Esse é o típico filme que integra e compreende a escola britânica de cinema, assim como a forma que é dirigido e como é transplantado para a tela. Dá até pra confundi-lo com um telefilme, que é algo muito comum na Grã-Bretanha, e pra quem costuma assistir/consumir filmes britânicos, assim que o filme começa, nos seus 15 primeiros segundos já dá pra cravar... "esse filme é britânico".
Estrelado pela ótima atriz Leslie Manville, que faz a protagonista Ada Harris, 'Sra. Harris Vai à Paris' é um longa que faz um afago no ego britânico, ao mesmo tempo que é um longa que traz aquele calor no coração de quem assiste, com uma história estilo conto de fadas, onde o acaso trabalhará para no final tudo dar certo, e todos serem felizes para sempre. Isso vai ser motivo de críticas negativas de muita gente, que sempre espera por um filme com o famoso 'plot twist' no final, mas a verdade é que 'Sra Harris Vai à Paris' nada mais é que o cinema em sua mais pura forma, e que nunca deixará de envelhecer... histórias mais descompromissadas para entreter o público por 2 horas, com uma magia que só o cinema pode proporcionar.
Ada Harris é uma viúva de um combatente da segunda mundial, e vivendo na década de 50 na Inglaterra, trabalhando como empregada doméstica, vê um vestido de da Dior, famosa grife de roupas femininas, no guarda-roupas de sua patroa. Maravilhada, ela começa a juntar as moedas para comprar o caro vestido que custa em torno de 500 euros, porém sua situação financeira não lha é tão favorável assim. Depois que descobre que o marido morto na guerra tem uma pensão recheada destinada a ela, ela viaja até Paris para comprar seu vestido, e enfrenta inúmeros contra-tempos, ao mesmo tempo que faz novos e maravilhosos amigos que lhe ajudam a realizar o seu sonho.
É um filme gostoso, tem um tom bem leve com interpretações bem competentes e personagens muito carismáticos, mesmo a severa Claudine Colbert, interpretada por Isabelle Huppert (de EO), e acho que isso é um dos grandes trunfos do filme, pois você fica muito imerso no que está acontecendo, envolvido na busca de Ada pelo vestido Dior, e interessado no que os demais personagens coadjuvantes pensam e como agem. Dirigido, Roteirizado e Produzido por Anthony Fabian, em seu primeiro longa, e já muito bem sucedido pois faturou mais de 10 Milhões de Dólares nos Estados Unidos, e que teve ainda a protagonista Lesley Manville na Produção Executiva.
Possui uma trilha sonora fantástica, riquíssima com temas da época e que segue de mãos dadas com as cenas e com as motivações de Ada. Sem esta trilha, o filme não seria a mesma coisa, ele dita o tom do longa, e chega a ser um personagem a parte do filme, de tão bem inserido e composto como foi no e para o longa. Além dele, temos o grande figurino do filme que é milimetricamente construído para remeter os vestidos da marca do já saudoso Christian Dior, vestidos belíssimos diga-se de passagem, assim como os demais figurinos do longa, que são muito bem costurados e construídos para enaltecer a persona de Ada e de outros personagens do filme como o Marquês de Chassagne, André Fauvel e Natasha.
Falando no restante do elenco, Alba Baptista (atual namorada de Chris Evans), lindíssima e talentosa, interpreta Natasha e está bem no filme, nada demais que chame a atenção, mas com o básico que lhe é entregue em roteiro, ela faz bem e faz de maneira competente. Lucas Bravo faz André, interesse romântico de Natasha e brilha em seu discurso ao falar com Christian Dior e os demais funcionários da Dior. A já citada Isabelle Huppert que está ótima no filme, atriz completíssima, e ainda cito Jason Isaacs como Archie que traz um charme na medida para seu personagem.
Felix Wiedemann foi o profissional responsável pela cinematografia do filme, e há algumas cenas com tomadas belíssimas de Paris ao entardecer, ou mesmo de manhã, agumas passagens à noite e em locais mais fechados como os becos que levam até o prédio da Dior ou a casa de Claudine Colbert. Cinematografia competente e que embeleza as cenas.
Na temporada de premiações de 2023, foi indicado a Melhor Figurino no Oscar, no BAFTA e no British Independent Awards, perdendo para 'Pantera Negra Wakanda Forever', 'Elvis' e 'Femme' respectivamente. Já Leslie Manville foi indicada a Melhor Atriz Comédia/Musical no Globo de Ouro, mas perdeu para Michelle Yeoh e sua perfeita performance em 'Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo'.
'Sra. Harris Vai à Paris' é um deleite para quem quer se entreter numa tarde qualquer de meio de semana, um filme gostoso de se acompanhar, com personagens cativantes e uma trilha sonora que caminha de mãos dadas com as cenas. É descompromissado, vai direto ao ponto, traz alguns temas á tona, como a greve de lixeiros de Paris, 'o empregado é o dono', Slogan da época que deixava claro a atual situação empregatícia na França, e as pequenas diferenças sociais da classe trabalhadora francesa e inglesa. Tudo isso dentro de uma pequena fábula de Ada Harris, personagem que foi criada por Paul Gallico, escritor americano que criou uma série de livros que trazia Ada Harris como protagonista.
