Tenho um seríssimo problema com o cinema de Hong Sang-soo, por mais que goste muito de suas proposta metalinguísticas, nunca consigo embarcar na experiência proposta por seus filmes. Parece-me que o cineasta crê de maneira exagerada no poder de imersão de seus diálogos e personagens, quando o universo criado por ele só me inspira tédio. A falta de uma personalidade forte e identificável é um problema sério em um filme que se presta a passar duas horas desenvolvendo diálogos banais entre dois personagens, o que funciona maravilhosamente bem na Trilogia Before, por exemplo, aqui se torna um verdadeiro teste de paciência. A proposta apresenta, assim como a de muitas obras do Sang-soo, é interessante por subverter a própria narrativa, tornando o filme como um objeto consciente da própria existência enquanto obra de arte. Essa experimentação muito me atrai, e poderia ter sido algo muitíssimo interessante, mas o roteiro(e devo admitir que é um problema pessoal), definitivamente não me atrai.
É irônico como Manoel de Oliveira, mesmo sendo português, é um dos cineastas que mais se dedicou à homenagear Paris em suas obras. Mais uma vez aqui, a cidade deixa a posição de mero cenário e integra a história como um verdadeiro personagem, que ganha forma com a música das ruas e belíssimas tomadas externas, que nem ao menos tentam esconder a sua função de enaltecimento deste famoso cartão postal. Esta é só uma das várias homenagens que Manoel presta nesta obra, que funciona como um verdadeiro retrato de afetos, tendo como alter ego o veterano francês Michel Piccoli, um personagem que encontra na arte e em seu neto as suas únicas companhias e objetos de devoção. O teatro e o cinema juntam-se em uma ode do autor que celebra o poder e importância destes em sua vida, completando esta obra que deve ser uma de suas realizações mais belas e pessoais.
Ainda não me decidi se gostei ou não deste filme de estreia da dupla Elyse Steinberg e Josh Kriegman. Se por um lado acho a montagem eficiente ao criar uma verdadeira narrativa cinematográfica, com momentos divertidos e momentos dramáticos de maneira com que pareça quase como se eles tivessem sido meticulosamente roteirizados, por outro, esta visão excessivamente cinematográfica e fácil de entreter, parece desonesta com a própria história, criando uma visão "pronta para consumir" dos fatos, direcionando de maneira explícita o olhar do espectador. Talvez este último aspecto destaque o talento dos jovens cineastas, que possuem uma visão bastante determinada do filme que querem criar com estas imagens, mas também prejudica o aspecto documental da película, com um material excessivamente manipulado. Em adendo, pode-se dizer que Weiner oferece um interessante panorama da política atual norte-americana, mesmo que sua imparcialidade seja contestável.
O maior feito de Bacalaureat é a forma como ele nos faz enxergar a corrupção no próprio cotidiano, observar como é um pensamento que se torna comum, quase que sistematizado dentro da sociedade, e em alguns momentos, chega a parecer aceitável para nós, mesmo que no fundo saibamos que a moral sempre fica comprometida.
O Ornitólogo é uma das mais curiosas odisseias cinematográficas que já tive o prazer de acompanhar. Daquelas obras herméticas, repletas de simbolismos, que nos transportam pelas suas loucuras de forma lenta e deliciosa. Uma ótima surpresa para quem não é nada fã de "O Fantasma" ver que o diretor achou a direção certa para as andanças lascivas e surreais de seus personagens.
Esta minha primeira vez pelo cinema de Mia Hansen-Løve não poderia ter sido mais feliz., "L'Avenir" é uma obra agridoce, que evita ao máximo pesar na tonicidade dramática, sempre leve e lúcida, como a presença solar de Isabelle Huppert, em um dos melhores momentos de sua extensa carreira. Huppert interpreta esta mulher com a dignidade e altivez necessária, mas sem deixá-la desprovida de traços humanos. Nathalie pode ser uma burguesa desiludida com o idealismo e a sede revolucionária da juventude, uma mulher que acabou de perder seu homem, mas ainda assim, é capaz de enxergar o horizonte, o que está por vir.
Sinto alguns ecos de "Persona" e "O Inquilino" neste thriller indie ousado. Pena que a execução não consiga nem transmitir a tensão desejada ou ao menos envolver o espectador. Destaque para a bela e talentosa Mackenzie Davis, que defende sua personagem com fúria e retração.
