Jack Reacher: Sem Retorno pode lembrar muito Assassino a Preço Fixo 2. Porque? São duas franquias que tiveram uma receptividade aceitável e que resolveram seguir apostando nesta fórmula do sucesso, que é produzir filmes que possam ser considerados referências de clássicos de ação dos anos 90. E, infelizmente, o longa protagonizado por Tom Cruise funciona apenas como isso, uma homenagem aos longas de ação do passado.
Não existe um roteiro bem desenvolvido e todos diálogos tem como objetivo criar frases de efeito e servem como um trampolim para as cenas de ação. Entretanto, estas cenas são bem desenvolvidas e funcionam. O Tom Cruise é um bom ator e, lembrando da franquia Missão Impossível, fica difícil compreender o motivo dele estar produzindo e protagonizando filmes como esse.
Além disso, não existe química nenhuma entre o elenco e, por mais que o diretor Edward Zwick tente, é impossível se preocupar com a vida do Jack Reacher. Isso porque, por mais surreal que seja a cena, ele vai sobreviver e tudo não passará de um arranhão no seu rosto. Pessoalmente eu gosto de filmes assim e o longa não me desagradou. Porém, ele acaba sendo aquele filme que, por mais que tu curta assisti-lo, todos sabem que ele é um filme ruim.
Não sei como ficará essa franquia, pois ele deixou alguma pontas abertas para que o longa tenha mais uma continuação. Todavia, fica claro que, por mais que agrade um público nostálgico e que sente falta de filmes de ação que foquem apenas nisso, na ação, os roteiristas podem trabalhar um pouco para, pelo menos, existir uma motivação mais plausível do que você se arriscar por uma pessoa que você nem conhece.
A Chegada é o novo longa do diretor Denis Villeneuve, conhecido pelo seu trabalho em Sicário e Os Suspeitos. No longa, acompanhamos a linguista Louise Banks, interpretada por Amy Adams, que é convocada pelo exército para tentar se comunicar e traduzir o que os alienígenas que chegaram na terra querem fazer aqui. Para que se entenda melhor: em um determinado dia, doze (acho) espaçonaves chegam a terra e o mundo procura formas de se comunicar com ele. É por isso que Louise é procurada.
O longa, com certeza, é o grande sci-fi de 2016 e, provavelmente, um dos melhores filmes lançados neste ano. E digo isso porque ele consegue reconhecer suas limitações e trabalhar para que elas não fiquem aparentes. Um exemplo disso é o papel de Jeremy Renner. Particularmente eu não gosto do ator (conheço mais gente que divide esta opinião comigo) porém, no filme, o papel dele não é de protagonista e, por não ter tanto destaque, acaba não incomodando e até agradando que está assistindo.
Entretanto, não podemos falar de atuação sem parabenizar Amy Adams. Digo mais: será injusto ela não ter, pelo menos, uma indicação ao Oscar 2017. A atriz está perfeita no filme, pois consegue transparecer todos os seus dilemas, confusões mentais e dramas vividos. Além disso, ela traz consigo a empatia e faz com que o público se envolva com a sua história. Óbvio que este é um trabalho também do diretor Villeneuve, mas Amy merece aqui ter seu trabalhado destacado.
O filme é todo desenvolvido pelo ponto de vista de Louise e esse é um ponto acertado da ótima de Villeneuve. O diretor conseguiu, através de planos de filmagem, nos fazer sentir confusos igual Louise e isso fez com que o telespectador viajasse junto com ela para esta história. Além disso, a não linearidade da história que, no início, causa confusão no público, acaba sendo brindada por um dos maiores plot twists do ano.
Além disso, A Chegada levanta algumas discussões pesadas sobre as atitudes de Louise, São debates que nos fazem pensar muito antes de tomar qualquer atitude e eu não quero aqui dar nenhum spoiler sobre isso, para não estragar a experiência de tela. Outros pontos interessantes são as referências que temos a filmes como 2001: Uma Odisseia no Espaço e Interestelar. Isto porque questões como a viagem no tempo são retratadas de forma magnífica no filme.
Temos aqui um dos melhores filmes de 2016 e um dos possíveis indicados as premiações de 2017. Aguardado pelos fãs de sci-fi, o longa agrada pela sua mitologia e consegue, através de uma direção e de uma protagonista competentes, entregar um material de qualidade e original. Com certeza, uma grata surpresa neste final de ano.
Uma das cantores mais reconhecidas no Brasil e, com certeza, merecedora de uma cinebiografia, Elis Regina terá sua história contada nas telonas. O longa, que já havia estreado no Festival de Gramado, chega ao circuito nesta quinta-feira e, pode ser considerado, um dos melhores filmes nacionais deste ano.
Elis Regina, interpretada por Andreia Horta, foi uma cantora que viveu no período da ditadura militar e passou por vários problemas por causa de seu temperamento explosivo e por não ter papas na língua. Além disso, também é considerada por muitos como uma das precursoras da MPB. Só por causa disso, já sabemos que o que não faltava era história para contar sobre a cantora gaúcha. Tanto é que, em entrevista coletiva, o diretor e roteirista Hugo Prata destacou como foi difícil definir o que entraria no filme e o que ficaria de fora.
- Foi bastante difícil tomar essa decisão e escolher quais episódios iriam entrar nesse roteiro. Não caberia tudo, mas a gente queria ir da chegada dela (no Rio de Janeiro) até o final da vida dela. E aí sim, selecionar só os episódios que levam a nossa história para frente.
Entretanto, com essa escolha, além de perdermos o início dela em Porto Alegre, também fica um pouco complicado compreender os pulos temporais. De tempos em tempos, temos passagens que ficam mal explicadas ou pouco desenvolvidas. Não que isso prejudique a experiência de assistir ao filme, mas acaba atrapalhando um pouco o andar da história. Talvez esse seja, para mim, o único ponto negativo de Elis.
Agora, talvez a melhor coisa do filme, tem de ser comentada: Andreia Horta. Que trabalho magnífico fez a atriz em dar a vida para Elis Regina. Antes da coletiva de imprensa já foi possível notar que o envolvimento da atriz com a personagem era algo único e que a preparação e dedicação vistas no cinema era algo que realmente havia acontecido. A atriz consegue dar vida e interpretar com maestria a cantora gaúcha. O destaque é tanto que a mesma disse que realmente cantava nas gravações e que, em algumas ocasiões, chegou a ficar sem voz.
- Foram três meses com preparadores em sala de ensaio, um deles era um preparador musical… porque ela (Elis) tinha um pulmão inacreditável, um fôlego extraordinário… A Maria Silva Siqueira Campos, é a minha parceria mais longeva de trabalhos… eu sempre chamo a Maria pra gente levantar o personagem juntas, mas dessa vez ela acabou preparando todo o elenco também.
O filme, vencedor do prêmio de Juri Popular no Festival de Gramado e que teve Andreia como vencedora do Kikito de Melhor Atriz, está estreando no cinema e merece a atenção do público brasileiro. A história de vida de Elis Regina merece ser prestigiada e o trabalho realizado pelo diretor, roteiristas e elenco é digno da trajetória da cantora gaúcha.
Um Estado de Liberdade acompanha a história de Newton Knight, interpretado por Matthew McConaughey, entre 1862 e 1876, nos apresentando ao enfermeiro do exército que abandona a Guerra Civil americana e que se opõe a escravidão e a tudo que não acredita. Para quem não sabe, esta história grandiosa é verídica. É uma pena que o o filme também não tenha sido grandioso.
A maioria dos erros - senão todos - passam pelo diretor e roteirista do filme, Gary Ross. Isto porque o elenco do filme, em especial Matthew McConaughey, está muito bem. Todos dão conta do recado e conseguem entregar toda a carga dramática que suas histórias precisam. Destaco a atuação de McConaughey porque ele deu vida ao protagonista do filme e, durante todo o longa, é possível perceber as nuances e as mudanças que a vida dura de Knight fizeram no seu caráter.
O filme tem um bom começo, com a história de Knight ainda como enfermeiro do exército até o momento em que ele consegue formar um exército no pântano para lutar pelo direitos e ideais dos negros. O problema é que o longa não acaba nunca. Ele luta a guerra, tem a libertação dos escravos, ele faz mais coisas, os escravos continuam sofrendo, surge a Ku Klux Klan e o filme nunca termina. A narrativa fica cansativa e, a tendência, é que o público fique olhando para o relógio e pensando quando tempo falta para acabar.
Não que a história do protagonista não seja boa e inspiradora, afinal ele liderou um exército para defender seus ideais. Mas não precisa de mais de duas horas para contar esta história. Com certeza, Gary Ross poderia ter escolhido um recorte menor para abordar mas, na tentativa de abraçar tudo, acabou produzindo um filme cansativo e que, depois de uma hora e meia, não empolga mais.
Outra coisa que me incomodou - e muito - foi a alternância da trama de Knight com a de um julgamento de um descendente dele, que acontece 85 anos depois dos acontecimentos do filme. Além de contar spoilers da história, por revelar detalhes da trama antes deles acontecerem, serve apenas para mostrar que ainda existia racismo no sul dos EUA no meio do século XX. Só que não faz sentido essas cenas no meio do filme, porque só enchem um espaço e, sem elas, o longa não perderia nada.
Mas, se tem outro ponto que merece elogios é o trabalho de fotografia do filme. Toda a ambientação é bem planejada e as cenas do pântano são lindas. Além disso, as cenas de batalha são muito bem dirigidas e consegue transparecer a realidade que se estava vivendo naquela época. Ouso dizer aqui que, como um filme de guerra, Um Estado de Liberdade funciona, mas, para contar a história de um herói americano, ele falha em construir algo que não te canse.
Antes de começar esta crítica tenho que ressaltar que, pela primeira vez, escreverei sobre um filme que vem de uma saga da qual sou fã. Digo isso porque é muito difícil separar o lado fã deste texto, porém tentei de todas as formas. O filme tem defeitos? Claro que tem e pretendo citar eles aqui, entretanto, Animais Fantásticos e Onde Habitam conta com mais acertos e se torna um dos melhores filmes de 2016 ou, pelo menos, o melhor que o universo de Harry Potter poderia esperar.
Para quem não sabe, o novo filme do universo de Harry Potter se passa antes dos acontecimentos retratados na saga do bruxinho. Como é possível compreender pela sinopse do filme, Animais Fantásticos e Onde Habitam nos apresenta ao bruxo Newt Scamander, interpretado por Eddie Redmayne, que é um pesquisador que está catalogando as criaturas existentes na terra para escrever o seu livro sobre eles. Para quem não sabe, na franquia de Harry Potter, o livro dele aparece como uma das leituras obrigatórias de Hogwarts.
Para isso, Scamander carrega em sua mala mágica as criaturas que ele já estudou ou vem estudando. O problema é que ele acaba trocando de malas com Jacob Kowalski, um trouxa (ou não-maj) interpretado por Dan Fogler. Este homem, que acaba se tornando companheiro de Scamander durante o longa, não nota a troca e acaba soltando as criaturas por Nova York. Praticamente nesse momento o filme começa: com Scamander correndo atrás de seus animais antes que eles façam estragos demais pela cidade.
Agora entrando mais na crítica do longa. Pela primeira vez o universo bruxo sai do Reino Unido e entra em outro país. Desde o início podemos notar que, nos EUA, as regras e leis são diferentes para os bruxos do que estamos acostumados. Felizmente, isso também é novidade para Scamander e, no decorrer do filme, isso acaba sendo bom, pois é com ele que nos identificamos e, quando explicam para ele essas diferenças, o público acaba compreendendo junto com o protagonista sobre este mundo bruxo dos Estados Unidos.
Eu não vou me aprofundar muito no enredo do filme, pois não quero dar nenhum tipo de spoiler que possa prejudicar a experiência como um todo. Mas teve algo que me agradou e que posso deixar explícito aqui: Animais Fantásticos e Onde Habitam não se baseia somente na captura destas criaturas. Essa é a motivação inicial do filme, porém existe uma história maior em volta do protagonista e, felizmente, é esse background que dá força para o longa prender a atenção do público durante pouco mais de duas horas de filme.
O elenco do filme está de parabéns. Eddie Redmayne, sem sombra de dúvidas, é o destaque deste longa. O ator consegue entregar uma carga emocional para Scamander, ao mesmo tempo que encaixa muito bem que a timidez e com a sensação de que ele está deslocado sempre. Isso faz com que o público sinta uma empatia enorme pelo personagem e se preocupe com o seu futuro na trama. O elenco todo está ótimo, mas existem mais dois nomes que merecem ser destacados: Dan Fogler e Colin Farrell. Os dois são importantíssimos para o filme, um como a válvula de escape para o lado cômico, enquanto o outro tendendo mais para o lado dramático.
Uma das críticas que eram feitas para o filme foi a escolha do diretor. Entretanto David Yates está muito bem no filme,conseguindo dividir o tempo de cenas do personagem e dirigindo um dos melhores efeitos especiais vistos no cinema neste ano. Talvez, a única coisa que me incomode, seja o excesso de aparatos, pois isso acaba fazendo com que o telespectador se perca no espaço-tempo do filme e não consiga se localizar. Acho que essa é a minha única crítica ao filme, pelo menos enquanto escrevo esta crítica.
Com certeza uma ótima escolha da Warner Bros para se retomar uma das maiores franquias do estúdio. Animais Fantásticos e Onde Habitam consegue funcionar como algo saudosista e também apresenta conceitos para uma nova saga no cinema. Depois de ver esse filme eu só posso dizer que confio em J.K. Rowling, pois ela tem o domínio deste universo e, com certeza, cuidará com muito carinho desta franquia e desta história.
O longa Pequeno Segredo é baseado em uma história real e conta a história da menina Kat, interpretada por Mariana Goulart, desde antes de seu nascimento. Isso porque somos apresentados primeiros aos seus futuros pais e, posteriormente, a família Schürmann, responsável pela adoção e criação da criança. Para quem não conhece, essa família ficou conhecida por dar uma volta ao mundo em seu veleiro.
No longa, o diretor David Schürmann optou por contar duas histórias em paralelo. Ao mesmo tempo em que o público acompanhava o romance de Jeanne, interpretada por Maria Flor, e Robert, interpretado por Erroll Shand, também era possível saber o que acontecia na vida de Kat. Porém, essa sacada do diretor para dar um ritmo para a trama acabou prejudicando um pouco a experiência. Isso porque ficaram confusas essas linhas temporais e demora muito para que as duas histórias se interliguem e faça sentido.
Além disso, o roteiro do filme encontra alguns percalços, como quando considera o seu público burro e acaba explicando para ele tudo que acontece. Atos como esse fazem com que o telespectador perca o interesse e o envolvimento com a história, que tinha tudo para conquistar. E conquista. Apesar de alguns problemas e de o roteiro não focar tanto na menina, mas sim na sua mãe adotiva, interpretada por Júlia Lemmertz, existe emoção em cenas grandiosas do filme, como um monólogo sobre o sentido da palavra amor.
