Um estudo da instituição familiar e do microcosmo amoroso a partir de uma premissa extremamente batida, mas com um tratamento digno do cinema romeno contemporâneo. Não é para todos os gostos, pode soar inconclusivo ou anódino para alguns, mas para mim nada mais é do que a vida privada desnudada, em sua forma mais crua e incômoda. Destaque para o desempenho de todo o elenco, que consegue transmitir com a naturalidade necessária a complexidade dos personagens em pouco tempo de tela.
Sou apaixonado por documentários que exploram a natureza e o universo, desta maneira, "Antarctica: A Year on Ice" é um prato cheio para quem gosta de contemplar a vida e paisagem em ambientes extremos. Lembrou-me muito de "Encontros no Fim do Mundo" do Herzog, tanto no tema, quanto na qualidade.
Épico desconhecido sobre a Segunda Guerra Mundial, confesso que fiquei surpreso pelo tom romanesco de "Irmãs Gêmeas", o desenrolar dos acontecimentos é tão apressado que não permite um desenvolvimento mais aprofundado das personagens bidimensionais e o número de reviravoltas dignas de um folhetim tornam o filme uma experiência muito agradável para os fãs do melodrama como eu, mesmo que falte consistência à obra.
Ainda sinto que preciso me aprofundar na obra de Moretti. Gosto muito do retrato de afetividades que ele proporciona ao espectador, mesmo que "Mia Madre" não tenha me cativado por completo, esta é uma experiência encantadora, repleta da leveza e charme do 'Woody Allen italiano'. Moretti foge do sentimentalismo manipulatório e barato, mas tem dificuldades em conciliar os aspectos trágicos e cômicos da vida da protagonista. Ao final da sessão, a sensação é de uma experiência agradável, porém de conteúdo frágil e nada excepcional.
Os porões nos últimos anos ganharam uma nova face e significado dentro da sociedade austríaca, palco de dois dos mais chocantes casos policiais dos últimos anos, os sequestros de Elizabeth Fritzl e Natascha Kampusch. Aqui em "Im Keller", o controverso Ulrich Seidl faz uso de seu característico estilo seco e cortante para retratar as particularidades e 'bizarrices' de um país de primeiro mundo, abrindo os porões de cidadãos austríacos e revelando uma face tão singular de cada um, que nos faz pensar se tudo aquilo que vimos é realmente verdade. A experiência, por mais curta que seja a metragem, soa penosa e desagradável em diversos momentos, como já se era de esperar vindo de um filme do autor, mas a razão do desconforto dessa vez é o fato de que pouco sabemos sobre cada personagem mesmo após tamanha exposição, cada porão é um traço avulso da personalidade de cada indivíduo, um traço que não cabe dentro dos limites e regras impostas pela sociedade, é necessário ocultá-los dentro de um espaço físico, longe da vida em sociedade. No final, a sensação que fica é que nós nos conhecemos muito menos do que pensamos, somos estranhos uns aos outros.
Hardcore por pouco não se tornou um dos meus favoritos, talvez se ao invés de Paul Schrader tivéssemos um diretor gabaritado como Scorsese ou Ferrara trabalhando este roteiro, teríamos um grande clássico do cinema americano. Eu amo a maneira como o argumento consegue tornar crível o encontro entre dois universos tão distintos que separam os personagens, e com isso, criar momentos deliciosamente inusitados, como por exemplo, a improvável química entre George C. Scott e Season Hubley, ambos brilhantes à sua maneira. A única ressalva fica para o desfecho apressado e canhestro que decepciona o espectador que espera por uma conclusão ao mesmo nível de seu desenvolvimento.
Por mais que o filme possa soar como uma fórmula pronta nos dias de hoje, devo confessar que "Norma Rae" continua funcionando muito bem, desde o roteiro extremamente simpático para um tema que não é dos mais fáceis até a inesquecível atuação de Sally Field, que criou aqui uma das mais espirituosas e fortes personagens femininas do cinema norte-americano.