Ah Scorsese, mais conhecido pela alcunha dada por mim mesmo como: "O Rei das Obras-Primas". "O Rei da Comédia", "Taxi Driver", "Os Bons Companheiros", "Cassino", nem vou citar mais, são tantos, e pra mim, não tem nada mais gratificante em ver este gênio, nos altos de seus 81 anos, com saúde, e 100% ativo, nos brindando com mais um grande filme.
Baseado na obra de David Grann lançada em 2017, acerca dos assassinatos misteriosos que aconteciam em Oklahoma, contra a tribo Osage na década de 1920, Scorsese co-escreveu o roteiro junto a Eric Roth (de O Curioso Caso de Benjamin Button). Dirigiu e Produziu o longa que foi comprado pela Apple TV, que vem dando um show no mundo cinematográfico, tanto nas telonas, quanto com as séries, sempre uma grande produção atrás da outra, hoje em minha mais modesta opinião, a Apple TV supera a Netflix no quesito produções de Streaming e tem entregado uma gama muito maior e mais interessante de filmes e séries. O lance é que aqui no Brasil não se gosta de produções, gostam apenas de ser entretidos e assim, ficam apenas naquela que é a mais acessível, Netflix, sendo que na Apple TV temos produções absurdamentes riquíssimas em qualidade e histórias.. Enfim.
"Killers of The Flower Moon" foi filmado em 2021 e tem um amplo estudo de Martin Scorsese da tribo 'Osage', uma vez que Scorsese conversou com líderes da tribo, convencendo-os a colaborar no quesito conhecimento histórico, para deixar o filme mais visceral, representar o povo 'Osage' da maneira que devem ser representados. Obviamente baseado em fatos reais que levaram ao envolvimento à época de J. Edgar Hoover, do então recém criado FBI (Federal Bureau Investigation), Scorsese trata de retratar as hostilidades que o povo 'Osage' sofreu do resto dos Norte-americanos, que se diziam do bem, ao descobrirem que as terras tribais possuíam Petróleo, fazendo com que sua famosa ganância pelo poder e dinheiro, levassem indivíduos pontuais a exterminar semana apo´s semana pessoas chaves da comunidade 'Osage' visando se apossar de tais terras.
Scorsese é um gênio na arte da direção e na forma como se conta uma história, e aqui não seria diferente, com suas câmeras captando bem as diferentes nuances e expressões dos atores do núcleo 'Osage', nos deixando claro a cada frame e cena, o que pensam, o que sentem, como estão lidando com tais fatos, o terror em seus rostos, as alegrias nos dias mais calmos e por aí vai. Assim como também foca muito em seus protagonistas, mas aqui de uma forma levemente diferente... há um enfoque maior quando estão em conjunto em cena, pois a forma como ele pega Di Caprio e Gladstone, em suas cenas, juntos, como ele destaca-os mais próximos á lente da câmera, suas feições, o enfoque na falas, em como eles se dialogam com os olhares, com as expressões, com a resposta facial ao diálogo em questão... faz com que nós fiquemos cada vez mais íntimos dos personagens, do que querem, do que sentem, do que almejam, do que temem... mais uma vez Scorsese procurando novas formas de nos conectarmos aos personagens, e novas formas de fazê-los se expressar perante a lente e nos entregar mais imersividade ao conto que estamos presenciando. Afinal, são novamente 3h25 minutos de um longa de Scorsese, onde ele minimamente tem que arranjar novos meios de nos fazer ficarmos presos á tela, além do roteiro em si e dos atores/personagens apresentados. Se entregar mais do mesmo, tende a ficar maçante para o espectador acompanhar algo semelhante ao que ele vem fazendo à décadas, deixando a experiência cansativa e enjoativa... coisa que neste filme, não acontece, passa longe por sinal.
A cinematografia de Rodrigo Prieto (que também trabalhou em Barbie), é outro ponto alto e de se congratular, pois temos tomadas riquíssimas de paisagens e enquadramentos belíssimos dos locais filmados no condado de Osage e Washington. Os mais belos que pude presenciar no filme vieram do condado de Osage mesmo, mais interiorano, os da primeira hora do filme... Prieto se superou ao encontrar e construir esses enquadramentos perfeitos, com as luzes naturais certeiras para engrandecer as cenas externas.
