Meu primeiro filme bollywoodiano foi uma incrível surpresa! Por mais que "Queen" possa soar um tanto infantil e ocidentalizado em diversas ocasiões, nada tira o meu encanto por esse divertido pedaço da sociedade indiana moderna, em um filme que apesar da duração e ingenuidade(que nunca chegam a pesar), consegue dar um desfecho digno e muito mais coerente do que o da maioria das comédias americanas atuais, uma forte mensagem sobre independência e liberdade feminina, algo que pode soar irônico vindo de uma cultura tão marcada pelo patriarcalismo. Constata-se logo que o cinema indiano tem muito a nos ensinar.
A maneira como o filme ironiza a elite norte-americana pós-crise de 29 é divertida e funciona muito bem, além de seu frescor cômico e personagens cativantes, por mais que a história soe absurda e datada nos dias de hoje, foi quase impossível não se render aos encantos fúteis dessa família burguesa. William Powell está encantador e estranhamente sedutor no papel do mordomo Godfrey, e Carole Lombard também não decepciona no papel de uma garota mimada e um tanto desequilibrada.
Um verdadeiro ode às mulheres, ao teatro, à tragédia. Maravilhosamente interpretado(com uma Katharine Hepburn colossal e implacável), com uma direção de arte ampla e esplêndida e o olho teatral incomparável de Mihalis Kakogiannis.
A sequência inicial é épica e faz o espectador prenunciar um filme à sua altura, pena que o filme não faz jus ao esforço necessário para filmá-lo, porque as atuações caninas são de longe o maior destaque do filme, que acaba pecando no roteiro. O filme se desenvolve muito bem até mais ou menos a metade, quando acaba caindo em um lugar-comum típico de diversos filmes, chega a ser chocante a previsibilidade e pobreza das soluções encontradas pelo roteiro, se não fosse pelo lento desenvolvimento da trama, e a tentativa de criar uma analogia social alegórica(com o uso do cão e sua dona), a produção seria só mais um thriller sobre cachorros, sem nada a acrescentar.
My iz dzhaza ou We Are From Jazz, como o próprio nome já diz, é um tributo vigoroso e memorável ao gênero musical, que surpreendentemente, teve seus seguidores devotos na União Soviética. O que o cineasta Karen Shakhnazarov faz nessa película é criar um retrato que é ao mesmo tempo doce e satírico, do próprio país em um período sombrio. As desventuras e situações vividas pelo grupo de músicos são divertidas e capazes de atrair até mesmo aqueles que não gostam do estilo. O único motivo do filme não ter uma nota maior, é a sua cena final, desnecessária e excessivamente deslumbrada, que ameaça destruir com toda a sua sutileza.
Esse filme do Corneliu Porumboiu passou-me completamente despercebido no ano passado, só agora que fui descobrir essa singular obra do cinema romeno contemporâneo(um dos mais interessantes na Europa, atualmente). O filme se utiliza da metalinguagem e conversações aparentemente banais para construir uma narrativa de desconstrução, a desconstrução do cinema, da linguagem, da imagem, e principalmente do artista, que está nu na tela, com a alma e o corpo em evidência.
A produção do desconhecido Philip Dunne não nega as raízes teatrais, mas me fez questionar se o texto funciona pelo menos nos palcos, porque pelo menos no cinema tudo soou bastante formulaico e superficial. Gary Cooper interpreta um político fomentado e manipulado pela esposa, interpretada por Geraldine Fitzgerald em uma clara inspiração shakespeariana à Lady Macbeth, que possui uma ambição imensurável e total falta de empatia pelo maridos ou pelos filhos. É uma pena que o filme limite muito o tempo de tela de sua personagem(que é de longe o maior atributo da produção), em prol dos romances monótonos dos personagens(mesmo que o desenvolvimento desses seja acelerado de maneira pouco convincente). Um filme que merece destaque somente por Geraldine Fitzgerald e sua personagem, de resto permanece completamente esquecível.
É uma pena que a boa premissa e personagens tenham sido subestimados pelo próprio filme, que parece nunca sair da própria superfície. Ao final da sessão fica apenas a sensação de "poderia ter sido mais", Luiz Carlos Lacerda insistiu em não ousar e acabou entregando um filme esquecível(mas não necessariamente ruim) que retrata a hipocrisia em uma cidade do interior.