Provocante é a palavra certa para definir esta obra de Marco Bellocchio. Mestre na arte da provocação, Bellocchio é o tipo de cineasta que a cada filme procura enfrentar o espectador e desconstruir seus paradigmas. Aqui, o objeto de discussão é um dos sentimentos mais primitivos do homem, o desejo. A questão que fica para o espectador ao final da sessão é: Qual o preço da concessão ao desejo?
O conteúdo em si pode não ser o melhor(principalmente porque as histórias não mantém o mesmo nível), mas é daquelas produções que consegue nos roubar toda a atenção enquanto se assiste, com um virtuosismo técnico capaz de roubar o filme para si. No que tange a qualidade das histórias, o conto protagonizado por Toby Jones e Bebe Cave é sem dúvida alguma o mais interessante do conjunto.
Joaquim Pinto encontrou no cinema um alívio para a angústia gerada pela própria condição, buscando estabelecer uma relação bastante íntima com o espectador que acaba se tornando um personagem presente neste exercício de compartilhamento entre ele e o cineasta. Durante os 164 minutos do filme viajamos pela profundeza dos pensamentos e memórias do autor, que resgata de maneira quase que necrológica a memória de seus amigos falecidos, mortos pela mesma doença da qual Joaquim padece. E não apenas conhecemos o íntimo do cineasta através de suas confissões e divagações, mas também temos a possibilidade de acompanhar o presente sendo construído, entre momentos de uma agrura velada e de singela felicidade. Durante e após esta obra eu me senti muito próximo de Joaquim e Nuno. O filme traz um pedaço da vida, do amor e da devoção dos dois à quem o assiste. É difícil permanecer indiferente diante dessa experiência, é como sentir um sopro da vida vindo de alguém que é constantemente obrigado a encarar a própria morte.
Todd Solondz é daqueles cineastas que sempre trazem experiências e sensações tortuosas ao espectador, e mesmo assim, depois de algum tempo, eu, ainda assombrado pelas sua misantropia, volto pedindo por mais, e é sempre o mesmo prazer masoquista, o de ver assistir um filme com um roteiro brilhante, se deparar com personagens e situações únicas e aterradoras e sentir um pouco do humor negro perverso, a acidez desmedida e corajosa de um cineasta que é preciosíssimo para o cinema norte-americano, mesmo que ele ainda não tenha o notado.
O filme segue uma trama apenas subentendida através das imagens, repleto de silêncio e sons ambientes, em uma contemplação das diversas tentativas de interação entre os três personagens em momentos de grande beleza. É interessante notar também a forte influência de Michelangelo Antonioni por aqui(sobretudo de seu filme "A Noite"), tanto na falta de respostas para algumas questões levantadas pelo espectador, quanto pelos temas retratados,: o tédio e vazio burguês, a incomunicabilidade e o surgimento de um terceiro elemento na vida de um casal, alterando assim, a sua dinâmica.
Esse tipo de coletânea de curtas dirigidos por cineastas célebres fez muito sucesso na Itália durante os anos 60 e 70, pena que Capricho à Italiana seja um dos piores filmes do gênero que eu já vi. A irregularidade deste tipo de conjunto já é algo de se espera, mas por aqui pouca coisa se salva, na verdade, com exceção da divertida reinvenção lúdica de Otelo realizada por Pasolini, todos os segmentos são pífios e bobos.
Que obra genial é essa?! Fiquei espantado por não haver ouvido falar deste filme antes, sendo este uma das mais brilhantes e bem sucedidas comédias brasileiras que eu já tive o prazer de prestigiar. Excelente roteiro, que satiriza de maneira completamente desvinculada da realidade, a vinda da grande Sarah Bernhardt ao nosso "pays de sauvages", com um viés que chega a nos remeter à comicidade histórica empregada no "Carlota Joaquina" de Carla Camurati. O uso da poesia de Gonçalves Dias também serve para reforçar o caráter tipicamente brasileiro desta obra, que tenta com tanto esmero retratar o país nos primeiros anos após a sua independência, já livre das mãos do colonizador, vivendo sua própria cultura e "selvageria". Destaque também para o elenco irrepreensível, sobretudo por parte de Béatrice Agenin e Myriam Muniz, ambas brilhantes e impetuosas à cada fala entoada.