Leonardo DiCaprio que faz o frouxo Ernest Burkhart, está mais uma vez se superando em suas atuações, pois aqui ele compõe bem toda a estrutura do personagem, transparecendo sua personalidade e suas inseguranças para os trejeitos e modos de Ernest. Na primeira hora seu personagem, diga-se de passagem é um poço de carisma, graças ao talento e experiência de DiCaprio em construir personagens do zero, e conforme o filme avança, vemos uma desconstrução no carisma desse personagem, que vai entrando em uma espiral de decadência e escuridão, que DiCaprio perfeitamente vai nos entregando em tela, vemos Ernest cair em desgraça lentamente, cena por cena, minuto a minuto, e o seu carisma se transforma em repulsa, e essa repulsa está incrivelmente presente em seus trejeitos e na forma como ele se expressa em tela e com os outros personagens do longa. Eu tinha visto um crítico falar mais ou menos mal deste personagem de DiCaprio, por ele ser um completo idiota (e é mesmo), mas infelizmente esse crítico não conseguiu enxergar por debaixo da carcaça de Ernest, o idiota, onde temos a incrível atuação, entrega e transformação de DiCaprio que deixou o personagem rico e completo no longa, uma experiência deliciosa de ser conferida. Porém, é como eu disse mais acima, Ernest é um frouxo, um idiota, um cagão, um bunda suja, um mala sem alça, um completo boçal, um ridículo, um moleque, um Zé ninguém, um João sem braço, sequer dá para chamá-lo de Homem. Como eu torci para ele se F&¨%$# no final, para se dar mal, para acontecer o de pior com ele, ou se fazer a justiça, que acabou sendo leve pra ele, dado o seu final e o final de Mollie. FROUXO.
Já Lily Gladstone não está colecionando indicações e prêmios à toa nas premiações que já aconteceram neste mês de Dezembro, pois ela tem uma das melhores atuações do longa, se não a melhor, com sua Molly Eckhart se apresentando uma mulher mais misteriosa, que nunca se revelam totalmente, afinal as mulheres adoram um mistério, e debaixo daquela pompa toda dela, que ela apresenta e entrega no começo do filme, aos poucos ela vai se abrindo para Ernest, deixando ele entrar, se entregando mais a ele, pelo seu jeito cafajeste, e pelos seus olhos chamativos, até se entregar totalmente ao Homem. Mas a criação de Lily para a personagem, a forma como ela olha, como fala, como responde a certos diálogos com olhares, como ela vai se retrabalhando quando deixa de ter aquele ar superior que sabe o que quer para si, e vai se entregando aos poucos para Ernest... Lily foi muito bem em toda essa criação/atuação, é praticamente impossível você não se afeiçoar e não torcer por Molly no longa, de não querer o melhor para ela. Fica uma impressão que quando chega nas partes que Molly está enferma, pelas injeções que Ernest lhe dá, ela pode fixar uma pouco mais limitada em sua atuação, mas na verdade é o contrário, ela tem total controle da personagem quando atua de de uma forma dopada, os olhos que explanam sua dor, sua confusão com o que lhe está acontecendo, a forma como tenta se conectar com o mundo fora de sua cama, e principalmente em como ela se encontra novamente, quando volta a ficar em si, se recuperando de sua condição dopada, e os olhares certeiros e verdadeiros para Ernest na meia hora final do longa. Lily está grandiosíssima no longa e merece demais as indicações que vem recebendo como Melhor Atriz, tendo ganhado algumas premiações que já aconteceram, aquelas menos badaladas, mais setoriais, que lhe dão cada vez mais força para quando vier as de peso, as mais badaladas, como o Globo, o Critics, BAFTA, SAG´s, Satelitte e Oscar.
Robert De Niro mais uma vez entrega aquela canastrice que já conhecemos de inúmeros filmes onde ele faz uma espécie de Antagonista... afinal, por mais que aqui ele tenha esses ares de vilão, está apenas protegendo e buscando o que ele acha que é seu, por direito, por mais que achemos errado, em sua cabeça, ele acha que está correto, que está com a razão, age por essas diretrizes, e faz o que sabe fazer de melhor... entrega um personagem que soa nada mais nada menos que desprezível para quem acompanha, e para os demais personagens que são afetados por ele no longa. Ou seja, somente alguém do tamanho de De Niro para entregar uma atuação digna dessa forma, e construir uma persona para alguém tão fácil de se ler, mas tão complexo de se mostrar. William Hale é tudo aquilo que nós detestaremos no longa, alguém que iremos torcer para cair, cair feio quando a hora chegar... e é claro que a vida real segue por caminhos que ás vezes não conseguimos compreender, mas aqui, neste caso cinematográfico, o prazeroso é ver como De Niro vai criando as camadas que transformam William em alguém quase intocável, influente, poderoso, sabe exatamente o que faz, como faz, e como sair de cena quando preciso. Um deleite para o espectador.
O elenco ainda conta com o Oscarizado Brendan Fraser (A Baleia) fazendo o advogado de William Hale , W.S Hamilton, que aparece mais no final do filme, sem tanto destaque, mas trazendo aquela imponência quando declama suas falas, e expressa seus trejeitos. Temos também o ótimo Jesse Plemons (Breaking Bad) como o agente do FBI, Thomas Bruce White, que chega no ato final do longa, aparecendo em momentos chave para denunciar William Hale, e tentando de todas as maneiras trazer para seu lado Ernest, que reluta muito as investidas do agente White... como é um personagem mais direto, sem muito desenvolvimento, não há muito a fala de Plemons, ele faz o que sabe fazer, aquela atuação mais centrada e descarada ao mesmo tempo, gosto muito dele. Ainda temos o GRANDE John Lithgow como promotor Leaward.