Muito disso se dá por causa do elenco, principalmente por Júlia Lemmertz e Mariana Goulart, que conseguem carregar boa parte do drama. A personagem de Fionnula Flanagan, por outro lado, é muito mal desenvolvida, de uma forma que a transforma em uma grande vilã para, depois do monólogo citado acima, ela mudar completamente de perfil. Esse é mais um exemplo de como o roteiro trata o seu público de uma forma simplória. Já o resto do elenco não consegue chegar ao nível das duas primeiras e entregam atuações simples e apagadas.
O filme cumpre seu papel e, graças a uma boa história e de boas atuações, consegue deixar claro o motivo de ter sido o longa brasileiro indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro. Fica difícil saber se vai estar entre os cinco indicados e até se vai ganhar. Porém, está claro que o Ministério da Cultura escolheu um filme que tem a cara do prêmio e é nesse quesito que todos esperam que Pequeno Segredo alcance o seu lugar ao sol.
A Luz Entre Oceanos é uma adaptação do livro homônimo de M.L. Stedman, que conta a história de Tom Sherbourne, interpretado por Michael Fassbender, um veterano da Primeira Guerra Mundial que passa por dificuldades para se reposicionar na sociedade. Isso tudo graças ao que ele presenciou em combate e que não sai de sua cabeça. Um misto de amargura com culpa, que o faz se isolar e privar-se de sentimentos e vontades.
Por causa disso, Sherbourne aceita o emprego de faroleiro, onde viveria isolado. Porém, antes de se mudar para a ilha do farol, acaba conhecendo Isabel Graysmark, interpretada por Alicia Vikander. É nesse momento em que, depois de pensar, Sherbourne resolve dar uma nova chance a felicidade e acaba se envolvendo com Isabel. Após o casamento, os dois vão morar na ilha do farol e começam a sua história de vida.
Depois disso, o filme se transforma em um dos melhores (senão o melhor) dramas de 2016. Isso porque, na ilha, eles encontram a felicidade, mas também passam por percalços e problemas que põem à prova o relacionamento dos dois, com seus empecilhos e "milagres". Boa parte desta carga dramática está com Alicia Vikander, que consegue envolver o público de tal forma que foi impossível não derramar nenhuma lágrima junto com ela.
Não quero dar nenhum spoiler maior sobre o filme porque acredito que, apesar de previsível em alguns aspectos, o roteiro de Derek Cianfrance é tão envolvente que consegue ocasionar um impacto emocional e forte. Muito disso, é claro, graças ao trabalho de Fassbender e Alicia (e outros nomes do elenco). Isso tudo sem falar no trabalho do diretor, que ganhará um parágrafo próprio nesta crítica.
A direção ficou por conta do próprio Cianfrance, que conseguiu tirar o máximo proveito dos seus protagonistas, que podem ser considerados grandes nomes dessa "nova" geração. Além disso, o trabalho de fotografia, figurino e a paleta de cores foram muito executados. Eles não chamam a atenção mais que o filme, mas complementam e servem como ferramentas que auxiliam na narrativa, desta que é uma das mais lindas histórias que o cinema teve em 2016.
Trolls é a nova animação da DreamWorks, estúdio responsável por Shrek, Madagascar e Kung Fu Panda. No longa, acompanhamos a história da princesa Poppy e do rabugento Tronco, que estão em uma missão: salvar os trolls sequestrados por uma Bergen. Isso porque, os bergens são seres que dizem só conseguir alcançar a felicidade depois de comer um troll.
O filme começa 20 anos atrás, quando os trolls ainda eram aprisionados pelos bergens, que os comiam a cada Trollstício. Assim, eles conseguiriam provar a felicidade pelos menos uma vez na vida. Porém, os pequenos trolls conseguem fugir e a bergen que era a guardiã da árvore é banida da cidade. Passados 20 anos, os trolls seguem livres, se abraçando, cantando e fazendo muitas festas. Todos menos o Tronco, que é um troll ranzinza e que nem cor tem mais. Ele pensa o tempo inteiro que os bergens vão achá-los e por isso vive com medo e escondido em sua casa.
Trolls funciona como um musical, com grande elenco de dubladores (entre eles Justin Timberlake) e que conquista o público, seja pela fofura de seus personagens como também pelas mensagens que o filme quer passar. A animação é muito bem executada, com seus protagonistas muito bem desenvolvidos e com um foco em grandes canções, como Total Eclipse Of The Heart, de Bonnie Tyler; The Sound of Silence, de Simon & Garfunkel; e Can't Stop the Feeling, de Justin Timberlake.
A animação não tem aquelas mensagens profundas e nem cenas que fazem o público chorar, mas funciona e atende uma demanda de filmes divertidos e simples, que conseguem divertir tanto crianças como adultos. Por isso, Trolls e a DreamWorks mostram que estão prontos para seguir investindo em animações que conseguem fazer com que o telespectador se divirta.
O filme conta a história de Bennie Chan, interpretado por Jackie Chan, um policial que, há nove anos, perdeu o seu parceiro e, desde então, tenta provar que Victor Wong, interpretado por Winston Chao, é o culpado por sua morte. Enquanto isso, Bennie também prometeu ao seu parceiro que cuidaria da filha dele, Samantha, interpretada por Bingbing Fan. Só que a menina acaba se envolvendo com a máfia de Wong e Bennie se vê obrigado a investigar o apostador que viu tudo, Connor Watts, interpretado por Johnny Knoxville. Para isso, Bennie deve capturar e levar Connor de volta a Hong Kong, para assim salvar sua afilhada e provar o poder que Wong tem.
Essa é, basicamente, a premissa de todo o longa. Durante quase duas horas vemos essa busca de Bennie por Connor e depois para provar o lado podre de Wong. E, nesse sentido, Fora do Rumo funciona como uma boa comédia policial, com bastante ação e cenas divertidas, lembrando um pouco outros filmes de Jackie Chan, como A Hora do Rush. Além disso, vemos o ator trabalhar muito bem em suas cenas típicas de luta, muitas vezes sem o uso de dublês. Outro ponto interessante foi a sintonia entre os dois atores, que pareciam já terem trabalhado juntos antes.
Também merece um destaque o trabalho de fotografia do filme. As cenas produzidas com um plano mais aberto apresentam paisagens muito bonitas de lugares como Macau, Deserto de Gobi na Mongólia até chegar na fronteira da China. Além disso, somos apresentados a diversas histórias da cultura chinesa, em uma aula de história de Bennie sobre as mitologias e crenças dos chineses. Esse, com certeza, foi mais um acerto do longa.
Dirigindo esse filme estava Renny Harlin, conhecido pelo seu trabalho em Duro de Matar 2 e Risco Total, peca em construir essas cenas com belas fotografias. Digo que peca porque elas não servem para muita coisa. É quase uma ideia de mostrar cartões postais do país. Eu elogiei o trabalho fotográfico, que é realmente belo, mas penso se existia um motivo por trás desta arte aparecer. Em algumas vezes pareceu que essas paisagens estavam lá por estar, e nada mais.
Além disso, temos um roteiro preguiçoso e repetitivo, que tinha tudo para prestar uma grande homenagem ao trabalho de Chan e aos seus filmes clássicos, mas que pecou em repetir piadas e construir diálogos surreais. Engraçados, mas surreais. O longa acabou perdendo a sua verossimilhança dentro de seu universo muito graças a essas cenas e diálogos que fugiram um pouco do contexto do filme (coral de canção da Adele?).
Porém, apesar de uma direção falha e de um roteiro preguiçoso, Fora do Rumo funciona como uma homenagem aos filmes de ação e comédia protagonizados por Chan no passado. Além disso, a dupla funciona e o longa agrada e diverte quem está na platéia. Espero que esse estilo de produções divertidas e inocentes sejam retomadas por Chan e que ele consiga dar conta de todas essas cenas de ação durante muito tempo.
O filme A Garota no Trem é baseado em um livro, de mesmo nome, escrito por Paula Hawkins, que conta a história de Rachel, interpretada por Emily Blunt, uma mulher abalada psicologicamente por não compreender o seu divórcio. Enquanto ela passava de trem pela frente de sua antiga casa, Rachel imaginava uma vida perfeita, quando via os seus antigos vizinhos. Entretanto, esse envolvimento fica tão grande que foge do controle no momento em que ela começa a enxergar coisas diferentes do convencional daquele casal.
Como eu não li o livro, estou focando apenas na crítica do filme e comentarei pouco sobre a adaptação em si. Porém, pelo que estou ouvindo falar, os leitores do best seller podem ficar tranquilos, pois o roteiro de Erin Cressida Wilson respeita a trama original. Tanto é que, no início, quando somos apresentados as três personagens principais, vemos uma divisão de capítulos, remetendo a obra original. Além de Rachel, que é a protagonista do longa-metragem, temos também a presença de outras duas mulheres fortes e com perfis distintos: Anna, interpretada por Rebecca Ferguson, a atual esposa do ex-marido de Rachel; e Megan, interpretada por Haley Bennet, o objeto da obsessão da protagonista.
Todas as três personagens são muito bem construídas, com todo o seu background trabalho e um fundo emocional e de empatia com o público. Além disso, as constantes reviravoltas fazem com que esse envolvimento por parte do telespectador aumente e isso é um ponto positivo da boa história que o diretor Tate Taylor teve em suas mãos. E, nesse quesito, Taylor conseguiu encaixar muito bem a trama e possibilitou que o público se sentisse próximo e se preocupasse com o que iria acontecer com cada uma das três personagens.
Nesse sentido, essa empatia também é um mérito do elenco, que consegue entregar toda a carga emocional necessária para papéis tão complexos e bem construídos. Todas as três mulheres mostram um trabalho muito maduro, também graças ao bom roteiro do filme e ao material de origem também. Infelizmente, enquanto as mulheres entregam um nível alto de qualidade, o trio masculino, que conta com os atores Luke Evans, Justin Theroux e Edgar Ramírez, pecam um pouco e deixam a desejar, seja pela sua interpretação como também por suas motivações.
A Garota no Trem é um bom longa, bem dirigido e com um roteiro bem amarrado, apesar de alguns furos. Com personagens femininas fortes e os masculinos não tão bem desenvolvidos, o longa dá conta do recado e entrega uma adaptação de qualidade para o seu público-alvo, cumprindo boa parte das expectativas. Além disso, o filme não serve apenas como uma forma de entretenimento, mas sim de debate sobre questões importantes e que estão em pauta no momento, como a violência e o abuso contra a mulher.
No filme acompanhamos a história de Chris, interpretado por Ben Affleck, que é diagnosticado com a síndrome de Asperger e que tem a facilidade de resolver grandes problemas matemáticos. Tanto é que o protagonista do filme trabalha como contador de criminosos conhecidos mundialmente e, ao mesmo tempo, administra um pacato escritório de contabilidade.
Durante o longa, temos duas histórias sendo trabalhadas: uma delas é a auditoria que Chris está fazendo em uma empresa de robótica, enquanto isso dois agentes do Governo, interpretados por J.K. Simmons e Cynthia Addai-Robinson trabalham para descobrir que é o famoso contador dos criminosos. O problema dessa segunda trama é que ela não foi para lugar nenhum e serviu apenas para que Simmons entregasse um bom papel, mas sem fundamento.
Enquanto isso, Chris descobre um rombo financeiro dentro da empresa de robótica. Com a ajuda da funcionária Dana, interpretada por Anna Kendrick, Depois disso toda a história se desenrola e se transforma em um thriller de ação desenfreado, com cenas de ação intensas e reviravoltas focadas na vida de Chris. Isso porque surge o assassino interpretado por Jon Bernthal. Além disso, somos apresentados ao passado do personagem, através de flashbacks que apresentam um pouco do passado e dos dramas vividos pelo protagonista.
O problema é que esses flashbacks não funcionam tão bem assim e as subtramas (como a dos agentes e a do assassino) são subaproveitadas, de forma rasa e sem a profundidade que tais histórias mereciam. Entretanto, de pontos positivos, temos o enredo principal sendo bem embasado e abordado com uma boa dose de cenas de ação e outras mais cadenciadas. Isso é mérito de Gavin O'Connor, que consegue construir um filme conciso durante boa parte.
Além disso, temos Ben Affleck em uma de suas melhores atuações da carreira, entregando um personagem com uma carga dramática e com uma série de problemas pessoais e psicológicos de forma convincente. Porém, no caso do elenco, não temos do que reclamar, afinal todos foram muito bem em suas atuações, entregando personagens com um bom background e sem exageros.
Talvez o maior problema de O Contador esteja nos seus minutos finais, quando o telespectador tem sua inteligência sendo desafiada em uma das cenas mais clichês e esperadas vistas nesse ano. Chega um momento que a revelação feita não pega ninguém de surpresa, pois tal ação já vinha sendo desenvolvida. Sem falar na condição de super-herói que tem Chris, onde é atacado por vários homens e sai da história praticamente ileso.
No geral, O Contador é um bom filme, tendo uma trama original e contando com boas premissas. Entretanto, faltaram explicações, coerências e uma verossimilhança maior na abordagem da história. Em uma grande atuação de Ben Affleck (com referência aos filmes de super-heróis), vemos aqui um filme interessante, mas que tinha tudo para um excelente longa.
Horizonte Profundo - Desastre no Golfo conta a história de um dos maiores desastres ambientais da história dos Estados Unidos. Isso aconteceu no ano de 2010, no Golfo do México. Durante o filme, o público acompanha a visão do engenheiro-chefe Mike Williams, interpretado por Mark Wahlberg, que é um trabalhador que estava na plataforma durante o acidente.
O roteiro do filme é baseado em um artigo "Deepwater Horizon’s Final Hour", publicado pelos jornalistas David Rohde e Stephanie Saul, no The New York Times. O longa apresenta os momentos que antecederam o desastre, com uma boa dose de ação e drama, sempre apresentado pelo ponto de vista de Mike Wiiliams. É o protagonista que tem sua história contada desde o início, quando ainda estava se preparando para a viagem até a plataforma.
No longa, Peter Berg tenta construir um envolvimento do público com o protagonista, mas é algo que acaba soando forçado e algumas cenas se tornam desnecessárias para a evolução do filme. Além disso, o diretor também tenta inserir o público dentro daquela realidade e, para isso, acaba abusando de termos técnicos, que acabam fugindo um pouco do domínio de quem assiste e isso pode fazer que o telespectador perca um pouco o interesse pela história.
Entretanto, Horizonte Profundo - Desastre no Golfo tem mais acertos do que erros. As cenas de explosões ou que exigem um trabalho maior de efeitos especiais é muito bem executada. Talvez por saber das dificuldades ou por falta de orçamento, Peter Berg acaba não abusando de cenas magistrais e foca mais na luta dos trabalhadores pelas suas vidas. Com certeza foi escolha acertada, afinal o elenco estava muito bem e o risco de se perder uma bom filme, devido a construção de cenas surreais, era grande.
Outro ponto positivo do longa foi a verossimilhança. É óbvio que o filme é baseado em fatos, mas sabemos o quanto alguns diretores mudam alguns pontos por não se sentirem obrigados a contar a história como ela realmente aconteceu. Mas isso não acontece aqui e podemos ver os trabalhadores sem nenhum tipo de heroísmo, mas sim lutando pelas suas vidas e pela vida de seus colegas. Ações essas que todos tomariam, caso fosse necessário.