Abel Ferrara me surpreendeu desta vez. Fez um filme repleto de violência e estilo, sem se preocupar necessariamente com a veracidade e realismo apresentado pelas situação e pela personagem, a intenção era justamente um filme mais 'underground', com uma trama simples como pretexto para uma femme fatale misândrica e icônica. Funciona muito bem dentro de tudo o que se propõe
Mais um vez nós nos vemos diante daquela velha questão, afinal, os selvagens são eles, os nativos, ou nós, que nos autodenominamos civilizados enquanto nos desenvolvemos às custas da escravidão e genocídio? Filme repleto de cenas e paisagens belíssimas, Roland Joffé soube muito bem como engendrar um épico digno de David Lean a partir do roteiro de Robert Bolt, um dos grandes colaboradores do mestre.
Destaque para a trilha sonora espetacular de Ennio Morricone, um compositor que emplacou tantos clássicos, e ainda assim continua me surpreendendo com a sua música.
A proximidade temporal com o período retratado pode ter dado alguma força ao filme, que deve ter sido bastante impactante na época, mas hoje já não funciona tão bem; os estratagemas dramáticos são evidentes e não funcionam na mesma intensidade. Há um certo distanciamento do universo dos próprios personagens com uma moralidade velada, o que prejudica em um filme que deveria denunciar a mesma. Contudo, a cena final é realmente emocionante e a escolha por preservar o espectador do destino óbvio de alguns personagens foi inteligente, enquanto alguns explorariam o potencial melodramático da situação.
Por mais que eu já apoiasse o ponto de visto defendido pelo documentário antes mesmo de vê-lo, é inegável a parcialidade com que ele é conduzido. Se a direção não fosse do sempre pertinente Silvio Tendler, ele poderia até mesmo ser visto com desconfiança pelo espectador. De qualquer forma, "Privatizações: A Distopia do Capital" é mais um trabalho excelente do documentarista, consegue ser elucidativo sem soar didático.
Godard vai na contramão de seus filmes ditos políticos e cria um intrincado exercício sobre a (meta)linguagem, onde as respostas provavelmente se encontram mais na emoção do que na razão em si, mesmo que a obra seja carregada de inúmeras e indecifráveis citações(pelo menos para mim). É interessante observar que ao se despedir da linguagem, ele também acabou criando um própria, baseado na subjetividade dos discursos e das imagens. Tudo isso nos revela uma preocupação com o próprio homem e o mundo que o cerca, o seu medo da morte e da solidão, a busca improvável pelo amor e a constatação que por mas que a natureza e os animais sejam 'subordinados' ao homem, ele nunca terá sua pureza e perfeição, o homem criou a guerra, e por isso está condenado ao sofrimento e incompreensão.
"-Vamos ter que contratar um intérprete. -Por quê? -Logo, todos nós teremos necessidade de um intérprete para compreender as palavras que saem de nossas próprias bocas."
Eu tenho que concordar com o Alex, o filme é uma verdadeira performance corporal, e até se sai muito bem nessas cenas. O problema é a tentativa de criar uma narrativa em cima dessas "sessões de luta", o roteiro é frágil em sobejo e a construção dos personagens é rasa e pouco crível.
