Reservation Dogs (3ª Temporada)
4.2 7Eternamente em nós.
Quis o destino que em 2023, ano do grande "Assassino da Lua das Flores", de Martin Scorsese, tivéssemos também a belíssima despedida da linda "Reservation Dogs"(detalhe: a maravilhosa Lily Gladstone está nas duas obras).
A série que mostra com imensa sensibilidade temas como o valor da comunidade, ancestralidade, espiritualidade, tradições, folclores, pertencimento, amadurecimento, perdão, luto e as inquietações dos nativos norte-americanos de hoje e ontem chegou ao seu auge neste terceiro ano.
Os adolescentes que protagonizam a série constantemente buscaram encontrar seu lugar no mundo e ao mesmo tempo lidaram com o medo de não encontrar. As caminhadas por longas estradas, as conversas entre diferentes gerações e as trocas que apenas os próprios olhos podem enxergar e o coração sentir mostram que as respostas são muito mais simples do que parecem. Elas estavam por perto o tempo inteiro.
Nem a morte impede a proteção de quem se ama e precisa de ajuda. A proteção e valorização dos seus foi algo mais forte do que nunca nessa temporada. E é assim que esses personagens se encontram e reencontram: ao entenderem que a felicidade e clareza desejadas estão em contribuir da melhor forma para tornar a comunidade e o mundo em volta melhor.
Não há despedidas, apenas até logo. Pois, independente do que aconteça, todos sempre viverão em cada um deles. Lindo ano final.
Que tenhamos mais e mais histórias de tão alto nível que retratem histórias de povos que costumam ficar longe dos holofotes.
Uma das melhores séries da atualidade chegou ao fim, mas vou me apropriar e distorcer um pouco o que a jovem Willie Jack disse e levar comigo da seguinte forma: esses personagens e história são para sempre.
Sex Education (4ª Temporada)
3.5 236 Assista AgoraE a vida está apenas começando.
Uma temporada com cenários diferentes, mas com o mesma capacidade enorme
de debater de forma aberta e eloquente e tocar em questões emocionais e sexuais importantes de uma maneira que apenas ela faz.
"Sex Education" entregou 4 sólidos anos, apresentou personagens jovens(em sua maioria, mas não apenas jovens) cativantes e nos fez sempre torcer para que eles pudessem vencer seus demônios e descobrir quem de fato são e querem ser.
Amores e relacionamentos românticos entregaram euforia, constrangimento, momentos bonitos e tristes. Porém, independente de como as coisas terminaram para os muitos casais, neste quarto ano a série fez questão de dizer algo de forma bela: quem passou por nossas vidas sempre fará parte da nossa história e molda parte de quem somos.
Um acerto da netflix.
Sentirei saudade de Maeve, Otis, Eric, Ruby, Aimee e companhia.
Ted Lasso (3ª Temporada)
4.3 98A família Lasso.
Um terceiro ano sobre entender para onde se está indo e resolver importantes
questões que seguem nos afetando.
As temporadas anteriores são melhores e mais sólidas, mas é um desfecho digno da
jornada de crescimento de um pequeno clube que se torna muito melhor e de pessoas que unidas também se tornaram melhores do que eram.
"Ted Lasso" se despede como uma inesperada obra de qualidade sobre o mundo do futebol(precisávamos!). Uma história dona de um espírito acolhedor e otimista, que lembra inclusive os filmes de Frank Capra, mas que também toca com seriedade em dramas e questões atuais e atemporais - adoro como a série aborda saúde mental e a necessidade de terapias no mundo esportivo(e não apenas nele).
Ted Lasso é um dos grandes protagonistas recentes da TV. Personagem especial.
Terminou bem e na hora certa(P.S.: Há conversas sobre uma possível quarta temporada no futuro).
Os personagens cativantes, a ambientação e as participações especiais vão ficar na nossa memória.
O Que Fazemos Nas Sombras (5ª temporada)
4.2 15O mesmo humor e um coração maior.
A quinta temporada continua mostrando o humor engraçadíssimo e seus maravilhosos personagens com particularidades tão únicas. Como digo com frequência: é a série mais engraçada do momento.
Sonho consumado, bloqueio, identidade e questionamento sobre o que realmente traz felicidade.
Guillermo foi o destaque. Na verdade, os rumos do personagem são sempre o fator principal que dita para qual caminho a história irá. Se, nesse sentido, o desfecho da temporada não foi original, a jornada foi bastante divertida e envolvente.