Outra ponto forte do longa é sua trilha sonora, composta pelo saudoso Robbie Robertson (1943-2023) que tocou na banda de Bob Dylan, teve seus trabalhos solos, indicado várias vezes ao Grammy, e que entregou uma obra primorosa neste longa. A trilha é ótima, se mescla bem ás cenas do longa, composta de uma forma sútil por Robertson, e é quase como se fosse um personagem próprio no longa. Robbie já está indicado no Critics Awards, no Globo de Ouro e Satelitte Awards por seu trabalho, e com toda certeza será lembrado no Oscar e BAFTA e tem chances enormes de levar os prêmios póstumos, o que seria uma homenagem e tanto a este músico talentosíssimo.
Pessoalmente gostei muito do filme, é incrível como Scorsese faz 3h25 não serem tão longos assim, o filme me envolveu demais, não foi nenhum um pouco enfadonho acompanhá-lo, acredito que terminou na hora certa, dava certos sinais de que estava começando a ase aarrastar um pouco, mas terminou na hora certa. Diferente de 'O Irlândes', que houve momentos de desgaste, cansaço, difícil entendimento, apesar de ser um ótimo filme, em 'Killers of The Flower Moon' tivemos um tiro certeiro... o espectador não se sentirá perdido, quem gosta de um bom filme terá um ótimo entretenimento em mãos, e a história de desenrola de uma forma muito natural e automática.
Não sou especialista em filmes nem nada, nem estou na melhor das posições para dizer o que é e o que não é bom na arte cinematográfica e no que diz respeito ao trabalho de Scorsese. Mas no meu olhar, na minha experiência nesses anos todos consumindo cinema, e no que considero bom para mim, e não tão bom assim para meu paladar cinematográfico, não considero 'Killers of The Flower Moon' uma obra-prima de Scorsese, mas está ali no seu Top 6... não vou enumerá-lo, mas com certeza está acima da média de sua imensa lista de filmes soberbos.
Temos um final poético demais, um final que com certeza ninguém estava preparado para testemunhar... como se tudo o que acompanhamos em mais de 3h, estivesse sendo contado naquele programa de rádio que foi apresentado no fim do filme. Que coisa perfeita foi essa passagem do Scorsese, ali nos entregando o destino de todos os personagens do longa, e pra encerrar com chave de ouro, o próprio Scorsese faz aquele desfecho em frente ao microfone, em um silêncio sepulcral, perfeito, divino, genial.
Primeiro dos indicados a Melhor Filme das principais premiações que acompanharemos em 2024 que assisto, 'Killers of The Flower Moon' está merecidamente indicado, mas pessoalmente, a princípio, mesmo sem ter conferido os outros, não é o meu preferido para ser premiado. Eu não vou saber explicar, mas falta algo, alguma coisa, não saberei dizer, que o faz ser um dos melhores trabalhos modernos de Scorsese... mas não o principal premiado da noite. Sempre, claro, em minha mais modesta opinião. Mas posso estar enganado, por que não! (19/12/2023 - Petra Belas Artes)
Lembro bem quando anunciaram o terceiro filme do Homem-Formiga, fiquei bem surpreso porque achei que não tinha mais espaço para filme solo do personagem, depois de dois filmes bem medianos. Mas sim, anunciaram o terceiro filme que "fecha" a trilogia. Lembro bem também, depois de uns meses, quando anunciaram que 'Kang' um dos maiores vilões dos Vingadores seria o vilão do filme, fiquei pensando porque escalariam um vilão tão F%$#@ em um filme que não se espera nada, no começo achei um belo desperdício. Aí veio o anúncio de Jonathan Majors de Lovecraft Country como Kang e também anunciaram que o filme teria o vilão MODOK. Aí comecei a pensar em como este filme teria tudo para ser um grande filme e um potencial real. Isto tudo obem antes de Vingadores A Dinastia Kang e Guerras Secretas serem anunciados.
E Realmente, o filme tem um potencial imenso e poderia ser um ótimo longa finalmente do Homem-Formiga, mas ficou só na promessa. Muita gente criou hype demais com o filme pelo fato de ter o Kang como vilão, ele que havia sido confirmado como o grande vilão da nova fase do MCU, hype esse criado erroneamente, afinal, boa parte das pessoas que se decepcionaram com o filme podem aceitar a culpa, pois Homem-Formiga nunca entregou um grande filme, e não seria diferente com este, não é um filme-evento nem nada do tipo. Aliás, quando Jonathan foi anunciado como Kang, não houve nenhum alarde do público comum do MCU, ninguém conhecia o vilão e não deram muita boa, só depois que a fase 5 e 6 foi revelada na SDCC, é que começou o olhar hypado para o terceiro filme de Paull Rudd.