Tennessee Williams é daqueles autores que por mais que o tempo passe nunca deixa de ser atual, seu texto é pertinente e a dramaticidade de suas obras é tão pungente e verdadeira que dificilmente o espectador sairá "ileso" da sessão, seus personagens e tramas são únicas e marcaram profundamente as telas do cinema americano, este aqui não é exceção, traz tipos e atuações icônicas, Ed Bengley e Geraldine Page estão ambos em um de seus melhores momentos, a maneira desvelada como os vícios de seus personagens são retratados nos aproxima ainda mais da obra e sua forte veracidade(por mais que o melodrama seja uma característica marcante do texto do autor).
Filme ocultíssimo do cinema australiano, A Woman's Tale realmente merecia maior reconhecimento pela sensibilidade e lucidez, sem nunca deixar de lado a esperança. A dama da televisão australiana, Sheila Florence além de ter um desempenho emocionante, dá voz à própria história no roteiro escrito por ela mesma.
Já dizia Che Guevara, ""Um povo que não conhece a sua história está condenado a repeti-la", e é exatamente este pensamento que ficou em minha cabeça após o final do filme, hoje a história se repete, o ser humano ainda não foi capaz de evoluir moralmente, continua sendo vítima do próprio ódio e ignorância. Belíssima homenagem à Hipátia e mais do que isso, um filme que faz refletir.
Um romance terno e agradável, que de início surpreende pela ousadia em possuir uma protagonista criminosa, retratada por uma óptica humanizadora. Pena que a trama insista em soluções moralistas e pouco convincentes para redimir a conduta da personagem, a sensação é de que aquele final foi forçado pelo estúdio.
Terça-feira, Depois do Natal
3.0 20Um estudo da instituição familiar e do microcosmo amoroso a partir de uma premissa extremamente batida, mas com um tratamento digno do cinema romeno contemporâneo. Não é para todos os gostos, pode soar inconclusivo ou anódino para alguns, mas para mim nada mais é do que a vida privada desnudada, em sua forma mais crua e incômoda.
Destaque para o desempenho de todo o elenco, que consegue transmitir com a naturalidade necessária a complexidade dos personagens em pouco tempo de tela.
Antarctica: A Year on Ice
4.3 7Sou apaixonado por documentários que exploram a natureza e o universo, desta maneira, "Antarctica: A Year on Ice" é um prato cheio para quem gosta de contemplar a vida e paisagem em ambientes extremos. Lembrou-me muito de "Encontros no Fim do Mundo" do Herzog, tanto no tema, quanto na qualidade.
Irmãs Gêmeas
3.8 27Épico desconhecido sobre a Segunda Guerra Mundial, confesso que fiquei surpreso pelo tom romanesco de "Irmãs Gêmeas", o desenrolar dos acontecimentos é tão apressado que não permite um desenvolvimento mais aprofundado das personagens bidimensionais e o número de reviravoltas dignas de um folhetim tornam o filme uma experiência muito agradável para os fãs do melodrama como eu, mesmo que falte consistência à obra.
Minha Mãe
3.7 61 Assista AgoraAinda sinto que preciso me aprofundar na obra de Moretti. Gosto muito do retrato de afetividades que ele proporciona ao espectador, mesmo que "Mia Madre" não tenha me cativado por completo, esta é uma experiência encantadora, repleta da leveza e charme do 'Woody Allen italiano'.
Moretti foge do sentimentalismo manipulatório e barato, mas tem dificuldades em conciliar os aspectos trágicos e cômicos da vida da protagonista.
Ao final da sessão, a sensação é de uma experiência agradável, porém de conteúdo frágil e nada excepcional.
Im Keller
3.3 12Os porões nos últimos anos ganharam uma nova face e significado dentro da sociedade austríaca, palco de dois dos mais chocantes casos policiais dos últimos anos, os sequestros de Elizabeth Fritzl e Natascha Kampusch. Aqui em "Im Keller", o controverso Ulrich Seidl faz uso de seu característico estilo seco e cortante para retratar as particularidades e 'bizarrices' de um país de primeiro mundo, abrindo os porões de cidadãos austríacos e revelando uma face tão singular de cada um, que nos faz pensar se tudo aquilo que vimos é realmente verdade. A experiência, por mais curta que seja a metragem, soa penosa e desagradável em diversos momentos, como já se era de esperar vindo de um filme do autor, mas a razão do desconforto dessa vez é o fato de que pouco sabemos sobre cada personagem mesmo após tamanha exposição, cada porão é um traço avulso da personalidade de cada indivíduo, um traço que não cabe dentro dos limites e regras impostas pela sociedade, é necessário ocultá-los dentro de um espaço físico, longe da vida em sociedade.