Documentário muitíssimo corajoso da jovem Maria Clara Escobar, um filme que trafega entre a memória política e sentimental de um personagem tão próximo à ela, seu pai. É incrível e raro poder observar uma narrativa aonde os limites entre o filme e a realidade estejam tão tênues, fazendo com que o espectador deixe de ser somente um ser observador e passe a atuar no processo de construção do documentário, como testemunha das conversas entre pai e filha em diversos cômodos de uma casa em Portugal. Por diversas vezes eu me senti até mesmo incomodado pela maneira como ela filma e nos faz sentir presentes em algo que lhe é tão íntimo e importante. Uma prova de que o cinema é vida, e nos torna voyeurs da mesma.
Por mais que eu tenha tentado deixar de lado as minhas projeções literárias em cima deste filme, foi impossível imergir completamente nesta adaptação de Eduardo Escorel, ainda mais quando a direção parece tão desacertada em diversos momentos. Porém, tenho que admitir que a intenção foi boa. O elenco feminino é digníssimo(Lílian Lemmertz soube compor muito bem a rigidez passional de Fräulein Elza), a produção é boa(direção de arte, figurino e locações corretas), o roteiro tenta ao máximo preservar o texto original, porém devo admitir que a escalação de Marcos Taquechel foi o que mais me desestimulou na obra, o ator não consegue entoar uma única fala sem soar artificial!
Obra de arte viva e pulsante, "A História da Eternidade" chega a emocionar por tamanha beleza, um retrato do ser humano diante da solidão e desamor, cheio de impulsos e pequenos momentos de ternura ou melancolia. Camilo Cavalcante é um diretor a ser observado, é raro ver alguém demonstrar tanta força e talento logo em seu primeiro filme, ele possui um tato e sutileza raros, consegue conduzir a narrativa sem soar exagerado ou minimalista em demasia, na medida certa.
Belo resgate da infância de Górki. Não cheguei a ler "Infância", porém gostei da adaptação e de sua aura de nostalgia e inocência, do mundo sendo visto através da ótica infantil. Linda e perfeita representação da avó, Varvara Massalitinova conseguiu dar uma familiaridade enorme à personagem de fácil identificação.
Um "estudo de personagem" engrandecedor seria uma boa maneira de descrever este documentário do estreante Steve Hoover, a maneira como ele revela a luta e sacrifício diários de Rocky ao cuidar daquelas criança o elevam como um herói desconhecido dos nossos tempos, e faz ponderar sobre nossas próprias vidas e pequenos atos cotidianos de egoísmo e ingratidão. Um filme a ser visto e descoberto.
Belíssima reflexão sobre o 'envelhecer' no mundo moderno. O filme possui ecos de um Ozu contemporâneo, um tema pouco explorado tratado de maneira sincera e comovente sem soar melodramático, junto à uma contemplação do frenético mundo moderno, aonde o lento e velho é sempre desprezado em nome de um estilo de vida cinzento e saturado. Palmas para todo o elenco, pela contenção e minimalismo na composição, com destaque é claro, para os dois protagonista, John Lithgow e Alfred Molina, ambos atores subestimadíssimos.
Uma crônica do presente ausente de uma família que tem a história marcada pelos traumas do passado, de uma Nazaré pertencente à Palestina e de um povo que resiste ao domínio israelense. Mais de 60 anos se passaram e a situação continua a mesma, uma repetição interminável na história de um povo submetido à desconfiança e preconceito dos israelenses. Elia Suleiman cria momentos de um humor sútil ao longo da trama, fugindo do drama e da obviedade narrativa.
A grande negativa em cima do filme se deve principalmente pela mão pesada com que Guy Ritchie conduz essa trama que já é naturalmente artificial e previsível, tentando apoiar-se na possível simpatia do espectador pela relação do personagens. O elenco parece ter sido escolhido unicamente pela aparência, porque claramente não existe convicção ou entrosamento entre os atores, que soam apáticos e pouco naturais assim como a trama. Porém, a trilha musical de Madonna e a seriedade de seu final foram acima do que eu esperava e no final, foi difícil não concordar com quem diz que a crítica em cima do filme é exagerada.
Por mais que eu tenha tentado gostar por causa da presença sensual e cativante de Julie Christie, Afterglow é o tipo de filme que já nasceu morto, sofre pelo roteiro mambembe e rocambulesco, pela direção sofrível que denúncia a total falta de rumo e compreensão do diretor da própria trama e até mesmo pela trilha sonora e atuações completamente fora dos eixos. Não é à toa que caiu no esquecimento...e é assim que deve permanecer!
