Depois de a Sony Pictures lançar o arrasa-quarteirão 'Homem-Aranha no Aranhaverso' (o melhor filme do aracnídeo), e abocanhar o prêmio de animação em todas as premiações que concorreu, eles voltaram suas atenções para sua próxima obra que teria o mesmo estilo de animação de seu antecessor.
Dirigido e escrito por Michael Rianda (em sua estreia como diretor de animações) e produzido por Christopher Miller e Phil Lord (Homem-Aranha no Aranhaverso), e distribuído pela Netflix, 'A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas' inova em muita coisa em termos de entretenimento, e além de ter uma linguagem bem atual, vai divertir além das crianças, os adultos também.
A história segue Katie Mitchell, que acaba de ser aprovada na faculdade de cinema, ela que sempre fez vídeos caseiros, pequenos filmes com seu irmão e o seu cão (porco ou pão de forma, não sei) Monshi, sempre sonhou em fazer filmes, e após ser aceita finalmente iria encontrar a sua tribo, pessoas que possuem gostos parecidos e iguais aos dela e pessoas com quem ela se identificaria. Para viajar para a faculdade, seu pai canela sua passagem de avião e decide fazer uma viagem de carro até a cidade onde ela irá estudar, para se reconectar com sua filha, uma vez que os dois não são tão apegados um ao outro. É nesta viagem, que um app de serviços chamado 'Pal', estilo google acaba tomando conta de robôs, e atacando toda a humanidade, restando apenas a família Mitchell, que terá que salvar o mundo dos robôs.
Como toda animação, ela traz uma mensagem por trás, no caso, a importância de se conectar com a sua família, respeitá-la e aceitá-la do jeito que ela é. E mais profundo ainda, a relação de Katie com seu pai Rick Mitchell, pois ele não deu muita atenção para os vídeos de Katie conforme ela crescia, e isto não os aproximava como pai e filha, faltava uma ligação, e em viagens e reuniões familiares, eles sempre estavam se alfinetando ou engalfinhando, e essa viagem e tentativa de deter os robôs, podem acabar aproximando os dois.
A família Mitchell, muito provavelmente é baseada na família do diretor Michael Rianda, como sugere fotos no começo e créditos finais do filme. E o ponto alto desta animação é a forma como Michael resolveu tratá-la em tela. Muitos elementos da internet, principalmente do Youtube, como vídeos aleatórios, cenas que parecem capa de HQ's, com logos chamativos e frases de impacto, no melhor estilo Jackass, misturado com Batman: a série de 1966, muitas ideias visuais malucas que lembram o extinto 'Liquid Television' da MTV, e músicas de fundo no melhor estilo KIll Bill. Visualmente tudo nesta animação é diferente, não inovadora, mas muito inspirado no que se vê em vídeos aleatórios do Youtube, e uma linguagem muito mais jovem e atual, como se fossem vídeos caseiros editados em programas de computador, para virarem pequenos curtas, ou um curta metragem de baixíssimo orçamento... que é exatamente o que Katie fez em toda sua infância e pré-adolescência.
Por ser possivelmente baseado na família de Michael Rianda, ele ter escolhido esta forma de homenagear sua família, e portanto, todo a batalha final com os Robôs do App 'Pal', é bem cinematográfica, bem ao estilo de filmes de ação e super-heróis, como Star Wars, Indiana Jones, Kill Bill e Vingadores. Tudo muito surreal, que tira uma fração de realidade que a animação constrói na relação de Katie e Rick Mitchell, e na possível rivalidade com a família Posey. Por mais que ele exagere a mão nessas sequências finais, a impressão é que a intenção dele era realmente retratar a família como super-heróis, cada um em sua qualidade, o que aos olhos dele, era assim que ele os enxergava, ou era assim que ele quis retratar a família para quem assistisse a animação. Se por uma lado pode ser um pouco exagerado e forçado, por outro dá para entender a escolha de Michael em retratá-los assim na sequência da batalha final.
A maioria dos dubladores são profissionais especializados em animações. Katie foi dublada por Abbi Jacobson, seu pai por Danny McBrride, e sua mãe Linda por Maya Rudolph (de Luca). Seu irmão AAron foi dublado pelo próprio Michael Rianda. Ocantor John Legend fez Jim Posey, e o apresentador Conan O'Brien fez o robô Glaxon 5000. Já Olivia Colman, atriz oscarizada de A Favorita, The Father e A Filha Perdida, fez o aplicativo Pal.
A trilha sonora é bem variada e eclética e mistura BTS, Le Tigre e Madeon, com bandas consagradas como Talking Heads e Sigur Ròs (que tem duas músicas na trilha).
'A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas' foi indicado na categoria Melhor Filme em Animação no Satellite Awards e no OSCAR. Perdeu o BAFTA para 'Encanto'. Porém, o filme venceu o Annie Awards (o Oscar da Animação) e o Critics Choice Awards, duas grandes premiações desta temporada.
Ainda não assisti Encanto, nem Flee, o que pode mudar minha opinião, mas em termos de prêmio, continuo dando para Luca, que me pegou mais. 'A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas' é ótimo, engraçado demais, com alma e coração e tecnicamente muito bem produzido. Tem um exagero ali e acolá, mas dá pra passar o pano. Também é um pouco longo demais, poderiam ter tirado alguns minutos ali do longa, algumas crianças vão acabar se cansando. Se levar o Oscar, vai estar em boas mãos... e tem muita força até lá.
Eu tenho uma minúscula lista de 'Trailers que são melhores que os filmes em si', e vou incluir 'Belfast' nela. Aí você pode pensar que eu não gostei do filme e que deixou a desejar... muito pelo contrário. Na verdade, o trailer de 'Belfast' é emocionante demais, muito bonito, bem feito, bem montado, com "Everlasting Love" de fundo, com as cenas certas de 'Belfast' de falas que trazem um impacto. Toda premiação devia ter esta categoria de Melhor Trailer, que se não me engane, só a Associação de Filmes e Televisão online tem essa categoria que foi para 'Last Night in Soho'.
Pois bem, o trailer é lindo de morrer e quando o vi no cinema fiquei encantado e esperava um filme divino. Acredito que Kenneth Brannagh (diretor de THOR, por isso a revista na mão de Buddy) fez um ótimo trabalho com 'Belfast', é uma carta de amor as pessoas que viveram e vivem em Belfast, uma carta de amor a cidade, e seus costumes e crenças, ele faz uma revisitação de sua infância (comum nos últimos anos com alguns diretores, como Roma de Cuáron). É um filme que mostra que a alma e o coração de Belfast são as pessoas, que fazem de Belfast ser quem ela é. Belfast são as pessoas que vivem nesta pequena cidade, com suas ruas que ao mesmo tempo que são estreitas, elas são completamente amplas, onde as pessoas conhecem umas as outras, desde a infância, cresceram juntas, formam uma comunidade amorosa, que cuidam uns dos outros, onde seus filhos são conhecidos por todos, desde os vizinhos, até os donos de mercearias, padarias, onde a escola é a segunda casa dessas crianças, que brincam nas ruas até o jantar, sem preocupação, onde qualquer vizinho ou pessoa olham por elas.
Belfast, aos olhos de Sir Kenneth Brannagh, na década de 60 para 70, por mais alegre que fosse, sofreu com a guerra civil que se instaurou na comunidade e no país, entre Protestantes e Católicos, os Protestantes, que historicamente são imigrantes britânicos vindos também da Escócia e País de Gales a muitos anos atrás, que concentraram na província de Ulster, em sua maioria, e os Católicos, que são irlandeses de sangue, que se orgulham de suas terras e temem uma rebelião.
Esse confronto caseiro, se expandiu para o movimento IRA, uma grupo terrorista que lutava pela independência da Irlanda do Norte contra o exército britânico, e que numa manhã de 1972 culminou na morte de dezenas de pessoas pelo exército britânico, no que ficou conhecido pelo 'Domingo Sangrento'. O U2 gravou uma música chamada 'Sunday Bloody Sunday', que se encontra no disco 'War' de 1983, sendo que o U2 é um grupo irlandês, e para as pessoas que ouviram "Everlasting Love" no trailer e no filme, cantado por Jamie Dornan, esta música foi regravada pela banda em 1989, e originalmente é de uma cantor americano chamado Robert Knight. Acredito que pelo fato de ter sido regravado pelos maiores artistas que a Irlanda já concebeu, ela se faz presente no filme até como uma certa reverência pela importância da banda na música mundial.
Mas apesar de Belfast ser um filme lindíssimo de Brannagh, ele possui muitos cortes, a edição é corrida demais, algumas passagens poderiam falar por si só, mas há tantos cortes de edição que a impressão que passa é que o filme é corrido demais, e de fato ele não é. Como a edição não foi dosada, o filme fica com uma reputação que não lhe pertence. Alguns personagens também não recebem aprofundamento, como o pai de Buddy, interpretado por Jamie Dornan. Faltou um tato melhor para com ele, para contextualizá-lo mais para com sua situação com a família, e a situação civil de Belfast. Os avós de Buddy também, eles tiveram seu destaque e isso eu não posso negar, mas tinham potencial para um pouco mais. E é visível que tiveram uma atenção especial no texto para com o avô de Buddy (Ciarán Hinds) que se sobressai mais no longa do que a avó dele (Judi Dench) que tem um destaque somente na cena final do longa, ao meu ver.
De destaque, temos a competente e estonteante Caitriona Balfe, que esteve bem demais no filme, incrível, além do próprio Judy Hill, o garotinho que fez Buddy, esperto, profissional, atento, dedicado e perfeito na sua atuação. A cereja do bolo do filme. Também destaco Laura McDonnell, que fez Moira no filme, a amiga rebelde de Buddy, ela atua muito bem, é um colírio em cena, teve uma química boa com Judy Hill, e sua personagem é muito carismática, sem falar que sua atuação remete muito a de Thomassin Mckenzie em 'Jojo Rabbit'. Mencionando também Ciarán Hinds... Gigante no filme!
Tecnicamente 'Belfast' é incrível, pois possui uma cenografia cuidadosamente bem construída, toda Belfast é bonita e bem mapeada com suas ruas e casas, e as trincheiras. A cenografia também merece ser reconhecida, com as placas da época nas vendas, e nos locais de passeio, fora o pequeno cinema que eles frequentavam, e os detalhes e enfeites na casa de Buddy, assim como nos fundos da casa. A fotografia é lindíssima, ainda mais com o filme se passando em preto e branco, nas cenas de combate entre os civis, na cena inicial ainda em cores, fotografando a cidade ao longe, e na cena do cinema, onde o laranja da filme que assistiam refletia nos óculos da vó Judi Dench. E também mencionando que a cena de dança, com Jamie Dornan cantando "Everlasting Love" e dançando com Caitriona Balfe, além de ser prefeita é linda e bem dirigida, ponto alto do filme fácil.
A trilha sonora é do cantor Van Morrison, é ótima e suas canções para o filme são boas, mas confesso que estas canções originais não me pegaram.
'Belfast' recebeu inúmeras indicações nesta temporada de premiações; -No Globo, Roteiro, Filme Drama, Diretor, Ator Coadjuvante (Ciarán Hinds e Jamie Dornan), Atriz Coadjuvante (Caitriona Balfe), perdendo todos; - Nos SAG'S para Caitriona Balfe e Melhor Elenco, também perdendo; - No Satelitte Awards, Filme Drama, Diretor, Ator Coadjuvante (Ciarán e Jamie), Atriz Coadjuvante (Judi Dench e Caitriona Balfe), Roteiro Original, Melhor Canção 'Down To Joy' de Van Morrison, Fotografia, Montagem, Som, Direção de Arte e Figurino; - No Critics Awards, Melhor Filme, Elenco, Ator Coadjuvante (Jamie e Ciarán), Atriz Coadjuvante (Caitriona), Revelação (Jude Hill), Diretor, Roteiro Original, Fotografia, Direção de Arte e Edição; - No OSCAR, Melhor Filme, Direção, Ator Coadjuvante (Ciarán Hinds), Atriz Coadjuvante (Judi Dench), Roteiro Original, Melhor Cnação 'Down To Joy' Van Morrison. - No BAFTA, que acontece enquanto eu escrevo, até agora perdeu Montagem e Roteiro Original (absurdo), Caitriona Balfe e Ciarán Hinds perderam em Atriz e Ator Coadjuvante respectivamente. 'Belfast' ganhou o prêmio de Melhor Filme Britânico até agora, e ainda concorre a Melhor Filme o maior prêmio da noite.
Achei um absurdo a Academia não indicar a Caitriona Balfe, que esnobada feia, indicando ainda Judi Dench que mal teve espaço no filme para brilhar. Academia e suas incoerências eternas. O filme foi mais reconhecido no Satelitte Awards com diversas indicações do que em outras premiações, muitas técnicas, umas das quais eu não concordo muito. As indicações de Jamie Dornan, são válidas só nas premiações que ele foi indicado, obvio, não achei a atuação dele tão ótima e impactante assim para ele ganhar essas indicações no Oscar ou BAFTA por exemplo. Até aí está de bom tamanho. E claro, um crime, no BAFTA Kenneth Brannagh perder Roteiro Original Para Licorice Pizza, crime que a Academia britânica cometeu sei lá porque. É minha torcida em Roteiro para as premiações que virão a seguir.
'Belfast' é um bom filme, na minha visão, tem uma edição bem contestada, conflituosa, deveria deixar o filme seguir livremente, mas é uma história bem rica, e um roteiro bem escrito e bem amarrado. Não deve levar mesmo Melhor Filme no Oscar, nem no BAFTA, e o prêmio de Filme Britânico já é uma conquista bem grande para Kenneth Brannagh e seu conto afetivo em um período tão conflituoso.
Todo mundo sabe que todos os anos, os filmes da Pixar saem sempre como os favoritos para levar os prêmios de Animação não só no Oscar, como nas demais premiações. Não só são os principais favoritos, como acabam mesmo levando o prêmio. Tanto que os dois últimos Oscars foram para filmes da Pixar, assim como em 2018 e 2016, o que chega a ser aposta batida, pois acaba sendo o mais óbvio das categorias e prêmios nas premiações. Óbvio, não tiro o mérito da Pixar, que é um dos estúdios mais competentes em termos técnicos de animação, e em como contar histórias que emocionem seu público, seja infantil, ou até mesmo os adultos. Não á toa foram comprados pela Pixar.
Porém, este ano, realmente 'Luca' filme da Pixar indicado a Melhor Animação, realmente é um trabalho ótimo da produtora, e desponta como favorito para o prêmio, algo que seria muito justo.
'Luca' conta a história do monstro marinho Luca, que sonha em ir para a superfície e conhecer o mundo. Ao tomar coragem e subir das profundezas do oceano para a superfície, ele junto de seu mais novo amigo, Alberto, fazem um pacto para ganharem uma campeonato de triatlo, para comprarem uma Vespa e sair conhecendo o mundo dirigindo ela. Porém, os dois ao saírem da água e ficarem em superfície, ficam com sua aparência humana, e não podem ter contado com água para não voltar a aparência marinha. Á partir daí eles vão para um vilarejo na Riviera Italiana e conhecem Giulia, eles formam uma amizade que pode finalmente vencer a Copa anual que sempre é vencida por Lorenzo, rival de Giulia.
O filme é muito gostoso, por se passar na Riviera Italiana, traz toda uma cultura italiana para o longa, com costumes, gírias (What's Wrong Wtih You, Stupido?), culinária, construção do vilarejo. Aborda uma amizade bem construída entre Luca e Alberto, com altos e baixos, e também do trio Giulia, Luca e Alberto, os "Excluídos' (ou Underdogs), que ambos no trio têm suas dores, seus medos, e seu sonhos. O filme é engraçado, cheio de tiradas satíricas, e piadas que funcionam muito bem, é emotivo principalmente em seu final, na estação de trem, mandaram muito bem nessa sequência, com um texto bem simples, que emociona quem assiste o filme por inteiro. Também traz uma mensagem bacana de aceitação e respeito, o que acaba acontecendo na maioria dos filmes de animação.
Os personagens são todos ótimos e possuem muito carisma, o que já é um passo enorme para uma animação te ganhar. Luca não funciona sem Alberto e vice-versa, os dois complementam um ao outro no filme e isto é nítido em tela. Giulia também brilha mais quando está com eles ou com só com Luca. Já o antagonista Lorenzo, é bem caricato, e por mais que seja engraçado em muitas partes, não vai cair nas graça do espectador, justamente por ser muito exagerado em sua performance. Os pais de Luca também são ótimos, sendo um alívio cômico no filme quando eles chegam ao vilarejo, e temos o pai de Giulia que apesar de aparecer modestamente, tem o seu carisma. Um dos personagens mais curiosos, e engraçados, é Tio Ugo, esqueci o tipo de peixe que ele é, mas é muito caricato e engraçado, com um texto afiado também, ele é dublado por Sacha Baron Cohen (de Os 7 de Chicago e Borat 2), ou seja, um personagem que ficou nota 10. Sua cena final depois dos créditos conversando com, provavelmente, Giusseppe, o peixe de Luca é hilária.
Tecnicamente, a Pixar fez um trabalho ótimo com a animação e com a construção do vilarejo que se localiza na Riviera Italiana, tudo lá é bem detalhado e bem construído, foi um bom trabalho de pesquisa para remeter isto no filme. Pra mim, pecaram apenas em não criar um visual subaquático amplo, aonde luva vivia com sua família e onde conheceu Alberto. O fundo do oceano aqui ficou bem simplificado, sem muitos detalhes, pouco inspirado, e sem muitos coadjuvantes. A impressão que dá é só pano de fundo para focar na superfície. Este ponto eu não curti.
De dubladores, todos são profissionais acostumados com dublagem em animação: Jack Dylan Grazer (Alberto), Jacob Tremblay (Luca), Emma Berman (Giulia), Marcelo Barricelli (Massimo), Saverio Raimondo (Ercole), Jim Garffigan (Lorenzo), Maya Rudolph.
Dirigido por Enrico Casarossa (Coco) que fez uma ótima direção no filme, e escrito por Jesse Andrews e Mike Jones (de Soul), 'Luca' foi indicado a Melhor Animação no Critics Awards, no BAFTA, no Satelitte Awards e no Oscar. Perdeu o Globo de Ouro para 'Encanto', e perdeu o Annie Awards (o Oscar das animações) para A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas'. O filme por enquanto ganhou o People's Choice Awards de Melhor Filme de Família.
Ainda faltando ver 'Encanto', 'Flee' e 'A Família Mitchel e a Revolta das Máquinas', 'Luca' por enquanto é o meu favorito para as premiações... e cada vez mais eu vou pegando gosto para assistir animações... desde que tragam conteúdo e não sejam pastelões demais.
'Boiling Point' é um filme dirigido e roteirizado por Philip Barantini (ator de O Escapista), baseado em um curta feito por ele em 2019. Este curta foi estrelado por Stephen Graham (O Irlândes), que reprisa o papel neste filme distribuído pela Vertigo releasing.
'Boiling Point' nos coloca dentro do restaurante do Chef Andy Jones, que se divorciou recentemente, não tem tido muito contato com seu filho, de idade desconhecida, e que recebe na noite de véspera de natal em seu restaurante, diversos clientes, e um amigo antigo ao qual deve 200 mil libras e sua noiva, uma conhecida crítica de culinária. Fora isso, durante esta noite, diversos problemas acontecem na cozinha, de pessoais a profissionais, todos motivados pela presença inconstante de Andy em seu restaurante, que não resolve questões que deveria resolver. E ainda problemas no salão do restaurante, com pratos que vivem voltando e a hosters/gerente que não se dá bem com ninguém da cozinha e sempre gera discussões acaloradas.
O filme é uma das coisas mais sensacionais que já vi no cinema. Ele é todo filmado em One-Shot... ou seja, 1h32 minutos de uma cena apenas sem NENHUM CORTE, nada de edição, zero. Já imaginou filmar um longa sem nenhuma edição, sem nenhum corte? Apenas uma tomada, certeira... se fosse uma cena mais longa, ok, normal. Se fosse uma sequência bem mais longa, aí já é motivo de aplaudir e reverenciar de pé, como foi em 1917 de Sam Mendes... mas todo um filme sem cortes? Tudo minimamente coreografado... o filme tem vários núcleos, foca no protagonista, o Chef Andy Jones, mas também "corta" para os demais personagens do elenco, fica na cozinha com a Chef Carly, passeia pelos demais profissionais da cozinha, e nos fundos com a dupla lavadora de pratos, os stewards, sendo que um deles, interpretado por Daniel Larkai, tem uma sequência só dele fora do restaurante... também passeia pelo salão, com seus diversos garçons, em diversas ocasiões, e na gerente Beth, assim como também foca por duas ocasiões em uma conversa com Chef Andy, seu amigo Alistair Skye, a quem deve dinheiro e sua noiva crítica de culinária.
Tudo isto citado, em apenas um take, sem cortes, a câmera passeia por todas essas cenas, cem edição, ele segue o próximo personagem, deixando o núcleo passado para trás, e nitidamente você percebe que está tudo coreografado, meticulosamente cronometrado, ninguém pode errar sua fala, sua deixa, sua entrada e saída, tem que ser perfeito 100% o tempo todo... é surreal demais, uma experiência única em termos de cinema.
Stephen Graham merece todos os elogios, está perfeito no filme, uma bomba relógio ambulante, uma atuação fora do comum, traz consigo um drama carregado de desespero e confusão... não tem como não tirar os olhos dele e você sempre anseia por mais quando ele mão está em cena. Outras três que merecem destaque são Vinette Robinson (de Black Mirror) como a Souls-Chef Carly e Alice Feetham como a gerente Beth, as duas estão ótimas no filme, ambas têm suas cenas dramáticas de destaque, e claro, há uma cena de discussão acalorada entre as duas, onde Carly engole Beth no esporro. Nesta cena Vinette foi magnífica, em um filme sem cortes ela decorou todo seu esporro do texto e com certeza deve ter improvisado alguma coisa ou fala ali. Perfeita. Fora que destaco também Áine Rose Dalyn, que faz a garçonete Robyn, achei ela muito bem nas cenas em que apareceu, uma boa atriz. O resto do elenco está ótimo, todos foram bem e engrandecem o ritmo e a qualidade do longa.
A direção de Barantini é bárbara, surreal, tem que ter muita visão e um controle absurdo de sua obra, e saber exatamente o que está fazendo para realizar um filme em um único take, como 1h30 de duração... sequer passou pela sala de edição e nem por uma revisão...foi perfeito do início ao fim... minhas salvas de palma para Philip Barantini.
O filme recebeu 11 indicações na premiação britânica de filmes independentes, o Spirit Awards britânico assim podemos dizer, e venceu em Fotografia, Som, Melhor Elenco e Atriz Coadjuvante para Vinette Robinson.
No BAFTA está indicado a Melhor Filme Britânico, Melhor estreia de um roteirista, diretor ou produtor Britânico, Melhor Elenco e Melhor Ator para Stephen Graham.. Em minha opinião, o filme merece vencer na categoria de Elenco, pra mim não como bater o elenco do filme que está coreografado e afiadíssimo. Já em Ator, Will Smith deve vencer e Filme Britânico, no caso, eu premiaria 'After Love' filme muito tocante bem feito.
Mas Boiling Point é demais, quase chega a ser uma obra prima... faltou pouco.
Ataque Dos Cães é um filme sensacional, já fiz um comentário aqui longo rasgando elogios pra ele. Mas depois que pipocou as notícias de maus tratos a animais no set de filmagens, caiu muito no conceito. Ainda o acho um trabalho excelente de roteiro e direção...mas não daria prêmio nenhum pra Jane Campion não. Melhor Filme no BAFTA e só, tá de bom tamanho.
'Raya e o Último Dragão' é uma produção da Walt Disney Animation Studios, o 59º filme deles, e devo confessar que é uma animação muito bacana. Sempre tive muito pé atrás com animações (e ainda tenho com alguns), mas venho perdendo esse (pré)conceito, aos poucos, de uns anos para cá.
O filme conta a história de Raya, princesa guerreira e sua jornada na terra encantada de Kumandra em busca do último dragão para salvar seu lar de uma força obscura que ameaça destruir seu reino. Kumandra, consiste em cinco tribos separadas, que disputam entre si o poder do último dragão, que deu sua vida para derrotar a força maligna conhecida como Drunn, que transforma toda vida em pedra. Antigamente os Dragões e os humanos viviam em perfeita harmonia, e Kumandra era um paraíso na terra. Porém com a chegada da força maligna Drunn, eles derrotaram os dragões um a um, mesmo eles resistindo bravamente, e depois de Sisu, o último dragão, se sacrificar para derrotar os Drunn, os dragões foram extintos e Kumandra ficou dividida em tribos, todos almejando o último poder deixado por Sisu para si. Agora cabe a Raya achar o último dragão que ainda pode estar vivo e tentar unificar Kumandra novamente, um desejo de seu pai.
A animação é muito bacana e gostosa, têm uma história muito atraente e fechadinha, criaram tribos interessantes, que funcionam mais esteticamente, onde eles moram e a construção de onde as tribos residem em si e seus costumes, do que a tribo mesmo, pois seus residentes não assim tão carismáticos. Os poucos que são, são os únicos mostrados de determinadas tribos, como Tong.
A animação é rica em história e nos costumes de Kumandra, os personagens são muito carismáticos e engraçados, e você consegue se conectar com eles e criar laços, torcendo para unificarem novamente Kumandra.
Raya, dublada por Kelly Marie Tran (de Star Wars A Ascenção Skywalker) de longe é a melhor personagem do filme, o que é muito óbvio sendo que ela é a protagonista. Ela é forte e decidida, teimosa também, mas tem muita visão e é muito inteligente. Age muito com a emoção, mas acha a razão muito fácil em momentos de tensão. É uma ótima lutadora, simpática com as pessoas, apesar de ser cética no início, de que o povo de Kumandra jamais se unirá por um bem maior. Raya já virou uma de minhas personagens preferidas da Disney.
Fora ela temos no filme seu amigo tatu-bola Tuk-Tuk, seu pai Benja (Daniel Dae Kim de Lost), seus aliados no filme, Boun (Izaac Wang), Tong (Benedict Wong de Doutor Estranho), Sisu, o último dragão (Awkwafina de Podres de Rico) e a pequena bebê Noi (Thalia Tran). Além de sua rival no filme Namaari (Gemma Chan de Eternos) e sua mãe Virana (Sandra Oh de Grey's Anatomy). Além da anciã Dang Hung (Lucille Soong) e Dang Hai (Sung Kank da franquia Velozes e Furiosos). Como dá para perceber, o elenco de dublagem é predominantemente asiático, assim como a imensa maioria do personagens do longa, o que é uma representatividade muito bacana no trabalho. Pra mim um ponto muito positivo pro longa e em se conectar com ele.
Tecnicamente, o filme é bem feito demais, a animação é de cair o queixo, os detalhes dos personagens são sensacionais, o cabelo de Raya é tão real, e mesmo os personagens quase sendo caricatos, eles ão muito bem feitos e seus traços são muito realistas, assim como seus movimentos e expressões faciais de sentimentos aleatórios. Esteticamente então... Kumandra é mundo lindíssimo, tanto o mundo antes do ataque dos Drunn, tanto depois que o mundo é quebrado e todos vivem isolados em tribos. E as tribos em si são ricas em costumes, e cada uma é exótica ao seu jeito.
Sou só elogios para o filme, me diverti bastante e foi uma experiência bem gostosa. Está indicado no Critics Awards e no Oscar de Melhor Animação... acredito que não deva vencer, apesar de ser um trabalho sensacional de altíssimo nível, e uma história que cativa o público e foi muito bem escrita e criada. Foi dirigida por Don Hall (diretor do oscarizado Operação Big Hero) e Carlos Lópes Estrada.
Acredito que seja um dos melhores e mais tocantes filmes que assisti até o momento nesta temporada de premiações. 'After Love' é dirigido e roteirizado por Aleem Khan e conta a história de uma mulher chamada Mary que perde o marido subitamente após chegarem em casa e passa a lidar com o luto. Porém, ao remexer em pertences pessoais de seu marido Ahmed, ela descobre que ele tem outra família. Ela, que mora em Dover, percebe que a outra família de seu falecido marido mora a poucas milhas atravessando o canal chegando em Calais.
A outra família de Ahmed consiste em Genevieve e o filho deles Solomon, e Mary, que viajara até lá para conhecer e contar a verdade a esta família, acaba se tornando a faxineira da casa deles, em dia de mudança, sem ter coragem de contar de início que é a esposa de Ahmed.
Aleem Khan fez um filme muito bonito, com filmagens e takes bem intimistas, que focam o rio da travessia do canal, o vento, as folhas, e também foca em sentimentos estampados na rubra de seus personagens, no medo, na angústia e principalmente na dor e na vergonha. Temos também muitas cenas editadas rapidamente, aqueles cortes primários em cenas mais casuais, como estar ditada na cama, tomando banho, arrumando a roupa, cozinhando, etc, etc. Por conta disto a edição do filme é ótima, e muito bem feita. Assim como a fotografia, coisa mais linda, completa, abrangente, tocante, emocionante, não de cenas mais abertas em locais externos, como as mais íntimas focadas em Mary. Fotografia de Alexander Dynan (The Card Contender)
O filme, que tem 1h30 de duração, tem em seu início pouquíssimos diálogos, uns 20 minutos talvez, só de luto, descoberta, viagem, cenas mais silenciosas, barulho de vento, do água, super intimista. Misturado a isso uma trilha sonora muito mais intimista ainda, composta por Chris Roe (do documentário Armstrong), que faz a musica do longa apenas com um violino (e acredito que um violoncelo também). Bem denso, entra em takes certeiros, para contextualizar a cena, ou verbalizar um sentimento, não aparece em grande parte do filme, e é de uma doçura singela. O mais curioso é que nos créditos finais não há música, só o vento.
Protagonizada por Joana Scanlan, que fez Mary, que fez uma atuação gigante, que faro esta mulher tem para atuar, para expressar sentimentos e lidar com eles de forma apropriada. Ela está incrível no filme, sua personagem é muçulmana, assim como seu marido, e o filme têm todo esse ar do islamismo, e uma cena onde ela reza para Alá. Suas cenas dramáticas são soberbas, suas cenas de tensão com Genevieve também são muito boas, e há um ar materno em sua relação com solomon, filho de Genevieve com Ahmed, o marido que Mary acabara de perder. Temos uma cena muito bonita com Mary só de calcnha e sutiã se olhando no espelho e observando e tocando seu seio e sua gordura localizada no abdômen e barriga, onde a princípio, imaginava que seria pelo fato de pensar nos motivos que levaram seu falecido marido a ter outra família, a arrumar outra mulher. Seria o fato de estar acima do peso, mais velha, menos desejável?
Só mais tarde no filme vemos que ela e Ahmed perderam um filho com 4 meses de idade, e aquela cena faz uma alusão a ter perdido o filho, e por isso o toque mais íntimo em seu corpo, que havia gerado o fruto do amor deles, porém lhes foi negado pelo acaso.
O garoto Tarid Ariss, que faz Solomon, foi uma ótima surpresa, pois ele interpreta muito bem e seus destaques são nas cenas de diálogo tensos e tenros com Mary. Fora as cenas de intimidade com seu colega no filme, e não sei se ele é homossexual ou não, mas é um ator que já se mostra bem refinado e tem tudo para se tornar mais completo ainda.
'After Love' está indicado no BAFTA em 4 categorias: Melhor Filme Britânico, Melhor Diretor (Aleem Khan), Melhor Atriz (Joanna Scanlan) e Melhor Estréia de Diretor Britânico.
Acredito que 'After Love' vem muito forte na categoria de Filme Britânico, e é muito favorito na categoria de Estréia de Diretor Britânico, pois Aleem Khan fez um trabalho excepcional com o longa e é muito requintado em sua técnica de direção, acertando em tudo, como tirar o melhor do ator, takes em áreas abrangentes que deixam o filme com mais identidade, foca bem no drama, tem um texto bem sagaz.
Já Joanna Scanlan vem com força no BAFTA para levar Melhor Atriz, pois seu trabalho é grandioso, comovente, singelo e bem único. Faltando conferir apenas Renate Reinsve de 'A Pior Pessoa do Mundo' na categoria, Acho que a atuação de Joanna está um degrau acima de favoritas minhas como Emilia Jones por 'CODA' e Lady Gaga por 'House of Gucci'. Ela já tem minha torcida a princípio.
Lá pelas idas de 2013, 2014, 2015, havia uma conversa de um filme solo da Viúva Negra de Scarlett Johansson, afinal a espiã russa havia feito muito sucesso tanto em Homem De Ferro 2, quanto em Vingadores 1, e a mesma foi personagem destaque em Capitão América: O Soldado Invernal. Mas Kevin Feige nunca tinha o aval para dar sinal verde para o projeto, e quem impedia isto era Bob Iger, então CEO da Disney Company, que simplesmente afirmava que um filme da Viúva Negra não venderia bonecos articulados o suficiente, uma vez que meninos não compram bonecos de personagens femininas. Palavras dele.
Aí você pensa, bonecos articulados? O que isso tem a ver? Basicamente, tirando o lucro da bilheteria, um filme de super-heróis faz muito dinheiro com seus brinquedos a venda baseados nele, e quando se pensa em tirar um projeto do papel, se pensa em o quanto de brinquedo e bonecos esse filme e seus personagens irão render. Claro que, depois da explosão do MCU, depois de 2016, 2017, tirou isso da jogada dentro da Disney, apesar de ainda focarem nisto... vejam os brinquedos lego que de uns 5 anos para cá, dão spoilers de quem podem aparecer nos filmes que serão lançados, pois esses brinquedos saem meses antes, depois que o filme termina de ser pré-produzido. Ou seja, os brinquedos ainda são uma fonte de renda maciça em se tratando de filmes de super-heróis.
Basicamente foi por isso que, 'Viúva Negra' nunca saiu do papel antes, e depois que Bob Iger foi destituído de seu cargo de CEO da Disney, e Kevin Feige recebeu carta branca para comandar o MCU da forma como achar melhor, uma vez que não precisaria mais se reportar a Bob, que Feige tirou Viúva Negra do papel, e mesmo depois dos fatídicos eventos de Ultimado, a personagem de Scarlett Johansson pôde enfim brilhar em um filme solo. Antes tarde do que nunca.
Mas sendo bem sincero, 'Viúva Negra' serve basicamente para apresentar Yelena Belova (Florence Pugh de Adoráveis Mulheres) aos MCU e torná-la futuramente a nova Viúva Negra, ao menos é a promessa. Nos quadrinhos Yelena Belova foi uma Viúva Negra da KGB, mas não tem nenhuma ligação familiar com Natasha, assim como não tinha ares de heroína, agia por conta própria, se enroscou com o Demolidor, lidou com a KGB e chegou a trabalhar com um corpo clandestino da SHIELD, e enfrentou os Vingadores na Terra Selvagem, sendo incinerada, mas não morta, nesta contenda.
O filme traz uma história de origem própria para Natasha e Yelena como meia-irmãs, e também para as demais Viúvas, e se passa semanas depois aos acontecimentos de Capitão América Guerra Civil. O roteirista Eric Pearson,que contou com inúmeros colaboradores, incluindo Jac Schaeffer, criadora de 'WandaVision', e a diretora do filme Cate Shortland, focaram em uma história que envolve famílias. Natasha enxergava nos Vingadores uma família que a mesma formou, sendo que no passado mostrado aqui, ela tinha uma família falsa, que se concentrava em Alexei Shostakov: O Guardião Vermelho (David Harbour de Stranger Things), o pai delas, e Melina (Rachel Weisz de A Múmia) a mãe delas. Família esta que nunca existiu nos quadrinhos, o Guardião Vermelho foi líder de um super grupo soviético chamado Guarda Invernal, que eram considerados os Vingadores Russos. Já no filme o Guardião Vermelho foi um postulante a vigilante russo que nunca teve grandes feitos.
O filme é até bacana, é um bom divertimento, tem ótimas sequências de ação, quando Natasha e Yelena tiram Alexei da prisão, a perseguição das Viúvas controladas por Dreykov (Ray Winstone de Rei Arthur) ás duas e a disputa entre Scarlett e Florence em Budapest... assim como a sequência final, que possui efeitos especiais bem modestos e quase capengas. Ray Winstone faz o vilão do filme, Dreykov, líder das Viúvas, dono da Sala Vermelha, a Red Room voadora que fica fora do radar, e sua atuação é impecável, Ray entregou tudo em seu Dreykov, e de longe é a melhor atuação do longa. Até na minha cabeça, acho que aquele tapa que ele quase dá na cara da Scarlett, quando ela também vira o rosto pra não tomar, foi improvisado por Ray.