Dentro desse plot de Guillermo(especialmente nele) vimos relações crescendo e personagens mostrando maior cuidado e proteção em relação ao outro. Uma bonita e, por vezes surpreendente, valorização da companhia de vários anos(dentro do que eles são, sem descaracterizar os personagens, obviamente). A série ainda aproveita isso para fazer um contraponto maravilhoso com a Guia dos vampiros(uma figura sempre completamente ignorada por quase todos) em cenas sempre muito engraçadas.
Um ano de belas participações especiais(com atores interpretando eles mesmos de forma bastante divertida), alguns questionamentos existenciais, muito constrangimento e a criatividade de sempre. E, claro, sem deixar de lado algo fundamental na série: ser uma comédia acima de tudo.
O espetacular e desconcertante "Local News" é um dos episódios mais engraçados dos últimos tempos. E há outros com momentos de humor inspirado e caos de um jeito que apenas "What We Do in the Shadows" faz.
Outra temporada de muito bom nível dessa que é uma das melhores séries da atualidade.
The Office (9ª Temporada)
4.3 653O que importa de verdade.
A nona temporada ainda sofreu por conta da queda de nível inevitável do ano anterior(após o desfalque que sabemos que provocou uma clara instabilidade), mas aqui a série consegue ter uma solidez maior nos plots e rumo dos personagens.
Dwight e Andy meio que assumem o protagonismo e não fazem feio. Angela(me emocionou bem em alguns momentos) e Erin brilham e Jim & Pam passam por momentos que o público não esperava ver.
O coração da série esteve mais presente do que nunca, só que aqui a emoção foi proporcionada de forma mais distribuída e não mais focada em Jim e Pam.
A metalinguagem foi elevada a outro nível, andou de mãos dados com o passar do tempo e as mudanças nas vidas dos personagens. Vê-los em outros estágios em suas existências é muito bonito, mas nada nos toca mais do que ver as memórias, reflexões sobre suas jornadas e a importância de cada escolha e pessoa em suas vidas.
Como definiu bem a Pam(dona das grandes frases do episódio final): não há tempo a perder quando encontramos o que queremos, quem queremos e sabemos o que merecemos.
A poesia e a loucura do cotidiano de todos nós em uma das comédias essenciais da TV.
Temporada final muito boa e tocante.
As Super Gatas (1ª Temporada)
4.4 23As super amigas.
A amizade de opostos. Os opostos que aprendem a se gostar e se defender com unhas e dentes.
O texto é muito muito engraçado e inteligente(as piadas não param). Fiquei feliz em ver que o humor é bem mais afiado e "sujo" do que eu esperava, as companheiras não poupam umas as outras ao "carinhosamente" se ofenderem.
Entendo o motivo desta temporada ter vencido o Emmy de melhor comédia, trata-se de um ano realmente muito divertido, que toca em temas universais e atemporais e constrói/apresenta ótimas e sólidas personagens.
Ótima primeira temporada.
O Urso (2ª Temporada)
4.5 234Corações de ursos.
Uma série sobre uma grande família. Sobre a família de onde viemos e a que criamos. Uma família forjada nas incertezas, no companheirismo, nas dificuldades, nas decepções, nas brigas e no amor.
Vemos como os ambientes nos formam e como formamos o ambiente - para o bem e para o mal.
Uma série sobre individualidades e indivíduos. Sobre aquilo que carregamos de mais doído no nosso íntimo e que não somos capazes de colocar para fora ou fazer com que os outros nos entendam inteiramente. Ou que nem mesmo nós dominamos ou sabemos por inteiro.
Que mostra como o passado nos afeta, nos limita e determina muito do que somos. Que evidencia as razões pelas quais os nossos medos e demônios nos sabota repetidamente.
Uma série sobre recomeços e propósitos. Sobre se surpreender consigo mesmo quando parece que somos diferentes de todos os outros ou que nosso tempo já passou. Que revela que o comprometimento com a equipe, com o esforço do outro e também com o carinho de quem nos deposita confiança é algo especial. Que diz que respeitar seu tempo e trabalho é respeitar a si mesmo.
Uma série sobre motivação e desmotivação. Sobre crescimento e traumas, os traumas que nos travam. Que fala de amor e do medo/dificuldade de amar.
Uma série sobre altos e baixos. Muitos, muitos altos e baixos. Muitas incertezas. Pois a vida é exatamente assim. E por isso cada vitória arranca sorrisos, lágrimas e tiram uma tonelada de tensão do corpo, da mente e da alma.
"Fishes", "Forks" e "The Bear" são episódios incríveis! 3 dos melhores do ano.
E o que são as participações especiais?!? Sem comentários.
