Após o incrível, "Um Toque de Pecado", Jia Zhang-Ke ressurge com sua obra mais ambiciosa até o momento, "Shan He Gu Ren", que acabou sendo um tanto decepcionante para mim, que esperava um filme com a mesma abordagem ferino da China hodierna. Infelizmente, Zhang-Ke, ao tentar se aproximar mais do público, acabou por entregar uma morna, que critica com sutileza e menos coragem os rumos do mundo globalizado e a ocidentalização cultural da sociedade asiática. Prefiro a pungente frieza e olhar clínico do cineasta em seus filmes anteriores do que esta sua incursão pelo cinema mais comercial. Tao Zhao, por outro lado, está em um de seus melhores momentos, como musa do diretor.
Uma obra-prima subestimada de Mizoguchi, Rua da Vergonha joga luz sobre a prostituição no cenário pós-guerra nipônico, mostrando de maneira corajosa e sincera, a dura realidade da profissão "mais antiga do mundo". O cineasta transforma um bordel em palco para as histórias de um grupo de mulheres marginalizadas e exploradas pelo homem. Daquelas obras que deixam um gosto amargo a quem assiste. Principalmente ao se perceber sua atemporalidade.
Um dos melhores filmes de Fred Schepisi, "Seis Graus de Separação" é uma deliciosa provocação ao mundo burguês, que instiga o espectador, tanto pelos diálogos divertidos e perspicazes, como pela trama prenhe de ousadia e originalidade sobre um homem marginalizado que sonha em sentir a glória de pertencer à alta sociedade. Destaque para o timing cômico de Stockard Channing, que aqui nos apresenta uma brilhante e subestimada performance.
O filme-testamento do Aleksei German, É Difícil ser um Deus, é uma das experiências cinematográficas mais difíceis que tive nos últimos tempos. Um verdadeiro ode ao caos e meditação sobre o futuro da humanidade através do estudo do nosso próprio passado, marcado pela violência e brutalidade. Confesso que a sensação de assisti-lo não foi nem um pouco agradável. A sensação de sujeira e desesperança ditam o universo caótico criado pelo autor, sempre abusando de situações escatológicas e repugnantes, seja no plano visual ou através do inigualável design de som. Palmas para German, por seu visionarismo e empenho em concluir esta obra estranha e monumental, mesmo que esta ainda permaneça para mim, um mistério.
Por mais que considere o filme um tanto mais longo do que o necessário, a adaptação de Liv Ullmann deste clássico da dramaturgia mostra o quanto ela teve oportunidade de aprender com Bergman, através de seu enfoque psicossexual e da densidade atribuída a trama, fazendo jus a fama de August Strindberg como uma espécie de Henrik Ibsen mais sombrio e amargo. A escolha de Jessica Chastain como a protagonista não poderia ter sido mais cuidadosa. Ela é uma das poucas atrizes atuais de renome em Hollywood que teve uma grande participação em montagens de peças clássicas da dramaturgia europeia, realizando facilmente o papel árduo de Miss Julie com toda a complexidade e intensidade necessárias.
Contrastando com o jovem e metropolitano "Weekend", 45 Anos, do mesmo diretor, é um conto sobre o decorrer do tempo e a maneira como ele encobre o passado e torna cada vez mais difícil o deslumbre de um futuro, principalmente quando se está em um relacionamento romântico. É desnecessário dizer o quanto o ritmo é lento e como isso é necessário para que a proposta funcione. Alias, tudo no filme parece se direcionar para a cena final, que o conclui com uma mistura improvável de força e sutileza. Devo ressaltar também, o uso maravilhoso e inteligentíssimo da trilha sonora como elemento narrativo essencial da trama. E claro, a performance de Charlotte Rampling, em um papel completamente diferente de tudo aquilo que eu sempre a vi fazer no cinema, em seu ápice de vulnerabilidade e complexidade dramática.