De fato o filme deixa muito a desejar, ele não é horrível e nem ruim, é bom no que se propõe a entregar, traz um certo entretenimento, só que é apenas sem graça, ideias batidas, ideias ruins, piadas que são mau inseridas, erraram bem a mão no roteiro do filme. Na verdade, o roteiro em si não é ruim, e nem o grande problema, até que foi razoavelmente bem escrito e trabalhado... o problema mesmo são os diálogos, são os piores diálogos que vi em toda a história do MCU. Uma vergonha alheia atrás da outra, sendo que os diálogos de Scott com sua filha são de longe os piores do filme. Não há profundidade nos diálogos, é tudo meio vago, jogado no ar, sem inspiração, mau feito mesmo... péssimo, péssimo.
Primeiro as coisas que funcionaram e depois as que não funcionaram:
Jonathan Majors, que ATOR, ele realmente é muito bom, salvou boa parte do filme, sempre que apareceu dominava as cenas, criou o seu Kang de uma forma muito ameaçadora, tanto na série 'LOKI', como aqui,sendo que neste filme ele dá um tom mais sombrio ao Kang, menos teatral e mais intimidador, que sabe que é poderoso demais, deu para perceber a ameaça, o sentimento de medo e pavor, a imponência que Kang demonstra quando se dirige à outra pessoa/inimigo. Majors, para mim, teve uma atuação ótima, digna, seu Kang é bem ameaçador e gosto muito do tom que ele traz para o personagem... estava bem animado para ver o que ele entregaria no vindouro filme da Dinastia Kang, o que ele poderia entregar como vilão e interpretação em um filme grandioso como este, porém, é uma pena que isso não vá mais acontecer. Jonathan Majors foi julgado e considerado culpado no caso de agressão e abuso de força contra sua ex-namorada, sendo que sua sentença pode ser de 1 ano de prisão, ou não, e por conta da sentença, a Disney/Marvel resolveu demitir o ator. Não sabemos o que acontecerá com Kang, mas Majors errou feio em responder com agressão e uso de força as investidas hostis de sua então namorada naquela noite, ele estava em um momento de ascenção, tendo ótimos papéis e contratos, e se tivesse agido com um pouco mais de responsabilidade e caráter, teria evitado todo este imbróglio, que pode ter enterrado de vez sua carreira.
Michelle Pfeifer mais uma vez sendo o ponto positivo de um filme do Homem-Formiga, primeiro que ela é uma lenda, uma força da natureza no ato de atuar, e dada sua experiência em Hollywood, ela faz uma atuação muito segura, super interessante, e o roteiro a favoreceu boa parte do filme, até eu fiquei surpreso. E ela foi ganhando até eles segurarem ela no roteiro, quando Kang a faz de prisioneira quando MODOK ataca a nave de Hank no deserto quântico. Ali ela perdeu o destaque que vinha tendo e foi escanteada no roteiro, deixando todo o desfecho e destaque para Paul Rudd no final, quando o roteiro poderia incluí-la também na resolução dos acontecimentos, uma pena essa escolha preguiçosa.
Agora o que não funcionou: Já dá para começar com MODOK... o que foi essa bizarrice que eles fizeram. Até entendo que dá pra se levar em diante a ideia de pegar o Darren Cross, vilão do primeiro filme, que foi mandado para o Reino Quântico por Scott, ser o MODOK pelo fato de ter sido salvo pelo Kang uma vez que ele foi mandado para lá, eu torceira o nariz no começo na sala dos roteiristas, mas depois até compraria a ideia para criar algo que funcionasse. Mas o que fizeram foi uma afronta, aquilo nem de longe é o MODOK que esperávamos, sei que não seria o copia e cola dos quadrinhos, pois o MCU não é assim desde o começo, sempre prezaram pelas liberdade criativas, que eu aprovo até, mas aqui passaram demais do ponto, um CGI ridículo e feio, mal feito... olha... esquecível e o ponto mais baixo do filme.
Não entendi escalar um ator tão rico e completo, com o peso que tem, como Bill Murray, eterno Phil do dia da Marmota, para fazê-lo atuar por 3, 4 minutos? Se muito... ele merece muito mais, foi um desperdício escalá-lo e não lhe dar mais destaque, mais tempo, mais espaço no roteiro, e fazer ele falar meia dúzia de coisas nonsenses e outras coisas batidas, para no final ser devorado por um bicho esquisito do reino Quântico... faça-me o favor gente, dá para ser mais criativo.