No final, a sensação que fica é que nós nos conhecemos muito menos do que pensamos, somos estranhos uns aos outros.
Hardcore - No Submundo do Sexo
3.6 39Hardcore por pouco não se tornou um dos meus favoritos, talvez se ao invés de Paul Schrader tivéssemos um diretor gabaritado como Scorsese ou Ferrara trabalhando este roteiro, teríamos um grande clássico do cinema americano.
Eu amo a maneira como o argumento consegue tornar crível o encontro entre dois universos tão distintos que separam os personagens, e com isso, criar momentos deliciosamente inusitados, como por exemplo, a improvável química entre George C. Scott e Season Hubley, ambos brilhantes à sua maneira.
A única ressalva fica para o desfecho apressado e canhestro que decepciona o espectador que espera por uma conclusão ao mesmo nível de seu desenvolvimento.
Norma Rae
3.7 50Por mais que o filme possa soar como uma fórmula pronta nos dias de hoje, devo confessar que "Norma Rae" continua funcionando muito bem, desde o roteiro extremamente simpático para um tema que não é dos mais fáceis até a inesquecível atuação de Sally Field, que criou aqui uma das mais espirituosas e fortes personagens femininas do cinema norte-americano.
O Processo do Desejo
3.7 7Provocante é a palavra certa para definir esta obra de Marco Bellocchio. Mestre na arte da provocação, Bellocchio é o tipo de cineasta que a cada filme procura enfrentar o espectador e desconstruir seus paradigmas. Aqui, o objeto de discussão é um dos sentimentos mais primitivos do homem, o desejo.
A questão que fica para o espectador ao final da sessão é: Qual o preço da concessão ao desejo?
"Você me violenta todos os dias ao me iludir."
O Conto dos Contos
3.4 176 Assista AgoraO conteúdo em si pode não ser o melhor(principalmente porque as histórias não mantém o mesmo nível), mas é daquelas produções que consegue nos roubar toda a atenção enquanto se assiste, com um virtuosismo técnico capaz de roubar o filme para si.
No que tange a qualidade das histórias, o conto protagonizado por Toby Jones e Bebe Cave é sem dúvida alguma o mais interessante do conjunto.
E Agora? Lembra-me
3.9 12 Assista AgoraJoaquim Pinto encontrou no cinema um alívio para a angústia gerada pela própria condição, buscando estabelecer uma relação bastante íntima com o espectador que acaba se tornando um personagem presente neste exercício de compartilhamento entre ele e o cineasta. Durante os 164 minutos do filme viajamos pela profundeza dos pensamentos e memórias do autor, que resgata de maneira quase que necrológica a memória de seus amigos falecidos, mortos pela mesma doença da qual Joaquim padece. E não apenas conhecemos o íntimo do cineasta através de suas confissões e divagações, mas também temos a possibilidade de acompanhar o presente sendo construído, entre momentos de uma agrura velada e de singela felicidade.
Durante e após esta obra eu me senti muito próximo de Joaquim e Nuno. O filme traz um pedaço da vida, do amor e da devoção dos dois à quem o assiste. É difícil permanecer indiferente diante dessa experiência, é como sentir um sopro da vida vindo de alguém que é constantemente obrigado a encarar a própria morte.