Um filme lento, silencioso e de atmosfera opressiva, que vai aos poucos caminhando para o previsível e trágico final. Acredito que a intenção de Saraceni, ao adaptar este conto de Lúcio Cardoso, tenha sido muito mais em realizar uma crônica social com ares de neorrealista do que um thriller em si.
Não sei a razão de ter procrastinado por tanto tempo a sessão desta obra-prima dos dramas de tribunal. É um dos poucos filmes do gênero que não soa em momento algum teatral, mesmo com o espaço e número de personagens limitados. A câmera dos Elkabetz alterna-se constantemente para que possamos ver a visão de Viviane Amsalem sobre o próprio julgamento, que se desenrola um mero jogo, colocando o destino de Viviane nas mãos dos homens, como sempre há de ser nessa terra marcada pelo patriarcado e fundamentalismo religioso. Ronit Elkabetz merecia todos os elogios possíveis pelos trabalhos realizados aqui, seja na direção, no roteiro ou na atuação, que deve ser provavelmente, uma das mais injustiçadas do ano passado. É possível sentir a dimensão do talento dramático de Ronit mesmo durante os primeiros 50 minutos, nos quais ela pouco fala ou aparece, através de sua sútil, mas precisa, expressão corporal.
O filme funciona muito bem durante a primeira hora como retrato da Guerra Fria, principalmente na criação da atmosfera de paranoia existente nos dos extremos da bipolarização econômica que o mundo enfrentava no período. Porém, com o desenrolar da trama, o filme dá lugar aquela velha cartilha patriótica de "comunistas malvados contra americanos heroicos e defensores dos direitos civis" de maneira tão explícita, que me incomodou. O uso de Tom Hanks como herói norte-americano também soou-me como uma ferramente de coerção ao público estadunidense, que desde "Forrest Gump", o tem como um dos atores mais populares e queridos do país.
Werner Schroeter sabia utilizar a imagem de suas musas como poucos. Existe algo de absolutamente intrigante na relação hierárquica religiosa entre as três personagens femininas apresentadas, e no culto misândrico destas que prega a abnegação ao amor e a todo sofrimento causado pelos homens. Constantemente, a narrativa é interrompida por tomadas contemplativas de Magdalena Montezuma, que beiram o mais elegante fetichismo melodramático de Schroeter, numa espécie de homenagem a golden age do cinema norte-americano.
Apesar de duvidar com veemência das habilidades de Betse De Paula como diretora(principalmente após o péssimo "Vendo ou Alugo"), devo admitir que os seus roteiros, por mais que sejam vitimas da péssima condução da cineasta, apresentam boas gags cômicas e até mesmo pertinentes inserções sociais na trama, como se pode perceber pela cena inicial que conta a origem das duas protagonistas, filhas dos dois extremos brasileiros, nascidas junto à cidade de Brasília. Essa dicotomia social, mesmo soando bastante clichê no cinema, poucas vezes foi explorada no cenário nacional, e apesar de alguns exageros típicos de De Paula, traz bons momentos à trama, que por isso, se destaca da maioria das outras comédias nacionais recentes, completamente descartáveis. A atuação de Dira Paes, por mais que seja também a personificação de um clichê brasileiro, funciona muito bem dentro do texto cômico e me faz acreditar que, sem o divertido desempenho de Dira, o filme seria só mais uma chanchada boba e esquecível.
Uma sátira da tragédia cotidiana que é a vida humana em sociedade. Pode-se dizer que é uma comédia, mas o que se vê aqui nada mais é do que uma representação sardônica da deprimente vida privada de um grupo de personagens criados por Dalton Trevisan. Joaquim Pedro de Andrade, já experiente em adaptações literárias, consegue reproduzir fidedignamente a atmosfera característica do autor curitibano e apesar da irregularidade dos episódios, o saldo final é positivo, sobretudo por conta do elenco inspirado. Grande destaque para Carmem Silva, que está irreconhecível como Amália, uma esposa martirizada pelo cruel marido.