Através de três narrativas distintas, Caetano Gotardo analisa a fragilidade do microcosmo subjetivo e pessoal, quando estes abalados por uma força exterior. De repente algo se move e bagunça suas vidas, forçando-os à encarar perspectivas diferentes. Mesmo que a trama não tenha me conquistado por inteiro e as histórias não tenham força por si mesmas quando analisadas individualmente, a produção merece destaque pelas atuações inspiradas e contidas do trio de atrizes que encabeçam o elenco(Cida Moreira, Andrea Marquee e Fernanda Vianna) e pelas canções que elas entoam ao final de cada segmento.
Ultimamente eu venho chegando à conclusão que 2014 foi um ano com trabalhos de direção maiores do que os próprios filmes deste cineastas, e Force Majeure se enquadra nessa 'classificação', um filme muito bom, mas que deve muito à habilidade invejável de Ruben Östlund, que constrói um filme a partir de enquadramentos inteligentes e rigorosamente pensados que seguem à ordem da câmera estática que guia o filme em praticamente todas as cenas. Apesar de todos os elogios à direção, o roteiro também não fica devendo, e mostra uma capacidade dos suecos que até então eu desconhecia, em fazer um drama que questiona as convenções sociais constituídas pela sociedade patriarcal em que vivemos e ao mesmo tempo debochar do homem que é colocado em situações constrangedoras e ridículas, provando a habilidade de rir de si mesmo, em cenas repletas de ironia e uma incômoda vergonha alheia que será experimentada por quem assiste.
Um manifesto contra a violência psicológica e física cometida diariamente pela sociedade ao configurar a homofobia e o racismo como socialmente aceitáveis. Obra polêmica e obrigatória de Marlon Riggs, uma incisiva denúncia à hostilidade e intolerância e acima de tudo, um doloroso grito de revolta contra as injustiças que acometem todos dos tipos de 'minorias'.
Apesar das muitas comparações com "Vá e Veja", acredito que ambos sejam filmes com propostas e intuitos diferentes, mesmo que tenham a mesma guerra como plano de fundo. Acredito que a proposta de Larisa Shepitko seja mais focada no lado humano, do que bélico em si, mostrando o conflito de princípios e a jornada de degradação(e humilhação) humana diante de um dilema. As metáfora religiosa sutilmente inserida na película também é muitíssimo interessante e serve para representar as virtudes e corrupções humanas. Uma verdadeira obra-prima humanista que merece ser difundida e apreciada, principalmente nos dias de hoje, entre tantos filmes excessivamente melodramáticos que exploram o tema de maneira leviana e superficial.
Uma viagem pelos fantasmas de uma atriz reclusa, que se vê diante da fragilidade da própria existência. Depois que o seu amor prova ter sido apenas um ilusão, Colleen se perde nas próprias memórias e vazio que a consome cada vez mais. Um belo trabalho do jovem Cam Archer, que consegue se destacar no meio de tantas obras tão fáceis e previsíveis vindas de cineastas americanos. Este aqui tem até mesmo ecos do sueco "Persona".
Olivier Assayas é um cineasta cheio de altos e baixos na carreira e com uma filmografia bastante eclética, porém este aqui fez com que eu superasse meus preconceitos e pessimismo à respeito de seu futuro no cinema, agora que trabalha com atores mais 'mainstream'. Gostei especialmente deste aqui por revisitar o exercício metalinguístico de sua obra-prima, "Irma Vep", porém este se inicia a partir de uma peça teatral fictícia onde os conflitos internos da personagem se misturam aos da atriz que a interpreta. O roteiro é realmente sensacional, consegue retratar muito bem os anseios e vaidades que circundam o meio dramático, criando um paralelo entre os atores e as 'celebridades' criadas pela mídia. Foi engraçado ver principalmente Kristen Stewart ironizar o mundo em que ela própria vive através da personagem de Chlöe Grace Moretz, mesmo que o espetáculo fique por conta de Juliette Binoche, que está em seu melhor momento desde "Cópia Fiel".
Queen
4.0 70Meu primeiro filme bollywoodiano foi uma incrível surpresa! Por mais que "Queen" possa soar um tanto infantil e ocidentalizado em diversas ocasiões, nada tira o meu encanto por esse divertido pedaço da sociedade indiana moderna, em um filme que apesar da duração e ingenuidade(que nunca chegam a pesar), consegue dar um desfecho digno e muito mais coerente do que o da maioria das comédias americanas atuais, uma forte mensagem sobre independência e liberdade feminina, algo que pode soar irônico vindo de uma cultura tão marcada pelo patriarcalismo. Constata-se logo que o cinema indiano tem muito a nos ensinar.