Palíndromos
3.8 81Todd Solondz é daqueles cineastas que sempre trazem experiências e sensações tortuosas ao espectador, e mesmo assim, depois de algum tempo, eu, ainda assombrado pelas sua misantropia, volto pedindo por mais, e é sempre o mesmo prazer masoquista, o de ver assistir um filme com um roteiro brilhante, se deparar com personagens e situações únicas e aterradoras e sentir um pouco do humor negro perverso, a acidez desmedida e corajosa de um cineasta que é preciosíssimo para o cinema norte-americano, mesmo que ele ainda não tenha o notado.
O Uivo da Gaita
2.4 73 Assista AgoraO filme segue uma trama apenas subentendida através das imagens, repleto de silêncio e sons ambientes, em uma contemplação das diversas tentativas de interação entre os três personagens em momentos de grande beleza.
É interessante notar também a forte influência de Michelangelo Antonioni por aqui(sobretudo de seu filme "A Noite"), tanto na falta de respostas para algumas questões levantadas pelo espectador, quanto pelos temas retratados,: o tédio e vazio burguês, a incomunicabilidade e o surgimento de um terceiro elemento na vida de um casal, alterando assim, a sua dinâmica.
Capricho à Italiana
3.6 5Esse tipo de coletânea de curtas dirigidos por cineastas célebres fez muito sucesso na Itália durante os anos 60 e 70, pena que Capricho à Italiana seja um dos piores filmes do gênero que eu já vi. A irregularidade deste tipo de conjunto já é algo de se espera, mas por aqui pouca coisa se salva, na verdade, com exceção da divertida reinvenção lúdica de Otelo realizada por Pasolini, todos os segmentos são pífios e bobos.
Amélia
3.8 36Que obra genial é essa?! Fiquei espantado por não haver ouvido falar deste filme antes, sendo este uma das mais brilhantes e bem sucedidas comédias brasileiras que eu já tive o prazer de prestigiar.
Excelente roteiro, que satiriza de maneira completamente desvinculada da realidade, a vinda da grande Sarah Bernhardt ao nosso "pays de sauvages", com um viés que chega a nos remeter à comicidade histórica empregada no "Carlota Joaquina" de Carla Camurati. O uso da poesia de Gonçalves Dias também serve para reforçar o caráter tipicamente brasileiro desta obra, que tenta com tanto esmero retratar o país nos primeiros anos após a sua independência, já livre das mãos do colonizador, vivendo sua própria cultura e "selvageria".
Destaque também para o elenco irrepreensível, sobretudo por parte de Béatrice Agenin e Myriam Muniz, ambas brilhantes e impetuosas à cada fala entoada.
Sedução e Vingança
3.7 151 Assista AgoraAbel Ferrara me surpreendeu desta vez. Fez um filme repleto de violência e estilo, sem se preocupar necessariamente com a veracidade e realismo apresentado pelas situação e pela personagem, a intenção era justamente um filme mais 'underground', com uma trama simples como pretexto para uma femme fatale misândrica e icônica.
Funciona muito bem dentro de tudo o que se propõe
A Missão
3.8 226Mais um vez nós nos vemos diante daquela velha questão, afinal, os selvagens são eles, os nativos, ou nós, que nos autodenominamos civilizados enquanto nos desenvolvemos às custas da escravidão e genocídio?
Filme repleto de cenas e paisagens belíssimas, Roland Joffé soube muito bem como engendrar um épico digno de David Lean a partir do roteiro de Robert Bolt, um dos grandes colaboradores do mestre.
Destaque para a trilha sonora espetacular de Ennio Morricone, um compositor que emplacou tantos clássicos, e ainda assim continua me surpreendendo com a sua música.
Meu Querido Companheiro
3.6 34A proximidade temporal com o período retratado pode ter dado alguma força ao filme, que deve ter sido bastante impactante na época, mas hoje já não funciona tão bem; os estratagemas dramáticos são evidentes e não funcionam na mesma intensidade. Há um certo distanciamento do universo dos próprios personagens com uma moralidade velada, o que prejudica em um filme que deveria denunciar a mesma.