Fora ele, o filme também apresenta Olga Kurylenko, de Oblivion, como a Taskmaster. Nos quadrinhos, Taskmaster, que aqui é conhecido como Treinador, é um mercenário que vende seus treinos e conhecimentos, ele tem a capacidade de copiar os movimentos de qualquer pessoa que veja. No filme, obviamente, está completamente descaracterizado da sua contraparte de quadrinhos. No final, não é ruim, o que me pegou foi a expectativa de uma presença de mais força no filme, com protagonismo vilanístico, e ser uma força letal para bater de frente com Natasha... coisa que infelizmente não aconteceu, simplificaram demais sua presença no filme.
Além dos já citados, David Harbour, Rachel Weisz, Ray Winstone e Olga Kutylenko, o filme traz de volta William Hurt como General Ross, O.T. Fabengle (de The Handmaid's Tale). Em sua cena pós-créditos, temos a aparição de Julia Louis-Dreyfus, como Valentina Allegra de Fontaine, numa cena junto a Florence Pugh e sua Yelena Belova. Essa cena faz a ponte com a vindoura série 'Hawkeye', e Julia apareceu antes no final da minissérie 'O Falcão e o Soldado Invernal' praticamente recrutando John Walker como Agente Americano. será que teremos uma antagonista nos moldes de Nick Fury?
Viúva Negra serve mais para novas apresentações do que para realmente celebrar o legado de Natasha Romanoff, obviamente eu me diverti assistindo, mas entendo que o filme deixou um pouco a desejar em sua construção, resolução e afirmação. Scarlett como Natasha, ora está em paz demais consigo mesma e sua situação, ora está conflita demais com sua antiga família de volta na sua rotina. São emoções contraditórias em um filme que pouco se desenvolve. Até a resolução de Budapest, tão esperada pelos fãs, foi bem simplista e praticamente não empolgou e não saciou nossa curiosidade.
Não é o mais passável ou fraco do MCU, de forma alguma, mas também não agrega muito e não mostra o que realmente deveria mostrar de Natasha, uma mulher e ex-agente implacável, pois aqui, ela apenas fecha uma ponta solta, ao lado de sua 'família'.
(Assistido no cinema 12/07/2021) (Reassistido no Disney Plus - 08/03/2022)
Depois de 2 anos, Pedro Almodóvar retorna com seu novo filme 'Madres Paralelas', trazendo consigo uma de suas atrizes e artista preferida, Penélope Cruz, que já protagonizou e foi coadjuvante em alguns de seus filmes, como Tudo Sobre Minha Mãe, Volver, Abraços Partidos e o filme anterior Dor e Glória.
Almodóvar já possui dois Oscars, Por Tudo Sobre Minha Mãe (Filme Estrangeiro) e Fale Com Ela (Roteiro Original).
Obviamente, devo confessar que devo alguns filmes ainda de Almodóvar, porém posso afirmar que 'Madres Paralelas' é um de seus trabalhos menos inspirados. Não o considero um filme fraco, nem ruim, muito pelo contrário, na verdade acho que faltou coesão na história contada, e um contexto mais simbólico que dialogasse com a proposta do filme.
'Madres Paralelas' trata exatamente, sobre as dores, os pesos e as alegrias que mães carregam consigo durante suas vidas, não só com seus filhos, mas também com sua família como um todo, como mostrado no filme no núcleo da escavação do fosso, para encontrar parentes mortos da família de Janis.
Contando a história de Janis (Penélope Cruz) e de Ana (a novata Milena Smit), que deram a luz juntas na maternidade no mesmo dia. Janis queria o seu filho apesar de ter sido um acidente, já Ana não o queria de início, onde também foi um acidente. Ao voltarem para suas vidas, uma descoberta por parte de Janis e seu ex-amante Arturo (Israel Elejade) irá mudar a vida das duas mães. Para quem não assistiu o filme ainda, só este trecho deixa bem claro, o óbvio que acontece no hospital e com Janis e Ana. Muitos podem reclamar que aqui é um spoiler, mas a sinopse já entrega parte disso nas entrelinhas, e ao assistir o filme e chegar na parte da maternidade, que não demora muito, fica tão evidente o que vai ser descoberto mais a frente, que chega a ser ingênuo a forma como Almodóvar deixou isto tão claro.
Paralelamente a este acontecimentos entre Ana e Janis, a uma contratação por parte de Janis para com Arturo, visando desenterrar fosséis de antigos familiares mortos no passado em um momento hostil da história espanhola. Almodóvar resolve deixar esse ponto da escavação correr em paralelo a história principal, deixando-o em evidência no começo e fim do filme. Mesmo tendo ligações com o que vai acontecendo na vida de Janis, como se fosse um efeito dominó, as duas histórias têm em comum o fato de tanto Janis e Ana, quanto as mulheres que ficaram viúvas de seus maridos e órfãs de seus pais durante o conflito histórico espanhol, partilharem de sentimentos diversos, bons e ruins, da maternidade, da alegria e fardo de serem mães, da dor de perderem seus filhos, ou a dor de perderem seus progenitores. A cena final deixa isto em plena evidência, sendo ao meu ver, a cena mais bonita de todo o filme, a cena que define este novo trabalho de Almodóvar, a cena que define essas Mães Paralelas.
Porém, todo o grosso do filme, focado em Janis e Ana, é um texto muito óbvio, fácil de se encontrar em filmes como menos qualidade que este de Almodóvar, que também pode ser encontrado em específicas novelas globais da década de 2000 ou até em novelas de dramalhão mexicano. São sequências de obviedade que não me espantou em quase nenhum momento, quase toda cena impactante do filme já vinha com a resposta estampada no rosto dos atores, ou no caso, de Penélope e Milena.
Talvez a única cena mesmo que me surpreendi foi com a morte da bebê de Ana, e ainda assim, logo a frente, percebi que se tratava de uma cartada batida de um roteiro que em sua obviedade, iria usar deste artifício para aproximar Janis e Ana, tendo a bebê Cecília de pano de fundo.
Um ponto que também me incomodou um pouco foi a edição do filme, e cortes importantes em alguns diálogos. O começo do longa é um pouco corrido demais, pouco se apresenta de Janis e Arturo, e logo os dois estão transando e ela já está na maternidade para dar a luz... dedicar uns 10 minutos de início de filme para nos situar com mais simplicidade á Janis e sua gravidez não seria nada ruim. Tivemos alguns flashbacks ainda no começo para fechar esta ponta solta entre Janis e Arturo com relação aos dois e a criança, mas ainda assim faltou um pouco mais de tato. Algumas cenas de diálogos também não tiveram um tratamento decente, por exemplo Ana e sua mãe, que logo depois de Teresa voltar de sua peça para uma rápida visita para sua fugitiva filha, ao tomarem café na frente da residência de Janis, a conversa das duas que era para ser mais abrangente e explicativa, para costurar pontas soltas entre as duas, na verdade foi cortada para apenas duas falas de Ana e nada mais... aí não Almodóvar. E pior, é que Teresa depois dessa cena foi completamente limada e ignorada do resto do roteiro... como se faz uma coisa dessas com um personagem que tinha mais a acrescentar pelo lado de Ana?
Devo dizer que apesar de algumas falhas e umas duas ou três bolas fora, o filme tem um ritmo muito bacana, prende a sua atenção na ela, pois Almodóvar sabe fazer um bom novelão em forma de longa metragem, com personagens que ganham em carisma no instante em que despontam na tela em qualquer um de seus filmes. Difícil você não ficar envolvido com o filme, que é óbvio até dizer chega. Acho que sua melhor parte, muito bem escrita, é a parte final da escavação, ali era para ter sido a alma do filme, e não todo o vai e vem com as bebês de Janis e Ana.
A trilha de Alberto Iglesias (de Dor e Glória) é muito boa, bem composta, bem densa nos momentos mais tensos com Penélope Cruz, e cria um tom de certo mistério e resolução nas cenas do filme. Não é um trabalho melhor do que em Dor e Glória, por exemplo, mas é um ótimo trabalho. Já a cenografia do filme, ganha em alguns pontos e em outros é bem modesto, não faltou capricho nem inspiração, faltou mais tato e visão para deixar tudo no mais alto padrão, pelo mens em minha humilde visão. Almodóvar trabalha bem com a câmera e pega takes bem íntimos dos atores, e uns detalhes mais peculiares, nas interpretações faciais. Mas tanta atenção em takes mais introspectivos, para deixar o filme mais bonito, poderiam ter sido trocados por uma mexida maior no roteiro e menos cortes de diálogos, e mais atenção com alguns personagens coadjuvantes, como Teresa e o pai de Ana, que teria mais a acrescentar do que só ser citado aqui e acolá, e uma ou duas vozes ao telefone.
Com relação a atuação de Penélope, não tem como falar mal desta atriz, pois Penélope é fabulosa e profissional em tudo o que faz. É muito difícil achar um trabalho em que ela esteja abaixo do que lhe é pedido em texto, de tão rica que é sua interpretação. Acho que ela se saiu muito bem nas cenas inicias de sexo com Arturo e na cena do parto, onde ela dá um show... ao meu ver, ela perde um pouco do brilho no meio do filme, por ter menos cenas de impacto, e volta a crescer quando se relaciona amorosamente com Ana, tendo cenas boas entre as duas, e também nas cenas onde toma remédios, fora as cenas finais que são menos exigentes.
'Madres Paralelas' recebeu diversas indicações nesta temporada de premiações; - No Satelitte Awars indicado a Roteiro Original, Trilha Sonora para Alberto Iglesias e Atriz em Filme Drama para Penélope. - Alberto ainda foi indicado pela sua Trilha Sonora no BAFTA e Oscar e Globo de Ouro. - Para Penélope, indicada a Melhor Atriz no Oscar. _ Já como Filme Estrangeiro, o filme foi indicado no Spirit Awards, Globo de Ouro, BAFTA.
Achei que 'Madres Paralelas' ficou abaixo das minhas expectativas para um filme de Almodóvar, e considero Dor e Glória muito melhor que esta obra, assim como Volver, dois clássicos de Almodóvar que gosto muito.
Já falando de Penélope Cruz e sua indicação ao Oscar, gostei de sua atuação, gostei mesmo, ela está bem... mas não melhor que em Volver, não melhor que Dor e Glória, e na minha mais modesta opinião, não melhor que Lady Gaga, que deveria sim ter sido indicada no lugar dela, ou de Olivia Colman.
Todos sabemos, a maioria pelo menos, que os americanos são apaixonados por musicais, está inserido na cultura deles, não só no cinema, mas na TV, em séries, em desenhos animados, comerciais, o show do Super Bowl... tudo. E temos muitas produções ótimas nesse gênero de filme, principalmente nesta temporada de premiações. Por isso, é tão incrível e deslumbrante e animador, ver um musical britânico tão bem feito como 'Todos Estão Falando Sobre Jamie', baseado na história real de Jamie New e sua mãe Margareth New, onde Jamie um garoto de 16 anos sonha em não apenas ser uma Drag Queen e ser famosa, mas em ir ao baile de formatura de seu colégio do jeito que ele realmente é: um gay afeminado de vestido.
Não é muito comum termos musicais vindos de outras escolas cinematográficas, e ver um trabalho feito com tanto amor, alma e carinho, singelo é muito bacana e realça ainda mais o cinema britânico que sempre nos entrega também grandes obras.
O filme foi dirigido por Jonathan Butterell e roteirizado por Dan Gillespie Sells e Tom McRae, baseado em um documentário e um musical sobre Jamie New, e devo dizer que Buterell fez um trabalho ótimo, realmente é difícil achar algo de errado em sua direção. Desde dirigir bem os atores do filme e principalmente os adolescentes secundários, até a dirigir todas as cenas musicais do filme e muitas delas com coreografias, tanto com dançarino experientes que estavam em cena, como com os próprios atores adolescentes que fazem parte do núcleo do colégio de Jamie... além claro, das cenas no clube de Drags que foram curtas, mas tiveram sua marca deixada na direção de Buterell.
Muito do êxito e dos méritos do filme vêm de Dan Gillespie Sells, que roteirizou o filme, fez a trilha sonora, e ainda cantou algumas faixas do longa, como a faixa título do filme nos créditos finais. Seu roteiro é muito bem feito e adaptado, nos deixa totalmente imersivo na trajetória de Jamie, rapidamente já nos situamos em seu momento de vida atual e nos apegamos fácil a ele, desenvolvendo um carisma imediato e já nos sentindo amigo do mesmo. Arranjou bem as músicas originais do filme, e as letras apesar de serem bem cafonas e óbvias, funcionam para expor em telas os sentimentos, medos, angústias e vontades de Jamie, e alguns pensamentos de personagens coadjuvantes como sua mãe e sua amiga Pritti. Minha única ressalva com o trabalho de Gillespie e Jonathan Buterell, são algumas cenas musicais inseridas uma trás da outra no meio do filme. A impressão que dá é que o roteiro no total ficou mais compacto, e isso faria o tempo de filme cair bastante mesmo com cenas musicais... então no meio do filme temos cenas musicais demais e desnecessárias que acabam embarrigando pouco o longa e freando o ritmo do mesmo.
As três cenas musicais do meio do filme passaram um pouco do ponto, você tem uma cena musical com Pritti, a melhor amiga de Jamie, cantando no quarto dela, e o filme segue com Jamie falando com o pai e vai para uma cena da mãe dele cantando depois de uma discussão dela com o filho, para logo em seguida ter uma cena musical dos dois fazendo um dueto. Se você cortar uma dessas cenas, a da Pritti por exemplo, que já teve uma cena musical mais cedo, e contasse toda aquela parte dela com Jamie, e colocando uma cena de flashback dele com o pai dele, e seguisse para as duas cenas musicais seguintes, não ficaria tão embarrigado e manteria um pouco o ritmo do filme.
No geral, o filme tem uma direção de arte incrivelmente bem construída, nas cenas em que Jamie canta e dança com o elenco, onde você pula do mundo real para um cenário totalmente iluminado e decorativo, nas cenas do baile de formatura, na cena no clube de Drags... temos uma cena incrível onde eles fazem uma sequência completamente inspirada no clipe de 'Vogue' da Madonna, com coreografia e tudo... e outra onde Jamie e os dançarinos estão de terno preto e o fundo é branco e mescla com eles de branco num fundo preto. O figurino do filme também merece destaque, tanto as roupas no colégio, como os vestidos das Drags, de Jamie e de Loco Chanelle. Assim como os figurinos das cenas onde saem do cenário atual e imaginam um outro cenário imaginário onde os figurinos são exuberantes e cintilantes.
Claro que o destaque do filme é seu protagonista, interpretado por Max Harwood, que acredito eu, está fazendo sua estreia em filmes. Sua atuação é ótima, incrível, magnífica, muito seguro em passar para nós todos os medos, desejos, anseios e inseguranças de Jamie, dança muito bem, dubla muito bem, em estúdio aparenta cantar bem legal. Sem falar que arrasa montado de Drag Queen e fica estiloso e bonito demais com todos os vestidos usados no filme, principalmente o vermelho de Loco Chanelle. O garoto arrasou de verdade e tem muito futuro na indústria cinematográfica.
Outro destaque é Richard E. Grant (de Loki) que faz Hugo Battersby, dono da loja de figurinos e roupas femininas/drags, que ajuda e serve como mentor de Jamie para se tornar uma Drag Queen, ele que no passado foi a Drag Loco Chanelle, e vende seu vestido vermelho para Jamie se apresentar no clube. Richard foi bem demais no papel, interpretou um gay/Drag Queen desiludido com seu passado de uma forma bem genuína, e foi um colírio vê-lo em cena neste papel. Richard é um ator completo, versátil, que admiro muito... mesmo.
Temos no elenco ainda Lauren Pattel como Pritti, garota muito boa no filme, Sarah Lacanshire como Margareth, mãe de Jamie e Josh McCrea, que fez Loco Chanelle mais jovem, e interpretou Jamie na peça musical apresentada nos EUA, se eu não estiver enganado. Fora que tivemos uma atriz que conheci recentemente no telefilme 'Together', Sharon Horgan, que fez Miss Hedge, a professora do colégio de Jamie. Aqui ela esteve muito bem, fez uma professora linha dura, que queria o melhor para seus alunos, mas tinha uma barreira muito grande para com Jamie e suas vestimentas femininas e maquiagens... apoiando ainda o garoto que fazia bullying com Jamie, Dean Paxton, passando muito pano pra ele e o apoiando ainda, coisa que não fazia com Jamie. Sharon é uma atriz fantástica, que gostei muito, completíssima, e uma mulher lindíssima demais... de você não conseguir tirar o olho.
Uma coisa legal do filme é que muitos atores cantam nele, como Sharon Horgan, Sarah Lacanshire, Lauren Pattel e Richard E. Grant... além do elenco adolescente do colégio de Jamie, que cantam e fazem a coreografia também.
O filme diverte, prende, toca, e emociona no final, mesmo sabendo que aquele final do filme, não acontece realmente na vida real, ninguém amolece o coração e o abre para o entendimento, amor e aceitação, por conta de um pequeno ato... seja a professora que cedeu a pressão dos alunos e a humildade de Jamie, ou Dean Paxton, que fez bullying com Jamie todo o tempo que estudou com ele e no final cedeu ao "abrir seu coração e deixar seu preconceito de lado" e entra de mãos dadas com Jamie no baile... é um final de filme que é ingrediente básico em todo roteiro de cinema que busca contar uma história de aceitação e um final humano, isso você encontra em milhares de filmes décadas afora. Mas no fim das contas, com tudo que foi construído durante todo o filme, ele emociona e cumpre seu papel... de entreter, e respeitar a jornada e a história de Jamie.
'Todos estão Falando Sobre Jamie' foi indicado ao BAFTA de Melhor Filme Britânico. Eu gostei muito do filme e o coloco sim na briga. Se vencer, não será nada anormal, pois o filme é muito bem feito e montado.
Together (Juntos) é um telefilme britânico exibido na BBC no meio do ano de 2021 e mostra um casal que se encontra em seu pior momento do casamento, um sentindo raiva e ódio do outro e são obrigados a ficar juntos 24 horas por dia na casa por conta do Lockdown do Coronavírus. O filme é uma comédia dramática, e foi gravado durante 10 dias na inglaterra e possui no seu elenco apenas três atores: James McAvoy (de Vidro) como Ele, Sharon Horgan (de A Noite do Jogo) e Samuel Logan como Artie, filho do casal.
Dirigido por Stephen Daldry, do premiado Billy Elliott, As Horas e O Leitor, o telefilme é bem mais simplista justamente por ser gravado durante a época da pandemia e do Lockdown. Porém é rico demais em seu texto e uma atuação sagaz e dinâmica do casal de protagonistas. Brincando com a quebra da quarta parede, o casal além de conversar conosco o filme inteiro, eles tentam se resolver enquanto nos situam dos problemas e dificuldades que passam em seu casamento.
O roteiro é de Dennis Kelly e ele acertou demais no texto do filme. Fazer um filme onde só temos duas pessoas em cena, dialogando do começo ao fim, sem nenhum outro tipo de acontecimento é muito difícil, e para manter a atenção do público o filme inteiro e não fazê-lo perder o interesse, só se o texto for muito caprichado, que é o que acontece aqui.
As cenas são basicamente McAvoy e Sharon conversando conosco, contando passagens de seu casamento, suas dificuldades atuais e sua experiência na pandemia da Covid, enquanto conversam entre si, resolvendo rusgas antigas e atuais e passando por experiências que a pandemia trouxe, como a perda da mãe de Sharon para a doença. As cenas são takes super longos, pouca edição, um domínio absurdo por parte dos dois de roteiro e suas falas, não perdem o fio e ficam mais de 10 minutos na mesma cena sem precisar parar, tudo num take só com a câmera e os atores passando entre os cômodos. Tanto McAvoy quanto Sharon tem seus monólogos, longas cenas onde eles nos confidenciam casos como plantação de aspargos e política, por parte de McAvoy, e o sentimento da perda mãe por parte de Sharon. E é inegável como a atuação de McAvoy é incrível, uma entrega total ao filme e ao personagem, se emocionado em vários momentos, entregando tudo mesmo, um show a parte. Todo mundo sabe que McAvoy é um ator mais que completo. Senti falta apenas do pequeno Artie, apenas uns takes dele mais nas sombras da casa, uma olhada aqui e acolá, falando mesmo no fim do filme... esse ponto eu não entendi mesmo o que o roteirista queria passar.
O filme é muito gostoso de se assistir, o casal de protagonistas são mais que carismáticos e vão prender sua atenção na tela o filme todo... claro para quem gosta de filmes assim, com diálogos e algo a entregar, afinal ele é paradão, se passa dentro de casa e trás reflexões e contextos certeiros sobre a pandemia do coronavírus. Acaba que prestando um serviço social também, do ponto de vista psicológico. O texto é muito bom, muito explicativo e também irá prender o espectador. Apenas o final do filme que achei mais romântico, digo porque foi a saída mais comum para terminar de tratar a questão matrimonial dos dois. Quando você começa a ver o filme e vê os dois falando com você, e toda aquela raiva nas falas para um com o outro, já dá para visualizar como ele irá terminar, e foi exatamente assim que imaginava que terminaria. Um final muito romantizado, que por mais que não tenha me agradado muito, não tira o brilho e o mérito de um trabalho muito bem feito e acima da média, para uma gravação tão simples, e ao mesmo tempo tão abrangente, visto as longas cenas.
O filme foi indicado ao Spirit Awards de Melhor Roteiro, e poderia até caber uma indicação aí pro McAvoy a melhor Ator que acabou não acontecendo, o que é uma pena pois merecia com certeza. Ele é curtinho, tem 1h27 de duração, e é bom pra assistir em um domingo depois do almoço, ou a noite antes de ir dormir.
'The Novice' é o filme de estreia de Lauren Hadaway na direção e de cara ela entrega um trabalho digno, de prender a atenção do público na tela, e de criar um thriller psicológico de respeito e com muita personalidade.
O filme gira em torno de Alex Dall (Isabelle Fuhrman de A Órfã e Jogos Vorazes) uma aluna que tem obsessão por ser a melhor em tudo o que vai fazer, que quer bater todo mundo que pode a peitar, ou a pessoa que pode se tornar sua rival. Entrando como uma novata no time de remo do colégio onde estuda, ela cria uma obsessão em ser a melhor do time, sem metas pessoais, só quer ser A melhor, e acha em Jamie Brill (Amy Forsyth de CODA) sua rival, mesmo que primeiramente tenha sido sua "amiga".
É neste contexto que Lauren Hadaway, que dirigiu, roteirizou e editou o filme, criou todo um thriller psicológico, pois o filme todo tem um tom mais artístico em algumas cenas onde Alex Dall tenta superar o melhor tempo pessoal da equipe. Dall abdica das próprias horas livres para superar seus limites e ultrapassar os limites de quem está em primeiro lugar. Ela tem um senso crítico muito forte, se auto-mutila se falha em algo que deveria vencer, tem o humor alterado quando não atinge o resultado esperado... sempre está com a face de psicopata pois vive cansada, esgotada física e emocionalmente de pouco dormir e de tanto se esforçar.
O filme começa um pouco mais lento, sem nos situar exatamente no que está acontecendo e onde está acontecendo, levamos uns bons minutos para entendermos onde Dall se encontra, em que momento da vida ela se encontra, e o porque de entrar no time de remo, que mal é visto em seu colégio. Um pouco mais a frente no filme é que realmente começamos a conhecer Dall, e um pouco das suas motivações para fazer o que faz. Quando começamos a ter essa noção, esse conhecimento, é o ponto onde o filme começa a melhorar gradativamente e segue um ritmo onde o espectador fica ligado no filme e ficamos intrigados em como Dall é centrada demais em só vencer e não reconhece o que está em sua volta que a faria ser uma atleta e pessoa completamente melhor. Claramente a personagem sofre de algum transtorno, um desvio de caráter psicológico que precisa ser tratado urgentemente e pesadamente por um psicólogo ou psiquiatra.
Lauren Hadaway usa muito de cenas artísticas para evidenciar a superação de limites de Dall em bater certos tempos pessoais, com cenas mais densas, lentas, foco no rosto de Isabelle e nos movimentos corporais enquanto tenta a superação. E a entrega de Isabelle nessas cenas é surreal, sem falar nos detalhes de suor pelo corpo e em algumas cenas onde a personagem vomita de cansaço. O filme tem um tom muito escuro, a maioria maciça das cenas são assim, e também é muito cinzento, muito devido a aproveitar o tempo fechado quando foi gravado, e por se passar muito em cenas de chuva, e em locais mais fechados quase claustrofóbicos, como aonde elas treinam nos ERG's para simular e melhorar o ato de remar. Com isto a fotografia do filme é bonita e gostosa demais, coisa belíssima, escura, pesada, cinzenta, ela realça o suor em Isabelle e faz um pintura bonita com a atriz nos fundos completamente escuros, ou mais abertos no rio em tempo cinzento/chuvoso. Muito bom mesmo.
E a própria Lauren dirige muito bem, para seu primeiro trabalho está de parabéns, tirou exatamente o que queria dos atores/atrizes, e fez um ótimo trabalho com Isabelle. Soube trafegar bem a câmera nas cenas no rio, mostrando o time remando, focando na entrega de Isabelle, e também em cenas mais intimistas quando dall se relaciona com Dani (Dilone) sua amante no filme, e numa cena de sexo bem mais comum no começo do longa.
Isabelle Fuhrman entrega tudo no filme, foi de longe a melhor atriz no longa e o leva nas costas. Seu começo é mais instigante, pois ela nada fala em uns 7, 8 minutos de filme(?) e atua mais com o olhar, com os trejeitos, ela fala com suas expressões faciais, uma garota mais fechada... e depois quando vai a uma festa da fraternidade do colégio, ela se solta mais em palavras, começa a falar e retrucar bem mais, se expressar com mais didatismo e começamos a ver mais de sua personalidade... até começar a se relacionar com sua professora Dani, e nos dar até pontos de vista sobre a política do homem pisar na lua, uma cena bem gostosa de se acompanhar. Sua atuação vai mudando, entra em estado de mutação aos poucos e conforme o filme avança em seus acontecimentos, e ela entra numa paranoia que vemos que será difícil ela sair. Seus olhares de cansaço, de tentativa de superação, de fracasso, são incríveis e nos fazem, querendo ou não, ter um tipo de ligação com Dall, mesmo sendo negativo. Que atuação!!!
Já Amy Forsyth que faz sua "amiga" e logo mais rival, faz um trabalho mais comedido, ela está bem não posso negar, mas é algo mais comum, aos meus olhos não teve um grande destaque... ela aparece em algumas cenas de discussão com Isabelle, mas ao meu ver nem ali ela ganha uma notoriedade. Bem diferente de Isabelle.
Dilone que faz a professora que se relaciona com Isabelle atua bem também, tem umas cenas onde dialoga com Isabelle, principalmente quando jogam sinuca, e outra quando tenta tirar Isabelle desse círculo vicioso que ela se encontra de fracassar e se mutilar, de sempre tentar vencer e superar os rivais.
O filme é bem montado, Lauren editou junto com Nathan Nugent que foi um dos produtores do filme, e o fato de termos profissionais que sabem como montar um filme faz toda a diferença... ajuda para nos situarmos nos acontecimentos e deixam as coisas mais naturais por mais que demorem para encaixar.
Outro ponto de destaque é a trilha sonora... soberba, demais, como casa com o filme e com os acontecimentos prepertados por Alex Dall. Calcado primariamente nos violinos, foi composta por Alex Weston que mandou bem demais e tão importante para o resultado final do filme, quanto a montagem e a fotografia.
'The Novice' está indicado no Spirit Awards de filmes independentes nas categorias: Melhor Filme, Melhor Montagem, Melhor Diretor para Lauren Hadaway, Melhor Atriz Coadjuvante para Amy Forsyth e Melhor Atriz para Isabelle Furhman. Vou torcer muito para Isabelle ganhar porque ela esteve sensacional no filme e é minha favorita de longe. Em direção acho que Lauren não leva, apesar do bom trabalho. Já para melhor filme, ao meu ver, tem mínimas chances, já que 'A Filha Perdida' e 'Sempre em Frente' saem na frente em minha opinião.
Mas 'The Novice' é um bom filme, bem instigante e bem montado e escrito. Possui um texto atraente e uma atuação matadora de Isabelle Fuhrman. Foi uma boa descoberta.
Como dito acima, vai ser difícil comentar 'Zola' sem usar palavras chulas e termos pesados, ou se preferir, falar sem pudor, pois isso é assim que posso definir 'Zola' em uma frase: Um filme sem pudor!
'Zola' já é curioso pelo seu roteiro, acredito que seja o primeiro filme da história do cinema a ser baseado em uma thread de Twitter. Sim, isso mesmo, o roteiro de 'Zola' é adaptado de uma série de Tweets, que é chamado de thread (ou segue o fio, aqui no Brasil) feito por uma mulher uqe tem sua conta intitulada A'Ziah King, que relatou um fim de semana louco e violento que teve com uma moça que conheceu em um restaurante onde trabalhava como garçonete, e depois de se conhecerem, as duas, mais o namorado da amiga de A'Ziah e um cafetão foram para Flórida dançar em boates de pole dance a fim de fazerem uma grana preta. Muita coisa errada aconteceu desde então.
Dirigido por Janicza Bravo (que dirigiu episódios das séries Atlanta e Dear White People) e roteirizado por Andrew Neel, contando com a própria A'Ziah King na produção, "Zola' foi comprado pela Killer Films e distribuído pela A24. A série de tweets de A'Ziah fez muito sucesso em 2015 quando a mesma postou chamando a atenção de nomes conhecidos como Ava Duvernay (Olhos que Condenam), Missy Elliot (rapper) e Riley Keough (atrz que está no longa como Stefani, amiga de A'ziah). Taylour Paige protagoniza o longa como Zola (personagem de A'ziah), todos os nomes são fictícios, mas os fatos são 85% verídicos, e ainda temos Nicholas Braun e Colman Domingo (Fear The Walking Dead).
Agora porque 'Zola' é um filme sem pudor...? A'Ziah King além de ser garoçonete também é dançarina, e como boa parte das mulheres, quer se divertir, curtir, se mostrar, e o que vemos de Zola no filme, é justamente tirado da personalidade de A'Ziah. E aí entra a visão modernista e afrontosa de Janicza Bravo. Janicza tem um trunfo muito grande com seu filme, pois obviamente, tanto Zola quanto Stefani dançam em pole-dances nas boates, em trajes mais que sensuais, sem falar que estão vestidas a caráter quando o cafetão X (Colman Domingo) colocam as moças para fazer programa. Janicza não mostra um seio descoberto em seu filme, você os vê quase semi nus, com alguma tira de sutiã por cima, mas nunca o bico do peito ou ele por inteiro, assim como em nenhum momento das 1h30 de filme aparece sequer uma vagina. Nada. E temos cenas de sexo com o cara metendo por trás da Stefani, por cima dela, com as pernas abertas, mas nada de priquita. Claro, as bundas aparecem, mais de calcinha ou biquíni, do que totalmente descoberta, mal aparece descoberta na verdade.
Janicza não expôs a nudez feminina de forma gratuita em seu filme, mesmo o enredo pedindo, mesmo algumas cenas do filme pedindo, ela as manteve sexy, e as mostrou em danças e posições sexys, vulgares, mas sem nudez gratuita... apesar de Stefani dar de quatro, dar de pernas abertas pro teto, e há uma cena em que toda uma gangue de parças faz uma rodinha de cueca em Stefani para ganharem um boquete numa suruba épica, e nesse momento, Janicza abre um parentese para contar o ponto de vista de Stefani na viagem, de uma forma totalmente viajada com o trocadilho da palavra.
Agora a nudez masculina, é explícita... no seu primeiro cliente na Flórida, sendo assistida por Zola, que achou grosso, Stefani trepa com um cabeludão, que deita Stefani na cama, se despi inteiro e fica com o pau de fora, semi duro, e vai pra cima de Stefani, e o mais legal, sem relar na atriz Riley Keough, a câmera de Janicza contribui para ficar só no imaginário do espectador. Sem falar nas sequência a frente onde Zola descola inúmeros clientes para Stefani, onde elas levantam uma grana altíssima, por 15 minutos de xoxota. Nessa sequência, há uma edição rápida de várias rolas de diversos tamanhos, dos mais muchos aos mais cotocos, tem saco batendo no chão, tem rola com fimose, tem rola com o galo deformado... é cômico, mas fico pensando como Janicza arrumou esas figuras para deixar filmarem seus pintos e sacos deformados para o longa. Janicza não teve pudor nenhum, expôs a rola da forma mais feia e real possível.
Dito isto, elogio demais a atuação de Riley Keough (O Culpado) que também não teve pudor ao atuar no filme, usou tudo, de roupa colada, a fio dental minúsculo, teve rola dura a 20 centímetros da cara dela, foi rodeada por um monte de marmanjo com volume na cueca numa cena alusiva a boquetes, deu vida própria a uma personagem da vida real ao seu modo, foi bem sagaz no texto e esteve demais no filme. Adorei demais esse comprometimento dela que mergulhou de cabeça e comprou a ideia toda.
No mais, a direção de Janicza é ótima, fez muito bem o trabalho, teve ótimos takes das protagonistas, encenou bem a cena de tensão e tiroteio no final do longa, e mandou bem demais na cenas de sexo explícito do filme. O filme também é muito bem editado e montado, segue um ritmo bacana, segue um ar meio 'Pimp My Ride' da MTV americana, com caracteres e tudo, e traz um texto afiado cheio de gírias entre as meninas, e o cafetão X, mais os antagonistas do longa. Tem uma fotografia honesta, que se segura bem quando solicitado no filme, nada demais.
Taylour Paige (A Voz Suprema do Blues) também esteve muito bem no filme, dança bem demais no pole dance, acredito eu que deve ter feito aula para dançar no filme, chute meu, soube ser sensual, original, e mandou bem nas cenas mais tensas do filme, que quase nada tem de drama, tem de tensão, de ser ameaçada o tempo inteiro por X, e sempre estar com cara de assustada, tensa, e ela segura muito bem sua atuação aí, principalmente na cena do fim do filme no quarto de hotel.
Já Colman Domingo, ótimo ator que é, e do qual sou fã demais, fez um cafetão de respeito, mas algo já esperado por um ator como ele, acho que não entregou nada além do esperado pela escalação para um papel específico que combina com o estilo de atuação dele, tendo um destaque maior na cena do fim do filme no quarto de hotel, e na piscina de um hotel ao ser mais agressivo com Zola.
Não dá pra dizer se o filme é bom, mediano, ruim, fraco ou legalzinho... eu prefiro usar os termos, cômico, sagaz, pornográfico, debochado, uma viagem bem doida... aliás, o que esperar de um filme baseado em uma thread de Twitter gente.
O longa foi indicado no SPIRIT Awards, o Oscar de filmes independentes, nas categorias Melhor Filme, Melhor Diretor (Janicza Bravo), Melhor Atriz (Taylour Paige), Melhor Ator Coadjuvante (Colman Domingo), Melhor Fotografia, Melhor Roteiro e Melhor Montagem. Também teve indicações no GOTHAM Awards para Colman Domingo e Taylour Paige em suas respectivas categorias.
Achei a indicação de Colman Domingo exagerada, já citei no comentário sobre ele que era o esperado vindo do ator, nada demais... em contra partida, esperava muito uma indicação para Riley Keough, e acho uma bola fora da premiação não lembrá-la na categoria de Atriz Coadjuvante, merecia demais até pela entrega dela no filme. Já para Melhor Filme, na minha visão, só foi indicado, vejo muito a briga entre 'A Filha Perdida' e 'Sempre Em Frente' com minha torcida pelo último.
Se não tiverem pudor no gosto de vocês, assistam... experiência única garantida. O filme é bem feitinho até, tudo nos conformes.
Se existe um estúdio que fez seu nome na década de 2010, este estúdio foi a novata A24. Criada por Daniel Katz, John Hodger e David Fenkel em 2013, o estúdio vem crescendo e ganhando relevância no mundo cinematográfico com produções interessantes e intrigantes, belíssimas obras e boas escolhas na distribuição. Foi ela quem distribuiu internacionalmente filme como 'A Bruxa', 'Room' (O Quarto de Jack) e 'Ex Machina'. Fora que o estúdio possui dois prêmios importantes do Oscar, um pelo documentário 'AMY', e outro de Melhor Filme por 'Moonlight'. Nos seus mais recentes trabalhos, temos aí o muito bem avaliado 'A Tragédia de Macbeth' da Apple TV, ou seja, a A24 é uma realidade muito positiva, e por mais que já tenha até levado o Oscar de Melhor Filme e sempre tem um ou outro projeto indicado em premiações, o foco deles são em obras fora do comum, ideias cativantes e originais, sem se preocupar com o hype de premiações.