Dono de uma filmografia repleta de filmes ousados e provocates, Shôhei Imamura antes de partir nos deixou esta última obra, uma comédia nonsense com boas doses de erotismo e humor pastelão. O resultado é bastante irregular, e as gags cômicas não funcionam tanto quanto eu esperava(talvez seja o meu olhar ocidentalizado atuando sobre a minha percepção da obra, confesso), mas ainda assim, é um filme que tem seu charme. Sinto que a narrativa fluiria de maneira melhor se as tramas paralelas envolvendo os trabalhadores fossem cortadas, dando mais enfoque à relação entre os dois protagonistas, e claro, na "condição sexual bastante peculiar" da personagem de Misa Shimizu.
Um dos filmes mais pertinentes do ano, se não da década, HyperNormalisation é um filme didático por excelência, oferecendo um amplo panorama da geopolítica contemporânea, fazendo-nos refletir sobre a dinâmico do mundo globalizado, que rebaixa seres humanas à algoritmos computadorizados.
Há muito tempo que gostaria de ver este filme, sobretudo pela presença da excepcional Ronit Elkabetz, no entanto, o que eu encontrei aqui foi muito além do talento desta atriz israelense. É um olhar incisivo sob este microcosmo urbano, feminino e brutal. Uma realidade urbana que faz com que ocorra uma inversão de papéis entre mãe e filha, resultando numa relação pouco comum, mas ao mesmo tempo, repleta de afeto.
Realmente o mais fraco da filmografia dos Dardenne. Uma tentativa pífia de thriller que se mistura ao drama humanista corriqueiro em seus filmes. Infelizmente, soa mais como um punhado de ideias mal-desenvolvidas(e até mesmo, jogadas aleatoriamente no roteiro). De resto, temos uma bela homenagem ao ofício médico. que é retratado ao mesmo tempo de maneira nobre e desglamourizada.
Fai Bei Sogni é uma espécie de corpo estranho dentro da filmografia do provocateur italiano, mesmo que aborde uma questão bastante recorrente em seu cinema, a tentativa de resgate da figura materna. Desta vez, no entanto, a abordagem é mais melodramática e familiar, mostrando uma aproximação do cineasta com o grande público. O roteiro talvez seja "quadrado" e açucarado demais para mim, apelando para diversos momentos esquemáticos, como uma sequência pouco natural de dança no melhor estilo feel-good movie. Entre os pontos positivos estão a representação da infância oferecida por ele, que não deixa de ser interesse(por mais que esteja longe de ser original), e a participação relâmpago de Emmanuelle Devos, que nos faz desejar que a atriz tenha muito mais tempo de tela.
Só mais um folhetim de engrandecimento ao homem "comum" norte-americano protagonizado por Tom Hanks. O resultado, no entanto, é ainda mais fraco do que eu esperava, e os problemas são inúmeros: roteiro formulaico repleto de frases de efeito(que não causam tanto efeito assim), Tom Hanks no piloto automático, uma história que claramente não justifica um longa-metragem(surge daí a necessidade risível de se repetir uma mesma sequência inúmeras vezes ao longo do filme, mesmo que esta por sua vez acabe por perder completamente seu potencial dramático), Laura Linney em uma representação absolutamente batida e dispensável da esposa exemplar preocupada que passa o tempo todo no telefone, entre vários outros. Clint Eastwood já esteve melhor, muito melhor.
"A Mulher Fatal Encontra o Homem Ideal" é o título de um famoso curta da Carla Camurati, mas também poderia ser o deste novo thriller do Verhoeven, que prova aqui estar mais cínico do que nunca!
Uma Noiva Para Rip Van Winkle, como o próprio título já denuncia, retoma a metáfora do indivíduo "parado" em um tempo remoto trazida pelo conto Rip Van Winkle, para criar um intrincado estudo de personagem, e mais do que isso, um olhar da solidão e carências afetivas em que vivemos dentro da dinâmica urbana moderna, bastante características de grandes cidades japonesas, como Tóquio. São três horas de puro deleite e fascínio interruptos, nas quais somos guiados pelos rumos bizarros da vida da tímida protagonista, interpretada brilhantemente por Haru Kuroki. Agora sei mais do que nunca que preciso conhecer urgentemente o cinema de Shunji Iwai de maneira mais aprofundada.