Gosto muito da parceria anterior entre Huppert e Nicloux em "A Religiosa", mas aqui, a coisa definitivamente, não dá certo. A premissa é original e interessante, no entanto, o interesse não se mantem durante o filme, que parece ser uma sucessão de aleatoriedades sem fundamento ou rumo. A trama segue tentando convencer o espectador de que existe algum significado ou profundidade na história contada, mas por baixo das estratagemas metafísicas e dramáticas do roteiro, se esconde um roteirista completamente desorientado no que concerne a escrita de uma narrativa complexa como esta.
Fiquei feliz ao constatar que Louis Garrel em sua estréia na direção buscou uma identidade própria como autor(mesmo que isso não dê certo), sem tentar imitar os filmes de seu pai, Philippe Garrel. Porém,ao mesmo tempo, os problemas na obra são gritantes. O roteiro é uma bagunça que tenta a todo momento ser engraçado e se consagrar como um jovem clássico cult. A cena da dança de Mona, por exemplo, soa artificial e deslocada naquele momento, pareceu como uma tentativa de imitar imagens de outros jovens cineastas do cinema francófono. Os diálogos, situações e a construção dos personagens são ruins e criam uma sensação de contradição dentro do próprio roteiro. Como aspectos positivos, deve se ressaltar a sempre ótima, Golshifteh Farahani e a filmagem em 35mm, dando um belo aspecto de película à fotografia.
Victoria é um filme curioso, ao mesmo tempo que se diferencia de todos os outros pelo estilo peculiar, a sensação muitas vezes é que a utilização de um único take é utilizada não só como chamariz pela façanha, mas também como 'muleta' do roteiro pobre e quase inexistente. É admirável a naturalidade dos atores durante todo o tempo da película, sobretudo Laia Costa, porém o encantamento pela técnica desaparece ao notarmos como se trata muito mais de um exercício de estilo, e que muito daquilo foi completamente improvisado. Conclusão, a atmosfera de tensão obtida pelo filme, nada mais é do que uma maneira de maquiar a expressiva ausência de um roteiro de verdade. Hoje, graças à tecnologia, é possível realizar um longa-metragem com um único plano-sequência, porém, isso não significa que as boas e velhas técnicas para se contar uma história devam ser sacrificadas.
Uma história essencialmente feminina sobre a busca pela sobrevivência em uma cultura dominada pelo fundamentalismo religiosa e patriarcalismo subjugador. Um filme que se faz necessário em tempos de discussão acerca do papel do feminismo na sociedade moderna.
Gosto muito da maneira como Manoel de Oliveira conduz esta história, repleta de mistério e uma estranha sensualidade velada presente nas hipnotizantes personagens de Catherine Deneuve e Leonor Silveira, é como se o desejo fosse sufocado pela atmosfera opressora do convento medieval e só restasse a beleza sublime dessas musas.
Como uma sinfonia brilhantemente orquestrada, "A Juventude" é a meditação de um artista em seu maior momento, uma obra de arte barroca, tanto pelos contrastes gritantes, quanto pela exuberância. Um ode ao artista(enquanto poeta, e não mero instrumento capitalista), à beleza e à juventude.
Filme estranhíssimo como tudo que o Sebastián Silva faz, mas merece reconhecimento por romper com os "padrões" que vêm se consolidando dentro do cinema indie norte-americano, fugindo do lugar comum e construindo uma narrativa cada vez mais permeada pelo inusitado.
Por mais que o filme seja quase um folhetim à la Sidney Sheldon, uma coisa é inegável, Brisseau sabe muito bem como seduzir o espectador e deixar-lhe implorando por mais. E é assim nesta obra, um thriller erótico por excelência, que não esconde as suas intenções em momento algum, é direto e envolvente, como um verdadeiro filme de gênero eficaz em sua proposta. Remeteu-me muito ao cinema do Polanski, em sua melhor fase!