Kathryn Newton, até hoje não vi nada dela, se não me engane, e se vi eu não lembro mais, e acredito sim que ela seja uma boa atriz, competente, e que entrega coisas boas em outros longas que ela tem lançado no mercado... mas aqui neste filme, acho que ela não vingou. Sua Cassie Lang está bem desconexa e fora de tom com o resto do elenco, e na minha mais modesta opinião, ela não tem química com Paul Rudd, nem com Evangeline Lilly, está uns dois degraus abaixo de todo o elenco, suas falas são bem chatas, a personagem dela não transmite carisma, torci mais pros habitantes guerreiros do reino Quântico do que pra ela. Não convence como heroína, não curti ela com o traje, tenho mais contato com a Cassie Lang nos quadrinhos como 'Estatura', de sua época nos Jovens Vingadores, onde ela aumentava de tamanho. Seu arco dos tempos mais recentes, baseado no filme, onde ela usa um novo traje, diminui de tamanho igual o pai, e usa outro codinome, eu não li ainda, não conheço e não posso opinar muito... mas realmente não curti a Kathryn e não convenceu, na minha opinião, como heroína. Parece, não pesquisei direito, que foi uma escolha do diretor Peyton Reed, não sei se ele já havia trabalhado com ela, ou ele viu um trabalho e dela e gostou e quis trazê-la pro filme, foi uma coisa assim.
Já Evangeline Lilly foi estranhamente escanteada no roteiro, sequer tem destaque no filme, está bem perdida também, gosto dela desde os tempos de Lost, mas nos últimos tempos se mostrou negacionista e anti-vacina... mas neste filme ela realmente não atua bem, totalmente desconexa, o roteiro também lhe escanteou, em favorecimento de Cassie Lang, bem forçado né, e Evangeline pouco entregou. Michael Douglas foi bem, como sempre, ele entende o que lhe é exigido no filme, de seu personagem, de sua atuação,muito experiente, um monstro da atuação, acredito que o roteiro foi bem honesto com ele, teria feito o mesmo. Gosto deste Hank Pym dele no MCU. Gostei muito também de Katy O'Brian, como Jentorra, achei a atriz bem competente, profissional, esforçada, fez um bom trabalho e sua personagem par mim é mais carismática que a de Kathryn Newton. Fora ela, temos a volta de David Dastmalchian, desta vez dando a voz ao personagem 'Veb', obcecado por buracos (vai entender), e também Randall Park que aparece em uma breve e rápida cena como Jimmy Woo tomando um drink com Scott Lang.
O fato do filme se passar boa parte em cromaqui, no fundo verde, com quase nada de cenas externas, não me incomoda, se você vai fazer com que o filme se passe lá no Reino Quântico, no mínimo se espera que usem muito CGI mesmo... mas confesso que boa parte ali do Reino Quântico, as partes que não foram ali na cidadela de Kang, poderiam ter sido filmado externamente, e sido mesclado com CGI, mas é como eu disse, no final não me incomodou e o resultado até que foi satisfatório.
A trilha sonora não é nada demais, está bem até, bem composta, compõe bem o filme, gosto do que foi composto para os créditos finais do longa. Composto por Christophe Beck, ele entregou algo quase que nos mesmos moldes de 'Homem-Formiga e a Vespa', o segundo filme, com alguns novos elementos aqui, mas acho seu trabalho em 'Free Guy' e em 'Gavião Arqueiro' levemente superior que este aqui.
'Homem-Formiga e a Vespa Quantumania' não é um filme ruim, longe disso, na minha opinião, e minha experiência de espectador, é o melhor dos três filmes, não tinha hype nenhum para ver algo grandioso, acima da média, que surpreendesse e tal... é o Homem-Formiga gente, não vai ser apresentado nada de mais do que já foi mostrado nos dois filmes anteriores, é apenas entretenimento básico, é o Paul Rudd que está ali, não será nada nos moldes de Capitão América, ou Loki, que possuem peso, carga dramática, um 'Q' de grandiosidade... mesmo tendo o principal (ex) vilão da nova fase do MCU, seria um filme mais do mesmo, afinal, era novamente Peyton Reed na direção, entregando seu trabalho arroz com feijão fritas e bife para o público, jogando na segurança, debaixo das asas de Kevin Feige. Enfim, tem muita gente que se deixa levar pela emoção e acha que é fã dos filmes da Marvel e antes eles só acertavam e agora está numa decadência e tal... mas grande parte dessas pessoas aí não é apreciador dos longas da Marvel, apenas acompanha porque hoje em dia todo mundo assiste e ele não vai ficar de fora, porque é o blockbuster do momento e vai acabar conferido por ser hype, pra poder participar das rodinhas de conversa, mesmo sem sequer ter o menor conhecimento sobre o que está falando... aí cria-se hypes que não existem e fica preso em um círculo vicioso onde tudo que a Marrvel Studios faz hoje em dia é ruim... mas lá no começo, Thor 1 e 2 eram fraquíssimos, Vingadores Era de Ultron tem muitos erros, o primeiro Homem-Formiga é bem genericão, e Homem de Ferro 3 é uma bomba gigante, ruim de doer com força. Coerência ás vezes passa longe!