Absolutamente brilhante, uma das melhores coisas que Philipe Garrel já fez foi este média-metragem estranho e repleto de simbolismos pertencentes ao universo particular não somente de Garrel, mas também de Nico, em uma performance que desnuda a sua própria imagem marcante como musa do rock 'n' roll. O que vemos aqui, é a trajetória de personagens que buscam por si mesmos, em um deserto que reflete a confusão interior que assola o homem. Ao final, chegamos a conclusão de que é impossível "sair da vida", sem pelo menos uma cicatriz, um estigma de todas as agruras que algum dia, nós vivemos. Recomendo para quem for assistir, buscar antes conhecer um pouco mais a respeito da relação entre Nico e Philipe Garrel. É incrível como estas informações, acrescentam significado a esta multifacetada obra da subjetividade.
Em uma tentativa de emular o cinema existencialista e histórico europeu, João Batista de Andrade fez um de seus filmes mais distintos, e talvez, também o seu mais fraco. A obra, apesar da curta duração, consegue gastar um tempo considerável, em tomadas à la Tarkovski, em uma tentativa de destacar o âmago do general necrológico tomado pelo amargor dos sentimentos reprimidos. O resultado, no entanto, não possui a profundidade pretendida, tornando a obra rasa e banal, sem importância histórica ou poder de reflexão.
Quem é Virgil Vernier? Espero ouvir falar mais vezes deste jovem cineasta, com ares de Claire Denis da era tumblr, que logo em sua estréia na direção de longa-metragens me arrebatou por completo com este filme que mostrou mais do que qualquer outro realizado neste século, capaz de compreender a juventude européia contemporânea. Retrato atualíssimo de uma geração perdida no meio dos dilemas e expectativas impostos pela dinâmica capitalista de um mundo globalizado.
Entre tantas outras produções que vêm sido feitas nos últimos anos retratando as relações contratuais, "A Terra e a Sombra" merece ser vista por retratar com precisão e sensibilidade a situação de muitos trabalhadores da zona rural em países subdesenvolvidos, sobretudo, os países latino-americanos. A dureza das imagens, sempre prolongadas em longos e silenciosos takes, junto ao roteiro, tornam a obra quase que um documentário a respeito da vida no campo e a exploração das famílias que vivem neste meio. A volta do pai à sua família após uma longa ausência, representa a tentativa de fuga desta vida sem perspectivas e sem razão de ser, a não ser, o trabalho, o qual é transmitido geracionalmente.
A estréia de Miloš Forman em Hollywood não poderia ter sido mais bem sucedida. O cineasta trouxe muito do humor, ironia e experimentação da New Wave Tcheca para o cinema anglófono, em uma comédia de primeira classe que retrata o choque cultural entre o jovem hippie idealista dos anos 70 e a burguesia conservadora norte-americana.
Ida Lupino mostra pulso firme na direção deste eletrizante e despretensioso noir ao conduzir cenas carregadas de tensão. Palmas também para o desconhecidíssimo William Talman, que domina a película do início ao fim com um dos personagens mais vilanescos e assustadores já vistos em um filme do gênero.
A Alemanha pós-Segunda Guerra Mundial serviu muitas vezes como cenário de cineastas que buscam retratar a desesperança e falta de perspectiva humana, e aqui não poderia ser diferente. Indivíduos deprimidos vagam sem rumo por uma decadente Berlim enquanto divagam acerca da inevitabilidade da morte e impotência diante da grande tragédia da vida. O desfecho, diferente do que possa parecer, não busca ser historicamente remissivo, e sim denunciar a natureza nociva e ambiciosa do homem.
A tarja "for export" no pôster não nega que se trata de um produto feito por um estrangeiro e para estrangeiros, assim como a aclamada obra anterior de Marcel Camus, "Orfeu Negro", porém, devo admitir que a brasilidade aqui soa muito mais autêntica do que em sua obra anterior, conseguindo transpor com graça e beleza o universo amadiano. As passagens musicais dubladas por Maria Creuza são belíssimas e traduzem muito bem o espírito baiano que a obra procura evocar.
Certo Agora, Errado Antes
3.8 49 Assista AgoraTenho um seríssimo problema com o cinema de Hong Sang-soo, por mais que goste muito de suas proposta metalinguísticas, nunca consigo embarcar na experiência proposta por seus filmes. Parece-me que o cineasta crê de maneira exagerada no poder de imersão de seus diálogos e personagens, quando o universo criado por ele só me inspira tédio. A falta de uma personalidade forte e identificável é um problema sério em um filme que se presta a passar duas horas desenvolvendo diálogos banais entre dois personagens, o que funciona maravilhosamente bem na Trilogia Before, por exemplo, aqui se torna um verdadeiro teste de paciência.