Diante disto, temos uma das suas mais recentes obras 'Sempre em Frente' (C'Mon C'Mon), longa totalmente em preto e branco (uma marca comum do estúdio) dirigido pelo diretor Mike Mills, também conhecido por ser o compositor de 'Man on The Moon' com Jim Carrey.
Protagonizado por Joaquim Phoenix, Gaby Hoffman e o estreante ator mirim Woody Norman, 'Sempre em Frente' é um dos mais lindos e tocantes filmes desta temporada de premiações. O filme trata de Johnny (Phoenix) que viaja pelo país entrevistando crianças e adolescentes questionando-os o que eles pensam e esperam do futuro, e como eles enxergam as pessoas adultas. Johnny tem uma irmã (Hoffman) que tem um filho de 9 anos, Jesse (Woody Norman). O pai de Jesse tem problemas psicológicos e de comportamento, e a mãe dele e Johnny passaram recente pela perda da mãe, algo que conturbou um pouco o relacionamento dos dois. Tentando ajudar o pai de Jesse, Viv pede a seu irmão Johnny que cuide de Jesse enquanto ela viaja, e então Jesse e Johnny além de embarcar para Nova York para Johnny continuar seu trabalho, os dois irão se redescobrir e se descobrir um no outro, trazendo um embate de personalidades entre um adulto com traumas amorosos e uma criança com traumas paternos.
A forma como Mike Mills escreveu seu filme é muito inteligente e perspicaz, além de termos toda a ficção dos protagonistas lidando com seus problemas internos, e a relação de Johnny e Jesse que só vai crescendo, ao mesmo tempo, a parte em que Johnny entrevista as crianças e adolescentes, seja em Detroit no começo do filme ou em Nova York, não parece para mim algo escrito por Mike Mills. Pelos créditos finais do filme deu para perceber, sem ter total certeza, que essas entrevistas foram reais, era Joaquim Phoenix incorporando seu personagem, e entrevistando esses jovens que respondiam da maneira mais sincera e verdadeira possível, e se for isso mesmo, é algo muito legal, muito vivo, muito humano que Mike Mills trouxe para complementar seu filme. É muito gostoso e educativo ver esses jovens explanando a nós como vêem o mundo, os adultos, como enxergam as relações afetivas, como vêem dificuldades em expressar os sentimentos, e como tentam enxergar o mundo no futuro, como será, o que acontecerá, onde eles se vêem.
A relação de Jesse e Johnny no filme é muito gostoso de acompanhar... uma criança que têm problemas internos paternos, que inocentemente enxerga e entende que não se acha totalmente amado, mas sabe que seus entes o amam, sabe que é muito mimado, mas entrega muito amor de seu próprio jeito. Criou uma própria realidade fictícia para fugir um pouco da realidade cinzenta em que se encontra, e não compreende totalmente, mesmo sabendo que está ao seu redor. E é em Johnny que ele entende muitas questões que lhe cercam, pois Johnny tem seus problemas amorosos não resolvidos consigo mesmo, a perda recente de sua mãe, e sua relação com a irmã Viv, que precisa melhorar. Johnny demonstra que não sabe cuidar de uma criança, mas logo se adapta ao papel... percebe os desvios de personalidade e as dualidades de humor de Jesse. e tenta desesperadamente contornar esses obstáculos para conseguir ganhar a atenção e a obediência do garoto, além de tentar formar um vínculo afetivo que vai crescendo conforme o filme avança. É muito bonito ver essa transformação e o respeito e zelo entre eles ir se formando.
Mills acertou em cheio no seu filme, contornou um roteiro terno, gostoso, afetivo, acolhedor e esperançoso, e é muito difícil algum espectador não acabar gostando do resultado final, uma vez que o elenco ajuda muito nisso. Tecnicamente, 'Sempre em Frente' é muito bem construído... por ser um filme em Preto e Branco, a fotografia logicamente se sobressai, belíssima principalmente nas cenas externas de campo aberto tanto em Detroit, como em Nova York onde ela se mostra mais vívida. Méritos de Robbie Ryan, que trabalhou nos filmes 'A Favorita' e 'História de um Casamento', para citar os mais recentes. A cenografia apesar de não ser tão abrangente, de seu jeito mais peculiar e intimista acaba ganhando por deixar o espaço mais aberto possível para Woody e Joaquim brilharem em suas cenas. Já a trilha sonora é perfeita, densa e bem orquestrada, ela dita o ritmo do filme, compondo bem as cenas onde Jesse e Johnny não usam as palavras, mais sim os gestos e um ao outro... bem aí que a trilha ganha em harmonia com os personagens, realmente um trabalho sagaz da dupla Aaron e Bryce Dessner (de Cyrano e Jockey, filmes deste ano).
Falando do elenco, Joaquim Phoenix dispensa comentários... depois de abocanhar todos os prêmios em 'Coringa', em uma atuação estupenda, aqui ele entrega uma performance densa, acolhedora, conflituosa, paterna e humana, Joaquim trouxe muitas camadas para Johnny, que possui seus defeitos e seus problemas, mas não deixa de aprender e estar aberto ao aprendizado, seja com as crianças que ele entrevista, seja com seu sobrinho problemático amoroso. Um personagem mais que humano para um ator versátil e artístico como Joaquim é. Além dele, Gaby Hoffman que faz sua irmã Viv, também atua muito bem, ganhando mais destaque no começo do filme antes de deixar Jesse com Johnny. Acaba tendo suas demais cenas em conversas ao celular com Joaquim Phoenix e em alguns flashbacks com Jesse ou seu pai Paul (Scoot McNairy).
Porém o destaque mesmo é Woody Norman, fazendo sua estreia como ator, ele dá um show... que garoto INCRÍVEL. Ele passa por todas as emoções que um ator pode entregar em cena, sem falar naquelas aulas que vocês já devem ter visto, aulas corporais para soltar a desenvoltura do ator/atriz, aquela aulas com a boca para soltar o maxilar, tudo isto Woody Norman entregou no filme e em seu personagem. Ele entendeu perfeitamente o papel que tinha que fazer, as emoções que precisava entregar, a dualidade em sua relação com Joaquim Phoenix, a inquietude de uma criança de sua idade, as complexidades do humor de uma criança que tem mãe e pai que não são normais, mas o que é ser normal afinal, o próprio Jesse indaga Johnny no filme. Woody Norman realmente me impressionou e me ganhou de uma forma gigante, esse menino é de outro mundo. Ele e Joaquim são o coração do filme. Woody mesmo está indicado a Ator/Atriz Jovem no Critics Awards, e até então minha torcida ia em Emilia Jones por 'CODA' (perfeita por sinal)... mas depois de ver Woody aqui, minha torcida vai para ele, esse menino precisa ser premiado pois ele é um achado muito grande, uma jóia raríssima de ator.
'Sempre em Frente' tem indicações ainda no BAFTA para Woody Norman em Ator Coadjuvante (que bela indicação da academia britânica). No Satelitte Awards foi indicado a Fotografia, Roteiro Original (terá minha torcida) e Ator Drama para Joaquim Phoenix (tem chances). No Spirit Awards, o Oscar dos filmes independentes, foi indicado a Roteiro, Diretor (terá minha torcida) e Melhor Filme, concorrendo contra 'A Filha Perdida', 'Zola', 'A Chiara' e 'The Novice'. Faltando dois filmes para conferir, de cara já daria o prêmio de Melhor Filme para 'Sempre em Frente', merece demais e é um trabalho lindo e singelo de Mike Mills que poderia sim estar indicado a Melhor Filme no Oscar, sem medo de ser feliz (presta atenção academia).
A24 continue assim, nos abrilhantando com obras originais e dando voz a profissionais que nos trazem histórias e contos fora do convencional. É um estúdio para ficar ligado sempre.
Todos sabemos que qualquer adaptação baseada na família real, carregará consigo um pequeno boicote por parte da mesma, tivemos grandes sucessos como 'A Rainha' com Helen Mirren (oscarizada) e 'The Crown' (premiada), mas ambas com um forte discurso de negação por parte da família Real. Assim também foi com "Spencer", que diferente dos dois filmes citados, sofreu mais com o negativismo da família Real e foi boicotado em premiações (cof, cof BAFTA) e em algumas salas de cinema mundo afora.
Dirigido por Pablo Larraín (chileno, de 'Jackie' e 'Tony Manero') e roteirizado por Steven Knight, que também já dirigiu três filmes, e roteirizou 'Coisas Belas e Sujas' de Audrey Tautou, "Spencer" traz, como o filme mesmo apresenta, uma fábula da história real de Diana Frances Spencer, Princesa de Gales e esposa do Príncipe Charles. O filme se passa entre a véspera de Natal e o Boxing Day (26 de Dezembro), e claramente nos coloca na pele e na psiquê de Diana, para nos fazer testemunhar em que estado emocional ela se encontrava naquela época onde seu marido, o príncipe de Gales, estava lhe traindo. Praticamente, Steven e Pablo, pegaram os acontecimentos turbulentos do Casamento de Diana, que permearam os anos de 94/95, e como ela sofreu emocionalmente com, não só a traição mas com a pressão da família Real encima dela, e solidificou em três dias de Natal, praticamente nos resumindo o quanto foi depressivo viver em uma família que não era sua família e onde ela se sentia desamparada.
Esse foi o ponto de acerto do roteiro de Steven Knight, fazer com que nos colocássemos na pele de Diana, o tempo todo ela está sufocada pela vida que leva com a família Real, sufocada de não ter dois minutos de paz dentro do palácio Real, sufocada de não ter os próprios pensamentos, de não ter as próprias decisões, de seguir a etiqueta que família Real propõe (ou impõe), de suprir expectativas, de fazer sala quando não se sente a vontade... é muito angustiante vê-la sendo o tempo inteiro sendo interrompida. O roteiro é amarrado de uma forma que faça com que o espaço para ela se mostrar para o espectador exista, de que ela mostre suas qualidades, que nos faça conhecê-la mais a fundo, mais intimamente e que nos sintamos mais empáticos para com a pessoa dela, mas isso o tempo todo é interrompido pelos funcionários da família Real, o tempo todo literalmente, e ela não consegue se mostrar, crescer, se conhecer...é um ponto do roteiro de Knight muito inteligente e muito bem construído, nota 10 pra essa visão.
Já a direção de Larraín ganha por nos imergir nessa angústia de Diana de nunca ser deixada em paz, a câmera trabalha de um jeito que encurrala ela nos cômodos do palácio, sempre que a câmera a foca, mesmo quando é com algum membro do palácio, a câmera a fotografa de uma forma que ela esteja encurralada, tentando sair, tentando respirar, tentando colocar as narinas para fora da água... Sem falar nas cenas mais artísticas mais pro fim do filme com Kristen dançando no palácio ou correndo desde pequena até a vida adulta, ou até mesmo toda a sequência na antiga casa de Diana no encontro com Anne Boleyn. Por falar nisto, esta passagem de Diana, que lê o livro baseado em Anna Boleyn, entregue pelo Major Gregory (Timothy Spall, monstro da atuação), é muito boa, ela tem essa dualidade de se comparar emocionalmente com o que Anna viveu no passado, por mais que o desfecho de ambas tenha sido diferente, foi todo um lance artístico poético que serviu para expor mais ainda a aflição de Diana em lidar com a família Real.
E pra fechar a trinca, Kristen Stewart, sem ela, nada disto funcionaria... incorporou Diana muitíssimo bem, foi perfeita do início ao fim, mal pesou a mão na interpretação, foi didática e cuidadosa, leu bem a Diana para transportá-la para o longa, e captou bem toda a angústia dela e expôs isso em cena de uma forma magistral. Uma grande atriz e artista que ficou, aqui no Brasil que é só por onde eu posso falar, mal vista e mal lembrada sempre como a Bela de 'Crepúsculo', filme que ela não tem nada de que se envergonhar, foi uma aprendizado para ela crescer como artista e chegar em um de seus ápices que foi esta atuação espetacular e estupenda. Você praticamente enxerga a Diana nela e se apaixona a primeira vista... minha vontade foi de abraça-la o filme inteiro.
Tecnicamente, uma obra de arte, tanto o design de Produção que é de cair o queixo, como foi bem construído o palácio internamente, os detalhes nos quartos de Diana e das crianças, na cozinha onde eram preparadas as refeições, na sala onde eles se serviam... tudo. Um detalhe para se criar todo a cenografia de encher os olhos. A fotografia é incrível, muitas cenas ali principalmente com Diana, são muito bem fotografadas pela diretora Claire Mathon, de "Retrato de Uma Jovem em Chamas" (que é uma obra prima na minha opinião), e aqui Claire mais uma vez traz este trabalho vívido e belo, uma peça de arte magnífica. O figurino é estonteante, digno de inúmeras indicações nas mais diversas premiações, porque é muito bem costurado, construído, lembra demais as vestimentas verdadeiras de Diana e remete bem o estilo usado pela família Real na década de 90.
A trilha sonora de Johnny Greenwood (Licorice Pizza e Ataque dos Cães) é linda, mas é muito mais densa, penetrante, angustiante, sórdida, a trilha consegue expressar os sentimentos de Diana com muita destreza, e expõe bem o peso do ar dentro do palácio e o peso que Diana carrega em ter que ser forte para aguentar toda essa rotina... uma trilha explêndida... porém confesso que em pequenos pontos do longa se torna repetitiva.
No elenco ainda contamos com Sally Field (A Forma da Água), Jack Farthing (A Filha Perdida) que está muito bem no filme como Príncipe Charles e Sean Harris de "Macbeth: Ambição e Guerra".
"Spencer" foi muito lembrado e exaltado no Satelitte Awards nas categorias de Filme Drama, Trilha Sonora, Figurino, Direção de Arte e Atriz Drama. Já Kristen Stewart foi lembrada como Melhor Atriz no Critics Awards e no OSCAR, tendo perdido o Globo de Ouro para Nicole Kidman. Porém ela já levou o prêmio dos críticos de Hollywood de Melhor Atriz, pelo menos uma lembrança ela terá.
O filme é fenomenal, foi indicado pelos Críticos de Hollywood a Melhor Filme, e eu pessoalmente indicaria "Spencer" sim a Melhor Filme no Oscar. Mas devo destacar que Kristen Stewart, ao meu ver, merece muito levar este Oscar de Melhor Atriz, sua interpretação é bárbara e dramática e perfeita... ela entrega tudo e interpreta Diana aos pés da perfeição. Sua atuação é angustiante demais. Já pendi para Nicole Kidman e me conveci de que Jessica Chastain era a merecedora... mas depois de ver Kristen, eu estou entregue ao seu talento e atuação. Terá muito minha torcida.
A década 90 e início de 2000 nos deram grandes e proeminentes diretores/roteiristas, ou seja, profissionais visionários que enxergam aquilo que escrevem, sempre era mais comum alguém vir com a ideia, um roteirista profissional pago rabiscar o texto e o enredo e o diretor entrar e colocar sua visão baseado no roteiro que lhe foi entregue. Dentre tantos profissionais entregues nessas décadas citadas, temos um do qual sou particularmente fã, Paul Thomas Anderson, e claro, preciso pagar uns dois, três filmes dele que ainda estou devendo, mas sempre cito duas obras que estão no topo do meu gosto cinematográfico: "Boogie Nights" e "Sangue Negro".
O primeiro assisti ainda jovem, da locadora, e nem sabia quem ele era, sabia quem eram os atores no elenco apenas, mas já foi um filme que me pegou na veia pela sagacidade e a forma como a câmera passeava pela resposta das feições dos personagens. O segundo é uma obra prima do cinema moderno, na minha opinião, um marco da década de 2000.
"Licorice Pizza", que assim como "Boogie Nights" e "Sangue Negro", foi escrito e dirigido por Paul, além de ter sido produzido também, é um conto que foge muito do que Paul estava entregando em seus últimos trabalhos desde "Sangue Negro"... como "Vício Inerente", "Trem Fantasma" e "O Mestre". Paul acabou focando em um filme mais leve, em um romance inocente da década de 70, onde a sexualização estava em pleno vapor, onde a psicodelia era o carro chefe para quem queria ser descolado, aonde as pessoas iam nas festas e na casa dos amigos com um disco debaixo do braço... "Licorice Pizza" de Paul Thomas Anderson é isso, um romance leve e inocente, sagaz e divertido, que toma forma na década de 70 em Santa Monica, com duas pessoas bem diferentes, não só em personalidades, como em estilos de vida, e principalmente de idade... 15 para 25, um filme colorido, um filme musicado, um enredo leve, um ar gostoso de juventude... "Licorice Pizza" parece um disco d vinil sendo tocado na vitrola.
Achei bem interessante ver uma pessoa como Alana buscando descobrir quem era ela naquele ponto da vida, o quanto ela se sentiu atraída por um garoto que aspira ser homem, já tendo uma vida e responsabilidades de um homem, gerindo uma empresa como um homem adulto faria, mas ainda sendo um garoto, inocente, ingênuo, uma personalidade de descoberta da qual Alana compactua e talvez tenha sido isto que fisgou-a á Gary. Uma mulher que quer ter um homem que tenha uma personalidade mais moleque, que a mesma possui, sem deixar de ter uma firmeza que ela se atraia.
O filme é muito gostoso, leve, divertido, colorido, musicado, engraçado, brinca com suas percepções, tem muitos atos e núcleos divididos em suas 2h16 de duração... uma hora estão vendendo colchões d'água, outra está no ramo de máquinas pinball, outra hora Alana acompanha Gary nas suas incursões de ator nas agências, outra hora Alana está no gabinete do vereador Wachs em sua campanha para prefeito, e depois ela e Gary estão enfrentando Jon Peters, marido de Barbra Streissand (??). Tudo isso com muitos desencontros entre os dois que ainda estão se conhecendo e conhecendo o outro, antes de provavelmente se entregarem ao romance que está ali na entrelinha esperando para aflorecer.
Como é algo bem diferente do que Paul Thomas costuma entregar, o espectador estranha no começo um filme tão colorido e cheio de vida de Paul Thomas, mas ele acerta muito no diferente, e isso é algo a ser exaltado na perspicácia dele em criar um roteiro tão fora do seu convencional e acertar o tom no que se propõe a fazer que é fora do seu jogo de segurança no mundo do cinema. Ponto pra ele novamente. E citando sua direção... está ótima, muita coisa de câmera de "Sangue Negro" está ali, coisas que ele trouxe de Boogie Nights também está, principlamente na cena onde Alana e Gary leêm o jornal com Reagan na TV, e na cena inicial quando Alana acompanha Gary no colégio onde ele tira foto e tudo mais. O filme têm uma ótima fotografia, uma edição impecável, muito bem editado o filme, e uma direção de arte bem setentista, colorida, não diria psicodélica, mas sim com um tom mais neon... é um ambiente bem vivo, bem verão norte americano.
Porém, devo ressaltar que dentro do roteiro de Paul, há alguns furos e inconsistências, que por mais que não atrapalhem o andamento do filme, são contratempos que podem tirar o brilho de uma cena ou outra ou de um núcleo ou outro. Faltou uma imersão maior da família de Alana, que é a família dela mesma na vida real, incluindo suas irmãs, obviamente, suas companheiras na banda de rock "Haim", que sequer são coadjuvantes, são mais adereços, esperava muito mais da família dela. Paul Thomas anda tão rápido com a relação de seus dois protagonistas, que não nos aprofundamos no contexto familiar e pessoal de Gary, somos levemente apresentados e fica naquilo, é como se só nos interesasse saber que ele é um ator e que sua mão vive viajando, morreu aí, e fica difícil criar uma ligação mais profunda com Gary, quando criamos com muito mais facilidade com Alana. Outro ponto é a mudança de um núcleo pro outro, sai do colchão d'água pra lidar com Jon Peters (Bradley Cooper) e de lá ela do nada se manda pro escritório do vereador Wachs, são mudanças tão grandes na rotina dos dois protagonistas, que não há uma resolução do ponto onde eles estavam para avançar para o próximo ponto... simplesmente é deixado de lado para o enredo avançar e continuar aquele desencontro de gato e rato entre Alana e Gary, totalmente proposital. Sem mencionar que o final do filme, é totalmente incoerente com o que foi criado para Alana em todo o enredo. Para uma pessoa de 25 que se relaciona com um de 15, ela se abrir totalmente e dizer 'eu te amo' para Gary como se fosse uma adolescente de 15 anos super apaixonada foi no mínimo ridículo e uma falta de respeito e carinho com o espectador. Ela era a mais madura, a mais adulta, a mais cabeça, fica evidente na discussão que eles tem na casa do Vereador Wachs quando ela fica puta por ele só pensar em ir pro ramo de Pinball sem dar a mínima pro que o Vereador pode mudar na cidade como Prefeito... mas aí no fim do filme, ela que se relega á ser uma adolescente apaixonada pelo "homem" Gary... sendo que deveria ser ao contrário, vide as atitudes de Gary. Faltou muito tato aí para Paul Thomas Anderson em deixar seu filme com coerência que ele tanto criou durante o enredo.
O casal de protagonistas segura a onda, estão ótimos e sou só elogios tanto para Alana Haim e Cooper Hoffman. Os dois mandaram muito bem justamente em seus filmes de estreia, coisa rara de se ver, e ainda angariar indicações em premiações. Parabéns aos dois de verdade.
O longa ainda conta com Sean penn, sempre ótimo, afinal um ator do calibre de Sean dificilmente vai entregar algo meia boca. Bradley Cooper arrasou demais como Jon Peters, tanto em caracterização como em atuação, sendo a ser indicado no SAG Awards para Ator Coadjuvante,e foi muito legal vê-lo num papel divertido e áspero, sempre perdendo o controle, lembrando muito seu papel em 'O Lado Bom da Vida'. Ainda tivemos o canto Tom Waits, que manda bem demais como ator nos filmes que faz, e aqui ele está uma figura e tanto na cena do bar com Sean Penn. e Benny Safdie que faz o Vereador Wachs, ótimo ator que se destacou no pouco que apareceu.
A trilha sonora é de Johnny Greenwood, guitarrista do Radiohead (banda que gosto demais) parceiro já de longa data de Paul Thomas, tendo feito a trilha de "Sangue Negro", por qual ganhou um prêmio no Critics Awards em 2008. Trilha ótima, viva, com alma, orquestrada e músicas muito bem inseridas, só com a nata da de´cada de 70 como The Doors, The Wings entre outros.
"Licorice Pizza" angariou indicações nesta temporada. No OSCAR foi indicado a Filme, Roteiro Original e Diretor. No BAFTA indicado a Filme, Diretor, Atriz para Alana Haim, Montagem e Roteiro. No Critics Awards indicado a Filme, Roteiro, Diretor, Edição, Atriz, Jovem Ator para Cooper Hoffman, Melhor Elenco e Melhor Filme Comédia. No Satelitte awards indicado a Filme Comédia/Musical, Edição Diretor, Atriz e Roteiro. No Globo de Ouro perdeu todas que foi indicada, Filme Comédia/Musical, Atriz, Ator para Cooper Hoffman e Roteiro.
Gostei do filme? Sim. Me apaixonei pelo filme? Nem tanto assim. Acho uma indicações bem exageradas. Não indicaria Paul Thomas Anderson a melhor diretor, na minha opinião ele dirige muito bem, está ótimo como sempre está em seus filmes, mas não é nada demais para indicar ao meu ver, principalmente quando ele está indicado no Oscar e Denis Villeneuve não está, dado o trabalho absurdo dele em Duna... uma vergonha para a Academia. Vergonha gigante.
A indicação a Melhor Filme no Oscar e no Critics Awards eu até compro, uma vez que são 10 indicados, o filme fica em décimo lugar para mim. Mas a indicação dele a Melhor Filme no BAFTA é gritante de exagerada, foi o que mais me deixou boquiaberto, daria muito bem para indicar ali, "CODA" fácil... ou até mesmo "O Beco do Pesadelo" que é um filme muito mais redondo. Acho que aqui o BAFTA foi bem incoerente e me deixou espantado. Mais uma no, mais uma incoerência do BAFTA.
De todos os filmes do Paul Thomas Anderson, daqui há uns 10 anos, este será o menos lembrado, na minha opinião. è bom, mas não tão bom assim. Garanto que filmes como "CODA" e "O Beco do Pesadelo" serão mais lembrados que este. Ouviu né BAFTA!!!!!
É sempre interessante ou intrigante quando você vai conferir um filme baseado em alguma personalidade ou uma obra em fatos reais, e você não conhece nada sobre o que está sendo contado. Eu mesmo nunca havia ouvido falar de Tammy Faye e nem sabia sobre esse sucesso estrondoso que foi a rede de televisão PTL Club, e o quanto eles se ramificaram para o globo todo, praticamente sendo os pioneiros das emissoras de TV religiosas, e ainda 24 horas por dia.
Tanto Tammy Faye Bakker quanto Jim Bakker foram pessoas excêntricas,sendo que o filme não deixa claro se isso era proposital ou se eles eram meio desconexos da realidade mesmo, mas a julgar pela aquela cena nos créditos finais do longa, com Tammy Faye falando com a imprensa na frente da escadaria onde ela e o marido foram julgados... dá para julgar que era uma pessoa bem non-sense, portanto, imagine seu marido então,que recentemente estava vendendo pílulas ou xarope, um dos dois, que acabava com a Covid em 12 horas (!!!!!!!!!!!!!!!!!!)
Dirigido por Michael Showalter, 'Os Olhos de Tammy Faye' conta toda a história do casal que se conheceram, se apaixonaram, e na sua fé e no seu amor por Cristo e Deus todo poderoso, pregaram a palavra e tinham este sonho de atingir o maior número possível de pessoas, ou seja, pregar na televisão era uma realidade de curto prazo.
Baseado no documentário de mesmo nome, e roteirizado por Abe Sylvia, que roteirizou e dirigiu dois episódios distintos da série Dead To Me da Netflix, o filme tratou de contar minuciosamente a ascenção do casal no ramo religioso, ao mesmo tempo que não demora muito em certos detalhes burocráticos da ascenção deles, atravessando o tempo de uma forma rápida, sem nos desconectar dos anos em que os mesmos estavam crescendo dentro da Televisão americana.
Bem divertido, bem editado, com diálogos gostosos, e pontos de vistas duvidosos, "Os Olhos de Tammy Faye' mais irá agradar o espectador do que desgostar, ou afastar. O Longa tem um figurino muito decente, bem construído e condizente com o tempo em que eles vivem e com os lugares que frequentam, sem falar na direção de arte que é bem arquitetado, e se sobressai nas cenas no estúdio de gravação do programa deles, e nas residências onde moravam, principalmente mais próximo do fim do filme, ali capricharam e muito no design de produção e era de se encher os olhos a residência de frente ao mar do casal Bakker. Outro ponto a se destacar do filme é o cabelo e maquiagem do filme, conforme eles envelheciam no filme, ficava muito mais evidente e bem feito a maquiagem para envelhecer Andrew Garfield e Jessica Chastain, assim como o penteado dos dois, com destaque obvio para Jessica e sua Tammy Faye, com penteados muito elaborados e uma maquiagem que remetia exatamente a Tammy Faye em seus tempos de TV. Realmente um trabalho incrível da produção do filme. Um ponto negativo foi a mãe de Tammy Faye interpretada por Cherry Jones (24 Horas) que não parecia envelhecer com o passar dos anos, totalmente não condizente com a aparência não só de sua filha, mas também a de Jim Bakker, ou seja, uma pequena bola fora da produção na minha opinião.
Cabe aqui dizer com segurança que os dois protagonistas levam o filme nas costas, e são a principal razão de acompanharmos o longa. O longa não é chato, muito menos arrastado ou ruim, longe disso, é gostoso,engraçado e divertido, mas é excêntrico demais, debochado demais, e é exatamente assim que enxergo a atuação de Andrew e Jessica. Não sei se na vida real o casal Bakker era assim fora das câmeras também, debochados, excêntricos,non-senses, não tinham um pingo de bom senso com as coisas e com a realidade, e se escoravam na fé deles em Jesus e na fé de seus cristãos para fazerem o que lhe davam na telha.
Andrew está do jeito que o conhecemos no filme, solto, se divertindo, ácido, uma atuação bem gostosa de se acompanhar. O bacana que no começo do filme ele nos convence com sua pregação, ele é tão convincente, prega com tanto amor, com tanta naturalidade, com segurança, com um carinho,com um conhecimento da bíblia de dar inveja, que me ganhou de cara, deu vontade de segui-lo e frequentar sua igreja toda semana, ou todo dia. As vezes sua serenidade não condizia muito com o momento em que Jim vivia, mas isso não atrapalha em nada o andamento do filme e nem diminui sua interpretação em tela, é apenas um adendo mesmo.
Já Jessica Chastain... que Atriz, que mulher, que pessoa, que profissional... uma atuação magistrosa e Jessica, gigante, incrível, poderosa... sua Tammy Faye é gostosa demais (gostosa de ser delicioso acompanhá-la em cena), seus trejeitos, suas falas, sua caracterização, seu jeito molecona, que é o jeito de Jessica na vida real para quem acompanha ela um pouco no Instagram. Ela está muito bem no filme, tá segura demais, tá se divertindo demais, tá inspirada demais, caiu como uma luva esse papel nela. Na minha opinião ela está bem mais gostosa de se acompanhar na primeira metade do longa, quando ainda não chegaram á televisão, ali ela ganha em interpretação demais... logo depois quando sua Tammy Faye muda até sua aparência, com maquiagem carregada e penteados diferenciados, ela fica com uma atuação mais condizente com o momento difícil que Tammy Faye passava... mais carregada de drama, aparentemente depressiva, bem pesada misturado com uma camada leve, nunca deixando a peteca cair, sempre trazendo aquele lado mais moleca de Tammy Faye, mais infantil, mais meigo. Sem falar que Jessica canta todas as músicas originalmente cantadas por Tammy Faye, até nos créditos finais... como canta a Jessica, super afinada, concentradíssima, certeira... só isso seria o suficiente para premia-la, vide a cena final dela cantando antes terminar. Para mim, justamente indicada a Atriz no Oscar, no Critics Awards, no Sag's e no Satelitte Awards, tendo perdido o Globo de Ouro para Nicole Kidman. Mesmo amando a Jessica neste filme, concordo a principio que Nicole está incrivelmente melhor e deve levar o Oscar em minha opinião... mas, vamos esperar para ver.
O filme ainda conta com Vincent D'Onofrio no papel de Jerry Falwell, poderoso da indústria evangélica da época. Vincent que já se eternizou como Wilson Fisk, o Rei do Crime da série Demolidor da Marvel, aparece em momentos cruciais do longa, não tanto quanto deveria, e sua atuação, para quem viu as temporadas de Demolidor, lembra demais ele como Wilson Fisk, sua forma de falar, e a forma como gesticula, não tem como não remeter ao personagem. É claro que sua performance como Wilson Fisk não define sua carreira, sua forma de atuação e nem vai deixá-lo marcado de vez, mas aqui está muito encrustido nele o personagem, tem muito resquício e como no roteiro, Jerry Falwell pouco acrescenta e pouco se mostra na história, sua atuação fica menos abrangente do que o normal, trazendo poucos traços do Jerry real, apesar de eu nunca o tê-lo visto, e deixando mais o jeito característico de Vincent atuar.
'Os Olhos de Tammy Faye' ainda ganhou indicações para Maquiagem e Cabelo no BAFTA, no Oscar e no Critics Awards, muito justo por sinal porque o trabalho está estupendo.
O filme tem muito entretenimento em sua primeira metade, claro com protagonismo total de Jessica e Andrew, e vai ganhando em corpo e drama conforme o enredo avança... já se encaminhando para o final, o próprio roteiro não avança demais, fica estacionado e o mesmo se dá para os dois protagonistas,que suas interpretações,que sempre e são no campo do deboche e da excentricidade, se estacionam porque não há mais lugar para se avançar e nem camadas para serem exploradas... o filme estaciona e terminamos de acompanhar no automático, para podermos acompanhar o desfecho. O filme tem mais pontos positivos que negativos, mas quando os poucos pontos negativos aparecem, são mais gritantes, e por mais que não atrapalhem o andamento do filme, entra evidentemente em atrito com o que o longa tem de bom a oferecer.
Geralmente cine biografias são muito bem contadas, algumas são só ok, mas nos dá uma boa imersão de como foi a vida ou a carreira de tal artista... acho que uma exceção pode ser 'Bohemian Rhapsody' que teve muitos problemas durante sua produção e pós produção. 'Respect' tinha tudo para ser uma ótima cine biografia da cantora e rainha do Soul Aretha Franklin, mas sabe-se lá que aconteceu durante suas filmagens, ou pré-produção, ou durante a criação do roteiro... o filme é bem mais ou menos, mais pra menos que pra mais.
'Respect' foi dirigido por Liesl Tommy, diretora conhecida apenas por dirigir episódio da 9ª temporada de 'The Walking Dead' e da 3ª de 'Jessica Jones', e sinceramente não vou lembrar aqui destes episódios que assisti, pois sou fã das duas séries, porém o trabalho dela neste filme é desastroso em seu primeiro ato, e a partir do momento que Aretha vai gravar seu maior sucesso, a faixa título do filme, aí Liesl começa a achar a mão, mesmo tendo um tropeço ou outro ali e acolá.
Por mais que a direção de Liesl deixe um pouco a desejar no começo e melhore do meio pro fim, a culpa mesmo é do roteiro muito mal elaborado por Callie Khouri, o que me deixa muito surpreso pois ela foi roteirista do longa 'Thelma & Louise', meu filme de cabeceira da qual gosto muito e tenho muito carinho, pérola dos início dos anos 90. Incrivelmente, aqui Callie fez um esboço péssimo para contar a história de Aretha, já da infância com muitos cortes, muitas pontas soltas, não havia coesão nos fatos que eram apresentados por Callie, não houve um aprofundamento em nenhuma relação que Aretha tnha na sua infância e adolescência, sabemos de sopetão que ela já tinha filhs com 14 ou 15 anos se não me engane. Muitos furos no roteiro dela para um filme que teve seu tempo de tela bem generoso, 2h26 para trabalhar em sua historia. Junte isso á direção de Liesl Tommy que remenda demais seu filme na sua primeira hora, é angustiante, é imoral, beira ao amadorismo, não chega a dar sono mas te deixa incomodado com tamanha falta de objetividade da diretora, muitos cortes, muitas passagens de tempo... olha, que decepção. Porém logo que Aretha vai gravar 'Respect' em um estúdio longe de NY, o filme começa a ter um ritmo bacana e Liesl ganha nas cenas em que Aretha se apresenta em casas de shows, canta seus maiores sucessos rendendo as melhores cenas do filme, no seu relacionamento conturbado com seu marido e empresário Ted White, e nas cenas onde está entregue ao álcool e jogada no limbo. Quando parece que o filme vai começar a ficar mais honesto, aí acaba.
Aretha que já é falecida desde 2016, não abria mão de que Jennifer Hudson a interpretasse na sua cine biografia... não pôde vê-la em vida interpretando-a, mas deve ter ficado orgulhosa. Jennifer, que venceu o Oscar de Atriz Coadjuvante em 2007 por Dreamgirls (filmaço), e foi revelada como cantora no programa americano 'American Idol' (que lançou as Rouge no Brasil) terminando na sétima posição, tendo Kelly Clarkson como campeã. Ela fez um trabalho brilhante como Aretha Franklin, seus movimentos, seus trejeitos, o modo como andava e mexia as mãos, sem falar que cantou todas as músicas 'In Loco' no filme, sem precisar pré-gravar, foi ali no ato... se foi o melhor papel da carreira dela, não vou saber opinar (Oi Glória Pires), mas é uma performance de respeito (trocadilho com o filme) e que foi justamente lembrado no SAG Awards na categoria de Atriz. Não vejo força para levar, mas não ficaria surpreso se ela ganhasse, é bem possível se parar pra pensar.
O restante do elenco está ok, tendo Marlon Wayans (de On The Rocks) ator que acho fraquíssimo e que se esforça aqui pelo menos, além de Marc Maron que esteve muito bem no filme como dono da gravadora de Aretha. Mary J. Blidge, cantora de R&B que conheço desde os tempos de MTV esteve no filme mas com participação comedida, porém de muita presença. Além de Tate Donovan, ator que gosto muito de séries como '24 Horas' e 'The O.C'.