Irene, a Teimosa
3.8 81 Assista AgoraA maneira como o filme ironiza a elite norte-americana pós-crise de 29 é divertida e funciona muito bem, além de seu frescor cômico e personagens cativantes, por mais que a história soe absurda e datada nos dias de hoje, foi quase impossível não se render aos encantos fúteis dessa família burguesa.
William Powell está encantador e estranhamente sedutor no papel do mordomo Godfrey, e Carole Lombard também não decepciona no papel de uma garota mimada e um tanto desequilibrada.
As Troianas
3.9 17Um verdadeiro ode às mulheres, ao teatro, à tragédia. Maravilhosamente interpretado(com uma Katharine Hepburn colossal e implacável), com uma direção de arte ampla e esplêndida e o olho teatral incomparável de Mihalis Kakogiannis.
Deus Branco
3.7 178A sequência inicial é épica e faz o espectador prenunciar um filme à sua altura, pena que o filme não faz jus ao esforço necessário para filmá-lo, porque as atuações caninas são de longe o maior destaque do filme, que acaba pecando no roteiro.
O filme se desenvolve muito bem até mais ou menos a metade, quando acaba caindo em um lugar-comum típico de diversos filmes, chega a ser chocante a previsibilidade e pobreza das soluções encontradas pelo roteiro, se não fosse pelo lento desenvolvimento da trama, e a tentativa de criar uma analogia social alegórica(com o uso do cão e sua dona), a produção seria só mais um thriller sobre cachorros, sem nada a acrescentar.
Nós Somos do Jazz
3.6 3My iz dzhaza ou We Are From Jazz, como o próprio nome já diz, é um tributo vigoroso e memorável ao gênero musical, que surpreendentemente, teve seus seguidores devotos na União Soviética. O que o cineasta Karen Shakhnazarov faz nessa película é criar um retrato que é ao mesmo tempo doce e satírico, do próprio país em um período sombrio.
As desventuras e situações vividas pelo grupo de músicos são divertidas e capazes de atrair até mesmo aqueles que não gostam do estilo.
O único motivo do filme não ter uma nota maior, é a sua cena final, desnecessária e excessivamente deslumbrada, que ameaça destruir com toda a sua sutileza.
Quando a Noite Cai em Bucareste ou Metabolismo
3.2 10Esse filme do Corneliu Porumboiu passou-me completamente despercebido no ano passado, só agora que fui descobrir essa singular obra do cinema romeno contemporâneo(um dos mais interessantes na Europa, atualmente). O filme se utiliza da metalinguagem e conversações aparentemente banais para construir uma narrativa de desconstrução, a desconstrução do cinema, da linguagem, da imagem, e principalmente do artista, que está nu na tela, com a alma e o corpo em evidência.
A Casa das Amarguras
3.2 1A produção do desconhecido Philip Dunne não nega as raízes teatrais, mas me fez questionar se o texto funciona pelo menos nos palcos, porque pelo menos no cinema tudo soou bastante formulaico e superficial.
Gary Cooper interpreta um político fomentado e manipulado pela esposa, interpretada por Geraldine Fitzgerald em uma clara inspiração shakespeariana à Lady Macbeth, que possui uma ambição imensurável e total falta de empatia pelo maridos ou pelos filhos. É uma pena que o filme limite muito o tempo de tela de sua personagem(que é de longe o maior atributo da produção), em prol dos romances monótonos dos personagens(mesmo que o desenvolvimento desses seja acelerado de maneira pouco convincente).
Um filme que merece destaque somente por Geraldine Fitzgerald e sua personagem, de resto permanece completamente esquecível.
Mãos Vazias
3.1 6É uma pena que a boa premissa e personagens tenham sido subestimados pelo próprio filme, que parece nunca sair da própria superfície. Ao final da sessão fica apenas a sensação de "poderia ter sido mais", Luiz Carlos Lacerda insistiu em não ousar e acabou entregando um filme esquecível(mas não necessariamente ruim) que retrata a hipocrisia em uma cidade do interior.
Os Dias com Ele
3.7 13Documentário muitíssimo corajoso da jovem Maria Clara Escobar, um filme que trafega entre a memória política e sentimental de um personagem tão próximo à ela, seu pai. É incrível e raro poder observar uma narrativa aonde os limites entre o filme e a realidade estejam tão tênues, fazendo com que o espectador deixe de ser somente um ser observador e passe a atuar no processo de construção do documentário, como testemunha das conversas entre pai e filha em diversos cômodos de uma casa em Portugal. Por diversas vezes eu me senti até mesmo incomodado pela maneira como ela filma e nos faz sentir presentes em algo que lhe é tão íntimo e importante. Uma prova de que o cinema é vida, e nos torna voyeurs da mesma.