Além disso, Horizonte Profundo - Desastre no Golfo não poupa esforços para mostrar o lado obscuro da empresa que estava por trás de todos os erros que culminaram nesse desastre. Peter Berg não mostra apenas o fato, mas também constrói uma homenagem aos mortos daquele dia e mostra o que aconteceu ou pode acontecer com os donos da British Petroleum. Esse longa não é só mais um filme de desastre, mas funciona também como uma lembrança para que erros como esse não se repitam.
O filme é baseado em mais um livro de Dan Brown e dá sequencia as outras duas obras do autor: O Código Da Vinci e Anjos e Demônios. Essa é mais uma parceria entre o escritor, o diretor Ron Howard e o ator Tom Hanks, que reprisa seu papel de professor Robert Langdon. Como eu não li o livro, essa crítica será somente do filme e não poderei falar muito sobre a adaptação do livro para o cinema.
No início do longa já somos apresentados ao nosso professor e sabemos que ele está tendo visões do Inferno de Dante, tema esse que é recorrente em toda a trama. Além disso, ele não sabe como chegou a Itália e nem o que aconteceu com ele para estar internado em um hospital. A partir disso toda a drama se encaminha. Isso porque ele descobre que está de posse de um mapa que, depois de decodificado, deve dar o caminho para que se encontre um vírus mortal que será ativado em pouco tempo.
Tudo isso acontece em duas horas de filme, um tempo curto demais e que faz com que o ritmo do longa seja frenético e um roteiro fraco, que peca na construção de motivações e background dos personagens. Pelo menos esse ritmo acelerado auxilia nas cenas de ação e deve chamar a atenção de um público mais leigo e que não está inserido dentro do universo dos livros e das adaptações de Brown.
Creio também que faltou um pouco mais de mistério. Todas as cenas no museu e nos outros espaços históricos se resolviam muito rapidamente, como se tudo ali fosse simples e de conhecimento do público. Isso fica menos verossímil quando pensamos que Langdon ainda está com a memória afetada devido ao seu acidente que fez com que ele fosse para o hospital.
Inferno é o terceiro longa de uma franquia e segue os mesmos padrões do anterior, se mostrando uma obra que utiliza muito dos clichês para alcançar seu público. E isso acaba dando certo, pois o filme usa desses recursos manjados, mas de uma forma correta, que mostra o quão rica é a obra adaptada. Só fica um pouco triste quando notamos que ela poderia ter sido melhor executada.
Kubo e as Cordas Mágicas conta a história do jovem Kubo, que é um menino de um olho só e que cuida da sua mãe durante a noite e conta histórias com origamis durante o dia, como uma forma de arrecadar dinheiro para o sustento dos dois. Só que as histórias não são simples e os origamis ganham vida através da magia de seu banjo.
Um dos motivos dele passar a noite com sua mãe é que ele sempre foi avisado de que não deveria estar na rua quando anoitecesse. O problema é que Kubo acaba se perdendo no tempo durante um festival que esta acontecendo em seu vilarejo. Nesse momento ele acaba encontrando as suas tias e tendo que enfrentar o maior desafio de sua vida. A partir desse momento, Kubo, acompanhado de uma macaca e de um besouro; devem ir atrás de uma armadura sagrada que o seu pai estava atrás para conseguir se defender das suas tias e de seu avô, responsável por arrancar o seu olho esquerdo.
Essa é a premissa do filme, todo concebido em stop motion, é uma grata surpresa dentro das animações de 2016. Com uma produção que se assemelha muito aos animes japoneses, principalmente em sua trama, Kubo e as Cordas Mágicas surpreende por conseguir se comunicar com todos os públicos. O roteiro de Marc Haimes e Chris Butler chama a atenção e foi construído para atender uma demanda de crianças e adultos.
O filme também tem no seu stop motion um grande desafio: construir uma aventura épica e fantasiosa através de uma técnica tão complexa como essa. Entretanto, para quem assistiu ao filme, nota-se que esse desafio ficou só na cabeça de quem assiste, tamanha a naturalidade e beleza do que é visto na tela. Kubo e as Cordas Mágicas tem a beleza e o amor digno de uma indicação ao Oscar deste ano. Isso é mérito de Travis Knight, que estreia como diretor em um trabalho belíssimo.
Só que não é apenas dessa aventura que o filme se sustenta. No decorrer dos 100 minutos de duração, são encontrados outros debates e histórias paralelas sendo trabalhadas ao lado da trama principal: temos o processo de autodescoberta do personagem e o drama familiar existente na vida de Kubo.
Um longa lindo e tocante, mas que peca pelo seu excesso de clichês e por algumas falhas de roteiro. Um dos clichês mais fortes é a jornada do herói sendo utilizada da maneira mais usual possível, além de sua trama lembrar a de alguns animes japoneses. Já na parte do roteiro, vemos que não houve profundidade no momento de explicar a origem dos poderes e a motivação do seu vilão. Porém, mesmo com esses deslizes, o filme cumpre seu papel e entrega uma produção que merece ser assistida. É uma pena que o mesmo não deve permanecer muito tempo em cartaz, porque Kubo e as Cordas Mágicas é uma das melhores animações de 2016.
Kóblic conta a história do personagem que dá nome ao filme. O personagem, interpretado pelo grande nome do cinema argentino, Ricardo Darín, é um ex-capitão das Forças Armadas da Argentina durante ditadura militar dos anos 1970. Nesse período, Tomás Kóblic pilotava os aviões responsáveis pelos voos da morte, onde as pessoas que eram contra o regime eram atiradas no mar.
Não suportando mais trabalhar para o exército, Kóblic se torna um desertor e resolve se esconder em um pequeno - e fictício - povoado de Colonia Elena, na Argentina. No local ele consegue um emprego com um amigo, onde trabalha como piloto de avião para pulverização. O problema é que, apesar de sair do exército argentino, Kóblic acaba sendo atormentado pelo seu passado, seja através de lembranças como também graças ao xerife da cidade, Velarde, interpretado por Oscar Martínez.
Para nos apresentar o real tormento do protagonista, o diretor Sebastián Borensztein distribui no decorrer do filme, pequenos fragmentos das lembranças de Kóblic. Aos poucos esse quebra-cabeça é montado pelo telespectador. Essa iniciativa de Borensztein agrada e interfere positivamente no envolvimento que o público acaba construindo com o ex-militar. E esse é um dos pontos mais interessantes dessa produção argentina.
O diretor Borensztein também acerta na construção de uma trama coerente e tensa. A preocupação com Kóblic existe e a verossimilhança se faz presente em todo o enredo. Com certeza isso também é mérito de Ricardo Darín, que mais uma vez prova o seu potencial como ator. Toda a carga dramática que ele entrega ao seu personagem é importante e na medida para envolver os telespectadores e traze-los para dentro daquela realidade.
Talvez o único ponto negativo do filme tenha sido a construção dos demais personagens. No decorrer do filme, Kóblic se apaixona por Nancy, interpretada por Inma Cuesta. A personagem foi construída como uma dama indefesa e não teve sua história aprofundada, apesar de ter espaço para isso, pois ela tem uma carga muito pesada no seu passado. Além disso, o xerife Velarde também não teve todo o seu perfil bem construído, mas sim o seu lado corrupto e autoritário, como uma figura da ditadura. E, por mais que tenha sido raso, Oscar Martínez consegue entregar uma atuação que faz com que o público tenha raiva de seu personagem.
Trilha sonora e fotografia também foram dois recursos técnicos muito utilizados em todo o filme e, com maestria. Tanto o som quanto a falta dele fazem com que a tensão aumente cada vez mais. Além disso, a fotografia também agrada os olhos, com toda uma ambientação dos anos 1970, em uma região areosa, com uma paleta de cores que remete ao tempo e espaço escolhidos para a produção.
Particularmente eu admiro o cinema argentino e gostaria de entender mais como eles conseguem emplacar tantas boas produções no cenário cinematográfico. E, com certeza, Kóblic entra para a minha lista de indicações de filmes argentinos, com um bom enredo de um momento delicado e importante da história argentina e, porque não, da América do Sul.
Esse é o terceiro filme da franquia, que tem como premissa mostrar as ações e insanidades que acontecem na Noite do Crime. Nesse universo distópico dos Estados Unidos existe uma noite do ano onde todos os tipos de crimes são liberados, mantendo a mesma ideia utilizada nos outros dois longas: Uma Noite de Crime (2013) e Uma Noite de Crime: Anarquia (2014).
Porém, aqui a história contada é a da senadora Charlene Roan, interpretada por Elizabeth Mitchell, que vivenciou a morte de toda sua família durante uma edição desse "feriado". Querendo a mudança, Charlene se candidata a presidência dos EUA para banir esse dia do calendário de uma vez por todas. O problema é que uma parcela da população e dos políticos no poder não querem que essa data deixe de existir e aproveitam a própria Noite do Crime para matar a senadora.
Um dos pontos positivos do filme é que eles souberam construir muito bem a motivação de todos os personagens e não apenas da senadora. Todo o elenco tem um objetivo na trama e isso faz com que o público abrace os personagens e se preocupem com as suas histórias. Com certeza esse é um ponto de destaque, mas que tem o seu lado negativo. Isso porque, apesar de construir muito bem suas motivações, faltam histórias que contextualizem tais personagens. Talvez, se existisse um cuidado com essa parte, o envolvimento do telespectador e até a identificação poderiam ser bem maiores.
Outro ponto negativo do longa é que o roteiro caminha para construir cenas que gerem mortes absurdas e apresente a insanidade das pessoas durante aquela noite. 12 Horas Para Sobreviver - O Ano da Eleição abusa de corpos amostra e obscenidades com o objetivo de chorar que está no cinema, seja pela sua crueldade, insanidade ou até bizarrice e incoerência. A trilha sonora é algo que merece destaque. Toda ela foi construída para crescer junto com o filme e as cenas se encaixam muito bem com algumas das canções presentes no longa. É possível notar isso tanto nos momentos de ação com em cenas mais dramáticas.
O filme tem verossimilhança e é possível sim acreditar naquele universo distópico. Isso porque, apesar de insano, as motivações fazem sentido e tem coerência com o que é apresentado. Até as mortes cruéis não forçam tanto a barra, claro que dentro do universo construído por James DeMonaco. Porém faltam algumas coisas para que a produção consiga abordar de maneira completa todo o debate social que existe no subtexto do filme.
Festa da Salsicha é uma animação totalmente diferente de tudo que já vi em minha curta trajetória como cinéfilo. Posso garantir que é o desenho mais ousado atualmente e que não é indicado para um público infantil, afinal, é possível acompanhar a maior orgia alimentícia já imaginada na história do cinema. É isso mesmo, uma orgia entre alimentos. Mas esse não foi o único ponto polêmico abordado no filme da dupla Seth Rogen e Evan Goldberg, conhecidos por filmes mais ácidos.
No longa é possível encontrar críticas em seu roteiro a vários pontos perigosos de se abordar. No filme são abordados temas como religião, o conflito entre árabes e judeus, além das velhas piadas de cunho sexual. Entretanto a produção não discute nada sobre nenhum desses temas, mas sim constrói estereótipos preconceituosos de cada um dos citados acima. Acabei comparando o filme com a série Dads, que a FOX transmitiu uma temporada e acabou cancelando, devido as piadas preconceituosas que existiam. Depois disso me peguei pensando se esses temas dão mais certo com desenhos, por não serem levados tão a sério quanto com pessoas "reais".
Para que vocês entendam: Festa da Salsicha conta a história dos alimentos que estão a venda em uma rede de supermercados. Esses produtos tem vida e são racionais, porém acham que, quando são comprados, os deuses (humanos) os levam para o paraíso. Tudo graças a uma lenda que originou a música que faz parte da abertura do filme. Até que eles começam a desconfiar e descobrir o que acontece com os alimentos fora daquele supermercado.
O supermercado acaba sendo idealizado como um mundo para os alimentos que vivem ali. No decorrer do filme são construídos estereótipos baseados em cada uma das comidas que ali moram. Por exemplo, a prateleira de miojo e molho oriental, são representados como se fossem Chinatown; e o setor de bebidas, que vive sempre em festa.
Festa da Salsicha tem boas piadas, graças ao talento dos roteiristas do filme. O ponto é se eles acertam tanto assim ou se forçam o humor em praticamente todas as cenas e acabam acertando em alguns pontos. Isso porque foi possível notar que os risos surgiram nas cenas mais absurdas e não nas realmente engraçadas. Até onde a forçação de barra não foi o real motivo das gargalhadas que existiram na sessão. Não quero aqui dizer que o longa não é engraçado, até porque ele tem sacadas geniais. Só que vejo que eles tentaram piadas em excesso para acertar em alguns momentos.
O filme é mais uma produção polêmica da dupla Seth Rogen e Evan Goldberg. O problema é que, mais uma vez, os dois lançam um longa que se preocupa mais com o burburinho do público e da crítica do que com a qualidade que ele deveria apresentar. Assim, o filme que tinha tudo para ser genial, acaba sendo um ponto fora da curva do bom e do ruim, com conceitos inovadores, mas sem a preocupação de se consagrar por isso.
Mais um filme de ação protagonizado por Jason Statham, conhecido por franquias como Os Mercenários e Carga Explosiva. O que o papel dele nesse filme tem em comum com a maioria dos seus trabalhos? Filmes com roteiros fracos e que buscam a motivação para as cenas de ação mirabolantes e, muitas vezes, surreais.
Em Assassino a Preço Fixo 2 - A Ressurreição o roteiro trabalha basicamente com essa premissa: a construção de diálogos e tramas que tem como conclusão as cenas de ação. Para que se entenda melhor o que estou tentando dizer vou explicar um pouco mais o filme, que é dirigido por Dennis Gansel e tem outros nomes conhecidos no elenco, como Jessica Alba e Tommy Lee Jones.
No filme, Arthur Bishop está aposentado de sua vida como assassino, até que acaba se envolvendo com Gina, personagem interpretada por Jessica Alba. Depois disso ela é sequestrada e ele obrigado a trabalhar para o vilão do filme e receber o seu pagamento: a liberdade de sua amada. Isso resume praticamente todo o filme e, pelo enredo, é possível notar a busca incessante de Gansel pelas cenas de ação, muitas vezes beirando o surreal, afinal, é impossível acreditar que Bishop pularia do bondinho do Pão de Açúcar para uma asa delta que passava por baixo.
Apesar disso, o longa apresenta alguns pontos positivos. A produção cumpre com o que se propôs a fazer e tem suas cenas bem dirigidas e executadas. Além disso, temos as boas atuações, principalmente de Jessica Alba, que se entrega para a personagem em uma boa atuação. Outro ponto interessante é que o filme consegue fazer uma boa homenagem aos longas dos anos 90, com suas cenas de ação surreais em roteiros que buscam apenas isso.
Entretanto, infelizmente, o filme tem muito mais erros do que acertos. Existem incoerências na construção de um personagem que sabe o papel de seu par romântico e, mesmo assim, acaba se apaixonando em um tempo recorde e sem nenhum trabalho de construção desse sentimento. Além disso, existem erros de continuidade, como a boca de Gina, que aparece machucada e curada em diversos momentos do filme. Isso tudo sem falar na imortalidade de Bishop.