Claro que vou citar o pai de Aretha no filme, o vencedor do Oscar Forest Whitakker, que eestava arrasador no papel de C.L. Franklin, daquele jeito que quem conhece Forest, sabe o que ele entregou em cena. Não é seu melhor trabalho, mas é muito competente e suas cenas de destaque com certeza são as de tensão familiar e discussões com Jennifer Hudson.
Tecnicamente o filme é honestinho, não vou entrar em detalhes, e a trilha sonora é muito bem composta por Kristopher Bowers (de King Richard e Olhos que Condenam), ele se sai melhor nos filmes citados, mas aqui sua trilha remete ao Soul, R&B e música gospel da década de 50 e 60, que permeia bem o longa e dita o ritmo das cenas, mesmo que o filme não seja lá essas coisas. As atrizes que fizeram as irmãs de Aretha e que foram suas backing vocals também merecem destaque: Saycon Sengbloh e Hailey Kilgore.
Por mais que eu ame música, fui educado no rock, mas sim conheci um pouquinho ( bem pouco) de Aretha na MTV com dois clipes que passavam dela, 'Respect' e 'Think', fora que as músicas 'Say A Little Prayer' e 'Natural Woman' eu conheci primeiro com Diana King e Whitney Houston e somente anos mais tarde descobri que foram gravadas primeiro por Aretha. Sempre reconheci seu legado como rainha do Soul, cantora que inspirou grandes nomes como a própria Whitney, Mary J. Blidge que está no filme, Mariah Carey, Beyonce e por aí vai.
É um filme para você conhecer um pouco (pouco mesmo) da vida de Aretha e conhecer seus sucessos (ou relembrar no meu caso, como Chain of Fools e Ain't No Way), porém terá que ter paciência pois o filme é muito mal concebido. Se o espectador for mais casual, se cansará apenas com o tempo de duração exagerado... com tantos cortes e furos, poderia ser um pouco menos.
Acho meio difícil começar a falar de Duna sem mencionar a grande esnobada que a Academia (e o BAFTA) deram em Denis Villeneuve este ano. Denis Villeneuve é um dos grandes cineastas desta nova geração, e é só olhar a sua filmografia onde podemos encontrar obras sensacionais onde Denis impõe uma visão contemporânea e única para cada filme que ele constrói... assim foi com "Sicario", com "Os Suspeitos", com o ótimo "O Homem Duplicado", e com "A Chegada", filme que acredito eu, e me corrijam se estiver errado, credenciou Denis para dirigir e impor sua visão de "Duna". Acho que não só "A Chegada" mas diria que Blade Runner 2049também, afinal não é fácil pegar uma obra prima de três décadas atrás e trazer para os dias de hoje e ainda trazer coisas novas e relevantes para o cinema moderno.
Tudo que você vê em Duna, esteticamente, visualmente, artisticamente, conceitualmente, passa pela visão, pelas mãos, pelo faro cinematográfico de Denis Villeneuve. "Duna" é muito rico em seu visual, em sua direção artística, o quão incrível são as naves transportadoras deste filme, o quão bonito esteticamente são os transportes de pequeno porte que remetem a libélulas, ou mosquitos de você preferir, o quão grandioso são os montes e as cidadelas de Arrakis, os grandes e imensos aposentos da família Atreides, ou então as vastas areias de Duna habitadas pelos Vermes, e as cavernas ocultas onde se escondem os Fremen. Também temos as construções dos figurinos da família real, do predestinado, dos próprios Fremen, das Bene Gesserit, de todos os estrangeiros que aparecem na primeira hora de filme... é de cair o queixo tais vestimentas que são tão únicas, mais únicas ainda que as do universo de Star Wars ou StarTrek, nunca vi nada igual ou parecido, um trabalho totalmente deslumbrante. Fora que ainda temos uma fotografia lindíssima, exuberante, fotogênica, cuidadosamente dosada, acho difícil perder prêmios nesta temporada de premiações. Só enriquece mais a edição do filme e o quão exuberante e mortal pode ser Arrakis.
Dito tudo isto, este homem que têm todos os méritos de levar "Duna" para as telas, que por mais que a obra original seja de Frank Herbert, a visão de tudo o que complementa o romance, esteticamente e visualmente... SEQUER foi indicado a Melhor Diretor nas principais premiações, a não ser no Globo de Ouro, no Critics e no Sattelite Awards. Um crime absurdo, uma bola fora da Academia, uma gafe que para mim, é pior que de "Crash" vencer Melhor Filme, pior que "O Discurso do Rei", "Guerra ao Terror" e "Green Book" levarem Melhor Filme, pior que o erro de Warren Beaty e Faye Dunaway no Oscar de 2018. Sim meus amigos, a Academia se superou mais uma vez !!!
Gostei do filme, me entreteu, tem boas passagens, ótimas cenas, é SOBERBO o trabalho de Denis Villeneuve, muito bonito de se assistir, uma experiência única, aindamais se eu tivesse assistido no cinema.
Porém... tenho minhas ressalvas...a primeira 1 hora do filme, é parada demais, beira o monótono, pouco acontece, e fica complicado se contextualizar não só com Arrakis, mas com o momento político atual... eu me perdi um pouco nessa apresentação, demorei para me contextualizar, de me encontrar no momento atual do planeta. Os personagens mesmo demoram para se apresentarem, uns são mais fáceis que outros, como foi o caso de Duncan (Jason Momoa, o Aquaman) e Gurney (Josh Brolin, o Cable de Deadpool 2). Em alguns pontos não nego que chega a ser um pouco arrastado, demorado, lento... para mim o filme engrenou a partir do ataque dos Harkonnen á família Atreides, e ainda assim houve alguns pontos mais lentos, antes de o filme voltar a caminhar.
Algumas pessoas podem achar que é culpa do roteiro, mas pelo contrário, o roteiro não é o problema, é até bem desenvolvido do livro e encaixado... acredito que o ponto principal, que também me atrapalhou, foi o fato de nunca ter lido o livro, afinal meu primeiro contato com "Duna" foi com o filme, e acredito que para quem leu o livro, quem é fã da obra de Frank Herbert, vai se habituar mais com o que é apresentado no longa. A expectativa de conferir em tela o que foi digerido em livro, a expectativa de ver como será construído o mundo que eles imaginavam lendo o romance, para eles a primeira hora do filme (e o filme todo) terá mais impacto, terá mais presença, será uma degustação e um entendimento melhor... do que para alguém como eu e outros que estão tendo seu primeiro contato, e com olhos de cinema ainda, onde a construção é bem diferente de um conto comum, de uma adaptação comum. Isso pode ter me atrapalhado, e outras pessoas também... mas, preciso ser honesto com o filme, e também comigo mesmo.
Acho que "Duna" vem forte nas premiações, principalmente nas categorias técnicas, seja em Som, Mixagem de Som, Fotografia que está incrível, Figurino que está soberbo, e Design de Produção que é de cair o queixo de belíssimo. Assim como em Trilha Sonora, onde o trabalho de Hans Zimmer é original demais, como ele compôs algo único para o filme, que conversa com Arrakis, que complementa as areias ardilosas de Duna, que traz todo um contexto para um planeta, uma música que traduz seus costumes, que complementa as cenas de ação e de tensão de uma forma não convencional em filmes de fantasia e ficção científica. Soberbo também o que faz Hans Zimmer e inspirado demais a sua trilha... e mais uma vez nos brindando com algo grandioso, uma composição magistral e se superando obra após obra, década após década.
Meu favorito nas categorias técnicas, além de Denis ser meu favorito como diretor nas premiações que concorre, não acredito que Duna possa levar Melhor Filme em alguma premiação, mas entendo perfeitamente se levar, dado o nível e a destreza que Denis trouxe para "Duna". Não é meu favorito para Melhor Filme, não está em meu Top 3, mas é perfeitamente aceitável se premiarem essa obra magnífica visualmente e tecnicamente.
Sobre o elenco, destaco, claro, Timothèe Chalamet que segura bem as pontas como protagonista, aquele famoso protagonista que é bem igênuo no começo e se tornará aquele líder destemido... já é o que observamos em Paul Atreides. Rebecca Ferguson eu gostei menos, ótima atriz com certeza, mas muita choradeira no filme, ela melhora mais pro fim do longa. Quem roubou mesmo a cena para mim foi Stellan Skarsgaard, como Baron... que atuação deste sueco a quem conheci nos Vingadores 1 e já vi tanta obras com o mesmo. Ator que gosto demais, e admiro demais, e aqui fez algo que acredito eu nunca havia feito em sua carreira... e fez incrivelmente bem e com muito talento. Seu personagem é daqueles vilões de você detestar com todas as suas forças, arrogante ao extremo, e dá um gosto enorme de ver Stellan dar vida a alguém que você odeia e se delícia em ver em cena. Obrigado Stellan. Temos ainda no filme David Dastmalchian (de Homem-Formiga e a Vespa), Sharon Duncan-Brewster que está bem demais no filme, ótima atriz. Oscar Isaac, o futuro Cavaleiro da Lua, Javier Bardem que esá muito bem também como Stilgar, dos Fremen. Além de Dave Bautista (Guardiões da Galáxia), como vilão clássico e Zendaya (Euphoria) que pouco aparece,somente no ato final.
"Duna" tem 10 indicações ao todo no Critics Awards, Sattelite Awards e no OSCAR 2022. Além das 11 indicações no BAFTA, todos eles concorrendo em Melhor Filme.
"Being The Ricardos" é o terceiro trabalho do Roteirista (e agora diretor) Aaron Sorkin na cadeira de direção, sendo que em seu filme de estreia, "A Grande Aposta" a crítica não recebeu seu primeiro trabalho tão bem como o esperado... já em "Os 7 de Chicago", seu filme foi bem melhor avaliado, concorreu ao Oscar de Melhor Filme, e ainda levou o principal prêmio da noite no SAG's.
Já neste longa, Aaron Sorkin ao mesmo tempo que acerta na questão do roteiro e das filmagens, erra um pouco a mão na montagem e na dinâmica do longa, que é protagonizado por Nicole Kidman (Bombshell) e Javier Bardem (Vicky Cristina Barcelona), além de ter o oscarizado J.K Simmons (Whiplash).
Sorkn dirige bem seus atores e atrizes, sabe como destacá-los em cena e em como evidenciá-los em diálogos dramáticos, ou que tenham uma tensão pré discussão. Sorkin também acerta na forma em que transplanta para a tela a forma como "I Love Lucy" era transplantada na CBS no final da década de 50, dando ao filme alguns momentos de ar de série de televisão antiga, com alguns takes específicos em Lucille Ball (Kidman), no casal de protagonistas Vivian (Nina Arianda) e William (Simmons), e nos takes onde Lucille visualisava o episódio que ela gravaria, em cenas preto e branco da época, com enquadramentos da época, que incorporava o cenário e os atores como um todo. Sorkin também captou bem os momentos de tensão e discussão entre Lucille e seu marido Desi Arnaz (Javier Bardem), e também na cena íntima dos dois no começo do filme.
Onde eu acho que Sorkin errou, talvez na forma onde ele encaixou seu roteiro... tivemos idas e vindas entre presente e passado, para nos mostrar que, enquanto a tensão da notícia de que Lucille seria noticiada como Comunista afetava a construção do episódio da semana seguinte, o elenco de apoio, os produtores e seu casamento com Desi... e, alguns momentos chave ele dava um flashback em como eles se conheceram, como Lucille se sentia em ver Desi apenas de madrugada as escondias mesmo estando casados, como ela levou "My Favourite Husband", sucesso na rádio como novela, para a televisão da CBS com seu marido co-protagonizando com ela... Essas idas e vindas não definem se um filme é ruim ou não, se será cansativo ou não... mas se mal inserido, como foi aqui, deixa o filme pouco coeso, menos imersivo, mau montado em certas ocasiões.
Acredito que ficamos tão entretidos no que acontece no set filmagens da série, no relacionamento entre Desi e Lucille, nas alfinetadas entre os dois roteiristas da série e no casal de coadjuvantes da mesma, e na tensão da revelação de que Lucy é/nunca foi comunista... que voltar para nos mostrar como sucedeu isso e aquilo deixa o longa descaracterizado... ou você apresenta todo o contexto de uma vez, ou acha uma brecha válida dentro do roteiro para nos contextualizar de uma vez só, do que voltar e voltar e fazer o ritmo de um filme que tinha potencial, cair desnecessariamente.
Na minha mais modesta opinião, Nicole Kidman está ESTUPENDA... Eu tive pouco contato com a série, um episódio ou outro, desgarrado, aqui e acolá quando passava no Canal 21 há uns 16 anos atrás, e por mais que me lembre pouco dos episódios, lembro muito bem da protagonista Lucy e da música icônica de abertura. Dito isto, afirmo que Nicole Kidman fez um trabalho sensacional para interpretar Lucille Ball em suas duas vertentes. Mesmo não tendo conhecimento de Lucille na vida real, acho que Nicole fez uma ótima leitura da atriz como esposa de Desi e como uma pseudo-showrunner do show, como mostrado em suas cenas de discussão como o showrruner da série Jess Oppenheimer (Tony Hale), e como a personagem Lucy, tanto no show, como na pequena cena da rádio novela "My Favourite Husband", que deveria ter um pouco mais de destaque no longa, um erro no roteiro de Sorkin. Nicole foi justamente indicada ao Oscar de Melhor Atriz, assim como no SAG's no Critics Awards, no Satellite Awards, e já tendo ganho o Globo de Ouro de Melhor Atriz em filme dramático. Faltando conferir pouco trabalhos na categoria, Nicole se torna minha favorita por enquanto de longe em todas as premiações.
Javier Bardem também está magnífico na pele de Desi, ele interpreta com graça, tem veia dramática absurda nas cenas com Nicole, é canastrão com ênfase em cenas com Tony Hale, sem falar que canta, dança em números de canções latinas como "Cuban Pete", que para quem é fã "O Máskara" irá lembrar de primeira. Está indicado ao Oscar e ao SAG's de Melhor Ator, tendo já perdido o Globo de Ouro para Will Smith.
Já J.K. Simmons que faz William, um dos coadjuvantes na série, está bem no filme também, tendo um certo destaque em algumas cenas com Nicole Kidman... ele está indicado a Ator Coadjuvante no Oscar, no Critics Awards e no Satellite Awards. Não acho que era uma atuação tão merecedora de indicação... eu amo o J.K. Simmons e nem vou citar aqui suas virtudes, mas nesse trabalho em específico, ele faz o que sabe fazer de melhor como coadjuvante, e ao meu ver não era para tanto até a indicação no Oscar, visto que seu personagem tem alguns destaques, mas são esporádicos, apenas para tranquilizar a protagonista, nada que seja de relevância. Bom, minha visão é claro.
Outros atores de destaque no filme foram o já conhecido Clark Gregg (Agents of Shield), Nina Arianda, Alia Shawkat e Jake Lacy.
O filme está indicado ainda em outra categorias, como Trilha Sonora no BAFTA, Roteiro Original no BAFTA, no Globo (onde perdeu), no Critcs Awards e no Sindicato dos Escritores, e ainda Melhor Filme no Sindicato de Produtores.
Mesmo tendo uma carreira gloriosa como Roteirista, tendo trabalhos épicos como Questão de Honra (filmaço de 92), Meu Querido Presidente (95) e A Rede Social (outro bom filme), Sorkin ainda não decolou como diretor, e aqui em "Being The Ricardos" ele faz novamente um trabalho bom com o roteiro, mas erra em brecar o ritmo de seu filme junto ao seu editor chefe Alan Baumgartner. O filme tem esses pequenos empecilhos, mas acerta em cheio nas atuações de Bardem e principalmente na de Nicole Kidman que é praticamente a alma do filme. E o fato curioso de tudo, é que "I Love Lucy" um fenômeno da TV americana que praticamente parou a América nas noites de segunda-feira, só existiu para que Lucille passasse mais tempo perto de seu marido Desi. A vida pode ser ás vezes muita engraçada, ou cruel ao mesmo tempo.
Quem conhece o trabalho de Guillermo Del Toro sabe bem que as fábulas são seu ponto forte, é a principal assinatura que o mexicano deixou para o cinema. Só dar uma bela olhada nos seus filmes mais relevantes, como os Oscarizados "O Labirinto do Faúno" que mais que uma fábula, é um thriller misturado com terror, suspense, e na minha mais modesta opinião o melhor trabalho de Del Toro até hoje... e "A Forma da Água", seu filme mais premiado, que é ao mesmo tempo uma fábula, um conto de amor, uma novela, algo soberbo de alma e paixão. Há também os dois "Hellboy" que tem a clássica assinatura de Del toro, baseados na HQ, e "A Colina Escarlate", que é um pouco abaixo dos dois Oscarizados, mas traz elementos de ambos, mais puxado para o suspense e o thriller. Uma das poucas obras de Del Toro que sai da área das fábulas e fantasia são "Pacific Rim", uma homenagem á cultura japonesa que abrange kaijus, tokusatsus, mangás futuristas apocalípticos, e é um filme bem honesto, apesar de ter uma construção dos personagens humanos bem piegas... e "Mama" filme bem mais ou menos de terror da escola Jump Scare que o mesmo produziu.
Pra que citar tudo isso? Apenas para contextualizar que tudo dito acima, foi mastigado, digerido e expelido em "O Beco do Pesadelo"... Del Toro utilizou da sua experiência e conhecimento de todas estas obras em que pôs a mão, para criar uma versão mais sagaz, mais voraz, mais soturna de "O Beco das Almas Perdidas", longa original da qual Del toro fez esta releitura indicada a Melhor Filme no Oscar e no Critics Awards.
O filme tem dois atos, um que é certeiro, prende o espectador na tela e tem um ritmo tão dinâmico e centrado que é prazeroso demais acompanhar e nos apresenta personagens coadjuvantes mais que carismáticos. O outro ato é mais submerso em detalhes e diálogos, sai do ritmo que se propôs, não chega a ser tão imersivo quanto o primeiro ato, abre mão dos personagens carismáticos e traz todo um núcleo novo onde só se salva Cate Blanchett como a Dra. Lilith Ritter, já que os demais não carregam um carisma consigo.
O primeiro ato que se passa no Circo de Clem (Willem Dafoe) é de encher os olhos, não só com com o elenco coadjuvante, mas com um ritmo gostoso, cenas acachapantes, uma direção de arte magnífica, uma fotografia imersiva e cuidadosa, figurinos tão bem construídos na mais singela simplicidade. O próprio Willem Dafoe apresenta aquela performance que só ele mesmo consegue entregar, de encher os olhos. Nesse ato também se destaca muito é David Strathairn (Nomadland) como Pete Krumbein, de quem Stan Carlisle (Bradley Cooper de Guardiões da Galáxia) aprende o principal truque que o fará mudar de patamar na vida. David interpreta muito bem, faz uma mistura legal de charlatão com paspalhão de uma forma única, e poderia ter mais tempo de tela com sua esposa Zeena, interpretada pela maravilhosa e talentosa Toni Collette (Hereditário). Só os dois em cena já são um colírio pro cinéfilo.
Ao passar para o segundo ato, temos mais tempo de tela para Rooney Mara (de A Rede Social), que foge com Stan do circo para viver com ele fazendo o truque que ele aprendeu com o caderno de Pete. Interpretando Molly, Rooney Mara tem mais a mostrar no segundo ato que no primeiro, onde tem cenas isoladas aqui e acolá, mas é neste ato final onde ela é um pouco mais exigida, mesmo sem muito brilho. Como este ato sai do circo e nos imerge na nova realidade do casal Stanton e Molly, o filme perde totalmente seu ritmo, entra num embate piscológico entre Stan e Lillith e deixa para o coadjuvantismo o golpe no Juíz Kinball (Peter Macneill) e em Ezra Grindle (Richard Jenkins de As Loucuras de Dick e Jane). A relação de Stanton com os dois velhos que ele irá dar o golpe não se aprofunda demais, talvez mais com Ezra, mas não há tempo o suficiente para nos afeiçoarmos aos dois personagens, Ezra foi o que mais teve desenvolvimento, mas podria ter focado somente nele, ou ter dado mais ênfase em seu personagem para termos aquela faceta ameaçadora que ele promete durante o segundo ato do filme. Acho que se Del toro focasse mais nele e ficasse apenas brevemente com Kinball renderia mais a história.
Mas essa mudança radical de atos, do escrachado e cômico romântico do primeiro ato, com o protagonista misterioso... para um segundo ato mais metido, psicológico, um suspense amálgamado com thriller, inspirado brevemente em "A Colina Escarlate", pode cansar o público que já havia sido ganho com o ritmo estabelecido no primeiro ato, e vê as coisas aos poucos mudarem de tom no segundo tom... é como se você assistisse dois filmes em um só... ou uma minissérie com dois episódios, cada um dirigido por um diretor diferente.
Não digo que Del Toro não acertou, muito pelo contrário, ele fez um ótimo filme que justíssimamente está indicado ao Oscar de Melhor Filme... mas faltou acertar a mão no ritmo ao mudar de ato, que claramente incomoda o público mais casual e chama a atenção até do cinéfilo que está acostumado com esse tipo de virada no roteiro.
Bradley Cooper fez um trabalho ótimo na pele de Stanton Carlisle, um papel que originalmente estava destinado a Leonardo DiCaprio, não tenho o que reclamar do trabalho dele, sempre muito competente, e sua cena final no longa é de prender a atenção na tela. Porém, eu achei que faltou um 'Q' a mais na atuação de Bradley para que ele obtivesse uma lembrança em qualquer premiação nesta temporada. O personagem Stanton Carlisle é sensacional, tantas nuances para se trabalhar com o personagem, tantas camadas para se trabalhar... Bradley aproveitou todo esses escopos para trazer a vida um Stanton incrível que vimos em tela, mas... como já disse...faltou aquele ímpeto a mais...não explicar exatamente, só quem assistiu o filme e concorda com minha opinião vai entender um pouco... afinal é um personagem que rende indicação para qualquer ator que o interprete com inspiração. Não faltou ao Bradley, mas faltou um tempero a mais... enfim.
Já Cate Blanchett foi um colírio... Atriz com A maiúsculo, nada que esta mulher faça fica ruim, ou abaixo do que ela pode entregar...afinal de contas estamos falando da mulher que foi a rainha Elizabeth I, fez Senhor do Anéis, foi Katherine Hepburn que lhe rendeu um Oscar, foi a namorada de Benjamin Button, foi Blue Jasmine que lhe rendeu outro Oscar, foi a madastra má da Cinderela, foi Brie Evantee no fim do mundo, foi Hela, foi Bob Dylan... ufa...agora, não satisfeita foi a Dra. Lilith Ritter... indicada a Atriz Coadjuvante esse ano no Sag Awards...sem mais!!!
O Beco do Pesadelo é uma obra incrível de Del Toro, envolvente, atraente, sagaz, ágil, prende a atenção, um suspense de tirar o fôlego em sua parte final, uma thriller, uma novela, um romance, uma ótima película... que apenas pecou no ritmo do segundo ato, ato este que é muito bom, bem feito e construído... mas se arrasta um pouco até chegar em seu clímax verdade seja dita. Ao todo, possui 4 indicações ao Oscar, três delas técnicas, Direção de Arte, Figurino e Fotografia, fora indicações no BAFTA também... mas dificilmente arrebatará um prêmio, ao menos em minha visão.
Da última vez que acompanhei um longa dirigido por George Clooney, "O Céu da Meia Noite", em que o mesmo protagonizava, não fiquei animado com o que presenciei em tela em termos de roteiro e personagens, porém gostei muito do filme tecnicamente. O filme levou algumas indicações, mais técnicas no caso, o que ajudou a promover um pouco do filme para quem não conhecia, como eu.
Em "The Tender Bar" (Odeio o título nacional), temos um mais do mesmo de George Clooney, em minha mais modesta opinião, que é um filme que não surpreende e nos ganha em termos de roteiro e ritmo, mas que tecnicamente salta aos olhos em diversos momentos.
Se antes George Clooney tentou fazer uma ficção científica futurística, meio apocalíptica, desta vez ele focou em um roteiro mais humano, onde as relações falariam mais alto... uma auto biografia de onde ele poderia brincar mais com seus personagens afim de tirar o melhor de cada um e de suas relações de troca sobre a vida e como ser um homem.
Baseado na biografia de J.R Moehringer, e com roteiro de William Monahan, "The Tender Bar" nos promete em seu enredo que JR cresce na pequena Long Island junto de sua mãe divorciada, na casa de seu avô e de seu tio Charlie (Ben Affleck). Com seu pai sempre ausente, que não liga muito para o menino, JR passa a frequentar o bar que Charlie tem e uma vez lá ouve e aprende em como ser um homem e como deve viver ao crescer, de seu Tio Charlie e também dos amigos de seu Tio que frequentam o bar. Tendo uma vasta coleção de livros que seu tio possui, ele meio que decide ser escritor e atentamente guarda as histórias que ouve para si. Quando cresce, consegue uma vaga para a faculdade de Yale, onde pretende se formar para ser advogado, que é um sonho de sua mãe.
Porém em tela não vemos nem 1/3 do que a sinopse entrega, na verdade vemos JR sim conversando com alguns residentes do bar, mas isso aparece pouquíssimo em tela, não trazendo tanta relevância assim para a história, coisa que deveria ter. Temos a primeira parte do filme com JR criança, interpretado pelo ótimo Daniel Ranieri, e na segunda metade com JR já adolescente/adulto, interpretado por Tye Sheridan (X-Men Fênix Negra). A primeira parte do filme é boa, começamos a nos situar no longa, na vida JR e nos ensinamentos de Charlie, temos uma troca legal e as cenas se desenvolvem bem, porém ao chegarmos na segunda metade do longa, ele se perde completamente, quando Tye Sheridan assume o protagonismo. Não há um desenvolvimento no filme, não há ritmo, tudo é meio parado e não se desenrola para nada objetivo, assim como não há empatia pelos personagens... há um começo de apresentação onde começamos a conhecê-los para começarmos a desenvolver uma possível empatia pelos personagens apresentados, mas os mesmos não se desenvolvem, o roteiro não vai adiante, e não nos apegamos a ninguém, e todos ficam meio rasos em suas apresentações e possíveis desenvolvimentos, que é bem nulo nesse filme.
Faltou objetividade ao filme de Clooney, e ao roteiro também, faltou ritmo porque chega a ser chato em alguns momentos acompanhar sempre as mesmas passagens, faltou personalidade ao longa, que não se mostra ao que veio, não cresce em suas relações e não desenvolve seus personagens, não nos ganha, não emociona, não nos ensina absolutamente nada (pelo menos nada que já não saibamos).
JR quer ser escritor mas não vemos no filme um movimento dele coeso onde busque isso, nem na faculdade, nem no bar... nós vemos um lampejo, uma chama, não devo negar, mas não se desenvolve para algo mais. Há algumas passagens desnecessárias quando ele está no The New York Times, com duas cenas muito parecidas ao sair da sala do editor chefe... sem falar em sua incessante e xarope procura por Shelby (Brianna Middleton), sério, no começo é bem interessante, principalmente quando ele toma café da manhã com os pais dela, depois fica chato, piegas, repetitivo, fica idiota, uma obsessão em ter essa garota que já deu um pé na bunda dele umas, sei lá, trocentas vezes.
Enfim... Ben Affleck está bem no filme, não compromete não, já é um baita ator que sabe muito bem o que fazer com um bom papel em mãos... levou duas indicações a Ator Coadjuvante, um no Globo onde perdeu, e outro no SAG's Awards, onde também deve perder para Kodi Smith-McPhee. Se é merecido essas indicações, não sei, não vem ao caso, o que vem ao caso é que ele não tem a menor chance, só vale a lembrança para tentar promover um pouco o filme.
Daniel Ranieri faz o JR criança e é uma baita surpresa, o menino é um bom ator e tem muito futuro, e gostei muito dele contracenando com Ben Affleck, com Lily Rabe (The Underground Railroad) que fez sua mãe e Max Martini (Doom Patrol) que esteve ótimo no papel de seu pai, muito bom ator.
Já Tye Sheridan que fez JR na faculdade e início de vida adulta, também faz um bom trabalho e não compromete, ele é um bom ator e gosto muito dele, o elenco do filme manda muito bem, é o que te segura em um filme sem muita alma. Christopher Lloyd, o eterno Doc Emmet Brown, faz o avô de JR, porém tem apenas uma cena de destaque no filme e é mero coadjuvante no longa, sendo a ficar esquecido no decorrer do filme. Destaco também Brianna Middleton que faz Shelby, sua 'namorada' no filme, ela é uma ótima atriz e gostei muito dela em cena com Tye.
Tecnicamente, o filme tem cores bem vivas, uma cenografia bem montada e inspirada, uma vez que o longa se passa na década de 70 e 80, e uma direção de arte que salta bem aos olhos. É muito bem montado o filme e visualmente dá graça em vê-lo. A fotografia também se sobressai, mais na primeira parte do filme na infância de JR, perdendo um pouco do brilho e concepção da segunda metade em diante. Já a trilha sonora é ótima do começo ao fim, uma das poucas coisas boas do filme.
"The Tender Bar" é mais uma tentativa de Clooney na direção, acredito que é sua quinta tentativa, me corrijam se eu estiver errado, sendo a segunda que eu acompanho dele... não está me convencendo muito, deixou a desejar aqui, como deixou a desejar em 'O Céu da Meia Noite'. Não falha em dirigir os atores, principalmente os mirins, mas não está recebendo roteiros inspirados em mãos, e também não consegue desenvolvê-los quando dirige. O filme fica muito efadonho e muita gente pode largá-lo na metade ou irá terminá-lo a contra gosto e dizer que perdeu boas horas de sua vida vendo algo chato e desinteressante. Eu não quero dizer que o filme é chato, mas não me prendeu e me efadonhou em alguns momentos... então devo dizer, é bem chatinho. Não gostei não.
É um consenso que o Peter Parker/Homem-Aranha do MCU é bem diferente do Peter que conhecemos dos quadrinhos, afinal no MCU em nenhum momento é mencionado o Tio Ben, a May é mais jovem que o comum, e os próprios amigos do Peter são diferentes do que nos quadrinhos... começando por Ned (Jacob Batalon) que nos quadrinhos é Ned Leeds, somente o Duende Macabro em pessoa, e logo depois MJ (Zendaya) que não é a MJ que nós conhecemos, e sim, Michelle Jameson, a MJ do Peter do MCU.
Dito isto, para mim como fã da Marvel, o mais legal de acompanhar este universo cinematográfico, é justamente o fato de ser mais um multiverso estabelecido dos quadrinhos. Se nos quadrinhos o universo principal é o 616, este que não sei qual sua alcunha, é mais um multiverso dentre tantos outros que existem e já foram apresentados, como o Ultimate, a Contra-Terra, o Universo 2099, e inúmeros já mostrados nas HQ's dos 'Exilados'.
Por isso que pra mim é mais fácil me afeiçoar com o Peter de Tom Holland, que faz um ótimo trabalho como Homem-Aranha ao meu ver, mas não nego que seu Peter Parker é bem único e divergente do comum, muito próximo do que foi mostrado nos desenhos, como em 'Spectacular Spider-Man', um dos melhores desenhos do cabeça de teia. O que gera o desafeto de boa parte dos fãs do teioso pelo fato de ele ser muito dependente de figuras paternas, do uniforme tecnológico e não sofrer tanto assim no colégio.
Já este filme foi muito massacrado pelos fãs, muitos o acharam mais fraco, menos interessante, ainda desgostosos dos roteiristas fazerem o Peter ainda se ressentir a perda de Tony Stark, e muito da presença dele dita o ritmo do filme e os atos de Peter. E eu confesso que aqui eles pesaram a mão nesse quesito, pois Peter parece nunca resolver seus problemas sozinhos, como foi nos quadrinhos, sempre tem alguém para ou ajudá-lo, ou guiá-lo, ou orientá-lo, e neste filme temos três figuras que fazem esse papel.
Mysterio (Jake Gyllenhaal) no começo do filme faz mais esse papel de guiá-lo em suas ações, claro com segundas intenções por trás, mas serve como uma espécie de guru para Peter... antes de se tornar o vilãozão mesmo do filme.
Nick Fury (Samuel L. Jackson) que requisita ajuda de Peter para deter os Elementais, ilusões criadas por Quentin Beck (Gyllenhaal) e que mesmo sem ter muita paciência em lidar com Peter, acaba o orientando e tentando tirar o melhor do cabeça de teia, o super-herói que Tony enxergou nele e que o confiou a Fury... ou seja, mais uma figura teoricamente paterna na vida de Peter, mesmo nó sabendo que não era o Fury afinal.
Por fim, Happy Hogan (Jon Favreau), menos do que um coadjuvante nos quadrinhos, aqui virou figura principal na vida de Peter depois da morte de Tony. Happy praticamente adotou Peter e o vê como seu novo protegido, assim como era com Tony, e ele o ajuda em sua missão de lidar com Mysterio, fornecendo a tecnologia necessária para aprimorar seu uniforme e deter Beck em solo Inglês.
Não é dos melhores filmes do Homem-Aranha, mas remete muito aos quadrinhos, principalmente as cenas de luta contra Mysterio e quando lida com Fury e Maria Hill (Cobie Smulders) que aqui aparece só para repetir a parceria com Fury, os roteiristas acabaram não focando muito em fazê-la ser mais relevante no filme. Toda aquela viagem que Peter e seus amigos fazem com os professores, parece mais tirado de um desenho animado do próprio Aranha, e funcionaria melhor assim, e talvez tenha sido a parte que os fãs menos gostaram, junto com o Óculos destruidor de Tony que está em posse de Peter, e ele usa para acertar o garoto que tenta pegar MJ durante a viagem. Bom mesmo é do meio para o final, quando Mysterio se revela o vilão mesmo do filme e afasta aquela ideia ridícula de que ele viria de um universo alternativo.
No final, temos a aparição de J.J.Jameson, com o retorno de J.K Simmons ao papel, em um Clarim Diário renovado, a revelação da identidade de Peter, um fato inusitado que nem eu esperava quando assisti no Cinema... e logo depois na cena pós créditos, a revelação que Fury e Maria Hill eram Skrulls disfarçados, sendo que Fury estava no espaço ajudando os Skrulls, e que o Fury da terra era na verdade Talos (Ben Mendehlson) que apareceu em 'Capitã Marvel'.
Jon Watts, diretor do filme, ainda fez uma brincadeirinha com o possível Four Freedoms Plaza, casa do Quarteto Fantástico, uma vez que o próprio filme da primeira família da Marvel terá direção dele. E, diferentemente da opinião pública e de alguns críticos, eu gosto muito da direção de Jon Watts, mesmo sendo limitado em alguns poucos aspectos, acho que nas cenas de batalha e luta contra Mysterio e os Elementais ele fez um ótimo trabalho. Que sequência foi aquela na luta espelhada entre Peter e Mysterio? Muito bem feito e dirigido. Comigo Jon tem crédito sim, me desculpem os haters.
Apenas um filme de transição da fase 3 para a fase 4 do MCU, Homem-Aranha: Longe de Casa está aí para apenas divertir mesmo, ser um bom entretenimento, um bom filme do Aranha que tenta ser mais leve mas sofre com o peso da responsabilidade de ser o super-herói que ele reluta ás vezes em ser. Tem mais pontos positivos que negativos pra mim, mas dos três de Tom Holland, é o que menos agrada, apesar de fazer a ponte para os eventos que virão a seguir na vida de Peter.
A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas
4.0 494Depois de a Sony Pictures lançar o arrasa-quarteirão 'Homem-Aranha no Aranhaverso' (o melhor filme do aracnídeo), e abocanhar o prêmio de animação em todas as premiações que concorreu, eles voltaram suas atenções para sua próxima obra que teria o mesmo estilo de animação de seu antecessor.
Dirigido e escrito por Michael Rianda (em sua estreia como diretor de animações) e produzido por Christopher Miller e Phil Lord (Homem-Aranha no Aranhaverso), e distribuído pela Netflix, 'A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas' inova em muita coisa em termos de entretenimento, e além de ter uma linguagem bem atual, vai divertir além das crianças, os adultos também.
A história segue Katie Mitchell, que acaba de ser aprovada na faculdade de cinema, ela que sempre fez vídeos caseiros, pequenos filmes com seu irmão e o seu cão (porco ou pão de forma, não sei) Monshi, sempre sonhou em fazer filmes, e após ser aceita finalmente iria encontrar a sua tribo, pessoas que possuem gostos parecidos e iguais aos dela e pessoas com quem ela se identificaria. Para viajar para a faculdade, seu pai canela sua passagem de avião e decide fazer uma viagem de carro até a cidade onde ela irá estudar, para se reconectar com sua filha, uma vez que os dois não são tão apegados um ao outro. É nesta viagem, que um app de serviços chamado 'Pal', estilo google acaba tomando conta de robôs, e atacando toda a humanidade, restando apenas a família Mitchell, que terá que salvar o mundo dos robôs.