Por mais que eu tenha adentrado a sessão disposto a mergulhar na experiência, inclusive com um grande interesse, não demorou muito para a máscara cair e as intenções da cineasta ficarem realmente visíveis. É lamentável ver uma cineasta aparentemente talentosa e com tal oportunidade nas mãos, tenha optado por dar um rumo tão previsível e vazio à obra, que ao invés de provocante, torna-se anódina. O espectador termina a sessão apático como os personagens, com a certeza de que as investidas do filme em chocar e ousar, só contribuem para o empobrecimento da trama e desqualificação dos estudos de gênero a que se propõe. Um outro ponto que se deve salientar, é a maneira leviana e pejorativa como a homossexualidade do protagonista é retratada, como se ela fosse uma decorrência da misoginia masculina.
Espetacular! Um filme de wuxia que foge completamente de tudo que eu já havia visto no gênero. A obra possui um apelo estético muito forte(vide a fotografia, uma das mais belas dos últimos tempos) e ao mesmo tempo impressiona pela qualidade do conteúdo, uma trama desenvolvida com calma e maestria por Hou Hsiao-Hsien que em momento algum subestima o espectador oferecendo cenas de luta e ação longas e elaboradas para manter o seu interesse, como é o caso das incursões de Zhang Yimou no gênero. Um filme feito para ser contemplado, exigindo toda a paciência e disponibilidade do espectador, mas prometendo ser uma experiência memorável.
Uma grande surpresa! Daqueles filmes sensíveis e singelos que vão nos conquistando aos poucos. Merece ser descoberto pelo público, é uma história de grande apelo humano, na mesma linha do cinema dos irmãos Dardenne.
Últimas Conversas
4.2 108"-Ou amor ou morte. Ou você ama ou a vida não faz sentido.
-Não, você ama e morre, não tem "ou". Isso que é a vida."
As Montanhas Se Separam
3.7 47 Assista AgoraApós o incrível, "Um Toque de Pecado", Jia Zhang-Ke ressurge com sua obra mais ambiciosa até o momento, "Shan He Gu Ren", que acabou sendo um tanto decepcionante para mim, que esperava um filme com a mesma abordagem ferino da China hodierna. Infelizmente, Zhang-Ke, ao tentar se aproximar mais do público, acabou por entregar uma morna, que critica com sutileza e menos coragem os rumos do mundo globalizado e a ocidentalização cultural da sociedade asiática.
Prefiro a pungente frieza e olhar clínico do cineasta em seus filmes anteriores do que esta sua incursão pelo cinema mais comercial. Tao Zhao, por outro lado, está em um de seus melhores momentos, como musa do diretor.
A Rua da Vergonha
4.2 25Uma obra-prima subestimada de Mizoguchi, Rua da Vergonha joga luz sobre a prostituição no cenário pós-guerra nipônico, mostrando de maneira corajosa e sincera, a dura realidade da profissão "mais antiga do mundo".
O cineasta transforma um bordel em palco para as histórias de um grupo de mulheres marginalizadas e exploradas pelo homem.
Daquelas obras que deixam um gosto amargo a quem assiste. Principalmente ao se perceber sua atemporalidade.
Seis Graus de Separação
3.5 56 Assista AgoraUm dos melhores filmes de Fred Schepisi, "Seis Graus de Separação" é uma deliciosa provocação ao mundo burguês, que instiga o espectador, tanto pelos diálogos divertidos e perspicazes, como pela trama prenhe de ousadia e originalidade sobre um homem marginalizado que sonha em sentir a glória de pertencer à alta sociedade.
Destaque para o timing cômico de Stockard Channing, que aqui nos apresenta uma brilhante e subestimada performance.
É Difícil Ser Um Deus
3.8 24O filme-testamento do Aleksei German, É Difícil ser um Deus, é uma das experiências cinematográficas mais difíceis que tive nos últimos tempos. Um verdadeiro ode ao caos e meditação sobre o futuro da humanidade através do estudo do nosso próprio passado, marcado pela violência e brutalidade.
Confesso que a sensação de assisti-lo não foi nem um pouco agradável. A sensação de sujeira e desesperança ditam o universo caótico criado pelo autor, sempre abusando de situações escatológicas e repugnantes, seja no plano visual ou através do inigualável design de som.