Todas essas situações acabam atrapalhando a experiência de verossimilhança e também o envolvimento e preocupação com Bishop e Gina. Os dois acabam se transformando em seres imortais e isso é visto no decorrer do filme, prejudicando muito o envolvimento e a preocupação do telespectador para com os protagonistas do longa. No final das contas, a produção acaba sendo mais um filme de ação da carreira de Statham e mais um longa que homenageia a ação dos anos 90.
Em A Maldição da Floresta acompanhamos a história de Adam Hitchens, que se muda para a Irlanda, onde arruma um emprego como "médico" das árvores. Porém, quando Hitchens adentra na floresta, os moradores da região o alertam sobre as lendas que a assombram. Só que o protagonista do filme não acredita no que as pessoas falam e continua o seu trabalho. Até que, em um determinado momento, os monstros resolvem dar o seu jeito para que o homem saía do território deles.
Uma trama que apresenta vários clichês do gênero de terror, A Maldição da Floresta "inova" ao trazer de volta um conceito que até então vinha sendo pouco utilizado pelas produções de terror: os monstros. Atualmente, a maioria dos longas de gênero acabam utilizando apenas espíritos e demônios na construção de suas histórias, então, a utilização de um vilão que foge do habitual que vivemos, já acabou causando uma expectativa diferente para o filme.
Só que, apesar de ter boas cenas e até um certo suspense, o filme peca em apresentar os seus monstros. Um dos pontos que mais defendo é que o vilão de um longa de terror não precisa, necessariamente, aparecer para causar o medo. Essa era uma produção que poderia ter utilizado o recurso de esconder os seus monstros e deixar isso para a imaginação do telespectador. Entretanto, infelizmente, isso não aconteceu.
Uma das melhores coisas do filme é o seu roteiro, que consegue contextualizar todo o enredo, com a idealização de uma lenda da região e construindo tantas reviravoltas envolventes. Além disso, o roteiro é verossímil e envolve o telespectador na trama, onde é possível sentir sentimentos como medo e tensão. Um dos motivos para isso é o bom elenco que, apesar de não ter nenhum grande nome, deu conta do recado com uma atuação segura e sabendo dosar os sentimentos na hora certa.
Apesar de ter tantos pontos positivos, A Maldição da Floresta acaba perdendo um pouco a força por apresentar tantos clichês, como citado anteriormente. No filme é possível encontrar a casa assombrada, uma floresta que tem vida, os lugares escuros que despertam a curiosidade dos personagens e a luz sendo usada como uma arma contra o vilão. Essa falta de originalidade acaba tirando um pouco o potencial que o longa poderia ter.
O Lar das Crianças Peculiares foi lançado com a expectativa de ser uma grande adaptação do seu livro e almejava ter a importância que Harry Potter teve. Pelo menos vemos isso ao saber que o livro foi best seller nos Estados Unidos, quando permaneceu por 52 semanas entre os mais vendidos do New York Times e que o mesmo foi eleito como uma das 100 obras mais importantes da literatura jovem de todos os tempos.
Eu particularmente não li o livro então só posso analisar o filme. É uma falha da minha parte, mas prefiro não comparar com algo que eu não tenho o conhecimento necessário. Por isso comentarei somente o longa de Tim Burton. E podem ter certeza que, infelizmente, temos bastante coisa para falar sobre essa produção pela qual eu tinha grande expectativa.
Enquanto assistia ao filme acabei pensando: porque eu me preocupo com a história de Jake, interpretado por Asa Butterfield? Esse é um problema que Tim Burton teve. Faltou trabalhar a construção dos personagens, para que o público sentisse interesse pela sua história. O envolvimento com o seu avô é construído de forma rasa e o próprio ator não tem o carisma necessário para tal protagonismo. A premissa do filme é a busca de Jake por respostas sobre o seu avô. Só que isso não é trabalhado em momento algum. São poucas as aparições de diálogos sobre o passado de Aba e, em determinada parte do longa, parece que Jake esqueceu de sua motivação. Somente na parte final da produção que esse tema volta a ser citado.
Mas, pelo menos, as outras crianças tiveram suas histórias bem construídas. O problema é que foram só elas que tiveram essa oportunidade. Os pais de Jake, seu avô e a própria Senhorita Peregrine, "dona" do orfanato não tiveram destaque e acabaram ficando em um segundo plano, atrás de um romance e de uma aventura cheia de efeitos especiais desnecessários e com um Samuel L. Jackson bizarro e com sua atuação exagerada. O roteiro também apresenta alguns outros furos nas construções de suas histórias, como na cena onde as crianças enfrentam os vilões, que somem e depois voltam do nada ou no excesso de entradas e saídas de fendas.
Essa construção de personagens, alinhada a boa escolha do elenco, agradou muito. Não tem como não ficar curioso pelas histórias que ainda podem ser contadas sobre esses peculiares e outros que existem no mundo todo (isso é explicado no filme). Talvez esse tenha sido o grande acerto de O Lar das Crianças Peculiares.
Os exageros das cenas de ação e efeitos especiais também incomodam um pouco. Se a primeira parte do filme tem muitos acertos, o "embate final" apresenta coisas que incomodam e que fogem um pouco da realidade criada no início da produção. Os efeitos especiais são uma marca de Tim Burton e esse longa tem a sua assinatura bem presente.
Porém o que me agradou foi o que citei anteriormente: a construção dos outros personagens. Não sei qual a expectativa da Fox em produzir uma sequência para a franquia, que em certo momento me lembrava Nárnia. Creio que existe a possibilidade de seguir com essa história, mas pontos precisam ser alinhados para que o possível segundo longa seja lançado mais redondo. Somente assim será possível sonhar com uma nova franquia de fantasia nos cinemas.
O filme conta a história da estudante e dublê Amy, interpretada por Olga Kurylenko, tem um relacionamento com o pesquisador Edward, interpretado por Jeremy Irons. O professor universitário é casado e vive um romance extraconjugal com Amy. Esse relacionamento acontece a distância, pois os dois vivem em países diferentes e se encontram esporadicamente, quando ele palestra na cidade dela. No resto do tempo eles se comunicam apenas por Skype, ligações e trocas de e-mails. Só que, em uma palestra de sua universidade, Amy acaba descobrindo que Edward morreu, mesmo que ainda esteja conversando com ele. E, mesmo depois que ela descobre isso, os e-mails e cartas continuam chegando em sua casa.
Apesar de ser uma trama que já apresentou filmes de sucesso, como P.S. Eu Te Amo e Ghost - Do Outro Lado da Vida, falta algo para que Lembranças de um Amor Eterno conquiste esse espaço. O filme tem um ritmo lento e massante, seja pelos diálogos ou pela direção arrastada de Giuseppe Tornatore. O roteiro, também assinado por Tornatore, falha em construir uma realidade palpável para Amy, tanto que, um dos grandes problemas, está no roteiro. Isso porque a protagonista não se pergunta o porque dessa atitude de Edward.
Além disso, a produção também não conseguiu escalar um bom elenco. Apesar de serem esforçados, nenhum dos dois consegue carregar toda a carga dramática que a trama necessita. Ainda mais quando vemos que os dois estão presentes em quase todo o filme, tendo a responsabilidade de segurar o telespectador por quase duas horas em frente a tela. Infelizmente falta carisma e potencial para que eles consigam fazer isso.
Outro problema da direção do filme é a repetição de elementos desnecessários, como a entrega de CDs, e-mails e SMSs. Parece que Tornatore menospreza o seu público, explicando cada conceito repetidas vezes, com o objetivo de firmar cada vez mais sua ideia. Isso sem falar que essa repetição firma o amor infinito que o diretor tanto prioriza nesse filme.
Falta algo para que o filme conquiste poupas de mais um sucesso do diretor. Entretanto, Lembranças de um Amor Eterno terá seu público, formado por pessoas que buscam uma grande história de amor (algo que o título brasileiro vende) e pelos fãs do cineasta, que tem uma carreira sólida e com uma boa legião de telespectadores. Porém, infelizmente, esse filme não faz jus a história de Tornatore.
Cegonhas - A História que Não te Contaram é uma grata surpresa de 2016, no quesito animação. Isso porque, ao contrário dos desenhos da Pixar, onde o público encontra uma mensagem em suas entrelinhas, o filme, que estreia nessa semana, visa alcançar um público mais amplo, sendo de fácil entendimento para as crianças. Isso porque, a produção é inocente e simples, tendo como carga emocional as histórias que sempre ouvimos quando eramos crianças: "como nascem os bebês? São as cegonhas que trazem."
O filme já começa mostrando que essa realidade mudou e que agora as cegonhas trabalham como carteiros, entregando encomendas de uma rede varejista. O motivo dessa mudança é explicado no decorrer da trama.
O enredo do filme acompanha Junior, uma cegonha que trabalha na empresa e é conhecido pelo seu excelente trabalho. Com a aspiração de se tornar um chefe, Junior recebe a ordem de demitir Tulipa, uma humana que nunca foi entregue a sua família. O problema é que a cegonha não teve coragem e, para não chatear a menina, acaba levando ela para um setor que não era mais utilizado. O problema é que a mesma acaba reativando a máquina de fazer bebês. Com o medo de ser descoberto, Junior resolve entregar essa criança escondido. Mas é óbvio que não seria tão fácil.
A produção funciona graças a direção de Nicholas Stoller e Doug Sweetland e ao roteiro de Stoller. Esse longa consegue gerar empatia do público ao ponto dos telespectadores se preocuparem com o futuro de cada personagem. Isso sem falar que existem alguns núcleos do filme que se mantem de forma isolada, com arcos fechados e não interligados diretamente. Talvez por ter uma história tão simples e, ao mesmo tempo, com um grande alcance, o público em geral possa acabar se apaixonando.
Além disso, existem diversos momentos do filme que geram os risos e a comédia tão esperada para divertir uma animação. Todas as cenas com os lobos, apesar de serem surreais, agradam os telespectadores e geram um carinho melhor pelo longa e pelos seus protagonistas. Todos os personagens são bem construídos e fazem com que o carinho seja sentido e que a preocupação pela conclusão do enredo envolvam o público que acompanha o filme.
A simplicidade proposta pela direção também encontra o seu público. Apesar do sucesso dos filmes da Pixar, existem pessoas que buscam um desenho mais simples, com uma história que ao mesmo tempo que é bobinha gera o envolvimento de quem assiste. Isso pela construção dos seus personagens e pelos valores apresentados pelo filme, como a importância da família, dos amigos e da responsabilidade. Com certeza, uma das melhores animações de 2016, com cenas memoráveis e que podem sim ficar na história das animações.
Seguindo o mesmo espírito do primeiro filme da franquia, Barney Ross é chamado novamente por Church para realizar mais uma missão com o seu grupo de mercenários. Mas os “problemas” com a equipe (na visão dos produtores) começam desde o início da trama, com a inclusão de uma mulher no time e, posteriormente, as perdas de outros companheiros de Stallone.
O roteiro do filme peca nessa parte. Existe sim uma causa para que tudo aconteça, mas esse motivo é fraco e não condiz com todas as ações que acontecem no decorrer da trama. Isso mostra como o texto não tem tanta força e serve apenas de trampolim para as cenas de ação com os atores que ficaram consagrados por filmes do gênero nos anos 90.
E são essas cenas de ação que fazem com que o longa-metragem cumpra sua missão. Todas elas são bem produzidas e dirigidas, abusando do sangue e de cenas fortes. Algumas chegam a ser surreais, mas fazem sentido no contexto e no universo no qual o filme está inserido. Mas cabe aqui salientar que, mesmo fazendo sentido, elas acontecem em excesso e fazem com que os telespectadores não acreditem no que está acontecendo.
Essas cenas de ação lembram muito os filmes dos anos 90 que os atores de Os Mercenários fizeram parte. Podemos ver ali referências ao Rambo, Exterminador do Futuro, O Grande Dragão Branco e a toda carreira de Chuck Norris. Em um tempo onde séries como Stranger Things fazem sucesso pela nostalgia, Os Mercenários 2 executa esse serviço, unindo astros do passado em um único filme, com o simples objetivo de acompanhá-los juntos quase que reprisando papéis que os consagraram.
O enredo do filme é explicado de forma simples: Selminha, interpretada por Samantha Schmütz, é frentista de um posto de gasolina e vive na periferia do Rio de Janeiro. Sempre reclamando de seus problemas financeiros, ela é surpreendida com uma herança deixada pelo seu tio avô. O empecilho é que, para ela pegar essa herança, Selminha terá de gastar 30 milhões de reais em 30 dias, mas não pode adquirir nada e os gastos terão de ser feitos com serviços.
A trama é parecida com o filme americano Chuva de Milhões, de 1985. Nessa produção o jogador de beisebol falido também recebe uma herança e esse mesmo desafio. As semelhanças são tantas que até os valores financeiros são os mesmos. Então, Tô Ryca funciona um pouco como uma releitura dessa produção, que também é baseada em um livro homônimo. Apesar da trama simples, o roteiro consegue apresentar furos e se utilizar de um humor pastelão para suas piadas.
Isso porque a produção é cheia de exageros, tanto na parte caricata dos suburbanos cariocas, que chegam a ser bregas nas interpretações e no vestuário de Samantha Schmütz e Katiuscia Canoro. Outro ponto que também incomoda são alguns furos bobos (quando o namorado de Katiuscia sabe que a Selminha ganhou a grana?), que servem de trampolim para uma cena onde Schmütz consiga arrancar risos da platéia.
Apesar desses erros (e de mais alguns que não citei), o longa tenta, mesmo que superficialmente, fazer críticas a alguns temas mais pesados, como o momento político que estamos vivendo e como a religião interfere diretamente na opinião pública. Outro pensamento que também é abordado é o quanto o dinheiro pode mudar uma pessoa e que a felicidade não vem, necessariamente, junto dele.
Tô Ryca é mais uma produção nacional que estreia em 2016 para tentar mudar o paradigma do cinema nacional. Infelizmente o filme fica para trás de outras comédias que foram lançadas neste ano, mas deve alcançar o seu público. Como o longa-metragem está mirando um grande público, a tendência é que ele encontre seu espaço dentro de uma fatia que busca o humor simples e escapista que Pedro Antonio conseguiu emplacar aqui.
Jack Reacher: Sem Retorno
3.1 329 Assista AgoraJack Reacher: Sem Retorno pode lembrar muito Assassino a Preço Fixo 2. Porque? São duas franquias que tiveram uma receptividade aceitável e que resolveram seguir apostando nesta fórmula do sucesso, que é produzir filmes que possam ser considerados referências de clássicos de ação dos anos 90. E, infelizmente, o longa protagonizado por Tom Cruise funciona apenas como isso, uma homenagem aos longas de ação do passado.
Não existe um roteiro bem desenvolvido e todos diálogos tem como objetivo criar frases de efeito e servem como um trampolim para as cenas de ação. Entretanto, estas cenas são bem desenvolvidas e funcionam. O Tom Cruise é um bom ator e, lembrando da franquia Missão Impossível, fica difícil compreender o motivo dele estar produzindo e protagonizando filmes como esse.