Como toda animação, ela traz uma mensagem por trás, no caso, a importância de se conectar com a sua família, respeitá-la e aceitá-la do jeito que ela é. E mais profundo ainda, a relação de Katie com seu pai Rick Mitchell, pois ele não deu muita atenção para os vídeos de Katie conforme ela crescia, e isto não os aproximava como pai e filha, faltava uma ligação, e em viagens e reuniões familiares, eles sempre estavam se alfinetando ou engalfinhando, e essa viagem e tentativa de deter os robôs, podem acabar aproximando os dois.
A família Mitchell, muito provavelmente é baseada na família do diretor Michael Rianda, como sugere fotos no começo e créditos finais do filme. E o ponto alto desta animação é a forma como Michael resolveu tratá-la em tela. Muitos elementos da internet, principalmente do Youtube, como vídeos aleatórios, cenas que parecem capa de HQ's, com logos chamativos e frases de impacto, no melhor estilo Jackass, misturado com Batman: a série de 1966, muitas ideias visuais malucas que lembram o extinto 'Liquid Television' da MTV, e músicas de fundo no melhor estilo KIll Bill.
Visualmente tudo nesta animação é diferente, não inovadora, mas muito inspirado no que se vê em vídeos aleatórios do Youtube, e uma linguagem muito mais jovem e atual, como se fossem vídeos caseiros editados em programas de computador, para virarem pequenos curtas, ou um curta metragem de baixíssimo orçamento... que é exatamente o que Katie fez em toda sua infância e pré-adolescência.
Por ser possivelmente baseado na família de Michael Rianda, ele ter escolhido esta forma de homenagear sua família, e portanto, todo a batalha final com os Robôs do App 'Pal', é bem cinematográfica, bem ao estilo de filmes de ação e super-heróis, como Star Wars, Indiana Jones, Kill Bill e Vingadores. Tudo muito surreal, que tira uma fração de realidade que a animação constrói na relação de Katie e Rick Mitchell, e na possível rivalidade com a família Posey.
Por mais que ele exagere a mão nessas sequências finais, a impressão é que a intenção dele era realmente retratar a família como super-heróis, cada um em sua qualidade, o que aos olhos dele, era assim que ele os enxergava, ou era assim que ele quis retratar a família para quem assistisse a animação. Se por uma lado pode ser um pouco exagerado e forçado, por outro dá para entender a escolha de Michael em retratá-los assim na sequência da batalha final.
A maioria dos dubladores são profissionais especializados em animações.
Katie foi dublada por Abbi Jacobson, seu pai por Danny McBrride, e sua mãe Linda por Maya Rudolph (de Luca). Seu irmão AAron foi dublado pelo próprio Michael Rianda. Ocantor John Legend fez Jim Posey, e o apresentador Conan O'Brien fez o robô Glaxon 5000.
Já Olivia Colman, atriz oscarizada de A Favorita, The Father e A Filha Perdida, fez o aplicativo Pal.
A trilha sonora é bem variada e eclética e mistura BTS, Le Tigre e Madeon, com bandas consagradas como Talking Heads e Sigur Ròs (que tem duas músicas na trilha).
'A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas' foi indicado na categoria Melhor Filme em Animação no Satellite Awards e no OSCAR.
Perdeu o BAFTA para 'Encanto'.
Porém, o filme venceu o Annie Awards (o Oscar da Animação) e o Critics Choice Awards, duas grandes premiações desta temporada.
Ainda não assisti Encanto, nem Flee, o que pode mudar minha opinião, mas em termos de prêmio, continuo dando para Luca, que me pegou mais.
'A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas' é ótimo, engraçado demais, com alma e coração e tecnicamente muito bem produzido. Tem um exagero ali e acolá, mas dá pra passar o pano. Também é um pouco longo demais, poderiam ter tirado alguns minutos ali do longa, algumas crianças vão acabar se cansando.
Se levar o Oscar, vai estar em boas mãos... e tem muita força até lá.
(13/03/2022 - Netflix)
Belfast
3.5 291 Assista AgoraEu tenho uma minúscula lista de 'Trailers que são melhores que os filmes em si', e vou incluir 'Belfast' nela. Aí você pode pensar que eu não gostei do filme e que deixou a desejar... muito pelo contrário. Na verdade, o trailer de 'Belfast' é emocionante demais, muito bonito, bem feito, bem montado, com "Everlasting Love" de fundo, com as cenas certas de 'Belfast' de falas que trazem um impacto. Toda premiação devia ter esta categoria de Melhor Trailer, que se não me engane, só a Associação de Filmes e Televisão online tem essa categoria que foi para 'Last Night in Soho'.
Pois bem, o trailer é lindo de morrer e quando o vi no cinema fiquei encantado e esperava um filme divino.
Acredito que Kenneth Brannagh (diretor de THOR, por isso a revista na mão de Buddy) fez um ótimo trabalho com 'Belfast', é uma carta de amor as pessoas que viveram e vivem em Belfast, uma carta de amor a cidade, e seus costumes e crenças, ele faz uma revisitação de sua infância (comum nos últimos anos com alguns diretores, como Roma de Cuáron).
É um filme que mostra que a alma e o coração de Belfast são as pessoas, que fazem de Belfast ser quem ela é. Belfast são as pessoas que vivem nesta pequena cidade, com suas ruas que ao mesmo tempo que são estreitas, elas são completamente amplas, onde as pessoas conhecem umas as outras, desde a infância, cresceram juntas, formam uma comunidade amorosa, que cuidam uns dos outros, onde seus filhos são conhecidos por todos, desde os vizinhos, até os donos de mercearias, padarias, onde a escola é a segunda casa dessas crianças, que brincam nas ruas até o jantar, sem preocupação, onde qualquer vizinho ou pessoa olham por elas.
Belfast, aos olhos de Sir Kenneth Brannagh, na década de 60 para 70, por mais alegre que fosse, sofreu com a guerra civil que se instaurou na comunidade e no país, entre Protestantes e Católicos, os Protestantes, que historicamente são imigrantes britânicos vindos também da Escócia e País de Gales a muitos anos atrás, que concentraram na província de Ulster, em sua maioria, e os Católicos, que são irlandeses de sangue, que se orgulham de suas terras e temem uma rebelião.
Esse confronto caseiro, se expandiu para o movimento IRA, uma grupo terrorista que lutava pela independência da Irlanda do Norte contra o exército britânico, e que numa manhã de 1972 culminou na morte de dezenas de pessoas pelo exército britânico, no que ficou conhecido pelo 'Domingo Sangrento'.
O U2 gravou uma música chamada 'Sunday Bloody Sunday', que se encontra no disco 'War' de 1983, sendo que o U2 é um grupo irlandês, e para as pessoas que ouviram "Everlasting Love" no trailer e no filme, cantado por Jamie Dornan, esta música foi regravada pela banda em 1989, e originalmente é de uma cantor americano chamado Robert Knight.
Acredito que pelo fato de ter sido regravado pelos maiores artistas que a Irlanda já concebeu, ela se faz presente no filme até como uma certa reverência pela importância da banda na música mundial.
Mas apesar de Belfast ser um filme lindíssimo de Brannagh, ele possui muitos cortes, a edição é corrida demais, algumas passagens poderiam falar por si só, mas há tantos cortes de edição que a impressão que passa é que o filme é corrido demais, e de fato ele não é. Como a edição não foi dosada, o filme fica com uma reputação que não lhe pertence.
Alguns personagens também não recebem aprofundamento, como o pai de Buddy, interpretado por Jamie Dornan. Faltou um tato melhor para com ele, para contextualizá-lo mais para com sua situação com a família, e a situação civil de Belfast.
Os avós de Buddy também, eles tiveram seu destaque e isso eu não posso negar, mas tinham potencial para um pouco mais. E é visível que tiveram uma atenção especial no texto para com o avô de Buddy (Ciarán Hinds) que se sobressai mais no longa do que a avó dele (Judi Dench) que tem um destaque somente na cena final do longa, ao meu ver.
De destaque, temos a competente e estonteante Caitriona Balfe, que esteve bem demais no filme, incrível, além do próprio Judy Hill, o garotinho que fez Buddy, esperto, profissional, atento, dedicado e perfeito na sua atuação. A cereja do bolo do filme.
Também destaco Laura McDonnell, que fez Moira no filme, a amiga rebelde de Buddy, ela atua muito bem, é um colírio em cena, teve uma química boa com Judy Hill, e sua personagem é muito carismática, sem falar que sua atuação remete muito a de Thomassin Mckenzie em 'Jojo Rabbit'.
Mencionando também Ciarán Hinds... Gigante no filme!
Tecnicamente 'Belfast' é incrível, pois possui uma cenografia cuidadosamente bem construída, toda Belfast é bonita e bem mapeada com suas ruas e casas, e as trincheiras. A cenografia também merece ser reconhecida, com as placas da época nas vendas, e nos locais de passeio, fora o pequeno cinema que eles frequentavam, e os detalhes e enfeites na casa de Buddy, assim como nos fundos da casa.
A fotografia é lindíssima, ainda mais com o filme se passando em preto e branco, nas cenas de combate entre os civis, na cena inicial ainda em cores, fotografando a cidade ao longe, e na cena do cinema, onde o laranja da filme que assistiam refletia nos óculos da vó Judi Dench.
E também mencionando que a cena de dança, com Jamie Dornan cantando "Everlasting Love" e dançando com Caitriona Balfe, além de ser prefeita é linda e bem dirigida, ponto alto do filme fácil.
A trilha sonora é do cantor Van Morrison, é ótima e suas canções para o filme são boas, mas confesso que estas canções originais não me pegaram.
'Belfast' recebeu inúmeras indicações nesta temporada de premiações;
-No Globo, Roteiro, Filme Drama, Diretor, Ator Coadjuvante (Ciarán Hinds e Jamie Dornan), Atriz Coadjuvante (Caitriona Balfe), perdendo todos;
- Nos SAG'S para Caitriona Balfe e Melhor Elenco, também perdendo;
- No Satelitte Awards, Filme Drama, Diretor, Ator Coadjuvante (Ciarán e Jamie), Atriz Coadjuvante (Judi Dench e Caitriona Balfe), Roteiro Original, Melhor Canção 'Down To Joy' de Van Morrison, Fotografia, Montagem, Som, Direção de Arte e Figurino;
- No Critics Awards, Melhor Filme, Elenco, Ator Coadjuvante (Jamie e Ciarán), Atriz Coadjuvante (Caitriona), Revelação (Jude Hill), Diretor, Roteiro Original, Fotografia, Direção de Arte e Edição;
- No OSCAR, Melhor Filme, Direção, Ator Coadjuvante (Ciarán Hinds), Atriz Coadjuvante (Judi Dench), Roteiro Original, Melhor Cnação 'Down To Joy' Van Morrison.
- No BAFTA, que acontece enquanto eu escrevo, até agora perdeu Montagem e Roteiro Original (absurdo), Caitriona Balfe e Ciarán Hinds perderam em Atriz e Ator Coadjuvante respectivamente. 'Belfast' ganhou o prêmio de Melhor Filme Britânico até agora, e ainda concorre a Melhor Filme o maior prêmio da noite.
Achei um absurdo a Academia não indicar a Caitriona Balfe, que esnobada feia, indicando ainda Judi Dench que mal teve espaço no filme para brilhar. Academia e suas incoerências eternas.
O filme foi mais reconhecido no Satelitte Awards com diversas indicações do que em outras premiações, muitas técnicas, umas das quais eu não concordo muito.
As indicações de Jamie Dornan, são válidas só nas premiações que ele foi indicado, obvio, não achei a atuação dele tão ótima e impactante assim para ele ganhar essas indicações no Oscar ou BAFTA por exemplo. Até aí está de bom tamanho.
E claro, um crime, no BAFTA Kenneth Brannagh perder Roteiro Original Para Licorice Pizza, crime que a Academia britânica cometeu sei lá porque. É minha torcida em Roteiro para as premiações que virão a seguir.
'Belfast' é um bom filme, na minha visão, tem uma edição bem contestada, conflituosa, deveria deixar o filme seguir livremente, mas é uma história bem rica, e um roteiro bem escrito e bem amarrado. Não deve levar mesmo Melhor Filme no Oscar, nem no BAFTA, e o prêmio de Filme Britânico já é uma conquista bem grande para Kenneth Brannagh e seu conto afetivo em um período tão conflituoso.
(12/03/2022 - Online)
Luca
4.1 769Todo mundo sabe que todos os anos, os filmes da Pixar saem sempre como os favoritos para levar os prêmios de Animação não só no Oscar, como nas demais premiações. Não só são os principais favoritos, como acabam mesmo levando o prêmio.
Tanto que os dois últimos Oscars foram para filmes da Pixar, assim como em 2018 e 2016, o que chega a ser aposta batida, pois acaba sendo o mais óbvio das categorias e prêmios nas premiações. Óbvio, não tiro o mérito da Pixar, que é um dos estúdios mais competentes em termos técnicos de animação, e em como contar histórias que emocionem seu público, seja infantil, ou até mesmo os adultos. Não á toa foram comprados pela Pixar.
Porém, este ano, realmente 'Luca' filme da Pixar indicado a Melhor Animação, realmente é um trabalho ótimo da produtora, e desponta como favorito para o prêmio, algo que seria muito justo.
'Luca' conta a história do monstro marinho Luca, que sonha em ir para a superfície e conhecer o mundo. Ao tomar coragem e subir das profundezas do oceano para a superfície, ele junto de seu mais novo amigo, Alberto, fazem um pacto para ganharem uma campeonato de triatlo, para comprarem uma Vespa e sair conhecendo o mundo dirigindo ela. Porém, os dois ao saírem da água e ficarem em superfície, ficam com sua aparência humana, e não podem ter contado com água para não voltar a aparência marinha. Á partir daí eles vão para um vilarejo na Riviera Italiana e conhecem Giulia, eles formam uma amizade que pode finalmente vencer a Copa anual que sempre é vencida por Lorenzo, rival de Giulia.
O filme é muito gostoso, por se passar na Riviera Italiana, traz toda uma cultura italiana para o longa, com costumes, gírias (What's Wrong Wtih You, Stupido?), culinária, construção do vilarejo. Aborda uma amizade bem construída entre Luca e Alberto, com altos e baixos, e também do trio Giulia, Luca e Alberto, os "Excluídos' (ou Underdogs), que ambos no trio têm suas dores, seus medos, e seu sonhos.
O filme é engraçado, cheio de tiradas satíricas, e piadas que funcionam muito bem, é emotivo principalmente em seu final, na estação de trem, mandaram muito bem nessa sequência, com um texto bem simples, que emociona quem assiste o filme por inteiro. Também traz uma mensagem bacana de aceitação e respeito, o que acaba acontecendo na maioria dos filmes de animação.
Os personagens são todos ótimos e possuem muito carisma, o que já é um passo enorme para uma animação te ganhar. Luca não funciona sem Alberto e vice-versa, os dois complementam um ao outro no filme e isto é nítido em tela. Giulia também brilha mais quando está com eles ou com só com Luca. Já o antagonista Lorenzo, é bem caricato, e por mais que seja engraçado em muitas partes, não vai cair nas graça do espectador, justamente por ser muito exagerado em sua performance.
Os pais de Luca também são ótimos, sendo um alívio cômico no filme quando eles chegam ao vilarejo, e temos o pai de Giulia que apesar de aparecer modestamente, tem o seu carisma.
Um dos personagens mais curiosos, e engraçados, é Tio Ugo, esqueci o tipo de peixe que ele é, mas é muito caricato e engraçado, com um texto afiado também, ele é dublado por Sacha Baron Cohen (de Os 7 de Chicago e Borat 2), ou seja, um personagem que ficou nota 10. Sua cena final depois dos créditos conversando com, provavelmente, Giusseppe, o peixe de Luca é hilária.
Tecnicamente, a Pixar fez um trabalho ótimo com a animação e com a construção do vilarejo que se localiza na Riviera Italiana, tudo lá é bem detalhado e bem construído, foi um bom trabalho de pesquisa para remeter isto no filme. Pra mim, pecaram apenas em não criar um visual subaquático amplo, aonde luva vivia com sua família e onde conheceu Alberto. O fundo do oceano aqui ficou bem simplificado, sem muitos detalhes, pouco inspirado, e sem muitos coadjuvantes. A impressão que dá é só pano de fundo para focar na superfície. Este ponto eu não curti.
De dubladores, todos são profissionais acostumados com dublagem em animação: Jack Dylan Grazer (Alberto), Jacob Tremblay (Luca), Emma Berman (Giulia), Marcelo Barricelli (Massimo), Saverio Raimondo (Ercole), Jim Garffigan (Lorenzo), Maya Rudolph.
Dirigido por Enrico Casarossa (Coco) que fez uma ótima direção no filme, e escrito por Jesse Andrews e Mike Jones (de Soul), 'Luca' foi indicado a Melhor Animação no Critics Awards, no BAFTA, no Satelitte Awards e no Oscar.
Perdeu o Globo de Ouro para 'Encanto', e perdeu o Annie Awards (o Oscar das animações) para A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas'. O filme por enquanto ganhou o People's Choice Awards de Melhor Filme de Família.
Ainda faltando ver 'Encanto', 'Flee' e 'A Família Mitchel e a Revolta das Máquinas', 'Luca' por enquanto é o meu favorito para as premiações... e cada vez mais eu vou pegando gosto para assistir animações... desde que tragam conteúdo e não sejam pastelões demais.
(11/03/2022)
O Chef
3.9 31 Assista Agora'Boiling Point' é um filme dirigido e roteirizado por Philip Barantini (ator de O Escapista), baseado em um curta feito por ele em 2019. Este curta foi estrelado por Stephen Graham (O Irlândes), que reprisa o papel neste filme distribuído pela Vertigo releasing.
'Boiling Point' nos coloca dentro do restaurante do Chef Andy Jones, que se divorciou recentemente, não tem tido muito contato com seu filho, de idade desconhecida, e que recebe na noite de véspera de natal em seu restaurante, diversos clientes, e um amigo antigo ao qual deve 200 mil libras e sua noiva, uma conhecida crítica de culinária. Fora isso, durante esta noite, diversos problemas acontecem na cozinha, de pessoais a profissionais, todos motivados pela presença inconstante de Andy em seu restaurante, que não resolve questões que deveria resolver. E ainda problemas no salão do restaurante, com pratos que vivem voltando e a hosters/gerente que não se dá bem com ninguém da cozinha e sempre gera discussões acaloradas.
O filme é uma das coisas mais sensacionais que já vi no cinema. Ele é todo filmado em One-Shot... ou seja, 1h32 minutos de uma cena apenas sem NENHUM CORTE, nada de edição, zero.
Já imaginou filmar um longa sem nenhuma edição, sem nenhum corte? Apenas uma tomada, certeira... se fosse uma cena mais longa, ok, normal. Se fosse uma sequência bem mais longa, aí já é motivo de aplaudir e reverenciar de pé, como foi em 1917 de Sam Mendes... mas todo um filme sem cortes?
Tudo minimamente coreografado... o filme tem vários núcleos, foca no protagonista, o Chef Andy Jones, mas também "corta" para os demais personagens do elenco, fica na cozinha com a Chef Carly, passeia pelos demais profissionais da cozinha, e nos fundos com a dupla lavadora de pratos, os stewards, sendo que um deles, interpretado por Daniel Larkai, tem uma sequência só dele fora do restaurante... também passeia pelo salão, com seus diversos garçons, em diversas ocasiões, e na gerente Beth, assim como também foca por duas ocasiões em uma conversa com Chef Andy, seu amigo Alistair Skye, a quem deve dinheiro e sua noiva crítica de culinária.
Tudo isto citado, em apenas um take, sem cortes, a câmera passeia por todas essas cenas, cem edição, ele segue o próximo personagem, deixando o núcleo passado para trás, e nitidamente você percebe que está tudo coreografado, meticulosamente cronometrado, ninguém pode errar sua fala, sua deixa, sua entrada e saída, tem que ser perfeito 100% o tempo todo... é surreal demais, uma experiência única em termos de cinema.
Stephen Graham merece todos os elogios, está perfeito no filme, uma bomba relógio ambulante, uma atuação fora do comum, traz consigo um drama carregado de desespero e confusão... não tem como não tirar os olhos dele e você sempre anseia por mais quando ele mão está em cena.
Outras três que merecem destaque são Vinette Robinson (de Black Mirror) como a Souls-Chef Carly e Alice Feetham como a gerente Beth, as duas estão ótimas no filme, ambas têm suas cenas dramáticas de destaque, e claro, há uma cena de discussão acalorada entre as duas, onde Carly engole Beth no esporro. Nesta cena Vinette foi magnífica, em um filme sem cortes ela decorou todo seu esporro do texto e com certeza deve ter improvisado alguma coisa ou fala ali. Perfeita.
Fora que destaco também Áine Rose Dalyn, que faz a garçonete Robyn, achei ela muito bem nas cenas em que apareceu, uma boa atriz.
O resto do elenco está ótimo, todos foram bem e engrandecem o ritmo e a qualidade do longa.
A direção de Barantini é bárbara, surreal, tem que ter muita visão e um controle absurdo de sua obra, e saber exatamente o que está fazendo para realizar um filme em um único take, como 1h30 de duração... sequer passou pela sala de edição e nem por uma revisão...foi perfeito do início ao fim... minhas salvas de palma para Philip Barantini.
O filme recebeu 11 indicações na premiação britânica de filmes independentes, o Spirit Awards britânico assim podemos dizer, e venceu em Fotografia, Som, Melhor Elenco e Atriz Coadjuvante para Vinette Robinson.
No BAFTA está indicado a Melhor Filme Britânico, Melhor estreia de um roteirista, diretor ou produtor Britânico, Melhor Elenco e Melhor Ator para Stephen Graham..
Em minha opinião, o filme merece vencer na categoria de Elenco, pra mim não como bater o elenco do filme que está coreografado e afiadíssimo.
Já em Ator, Will Smith deve vencer e Filme Britânico, no caso, eu premiaria 'After Love' filme muito tocante bem feito.
Mas Boiling Point é demais, quase chega a ser uma obra prima... faltou pouco.
(10/03/2022)
Ataque dos Cães
3.7 933Ataque Dos Cães é um filme sensacional, já fiz um comentário aqui longo rasgando elogios pra ele.
Mas depois que pipocou as notícias de maus tratos a animais no set de filmagens, caiu muito no conceito.
Ainda o acho um trabalho excelente de roteiro e direção...mas não daria prêmio nenhum pra Jane Campion não. Melhor Filme no BAFTA e só, tá de bom tamanho.
Raya e o Último Dragão
4.0 646 Assista Agora'Raya e o Último Dragão' é uma produção da Walt Disney Animation Studios, o 59º filme deles, e devo confessar que é uma animação muito bacana.
Sempre tive muito pé atrás com animações (e ainda tenho com alguns), mas venho perdendo esse (pré)conceito, aos poucos, de uns anos para cá.
O filme conta a história de Raya, princesa guerreira e sua jornada na terra encantada de Kumandra em busca do último dragão para salvar seu lar de uma força obscura que ameaça destruir seu reino. Kumandra, consiste em cinco tribos separadas, que disputam entre si o poder do último dragão, que deu sua vida para derrotar a força maligna conhecida como Drunn, que transforma toda vida em pedra.
Antigamente os Dragões e os humanos viviam em perfeita harmonia, e Kumandra era um paraíso na terra. Porém com a chegada da força maligna Drunn, eles derrotaram os dragões um a um, mesmo eles resistindo bravamente, e depois de Sisu, o último dragão, se sacrificar para derrotar os Drunn, os dragões foram extintos e Kumandra ficou dividida em tribos, todos almejando o último poder deixado por Sisu para si. Agora cabe a Raya achar o último dragão que ainda pode estar vivo e tentar unificar Kumandra novamente, um desejo de seu pai.
A animação é muito bacana e gostosa, têm uma história muito atraente e fechadinha, criaram tribos interessantes, que funcionam mais esteticamente, onde eles moram e a construção de onde as tribos residem em si e seus costumes, do que a tribo mesmo, pois seus residentes não assim tão carismáticos. Os poucos que são, são os únicos mostrados de determinadas tribos, como Tong.
A animação é rica em história e nos costumes de Kumandra, os personagens são muito carismáticos e engraçados, e você consegue se conectar com eles e criar laços, torcendo para unificarem novamente Kumandra.
Raya, dublada por Kelly Marie Tran (de Star Wars A Ascenção Skywalker) de longe é a melhor personagem do filme, o que é muito óbvio sendo que ela é a protagonista. Ela é forte e decidida, teimosa também, mas tem muita visão e é muito inteligente. Age muito com a emoção, mas acha a razão muito fácil em momentos de tensão. É uma ótima lutadora, simpática com as pessoas, apesar de ser cética no início, de que o povo de Kumandra jamais se unirá por um bem maior. Raya já virou uma de minhas personagens preferidas da Disney.
Fora ela temos no filme seu amigo tatu-bola Tuk-Tuk, seu pai Benja (Daniel Dae Kim de Lost), seus aliados no filme, Boun (Izaac Wang), Tong (Benedict Wong de Doutor Estranho), Sisu, o último dragão (Awkwafina de Podres de Rico) e a pequena bebê Noi (Thalia Tran). Além de sua rival no filme Namaari (Gemma Chan de Eternos) e sua mãe Virana (Sandra Oh de Grey's Anatomy). Além da anciã Dang Hung (Lucille Soong) e Dang Hai (Sung Kank da franquia Velozes e Furiosos).
Como dá para perceber, o elenco de dublagem é predominantemente asiático, assim como a imensa maioria do personagens do longa, o que é uma representatividade muito bacana no trabalho. Pra mim um ponto muito positivo pro longa e em se conectar com ele.
Tecnicamente, o filme é bem feito demais, a animação é de cair o queixo, os detalhes dos personagens são sensacionais, o cabelo de Raya é tão real, e mesmo os personagens quase sendo caricatos, eles ão muito bem feitos e seus traços são muito realistas, assim como seus movimentos e expressões faciais de sentimentos aleatórios.
Esteticamente então... Kumandra é mundo lindíssimo, tanto o mundo antes do ataque dos Drunn, tanto depois que o mundo é quebrado e todos vivem isolados em tribos. E as tribos em si são ricas em costumes, e cada uma é exótica ao seu jeito.
Sou só elogios para o filme, me diverti bastante e foi uma experiência bem gostosa.
Está indicado no Critics Awards e no Oscar de Melhor Animação... acredito que não deva vencer, apesar de ser um trabalho sensacional de altíssimo nível, e uma história que cativa o público e foi muito bem escrita e criada. Foi dirigida por Don Hall (diretor do oscarizado Operação Big Hero) e Carlos Lópes Estrada.
(10/03/2022 - Disney Plus)
After Love
3.9 11Acredito que seja um dos melhores e mais tocantes filmes que assisti até o momento nesta temporada de premiações.
'After Love' é dirigido e roteirizado por Aleem Khan e conta a história de uma mulher chamada Mary que perde o marido subitamente após chegarem em casa e passa a lidar com o luto. Porém, ao remexer em pertences pessoais de seu marido Ahmed, ela descobre que ele tem outra família. Ela, que mora em Dover, percebe que a outra família de seu falecido marido mora a poucas milhas atravessando o canal chegando em Calais.
A outra família de Ahmed consiste em Genevieve e o filho deles Solomon, e Mary, que viajara até lá para conhecer e contar a verdade a esta família, acaba se tornando a faxineira da casa deles, em dia de mudança, sem ter coragem de contar de início que é a esposa de Ahmed.
Aleem Khan fez um filme muito bonito, com filmagens e takes bem intimistas, que focam o rio da travessia do canal, o vento, as folhas, e também foca em sentimentos estampados na rubra de seus personagens, no medo, na angústia e principalmente na dor e na vergonha.
Temos também muitas cenas editadas rapidamente, aqueles cortes primários em cenas mais casuais, como estar ditada na cama, tomando banho, arrumando a roupa, cozinhando, etc, etc. Por conta disto a edição do filme é ótima, e muito bem feita. Assim como a fotografia, coisa mais linda, completa, abrangente, tocante, emocionante, não de cenas mais abertas em locais externos, como as mais íntimas focadas em Mary. Fotografia de Alexander Dynan (The Card Contender)
O filme, que tem 1h30 de duração, tem em seu início pouquíssimos diálogos, uns 20 minutos talvez, só de luto, descoberta, viagem, cenas mais silenciosas, barulho de vento, do água, super intimista. Misturado a isso uma trilha sonora muito mais intimista ainda, composta por Chris Roe (do documentário Armstrong), que faz a musica do longa apenas com um violino (e acredito que um violoncelo também). Bem denso, entra em takes certeiros, para contextualizar a cena, ou verbalizar um sentimento, não aparece em grande parte do filme, e é de uma doçura singela. O mais curioso é que nos créditos finais não há música, só o vento.
Protagonizada por Joana Scanlan, que fez Mary, que fez uma atuação gigante, que faro esta mulher tem para atuar, para expressar sentimentos e lidar com eles de forma apropriada. Ela está incrível no filme, sua personagem é muçulmana, assim como seu marido, e o filme têm todo esse ar do islamismo, e uma cena onde ela reza para Alá. Suas cenas dramáticas são soberbas, suas cenas de tensão com Genevieve também são muito boas, e há um ar materno em sua relação com solomon, filho de Genevieve com Ahmed, o marido que Mary acabara de perder.
Temos uma cena muito bonita com Mary só de calcnha e sutiã se olhando no espelho e observando e tocando seu seio e sua gordura localizada no abdômen e barriga, onde a princípio, imaginava que seria pelo fato de pensar nos motivos que levaram seu falecido marido a ter outra família, a arrumar outra mulher. Seria o fato de estar acima do peso, mais velha, menos desejável?
Só mais tarde no filme vemos que ela e Ahmed perderam um filho com 4 meses de idade, e aquela cena faz uma alusão a ter perdido o filho, e por isso o toque mais íntimo em seu corpo, que havia gerado o fruto do amor deles, porém lhes foi negado pelo acaso.
O garoto Tarid Ariss, que faz Solomon, foi uma ótima surpresa, pois ele interpreta muito bem e seus destaques são nas cenas de diálogo tensos e tenros com Mary. Fora as cenas de intimidade com seu colega no filme, e não sei se ele é homossexual ou não, mas é um ator que já se mostra bem refinado e tem tudo para se tornar mais completo ainda.
'After Love' está indicado no BAFTA em 4 categorias: Melhor Filme Britânico, Melhor Diretor (Aleem Khan), Melhor Atriz (Joanna Scanlan) e Melhor Estréia de Diretor Britânico.
Acredito que 'After Love' vem muito forte na categoria de Filme Britânico, e é muito favorito na categoria de Estréia de Diretor Britânico, pois Aleem Khan fez um trabalho excepcional com o longa e é muito requintado em sua técnica de direção, acertando em tudo, como tirar o melhor do ator, takes em áreas abrangentes que deixam o filme com mais identidade, foca bem no drama, tem um texto bem sagaz.
Já Joanna Scanlan vem com força no BAFTA para levar Melhor Atriz, pois seu trabalho é grandioso, comovente, singelo e bem único. Faltando conferir apenas Renate Reinsve de 'A Pior Pessoa do Mundo' na categoria, Acho que a atuação de Joanna está um degrau acima de favoritas minhas como Emilia Jones por 'CODA' e Lady Gaga por 'House of Gucci'. Ela já tem minha torcida a princípio.
(09/03/2022)
Viúva Negra
3.5 1,0K Assista AgoraLá pelas idas de 2013, 2014, 2015, havia uma conversa de um filme solo da Viúva Negra de Scarlett Johansson, afinal a espiã russa havia feito muito sucesso tanto em Homem De Ferro 2, quanto em Vingadores 1, e a mesma foi personagem destaque em Capitão América: O Soldado Invernal.
Mas Kevin Feige nunca tinha o aval para dar sinal verde para o projeto, e quem impedia isto era Bob Iger, então CEO da Disney Company, que simplesmente afirmava que um filme da Viúva Negra não venderia bonecos articulados o suficiente, uma vez que meninos não compram bonecos de personagens femininas. Palavras dele.
Aí você pensa, bonecos articulados? O que isso tem a ver? Basicamente, tirando o lucro da bilheteria, um filme de super-heróis faz muito dinheiro com seus brinquedos a venda baseados nele, e quando se pensa em tirar um projeto do papel, se pensa em o quanto de brinquedo e bonecos esse filme e seus personagens irão render.
Claro que, depois da explosão do MCU, depois de 2016, 2017, tirou isso da jogada dentro da Disney, apesar de ainda focarem nisto... vejam os brinquedos lego que de uns 5 anos para cá, dão spoilers de quem podem aparecer nos filmes que serão lançados, pois esses brinquedos saem meses antes, depois que o filme termina de ser pré-produzido. Ou seja, os brinquedos ainda são uma fonte de renda maciça em se tratando de filmes de super-heróis.
Basicamente foi por isso que, 'Viúva Negra' nunca saiu do papel antes, e depois que Bob Iger foi destituído de seu cargo de CEO da Disney, e Kevin Feige recebeu carta branca para comandar o MCU da forma como achar melhor, uma vez que não precisaria mais se reportar a Bob, que Feige tirou Viúva Negra do papel, e mesmo depois dos fatídicos eventos de Ultimado, a personagem de Scarlett Johansson pôde enfim brilhar em um filme solo. Antes tarde do que nunca.
Mas sendo bem sincero, 'Viúva Negra' serve basicamente para apresentar Yelena Belova (Florence Pugh de Adoráveis Mulheres) aos MCU e torná-la futuramente a nova Viúva Negra, ao menos é a promessa.
Nos quadrinhos Yelena Belova foi uma Viúva Negra da KGB, mas não tem nenhuma ligação familiar com Natasha, assim como não tinha ares de heroína, agia por conta própria, se enroscou com o Demolidor, lidou com a KGB e chegou a trabalhar com um corpo clandestino da SHIELD, e enfrentou os Vingadores na Terra Selvagem, sendo incinerada, mas não morta, nesta contenda.
O filme traz uma história de origem própria para Natasha e Yelena como meia-irmãs, e também para as demais Viúvas, e se passa semanas depois aos acontecimentos de Capitão América Guerra Civil.
O roteirista Eric Pearson,que contou com inúmeros colaboradores, incluindo Jac Schaeffer, criadora de 'WandaVision', e a diretora do filme Cate Shortland, focaram em uma história que envolve famílias. Natasha enxergava nos Vingadores uma família que a mesma formou, sendo que no passado mostrado aqui, ela tinha uma família falsa, que se concentrava em Alexei Shostakov: O Guardião Vermelho (David Harbour de Stranger Things), o pai delas, e Melina (Rachel Weisz de A Múmia) a mãe delas.
Família esta que nunca existiu nos quadrinhos, o Guardião Vermelho foi líder de um super grupo soviético chamado Guarda Invernal, que eram considerados os Vingadores Russos. Já no filme o Guardião Vermelho foi um postulante a vigilante russo que nunca teve grandes feitos.
O filme é até bacana, é um bom divertimento, tem ótimas sequências de ação, quando Natasha e Yelena tiram Alexei da prisão, a perseguição das Viúvas controladas por Dreykov (Ray Winstone de Rei Arthur) ás duas e a disputa entre Scarlett e Florence em Budapest... assim como a sequência final, que possui efeitos especiais bem modestos e quase capengas.
Ray Winstone faz o vilão do filme, Dreykov, líder das Viúvas, dono da Sala Vermelha, a Red Room voadora que fica fora do radar, e sua atuação é impecável, Ray entregou tudo em seu Dreykov, e de longe é a melhor atuação do longa. Até na minha cabeça, acho que aquele tapa que ele quase dá na cara da Scarlett, quando ela também vira o rosto pra não tomar, foi improvisado por Ray.
Fora ele, o filme também apresenta Olga Kurylenko, de Oblivion, como a Taskmaster. Nos quadrinhos, Taskmaster, que aqui é conhecido como Treinador, é um mercenário que vende seus treinos e conhecimentos, ele tem a capacidade de copiar os movimentos de qualquer pessoa que veja. No filme, obviamente, está completamente descaracterizado da sua contraparte de quadrinhos. No final, não é ruim, o que me pegou foi a expectativa de uma presença de mais força no filme, com protagonismo vilanístico, e ser uma força letal para bater de frente com Natasha... coisa que infelizmente não aconteceu, simplificaram demais sua presença no filme.