Palmas para German, por seu visionarismo e empenho em concluir esta obra estranha e monumental, mesmo que esta ainda permaneça para mim, um mistério.
Miss Julie
3.2 82Por mais que considere o filme um tanto mais longo do que o necessário, a adaptação de Liv Ullmann deste clássico da dramaturgia mostra o quanto ela teve oportunidade de aprender com Bergman, através de seu enfoque psicossexual e da densidade atribuída a trama, fazendo jus a fama de August Strindberg como uma espécie de Henrik Ibsen mais sombrio e amargo.
A escolha de Jessica Chastain como a protagonista não poderia ter sido mais cuidadosa. Ela é uma das poucas atrizes atuais de renome em Hollywood que teve uma grande participação em montagens de peças clássicas da dramaturgia europeia, realizando facilmente o papel árduo de Miss Julie com toda a complexidade e intensidade necessárias.
45 Anos
3.7 254 Assista AgoraContrastando com o jovem e metropolitano "Weekend", 45 Anos, do mesmo diretor, é um conto sobre o decorrer do tempo e a maneira como ele encobre o passado e torna cada vez mais difícil o deslumbre de um futuro, principalmente quando se está em um relacionamento romântico.
É desnecessário dizer o quanto o ritmo é lento e como isso é necessário para que a proposta funcione. Alias, tudo no filme parece se direcionar para a cena final, que o conclui com uma mistura improvável de força e sutileza.
Devo ressaltar também, o uso maravilhoso e inteligentíssimo da trilha sonora como elemento narrativo essencial da trama. E claro, a performance de Charlotte Rampling, em um papel completamente diferente de tudo aquilo que eu sempre a vi fazer no cinema, em seu ápice de vulnerabilidade e complexidade dramática.
Porto das Caixas
4.0 20Um filme lento, silencioso e de atmosfera opressiva, que vai aos poucos caminhando para o previsível e trágico final. Acredito que a intenção de Saraceni, ao adaptar este conto de Lúcio Cardoso, tenha sido muito mais em realizar uma crônica social com ares de neorrealista do que um thriller em si.
O Julgamento de Viviane Amsalem
4.3 83Não sei a razão de ter procrastinado por tanto tempo a sessão desta obra-prima dos dramas de tribunal. É um dos poucos filmes do gênero que não soa em momento algum teatral, mesmo com o espaço e número de personagens limitados. A câmera dos Elkabetz alterna-se constantemente para que possamos ver a visão de Viviane Amsalem sobre o próprio julgamento, que se desenrola um mero jogo, colocando o destino de Viviane nas mãos dos homens, como sempre há de ser nessa terra marcada pelo patriarcado e fundamentalismo religioso.
Ronit Elkabetz merecia todos os elogios possíveis pelos trabalhos realizados aqui, seja na direção, no roteiro ou na atuação, que deve ser provavelmente, uma das mais injustiçadas do ano passado. É possível sentir a dimensão do talento dramático de Ronit mesmo durante os primeiros 50 minutos, nos quais ela pouco fala ou aparece, através de sua sútil, mas precisa, expressão corporal.
Ponte dos Espiões
3.7 694O filme funciona muito bem durante a primeira hora como retrato da Guerra Fria, principalmente na criação da atmosfera de paranoia existente nos dos extremos da bipolarização econômica que o mundo enfrentava no período. Porém, com o desenrolar da trama, o filme dá lugar aquela velha cartilha patriótica de "comunistas malvados contra americanos heroicos e defensores dos direitos civis" de maneira tão explícita, que me incomodou. O uso de Tom Hanks como herói norte-americano também soou-me como uma ferramente de coerção ao público estadunidense, que desde "Forrest Gump", o tem como um dos atores mais populares e queridos do país.
Willow Springs
3.9 6Werner Schroeter sabia utilizar a imagem de suas musas como poucos. Existe algo de absolutamente intrigante na relação hierárquica religiosa entre as três personagens femininas apresentadas, e no culto misândrico destas que prega a abnegação ao amor e a todo sofrimento causado pelos homens.