Além disso, não existe química nenhuma entre o elenco e, por mais que o diretor Edward Zwick tente, é impossível se preocupar com a vida do Jack Reacher. Isso porque, por mais surreal que seja a cena, ele vai sobreviver e tudo não passará de um arranhão no seu rosto. Pessoalmente eu gosto de filmes assim e o longa não me desagradou. Porém, ele acaba sendo aquele filme que, por mais que tu curta assisti-lo, todos sabem que ele é um filme ruim.
Não sei como ficará essa franquia, pois ele deixou alguma pontas abertas para que o longa tenha mais uma continuação. Todavia, fica claro que, por mais que agrade um público nostálgico e que sente falta de filmes de ação que foquem apenas nisso, na ação, os roteiristas podem trabalhar um pouco para, pelo menos, existir uma motivação mais plausível do que você se arriscar por uma pessoa que você nem conhece.
A Chegada
4.2 3,4K Assista AgoraA Chegada é o novo longa do diretor Denis Villeneuve, conhecido pelo seu trabalho em Sicário e Os Suspeitos. No longa, acompanhamos a linguista Louise Banks, interpretada por Amy Adams, que é convocada pelo exército para tentar se comunicar e traduzir o que os alienígenas que chegaram na terra querem fazer aqui. Para que se entenda melhor: em um determinado dia, doze (acho) espaçonaves chegam a terra e o mundo procura formas de se comunicar com ele. É por isso que Louise é procurada.
O longa, com certeza, é o grande sci-fi de 2016 e, provavelmente, um dos melhores filmes lançados neste ano. E digo isso porque ele consegue reconhecer suas limitações e trabalhar para que elas não fiquem aparentes. Um exemplo disso é o papel de Jeremy Renner. Particularmente eu não gosto do ator (conheço mais gente que divide esta opinião comigo) porém, no filme, o papel dele não é de protagonista e, por não ter tanto destaque, acaba não incomodando e até agradando que está assistindo.
Entretanto, não podemos falar de atuação sem parabenizar Amy Adams. Digo mais: será injusto ela não ter, pelo menos, uma indicação ao Oscar 2017. A atriz está perfeita no filme, pois consegue transparecer todos os seus dilemas, confusões mentais e dramas vividos. Além disso, ela traz consigo a empatia e faz com que o público se envolva com a sua história. Óbvio que este é um trabalho também do diretor Villeneuve, mas Amy merece aqui ter seu trabalhado destacado.
O filme é todo desenvolvido pelo ponto de vista de Louise e esse é um ponto acertado da ótima de Villeneuve. O diretor conseguiu, através de planos de filmagem, nos fazer sentir confusos igual Louise e isso fez com que o telespectador viajasse junto com ela para esta história. Além disso, a não linearidade da história que, no início, causa confusão no público, acaba sendo brindada por um dos maiores plot twists do ano.
Além disso, A Chegada levanta algumas discussões pesadas sobre as atitudes de Louise, São debates que nos fazem pensar muito antes de tomar qualquer atitude e eu não quero aqui dar nenhum spoiler sobre isso, para não estragar a experiência de tela. Outros pontos interessantes são as referências que temos a filmes como 2001: Uma Odisseia no Espaço e Interestelar. Isto porque questões como a viagem no tempo são retratadas de forma magnífica no filme.
Temos aqui um dos melhores filmes de 2016 e um dos possíveis indicados as premiações de 2017. Aguardado pelos fãs de sci-fi, o longa agrada pela sua mitologia e consegue, através de uma direção e de uma protagonista competentes, entregar um material de qualidade e original. Com certeza, uma grata surpresa neste final de ano.
Elis
3.5 522 Assista AgoraUma das cantores mais reconhecidas no Brasil e, com certeza, merecedora de uma cinebiografia, Elis Regina terá sua história contada nas telonas. O longa, que já havia estreado no Festival de Gramado, chega ao circuito nesta quinta-feira e, pode ser considerado, um dos melhores filmes nacionais deste ano.
Elis Regina, interpretada por Andreia Horta, foi uma cantora que viveu no período da ditadura militar e passou por vários problemas por causa de seu temperamento explosivo e por não ter papas na língua. Além disso, também é considerada por muitos como uma das precursoras da MPB. Só por causa disso, já sabemos que o que não faltava era história para contar sobre a cantora gaúcha. Tanto é que, em entrevista coletiva, o diretor e roteirista Hugo Prata destacou como foi difícil definir o que entraria no filme e o que ficaria de fora.
- Foi bastante difícil tomar essa decisão e escolher quais episódios iriam entrar nesse roteiro. Não caberia tudo, mas a gente queria ir da chegada dela (no Rio de Janeiro) até o final da vida dela. E aí sim, selecionar só os episódios que levam a nossa história para frente.
Entretanto, com essa escolha, além de perdermos o início dela em Porto Alegre, também fica um pouco complicado compreender os pulos temporais. De tempos em tempos, temos passagens que ficam mal explicadas ou pouco desenvolvidas. Não que isso prejudique a experiência de assistir ao filme, mas acaba atrapalhando um pouco o andar da história. Talvez esse seja, para mim, o único ponto negativo de Elis.
Agora, talvez a melhor coisa do filme, tem de ser comentada: Andreia Horta. Que trabalho magnífico fez a atriz em dar a vida para Elis Regina. Antes da coletiva de imprensa já foi possível notar que o envolvimento da atriz com a personagem era algo único e que a preparação e dedicação vistas no cinema era algo que realmente havia acontecido. A atriz consegue dar vida e interpretar com maestria a cantora gaúcha. O destaque é tanto que a mesma disse que realmente cantava nas gravações e que, em algumas ocasiões, chegou a ficar sem voz.
- Foram três meses com preparadores em sala de ensaio, um deles era um preparador musical… porque ela (Elis) tinha um pulmão inacreditável, um fôlego extraordinário… A Maria Silva Siqueira Campos, é a minha parceria mais longeva de trabalhos… eu sempre chamo a Maria pra gente levantar o personagem juntas, mas dessa vez ela acabou preparando todo o elenco também.
O filme, vencedor do prêmio de Juri Popular no Festival de Gramado e que teve Andreia como vencedora do Kikito de Melhor Atriz, está estreando no cinema e merece a atenção do público brasileiro. A história de vida de Elis Regina merece ser prestigiada e o trabalho realizado pelo diretor, roteiristas e elenco é digno da trajetória da cantora gaúcha.
Um Estado de Liberdade
3.7 215 Assista AgoraUm Estado de Liberdade acompanha a história de Newton Knight, interpretado por Matthew McConaughey, entre 1862 e 1876, nos apresentando ao enfermeiro do exército que abandona a Guerra Civil americana e que se opõe a escravidão e a tudo que não acredita. Para quem não sabe, esta história grandiosa é verídica. É uma pena que o o filme também não tenha sido grandioso.
A maioria dos erros - senão todos - passam pelo diretor e roteirista do filme, Gary Ross. Isto porque o elenco do filme, em especial Matthew McConaughey, está muito bem. Todos dão conta do recado e conseguem entregar toda a carga dramática que suas histórias precisam. Destaco a atuação de McConaughey porque ele deu vida ao protagonista do filme e, durante todo o longa, é possível perceber as nuances e as mudanças que a vida dura de Knight fizeram no seu caráter.
O filme tem um bom começo, com a história de Knight ainda como enfermeiro do exército até o momento em que ele consegue formar um exército no pântano para lutar pelo direitos e ideais dos negros. O problema é que o longa não acaba nunca. Ele luta a guerra, tem a libertação dos escravos, ele faz mais coisas, os escravos continuam sofrendo, surge a Ku Klux Klan e o filme nunca termina. A narrativa fica cansativa e, a tendência, é que o público fique olhando para o relógio e pensando quando tempo falta para acabar.
Não que a história do protagonista não seja boa e inspiradora, afinal ele liderou um exército para defender seus ideais. Mas não precisa de mais de duas horas para contar esta história. Com certeza, Gary Ross poderia ter escolhido um recorte menor para abordar mas, na tentativa de abraçar tudo, acabou produzindo um filme cansativo e que, depois de uma hora e meia, não empolga mais.
Outra coisa que me incomodou - e muito - foi a alternância da trama de Knight com a de um julgamento de um descendente dele, que acontece 85 anos depois dos acontecimentos do filme. Além de contar spoilers da história, por revelar detalhes da trama antes deles acontecerem, serve apenas para mostrar que ainda existia racismo no sul dos EUA no meio do século XX. Só que não faz sentido essas cenas no meio do filme, porque só enchem um espaço e, sem elas, o longa não perderia nada.
Mas, se tem outro ponto que merece elogios é o trabalho de fotografia do filme. Toda a ambientação é bem planejada e as cenas do pântano são lindas. Além disso, as cenas de batalha são muito bem dirigidas e consegue transparecer a realidade que se estava vivendo naquela época. Ouso dizer aqui que, como um filme de guerra, Um Estado de Liberdade funciona, mas, para contar a história de um herói americano, ele falha em construir algo que não te canse.
Animais Fantásticos e Onde Habitam
4.0 2,2K Assista AgoraAntes de começar esta crítica tenho que ressaltar que, pela primeira vez, escreverei sobre um filme que vem de uma saga da qual sou fã. Digo isso porque é muito difícil separar o lado fã deste texto, porém tentei de todas as formas. O filme tem defeitos? Claro que tem e pretendo citar eles aqui, entretanto, Animais Fantásticos e Onde Habitam conta com mais acertos e se torna um dos melhores filmes de 2016 ou, pelo menos, o melhor que o universo de Harry Potter poderia esperar.
Para quem não sabe, o novo filme do universo de Harry Potter se passa antes dos acontecimentos retratados na saga do bruxinho. Como é possível compreender pela sinopse do filme, Animais Fantásticos e Onde Habitam nos apresenta ao bruxo Newt Scamander, interpretado por Eddie Redmayne, que é um pesquisador que está catalogando as criaturas existentes na terra para escrever o seu livro sobre eles. Para quem não sabe, na franquia de Harry Potter, o livro dele aparece como uma das leituras obrigatórias de Hogwarts.
Para isso, Scamander carrega em sua mala mágica as criaturas que ele já estudou ou vem estudando. O problema é que ele acaba trocando de malas com Jacob Kowalski, um trouxa (ou não-maj) interpretado por Dan Fogler. Este homem, que acaba se tornando companheiro de Scamander durante o longa, não nota a troca e acaba soltando as criaturas por Nova York. Praticamente nesse momento o filme começa: com Scamander correndo atrás de seus animais antes que eles façam estragos demais pela cidade.
Agora entrando mais na crítica do longa. Pela primeira vez o universo bruxo sai do Reino Unido e entra em outro país. Desde o início podemos notar que, nos EUA, as regras e leis são diferentes para os bruxos do que estamos acostumados. Felizmente, isso também é novidade para Scamander e, no decorrer do filme, isso acaba sendo bom, pois é com ele que nos identificamos e, quando explicam para ele essas diferenças, o público acaba compreendendo junto com o protagonista sobre este mundo bruxo dos Estados Unidos.
Eu não vou me aprofundar muito no enredo do filme, pois não quero dar nenhum tipo de spoiler que possa prejudicar a experiência como um todo. Mas teve algo que me agradou e que posso deixar explícito aqui: Animais Fantásticos e Onde Habitam não se baseia somente na captura destas criaturas. Essa é a motivação inicial do filme, porém existe uma história maior em volta do protagonista e, felizmente, é esse background que dá força para o longa prender a atenção do público durante pouco mais de duas horas de filme.
O elenco do filme está de parabéns. Eddie Redmayne, sem sombra de dúvidas, é o destaque deste longa. O ator consegue entregar uma carga emocional para Scamander, ao mesmo tempo que encaixa muito bem que a timidez e com a sensação de que ele está deslocado sempre. Isso faz com que o público sinta uma empatia enorme pelo personagem e se preocupe com o seu futuro na trama. O elenco todo está ótimo, mas existem mais dois nomes que merecem ser destacados: Dan Fogler e Colin Farrell. Os dois são importantíssimos para o filme, um como a válvula de escape para o lado cômico, enquanto o outro tendendo mais para o lado dramático.
Uma das críticas que eram feitas para o filme foi a escolha do diretor. Entretanto David Yates está muito bem no filme,conseguindo dividir o tempo de cenas do personagem e dirigindo um dos melhores efeitos especiais vistos no cinema neste ano. Talvez, a única coisa que me incomode, seja o excesso de aparatos, pois isso acaba fazendo com que o telespectador se perca no espaço-tempo do filme e não consiga se localizar. Acho que essa é a minha única crítica ao filme, pelo menos enquanto escrevo esta crítica.
Com certeza uma ótima escolha da Warner Bros para se retomar uma das maiores franquias do estúdio. Animais Fantásticos e Onde Habitam consegue funcionar como algo saudosista e também apresenta conceitos para uma nova saga no cinema. Depois de ver esse filme eu só posso dizer que confio em J.K. Rowling, pois ela tem o domínio deste universo e, com certeza, cuidará com muito carinho desta franquia e desta história.
Pequeno Segredo
3.4 118 Assista AgoraO longa Pequeno Segredo é baseado em uma história real e conta a história da menina Kat, interpretada por Mariana Goulart, desde antes de seu nascimento. Isso porque somos apresentados primeiros aos seus futuros pais e, posteriormente, a família Schürmann, responsável pela adoção e criação da criança. Para quem não conhece, essa família ficou conhecida por dar uma volta ao mundo em seu veleiro.
No longa, o diretor David Schürmann optou por contar duas histórias em paralelo. Ao mesmo tempo em que o público acompanhava o romance de Jeanne, interpretada por Maria Flor, e Robert, interpretado por Erroll Shand, também era possível saber o que acontecia na vida de Kat. Porém, essa sacada do diretor para dar um ritmo para a trama acabou prejudicando um pouco a experiência. Isso porque ficaram confusas essas linhas temporais e demora muito para que as duas histórias se interliguem e faça sentido.
Além disso, o roteiro do filme encontra alguns percalços, como quando considera o seu público burro e acaba explicando para ele tudo que acontece. Atos como esse fazem com que o telespectador perca o interesse e o envolvimento com a história, que tinha tudo para conquistar. E conquista. Apesar de alguns problemas e de o roteiro não focar tanto na menina, mas sim na sua mãe adotiva, interpretada por Júlia Lemmertz, existe emoção em cenas grandiosas do filme, como um monólogo sobre o sentido da palavra amor.
Muito disso se dá por causa do elenco, principalmente por Júlia Lemmertz e Mariana Goulart, que conseguem carregar boa parte do drama. A personagem de Fionnula Flanagan, por outro lado, é muito mal desenvolvida, de uma forma que a transforma em uma grande vilã para, depois do monólogo citado acima, ela mudar completamente de perfil. Esse é mais um exemplo de como o roteiro trata o seu público de uma forma simplória. Já o resto do elenco não consegue chegar ao nível das duas primeiras e entregam atuações simples e apagadas.