A proposta apresenta, assim como a de muitas obras do Sang-soo, é interessante por subverter a própria narrativa, tornando o filme como um objeto consciente da própria existência enquanto obra de arte. Essa experimentação muito me atrai, e poderia ter sido algo muitíssimo interessante, mas o roteiro(e devo admitir que é um problema pessoal), definitivamente não me atrai.
Vou Para Casa
3.9 7É irônico como Manoel de Oliveira, mesmo sendo português, é um dos cineastas que mais se dedicou à homenagear Paris em suas obras. Mais uma vez aqui, a cidade deixa a posição de mero cenário e integra a história como um verdadeiro personagem, que ganha forma com a música das ruas e belíssimas tomadas externas, que nem ao menos tentam esconder a sua função de enaltecimento deste famoso cartão postal. Esta é só uma das várias homenagens que Manoel presta nesta obra, que funciona como um verdadeiro retrato de afetos, tendo como alter ego o veterano francês Michel Piccoli, um personagem que encontra na arte e em seu neto as suas únicas companhias e objetos de devoção.
O teatro e o cinema juntam-se em uma ode do autor que celebra o poder e importância destes em sua vida, completando esta obra que deve ser uma de suas realizações mais belas e pessoais.
Weiner
3.8 10Ainda não me decidi se gostei ou não deste filme de estreia da dupla Elyse Steinberg e Josh Kriegman. Se por um lado acho a montagem eficiente ao criar uma verdadeira narrativa cinematográfica, com momentos divertidos e momentos dramáticos de maneira com que pareça quase como se eles tivessem sido meticulosamente roteirizados, por outro, esta visão excessivamente cinematográfica e fácil de entreter, parece desonesta com a própria história, criando uma visão "pronta para consumir" dos fatos, direcionando de maneira explícita o olhar do espectador. Talvez este último aspecto destaque o talento dos jovens cineastas, que possuem uma visão bastante determinada do filme que querem criar com estas imagens, mas também prejudica o aspecto documental da película, com um material excessivamente manipulado.
Em adendo, pode-se dizer que Weiner oferece um interessante panorama da política atual norte-americana, mesmo que sua imparcialidade seja contestável.
Graduação
3.6 39O maior feito de Bacalaureat é a forma como ele nos faz enxergar a corrupção no próprio cotidiano, observar como é um pensamento que se torna comum, quase que sistematizado dentro da sociedade, e em alguns momentos, chega a parecer aceitável para nós, mesmo que no fundo saibamos que a moral sempre fica comprometida.
O Ornitólogo
3.5 84O Ornitólogo é uma das mais curiosas odisseias cinematográficas que já tive o prazer de acompanhar. Daquelas obras herméticas, repletas de simbolismos, que nos transportam pelas suas loucuras de forma lenta e deliciosa.
Uma ótima surpresa para quem não é nada fã de "O Fantasma" ver que o diretor achou a direção certa para as andanças lascivas e surreais de seus personagens.
O Que Está Por Vir
3.8 102 Assista AgoraEsta minha primeira vez pelo cinema de Mia Hansen-Løve não poderia ter sido mais feliz., "L'Avenir" é uma obra agridoce, que evita ao máximo pesar na tonicidade dramática, sempre leve e lúcida, como a presença solar de Isabelle Huppert, em um dos melhores momentos de sua extensa carreira. Huppert interpreta esta mulher com a dignidade e altivez necessária, mas sem deixá-la desprovida de traços humanos. Nathalie pode ser uma burguesa desiludida com o idealismo e a sede revolucionária da juventude, uma mulher que acabou de perder seu homem, mas ainda assim, é capaz de enxergar o horizonte, o que está por vir.
Brilho Eterno
3.2 37 Assista AgoraSinto alguns ecos de "Persona" e "O Inquilino" neste thriller indie ousado. Pena que a execução não consiga nem transmitir a tensão desejada ou ao menos envolver o espectador.
Destaque para a bela e talentosa Mackenzie Davis, que defende sua personagem com fúria e retração.
Party Girl
3.6 17Angélique é uma verdadeira "party girl", e vai dançar até a última música acabar.
Água Quente Sob uma Ponte Vermelha
3.7 2Dono de uma filmografia repleta de filmes ousados e provocates, Shôhei Imamura antes de partir nos deixou esta última obra, uma comédia nonsense com boas doses de erotismo e humor pastelão. O resultado é bastante irregular, e as gags cômicas não funcionam tanto quanto eu esperava(talvez seja o meu olhar ocidentalizado atuando sobre a minha percepção da obra, confesso), mas ainda assim, é um filme que tem seu charme.