Contudo, a cena final é realmente emocionante e a escolha por preservar o espectador do destino óbvio de alguns personagens foi inteligente, enquanto alguns explorariam o potencial melodramático da situação.
Privatizações: A Distopia do Capital
4.2 16Por mais que eu já apoiasse o ponto de visto defendido pelo documentário antes mesmo de vê-lo, é inegável a parcialidade com que ele é conduzido. Se a direção não fosse do sempre pertinente Silvio Tendler, ele poderia até mesmo ser visto com desconfiança pelo espectador.
De qualquer forma, "Privatizações: A Distopia do Capital" é mais um trabalho excelente do documentarista, consegue ser elucidativo sem soar didático.
Adeus à Linguagem
3.5 118 Assista AgoraGodard vai na contramão de seus filmes ditos políticos e cria um intrincado exercício sobre a (meta)linguagem, onde as respostas provavelmente se encontram mais na emoção do que na razão em si, mesmo que a obra seja carregada de inúmeras e indecifráveis citações(pelo menos para mim).
É interessante observar que ao se despedir da linguagem, ele também acabou criando um própria, baseado na subjetividade dos discursos e das imagens. Tudo isso nos revela uma preocupação com o próprio homem e o mundo que o cerca, o seu medo da morte e da solidão, a busca improvável pelo amor e a constatação que por mas que a natureza e os animais sejam 'subordinados' ao homem, ele nunca terá sua pureza e perfeição, o homem criou a guerra, e por isso está condenado ao sofrimento e incompreensão.
"-Vamos ter que contratar um intérprete.
-Por quê?
-Logo, todos nós teremos necessidade de um intérprete para compreender as palavras que saem de nossas próprias bocas."
Minhas Sessões de Luta
3.2 7Eu tenho que concordar com o Alex, o filme é uma verdadeira performance corporal, e até se sai muito bem nessas cenas. O problema é a tentativa de criar uma narrativa em cima dessas "sessões de luta", o roteiro é frágil em sobejo e a construção dos personagens é rasa e pouco crível.
O Doce Pássaro da Juventude
3.7 13Tennessee Williams é daqueles autores que por mais que o tempo passe nunca deixa de ser atual, seu texto é pertinente e a dramaticidade de suas obras é tão pungente e verdadeira que dificilmente o espectador sairá "ileso" da sessão, seus personagens e tramas são únicas e marcaram profundamente as telas do cinema americano, este aqui não é exceção, traz tipos e atuações icônicas, Ed Bengley e Geraldine Page estão ambos em um de seus melhores momentos, a maneira desvelada como os vícios de seus personagens são retratados nos aproxima ainda mais da obra e sua forte veracidade(por mais que o melodrama seja uma característica marcante do texto do autor).
Lutando pela Vida
3.9 2Filme ocultíssimo do cinema australiano, A Woman's Tale realmente merecia maior reconhecimento pela sensibilidade e lucidez, sem nunca deixar de lado a esperança. A dama da televisão australiana, Sheila Florence além de ter um desempenho emocionante, dá voz à própria história no roteiro escrito por ela mesma.
Alexandria
4.0 583 Assista AgoraJá dizia Che Guevara, ""Um povo que não conhece a sua história está condenado a repeti-la", e é exatamente este pensamento que ficou em minha cabeça após o final do filme, hoje a história se repete, o ser humano ainda não foi capaz de evoluir moralmente, continua sendo vítima do próprio ódio e ignorância.
Belíssima homenagem à Hipátia e mais do que isso, um filme que faz refletir.
Lembra-se Daquela Noite?
3.8 19 Assista AgoraUm romance terno e agradável, que de início surpreende pela ousadia em possuir uma protagonista criminosa, retratada por uma óptica humanizadora. Pena que a trama insista em soluções moralistas e pouco convincentes para redimir a conduta da personagem, a sensação é de que aquele final foi forçado pelo estúdio.