O filme cumpre seu papel e, graças a uma boa história e de boas atuações, consegue deixar claro o motivo de ter sido o longa brasileiro indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro. Fica difícil saber se vai estar entre os cinco indicados e até se vai ganhar. Porém, está claro que o Ministério da Cultura escolheu um filme que tem a cara do prêmio e é nesse quesito que todos esperam que Pequeno Segredo alcance o seu lugar ao sol.
A Luz Entre Oceanos
3.8 358 Assista AgoraA Luz Entre Oceanos é uma adaptação do livro homônimo de M.L. Stedman, que conta a história de Tom Sherbourne, interpretado por Michael Fassbender, um veterano da Primeira Guerra Mundial que passa por dificuldades para se reposicionar na sociedade. Isso tudo graças ao que ele presenciou em combate e que não sai de sua cabeça. Um misto de amargura com culpa, que o faz se isolar e privar-se de sentimentos e vontades.
Por causa disso, Sherbourne aceita o emprego de faroleiro, onde viveria isolado. Porém, antes de se mudar para a ilha do farol, acaba conhecendo Isabel Graysmark, interpretada por Alicia Vikander. É nesse momento em que, depois de pensar, Sherbourne resolve dar uma nova chance a felicidade e acaba se envolvendo com Isabel. Após o casamento, os dois vão morar na ilha do farol e começam a sua história de vida.
Depois disso, o filme se transforma em um dos melhores (senão o melhor) dramas de 2016. Isso porque, na ilha, eles encontram a felicidade, mas também passam por percalços e problemas que põem à prova o relacionamento dos dois, com seus empecilhos e "milagres". Boa parte desta carga dramática está com Alicia Vikander, que consegue envolver o público de tal forma que foi impossível não derramar nenhuma lágrima junto com ela.
Não quero dar nenhum spoiler maior sobre o filme porque acredito que, apesar de previsível em alguns aspectos, o roteiro de Derek Cianfrance é tão envolvente que consegue ocasionar um impacto emocional e forte. Muito disso, é claro, graças ao trabalho de Fassbender e Alicia (e outros nomes do elenco). Isso tudo sem falar no trabalho do diretor, que ganhará um parágrafo próprio nesta crítica.
A direção ficou por conta do próprio Cianfrance, que conseguiu tirar o máximo proveito dos seus protagonistas, que podem ser considerados grandes nomes dessa "nova" geração. Além disso, o trabalho de fotografia, figurino e a paleta de cores foram muito executados. Eles não chamam a atenção mais que o filme, mas complementam e servem como ferramentas que auxiliam na narrativa, desta que é uma das mais lindas histórias que o cinema teve em 2016.
Trolls
3.5 392 Assista AgoraTrolls é a nova animação da DreamWorks, estúdio responsável por Shrek, Madagascar e Kung Fu Panda. No longa, acompanhamos a história da princesa Poppy e do rabugento Tronco, que estão em uma missão: salvar os trolls sequestrados por uma Bergen. Isso porque, os bergens são seres que dizem só conseguir alcançar a felicidade depois de comer um troll.
O filme começa 20 anos atrás, quando os trolls ainda eram aprisionados pelos bergens, que os comiam a cada Trollstício. Assim, eles conseguiriam provar a felicidade pelos menos uma vez na vida. Porém, os pequenos trolls conseguem fugir e a bergen que era a guardiã da árvore é banida da cidade. Passados 20 anos, os trolls seguem livres, se abraçando, cantando e fazendo muitas festas. Todos menos o Tronco, que é um troll ranzinza e que nem cor tem mais. Ele pensa o tempo inteiro que os bergens vão achá-los e por isso vive com medo e escondido em sua casa.
Trolls funciona como um musical, com grande elenco de dubladores (entre eles Justin Timberlake) e que conquista o público, seja pela fofura de seus personagens como também pelas mensagens que o filme quer passar. A animação é muito bem executada, com seus protagonistas muito bem desenvolvidos e com um foco em grandes canções, como Total Eclipse Of The Heart, de Bonnie Tyler; The Sound of Silence, de Simon & Garfunkel; e Can't Stop the Feeling, de Justin Timberlake.
A animação não tem aquelas mensagens profundas e nem cenas que fazem o público chorar, mas funciona e atende uma demanda de filmes divertidos e simples, que conseguem divertir tanto crianças como adultos. Por isso, Trolls e a DreamWorks mostram que estão prontos para seguir investindo em animações que conseguem fazer com que o telespectador se divirta.
Fora do Rumo
3.0 85 Assista AgoraO filme conta a história de Bennie Chan, interpretado por Jackie Chan, um policial que, há nove anos, perdeu o seu parceiro e, desde então, tenta provar que Victor Wong, interpretado por Winston Chao, é o culpado por sua morte. Enquanto isso, Bennie também prometeu ao seu parceiro que cuidaria da filha dele, Samantha, interpretada por Bingbing Fan. Só que a menina acaba se envolvendo com a máfia de Wong e Bennie se vê obrigado a investigar o apostador que viu tudo, Connor Watts, interpretado por Johnny Knoxville. Para isso, Bennie deve capturar e levar Connor de volta a Hong Kong, para assim salvar sua afilhada e provar o poder que Wong tem.
Essa é, basicamente, a premissa de todo o longa. Durante quase duas horas vemos essa busca de Bennie por Connor e depois para provar o lado podre de Wong. E, nesse sentido, Fora do Rumo funciona como uma boa comédia policial, com bastante ação e cenas divertidas, lembrando um pouco outros filmes de Jackie Chan, como A Hora do Rush. Além disso, vemos o ator trabalhar muito bem em suas cenas típicas de luta, muitas vezes sem o uso de dublês. Outro ponto interessante foi a sintonia entre os dois atores, que pareciam já terem trabalhado juntos antes.
Também merece um destaque o trabalho de fotografia do filme. As cenas produzidas com um plano mais aberto apresentam paisagens muito bonitas de lugares como Macau, Deserto de Gobi na Mongólia até chegar na fronteira da China. Além disso, somos apresentados a diversas histórias da cultura chinesa, em uma aula de história de Bennie sobre as mitologias e crenças dos chineses. Esse, com certeza, foi mais um acerto do longa.
Dirigindo esse filme estava Renny Harlin, conhecido pelo seu trabalho em Duro de Matar 2 e Risco Total, peca em construir essas cenas com belas fotografias. Digo que peca porque elas não servem para muita coisa. É quase uma ideia de mostrar cartões postais do país. Eu elogiei o trabalho fotográfico, que é realmente belo, mas penso se existia um motivo por trás desta arte aparecer. Em algumas vezes pareceu que essas paisagens estavam lá por estar, e nada mais.
Além disso, temos um roteiro preguiçoso e repetitivo, que tinha tudo para prestar uma grande homenagem ao trabalho de Chan e aos seus filmes clássicos, mas que pecou em repetir piadas e construir diálogos surreais. Engraçados, mas surreais. O longa acabou perdendo a sua verossimilhança dentro de seu universo muito graças a essas cenas e diálogos que fugiram um pouco do contexto do filme (coral de canção da Adele?).
Porém, apesar de uma direção falha e de um roteiro preguiçoso, Fora do Rumo funciona como uma homenagem aos filmes de ação e comédia protagonizados por Chan no passado. Além disso, a dupla funciona e o longa agrada e diverte quem está na platéia. Espero que esse estilo de produções divertidas e inocentes sejam retomadas por Chan e que ele consiga dar conta de todas essas cenas de ação durante muito tempo.
A Garota no Trem
3.6 1,6K Assista AgoraO filme A Garota no Trem é baseado em um livro, de mesmo nome, escrito por Paula Hawkins, que conta a história de Rachel, interpretada por Emily Blunt, uma mulher abalada psicologicamente por não compreender o seu divórcio. Enquanto ela passava de trem pela frente de sua antiga casa, Rachel imaginava uma vida perfeita, quando via os seus antigos vizinhos. Entretanto, esse envolvimento fica tão grande que foge do controle no momento em que ela começa a enxergar coisas diferentes do convencional daquele casal.
Como eu não li o livro, estou focando apenas na crítica do filme e comentarei pouco sobre a adaptação em si. Porém, pelo que estou ouvindo falar, os leitores do best seller podem ficar tranquilos, pois o roteiro de Erin Cressida Wilson respeita a trama original. Tanto é que, no início, quando somos apresentados as três personagens principais, vemos uma divisão de capítulos, remetendo a obra original. Além de Rachel, que é a protagonista do longa-metragem, temos também a presença de outras duas mulheres fortes e com perfis distintos: Anna, interpretada por Rebecca Ferguson, a atual esposa do ex-marido de Rachel; e Megan, interpretada por Haley Bennet, o objeto da obsessão da protagonista.
Todas as três personagens são muito bem construídas, com todo o seu background trabalho e um fundo emocional e de empatia com o público. Além disso, as constantes reviravoltas fazem com que esse envolvimento por parte do telespectador aumente e isso é um ponto positivo da boa história que o diretor Tate Taylor teve em suas mãos. E, nesse quesito, Taylor conseguiu encaixar muito bem a trama e possibilitou que o público se sentisse próximo e se preocupasse com o que iria acontecer com cada uma das três personagens.
Nesse sentido, essa empatia também é um mérito do elenco, que consegue entregar toda a carga emocional necessária para papéis tão complexos e bem construídos. Todas as três mulheres mostram um trabalho muito maduro, também graças ao bom roteiro do filme e ao material de origem também. Infelizmente, enquanto as mulheres entregam um nível alto de qualidade, o trio masculino, que conta com os atores Luke Evans, Justin Theroux e Edgar Ramírez, pecam um pouco e deixam a desejar, seja pela sua interpretação como também por suas motivações.
A Garota no Trem é um bom longa, bem dirigido e com um roteiro bem amarrado, apesar de alguns furos. Com personagens femininas fortes e os masculinos não tão bem desenvolvidos, o longa dá conta do recado e entrega uma adaptação de qualidade para o seu público-alvo, cumprindo boa parte das expectativas. Além disso, o filme não serve apenas como uma forma de entretenimento, mas sim de debate sobre questões importantes e que estão em pauta no momento, como a violência e o abuso contra a mulher.
O Contador
3.7 647 Assista AgoraNo filme acompanhamos a história de Chris, interpretado por Ben Affleck, que é diagnosticado com a síndrome de Asperger e que tem a facilidade de resolver grandes problemas matemáticos. Tanto é que o protagonista do filme trabalha como contador de criminosos conhecidos mundialmente e, ao mesmo tempo, administra um pacato escritório de contabilidade.
Durante o longa, temos duas histórias sendo trabalhadas: uma delas é a auditoria que Chris está fazendo em uma empresa de robótica, enquanto isso dois agentes do Governo, interpretados por J.K. Simmons e Cynthia Addai-Robinson trabalham para descobrir que é o famoso contador dos criminosos. O problema dessa segunda trama é que ela não foi para lugar nenhum e serviu apenas para que Simmons entregasse um bom papel, mas sem fundamento.
Enquanto isso, Chris descobre um rombo financeiro dentro da empresa de robótica. Com a ajuda da funcionária Dana, interpretada por Anna Kendrick, Depois disso toda a história se desenrola e se transforma em um thriller de ação desenfreado, com cenas de ação intensas e reviravoltas focadas na vida de Chris. Isso porque surge o assassino interpretado por Jon Bernthal. Além disso, somos apresentados ao passado do personagem, através de flashbacks que apresentam um pouco do passado e dos dramas vividos pelo protagonista.
O problema é que esses flashbacks não funcionam tão bem assim e as subtramas (como a dos agentes e a do assassino) são subaproveitadas, de forma rasa e sem a profundidade que tais histórias mereciam. Entretanto, de pontos positivos, temos o enredo principal sendo bem embasado e abordado com uma boa dose de cenas de ação e outras mais cadenciadas. Isso é mérito de Gavin O'Connor, que consegue construir um filme conciso durante boa parte.
Além disso, temos Ben Affleck em uma de suas melhores atuações da carreira, entregando um personagem com uma carga dramática e com uma série de problemas pessoais e psicológicos de forma convincente. Porém, no caso do elenco, não temos do que reclamar, afinal todos foram muito bem em suas atuações, entregando personagens com um bom background e sem exageros.
Talvez o maior problema de O Contador esteja nos seus minutos finais, quando o telespectador tem sua inteligência sendo desafiada em uma das cenas mais clichês e esperadas vistas nesse ano. Chega um momento que a revelação feita não pega ninguém de surpresa, pois tal ação já vinha sendo desenvolvida. Sem falar na condição de super-herói que tem Chris, onde é atacado por vários homens e sai da história praticamente ileso.
No geral, O Contador é um bom filme, tendo uma trama original e contando com boas premissas. Entretanto, faltaram explicações, coerências e uma verossimilhança maior na abordagem da história. Em uma grande atuação de Ben Affleck (com referência aos filmes de super-heróis), vemos aqui um filme interessante, mas que tinha tudo para um excelente longa.
Horizonte Profundo: Desastre no Golfo
3.5 330 Assista AgoraHorizonte Profundo - Desastre no Golfo conta a história de um dos maiores desastres ambientais da história dos Estados Unidos. Isso aconteceu no ano de 2010, no Golfo do México. Durante o filme, o público acompanha a visão do engenheiro-chefe Mike Williams, interpretado por Mark Wahlberg, que é um trabalhador que estava na plataforma durante o acidente.
O roteiro do filme é baseado em um artigo "Deepwater Horizon’s Final Hour", publicado pelos jornalistas David Rohde e Stephanie Saul, no The New York Times. O longa apresenta os momentos que antecederam o desastre, com uma boa dose de ação e drama, sempre apresentado pelo ponto de vista de Mike Wiiliams. É o protagonista que tem sua história contada desde o início, quando ainda estava se preparando para a viagem até a plataforma.
No longa, Peter Berg tenta construir um envolvimento do público com o protagonista, mas é algo que acaba soando forçado e algumas cenas se tornam desnecessárias para a evolução do filme. Além disso, o diretor também tenta inserir o público dentro daquela realidade e, para isso, acaba abusando de termos técnicos, que acabam fugindo um pouco do domínio de quem assiste e isso pode fazer que o telespectador perca um pouco o interesse pela história.
Entretanto, Horizonte Profundo - Desastre no Golfo tem mais acertos do que erros. As cenas de explosões ou que exigem um trabalho maior de efeitos especiais é muito bem executada. Talvez por saber das dificuldades ou por falta de orçamento, Peter Berg acaba não abusando de cenas magistrais e foca mais na luta dos trabalhadores pelas suas vidas. Com certeza foi escolha acertada, afinal o elenco estava muito bem e o risco de se perder uma bom filme, devido a construção de cenas surreais, era grande.
Outro ponto positivo do longa foi a verossimilhança. É óbvio que o filme é baseado em fatos, mas sabemos o quanto alguns diretores mudam alguns pontos por não se sentirem obrigados a contar a história como ela realmente aconteceu. Mas isso não acontece aqui e podemos ver os trabalhadores sem nenhum tipo de heroísmo, mas sim lutando pelas suas vidas e pela vida de seus colegas. Ações essas que todos tomariam, caso fosse necessário.