Lição de Amor
3.1 15 Assista AgoraPor mais que eu tenha tentado deixar de lado as minhas projeções literárias em cima deste filme, foi impossível imergir completamente nesta adaptação de Eduardo Escorel, ainda mais quando a direção parece tão desacertada em diversos momentos.
Porém, tenho que admitir que a intenção foi boa. O elenco feminino é digníssimo(Lílian Lemmertz soube compor muito bem a rigidez passional de Fräulein Elza), a produção é boa(direção de arte, figurino e locações corretas), o roteiro tenta ao máximo preservar o texto original, porém devo admitir que a escalação de Marcos Taquechel foi o que mais me desestimulou na obra, o ator não consegue entoar uma única fala sem soar artificial!
Quem sabe em uma revisão?
A História da Eternidade
4.3 448Obra de arte viva e pulsante, "A História da Eternidade" chega a emocionar por tamanha beleza, um retrato do ser humano diante da solidão e desamor, cheio de impulsos e pequenos momentos de ternura ou melancolia.
Camilo Cavalcante é um diretor a ser observado, é raro ver alguém demonstrar tanta força e talento logo em seu primeiro filme, ele possui um tato e sutileza raros, consegue conduzir a narrativa sem soar exagerado ou minimalista em demasia, na medida certa.
A Infância de Górki
4.0 5Belo resgate da infância de Górki. Não cheguei a ler "Infância", porém gostei da adaptação e de sua aura de nostalgia e inocência, do mundo sendo visto através da ótica infantil.
Linda e perfeita representação da avó, Varvara Massalitinova conseguiu dar uma familiaridade enorme à personagem de fácil identificação.
Irmão de Sangue
4.6 59Um "estudo de personagem" engrandecedor seria uma boa maneira de descrever este documentário do estreante Steve Hoover, a maneira como ele revela a luta e sacrifício diários de Rocky ao cuidar daquelas criança o elevam como um herói desconhecido dos nossos tempos, e faz ponderar sobre nossas próprias vidas e pequenos atos cotidianos de egoísmo e ingratidão. Um filme a ser visto e descoberto.
O Amor é Estranho
3.7 108 Assista AgoraBelíssima reflexão sobre o 'envelhecer' no mundo moderno. O filme possui ecos de um Ozu contemporâneo, um tema pouco explorado tratado de maneira sincera e comovente sem soar melodramático, junto à uma contemplação do frenético mundo moderno, aonde o lento e velho é sempre desprezado em nome de um estilo de vida cinzento e saturado.
Palmas para todo o elenco, pela contenção e minimalismo na composição, com destaque é claro, para os dois protagonista, John Lithgow e Alfred Molina, ambos atores subestimadíssimos.
O que Resta do Tempo
3.8 30Uma crônica do presente ausente de uma família que tem a história marcada pelos traumas do passado, de uma Nazaré pertencente à Palestina e de um povo que resiste ao domínio israelense. Mais de 60 anos se passaram e a situação continua a mesma, uma repetição interminável na história de um povo submetido à desconfiança e preconceito dos israelenses.
Elia Suleiman cria momentos de um humor sútil ao longo da trama, fugindo do drama e da obviedade narrativa.
Bem-Vindo à Casa de Bonecas
3.9 228-Why do you hate me?
-Because you're ugly.
Destino Insólito
2.5 147 Assista AgoraA grande negativa em cima do filme se deve principalmente pela mão pesada com que Guy Ritchie conduz essa trama que já é naturalmente artificial e previsível, tentando apoiar-se na possível simpatia do espectador pela relação do personagens.
O elenco parece ter sido escolhido unicamente pela aparência, porque claramente não existe convicção ou entrosamento entre os atores, que soam apáticos e pouco naturais assim como a trama.
Porém, a trilha musical de Madonna e a seriedade de seu final foram acima do que eu esperava e no final, foi difícil não concordar com quem diz que a crítica em cima do filme é exagerada.