Constantemente, a narrativa é interrompida por tomadas contemplativas de Magdalena Montezuma, que beiram o mais elegante fetichismo melodramático de Schroeter, numa espécie de homenagem a golden age do cinema norte-americano.
O Casamento de Louise
3.0 21Apesar de duvidar com veemência das habilidades de Betse De Paula como diretora(principalmente após o péssimo "Vendo ou Alugo"), devo admitir que os seus roteiros, por mais que sejam vitimas da péssima condução da cineasta, apresentam boas gags cômicas e até mesmo pertinentes inserções sociais na trama, como se pode perceber pela cena inicial que conta a origem das duas protagonistas, filhas dos dois extremos brasileiros, nascidas junto à cidade de Brasília. Essa dicotomia social, mesmo soando bastante clichê no cinema, poucas vezes foi explorada no cenário nacional, e apesar de alguns exageros típicos de De Paula, traz bons momentos à trama, que por isso, se destaca da maioria das outras comédias nacionais recentes, completamente descartáveis.
A atuação de Dira Paes, por mais que seja também a personificação de um clichê brasileiro, funciona muito bem dentro do texto cômico e me faz acreditar que, sem o divertido desempenho de Dira, o filme seria só mais uma chanchada boba e esquecível.
Guerra Conjugal
3.4 14Uma sátira da tragédia cotidiana que é a vida humana em sociedade. Pode-se dizer que é uma comédia, mas o que se vê aqui nada mais é do que uma representação sardônica da deprimente vida privada de um grupo de personagens criados por Dalton Trevisan. Joaquim Pedro de Andrade, já experiente em adaptações literárias, consegue reproduzir fidedignamente a atmosfera característica do autor curitibano e apesar da irregularidade dos episódios, o saldo final é positivo, sobretudo por conta do elenco inspirado.
Grande destaque para Carmem Silva, que está irreconhecível como Amália, uma esposa martirizada pelo cruel marido.
O Vale do Amor
3.2 40 Assista AgoraGosto muito da parceria anterior entre Huppert e Nicloux em "A Religiosa", mas aqui, a coisa definitivamente, não dá certo.
A premissa é original e interessante, no entanto, o interesse não se mantem durante o filme, que parece ser uma sucessão de aleatoriedades sem fundamento ou rumo. A trama segue tentando convencer o espectador de que existe algum significado ou profundidade na história contada, mas por baixo das estratagemas metafísicas e dramáticas do roteiro, se esconde um roteirista completamente desorientado no que concerne a escrita de uma narrativa complexa como esta.
Dois Amigos
3.2 66 Assista AgoraFiquei feliz ao constatar que Louis Garrel em sua estréia na direção buscou uma identidade própria como autor(mesmo que isso não dê certo), sem tentar imitar os filmes de seu pai, Philippe Garrel. Porém,ao mesmo tempo, os problemas na obra são gritantes. O roteiro é uma bagunça que tenta a todo momento ser engraçado e se consagrar como um jovem clássico cult. A cena da dança de Mona, por exemplo, soa artificial e deslocada naquele momento, pareceu como uma tentativa de imitar imagens de outros jovens cineastas do cinema francófono. Os diálogos, situações e a construção dos personagens são ruins e criam uma sensação de contradição dentro do próprio roteiro.
Como aspectos positivos, deve se ressaltar a sempre ótima, Golshifteh Farahani e a filmagem em 35mm, dando um belo aspecto de película à fotografia.
Victoria
3.8 248 Assista AgoraVictoria é um filme curioso, ao mesmo tempo que se diferencia de todos os outros pelo estilo peculiar, a sensação muitas vezes é que a utilização de um único take é utilizada não só como chamariz pela façanha, mas também como 'muleta' do roteiro pobre e quase inexistente. É admirável a naturalidade dos atores durante todo o tempo da película, sobretudo Laia Costa, porém o encantamento pela técnica desaparece ao notarmos como se trata muito mais de um exercício de estilo, e que muito daquilo foi completamente improvisado. Conclusão, a atmosfera de tensão obtida pelo filme, nada mais é do que uma maneira de maquiar a expressiva ausência de um roteiro de verdade.