Além disso, Horizonte Profundo - Desastre no Golfo não poupa esforços para mostrar o lado obscuro da empresa que estava por trás de todos os erros que culminaram nesse desastre. Peter Berg não mostra apenas o fato, mas também constrói uma homenagem aos mortos daquele dia e mostra o que aconteceu ou pode acontecer com os donos da British Petroleum. Esse longa não é só mais um filme de desastre, mas funciona também como uma lembrança para que erros como esse não se repitam.
Inferno
3.2 832 Assista AgoraO filme é baseado em mais um livro de Dan Brown e dá sequencia as outras duas obras do autor: O Código Da Vinci e Anjos e Demônios. Essa é mais uma parceria entre o escritor, o diretor Ron Howard e o ator Tom Hanks, que reprisa seu papel de professor Robert Langdon. Como eu não li o livro, essa crítica será somente do filme e não poderei falar muito sobre a adaptação do livro para o cinema.
No início do longa já somos apresentados ao nosso professor e sabemos que ele está tendo visões do Inferno de Dante, tema esse que é recorrente em toda a trama. Além disso, ele não sabe como chegou a Itália e nem o que aconteceu com ele para estar internado em um hospital. A partir disso toda a drama se encaminha. Isso porque ele descobre que está de posse de um mapa que, depois de decodificado, deve dar o caminho para que se encontre um vírus mortal que será ativado em pouco tempo.
Tudo isso acontece em duas horas de filme, um tempo curto demais e que faz com que o ritmo do longa seja frenético e um roteiro fraco, que peca na construção de motivações e background dos personagens. Pelo menos esse ritmo acelerado auxilia nas cenas de ação e deve chamar a atenção de um público mais leigo e que não está inserido dentro do universo dos livros e das adaptações de Brown.
Creio também que faltou um pouco mais de mistério. Todas as cenas no museu e nos outros espaços históricos se resolviam muito rapidamente, como se tudo ali fosse simples e de conhecimento do público. Isso fica menos verossímil quando pensamos que Langdon ainda está com a memória afetada devido ao seu acidente que fez com que ele fosse para o hospital.
Inferno é o terceiro longa de uma franquia e segue os mesmos padrões do anterior, se mostrando uma obra que utiliza muito dos clichês para alcançar seu público. E isso acaba dando certo, pois o filme usa desses recursos manjados, mas de uma forma correta, que mostra o quão rica é a obra adaptada. Só fica um pouco triste quando notamos que ela poderia ter sido melhor executada.
Kubo e as Cordas Mágicas
4.2 635 Assista AgoraKubo e as Cordas Mágicas conta a história do jovem Kubo, que é um menino de um olho só e que cuida da sua mãe durante a noite e conta histórias com origamis durante o dia, como uma forma de arrecadar dinheiro para o sustento dos dois. Só que as histórias não são simples e os origamis ganham vida através da magia de seu banjo.
Um dos motivos dele passar a noite com sua mãe é que ele sempre foi avisado de que não deveria estar na rua quando anoitecesse. O problema é que Kubo acaba se perdendo no tempo durante um festival que esta acontecendo em seu vilarejo. Nesse momento ele acaba encontrando as suas tias e tendo que enfrentar o maior desafio de sua vida. A partir desse momento, Kubo, acompanhado de uma macaca e de um besouro; devem ir atrás de uma armadura sagrada que o seu pai estava atrás para conseguir se defender das suas tias e de seu avô, responsável por arrancar o seu olho esquerdo.
Essa é a premissa do filme, todo concebido em stop motion, é uma grata surpresa dentro das animações de 2016. Com uma produção que se assemelha muito aos animes japoneses, principalmente em sua trama, Kubo e as Cordas Mágicas surpreende por conseguir se comunicar com todos os públicos. O roteiro de Marc Haimes e Chris Butler chama a atenção e foi construído para atender uma demanda de crianças e adultos.
O filme também tem no seu stop motion um grande desafio: construir uma aventura épica e fantasiosa através de uma técnica tão complexa como essa. Entretanto, para quem assistiu ao filme, nota-se que esse desafio ficou só na cabeça de quem assiste, tamanha a naturalidade e beleza do que é visto na tela. Kubo e as Cordas Mágicas tem a beleza e o amor digno de uma indicação ao Oscar deste ano. Isso é mérito de Travis Knight, que estreia como diretor em um trabalho belíssimo.
Só que não é apenas dessa aventura que o filme se sustenta. No decorrer dos 100 minutos de duração, são encontrados outros debates e histórias paralelas sendo trabalhadas ao lado da trama principal: temos o processo de autodescoberta do personagem e o drama familiar existente na vida de Kubo.
Um longa lindo e tocante, mas que peca pelo seu excesso de clichês e por algumas falhas de roteiro. Um dos clichês mais fortes é a jornada do herói sendo utilizada da maneira mais usual possível, além de sua trama lembrar a de alguns animes japoneses. Já na parte do roteiro, vemos que não houve profundidade no momento de explicar a origem dos poderes e a motivação do seu vilão. Porém, mesmo com esses deslizes, o filme cumpre seu papel e entrega uma produção que merece ser assistida. É uma pena que o mesmo não deve permanecer muito tempo em cartaz, porque Kubo e as Cordas Mágicas é uma das melhores animações de 2016.
Koblic
3.2 56 Assista AgoraKóblic conta a história do personagem que dá nome ao filme. O personagem, interpretado pelo grande nome do cinema argentino, Ricardo Darín, é um ex-capitão das Forças Armadas da Argentina durante ditadura militar dos anos 1970. Nesse período, Tomás Kóblic pilotava os aviões responsáveis pelos voos da morte, onde as pessoas que eram contra o regime eram atiradas no mar.
Não suportando mais trabalhar para o exército, Kóblic se torna um desertor e resolve se esconder em um pequeno - e fictício - povoado de Colonia Elena, na Argentina. No local ele consegue um emprego com um amigo, onde trabalha como piloto de avião para pulverização. O problema é que, apesar de sair do exército argentino, Kóblic acaba sendo atormentado pelo seu passado, seja através de lembranças como também graças ao xerife da cidade, Velarde, interpretado por Oscar Martínez.
Para nos apresentar o real tormento do protagonista, o diretor Sebastián Borensztein distribui no decorrer do filme, pequenos fragmentos das lembranças de Kóblic. Aos poucos esse quebra-cabeça é montado pelo telespectador. Essa iniciativa de Borensztein agrada e interfere positivamente no envolvimento que o público acaba construindo com o ex-militar. E esse é um dos pontos mais interessantes dessa produção argentina.
O diretor Borensztein também acerta na construção de uma trama coerente e tensa. A preocupação com Kóblic existe e a verossimilhança se faz presente em todo o enredo. Com certeza isso também é mérito de Ricardo Darín, que mais uma vez prova o seu potencial como ator. Toda a carga dramática que ele entrega ao seu personagem é importante e na medida para envolver os telespectadores e traze-los para dentro daquela realidade.
Talvez o único ponto negativo do filme tenha sido a construção dos demais personagens. No decorrer do filme, Kóblic se apaixona por Nancy, interpretada por Inma Cuesta. A personagem foi construída como uma dama indefesa e não teve sua história aprofundada, apesar de ter espaço para isso, pois ela tem uma carga muito pesada no seu passado. Além disso, o xerife Velarde também não teve todo o seu perfil bem construído, mas sim o seu lado corrupto e autoritário, como uma figura da ditadura. E, por mais que tenha sido raso, Oscar Martínez consegue entregar uma atuação que faz com que o público tenha raiva de seu personagem.
Trilha sonora e fotografia também foram dois recursos técnicos muito utilizados em todo o filme e, com maestria. Tanto o som quanto a falta dele fazem com que a tensão aumente cada vez mais. Além disso, a fotografia também agrada os olhos, com toda uma ambientação dos anos 1970, em uma região areosa, com uma paleta de cores que remete ao tempo e espaço escolhidos para a produção.
Particularmente eu admiro o cinema argentino e gostaria de entender mais como eles conseguem emplacar tantas boas produções no cenário cinematográfico. E, com certeza, Kóblic entra para a minha lista de indicações de filmes argentinos, com um bom enredo de um momento delicado e importante da história argentina e, porque não, da América do Sul.
12 Horas para Sobreviver: O Ano da Eleição
3.3 802 Assista AgoraEsse é o terceiro filme da franquia, que tem como premissa mostrar as ações e insanidades que acontecem na Noite do Crime. Nesse universo distópico dos Estados Unidos existe uma noite do ano onde todos os tipos de crimes são liberados, mantendo a mesma ideia utilizada nos outros dois longas: Uma Noite de Crime (2013) e Uma Noite de Crime: Anarquia (2014).
Porém, aqui a história contada é a da senadora Charlene Roan, interpretada por Elizabeth Mitchell, que vivenciou a morte de toda sua família durante uma edição desse "feriado". Querendo a mudança, Charlene se candidata a presidência dos EUA para banir esse dia do calendário de uma vez por todas. O problema é que uma parcela da população e dos políticos no poder não querem que essa data deixe de existir e aproveitam a própria Noite do Crime para matar a senadora.
Um dos pontos positivos do filme é que eles souberam construir muito bem a motivação de todos os personagens e não apenas da senadora. Todo o elenco tem um objetivo na trama e isso faz com que o público abrace os personagens e se preocupem com as suas histórias. Com certeza esse é um ponto de destaque, mas que tem o seu lado negativo. Isso porque, apesar de construir muito bem suas motivações, faltam histórias que contextualizem tais personagens. Talvez, se existisse um cuidado com essa parte, o envolvimento do telespectador e até a identificação poderiam ser bem maiores.
Outro ponto negativo do longa é que o roteiro caminha para construir cenas que gerem mortes absurdas e apresente a insanidade das pessoas durante aquela noite. 12 Horas Para Sobreviver - O Ano da Eleição abusa de corpos amostra e obscenidades com o objetivo de chorar que está no cinema, seja pela sua crueldade, insanidade ou até bizarrice e incoerência. A trilha sonora é algo que merece destaque. Toda ela foi construída para crescer junto com o filme e as cenas se encaixam muito bem com algumas das canções presentes no longa. É possível notar isso tanto nos momentos de ação com em cenas mais dramáticas.
O filme tem verossimilhança e é possível sim acreditar naquele universo distópico. Isso porque, apesar de insano, as motivações fazem sentido e tem coerência com o que é apresentado. Até as mortes cruéis não forçam tanto a barra, claro que dentro do universo construído por James DeMonaco. Porém faltam algumas coisas para que a produção consiga abordar de maneira completa todo o debate social que existe no subtexto do filme.
Festa da Salsicha
2.9 816 Assista AgoraFesta da Salsicha é uma animação totalmente diferente de tudo que já vi em minha curta trajetória como cinéfilo. Posso garantir que é o desenho mais ousado atualmente e que não é indicado para um público infantil, afinal, é possível acompanhar a maior orgia alimentícia já imaginada na história do cinema. É isso mesmo, uma orgia entre alimentos. Mas esse não foi o único ponto polêmico abordado no filme da dupla Seth Rogen e Evan Goldberg, conhecidos por filmes mais ácidos.
No longa é possível encontrar críticas em seu roteiro a vários pontos perigosos de se abordar. No filme são abordados temas como religião, o conflito entre árabes e judeus, além das velhas piadas de cunho sexual. Entretanto a produção não discute nada sobre nenhum desses temas, mas sim constrói estereótipos preconceituosos de cada um dos citados acima. Acabei comparando o filme com a série Dads, que a FOX transmitiu uma temporada e acabou cancelando, devido as piadas preconceituosas que existiam. Depois disso me peguei pensando se esses temas dão mais certo com desenhos, por não serem levados tão a sério quanto com pessoas "reais".
Para que vocês entendam: Festa da Salsicha conta a história dos alimentos que estão a venda em uma rede de supermercados. Esses produtos tem vida e são racionais, porém acham que, quando são comprados, os deuses (humanos) os levam para o paraíso. Tudo graças a uma lenda que originou a música que faz parte da abertura do filme. Até que eles começam a desconfiar e descobrir o que acontece com os alimentos fora daquele supermercado.
O supermercado acaba sendo idealizado como um mundo para os alimentos que vivem ali. No decorrer do filme são construídos estereótipos baseados em cada uma das comidas que ali moram. Por exemplo, a prateleira de miojo e molho oriental, são representados como se fossem Chinatown; e o setor de bebidas, que vive sempre em festa.
Festa da Salsicha tem boas piadas, graças ao talento dos roteiristas do filme. O ponto é se eles acertam tanto assim ou se forçam o humor em praticamente todas as cenas e acabam acertando em alguns pontos. Isso porque foi possível notar que os risos surgiram nas cenas mais absurdas e não nas realmente engraçadas. Até onde a forçação de barra não foi o real motivo das gargalhadas que existiram na sessão. Não quero aqui dizer que o longa não é engraçado, até porque ele tem sacadas geniais. Só que vejo que eles tentaram piadas em excesso para acertar em alguns momentos.
O filme é mais uma produção polêmica da dupla Seth Rogen e Evan Goldberg. O problema é que, mais uma vez, os dois lançam um longa que se preocupa mais com o burburinho do público e da crítica do que com a qualidade que ele deveria apresentar. Assim, o filme que tinha tudo para ser genial, acaba sendo um ponto fora da curva do bom e do ruim, com conceitos inovadores, mas sem a preocupação de se consagrar por isso.
Assassino a Preço Fixo 2: A Ressurreição
3.0 183 Assista AgoraMais um filme de ação protagonizado por Jason Statham, conhecido por franquias como Os Mercenários e Carga Explosiva. O que o papel dele nesse filme tem em comum com a maioria dos seus trabalhos? Filmes com roteiros fracos e que buscam a motivação para as cenas de ação mirabolantes e, muitas vezes, surreais.
Em Assassino a Preço Fixo 2 - A Ressurreição o roteiro trabalha basicamente com essa premissa: a construção de diálogos e tramas que tem como conclusão as cenas de ação. Para que se entenda melhor o que estou tentando dizer vou explicar um pouco mais o filme, que é dirigido por Dennis Gansel e tem outros nomes conhecidos no elenco, como Jessica Alba e Tommy Lee Jones.
No filme, Arthur Bishop está aposentado de sua vida como assassino, até que acaba se envolvendo com Gina, personagem interpretada por Jessica Alba. Depois disso ela é sequestrada e ele obrigado a trabalhar para o vilão do filme e receber o seu pagamento: a liberdade de sua amada. Isso resume praticamente todo o filme e, pelo enredo, é possível notar a busca incessante de Gansel pelas cenas de ação, muitas vezes beirando o surreal, afinal, é impossível acreditar que Bishop pularia do bondinho do Pão de Açúcar para uma asa delta que passava por baixo.
Apesar disso, o longa apresenta alguns pontos positivos. A produção cumpre com o que se propôs a fazer e tem suas cenas bem dirigidas e executadas. Além disso, temos as boas atuações, principalmente de Jessica Alba, que se entrega para a personagem em uma boa atuação. Outro ponto interessante é que o filme consegue fazer uma boa homenagem aos longas dos anos 90, com suas cenas de ação surreais em roteiros que buscam apenas isso.