O Despertar do Desejo
2.7 9Por mais que eu tenha tentado gostar por causa da presença sensual e cativante de Julie Christie, Afterglow é o tipo de filme que já nasceu morto, sofre pelo roteiro mambembe e rocambulesco, pela direção sofrível que denúncia a total falta de rumo e compreensão do diretor da própria trama e até mesmo pela trilha sonora e atuações completamente fora dos eixos. Não é à toa que caiu no esquecimento...e é assim que deve permanecer!
O Que Se Move
3.4 33Através de três narrativas distintas, Caetano Gotardo analisa a fragilidade do microcosmo subjetivo e pessoal, quando estes abalados por uma força exterior. De repente algo se move e bagunça suas vidas, forçando-os à encarar perspectivas diferentes.
Mesmo que a trama não tenha me conquistado por inteiro e as histórias não tenham força por si mesmas quando analisadas individualmente, a produção merece destaque pelas atuações inspiradas e contidas do trio de atrizes que encabeçam o elenco(Cida Moreira, Andrea Marquee e Fernanda Vianna) e pelas canções que elas entoam ao final de cada segmento.
Força Maior
3.6 241Ultimamente eu venho chegando à conclusão que 2014 foi um ano com trabalhos de direção maiores do que os próprios filmes deste cineastas, e Force Majeure se enquadra nessa 'classificação', um filme muito bom, mas que deve muito à habilidade invejável de Ruben Östlund, que constrói um filme a partir de enquadramentos inteligentes e rigorosamente pensados que seguem à ordem da câmera estática que guia o filme em praticamente todas as cenas.
Apesar de todos os elogios à direção, o roteiro também não fica devendo, e mostra uma capacidade dos suecos que até então eu desconhecia, em fazer um drama que questiona as convenções sociais constituídas pela sociedade patriarcal em que vivemos e ao mesmo tempo debochar do homem que é colocado em situações constrangedoras e ridículas, provando a habilidade de rir de si mesmo, em cenas repletas de ironia e uma incômoda vergonha alheia que será experimentada por quem assiste.
Línguas Desatadas
4.4 32Um manifesto contra a violência psicológica e física cometida diariamente pela sociedade ao configurar a homofobia e o racismo como socialmente aceitáveis.
Obra polêmica e obrigatória de Marlon Riggs, uma incisiva denúncia à hostilidade e intolerância e acima de tudo, um doloroso grito de revolta contra as injustiças que acometem todos dos tipos de 'minorias'.
A Ascensão
4.3 61Apesar das muitas comparações com "Vá e Veja", acredito que ambos sejam filmes com propostas e intuitos diferentes, mesmo que tenham a mesma guerra como plano de fundo.
Acredito que a proposta de Larisa Shepitko seja mais focada no lado humano, do que bélico em si, mostrando o conflito de princípios e a jornada de degradação(e humilhação) humana diante de um dilema.
As metáfora religiosa sutilmente inserida na película também é muitíssimo interessante e serve para representar as virtudes e corrupções humanas.
Uma verdadeira obra-prima humanista que merece ser difundida e apreciada, principalmente nos dias de hoje, entre tantos filmes excessivamente melodramáticos que exploram o tema de maneira leviana e superficial.
Shit Year
3.8 8Uma viagem pelos fantasmas de uma atriz reclusa, que se vê diante da fragilidade da própria existência. Depois que o seu amor prova ter sido apenas um ilusão, Colleen se perde nas próprias memórias e vazio que a consome cada vez mais.
Um belo trabalho do jovem Cam Archer, que consegue se destacar no meio de tantas obras tão fáceis e previsíveis vindas de cineastas americanos. Este aqui tem até mesmo ecos do sueco "Persona".
Acima das Nuvens
3.6 400Olivier Assayas é um cineasta cheio de altos e baixos na carreira e com uma filmografia bastante eclética, porém este aqui fez com que eu superasse meus preconceitos e pessimismo à respeito de seu futuro no cinema, agora que trabalha com atores mais 'mainstream'. Gostei especialmente deste aqui por revisitar o exercício metalinguístico de sua obra-prima, "Irma Vep", porém este se inicia a partir de uma peça teatral fictícia onde os conflitos internos da personagem se misturam aos da atriz que a interpreta.
O roteiro é realmente sensacional, consegue retratar muito bem os anseios e vaidades que circundam o meio dramático, criando um paralelo entre os atores e as 'celebridades' criadas pela mídia. Foi engraçado ver principalmente Kristen Stewart ironizar o mundo em que ela própria vive através da personagem de Chlöe Grace Moretz, mesmo que o espetáculo fique por conta de Juliette Binoche, que está em seu melhor momento desde "Cópia Fiel".