Além dos já citados, David Harbour, Rachel Weisz, Ray Winstone e Olga Kutylenko, o filme traz de volta William Hurt como General Ross, O.T. Fabengle (de The Handmaid's Tale). Em sua cena pós-créditos, temos a aparição de Julia Louis-Dreyfus, como Valentina Allegra de Fontaine, numa cena junto a Florence Pugh e sua Yelena Belova. Essa cena faz a ponte com a vindoura série 'Hawkeye', e Julia apareceu antes no final da minissérie 'O Falcão e o Soldado Invernal' praticamente recrutando John Walker como Agente Americano. será que teremos uma antagonista nos moldes de Nick Fury?
Viúva Negra serve mais para novas apresentações do que para realmente celebrar o legado de Natasha Romanoff, obviamente eu me diverti assistindo, mas entendo que o filme deixou um pouco a desejar em sua construção, resolução e afirmação.
Scarlett como Natasha, ora está em paz demais consigo mesma e sua situação, ora está conflita demais com sua antiga família de volta na sua rotina. São emoções contraditórias em um filme que pouco se desenvolve.
Até a resolução de Budapest, tão esperada pelos fãs, foi bem simplista e praticamente não empolgou e não saciou nossa curiosidade.
Não é o mais passável ou fraco do MCU, de forma alguma, mas também não agrega muito e não mostra o que realmente deveria mostrar de Natasha, uma mulher e ex-agente implacável, pois aqui, ela apenas fecha uma ponta solta, ao lado de sua 'família'.
(Assistido no cinema 12/07/2021)
(Reassistido no Disney Plus - 08/03/2022)
Mães Paralelas
3.7 411Depois de 2 anos, Pedro Almodóvar retorna com seu novo filme 'Madres Paralelas', trazendo consigo uma de suas atrizes e artista preferida, Penélope Cruz, que já protagonizou e foi coadjuvante em alguns de seus filmes, como Tudo Sobre Minha Mãe, Volver, Abraços Partidos e o filme anterior Dor e Glória.
Almodóvar já possui dois Oscars, Por Tudo Sobre Minha Mãe (Filme Estrangeiro) e Fale Com Ela (Roteiro Original).
Obviamente, devo confessar que devo alguns filmes ainda de Almodóvar, porém posso afirmar que 'Madres Paralelas' é um de seus trabalhos menos inspirados. Não o considero um filme fraco, nem ruim, muito pelo contrário, na verdade acho que faltou coesão na história contada, e um contexto mais simbólico que dialogasse com a proposta do filme.
'Madres Paralelas' trata exatamente, sobre as dores, os pesos e as alegrias que mães carregam consigo durante suas vidas, não só com seus filhos, mas também com sua família como um todo, como mostrado no filme no núcleo da escavação do fosso, para encontrar parentes mortos da família de Janis.
Contando a história de Janis (Penélope Cruz) e de Ana (a novata Milena Smit), que deram a luz juntas na maternidade no mesmo dia. Janis queria o seu filho apesar de ter sido um acidente, já Ana não o queria de início, onde também foi um acidente. Ao voltarem para suas vidas, uma descoberta por parte de Janis e seu ex-amante Arturo (Israel Elejade) irá mudar a vida das duas mães.
Para quem não assistiu o filme ainda, só este trecho deixa bem claro, o óbvio que acontece no hospital e com Janis e Ana. Muitos podem reclamar que aqui é um spoiler, mas a sinopse já entrega parte disso nas entrelinhas, e ao assistir o filme e chegar na parte da maternidade, que não demora muito, fica tão evidente o que vai ser descoberto mais a frente, que chega a ser ingênuo a forma como Almodóvar deixou isto tão claro.
Paralelamente a este acontecimentos entre Ana e Janis, a uma contratação por parte de Janis para com Arturo, visando desenterrar fosséis de antigos familiares mortos no passado em um momento hostil da história espanhola.
Almodóvar resolve deixar esse ponto da escavação correr em paralelo a história principal, deixando-o em evidência no começo e fim do filme. Mesmo tendo ligações com o que vai acontecendo na vida de Janis, como se fosse um efeito dominó, as duas histórias têm em comum o fato de tanto Janis e Ana, quanto as mulheres que ficaram viúvas de seus maridos e órfãs de seus pais durante o conflito histórico espanhol, partilharem de sentimentos diversos, bons e ruins, da maternidade, da alegria e fardo de serem mães, da dor de perderem seus filhos, ou a dor de perderem seus progenitores.
A cena final deixa isto em plena evidência, sendo ao meu ver, a cena mais bonita de todo o filme, a cena que define este novo trabalho de Almodóvar, a cena que define essas Mães Paralelas.
Porém, todo o grosso do filme, focado em Janis e Ana, é um texto muito óbvio, fácil de se encontrar em filmes como menos qualidade que este de Almodóvar, que também pode ser encontrado em específicas novelas globais da década de 2000 ou até em novelas de dramalhão mexicano.
São sequências de obviedade que não me espantou em quase nenhum momento, quase toda cena impactante do filme já vinha com a resposta estampada no rosto dos atores, ou no caso, de Penélope e Milena.
Talvez a única cena mesmo que me surpreendi foi com a morte da bebê de Ana, e ainda assim, logo a frente, percebi que se tratava de uma cartada batida de um roteiro que em sua obviedade, iria usar deste artifício para aproximar Janis e Ana, tendo a bebê Cecília de pano de fundo.
Um ponto que também me incomodou um pouco foi a edição do filme, e cortes importantes em alguns diálogos. O começo do longa é um pouco corrido demais, pouco se apresenta de Janis e Arturo, e logo os dois estão transando e ela já está na maternidade para dar a luz... dedicar uns 10 minutos de início de filme para nos situar com mais simplicidade á Janis e sua gravidez não seria nada ruim. Tivemos alguns flashbacks ainda no começo para fechar esta ponta solta entre Janis e Arturo com relação aos dois e a criança, mas ainda assim faltou um pouco mais de tato.
Algumas cenas de diálogos também não tiveram um tratamento decente, por exemplo Ana e sua mãe, que logo depois de Teresa voltar de sua peça para uma rápida visita para sua fugitiva filha, ao tomarem café na frente da residência de Janis, a conversa das duas que era para ser mais abrangente e explicativa, para costurar pontas soltas entre as duas, na verdade foi cortada para apenas duas falas de Ana e nada mais... aí não Almodóvar. E pior, é que Teresa depois dessa cena foi completamente limada e ignorada do resto do roteiro... como se faz uma coisa dessas com um personagem que tinha mais a acrescentar pelo lado de Ana?
Devo dizer que apesar de algumas falhas e umas duas ou três bolas fora, o filme tem um ritmo muito bacana, prende a sua atenção na ela, pois Almodóvar sabe fazer um bom novelão em forma de longa metragem, com personagens que ganham em carisma no instante em que despontam na tela em qualquer um de seus filmes. Difícil você não ficar envolvido com o filme, que é óbvio até dizer chega.
Acho que sua melhor parte, muito bem escrita, é a parte final da escavação, ali era para ter sido a alma do filme, e não todo o vai e vem com as bebês de Janis e Ana.
A trilha de Alberto Iglesias (de Dor e Glória) é muito boa, bem composta, bem densa nos momentos mais tensos com Penélope Cruz, e cria um tom de certo mistério e resolução nas cenas do filme. Não é um trabalho melhor do que em Dor e Glória, por exemplo, mas é um ótimo trabalho.
Já a cenografia do filme, ganha em alguns pontos e em outros é bem modesto, não faltou capricho nem inspiração, faltou mais tato e visão para deixar tudo no mais alto padrão, pelo mens em minha humilde visão.
Almodóvar trabalha bem com a câmera e pega takes bem íntimos dos atores, e uns detalhes mais peculiares, nas interpretações faciais. Mas tanta atenção em takes mais introspectivos, para deixar o filme mais bonito, poderiam ter sido trocados por uma mexida maior no roteiro e menos cortes de diálogos, e mais atenção com alguns personagens coadjuvantes, como Teresa e o pai de Ana, que teria mais a acrescentar do que só ser citado aqui e acolá, e uma ou duas vozes ao telefone.
Com relação a atuação de Penélope, não tem como falar mal desta atriz, pois Penélope é fabulosa e profissional em tudo o que faz. É muito difícil achar um trabalho em que ela esteja abaixo do que lhe é pedido em texto, de tão rica que é sua interpretação. Acho que ela se saiu muito bem nas cenas inicias de sexo com Arturo e na cena do parto, onde ela dá um show... ao meu ver, ela perde um pouco do brilho no meio do filme, por ter menos cenas de impacto, e volta a crescer quando se relaciona amorosamente com Ana, tendo cenas boas entre as duas, e também nas cenas onde toma remédios, fora as cenas finais que são menos exigentes.
'Madres Paralelas' recebeu diversas indicações nesta temporada de premiações;
- No Satelitte Awars indicado a Roteiro Original, Trilha Sonora para Alberto Iglesias e Atriz em Filme Drama para Penélope.
- Alberto ainda foi indicado pela sua Trilha Sonora no BAFTA e Oscar e Globo de Ouro.
- Para Penélope, indicada a Melhor Atriz no Oscar.
_ Já como Filme Estrangeiro, o filme foi indicado no Spirit Awards, Globo de Ouro, BAFTA.
Achei que 'Madres Paralelas' ficou abaixo das minhas expectativas para um filme de Almodóvar, e considero Dor e Glória muito melhor que esta obra, assim como Volver, dois clássicos de Almodóvar que gosto muito.
Já falando de Penélope Cruz e sua indicação ao Oscar, gostei de sua atuação, gostei mesmo, ela está bem... mas não melhor que em Volver, não melhor que Dor e Glória, e na minha mais modesta opinião, não melhor que Lady Gaga, que deveria sim ter sido indicada no lugar dela, ou de Olivia Colman.
(08/03/2022 - Netflix)
Todos Estão Falando Sobre Jamie
3.3 34Todos sabemos, a maioria pelo menos, que os americanos são apaixonados por musicais, está inserido na cultura deles, não só no cinema, mas na TV, em séries, em desenhos animados, comerciais, o show do Super Bowl... tudo. E temos muitas produções ótimas nesse gênero de filme, principalmente nesta temporada de premiações.
Por isso, é tão incrível e deslumbrante e animador, ver um musical britânico tão bem feito como 'Todos Estão Falando Sobre Jamie', baseado na história real de Jamie New e sua mãe Margareth New, onde Jamie um garoto de 16 anos sonha em não apenas ser uma Drag Queen e ser famosa, mas em ir ao baile de formatura de seu colégio do jeito que ele realmente é: um gay afeminado de vestido.
Não é muito comum termos musicais vindos de outras escolas cinematográficas, e ver um trabalho feito com tanto amor, alma e carinho, singelo é muito bacana e realça ainda mais o cinema britânico que sempre nos entrega também grandes obras.
O filme foi dirigido por Jonathan Butterell e roteirizado por Dan Gillespie Sells e Tom McRae, baseado em um documentário e um musical sobre Jamie New, e devo dizer que Buterell fez um trabalho ótimo, realmente é difícil achar algo de errado em sua direção. Desde dirigir bem os atores do filme e principalmente os adolescentes secundários, até a dirigir todas as cenas musicais do filme e muitas delas com coreografias, tanto com dançarino experientes que estavam em cena, como com os próprios atores adolescentes que fazem parte do núcleo do colégio de Jamie... além claro, das cenas no clube de Drags que foram curtas, mas tiveram sua marca deixada na direção de Buterell.
Muito do êxito e dos méritos do filme vêm de Dan Gillespie Sells, que roteirizou o filme, fez a trilha sonora, e ainda cantou algumas faixas do longa, como a faixa título do filme nos créditos finais.
Seu roteiro é muito bem feito e adaptado, nos deixa totalmente imersivo na trajetória de Jamie, rapidamente já nos situamos em seu momento de vida atual e nos apegamos fácil a ele, desenvolvendo um carisma imediato e já nos sentindo amigo do mesmo.
Arranjou bem as músicas originais do filme, e as letras apesar de serem bem cafonas e óbvias, funcionam para expor em telas os sentimentos, medos, angústias e vontades de Jamie, e alguns pensamentos de personagens coadjuvantes como sua mãe e sua amiga Pritti.
Minha única ressalva com o trabalho de Gillespie e Jonathan Buterell, são algumas cenas musicais inseridas uma trás da outra no meio do filme. A impressão que dá é que o roteiro no total ficou mais compacto, e isso faria o tempo de filme cair bastante mesmo com cenas musicais... então no meio do filme temos cenas musicais demais e desnecessárias que acabam embarrigando pouco o longa e freando o ritmo do mesmo.
As três cenas musicais do meio do filme passaram um pouco do ponto, você tem uma cena musical com Pritti, a melhor amiga de Jamie, cantando no quarto dela, e o filme segue com Jamie falando com o pai e vai para uma cena da mãe dele cantando depois de uma discussão dela com o filho, para logo em seguida ter uma cena musical dos dois fazendo um dueto. Se você cortar uma dessas cenas, a da Pritti por exemplo, que já teve uma cena musical mais cedo, e contasse toda aquela parte dela com Jamie, e colocando uma cena de flashback dele com o pai dele, e seguisse para as duas cenas musicais seguintes, não ficaria tão embarrigado e manteria um pouco o ritmo do filme.
No geral, o filme tem uma direção de arte incrivelmente bem construída, nas cenas em que Jamie canta e dança com o elenco, onde você pula do mundo real para um cenário totalmente iluminado e decorativo, nas cenas do baile de formatura, na cena no clube de Drags... temos uma cena incrível onde eles fazem uma sequência completamente inspirada no clipe de 'Vogue' da Madonna, com coreografia e tudo... e outra onde Jamie e os dançarinos estão de terno preto e o fundo é branco e mescla com eles de branco num fundo preto.
O figurino do filme também merece destaque, tanto as roupas no colégio, como os vestidos das Drags, de Jamie e de Loco Chanelle. Assim como os figurinos das cenas onde saem do cenário atual e imaginam um outro cenário imaginário onde os figurinos são exuberantes e cintilantes.
Claro que o destaque do filme é seu protagonista, interpretado por Max Harwood, que acredito eu, está fazendo sua estreia em filmes. Sua atuação é ótima, incrível, magnífica, muito seguro em passar para nós todos os medos, desejos, anseios e inseguranças de Jamie, dança muito bem, dubla muito bem, em estúdio aparenta cantar bem legal. Sem falar que arrasa montado de Drag Queen e fica estiloso e bonito demais com todos os vestidos usados no filme, principalmente o vermelho de Loco Chanelle. O garoto arrasou de verdade e tem muito futuro na indústria cinematográfica.
Outro destaque é Richard E. Grant (de Loki) que faz Hugo Battersby, dono da loja de figurinos e roupas femininas/drags, que ajuda e serve como mentor de Jamie para se tornar uma Drag Queen, ele que no passado foi a Drag Loco Chanelle, e vende seu vestido vermelho para Jamie se apresentar no clube. Richard foi bem demais no papel, interpretou um gay/Drag Queen desiludido com seu passado de uma forma bem genuína, e foi um colírio vê-lo em cena neste papel. Richard é um ator completo, versátil, que admiro muito... mesmo.
Temos no elenco ainda Lauren Pattel como Pritti, garota muito boa no filme, Sarah Lacanshire como Margareth, mãe de Jamie e Josh McCrea, que fez Loco Chanelle mais jovem, e interpretou Jamie na peça musical apresentada nos EUA, se eu não estiver enganado.
Fora que tivemos uma atriz que conheci recentemente no telefilme 'Together', Sharon Horgan, que fez Miss Hedge, a professora do colégio de Jamie. Aqui ela esteve muito bem, fez uma professora linha dura, que queria o melhor para seus alunos, mas tinha uma barreira muito grande para com Jamie e suas vestimentas femininas e maquiagens... apoiando ainda o garoto que fazia bullying com Jamie, Dean Paxton, passando muito pano pra ele e o apoiando ainda, coisa que não fazia com Jamie.
Sharon é uma atriz fantástica, que gostei muito, completíssima, e uma mulher lindíssima demais... de você não conseguir tirar o olho.
Uma coisa legal do filme é que muitos atores cantam nele, como Sharon Horgan, Sarah Lacanshire, Lauren Pattel e Richard E. Grant... além do elenco adolescente do colégio de Jamie, que cantam e fazem a coreografia também.
O filme diverte, prende, toca, e emociona no final, mesmo sabendo que aquele final do filme, não acontece realmente na vida real, ninguém amolece o coração e o abre para o entendimento, amor e aceitação, por conta de um pequeno ato... seja a professora que cedeu a pressão dos alunos e a humildade de Jamie, ou Dean Paxton, que fez bullying com Jamie todo o tempo que estudou com ele e no final cedeu ao "abrir seu coração e deixar seu preconceito de lado" e entra de mãos dadas com Jamie no baile... é um final de filme que é ingrediente básico em todo roteiro de cinema que busca contar uma história de aceitação e um final humano, isso você encontra em milhares de filmes décadas afora. Mas no fim das contas, com tudo que foi construído durante todo o filme, ele emociona e cumpre seu papel... de entreter, e respeitar a jornada e a história de Jamie.
'Todos estão Falando Sobre Jamie' foi indicado ao BAFTA de Melhor Filme Britânico. Eu gostei muito do filme e o coloco sim na briga. Se vencer, não será nada anormal, pois o filme é muito bem feito e montado.
(08/03/2022 - Amazon Prime)
A Filha Perdida
3.6 573O Grande campeão do Spirit Awards de filme independente.
Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Roteiro.
Não concordo com Melhor Filme, mas fico feliz pela Maggie, pois gosto muito dela.
Juntos
3.1 14 Assista AgoraTogether (Juntos) é um telefilme britânico exibido na BBC no meio do ano de 2021 e mostra um casal que se encontra em seu pior momento do casamento, um sentindo raiva e ódio do outro e são obrigados a ficar juntos 24 horas por dia na casa por conta do Lockdown do Coronavírus.
O filme é uma comédia dramática, e foi gravado durante 10 dias na inglaterra e possui no seu elenco apenas três atores: James McAvoy (de Vidro) como Ele, Sharon Horgan (de A Noite do Jogo) e Samuel Logan como Artie, filho do casal.
Dirigido por Stephen Daldry, do premiado Billy Elliott, As Horas e O Leitor, o telefilme é bem mais simplista justamente por ser gravado durante a época da pandemia e do Lockdown. Porém é rico demais em seu texto e uma atuação sagaz e dinâmica do casal de protagonistas.
Brincando com a quebra da quarta parede, o casal além de conversar conosco o filme inteiro, eles tentam se resolver enquanto nos situam dos problemas e dificuldades que passam em seu casamento.
O roteiro é de Dennis Kelly e ele acertou demais no texto do filme. Fazer um filme onde só temos duas pessoas em cena, dialogando do começo ao fim, sem nenhum outro tipo de acontecimento é muito difícil, e para manter a atenção do público o filme inteiro e não fazê-lo perder o interesse, só se o texto for muito caprichado, que é o que acontece aqui.
As cenas são basicamente McAvoy e Sharon conversando conosco, contando passagens de seu casamento, suas dificuldades atuais e sua experiência na pandemia da Covid, enquanto conversam entre si, resolvendo rusgas antigas e atuais e passando por experiências que a pandemia trouxe, como a perda da mãe de Sharon para a doença.
As cenas são takes super longos, pouca edição, um domínio absurdo por parte dos dois de roteiro e suas falas, não perdem o fio e ficam mais de 10 minutos na mesma cena sem precisar parar, tudo num take só com a câmera e os atores passando entre os cômodos.
Tanto McAvoy quanto Sharon tem seus monólogos, longas cenas onde eles nos confidenciam casos como plantação de aspargos e política, por parte de McAvoy, e o sentimento da perda mãe por parte de Sharon. E é inegável como a atuação de McAvoy é incrível, uma entrega total ao filme e ao personagem, se emocionado em vários momentos, entregando tudo mesmo, um show a parte. Todo mundo sabe que McAvoy é um ator mais que completo.
Senti falta apenas do pequeno Artie, apenas uns takes dele mais nas sombras da casa, uma olhada aqui e acolá, falando mesmo no fim do filme... esse ponto eu não entendi mesmo o que o roteirista queria passar.
O filme é muito gostoso de se assistir, o casal de protagonistas são mais que carismáticos e vão prender sua atenção na tela o filme todo... claro para quem gosta de filmes assim, com diálogos e algo a entregar, afinal ele é paradão, se passa dentro de casa e trás reflexões e contextos certeiros sobre a pandemia do coronavírus. Acaba que prestando um serviço social também, do ponto de vista psicológico. O texto é muito bom, muito explicativo e também irá prender o espectador.
Apenas o final do filme que achei mais romântico, digo porque foi a saída mais comum para terminar de tratar a questão matrimonial dos dois. Quando você começa a ver o filme e vê os dois falando com você, e toda aquela raiva nas falas para um com o outro, já dá para visualizar como ele irá terminar, e foi exatamente assim que imaginava que terminaria. Um final muito romantizado, que por mais que não tenha me agradado muito, não tira o brilho e o mérito de um trabalho muito bem feito e acima da média, para uma gravação tão simples, e ao mesmo tempo tão abrangente, visto as longas cenas.
O filme foi indicado ao Spirit Awards de Melhor Roteiro, e poderia até caber uma indicação aí pro McAvoy a melhor Ator que acabou não acontecendo, o que é uma pena pois merecia com certeza.
Ele é curtinho, tem 1h27 de duração, e é bom pra assistir em um domingo depois do almoço, ou a noite antes de ir dormir.
(05/03/2022)
A Novata
3.3 46'The Novice' é o filme de estreia de Lauren Hadaway na direção e de cara ela entrega um trabalho digno, de prender a atenção do público na tela, e de criar um thriller psicológico de respeito e com muita personalidade.
O filme gira em torno de Alex Dall (Isabelle Fuhrman de A Órfã e Jogos Vorazes) uma aluna que tem obsessão por ser a melhor em tudo o que vai fazer, que quer bater todo mundo que pode a peitar, ou a pessoa que pode se tornar sua rival. Entrando como uma novata no time de remo do colégio onde estuda, ela cria uma obsessão em ser a melhor do time, sem metas pessoais, só quer ser A melhor, e acha em Jamie Brill (Amy Forsyth de CODA) sua rival, mesmo que primeiramente tenha sido sua "amiga".
É neste contexto que Lauren Hadaway, que dirigiu, roteirizou e editou o filme, criou todo um thriller psicológico, pois o filme todo tem um tom mais artístico em algumas cenas onde Alex Dall tenta superar o melhor tempo pessoal da equipe. Dall abdica das próprias horas livres para superar seus limites e ultrapassar os limites de quem está em primeiro lugar. Ela tem um senso crítico muito forte, se auto-mutila se falha em algo que deveria vencer, tem o humor alterado quando não atinge o resultado esperado... sempre está com a face de psicopata pois vive cansada, esgotada física e emocionalmente de pouco dormir e de tanto se esforçar.
O filme começa um pouco mais lento, sem nos situar exatamente no que está acontecendo e onde está acontecendo, levamos uns bons minutos para entendermos onde Dall se encontra, em que momento da vida ela se encontra, e o porque de entrar no time de remo, que mal é visto em seu colégio. Um pouco mais a frente no filme é que realmente começamos a conhecer Dall, e um pouco das suas motivações para fazer o que faz.
Quando começamos a ter essa noção, esse conhecimento, é o ponto onde o filme começa a melhorar gradativamente e segue um ritmo onde o espectador fica ligado no filme e ficamos intrigados em como Dall é centrada demais em só vencer e não reconhece o que está em sua volta que a faria ser uma atleta e pessoa completamente melhor. Claramente a personagem sofre de algum transtorno, um desvio de caráter psicológico que precisa ser tratado urgentemente e pesadamente por um psicólogo ou psiquiatra.
Lauren Hadaway usa muito de cenas artísticas para evidenciar a superação de limites de Dall em bater certos tempos pessoais, com cenas mais densas, lentas, foco no rosto de Isabelle e nos movimentos corporais enquanto tenta a superação. E a entrega de Isabelle nessas cenas é surreal, sem falar nos detalhes de suor pelo corpo e em algumas cenas onde a personagem vomita de cansaço.
O filme tem um tom muito escuro, a maioria maciça das cenas são assim, e também é muito cinzento, muito devido a aproveitar o tempo fechado quando foi gravado, e por se passar muito em cenas de chuva, e em locais mais fechados quase claustrofóbicos, como aonde elas treinam nos ERG's para simular e melhorar o ato de remar.
Com isto a fotografia do filme é bonita e gostosa demais, coisa belíssima, escura, pesada, cinzenta, ela realça o suor em Isabelle e faz um pintura bonita com a atriz nos fundos completamente escuros, ou mais abertos no rio em tempo cinzento/chuvoso. Muito bom mesmo.
E a própria Lauren dirige muito bem, para seu primeiro trabalho está de parabéns, tirou exatamente o que queria dos atores/atrizes, e fez um ótimo trabalho com Isabelle. Soube trafegar bem a câmera nas cenas no rio, mostrando o time remando, focando na entrega de Isabelle, e também em cenas mais intimistas quando dall se relaciona com Dani (Dilone) sua amante no filme, e numa cena de sexo bem mais comum no começo do longa.
Isabelle Fuhrman entrega tudo no filme, foi de longe a melhor atriz no longa e o leva nas costas. Seu começo é mais instigante, pois ela nada fala em uns 7, 8 minutos de filme(?) e atua mais com o olhar, com os trejeitos, ela fala com suas expressões faciais, uma garota mais fechada... e depois quando vai a uma festa da fraternidade do colégio, ela se solta mais em palavras, começa a falar e retrucar bem mais, se expressar com mais didatismo e começamos a ver mais de sua personalidade... até começar a se relacionar com sua professora Dani, e nos dar até pontos de vista sobre a política do homem pisar na lua, uma cena bem gostosa de se acompanhar.
Sua atuação vai mudando, entra em estado de mutação aos poucos e conforme o filme avança em seus acontecimentos, e ela entra numa paranoia que vemos que será difícil ela sair. Seus olhares de cansaço, de tentativa de superação, de fracasso, são incríveis e nos fazem, querendo ou não, ter um tipo de ligação com Dall, mesmo sendo negativo.
Que atuação!!!
Já Amy Forsyth que faz sua "amiga" e logo mais rival, faz um trabalho mais comedido, ela está bem não posso negar, mas é algo mais comum, aos meus olhos não teve um grande destaque... ela aparece em algumas cenas de discussão com Isabelle, mas ao meu ver nem ali ela ganha uma notoriedade. Bem diferente de Isabelle.
Dilone que faz a professora que se relaciona com Isabelle atua bem também, tem umas cenas onde dialoga com Isabelle, principalmente quando jogam sinuca, e outra quando tenta tirar Isabelle desse círculo vicioso que ela se encontra de fracassar e se mutilar, de sempre tentar vencer e superar os rivais.
O filme é bem montado, Lauren editou junto com Nathan Nugent que foi um dos produtores do filme, e o fato de termos profissionais que sabem como montar um filme faz toda a diferença... ajuda para nos situarmos nos acontecimentos e deixam as coisas mais naturais por mais que demorem para encaixar.
Outro ponto de destaque é a trilha sonora... soberba, demais, como casa com o filme e com os acontecimentos prepertados por Alex Dall. Calcado primariamente nos violinos, foi composta por Alex Weston que mandou bem demais e tão importante para o resultado final do filme, quanto a montagem e a fotografia.
'The Novice' está indicado no Spirit Awards de filmes independentes nas categorias: Melhor Filme, Melhor Montagem, Melhor Diretor para Lauren Hadaway, Melhor Atriz Coadjuvante para Amy Forsyth e Melhor Atriz para Isabelle Furhman.
Vou torcer muito para Isabelle ganhar porque ela esteve sensacional no filme e é minha favorita de longe. Em direção acho que Lauren não leva, apesar do bom trabalho. Já para melhor filme, ao meu ver, tem mínimas chances, já que 'A Filha Perdida' e 'Sempre em Frente' saem na frente em minha opinião.
Mas 'The Novice' é um bom filme, bem instigante e bem montado e escrito. Possui um texto atraente e uma atuação matadora de Isabelle Fuhrman. Foi uma boa descoberta.
(04/03/2022)
Zola
3.2 52 Assista AgoraCONTÉM LINGUAGEM DE BAIXO CALÃO.
Como dito acima, vai ser difícil comentar 'Zola' sem usar palavras chulas e termos pesados, ou se preferir, falar sem pudor, pois isso é assim que posso definir 'Zola' em uma frase: Um filme sem pudor!
'Zola' já é curioso pelo seu roteiro, acredito que seja o primeiro filme da história do cinema a ser baseado em uma thread de Twitter. Sim, isso mesmo, o roteiro de 'Zola' é adaptado de uma série de Tweets, que é chamado de thread (ou segue o fio, aqui no Brasil) feito por uma mulher uqe tem sua conta intitulada A'Ziah King, que relatou um fim de semana louco e violento que teve com uma moça que conheceu em um restaurante onde trabalhava como garçonete, e depois de se conhecerem, as duas, mais o namorado da amiga de A'Ziah e um cafetão foram para Flórida dançar em boates de pole dance a fim de fazerem uma grana preta. Muita coisa errada aconteceu desde então.
Dirigido por Janicza Bravo (que dirigiu episódios das séries Atlanta e Dear White People) e roteirizado por Andrew Neel, contando com a própria A'Ziah King na produção, "Zola' foi comprado pela Killer Films e distribuído pela A24. A série de tweets de A'Ziah fez muito sucesso em 2015 quando a mesma postou chamando a atenção de nomes conhecidos como Ava Duvernay (Olhos que Condenam), Missy Elliot (rapper) e Riley Keough (atrz que está no longa como Stefani, amiga de A'ziah).
Taylour Paige protagoniza o longa como Zola (personagem de A'ziah), todos os nomes são fictícios, mas os fatos são 85% verídicos, e ainda temos Nicholas Braun e Colman Domingo (Fear The Walking Dead).
Agora porque 'Zola' é um filme sem pudor...? A'Ziah King além de ser garoçonete também é dançarina, e como boa parte das mulheres, quer se divertir, curtir, se mostrar, e o que vemos de Zola no filme, é justamente tirado da personalidade de A'Ziah.
E aí entra a visão modernista e afrontosa de Janicza Bravo. Janicza tem um trunfo muito grande com seu filme, pois obviamente, tanto Zola quanto Stefani dançam em pole-dances nas boates, em trajes mais que sensuais, sem falar que estão vestidas a caráter quando o cafetão X (Colman Domingo) colocam as moças para fazer programa.
Janicza não mostra um seio descoberto em seu filme, você os vê quase semi nus, com alguma tira de sutiã por cima, mas nunca o bico do peito ou ele por inteiro, assim como em nenhum momento das 1h30 de filme aparece sequer uma vagina. Nada. E temos cenas de sexo com o cara metendo por trás da Stefani, por cima dela, com as pernas abertas, mas nada de priquita. Claro, as bundas aparecem, mais de calcinha ou biquíni, do que totalmente descoberta, mal aparece descoberta na verdade.
Janicza não expôs a nudez feminina de forma gratuita em seu filme, mesmo o enredo pedindo, mesmo algumas cenas do filme pedindo, ela as manteve sexy, e as mostrou em danças e posições sexys, vulgares, mas sem nudez gratuita... apesar de Stefani dar de quatro, dar de pernas abertas pro teto, e há uma cena em que toda uma gangue de parças faz uma rodinha de cueca em Stefani para ganharem um boquete numa suruba épica, e nesse momento, Janicza abre um parentese para contar o ponto de vista de Stefani na viagem, de uma forma totalmente viajada com o trocadilho da palavra.
Agora a nudez masculina, é explícita... no seu primeiro cliente na Flórida, sendo assistida por Zola, que achou grosso, Stefani trepa com um cabeludão, que deita Stefani na cama, se despi inteiro e fica com o pau de fora, semi duro, e vai pra cima de Stefani, e o mais legal, sem relar na atriz Riley Keough, a câmera de Janicza contribui para ficar só no imaginário do espectador. Sem falar nas sequência a frente onde Zola descola inúmeros clientes para Stefani, onde elas levantam uma grana altíssima, por 15 minutos de xoxota. Nessa sequência, há uma edição rápida de várias rolas de diversos tamanhos, dos mais muchos aos mais cotocos, tem saco batendo no chão, tem rola com fimose, tem rola com o galo deformado... é cômico, mas fico pensando como Janicza arrumou esas figuras para deixar filmarem seus pintos e sacos deformados para o longa. Janicza não teve pudor nenhum, expôs a rola da forma mais feia e real possível.
Dito isto, elogio demais a atuação de Riley Keough (O Culpado) que também não teve pudor ao atuar no filme, usou tudo, de roupa colada, a fio dental minúsculo, teve rola dura a 20 centímetros da cara dela, foi rodeada por um monte de marmanjo com volume na cueca numa cena alusiva a boquetes, deu vida própria a uma personagem da vida real ao seu modo, foi bem sagaz no texto e esteve demais no filme. Adorei demais esse comprometimento dela que mergulhou de cabeça e comprou a ideia toda.
No mais, a direção de Janicza é ótima, fez muito bem o trabalho, teve ótimos takes das protagonistas, encenou bem a cena de tensão e tiroteio no final do longa, e mandou bem demais na cenas de sexo explícito do filme.
O filme também é muito bem editado e montado, segue um ritmo bacana, segue um ar meio 'Pimp My Ride' da MTV americana, com caracteres e tudo, e traz um texto afiado cheio de gírias entre as meninas, e o cafetão X, mais os antagonistas do longa. Tem uma fotografia honesta, que se segura bem quando solicitado no filme, nada demais.
Taylour Paige (A Voz Suprema do Blues) também esteve muito bem no filme, dança bem demais no pole dance, acredito eu que deve ter feito aula para dançar no filme, chute meu, soube ser sensual, original, e mandou bem nas cenas mais tensas do filme, que quase nada tem de drama, tem de tensão, de ser ameaçada o tempo inteiro por X, e sempre estar com cara de assustada, tensa, e ela segura muito bem sua atuação aí, principalmente na cena do fim do filme no quarto de hotel.
Já Colman Domingo, ótimo ator que é, e do qual sou fã demais, fez um cafetão de respeito, mas algo já esperado por um ator como ele, acho que não entregou nada além do esperado pela escalação para um papel específico que combina com o estilo de atuação dele, tendo um destaque maior na cena do fim do filme no quarto de hotel, e na piscina de um hotel ao ser mais agressivo com Zola.
Não dá pra dizer se o filme é bom, mediano, ruim, fraco ou legalzinho... eu prefiro usar os termos, cômico, sagaz, pornográfico, debochado, uma viagem bem doida... aliás, o que esperar de um filme baseado em uma thread de Twitter gente.
O longa foi indicado no SPIRIT Awards, o Oscar de filmes independentes, nas categorias Melhor Filme, Melhor Diretor (Janicza Bravo), Melhor Atriz (Taylour Paige), Melhor Ator Coadjuvante (Colman Domingo), Melhor Fotografia, Melhor Roteiro e Melhor Montagem.
Também teve indicações no GOTHAM Awards para Colman Domingo e Taylour Paige em suas respectivas categorias.
Achei a indicação de Colman Domingo exagerada, já citei no comentário sobre ele que era o esperado vindo do ator, nada demais... em contra partida, esperava muito uma indicação para Riley Keough, e acho uma bola fora da premiação não lembrá-la na categoria de Atriz Coadjuvante, merecia demais até pela entrega dela no filme.
Já para Melhor Filme, na minha visão, só foi indicado, vejo muito a briga entre 'A Filha Perdida' e 'Sempre Em Frente' com minha torcida pelo último.
Se não tiverem pudor no gosto de vocês, assistam... experiência única garantida. O filme é bem feitinho até, tudo nos conformes.
(03/03/2022)
Sempre em Frente
3.9 160Se existe um estúdio que fez seu nome na década de 2010, este estúdio foi a novata A24. Criada por Daniel Katz, John Hodger e David Fenkel em 2013, o estúdio vem crescendo e ganhando relevância no mundo cinematográfico com produções interessantes e intrigantes, belíssimas obras e boas escolhas na distribuição.
Foi ela quem distribuiu internacionalmente filme como 'A Bruxa', 'Room' (O Quarto de Jack) e 'Ex Machina'. Fora que o estúdio possui dois prêmios importantes do Oscar, um pelo documentário 'AMY', e outro de Melhor Filme por 'Moonlight'.