Hoje, graças à tecnologia, é possível realizar um longa-metragem com um único plano-sequência, porém, isso não significa que as boas e velhas técnicas para se contar uma história devam ser sacrificadas.
Cinco Graças
4.3 329 Assista AgoraUma história essencialmente feminina sobre a busca pela sobrevivência em uma cultura dominada pelo fundamentalismo religiosa e patriarcalismo subjugador. Um filme que se faz necessário em tempos de discussão acerca do papel do feminismo na sociedade moderna.
O Convento
3.5 6Gosto muito da maneira como Manoel de Oliveira conduz esta história, repleta de mistério e uma estranha sensualidade velada presente nas hipnotizantes personagens de Catherine Deneuve e Leonor Silveira, é como se o desejo fosse sufocado pela atmosfera opressora do convento medieval e só restasse a beleza sublime dessas musas.
A Juventude
4.0 342Como uma sinfonia brilhantemente orquestrada, "A Juventude" é a meditação de um artista em seu maior momento, uma obra de arte barroca, tanto pelos contrastes gritantes, quanto pela exuberância.
Um ode ao artista(enquanto poeta, e não mero instrumento capitalista), à beleza e à juventude.
Nasty Baby
3.2 17Filme estranhíssimo como tudo que o Sebastián Silva faz, mas merece reconhecimento por romper com os "padrões" que vêm se consolidando dentro do cinema indie norte-americano, fugindo do lugar comum e construindo uma narrativa cada vez mais permeada pelo inusitado.
Coisas Secretas
3.6 29Por mais que o filme seja quase um folhetim à la Sidney Sheldon, uma coisa é inegável, Brisseau sabe muito bem como seduzir o espectador e deixar-lhe implorando por mais.
E é assim nesta obra, um thriller erótico por excelência, que não esconde as suas intenções em momento algum, é direto e envolvente, como um verdadeiro filme de gênero eficaz em sua proposta. Remeteu-me muito ao cinema do Polanski, em sua melhor fase!
Anatomia do Inferno
2.8 67Por mais que eu tenha adentrado a sessão disposto a mergulhar na experiência, inclusive com um grande interesse, não demorou muito para a máscara cair e as intenções da cineasta ficarem realmente visíveis.
É lamentável ver uma cineasta aparentemente talentosa e com tal oportunidade nas mãos, tenha optado por dar um rumo tão previsível e vazio à obra, que ao invés de provocante, torna-se anódina. O espectador termina a sessão apático como os personagens, com a certeza de que as investidas do filme em chocar e ousar, só contribuem para o empobrecimento da trama e desqualificação dos estudos de gênero a que se propõe.
Um outro ponto que se deve salientar, é a maneira leviana e pejorativa como a homossexualidade do protagonista é retratada, como se ela fosse uma decorrência da misoginia masculina.
A Assassina
3.3 94 Assista AgoraEspetacular! Um filme de wuxia que foge completamente de tudo que eu já havia visto no gênero. A obra possui um apelo estético muito forte(vide a fotografia, uma das mais belas dos últimos tempos) e ao mesmo tempo impressiona pela qualidade do conteúdo, uma trama desenvolvida com calma e maestria por Hou Hsiao-Hsien que em momento algum subestima o espectador oferecendo cenas de luta e ação longas e elaboradas para manter o seu interesse, como é o caso das incursões de Zhang Yimou no gênero.
Um filme feito para ser contemplado, exigindo toda a paciência e disponibilidade do espectador, mas prometendo ser uma experiência memorável.
Carta ao Rei
3.2 5Uma grande surpresa! Daqueles filmes sensíveis e singelos que vão nos conquistando aos poucos.
Merece ser descoberto pelo público, é uma história de grande apelo humano, na mesma linha do cinema dos irmãos Dardenne.