Dito isto, o filme não é ruim, mas é beeeeem sem sal, tinha muito potencial, mas foi mau conduzido pelo seu limitado diretor Peyton Reed e seu roteirista Jeff Loveness que poderia ter lapidado mais sua história. Pena!!!
Na temporada de premiações de 2023, 'Close', que é um filme Belga, recebeu uma chuva de indicações, indicado a Melhor Filme Estrangeiro em praticamente todas as premiações de destaque... no Oscar, No Globo de Ouro, no Satelitte Awards, Cesar Awards, Critics Choice Awards, British Independent Awards. Sucesso e reconhecimento absoluto, também foi destaque no Grand Prix e na Palma de Ouro, e sendo o grande vencedor do Festival de Veneza, consolidando o filme como um dos principais longas estrangeiros do ano de 2023.
'Close' é dirigido e roteirizado por Lukas Dhont, com assistência de Angelo Tijssens, e traz um retrato de dois garotos que possuem uma linda e forte amizade, inseparáveis, como se as duas famílias fossem uma só, dada a proximidade e amizade dos dois garotos, que sofre uma grande mudança, quando eles começam a frequentar a escola no novo ano letivo.
O filme aborda como o preconceito enraizado na sociedade desde a infância, pode ser prejudicial para pessoas que ainda estão se conhecendo, seja sexualmente, seja em relacionamentos afetivos (amigos[a] ou namorados[a]), e como isso pode afetar emocionalmente a pessoa que ainda está tentando se descobrir no mundo e na sociedade em que se pertence. Claramente o filme de Lukas Dhont deixa claro que a amizade de Leo e Rémi, além de ser muito forte, também vai muito além do que é encontrado nas amizades por aí a fora. E uma das coisas bacanas, é que ele brinca com esse relacionamento que os dois amigos têm... é uma mescla de cenas e falas, que não deixam 100% claro se Leo pode ser um garoto gay. Já com Rémi fica bem nítido que ele sim pode estar se descobrindo homossexual, apesar de isso não ficar implícito em tela. Lukas Dhont trabalhou isso de uma forma muito boa, ele deixa essa certeza no ar, sem apelar para cenas mais explicativas, ou seja, temos muitas cenas onde eles estão em casa e têm o costume de dormir a tarde a na mesma cama, confessar segredos e sonhos, mas são cenas muito singelas, normais, nada que defina algo.
Mas basicamente, o filme trata mesmo de amizade, sincera, bonita, verdadeira, que acaba se quebrando quando o preconceito existente na sociedade mundo afora, os atinge de uma forma menos hostil, com Leo se incomodando muito mais que Rémi, que não demonstra nenhum incômodo com falas, ou brincadeiras das outras crianças/adolescentes.
Grande parte do mérito do filme está na direção de Lukas Dhont, que é belíssima, singela, de uma delicadeza absurda, focando na reação dos dois garotos que aos poucos começam a se distanciar e perder aquela forte e sincera amizade que possuíam, e mostrado no começo do filme. Também entra no mérito as ótimas e perfeitas atuações de Eden Dambrine (Leo) e Gustav De Waele (Rémi), os garotos que debutaram neste filme, e já entregaram essas atuações tão bonitas e fortes, verdadeiras, como se eles não existissem, o que existe ali é Leo e Rémi. Eden foi contratado pelo diretor Lukas Dhont depois de conhecê-lo em uma viagem de trem, olhem só, e Lukas foi certeiro na escolha de seus dois atores mirins para protagonizar seu filme, e levar as emoções que ele queria passar para o público... e seus dois protagonistas seguraram muito bem a bronca para um primeiro trabalho nas telonas, mérito total dos dois meninos.
Outro ator que destaco também é Émilie Duquenne, que faz Sophie, mãe de Rémi, e que tem uma atuação dramática incrível, principalmente nas cenas em que contracena com Leo mais próximo do fim do filme. Ela esteve ótima durante todo o filme, e sua carga dramática só cresce a cada acontecimento passado no longa.
Abaixo, Spoilers fortes do longa, abra por conta e risco:
O filme não deixa claro como Rémi se suicida, e não determina um porquê... para Leo, é certeza que foi pelo fato de o afastar, de deixar de ser seu amigo mais próximo. Agora os motivos que levaram Rémi a cometer tal ato, podem ser mais complexos até, pois pelo fato de deixar de comer, se trancar muito tempo no banheiro, não querer conversar com a mãe, não conseguir uma verbalização mais aberta com Leo para entender o porque de não passarem mais tanto tempo juntos, são claros sinais de uma criança que já podia estar desenvolvendo depressão, ou já ter nascido com a doença.
O longa possui uma cinematografia ótima, linda, muito bem enquadrada e fotografada, trabalho incrível de Frank Van den Eeden. E também possui uma cenografia muito bem construída.