Sinto que a narrativa fluiria de maneira melhor se as tramas paralelas envolvendo os trabalhadores fossem cortadas, dando mais enfoque à relação entre os dois protagonistas, e claro, na "condição sexual bastante peculiar" da personagem de Misa Shimizu.
HyperNormalisation
4.3 23Um dos filmes mais pertinentes do ano, se não da década, HyperNormalisation é um filme didático por excelência, oferecendo um amplo panorama da geopolítica contemporânea, fazendo-nos refletir sobre a dinâmico do mundo globalizado, que rebaixa seres humanas à algoritmos computadorizados.
Or
3.7 2Há muito tempo que gostaria de ver este filme, sobretudo pela presença da excepcional Ronit Elkabetz, no entanto, o que eu encontrei aqui foi muito além do talento desta atriz israelense. É um olhar incisivo sob este microcosmo urbano, feminino e brutal. Uma realidade urbana que faz com que ocorra uma inversão de papéis entre mãe e filha, resultando numa relação pouco comum, mas ao mesmo tempo, repleta de afeto.
A Garota Desconhecida
3.2 112 Assista AgoraRealmente o mais fraco da filmografia dos Dardenne.
Uma tentativa pífia de thriller que se mistura ao drama humanista corriqueiro em seus filmes. Infelizmente, soa mais como um punhado de ideias mal-desenvolvidas(e até mesmo, jogadas aleatoriamente no roteiro). De resto, temos uma bela homenagem ao ofício médico. que é retratado ao mesmo tempo de maneira nobre e desglamourizada.
Belos Sonhos
3.6 14 Assista AgoraFai Bei Sogni é uma espécie de corpo estranho dentro da filmografia do provocateur italiano, mesmo que aborde uma questão bastante recorrente em seu cinema, a tentativa de resgate da figura materna. Desta vez, no entanto, a abordagem é mais melodramática e familiar, mostrando uma aproximação do cineasta com o grande público.
O roteiro talvez seja "quadrado" e açucarado demais para mim, apelando para diversos momentos esquemáticos, como uma sequência pouco natural de dança no melhor estilo feel-good movie.
Entre os pontos positivos estão a representação da infância oferecida por ele, que não deixa de ser interesse(por mais que esteja longe de ser original), e a participação relâmpago de Emmanuelle Devos, que nos faz desejar que a atriz tenha muito mais tempo de tela.
Sully: O Herói do Rio Hudson
3.6 577 Assista AgoraSó mais um folhetim de engrandecimento ao homem "comum" norte-americano protagonizado por Tom Hanks. O resultado, no entanto, é ainda mais fraco do que eu esperava, e os problemas são inúmeros: roteiro formulaico repleto de frases de efeito(que não causam tanto efeito assim), Tom Hanks no piloto automático, uma história que claramente não justifica um longa-metragem(surge daí a necessidade risível de se repetir uma mesma sequência inúmeras vezes ao longo do filme, mesmo que esta por sua vez acabe por perder completamente seu potencial dramático), Laura Linney em uma representação absolutamente batida e dispensável da esposa exemplar preocupada que passa o tempo todo no telefone, entre vários outros.
Clint Eastwood já esteve melhor, muito melhor.
Elle
3.8 886"A Mulher Fatal Encontra o Homem Ideal" é o título de um famoso curta da Carla Camurati, mas também poderia ser o deste novo thriller do Verhoeven, que prova aqui estar mais cínico do que nunca!
Uma Noiva Para Rip Van Winkle
3.9 29Uma Noiva Para Rip Van Winkle, como o próprio título já denuncia, retoma a metáfora do indivíduo "parado" em um tempo remoto trazida pelo conto Rip Van Winkle, para criar um intrincado estudo de personagem, e mais do que isso, um olhar da solidão e carências afetivas em que vivemos dentro da dinâmica urbana moderna, bastante características de grandes cidades japonesas, como Tóquio.
São três horas de puro deleite e fascínio interruptos, nas quais somos guiados pelos rumos bizarros da vida da tímida protagonista, interpretada brilhantemente por Haru Kuroki.
Agora sei mais do que nunca que preciso conhecer urgentemente o cinema de Shunji Iwai de maneira mais aprofundada.