Nos seus mais recentes trabalhos, temos aí o muito bem avaliado 'A Tragédia de Macbeth' da Apple TV, ou seja, a A24 é uma realidade muito positiva, e por mais que já tenha até levado o Oscar de Melhor Filme e sempre tem um ou outro projeto indicado em premiações, o foco deles são em obras fora do comum, ideias cativantes e originais, sem se preocupar com o hype de premiações.
Diante disto, temos uma das suas mais recentes obras 'Sempre em Frente' (C'Mon C'Mon), longa totalmente em preto e branco (uma marca comum do estúdio) dirigido pelo diretor Mike Mills, também conhecido por ser o compositor de 'Man on The Moon' com Jim Carrey.
Protagonizado por Joaquim Phoenix, Gaby Hoffman e o estreante ator mirim Woody Norman, 'Sempre em Frente' é um dos mais lindos e tocantes filmes desta temporada de premiações.
O filme trata de Johnny (Phoenix) que viaja pelo país entrevistando crianças e adolescentes questionando-os o que eles pensam e esperam do futuro, e como eles enxergam as pessoas adultas. Johnny tem uma irmã (Hoffman) que tem um filho de 9 anos, Jesse (Woody Norman). O pai de Jesse tem problemas psicológicos e de comportamento, e a mãe dele e Johnny passaram recente pela perda da mãe, algo que conturbou um pouco o relacionamento dos dois. Tentando ajudar o pai de Jesse, Viv pede a seu irmão Johnny que cuide de Jesse enquanto ela viaja, e então Jesse e Johnny além de embarcar para Nova York para Johnny continuar seu trabalho, os dois irão se redescobrir e se descobrir um no outro, trazendo um embate de personalidades entre um adulto com traumas amorosos e uma criança com traumas paternos.
A forma como Mike Mills escreveu seu filme é muito inteligente e perspicaz, além de termos toda a ficção dos protagonistas lidando com seus problemas internos, e a relação de Johnny e Jesse que só vai crescendo, ao mesmo tempo, a parte em que Johnny entrevista as crianças e adolescentes, seja em Detroit no começo do filme ou em Nova York, não parece para mim algo escrito por Mike Mills.
Pelos créditos finais do filme deu para perceber, sem ter total certeza, que essas entrevistas foram reais, era Joaquim Phoenix incorporando seu personagem, e entrevistando esses jovens que respondiam da maneira mais sincera e verdadeira possível, e se for isso mesmo, é algo muito legal, muito vivo, muito humano que Mike Mills trouxe para complementar seu filme. É muito gostoso e educativo ver esses jovens explanando a nós como vêem o mundo, os adultos, como enxergam as relações afetivas, como vêem dificuldades em expressar os sentimentos, e como tentam enxergar o mundo no futuro, como será, o que acontecerá, onde eles se vêem.
A relação de Jesse e Johnny no filme é muito gostoso de acompanhar... uma criança que têm problemas internos paternos, que inocentemente enxerga e entende que não se acha totalmente amado, mas sabe que seus entes o amam, sabe que é muito mimado, mas entrega muito amor de seu próprio jeito. Criou uma própria realidade fictícia para fugir um pouco da realidade cinzenta em que se encontra, e não compreende totalmente, mesmo sabendo que está ao seu redor.
E é em Johnny que ele entende muitas questões que lhe cercam, pois Johnny tem seus problemas amorosos não resolvidos consigo mesmo, a perda recente de sua mãe, e sua relação com a irmã Viv, que precisa melhorar. Johnny demonstra que não sabe cuidar de uma criança, mas logo se adapta ao papel... percebe os desvios de personalidade e as dualidades de humor de Jesse. e tenta desesperadamente contornar esses obstáculos para conseguir ganhar a atenção e a obediência do garoto, além de tentar formar um vínculo afetivo que vai crescendo conforme o filme avança. É muito bonito ver essa transformação e o respeito e zelo entre eles ir se formando.
Mills acertou em cheio no seu filme, contornou um roteiro terno, gostoso, afetivo, acolhedor e esperançoso, e é muito difícil algum espectador não acabar gostando do resultado final, uma vez que o elenco ajuda muito nisso.
Tecnicamente, 'Sempre em Frente' é muito bem construído... por ser um filme em Preto e Branco, a fotografia logicamente se sobressai, belíssima principalmente nas cenas externas de campo aberto tanto em Detroit, como em Nova York onde ela se mostra mais vívida. Méritos de Robbie Ryan, que trabalhou nos filmes 'A Favorita' e 'História de um Casamento', para citar os mais recentes.
A cenografia apesar de não ser tão abrangente, de seu jeito mais peculiar e intimista acaba ganhando por deixar o espaço mais aberto possível para Woody e Joaquim brilharem em suas cenas.
Já a trilha sonora é perfeita, densa e bem orquestrada, ela dita o ritmo do filme, compondo bem as cenas onde Jesse e Johnny não usam as palavras, mais sim os gestos e um ao outro... bem aí que a trilha ganha em harmonia com os personagens, realmente um trabalho sagaz da dupla Aaron e Bryce Dessner (de Cyrano e Jockey, filmes deste ano).
Falando do elenco, Joaquim Phoenix dispensa comentários... depois de abocanhar todos os prêmios em 'Coringa', em uma atuação estupenda, aqui ele entrega uma performance densa, acolhedora, conflituosa, paterna e humana, Joaquim trouxe muitas camadas para Johnny, que possui seus defeitos e seus problemas, mas não deixa de aprender e estar aberto ao aprendizado, seja com as crianças que ele entrevista, seja com seu sobrinho problemático amoroso. Um personagem mais que humano para um ator versátil e artístico como Joaquim é.
Além dele, Gaby Hoffman que faz sua irmã Viv, também atua muito bem, ganhando mais destaque no começo do filme antes de deixar Jesse com Johnny. Acaba tendo suas demais cenas em conversas ao celular com Joaquim Phoenix e em alguns flashbacks com Jesse ou seu pai Paul (Scoot McNairy).
Porém o destaque mesmo é Woody Norman, fazendo sua estreia como ator, ele dá um show... que garoto INCRÍVEL. Ele passa por todas as emoções que um ator pode entregar em cena, sem falar naquelas aulas que vocês já devem ter visto, aulas corporais para soltar a desenvoltura do ator/atriz, aquela aulas com a boca para soltar o maxilar, tudo isto Woody Norman entregou no filme e em seu personagem. Ele entendeu perfeitamente o papel que tinha que fazer, as emoções que precisava entregar, a dualidade em sua relação com Joaquim Phoenix, a inquietude de uma criança de sua idade, as complexidades do humor de uma criança que tem mãe e pai que não são normais, mas o que é ser normal afinal, o próprio Jesse indaga Johnny no filme.
Woody Norman realmente me impressionou e me ganhou de uma forma gigante, esse menino é de outro mundo. Ele e Joaquim são o coração do filme. Woody mesmo está indicado a Ator/Atriz Jovem no Critics Awards, e até então minha torcida ia em Emilia Jones por 'CODA' (perfeita por sinal)... mas depois de ver Woody aqui, minha torcida vai para ele, esse menino precisa ser premiado pois ele é um achado muito grande, uma jóia raríssima de ator.
'Sempre em Frente' tem indicações ainda no BAFTA para Woody Norman em Ator Coadjuvante (que bela indicação da academia britânica).
No Satelitte Awards foi indicado a Fotografia, Roteiro Original (terá minha torcida) e Ator Drama para Joaquim Phoenix (tem chances).
No Spirit Awards, o Oscar dos filmes independentes, foi indicado a Roteiro, Diretor (terá minha torcida) e Melhor Filme, concorrendo contra 'A Filha Perdida', 'Zola', 'A Chiara' e 'The Novice'.
Faltando dois filmes para conferir, de cara já daria o prêmio de Melhor Filme para 'Sempre em Frente', merece demais e é um trabalho lindo e singelo de Mike Mills que poderia sim estar indicado a Melhor Filme no Oscar, sem medo de ser feliz (presta atenção academia).
A24 continue assim, nos abrilhantando com obras originais e dando voz a profissionais que nos trazem histórias e contos fora do convencional. É um estúdio para ficar ligado sempre.
(03/03/2022)
Spencer
3.7 569 Assista AgoraTodos sabemos que qualquer adaptação baseada na família real, carregará consigo um pequeno boicote por parte da mesma, tivemos grandes sucessos como 'A Rainha' com Helen Mirren (oscarizada) e 'The Crown' (premiada), mas ambas com um forte discurso de negação por parte da família Real. Assim também foi com "Spencer", que diferente dos dois filmes citados, sofreu mais com o negativismo da família Real e foi boicotado em premiações (cof, cof BAFTA) e em algumas salas de cinema mundo afora.
Dirigido por Pablo Larraín (chileno, de 'Jackie' e 'Tony Manero') e roteirizado por Steven Knight, que também já dirigiu três filmes, e roteirizou 'Coisas Belas e Sujas' de Audrey Tautou, "Spencer" traz, como o filme mesmo apresenta, uma fábula da história real de Diana Frances Spencer, Princesa de Gales e esposa do Príncipe Charles.
O filme se passa entre a véspera de Natal e o Boxing Day (26 de Dezembro), e claramente nos coloca na pele e na psiquê de Diana, para nos fazer testemunhar em que estado emocional ela se encontrava naquela época onde seu marido, o príncipe de Gales, estava lhe traindo. Praticamente, Steven e Pablo, pegaram os acontecimentos turbulentos do Casamento de Diana, que permearam os anos de 94/95, e como ela sofreu emocionalmente com, não só a traição mas com a pressão da família Real encima dela, e solidificou em três dias de Natal, praticamente nos resumindo o quanto foi depressivo viver em uma família que não era sua família e onde ela se sentia desamparada.
Esse foi o ponto de acerto do roteiro de Steven Knight, fazer com que nos colocássemos na pele de Diana, o tempo todo ela está sufocada pela vida que leva com a família Real, sufocada de não ter dois minutos de paz dentro do palácio Real, sufocada de não ter os próprios pensamentos, de não ter as próprias decisões, de seguir a etiqueta que família Real propõe (ou impõe), de suprir expectativas, de fazer sala quando não se sente a vontade... é muito angustiante vê-la sendo o tempo inteiro sendo interrompida.
O roteiro é amarrado de uma forma que faça com que o espaço para ela se mostrar para o espectador exista, de que ela mostre suas qualidades, que nos faça conhecê-la mais a fundo, mais intimamente e que nos sintamos mais empáticos para com a pessoa dela, mas isso o tempo todo é interrompido pelos funcionários da família Real, o tempo todo literalmente, e ela não consegue se mostrar, crescer, se conhecer...é um ponto do roteiro de Knight muito inteligente e muito bem construído, nota 10 pra essa visão.
Já a direção de Larraín ganha por nos imergir nessa angústia de Diana de nunca ser deixada em paz, a câmera trabalha de um jeito que encurrala ela nos cômodos do palácio, sempre que a câmera a foca, mesmo quando é com algum membro do palácio, a câmera a fotografa de uma forma que ela esteja encurralada, tentando sair, tentando respirar, tentando colocar as narinas para fora da água... Sem falar nas cenas mais artísticas mais pro fim do filme com Kristen dançando no palácio ou correndo desde pequena até a vida adulta, ou até mesmo toda a sequência na antiga casa de Diana no encontro com Anne Boleyn.
Por falar nisto, esta passagem de Diana, que lê o livro baseado em Anna Boleyn, entregue pelo Major Gregory (Timothy Spall, monstro da atuação), é muito boa, ela tem essa dualidade de se comparar emocionalmente com o que Anna viveu no passado, por mais que o desfecho de ambas tenha sido diferente, foi todo um lance artístico poético que serviu para expor mais ainda a aflição de Diana em lidar com a família Real.
E pra fechar a trinca, Kristen Stewart, sem ela, nada disto funcionaria... incorporou Diana muitíssimo bem, foi perfeita do início ao fim, mal pesou a mão na interpretação, foi didática e cuidadosa, leu bem a Diana para transportá-la para o longa, e captou bem toda a angústia dela e expôs isso em cena de uma forma magistral. Uma grande atriz e artista que ficou, aqui no Brasil que é só por onde eu posso falar, mal vista e mal lembrada sempre como a Bela de 'Crepúsculo', filme que ela não tem nada de que se envergonhar, foi uma aprendizado para ela crescer como artista e chegar em um de seus ápices que foi esta atuação espetacular e estupenda. Você praticamente enxerga a Diana nela e se apaixona a primeira vista... minha vontade foi de abraça-la o filme inteiro.
Tecnicamente, uma obra de arte, tanto o design de Produção que é de cair o queixo, como foi bem construído o palácio internamente, os detalhes nos quartos de Diana e das crianças, na cozinha onde eram preparadas as refeições, na sala onde eles se serviam... tudo. Um detalhe para se criar todo a cenografia de encher os olhos.
A fotografia é incrível, muitas cenas ali principalmente com Diana, são muito bem fotografadas pela diretora Claire Mathon, de "Retrato de Uma Jovem em Chamas" (que é uma obra prima na minha opinião), e aqui Claire mais uma vez traz este trabalho vívido e belo, uma peça de arte magnífica.
O figurino é estonteante, digno de inúmeras indicações nas mais diversas premiações, porque é muito bem costurado, construído, lembra demais as vestimentas verdadeiras de Diana e remete bem o estilo usado pela família Real na década de 90.
A trilha sonora de Johnny Greenwood (Licorice Pizza e Ataque dos Cães) é linda, mas é muito mais densa, penetrante, angustiante, sórdida, a trilha consegue expressar os sentimentos de Diana com muita destreza, e expõe bem o peso do ar dentro do palácio e o peso que Diana carrega em ter que ser forte para aguentar toda essa rotina... uma trilha explêndida... porém confesso que em pequenos pontos do longa se torna repetitiva.
No elenco ainda contamos com Sally Field (A Forma da Água), Jack Farthing (A Filha Perdida) que está muito bem no filme como Príncipe Charles e Sean Harris de "Macbeth: Ambição e Guerra".
"Spencer" foi muito lembrado e exaltado no Satelitte Awards nas categorias de Filme Drama, Trilha Sonora, Figurino, Direção de Arte e Atriz Drama.
Já Kristen Stewart foi lembrada como Melhor Atriz no Critics Awards e no OSCAR, tendo perdido o Globo de Ouro para Nicole Kidman.
Porém ela já levou o prêmio dos críticos de Hollywood de Melhor Atriz, pelo menos uma lembrança ela terá.
O filme é fenomenal, foi indicado pelos Críticos de Hollywood a Melhor Filme, e eu pessoalmente indicaria "Spencer" sim a Melhor Filme no Oscar.
Mas devo destacar que Kristen Stewart, ao meu ver, merece muito levar este Oscar de Melhor Atriz, sua interpretação é bárbara e dramática e perfeita... ela entrega tudo e interpreta Diana aos pés da perfeição. Sua atuação é angustiante demais. Já pendi para Nicole Kidman e me conveci de que Jessica Chastain era a merecedora... mas depois de ver Kristen, eu estou entregue ao seu talento e atuação. Terá muito minha torcida.
(01/03/2022 - Online)
Licorice Pizza
3.5 597A década 90 e início de 2000 nos deram grandes e proeminentes diretores/roteiristas, ou seja, profissionais visionários que enxergam aquilo que escrevem, sempre era mais comum alguém vir com a ideia, um roteirista profissional pago rabiscar o texto e o enredo e o diretor entrar e colocar sua visão baseado no roteiro que lhe foi entregue.
Dentre tantos profissionais entregues nessas décadas citadas, temos um do qual sou particularmente fã, Paul Thomas Anderson, e claro, preciso pagar uns dois, três filmes dele que ainda estou devendo, mas sempre cito duas obras que estão no topo do meu gosto cinematográfico: "Boogie Nights" e "Sangue Negro".
O primeiro assisti ainda jovem, da locadora, e nem sabia quem ele era, sabia quem eram os atores no elenco apenas, mas já foi um filme que me pegou na veia pela sagacidade e a forma como a câmera passeava pela resposta das feições dos personagens. O segundo é uma obra prima do cinema moderno, na minha opinião, um marco da década de 2000.
"Licorice Pizza", que assim como "Boogie Nights" e "Sangue Negro", foi escrito e dirigido por Paul, além de ter sido produzido também, é um conto que foge muito do que Paul estava entregando em seus últimos trabalhos desde "Sangue Negro"... como "Vício Inerente", "Trem Fantasma" e "O Mestre".
Paul acabou focando em um filme mais leve, em um romance inocente da década de 70, onde a sexualização estava em pleno vapor, onde a psicodelia era o carro chefe para quem queria ser descolado, aonde as pessoas iam nas festas e na casa dos amigos com um disco debaixo do braço... "Licorice Pizza" de Paul Thomas Anderson é isso, um romance leve e inocente, sagaz e divertido, que toma forma na década de 70 em Santa Monica, com duas pessoas bem diferentes, não só em personalidades, como em estilos de vida, e principalmente de idade... 15 para 25, um filme colorido, um filme musicado, um enredo leve, um ar gostoso de juventude... "Licorice Pizza" parece um disco d vinil sendo tocado na vitrola.
Achei bem interessante ver uma pessoa como Alana buscando descobrir quem era ela naquele ponto da vida, o quanto ela se sentiu atraída por um garoto que aspira ser homem, já tendo uma vida e responsabilidades de um homem, gerindo uma empresa como um homem adulto faria, mas ainda sendo um garoto, inocente, ingênuo, uma personalidade de descoberta da qual Alana compactua e talvez tenha sido isto que fisgou-a á Gary. Uma mulher que quer ter um homem que tenha uma personalidade mais moleque, que a mesma possui, sem deixar de ter uma firmeza que ela se atraia.
O filme é muito gostoso, leve, divertido, colorido, musicado, engraçado, brinca com suas percepções, tem muitos atos e núcleos divididos em suas 2h16 de duração... uma hora estão vendendo colchões d'água, outra está no ramo de máquinas pinball, outra hora Alana acompanha Gary nas suas incursões de ator nas agências, outra hora Alana está no gabinete do vereador Wachs em sua campanha para prefeito, e depois ela e Gary estão enfrentando Jon Peters, marido de Barbra Streissand (??).
Tudo isso com muitos desencontros entre os dois que ainda estão se conhecendo e conhecendo o outro, antes de provavelmente se entregarem ao romance que está ali na entrelinha esperando para aflorecer.
Como é algo bem diferente do que Paul Thomas costuma entregar, o espectador estranha no começo um filme tão colorido e cheio de vida de Paul Thomas, mas ele acerta muito no diferente, e isso é algo a ser exaltado na perspicácia dele em criar um roteiro tão fora do seu convencional e acertar o tom no que se propõe a fazer que é fora do seu jogo de segurança no mundo do cinema. Ponto pra ele novamente.
E citando sua direção... está ótima, muita coisa de câmera de "Sangue Negro" está ali, coisas que ele trouxe de Boogie Nights também está, principlamente na cena onde Alana e Gary leêm o jornal com Reagan na TV, e na cena inicial quando Alana acompanha Gary no colégio onde ele tira foto e tudo mais.
O filme têm uma ótima fotografia, uma edição impecável, muito bem editado o filme, e uma direção de arte bem setentista, colorida, não diria psicodélica, mas sim com um tom mais neon... é um ambiente bem vivo, bem verão norte americano.
Porém, devo ressaltar que dentro do roteiro de Paul, há alguns furos e inconsistências, que por mais que não atrapalhem o andamento do filme, são contratempos que podem tirar o brilho de uma cena ou outra ou de um núcleo ou outro.
Faltou uma imersão maior da família de Alana, que é a família dela mesma na vida real, incluindo suas irmãs, obviamente, suas companheiras na banda de rock "Haim", que sequer são coadjuvantes, são mais adereços, esperava muito mais da família dela.
Paul Thomas anda tão rápido com a relação de seus dois protagonistas, que não nos aprofundamos no contexto familiar e pessoal de Gary, somos levemente apresentados e fica naquilo, é como se só nos interesasse saber que ele é um ator e que sua mão vive viajando, morreu aí, e fica difícil criar uma ligação mais profunda com Gary, quando criamos com muito mais facilidade com Alana.
Outro ponto é a mudança de um núcleo pro outro, sai do colchão d'água pra lidar com Jon Peters (Bradley Cooper) e de lá ela do nada se manda pro escritório do vereador Wachs, são mudanças tão grandes na rotina dos dois protagonistas, que não há uma resolução do ponto onde eles estavam para avançar para o próximo ponto... simplesmente é deixado de lado para o enredo avançar e continuar aquele desencontro de gato e rato entre Alana e Gary, totalmente proposital.
Sem mencionar que o final do filme, é totalmente incoerente com o que foi criado para Alana em todo o enredo. Para uma pessoa de 25 que se relaciona com um de 15, ela se abrir totalmente e dizer 'eu te amo' para Gary como se fosse uma adolescente de 15 anos super apaixonada foi no mínimo ridículo e uma falta de respeito e carinho com o espectador. Ela era a mais madura, a mais adulta, a mais cabeça, fica evidente na discussão que eles tem na casa do Vereador Wachs quando ela fica puta por ele só pensar em ir pro ramo de Pinball sem dar a mínima pro que o Vereador pode mudar na cidade como Prefeito... mas aí no fim do filme, ela que se relega á ser uma adolescente apaixonada pelo "homem" Gary... sendo que deveria ser ao contrário, vide as atitudes de Gary. Faltou muito tato aí para Paul Thomas Anderson em deixar seu filme com coerência que ele tanto criou durante o enredo.
O casal de protagonistas segura a onda, estão ótimos e sou só elogios tanto para Alana Haim e Cooper Hoffman. Os dois mandaram muito bem justamente em seus filmes de estreia, coisa rara de se ver, e ainda angariar indicações em premiações. Parabéns aos dois de verdade.
O longa ainda conta com Sean penn, sempre ótimo, afinal um ator do calibre de Sean dificilmente vai entregar algo meia boca.
Bradley Cooper arrasou demais como Jon Peters, tanto em caracterização como em atuação, sendo a ser indicado no SAG Awards para Ator Coadjuvante,e foi muito legal vê-lo num papel divertido e áspero, sempre perdendo o controle, lembrando muito seu papel em 'O Lado Bom da Vida'.
Ainda tivemos o canto Tom Waits, que manda bem demais como ator nos filmes que faz, e aqui ele está uma figura e tanto na cena do bar com Sean Penn. e Benny Safdie que faz o Vereador Wachs, ótimo ator que se destacou no pouco que apareceu.
A trilha sonora é de Johnny Greenwood, guitarrista do Radiohead (banda que gosto demais) parceiro já de longa data de Paul Thomas, tendo feito a trilha de "Sangue Negro", por qual ganhou um prêmio no Critics Awards em 2008. Trilha ótima, viva, com alma, orquestrada e músicas muito bem inseridas, só com a nata da de´cada de 70 como The Doors, The Wings entre outros.
"Licorice Pizza" angariou indicações nesta temporada. No OSCAR foi indicado a Filme, Roteiro Original e Diretor.
No BAFTA indicado a Filme, Diretor, Atriz para Alana Haim, Montagem e Roteiro.
No Critics Awards indicado a Filme, Roteiro, Diretor, Edição, Atriz, Jovem Ator para Cooper Hoffman, Melhor Elenco e Melhor Filme Comédia.
No Satelitte awards indicado a Filme Comédia/Musical, Edição Diretor, Atriz e Roteiro.
No Globo de Ouro perdeu todas que foi indicada, Filme Comédia/Musical, Atriz, Ator para Cooper Hoffman e Roteiro.
Gostei do filme? Sim. Me apaixonei pelo filme? Nem tanto assim. Acho uma indicações bem exageradas.
Não indicaria Paul Thomas Anderson a melhor diretor, na minha opinião ele dirige muito bem, está ótimo como sempre está em seus filmes, mas não é nada demais para indicar ao meu ver, principalmente quando ele está indicado no Oscar e Denis Villeneuve não está, dado o trabalho absurdo dele em Duna... uma vergonha para a Academia. Vergonha gigante.
A indicação a Melhor Filme no Oscar e no Critics Awards eu até compro, uma vez que são 10 indicados, o filme fica em décimo lugar para mim. Mas a indicação dele a Melhor Filme no BAFTA é gritante de exagerada, foi o que mais me deixou boquiaberto, daria muito bem para indicar ali, "CODA" fácil... ou até mesmo "O Beco do Pesadelo" que é um filme muito mais redondo. Acho que aqui o BAFTA foi bem incoerente e me deixou espantado. Mais uma no, mais uma incoerência do BAFTA.
De todos os filmes do Paul Thomas Anderson, daqui há uns 10 anos, este será o menos lembrado, na minha opinião. è bom, mas não tão bom assim. Garanto que filmes como "CODA" e "O Beco do Pesadelo" serão mais lembrados que este. Ouviu né BAFTA!!!!!
(28/02/2022 - Kinoplex Itaim)
Os Olhos de Tammy Faye
3.3 177 Assista AgoraÉ sempre interessante ou intrigante quando você vai conferir um filme baseado em alguma personalidade ou uma obra em fatos reais, e você não conhece nada sobre o que está sendo contado. Eu mesmo nunca havia ouvido falar de Tammy Faye e nem sabia sobre esse sucesso estrondoso que foi a rede de televisão PTL Club, e o quanto eles se ramificaram para o globo todo, praticamente sendo os pioneiros das emissoras de TV religiosas, e ainda 24 horas por dia.
Tanto Tammy Faye Bakker quanto Jim Bakker foram pessoas excêntricas,sendo que o filme não deixa claro se isso era proposital ou se eles eram meio desconexos da realidade mesmo, mas a julgar pela aquela cena nos créditos finais do longa, com Tammy Faye falando com a imprensa na frente da escadaria onde ela e o marido foram julgados... dá para julgar que era uma pessoa bem non-sense, portanto, imagine seu marido então,que recentemente estava vendendo pílulas ou xarope, um dos dois, que acabava com a Covid em 12 horas (!!!!!!!!!!!!!!!!!!)
Dirigido por Michael Showalter, 'Os Olhos de Tammy Faye' conta toda a história do casal que se conheceram, se apaixonaram, e na sua fé e no seu amor por Cristo e Deus todo poderoso, pregaram a palavra e tinham este sonho de atingir o maior número possível de pessoas, ou seja, pregar na televisão era uma realidade de curto prazo.
Baseado no documentário de mesmo nome, e roteirizado por Abe Sylvia, que roteirizou e dirigiu dois episódios distintos da série Dead To Me da Netflix, o filme tratou de contar minuciosamente a ascenção do casal no ramo religioso, ao mesmo tempo que não demora muito em certos detalhes burocráticos da ascenção deles, atravessando o tempo de uma forma rápida, sem nos desconectar dos anos em que os mesmos estavam crescendo dentro da Televisão americana.
Bem divertido, bem editado, com diálogos gostosos, e pontos de vistas duvidosos, "Os Olhos de Tammy Faye' mais irá agradar o espectador do que desgostar, ou afastar.
O Longa tem um figurino muito decente, bem construído e condizente com o tempo em que eles vivem e com os lugares que frequentam, sem falar na direção de arte que é bem arquitetado, e se sobressai nas cenas no estúdio de gravação do programa deles, e nas residências onde moravam, principalmente mais próximo do fim do filme, ali capricharam e muito no design de produção e era de se encher os olhos a residência de frente ao mar do casal Bakker.
Outro ponto a se destacar do filme é o cabelo e maquiagem do filme, conforme eles envelheciam no filme, ficava muito mais evidente e bem feito a maquiagem para envelhecer Andrew Garfield e Jessica Chastain, assim como o penteado dos dois, com destaque obvio para Jessica e sua Tammy Faye, com penteados muito elaborados e uma maquiagem que remetia exatamente a Tammy Faye em seus tempos de TV. Realmente um trabalho incrível da produção do filme. Um ponto negativo foi a mãe de Tammy Faye interpretada por Cherry Jones (24 Horas) que não parecia envelhecer com o passar dos anos, totalmente não condizente com a aparência não só de sua filha, mas também a de Jim Bakker, ou seja, uma pequena bola fora da produção na minha opinião.
Cabe aqui dizer com segurança que os dois protagonistas levam o filme nas costas, e são a principal razão de acompanharmos o longa. O longa não é chato, muito menos arrastado ou ruim, longe disso, é gostoso,engraçado e divertido, mas é excêntrico demais, debochado demais, e é exatamente assim que enxergo a atuação de Andrew e Jessica.
Não sei se na vida real o casal Bakker era assim fora das câmeras também, debochados, excêntricos,non-senses, não tinham um pingo de bom senso com as coisas e com a realidade, e se escoravam na fé deles em Jesus e na fé de seus cristãos para fazerem o que lhe davam na telha.
Andrew está do jeito que o conhecemos no filme, solto, se divertindo, ácido, uma atuação bem gostosa de se acompanhar. O bacana que no começo do filme ele nos convence com sua pregação, ele é tão convincente, prega com tanto amor, com tanta naturalidade, com segurança, com um carinho,com um conhecimento da bíblia de dar inveja, que me ganhou de cara, deu vontade de segui-lo e frequentar sua igreja toda semana, ou todo dia. As vezes sua serenidade não condizia muito com o momento em que Jim vivia, mas isso não atrapalha em nada o andamento do filme e nem diminui sua interpretação em tela, é apenas um adendo mesmo.
Já Jessica Chastain... que Atriz, que mulher, que pessoa, que profissional... uma atuação magistrosa e Jessica, gigante, incrível, poderosa... sua Tammy Faye é gostosa demais (gostosa de ser delicioso acompanhá-la em cena), seus trejeitos, suas falas, sua caracterização, seu jeito molecona, que é o jeito de Jessica na vida real para quem acompanha ela um pouco no Instagram. Ela está muito bem no filme, tá segura demais, tá se divertindo demais, tá inspirada demais, caiu como uma luva esse papel nela. Na minha opinião ela está bem mais gostosa de se acompanhar na primeira metade do longa, quando ainda não chegaram á televisão, ali ela ganha em interpretação demais... logo depois quando sua Tammy Faye muda até sua aparência, com maquiagem carregada e penteados diferenciados, ela fica com uma atuação mais condizente com o momento difícil que Tammy Faye passava... mais carregada de drama, aparentemente depressiva, bem pesada misturado com uma camada leve, nunca deixando a peteca cair, sempre trazendo aquele lado mais moleca de Tammy Faye, mais infantil, mais meigo.
Sem falar que Jessica canta todas as músicas originalmente cantadas por Tammy Faye, até nos créditos finais... como canta a Jessica, super afinada, concentradíssima, certeira... só isso seria o suficiente para premia-la, vide a cena final dela cantando antes terminar.
Para mim, justamente indicada a Atriz no Oscar, no Critics Awards, no Sag's e no Satelitte Awards, tendo perdido o Globo de Ouro para Nicole Kidman. Mesmo amando a Jessica neste filme, concordo a principio que Nicole está incrivelmente melhor e deve levar o Oscar em minha opinião... mas, vamos esperar para ver.
O filme ainda conta com Vincent D'Onofrio no papel de Jerry Falwell, poderoso da indústria evangélica da época. Vincent que já se eternizou como Wilson Fisk, o Rei do Crime da série Demolidor da Marvel, aparece em momentos cruciais do longa, não tanto quanto deveria, e sua atuação, para quem viu as temporadas de Demolidor, lembra demais ele como Wilson Fisk, sua forma de falar, e a forma como gesticula, não tem como não remeter ao personagem. É claro que sua performance como Wilson Fisk não define sua carreira, sua forma de atuação e nem vai deixá-lo marcado de vez, mas aqui está muito encrustido nele o personagem, tem muito resquício e como no roteiro, Jerry Falwell pouco acrescenta e pouco se mostra na história, sua atuação fica menos abrangente do que o normal, trazendo poucos traços do Jerry real, apesar de eu nunca o tê-lo visto, e deixando mais o jeito característico de Vincent atuar.
'Os Olhos de Tammy Faye' ainda ganhou indicações para Maquiagem e Cabelo no BAFTA, no Oscar e no Critics Awards, muito justo por sinal porque o trabalho está estupendo.
O filme tem muito entretenimento em sua primeira metade, claro com protagonismo total de Jessica e Andrew, e vai ganhando em corpo e drama conforme o enredo avança... já se encaminhando para o final, o próprio roteiro não avança demais, fica estacionado e o mesmo se dá para os dois protagonistas,que suas interpretações,que sempre e são no campo do deboche e da excentricidade, se estacionam porque não há mais lugar para se avançar e nem camadas para serem exploradas... o filme estaciona e terminamos de acompanhar no automático, para podermos acompanhar o desfecho.
O filme tem mais pontos positivos que negativos, mas quando os poucos pontos negativos aparecem, são mais gritantes, e por mais que não atrapalhem o andamento do filme, entra evidentemente em atrito com o que o longa tem de bom a oferecer.
(25/02/2022)
Respect: A História de Aretha Franklin
3.4 59 Assista AgoraGeralmente cine biografias são muito bem contadas, algumas são só ok, mas nos dá uma boa imersão de como foi a vida ou a carreira de tal artista... acho que uma exceção pode ser 'Bohemian Rhapsody' que teve muitos problemas durante sua produção e pós produção.
'Respect' tinha tudo para ser uma ótima cine biografia da cantora e rainha do Soul Aretha Franklin, mas sabe-se lá que aconteceu durante suas filmagens, ou pré-produção, ou durante a criação do roteiro... o filme é bem mais ou menos, mais pra menos que pra mais.
'Respect' foi dirigido por Liesl Tommy, diretora conhecida apenas por dirigir episódio da 9ª temporada de 'The Walking Dead' e da 3ª de 'Jessica Jones', e sinceramente não vou lembrar aqui destes episódios que assisti, pois sou fã das duas séries, porém o trabalho dela neste filme é desastroso em seu primeiro ato, e a partir do momento que Aretha vai gravar seu maior sucesso, a faixa título do filme, aí Liesl começa a achar a mão, mesmo tendo um tropeço ou outro ali e acolá.
Por mais que a direção de Liesl deixe um pouco a desejar no começo e melhore do meio pro fim, a culpa mesmo é do roteiro muito mal elaborado por Callie Khouri, o que me deixa muito surpreso pois ela foi roteirista do longa 'Thelma & Louise', meu filme de cabeceira da qual gosto muito e tenho muito carinho, pérola dos início dos anos 90.
Incrivelmente, aqui Callie fez um esboço péssimo para contar a história de Aretha, já da infância com muitos cortes, muitas pontas soltas, não havia coesão nos fatos que eram apresentados por Callie, não houve um aprofundamento em nenhuma relação que Aretha tnha na sua infância e adolescência, sabemos de sopetão que ela já tinha filhs com 14 ou 15 anos se não me engane. Muitos furos no roteiro dela para um filme que teve seu tempo de tela bem generoso, 2h26 para trabalhar em sua historia.
Junte isso á direção de Liesl Tommy que remenda demais seu filme na sua primeira hora, é angustiante, é imoral, beira ao amadorismo, não chega a dar sono mas te deixa incomodado com tamanha falta de objetividade da diretora, muitos cortes, muitas passagens de tempo... olha, que decepção. Porém logo que Aretha vai gravar 'Respect' em um estúdio longe de NY, o filme começa a ter um ritmo bacana e Liesl ganha nas cenas em que Aretha se apresenta em casas de shows, canta seus maiores sucessos rendendo as melhores cenas do filme, no seu relacionamento conturbado com seu marido e empresário Ted White, e nas cenas onde está entregue ao álcool e jogada no limbo. Quando parece que o filme vai começar a ficar mais honesto, aí acaba.
Aretha que já é falecida desde 2016, não abria mão de que Jennifer Hudson a interpretasse na sua cine biografia... não pôde vê-la em vida interpretando-a, mas deve ter ficado orgulhosa.
Jennifer, que venceu o Oscar de Atriz Coadjuvante em 2007 por Dreamgirls (filmaço), e foi revelada como cantora no programa americano 'American Idol' (que lançou as Rouge no Brasil) terminando na sétima posição, tendo Kelly Clarkson como campeã. Ela fez um trabalho brilhante como Aretha Franklin, seus movimentos, seus trejeitos, o modo como andava e mexia as mãos, sem falar que cantou todas as músicas 'In Loco' no filme, sem precisar pré-gravar, foi ali no ato... se foi o melhor papel da carreira dela, não vou saber opinar (Oi Glória Pires), mas é uma performance de respeito (trocadilho com o filme) e que foi justamente lembrado no SAG Awards na categoria de Atriz. Não vejo força para levar, mas não ficaria surpreso se ela ganhasse, é bem possível se parar pra pensar.