"Fishes" é o meu episódio favorito. Vemos uma inesquecível e caótica reunião familiar com um tanto de amor perdido no meio daquele tanto de raiva, incômodo e desentendimentos.
A personagem da grande Jamie Lee Curtis me fez lembrar da imensa Gena Rowlands em "Uma Mulher Sob Influência". Acho que não poderia haver elogio melhor do que esse, não é mesmo?
As atuações são tocantes e complexas, deveras especiais. O elenco é algo espetacular. Impressiona o número de ótimos personagens e o desenvolvimento brilhante dos mesmos. Alguns dos principais personagens ganham episódios praticamente só para eles e isso não soa nada gratuito, pois vemos que os mesmos os levam para outro lugar, os fazem crescer de alguma forma.
A direção é do mais alto nível. Sentimos o peso que cada um carrega dentro de si o tempo todo. Sentimos cada pequena felicidade. Sentimos tudo nos olhares, nas palavras e nas hesitações. Obra de enorme sensibilidade e humanidade.
"The Bear" teve um belo ano inicial, mas aqui a série subiu bastante seu nível.
Espetacular temporada. A nota só pode ser a mais alta possível.
The Last of Us (1ª Temporada)
4.4 1,2K Assista AgoraO que nos faz sobreviver no fim do mundo.
Uma grande jornada apocalíptica sobre perda e reencontro.
Tensão e ação de alto nível e ótimas doses de emoção. A construção de um mundo em ruínas e de grandes perigos impressiona e os elos entre os personagens nos comovem.
Joel é o resultado humano de um mundo devastado. Um mundo onde vemos tudo de bom que se perdeu e os resquícios de sentimentos que movem e distorceram completamente o "certo e o errado" numa realidade sem perspectivas. Uma realidade dominada pela solidão e destruição onde o presente é tudo que se tem.
Ellie é o coração de "The Last of Us". É a força genuína que resiste. É o milagre. É a esperança num mundo desumano. A empolgação da menina descobrindo o novo, as coisas, os sentimentos, a vida e se descobrindo proporciona boa parte dos momentos mais belos da série até o momento.
E não posso deixar de citar Frank e Bill, os protagonistas do brilhante episódio 3, o melhor da obra.
Grande primeira temporada.
Cangaço Novo (1ª Temporada)
4.4 207 Assista AgoraSangue e escolhas.
Política, família, violência e a busca por dignidade.
Obra de ação muito bem dirigida e que respira brasilidade. As articulações de poder, a ambientação, as motivações, as manifestações e costumes culturais e a fé só poderiam ser de uma obra nacional. E justamente por isso é uma obra com qualidade capaz de romper fronteiras. Belos personagens.
Muito boa temporada.
The Office (8ª Temporada)
4.0 301Dwight e Andy ganhando muito protagonismo na temporada. Foi muito interessante vê-los com tanto destaque. E a Erin brilhou também.
Certamente a mais fraca temporada até aqui, mas The Office ainda mantém um bom nível.
Bom oitavo ano.
Maravilhosa Sra. Maisel (5ª Temporada)
4.5 98 Assista AgoraO palco como verdadeiro lar.
A suada recompensa após perder tudo que se esperava viver.
A carreira que transforma e redefine o ser. A carreira que abre caminhos e subverte expectativas da época, de gêneros e de todos.
O último ano viaja com sabedoria por passado, presente e futuro de forma melancólica e reflexiva. Vimos como cada semente plantada em cada caminho e relação sempre estiveram lá(para o bem e para o mal - felizmente mais para o bem).
Midge e Susie formam o casal que mais importa na série. E nas jornadas de ambas, com tamanhos contratempos, adversidades e desilusões de todos os tipos, apenas tomando o que é compatível ao talento das duas na marra é que se consegue sucesso. E que prazer foi ver isso!
O desfecho é de reconhecimento, paz e risadas. Não por tudo ter sido perfeito, sem falhas e perdas, mas por suas vidas terem sido traçadas por suas próprias cabeças e corações.
Não poderia terminar de outra maneira: maravilhoso final!
Sentirei saudade dos diálogos rápidos e inteligentes, da elegância geral que contamina, dos bons personagens, do enorme coração, do olhar tão articulado sobre a época e também dessas mulheres lutadoras e brilhantes que merecem conquistar tudo que sonham.
Bela última temporada. Guardarei com carinho a série no meu coração.
Angels in America
4.2 126 Assista AgoraA América de almas sofredoras. A América também da esperança. A América de todos.
A chegada da AIDS. Um novo milênio se aproxima. O medo. O medo de um país em mudanças, de se perder, de não pertencer.
Maravilhosa obra. E que elenco incrível!