A Cicatriz Interior
4.1 12Absolutamente brilhante, uma das melhores coisas que Philipe Garrel já fez foi este média-metragem estranho e repleto de simbolismos pertencentes ao universo particular não somente de Garrel, mas também de Nico, em uma performance que desnuda a sua própria imagem marcante como musa do rock 'n' roll.
O que vemos aqui, é a trajetória de personagens que buscam por si mesmos, em um deserto que reflete a confusão interior que assola o homem.
Ao final, chegamos a conclusão de que é impossível "sair da vida", sem pelo menos uma cicatriz, um estigma de todas as agruras que algum dia, nós vivemos.
Recomendo para quem for assistir, buscar antes conhecer um pouco mais a respeito da relação entre Nico e Philipe Garrel. É incrível como estas informações, acrescentam significado a esta multifacetada obra da subjetividade.
O País dos Tenentes
3.2 7Em uma tentativa de emular o cinema existencialista e histórico europeu, João Batista de Andrade fez um de seus filmes mais distintos, e talvez, também o seu mais fraco.
A obra, apesar da curta duração, consegue gastar um tempo considerável, em tomadas à la Tarkovski, em uma tentativa de destacar o âmago do general necrológico tomado pelo amargor dos sentimentos reprimidos. O resultado, no entanto, não possui a profundidade pretendida, tornando a obra rasa e banal, sem importância histórica ou poder de reflexão.
Mercuriales
3.1 8 Assista AgoraQuem é Virgil Vernier? Espero ouvir falar mais vezes deste jovem cineasta, com ares de Claire Denis da era tumblr, que logo em sua estréia na direção de longa-metragens me arrebatou por completo com este filme que mostrou mais do que qualquer outro realizado neste século, capaz de compreender a juventude européia contemporânea. Retrato atualíssimo de uma geração perdida no meio dos dilemas e expectativas impostos pela dinâmica capitalista de um mundo globalizado.
A Terra e a Sombra
3.8 52 Assista AgoraEntre tantas outras produções que vêm sido feitas nos últimos anos retratando as relações contratuais, "A Terra e a Sombra" merece ser vista por retratar com precisão e sensibilidade a situação de muitos trabalhadores da zona rural em países subdesenvolvidos, sobretudo, os países latino-americanos.
A dureza das imagens, sempre prolongadas em longos e silenciosos takes, junto ao roteiro, tornam a obra quase que um documentário a respeito da vida no campo e a exploração das famílias que vivem neste meio. A volta do pai à sua família após uma longa ausência, representa a tentativa de fuga desta vida sem perspectivas e sem razão de ser, a não ser, o trabalho, o qual é transmitido geracionalmente.
Procura Insaciável
4.0 20A estréia de Miloš Forman em Hollywood não poderia ter sido mais bem sucedida. O cineasta trouxe muito do humor, ironia e experimentação da New Wave Tcheca para o cinema anglófono, em uma comédia de primeira classe que retrata o choque cultural entre o jovem hippie idealista dos anos 70 e a burguesia conservadora norte-americana.
O Mundo Odeia-Me
3.6 33 Assista AgoraIda Lupino mostra pulso firme na direção deste eletrizante e despretensioso noir ao conduzir cenas carregadas de tensão. Palmas também para o desconhecidíssimo William Talman, que domina a película do início ao fim com um dos personagens mais vilanescos e assustadores já vistos em um filme do gênero.
A Sombra dos Anjos - O Lixo, a Cidade e …
4.0 3A Alemanha pós-Segunda Guerra Mundial serviu muitas vezes como cenário de cineastas que buscam retratar a desesperança e falta de perspectiva humana, e aqui não poderia ser diferente. Indivíduos deprimidos vagam sem rumo por uma decadente Berlim enquanto divagam acerca da inevitabilidade da morte e impotência diante da grande tragédia da vida.
O desfecho, diferente do que possa parecer, não busca ser historicamente remissivo, e sim denunciar a natureza nociva e ambiciosa do homem.
Os Pastores da Noite
3.6 4A tarja "for export" no pôster não nega que se trata de um produto feito por um estrangeiro e para estrangeiros, assim como a aclamada obra anterior de Marcel Camus, "Orfeu Negro", porém, devo admitir que a brasilidade aqui soa muito mais autêntica do que em sua obra anterior, conseguindo transpor com graça e beleza o universo amadiano.
As passagens musicais dubladas por Maria Creuza são belíssimas e traduzem muito bem o espírito baiano que a obra procura evocar.