Entretanto, infelizmente, o filme tem muito mais erros do que acertos. Existem incoerências na construção de um personagem que sabe o papel de seu par romântico e, mesmo assim, acaba se apaixonando em um tempo recorde e sem nenhum trabalho de construção desse sentimento. Além disso, existem erros de continuidade, como a boca de Gina, que aparece machucada e curada em diversos momentos do filme. Isso tudo sem falar na imortalidade de Bishop.
Todas essas situações acabam atrapalhando a experiência de verossimilhança e também o envolvimento e preocupação com Bishop e Gina. Os dois acabam se transformando em seres imortais e isso é visto no decorrer do filme, prejudicando muito o envolvimento e a preocupação do telespectador para com os protagonistas do longa. No final das contas, a produção acaba sendo mais um filme de ação da carreira de Statham e mais um longa que homenageia a ação dos anos 90.
A Maldição da Floresta
2.6 215 Assista AgoraEm A Maldição da Floresta acompanhamos a história de Adam Hitchens, que se muda para a Irlanda, onde arruma um emprego como "médico" das árvores. Porém, quando Hitchens adentra na floresta, os moradores da região o alertam sobre as lendas que a assombram. Só que o protagonista do filme não acredita no que as pessoas falam e continua o seu trabalho. Até que, em um determinado momento, os monstros resolvem dar o seu jeito para que o homem saía do território deles.
Uma trama que apresenta vários clichês do gênero de terror, A Maldição da Floresta "inova" ao trazer de volta um conceito que até então vinha sendo pouco utilizado pelas produções de terror: os monstros. Atualmente, a maioria dos longas de gênero acabam utilizando apenas espíritos e demônios na construção de suas histórias, então, a utilização de um vilão que foge do habitual que vivemos, já acabou causando uma expectativa diferente para o filme.
Só que, apesar de ter boas cenas e até um certo suspense, o filme peca em apresentar os seus monstros. Um dos pontos que mais defendo é que o vilão de um longa de terror não precisa, necessariamente, aparecer para causar o medo. Essa era uma produção que poderia ter utilizado o recurso de esconder os seus monstros e deixar isso para a imaginação do telespectador. Entretanto, infelizmente, isso não aconteceu.
Uma das melhores coisas do filme é o seu roteiro, que consegue contextualizar todo o enredo, com a idealização de uma lenda da região e construindo tantas reviravoltas envolventes. Além disso, o roteiro é verossímil e envolve o telespectador na trama, onde é possível sentir sentimentos como medo e tensão. Um dos motivos para isso é o bom elenco que, apesar de não ter nenhum grande nome, deu conta do recado com uma atuação segura e sabendo dosar os sentimentos na hora certa.
Apesar de ter tantos pontos positivos, A Maldição da Floresta acaba perdendo um pouco a força por apresentar tantos clichês, como citado anteriormente. No filme é possível encontrar a casa assombrada, uma floresta que tem vida, os lugares escuros que despertam a curiosidade dos personagens e a luz sendo usada como uma arma contra o vilão. Essa falta de originalidade acaba tirando um pouco o potencial que o longa poderia ter.
O Lar das Crianças Peculiares
3.3 1,5K Assista AgoraO Lar das Crianças Peculiares foi lançado com a expectativa de ser uma grande adaptação do seu livro e almejava ter a importância que Harry Potter teve. Pelo menos vemos isso ao saber que o livro foi best seller nos Estados Unidos, quando permaneceu por 52 semanas entre os mais vendidos do New York Times e que o mesmo foi eleito como uma das 100 obras mais importantes da literatura jovem de todos os tempos.
Eu particularmente não li o livro então só posso analisar o filme. É uma falha da minha parte, mas prefiro não comparar com algo que eu não tenho o conhecimento necessário. Por isso comentarei somente o longa de Tim Burton. E podem ter certeza que, infelizmente, temos bastante coisa para falar sobre essa produção pela qual eu tinha grande expectativa.
Enquanto assistia ao filme acabei pensando: porque eu me preocupo com a história de Jake, interpretado por Asa Butterfield? Esse é um problema que Tim Burton teve. Faltou trabalhar a construção dos personagens, para que o público sentisse interesse pela sua história. O envolvimento com o seu avô é construído de forma rasa e o próprio ator não tem o carisma necessário para tal protagonismo. A premissa do filme é a busca de Jake por respostas sobre o seu avô. Só que isso não é trabalhado em momento algum. São poucas as aparições de diálogos sobre o passado de Aba e, em determinada parte do longa, parece que Jake esqueceu de sua motivação. Somente na parte final da produção que esse tema volta a ser citado.
Mas, pelo menos, as outras crianças tiveram suas histórias bem construídas. O problema é que foram só elas que tiveram essa oportunidade. Os pais de Jake, seu avô e a própria Senhorita Peregrine, "dona" do orfanato não tiveram destaque e acabaram ficando em um segundo plano, atrás de um romance e de uma aventura cheia de efeitos especiais desnecessários e com um Samuel L. Jackson bizarro e com sua atuação exagerada. O roteiro também apresenta alguns outros furos nas construções de suas histórias, como na cena onde as crianças enfrentam os vilões, que somem e depois voltam do nada ou no excesso de entradas e saídas de fendas.
Essa construção de personagens, alinhada a boa escolha do elenco, agradou muito. Não tem como não ficar curioso pelas histórias que ainda podem ser contadas sobre esses peculiares e outros que existem no mundo todo (isso é explicado no filme). Talvez esse tenha sido o grande acerto de O Lar das Crianças Peculiares.
Os exageros das cenas de ação e efeitos especiais também incomodam um pouco. Se a primeira parte do filme tem muitos acertos, o "embate final" apresenta coisas que incomodam e que fogem um pouco da realidade criada no início da produção. Os efeitos especiais são uma marca de Tim Burton e esse longa tem a sua assinatura bem presente.
Porém o que me agradou foi o que citei anteriormente: a construção dos outros personagens. Não sei qual a expectativa da Fox em produzir uma sequência para a franquia, que em certo momento me lembrava Nárnia. Creio que existe a possibilidade de seguir com essa história, mas pontos precisam ser alinhados para que o possível segundo longa seja lançado mais redondo. Somente assim será possível sonhar com uma nova franquia de fantasia nos cinemas.
Lembranças de um Amor Eterno
3.2 49 Assista AgoraO filme conta a história da estudante e dublê Amy, interpretada por Olga Kurylenko, tem um relacionamento com o pesquisador Edward, interpretado por Jeremy Irons. O professor universitário é casado e vive um romance extraconjugal com Amy. Esse relacionamento acontece a distância, pois os dois vivem em países diferentes e se encontram esporadicamente, quando ele palestra na cidade dela. No resto do tempo eles se comunicam apenas por Skype, ligações e trocas de e-mails. Só que, em uma palestra de sua universidade, Amy acaba descobrindo que Edward morreu, mesmo que ainda esteja conversando com ele. E, mesmo depois que ela descobre isso, os e-mails e cartas continuam chegando em sua casa.
Apesar de ser uma trama que já apresentou filmes de sucesso, como P.S. Eu Te Amo e Ghost - Do Outro Lado da Vida, falta algo para que Lembranças de um Amor Eterno conquiste esse espaço. O filme tem um ritmo lento e massante, seja pelos diálogos ou pela direção arrastada de Giuseppe Tornatore. O roteiro, também assinado por Tornatore, falha em construir uma realidade palpável para Amy, tanto que, um dos grandes problemas, está no roteiro. Isso porque a protagonista não se pergunta o porque dessa atitude de Edward.
Além disso, a produção também não conseguiu escalar um bom elenco. Apesar de serem esforçados, nenhum dos dois consegue carregar toda a carga dramática que a trama necessita. Ainda mais quando vemos que os dois estão presentes em quase todo o filme, tendo a responsabilidade de segurar o telespectador por quase duas horas em frente a tela. Infelizmente falta carisma e potencial para que eles consigam fazer isso.
Outro problema da direção do filme é a repetição de elementos desnecessários, como a entrega de CDs, e-mails e SMSs. Parece que Tornatore menospreza o seu público, explicando cada conceito repetidas vezes, com o objetivo de firmar cada vez mais sua ideia. Isso sem falar que essa repetição firma o amor infinito que o diretor tanto prioriza nesse filme.
Falta algo para que o filme conquiste poupas de mais um sucesso do diretor. Entretanto, Lembranças de um Amor Eterno terá seu público, formado por pessoas que buscam uma grande história de amor (algo que o título brasileiro vende) e pelos fãs do cineasta, que tem uma carreira sólida e com uma boa legião de telespectadores. Porém, infelizmente, esse filme não faz jus a história de Tornatore.
Cegonhas - A História que Não te Contaram
3.6 332 Assista AgoraCegonhas - A História que Não te Contaram é uma grata surpresa de 2016, no quesito animação. Isso porque, ao contrário dos desenhos da Pixar, onde o público encontra uma mensagem em suas entrelinhas, o filme, que estreia nessa semana, visa alcançar um público mais amplo, sendo de fácil entendimento para as crianças. Isso porque, a produção é inocente e simples, tendo como carga emocional as histórias que sempre ouvimos quando eramos crianças: "como nascem os bebês? São as cegonhas que trazem."
O filme já começa mostrando que essa realidade mudou e que agora as cegonhas trabalham como carteiros, entregando encomendas de uma rede varejista. O motivo dessa mudança é explicado no decorrer da trama.
O enredo do filme acompanha Junior, uma cegonha que trabalha na empresa e é conhecido pelo seu excelente trabalho. Com a aspiração de se tornar um chefe, Junior recebe a ordem de demitir Tulipa, uma humana que nunca foi entregue a sua família. O problema é que a cegonha não teve coragem e, para não chatear a menina, acaba levando ela para um setor que não era mais utilizado. O problema é que a mesma acaba reativando a máquina de fazer bebês. Com o medo de ser descoberto, Junior resolve entregar essa criança escondido. Mas é óbvio que não seria tão fácil.
A produção funciona graças a direção de Nicholas Stoller e Doug Sweetland e ao roteiro de Stoller. Esse longa consegue gerar empatia do público ao ponto dos telespectadores se preocuparem com o futuro de cada personagem. Isso sem falar que existem alguns núcleos do filme que se mantem de forma isolada, com arcos fechados e não interligados diretamente. Talvez por ter uma história tão simples e, ao mesmo tempo, com um grande alcance, o público em geral possa acabar se apaixonando.
Além disso, existem diversos momentos do filme que geram os risos e a comédia tão esperada para divertir uma animação. Todas as cenas com os lobos, apesar de serem surreais, agradam os telespectadores e geram um carinho melhor pelo longa e pelos seus protagonistas. Todos os personagens são bem construídos e fazem com que o carinho seja sentido e que a preocupação pela conclusão do enredo envolvam o público que acompanha o filme.
A simplicidade proposta pela direção também encontra o seu público. Apesar do sucesso dos filmes da Pixar, existem pessoas que buscam um desenho mais simples, com uma história que ao mesmo tempo que é bobinha gera o envolvimento de quem assiste. Isso pela construção dos seus personagens e pelos valores apresentados pelo filme, como a importância da família, dos amigos e da responsabilidade. Com certeza, uma das melhores animações de 2016, com cenas memoráveis e que podem sim ficar na história das animações.
Os Mercenários 2
3.5 2,3K Assista AgoraSeguindo o mesmo espírito do primeiro filme da franquia, Barney Ross é chamado novamente por Church para realizar mais uma missão com o seu grupo de mercenários. Mas os “problemas” com a equipe (na visão dos produtores) começam desde o início da trama, com a inclusão de uma mulher no time e, posteriormente, as perdas de outros companheiros de Stallone.
O roteiro do filme peca nessa parte. Existe sim uma causa para que tudo aconteça, mas esse motivo é fraco e não condiz com todas as ações que acontecem no decorrer da trama. Isso mostra como o texto não tem tanta força e serve apenas de trampolim para as cenas de ação com os atores que ficaram consagrados por filmes do gênero nos anos 90.
E são essas cenas de ação que fazem com que o longa-metragem cumpra sua missão. Todas elas são bem produzidas e dirigidas, abusando do sangue e de cenas fortes. Algumas chegam a ser surreais, mas fazem sentido no contexto e no universo no qual o filme está inserido. Mas cabe aqui salientar que, mesmo fazendo sentido, elas acontecem em excesso e fazem com que os telespectadores não acreditem no que está acontecendo.
Essas cenas de ação lembram muito os filmes dos anos 90 que os atores de Os Mercenários fizeram parte. Podemos ver ali referências ao Rambo, Exterminador do Futuro, O Grande Dragão Branco e a toda carreira de Chuck Norris. Em um tempo onde séries como Stranger Things fazem sucesso pela nostalgia, Os Mercenários 2 executa esse serviço, unindo astros do passado em um único filme, com o simples objetivo de acompanhá-los juntos quase que reprisando papéis que os consagraram.
Tô Ryca!
3.0 287 Assista AgoraO enredo do filme é explicado de forma simples: Selminha, interpretada por Samantha Schmütz, é frentista de um posto de gasolina e vive na periferia do Rio de Janeiro. Sempre reclamando de seus problemas financeiros, ela é surpreendida com uma herança deixada pelo seu tio avô. O empecilho é que, para ela pegar essa herança, Selminha terá de gastar 30 milhões de reais em 30 dias, mas não pode adquirir nada e os gastos terão de ser feitos com serviços.
A trama é parecida com o filme americano Chuva de Milhões, de 1985. Nessa produção o jogador de beisebol falido também recebe uma herança e esse mesmo desafio. As semelhanças são tantas que até os valores financeiros são os mesmos. Então, Tô Ryca funciona um pouco como uma releitura dessa produção, que também é baseada em um livro homônimo. Apesar da trama simples, o roteiro consegue apresentar furos e se utilizar de um humor pastelão para suas piadas.
Isso porque a produção é cheia de exageros, tanto na parte caricata dos suburbanos cariocas, que chegam a ser bregas nas interpretações e no vestuário de Samantha Schmütz e Katiuscia Canoro. Outro ponto que também incomoda são alguns furos bobos (quando o namorado de Katiuscia sabe que a Selminha ganhou a grana?), que servem de trampolim para uma cena onde Schmütz consiga arrancar risos da platéia.
Apesar desses erros (e de mais alguns que não citei), o longa tenta, mesmo que superficialmente, fazer críticas a alguns temas mais pesados, como o momento político que estamos vivendo e como a religião interfere diretamente na opinião pública. Outro pensamento que também é abordado é o quanto o dinheiro pode mudar uma pessoa e que a felicidade não vem, necessariamente, junto dele.
Tô Ryca é mais uma produção nacional que estreia em 2016 para tentar mudar o paradigma do cinema nacional. Infelizmente o filme fica para trás de outras comédias que foram lançadas neste ano, mas deve alcançar o seu público. Como o longa-metragem está mirando um grande público, a tendência é que ele encontre seu espaço dentro de uma fatia que busca o humor simples e escapista que Pedro Antonio conseguiu emplacar aqui.