O restante do elenco está ok, tendo Marlon Wayans (de On The Rocks) ator que acho fraquíssimo e que se esforça aqui pelo menos, além de Marc Maron que esteve muito bem no filme como dono da gravadora de Aretha. Mary J. Blidge, cantora de R&B que conheço desde os tempos de MTV esteve no filme mas com participação comedida, porém de muita presença. Além de Tate Donovan, ator que gosto muito de séries como '24 Horas' e 'The O.C'.
Claro que vou citar o pai de Aretha no filme, o vencedor do Oscar Forest Whitakker, que eestava arrasador no papel de C.L. Franklin, daquele jeito que quem conhece Forest, sabe o que ele entregou em cena. Não é seu melhor trabalho, mas é muito competente e suas cenas de destaque com certeza são as de tensão familiar e discussões com Jennifer Hudson.
Tecnicamente o filme é honestinho, não vou entrar em detalhes, e a trilha sonora é muito bem composta por Kristopher Bowers (de King Richard e Olhos que Condenam), ele se sai melhor nos filmes citados, mas aqui sua trilha remete ao Soul, R&B e música gospel da década de 50 e 60, que permeia bem o longa e dita o ritmo das cenas, mesmo que o filme não seja lá essas coisas. As atrizes que fizeram as irmãs de Aretha e que foram suas backing vocals também merecem destaque: Saycon Sengbloh e Hailey Kilgore.
Por mais que eu ame música, fui educado no rock, mas sim conheci um pouquinho ( bem pouco) de Aretha na MTV com dois clipes que passavam dela, 'Respect' e 'Think', fora que as músicas 'Say A Little Prayer' e 'Natural Woman' eu conheci primeiro com Diana King e Whitney Houston e somente anos mais tarde descobri que foram gravadas primeiro por Aretha. Sempre reconheci seu legado como rainha do Soul, cantora que inspirou grandes nomes como a própria Whitney, Mary J. Blidge que está no filme, Mariah Carey, Beyonce e por aí vai.
É um filme para você conhecer um pouco (pouco mesmo) da vida de Aretha e conhecer seus sucessos (ou relembrar no meu caso, como Chain of Fools e Ain't No Way), porém terá que ter paciência pois o filme é muito mal concebido. Se o espectador for mais casual, se cansará apenas com o tempo de duração exagerado... com tantos cortes e furos, poderia ser um pouco menos.
(22/02/2022 - Youtube Filmes)
Duna: Parte 1
3.8 1,6K Assista AgoraAcho meio difícil começar a falar de Duna sem mencionar a grande esnobada que a Academia (e o BAFTA) deram em Denis Villeneuve este ano. Denis Villeneuve é um dos grandes cineastas desta nova geração, e é só olhar a sua filmografia onde podemos encontrar obras sensacionais onde Denis impõe uma visão contemporânea e única para cada filme que ele constrói... assim foi com "Sicario", com "Os Suspeitos", com o ótimo "O Homem Duplicado", e com "A Chegada", filme que acredito eu, e me corrijam se estiver errado, credenciou Denis para dirigir e impor sua visão de "Duna". Acho que não só "A Chegada" mas diria que Blade Runner 2049também, afinal não é fácil pegar uma obra prima de três décadas atrás e trazer para os dias de hoje e ainda trazer coisas novas e relevantes para o cinema moderno.
Tudo que você vê em Duna, esteticamente, visualmente, artisticamente, conceitualmente, passa pela visão, pelas mãos, pelo faro cinematográfico de Denis Villeneuve. "Duna" é muito rico em seu visual, em sua direção artística, o quão incrível são as naves transportadoras deste filme, o quão bonito esteticamente são os transportes de pequeno porte que remetem a libélulas, ou mosquitos de você preferir, o quão grandioso são os montes e as cidadelas de Arrakis, os grandes e imensos aposentos da família Atreides, ou então as vastas areias de Duna habitadas pelos Vermes, e as cavernas ocultas onde se escondem os Fremen.
Também temos as construções dos figurinos da família real, do predestinado, dos próprios Fremen, das Bene Gesserit, de todos os estrangeiros que aparecem na primeira hora de filme... é de cair o queixo tais vestimentas que são tão únicas, mais únicas ainda que as do universo de Star Wars ou StarTrek, nunca vi nada igual ou parecido, um trabalho totalmente deslumbrante.
Fora que ainda temos uma fotografia lindíssima, exuberante, fotogênica, cuidadosamente dosada, acho difícil perder prêmios nesta temporada de premiações. Só enriquece mais a edição do filme e o quão exuberante e mortal pode ser Arrakis.
Dito tudo isto, este homem que têm todos os méritos de levar "Duna" para as telas, que por mais que a obra original seja de Frank Herbert, a visão de tudo o que complementa o romance, esteticamente e visualmente... SEQUER foi indicado a Melhor Diretor nas principais premiações, a não ser no Globo de Ouro, no Critics e no Sattelite Awards. Um crime absurdo, uma bola fora da Academia, uma gafe que para mim, é pior que de "Crash" vencer Melhor Filme, pior que "O Discurso do Rei", "Guerra ao Terror" e "Green Book" levarem Melhor Filme, pior que o erro de Warren Beaty e Faye Dunaway no Oscar de 2018. Sim meus amigos, a Academia se superou mais uma vez !!!
Gostei do filme, me entreteu, tem boas passagens, ótimas cenas, é SOBERBO o trabalho de Denis Villeneuve, muito bonito de se assistir, uma experiência única, aindamais se eu tivesse assistido no cinema.
Porém... tenho minhas ressalvas...a primeira 1 hora do filme, é parada demais, beira o monótono, pouco acontece, e fica complicado se contextualizar não só com Arrakis, mas com o momento político atual... eu me perdi um pouco nessa apresentação, demorei para me contextualizar, de me encontrar no momento atual do planeta. Os personagens mesmo demoram para se apresentarem, uns são mais fáceis que outros, como foi o caso de Duncan (Jason Momoa, o Aquaman) e Gurney (Josh Brolin, o Cable de Deadpool 2).
Em alguns pontos não nego que chega a ser um pouco arrastado, demorado, lento... para mim o filme engrenou a partir do ataque dos Harkonnen á família Atreides, e ainda assim houve alguns pontos mais lentos, antes de o filme voltar a caminhar.
Algumas pessoas podem achar que é culpa do roteiro, mas pelo contrário, o roteiro não é o problema, é até bem desenvolvido do livro e encaixado... acredito que o ponto principal, que também me atrapalhou, foi o fato de nunca ter lido o livro, afinal meu primeiro contato com "Duna" foi com o filme, e acredito que para quem leu o livro, quem é fã da obra de Frank Herbert, vai se habituar mais com o que é apresentado no longa. A expectativa de conferir em tela o que foi digerido em livro, a expectativa de ver como será construído o mundo que eles imaginavam lendo o romance, para eles a primeira hora do filme (e o filme todo) terá mais impacto, terá mais presença, será uma degustação e um entendimento melhor... do que para alguém como eu e outros que estão tendo seu primeiro contato, e com olhos de cinema ainda, onde a construção é bem diferente de um conto comum, de uma adaptação comum.
Isso pode ter me atrapalhado, e outras pessoas também... mas, preciso ser honesto com o filme, e também comigo mesmo.
Acho que "Duna" vem forte nas premiações, principalmente nas categorias técnicas, seja em Som, Mixagem de Som, Fotografia que está incrível, Figurino que está soberbo, e Design de Produção que é de cair o queixo de belíssimo.
Assim como em Trilha Sonora, onde o trabalho de Hans Zimmer é original demais, como ele compôs algo único para o filme, que conversa com Arrakis, que complementa as areias ardilosas de Duna, que traz todo um contexto para um planeta, uma música que traduz seus costumes, que complementa as cenas de ação e de tensão de uma forma não convencional em filmes de fantasia e ficção científica. Soberbo também o que faz Hans Zimmer e inspirado demais a sua trilha... e mais uma vez nos brindando com algo grandioso, uma composição magistral e se superando obra após obra, década após década.
Meu favorito nas categorias técnicas, além de Denis ser meu favorito como diretor nas premiações que concorre, não acredito que Duna possa levar Melhor Filme em alguma premiação, mas entendo perfeitamente se levar, dado o nível e a destreza que Denis trouxe para "Duna". Não é meu favorito para Melhor Filme, não está em meu Top 3, mas é perfeitamente aceitável se premiarem essa obra magnífica visualmente e tecnicamente.
Sobre o elenco, destaco, claro, Timothèe Chalamet que segura bem as pontas como protagonista, aquele famoso protagonista que é bem igênuo no começo e se tornará aquele líder destemido... já é o que observamos em Paul Atreides.
Rebecca Ferguson eu gostei menos, ótima atriz com certeza, mas muita choradeira no filme, ela melhora mais pro fim do longa.
Quem roubou mesmo a cena para mim foi Stellan Skarsgaard, como Baron... que atuação deste sueco a quem conheci nos Vingadores 1 e já vi tanta obras com o mesmo. Ator que gosto demais, e admiro demais, e aqui fez algo que acredito eu nunca havia feito em sua carreira... e fez incrivelmente bem e com muito talento. Seu personagem é daqueles vilões de você detestar com todas as suas forças, arrogante ao extremo, e dá um gosto enorme de ver Stellan dar vida a alguém que você odeia e se delícia em ver em cena. Obrigado Stellan.
Temos ainda no filme David Dastmalchian (de Homem-Formiga e a Vespa), Sharon Duncan-Brewster que está bem demais no filme, ótima atriz. Oscar Isaac, o futuro Cavaleiro da Lua, Javier Bardem que esá muito bem também como Stilgar, dos Fremen.
Além de Dave Bautista (Guardiões da Galáxia), como vilão clássico e Zendaya (Euphoria) que pouco aparece,somente no ato final.
"Duna" tem 10 indicações ao todo no Critics Awards, Sattelite Awards e no OSCAR 2022.
Além das 11 indicações no BAFTA, todos eles concorrendo em Melhor Filme.
(20/02/2022 - HBO MAX)
Apresentando os Ricardos
3.2 179"Being The Ricardos" é o terceiro trabalho do Roteirista (e agora diretor) Aaron Sorkin na cadeira de direção, sendo que em seu filme de estreia, "A Grande Aposta" a crítica não recebeu seu primeiro trabalho tão bem como o esperado... já em "Os 7 de Chicago", seu filme foi bem melhor avaliado, concorreu ao Oscar de Melhor Filme, e ainda levou o principal prêmio da noite no SAG's.
Já neste longa, Aaron Sorkin ao mesmo tempo que acerta na questão do roteiro e das filmagens, erra um pouco a mão na montagem e na dinâmica do longa, que é protagonizado por Nicole Kidman (Bombshell) e Javier Bardem (Vicky Cristina Barcelona), além de ter o oscarizado J.K Simmons (Whiplash).
Sorkn dirige bem seus atores e atrizes, sabe como destacá-los em cena e em como evidenciá-los em diálogos dramáticos, ou que tenham uma tensão pré discussão. Sorkin também acerta na forma em que transplanta para a tela a forma como "I Love Lucy" era transplantada na CBS no final da década de 50, dando ao filme alguns momentos de ar de série de televisão antiga, com alguns takes específicos em Lucille Ball (Kidman), no casal de protagonistas Vivian (Nina Arianda) e William (Simmons), e nos takes onde Lucille visualisava o episódio que ela gravaria, em cenas preto e branco da época, com enquadramentos da época, que incorporava o cenário e os atores como um todo.
Sorkin também captou bem os momentos de tensão e discussão entre Lucille e seu marido Desi Arnaz (Javier Bardem), e também na cena íntima dos dois no começo do filme.
Onde eu acho que Sorkin errou, talvez na forma onde ele encaixou seu roteiro... tivemos idas e vindas entre presente e passado, para nos mostrar que, enquanto a tensão da notícia de que Lucille seria noticiada como Comunista afetava a construção do episódio da semana seguinte, o elenco de apoio, os produtores e seu casamento com Desi... e, alguns momentos chave ele dava um flashback em como eles se conheceram, como Lucille se sentia em ver Desi apenas de madrugada as escondias mesmo estando casados, como ela levou "My Favourite Husband", sucesso na rádio como novela, para a televisão da CBS com seu marido co-protagonizando com ela...
Essas idas e vindas não definem se um filme é ruim ou não, se será cansativo ou não... mas se mal inserido, como foi aqui, deixa o filme pouco coeso, menos imersivo, mau montado em certas ocasiões.
Acredito que ficamos tão entretidos no que acontece no set filmagens da série, no relacionamento entre Desi e Lucille, nas alfinetadas entre os dois roteiristas da série e no casal de coadjuvantes da mesma, e na tensão da revelação de que Lucy é/nunca foi comunista... que voltar para nos mostrar como sucedeu isso e aquilo deixa o longa descaracterizado... ou você apresenta todo o contexto de uma vez, ou acha uma brecha válida dentro do roteiro para nos contextualizar de uma vez só, do que voltar e voltar e fazer o ritmo de um filme que tinha potencial, cair desnecessariamente.
Na minha mais modesta opinião, Nicole Kidman está ESTUPENDA...
Eu tive pouco contato com a série, um episódio ou outro, desgarrado, aqui e acolá quando passava no Canal 21 há uns 16 anos atrás, e por mais que me lembre pouco dos episódios, lembro muito bem da protagonista Lucy e da música icônica de abertura.
Dito isto, afirmo que Nicole Kidman fez um trabalho sensacional para interpretar Lucille Ball em suas duas vertentes. Mesmo não tendo conhecimento de Lucille na vida real, acho que Nicole fez uma ótima leitura da atriz como esposa de Desi e como uma pseudo-showrunner do show, como mostrado em suas cenas de discussão como o showrruner da série Jess Oppenheimer (Tony Hale), e como a personagem Lucy, tanto no show, como na pequena cena da rádio novela "My Favourite Husband", que deveria ter um pouco mais de destaque no longa, um erro no roteiro de Sorkin.
Nicole foi justamente indicada ao Oscar de Melhor Atriz, assim como no SAG's no Critics Awards, no Satellite Awards, e já tendo ganho o Globo de Ouro de Melhor Atriz em filme dramático. Faltando conferir pouco trabalhos na categoria, Nicole se torna minha favorita por enquanto de longe em todas as premiações.
Javier Bardem também está magnífico na pele de Desi, ele interpreta com graça, tem veia dramática absurda nas cenas com Nicole, é canastrão com ênfase em cenas com Tony Hale, sem falar que canta, dança em números de canções latinas como "Cuban Pete", que para quem é fã "O Máskara" irá lembrar de primeira.
Está indicado ao Oscar e ao SAG's de Melhor Ator, tendo já perdido o Globo de Ouro para Will Smith.
Já J.K. Simmons que faz William, um dos coadjuvantes na série, está bem no filme também, tendo um certo destaque em algumas cenas com Nicole Kidman... ele está indicado a Ator Coadjuvante no Oscar, no Critics Awards e no Satellite Awards.
Não acho que era uma atuação tão merecedora de indicação... eu amo o J.K. Simmons e nem vou citar aqui suas virtudes, mas nesse trabalho em específico, ele faz o que sabe fazer de melhor como coadjuvante, e ao meu ver não era para tanto até a indicação no Oscar, visto que seu personagem tem alguns destaques, mas são esporádicos, apenas para tranquilizar a protagonista, nada que seja de relevância. Bom, minha visão é claro.
Outros atores de destaque no filme foram o já conhecido Clark Gregg (Agents of Shield), Nina Arianda, Alia Shawkat e Jake Lacy.
O filme está indicado ainda em outra categorias, como Trilha Sonora no BAFTA, Roteiro Original no BAFTA, no Globo (onde perdeu), no Critcs Awards e no Sindicato dos Escritores, e ainda Melhor Filme no Sindicato de Produtores.
Mesmo tendo uma carreira gloriosa como Roteirista, tendo trabalhos épicos como Questão de Honra (filmaço de 92), Meu Querido Presidente (95) e A Rede Social (outro bom filme), Sorkin ainda não decolou como diretor, e aqui em "Being The Ricardos" ele faz novamente um trabalho bom com o roteiro, mas erra em brecar o ritmo de seu filme junto ao seu editor chefe Alan Baumgartner.
O filme tem esses pequenos empecilhos, mas acerta em cheio nas atuações de Bardem e principalmente na de Nicole Kidman que é praticamente a alma do filme.
E o fato curioso de tudo, é que "I Love Lucy" um fenômeno da TV americana que praticamente parou a América nas noites de segunda-feira, só existiu para que Lucille passasse mais tempo perto de seu marido Desi. A vida pode ser ás vezes muita engraçada, ou cruel ao mesmo tempo.
(19/02/2022)
O Beco do Pesadelo
3.5 496 Assista AgoraQuem conhece o trabalho de Guillermo Del Toro sabe bem que as fábulas são seu ponto forte, é a principal assinatura que o mexicano deixou para o cinema. Só dar uma bela olhada nos seus filmes mais relevantes, como os Oscarizados "O Labirinto do Faúno" que mais que uma fábula, é um thriller misturado com terror, suspense, e na minha mais modesta opinião o melhor trabalho de Del Toro até hoje... e "A Forma da Água", seu filme mais premiado, que é ao mesmo tempo uma fábula, um conto de amor, uma novela, algo soberbo de alma e paixão.
Há também os dois "Hellboy" que tem a clássica assinatura de Del toro, baseados na HQ, e "A Colina Escarlate", que é um pouco abaixo dos dois Oscarizados, mas traz elementos de ambos, mais puxado para o suspense e o thriller.
Uma das poucas obras de Del Toro que sai da área das fábulas e fantasia são "Pacific Rim", uma homenagem á cultura japonesa que abrange kaijus, tokusatsus, mangás futuristas apocalípticos, e é um filme bem honesto, apesar de ter uma construção dos personagens humanos bem piegas... e "Mama" filme bem mais ou menos de terror da escola Jump Scare que o mesmo produziu.
Pra que citar tudo isso? Apenas para contextualizar que tudo dito acima, foi mastigado, digerido e expelido em "O Beco do Pesadelo"... Del Toro utilizou da sua experiência e conhecimento de todas estas obras em que pôs a mão, para criar uma versão mais sagaz, mais voraz, mais soturna de "O Beco das Almas Perdidas", longa original da qual Del toro fez esta releitura indicada a Melhor Filme no Oscar e no Critics Awards.
O filme tem dois atos, um que é certeiro, prende o espectador na tela e tem um ritmo tão dinâmico e centrado que é prazeroso demais acompanhar e nos apresenta personagens coadjuvantes mais que carismáticos. O outro ato é mais submerso em detalhes e diálogos, sai do ritmo que se propôs, não chega a ser tão imersivo quanto o primeiro ato, abre mão dos personagens carismáticos e traz todo um núcleo novo onde só se salva Cate Blanchett como a Dra. Lilith Ritter, já que os demais não carregam um carisma consigo.
O primeiro ato que se passa no Circo de Clem (Willem Dafoe) é de encher os olhos, não só com com o elenco coadjuvante, mas com um ritmo gostoso, cenas acachapantes, uma direção de arte magnífica, uma fotografia imersiva e cuidadosa, figurinos tão bem construídos na mais singela simplicidade. O próprio Willem Dafoe apresenta aquela performance que só ele mesmo consegue entregar, de encher os olhos.
Nesse ato também se destaca muito é David Strathairn (Nomadland) como Pete Krumbein, de quem Stan Carlisle (Bradley Cooper de Guardiões da Galáxia) aprende o principal truque que o fará mudar de patamar na vida. David interpreta muito bem, faz uma mistura legal de charlatão com paspalhão de uma forma única, e poderia ter mais tempo de tela com sua esposa Zeena, interpretada pela maravilhosa e talentosa Toni Collette (Hereditário). Só os dois em cena já são um colírio pro cinéfilo.
Ao passar para o segundo ato, temos mais tempo de tela para Rooney Mara (de A Rede Social), que foge com Stan do circo para viver com ele fazendo o truque que ele aprendeu com o caderno de Pete. Interpretando Molly, Rooney Mara tem mais a mostrar no segundo ato que no primeiro, onde tem cenas isoladas aqui e acolá, mas é neste ato final onde ela é um pouco mais exigida, mesmo sem muito brilho.
Como este ato sai do circo e nos imerge na nova realidade do casal Stanton e Molly, o filme perde totalmente seu ritmo, entra num embate piscológico entre Stan e Lillith e deixa para o coadjuvantismo o golpe no Juíz Kinball (Peter Macneill) e em Ezra Grindle (Richard Jenkins de As Loucuras de Dick e Jane).
A relação de Stanton com os dois velhos que ele irá dar o golpe não se aprofunda demais, talvez mais com Ezra, mas não há tempo o suficiente para nos afeiçoarmos aos dois personagens, Ezra foi o que mais teve desenvolvimento, mas podria ter focado somente nele, ou ter dado mais ênfase em seu personagem para termos aquela faceta ameaçadora que ele promete durante o segundo ato do filme. Acho que se Del toro focasse mais nele e ficasse apenas brevemente com Kinball renderia mais a história.
Mas essa mudança radical de atos, do escrachado e cômico romântico do primeiro ato, com o protagonista misterioso... para um segundo ato mais metido, psicológico, um suspense amálgamado com thriller, inspirado brevemente em "A Colina Escarlate", pode cansar o público que já havia sido ganho com o ritmo estabelecido no primeiro ato, e vê as coisas aos poucos mudarem de tom no segundo tom... é como se você assistisse dois filmes em um só... ou uma minissérie com dois episódios, cada um dirigido por um diretor diferente.
Não digo que Del Toro não acertou, muito pelo contrário, ele fez um ótimo filme que justíssimamente está indicado ao Oscar de Melhor Filme... mas faltou acertar a mão no ritmo ao mudar de ato, que claramente incomoda o público mais casual e chama a atenção até do cinéfilo que está acostumado com esse tipo de virada no roteiro.
Bradley Cooper fez um trabalho ótimo na pele de Stanton Carlisle, um papel que originalmente estava destinado a Leonardo DiCaprio, não tenho o que reclamar do trabalho dele, sempre muito competente, e sua cena final no longa é de prender a atenção na tela. Porém, eu achei que faltou um 'Q' a mais na atuação de Bradley para que ele obtivesse uma lembrança em qualquer premiação nesta temporada.
O personagem Stanton Carlisle é sensacional, tantas nuances para se trabalhar com o personagem, tantas camadas para se trabalhar... Bradley aproveitou todo esses escopos para trazer a vida um Stanton incrível que vimos em tela, mas... como já disse...faltou aquele ímpeto a mais...não explicar exatamente, só quem assistiu o filme e concorda com minha opinião vai entender um pouco... afinal é um personagem que rende indicação para qualquer ator que o interprete com inspiração. Não faltou ao Bradley, mas faltou um tempero a mais... enfim.
Já Cate Blanchett foi um colírio... Atriz com A maiúsculo, nada que esta mulher faça fica ruim, ou abaixo do que ela pode entregar...afinal de contas estamos falando da mulher que foi a rainha Elizabeth I, fez Senhor do Anéis, foi Katherine Hepburn que lhe rendeu um Oscar, foi a namorada de Benjamin Button, foi Blue Jasmine que lhe rendeu outro Oscar, foi a madastra má da Cinderela, foi Brie Evantee no fim do mundo, foi Hela, foi Bob Dylan... ufa...agora, não satisfeita foi a Dra. Lilith Ritter... indicada a Atriz Coadjuvante esse ano no Sag Awards...sem mais!!!
O Beco do Pesadelo é uma obra incrível de Del Toro, envolvente, atraente, sagaz, ágil, prende a atenção, um suspense de tirar o fôlego em sua parte final, uma thriller, uma novela, um romance, uma ótima película... que apenas pecou no ritmo do segundo ato, ato este que é muito bom, bem feito e construído... mas se arrasta um pouco até chegar em seu clímax verdade seja dita.
Ao todo, possui 4 indicações ao Oscar, três delas técnicas, Direção de Arte, Figurino e Fotografia, fora indicações no BAFTA também... mas dificilmente arrebatará um prêmio, ao menos em minha visão.
(16/02/2022 - Kinoplex Itaim)
Bar Doce Lar
3.5 132 Assista AgoraDa última vez que acompanhei um longa dirigido por George Clooney, "O Céu da Meia Noite", em que o mesmo protagonizava, não fiquei animado com o que presenciei em tela em termos de roteiro e personagens, porém gostei muito do filme tecnicamente. O filme levou algumas indicações, mais técnicas no caso, o que ajudou a promover um pouco do filme para quem não conhecia, como eu.
Em "The Tender Bar" (Odeio o título nacional), temos um mais do mesmo de George Clooney, em minha mais modesta opinião, que é um filme que não surpreende e nos ganha em termos de roteiro e ritmo, mas que tecnicamente salta aos olhos em diversos momentos.
Se antes George Clooney tentou fazer uma ficção científica futurística, meio apocalíptica, desta vez ele focou em um roteiro mais humano, onde as relações falariam mais alto... uma auto biografia de onde ele poderia brincar mais com seus personagens afim de tirar o melhor de cada um e de suas relações de troca sobre a vida e como ser um homem.
Baseado na biografia de J.R Moehringer, e com roteiro de William Monahan, "The Tender Bar" nos promete em seu enredo que JR cresce na pequena Long Island junto de sua mãe divorciada, na casa de seu avô e de seu tio Charlie (Ben Affleck). Com seu pai sempre ausente, que não liga muito para o menino, JR passa a frequentar o bar que Charlie tem e uma vez lá ouve e aprende em como ser um homem e como deve viver ao crescer, de seu Tio Charlie e também dos amigos de seu Tio que frequentam o bar. Tendo uma vasta coleção de livros que seu tio possui, ele meio que decide ser escritor e atentamente guarda as histórias que ouve para si. Quando cresce, consegue uma vaga para a faculdade de Yale, onde pretende se formar para ser advogado, que é um sonho de sua mãe.
Porém em tela não vemos nem 1/3 do que a sinopse entrega, na verdade vemos JR sim conversando com alguns residentes do bar, mas isso aparece pouquíssimo em tela, não trazendo tanta relevância assim para a história, coisa que deveria ter.
Temos a primeira parte do filme com JR criança, interpretado pelo ótimo Daniel Ranieri, e na segunda metade com JR já adolescente/adulto, interpretado por Tye Sheridan (X-Men Fênix Negra). A primeira parte do filme é boa, começamos a nos situar no longa, na vida JR e nos ensinamentos de Charlie, temos uma troca legal e as cenas se desenvolvem bem, porém ao chegarmos na segunda metade do longa, ele se perde completamente, quando Tye Sheridan assume o protagonismo.
Não há um desenvolvimento no filme, não há ritmo, tudo é meio parado e não se desenrola para nada objetivo, assim como não há empatia pelos personagens... há um começo de apresentação onde começamos a conhecê-los para começarmos a desenvolver uma possível empatia pelos personagens apresentados, mas os mesmos não se desenvolvem, o roteiro não vai adiante, e não nos apegamos a ninguém, e todos ficam meio rasos em suas apresentações e possíveis desenvolvimentos, que é bem nulo nesse filme.
Faltou objetividade ao filme de Clooney, e ao roteiro também, faltou ritmo porque chega a ser chato em alguns momentos acompanhar sempre as mesmas passagens, faltou personalidade ao longa, que não se mostra ao que veio, não cresce em suas relações e não desenvolve seus personagens, não nos ganha, não emociona, não nos ensina absolutamente nada (pelo menos nada que já não saibamos).
JR quer ser escritor mas não vemos no filme um movimento dele coeso onde busque isso, nem na faculdade, nem no bar... nós vemos um lampejo, uma chama, não devo negar, mas não se desenvolve para algo mais. Há algumas passagens desnecessárias quando ele está no The New York Times, com duas cenas muito parecidas ao sair da sala do editor chefe... sem falar em sua incessante e xarope procura por Shelby (Brianna Middleton), sério, no começo é bem interessante, principalmente quando ele toma café da manhã com os pais dela, depois fica chato, piegas, repetitivo, fica idiota, uma obsessão em ter essa garota que já deu um pé na bunda dele umas, sei lá, trocentas vezes.
Enfim... Ben Affleck está bem no filme, não compromete não, já é um baita ator que sabe muito bem o que fazer com um bom papel em mãos... levou duas indicações a Ator Coadjuvante, um no Globo onde perdeu, e outro no SAG's Awards, onde também deve perder para Kodi Smith-McPhee. Se é merecido essas indicações, não sei, não vem ao caso, o que vem ao caso é que ele não tem a menor chance, só vale a lembrança para tentar promover um pouco o filme.
Daniel Ranieri faz o JR criança e é uma baita surpresa, o menino é um bom ator e tem muito futuro, e gostei muito dele contracenando com Ben Affleck, com Lily Rabe (The Underground Railroad) que fez sua mãe e Max Martini (Doom Patrol) que esteve ótimo no papel de seu pai, muito bom ator.
Já Tye Sheridan que fez JR na faculdade e início de vida adulta, também faz um bom trabalho e não compromete, ele é um bom ator e gosto muito dele, o elenco do filme manda muito bem, é o que te segura em um filme sem muita alma.
Christopher Lloyd, o eterno Doc Emmet Brown, faz o avô de JR, porém tem apenas uma cena de destaque no filme e é mero coadjuvante no longa, sendo a ficar esquecido no decorrer do filme.
Destaco também Brianna Middleton que faz Shelby, sua 'namorada' no filme, ela é uma ótima atriz e gostei muito dela em cena com Tye.
Tecnicamente, o filme tem cores bem vivas, uma cenografia bem montada e inspirada, uma vez que o longa se passa na década de 70 e 80, e uma direção de arte que salta bem aos olhos. É muito bem montado o filme e visualmente dá graça em vê-lo.
A fotografia também se sobressai, mais na primeira parte do filme na infância de JR, perdendo um pouco do brilho e concepção da segunda metade em diante.
Já a trilha sonora é ótima do começo ao fim, uma das poucas coisas boas do filme.
"The Tender Bar" é mais uma tentativa de Clooney na direção, acredito que é sua quinta tentativa, me corrijam se eu estiver errado, sendo a segunda que eu acompanho dele... não está me convencendo muito, deixou a desejar aqui, como deixou a desejar em 'O Céu da Meia Noite'. Não falha em dirigir os atores, principalmente os mirins, mas não está recebendo roteiros inspirados em mãos, e também não consegue desenvolvê-los quando dirige. O filme fica muito efadonho e muita gente pode largá-lo na metade ou irá terminá-lo a contra gosto e dizer que perdeu boas horas de sua vida vendo algo chato e desinteressante.
Eu não quero dizer que o filme é chato, mas não me prendeu e me efadonhou em alguns momentos... então devo dizer, é bem chatinho. Não gostei não.
(15/02/2022 - Amazon Prime)
Homem-Aranha: Longe de Casa
3.6 1,3K Assista AgoraÉ um consenso que o Peter Parker/Homem-Aranha do MCU é bem diferente do Peter que conhecemos dos quadrinhos, afinal no MCU em nenhum momento é mencionado o Tio Ben, a May é mais jovem que o comum, e os próprios amigos do Peter são diferentes do que nos quadrinhos... começando por Ned (Jacob Batalon) que nos quadrinhos é Ned Leeds, somente o Duende Macabro em pessoa, e logo depois MJ (Zendaya) que não é a MJ que nós conhecemos, e sim, Michelle Jameson, a MJ do Peter do MCU.
Dito isto, para mim como fã da Marvel, o mais legal de acompanhar este universo cinematográfico, é justamente o fato de ser mais um multiverso estabelecido dos quadrinhos. Se nos quadrinhos o universo principal é o 616, este que não sei qual sua alcunha, é mais um multiverso dentre tantos outros que existem e já foram apresentados, como o Ultimate, a Contra-Terra, o Universo 2099, e inúmeros já mostrados nas HQ's dos 'Exilados'.
Por isso que pra mim é mais fácil me afeiçoar com o Peter de Tom Holland, que faz um ótimo trabalho como Homem-Aranha ao meu ver, mas não nego que seu Peter Parker é bem único e divergente do comum, muito próximo do que foi mostrado nos desenhos, como em 'Spectacular Spider-Man', um dos melhores desenhos do cabeça de teia. O que gera o desafeto de boa parte dos fãs do teioso pelo fato de ele ser muito dependente de figuras paternas, do uniforme tecnológico e não sofrer tanto assim no colégio.
Já este filme foi muito massacrado pelos fãs, muitos o acharam mais fraco, menos interessante, ainda desgostosos dos roteiristas fazerem o Peter ainda se ressentir a perda de Tony Stark, e muito da presença dele dita o ritmo do filme e os atos de Peter.
E eu confesso que aqui eles pesaram a mão nesse quesito, pois Peter parece nunca resolver seus problemas sozinhos, como foi nos quadrinhos, sempre tem alguém para ou ajudá-lo, ou guiá-lo, ou orientá-lo, e neste filme temos três figuras que fazem esse papel.
Mysterio (Jake Gyllenhaal) no começo do filme faz mais esse papel de guiá-lo em suas ações, claro com segundas intenções por trás, mas serve como uma espécie de guru para Peter... antes de se tornar o vilãozão mesmo do filme.
Nick Fury (Samuel L. Jackson) que requisita ajuda de Peter para deter os Elementais, ilusões criadas por Quentin Beck (Gyllenhaal) e que mesmo sem ter muita paciência em lidar com Peter, acaba o orientando e tentando tirar o melhor do cabeça de teia, o super-herói que Tony enxergou nele e que o confiou a Fury... ou seja, mais uma figura teoricamente paterna na vida de Peter, mesmo nó sabendo que não era o Fury afinal.
Por fim, Happy Hogan (Jon Favreau), menos do que um coadjuvante nos quadrinhos, aqui virou figura principal na vida de Peter depois da morte de Tony. Happy praticamente adotou Peter e o vê como seu novo protegido, assim como era com Tony, e ele o ajuda em sua missão de lidar com Mysterio, fornecendo a tecnologia necessária para aprimorar seu uniforme e deter Beck em solo Inglês.
Não é dos melhores filmes do Homem-Aranha, mas remete muito aos quadrinhos, principalmente as cenas de luta contra Mysterio e quando lida com Fury e Maria Hill (Cobie Smulders) que aqui aparece só para repetir a parceria com Fury, os roteiristas acabaram não focando muito em fazê-la ser mais relevante no filme.
Toda aquela viagem que Peter e seus amigos fazem com os professores, parece mais tirado de um desenho animado do próprio Aranha, e funcionaria melhor assim, e talvez tenha sido a parte que os fãs menos gostaram, junto com o Óculos destruidor de Tony que está em posse de Peter, e ele usa para acertar o garoto que tenta pegar MJ durante a viagem.
Bom mesmo é do meio para o final, quando Mysterio se revela o vilão mesmo do filme e afasta aquela ideia ridícula de que ele viria de um universo alternativo.
No final, temos a aparição de J.J.Jameson, com o retorno de J.K Simmons ao papel, em um Clarim Diário renovado, a revelação da identidade de Peter, um fato inusitado que nem eu esperava quando assisti no Cinema... e logo depois na cena pós créditos, a revelação que Fury e Maria Hill eram Skrulls disfarçados, sendo que Fury estava no espaço ajudando os Skrulls, e que o Fury da terra era na verdade Talos (Ben Mendehlson) que apareceu em 'Capitã Marvel'.
Jon Watts, diretor do filme, ainda fez uma brincadeirinha com o possível Four Freedoms Plaza, casa do Quarteto Fantástico, uma vez que o próprio filme da primeira família da Marvel terá direção dele. E, diferentemente da opinião pública e de alguns críticos, eu gosto muito da direção de Jon Watts, mesmo sendo limitado em alguns poucos aspectos, acho que nas cenas de batalha e luta contra Mysterio e os Elementais ele fez um ótimo trabalho. Que sequência foi aquela na luta espelhada entre Peter e Mysterio? Muito bem feito e dirigido. Comigo Jon tem crédito sim, me desculpem os haters.
Apenas um filme de transição da fase 3 para a fase 4 do MCU, Homem-Aranha: Longe de Casa está aí para apenas divertir mesmo, ser um bom entretenimento, um bom filme do Aranha que tenta ser mais leve mas sofre com o peso da responsabilidade de ser o super-herói que ele reluta ás vezes em ser. Tem mais pontos positivos que negativos pra mim, mas dos três de Tom Holland, é o que menos agrada, apesar de fazer a ponte para os eventos que virão a seguir na vida de Peter.
(Visto no cinema 06/07/2019)
(12/02/2022)