'Close' é um filme riquíssimo em um tema tão delicado que é o início da descoberta da sexualidade em crianças se tornando adolescentes, e da possível descoberta e confusão de ser LGBTQIAP+ ou de negar e/ou não saber se pode ser. A forma como você lida com estas questões quando outras pessoas passam a zombar de você, a te excluir do seu grupo de convívio, a de não te aceitar por ser diferente, e em como você pode negar o que pode ser, ou atestar para si mesmo de fato que não é, mas não saber lidar com amizades mais íntimas com pessoas do mesmo sexo. Um filme lindíssimo que além de ter sido muito bem escrito, foi muito bem transplantado para a tela por Lukas Dhont, que trouxe um elenco afiadíssimo escolhido a dedo.
'Close' perdeu em todas as categorias que disputou para Filme Estrangeiro... perdeu o Oscar para o ótimo 'Nada de Novo no Front', perdeu o Globo de Ouro e o Satelitte Awards para o sensacional 'Argentina, 1985' e o Critics Choice Awards para a obra-prima 'RRR'. Além de perder o Satelitte Awards de Roteiro Original para 'Os Banshees de Inisherin'.
Eu lembro que 'The Father' era um dos filmes que eu mais estava ansioso para ver na época de premiação de 2021, o problema era a data de estreia aqui no Brasil, 8 de Abril, beeeem depois do Oscar, do BAFTA, das outras premiações. Ficou aquela agonia, e eu ia postergando, postergando, pagando outros filmes... Aconteceu de eu assisti-lo online mesmo horas antes da premiação do Oscar, finalmente, e até aquele momento, eu entendia que o prêmio de Melhor Ator iria para Chadwick Boseman, não só pelo merecimento, da atuação no filme 'A Voz Suprema do Blues', do conjunto da obra de tudo de excelente que ele fez, um excelente momento para o Oscar dele, mesmo que póstumo, e principalmente pelo fato de anunciarem que naquele ano, o prêmio de Melhor Filme seria o penúltimo da noite, com o de Melhor Ator fechando a noite... tava na cara que o prêmio iria para Chadwick pelo seu Oscar póstumo e seria uma baita homenagem ao Ator e seria muito emocionante.
Eu mesmo torcia pela vitória de Chadwick, achei sua atuação mais que perfeita, e me surpreendi quando Anthony Hopkins levou o BAFTA, e após assistir 'The Father', horas antes do Oscar, aí entendi porque ele foi o escolhido do BAFTA, e passei a considerá-lo a escolha certa para o prêmio, e fiquei feliz quando ele venceu até... contabilizando mais uma Gafe para a história da 'Acadimia'.
Bom... 'The Father' é dirigido e Roteirizado por Florian Zeller, junto a Christopher Hampton, baseado na peça de teatro de mesmo concebido por Zeller. Trata de Anthony (Hopkins) que se muda para a casa da filha Anne (Olivia Colman), porém não se lembra, acredita que o apartamento é seu, claramente sofrendo de demência, tendo lapsos onde se nega a achar que está delirando e que não tem nada de errado com ele, e reconhecendo que está doente, que não se lembra das coisas.
Um filme GENIAL, um trabalho primoroso de roteiro, e de interpretações, biscoito finíssimo da sétima arte, são apenas 1h37 de filme que te prende do início ao fim sem deixar você piscar, transporta você para uma outra realidade, nada que acontece ao seu redor te interessa a não ser o que está acontecendo na sua tela.
Será que eu posso considerar o melhor trabalho da carreira de Zeller? Não posso afirmar com certeza, mas que este é um dos seus melhores filmes, e um dos melhores desta década de 2020, com certeza este filme é. A forma como Zeller filmou, como se estivéssemos mesmo em uma peça de teatro ao vivo, a forma como ele enquadrava os dois atores que se digladiavam em concordância e discordância, independente de serem os dois protagonistas, de como consegue captar e trazer à tona todas emoções e reações que Anthony Hopkins poderia entregar ao seu personagem... é absurdo o que Zeller realizou aqui, um divertido jogo de gato e rato onde tentamos cravar o que está acontecendo de fato, onde Anthony está delirando e onde ele está se confundindo, ao mesmo tempo que ele tenta nos enganar, com sua pseudo lucidez, bagunçando ainda mais a linha do tempo, quem ele conhece e quem de fato ele não conhece... Lucy, quem parecia com quem no final? Catherine parecia com Lucy? Lucy é quem parecia com Catherine?
Uma trilha sonora composta por Ludovico Einaudi, com músicas do próprio, além de Federico Mecozzi e Redi Hasa, que enriqueciam muito as passagens do longa, as angústias de Anthony, as tristezas de Anne, o sentimento de culpa de Paul... trilha lindíssima e de primeiríssima qualidade. A edição também, decente e certeira, méritos de Yorgos Lamprinos que deixou o filme no capricho para o espectador poder se deleita. Existem muitos filmes bons, acima da média, que carecem de uma edição fidedigna para o espectador abraçar e se entregar aquele mundo que está acompanhando, que enriquecerá a experiência. Muito contente em ver que os profissionais envolvidos em 'The Father' são de extrema qualidade.
E falando em profissionais, temos o elenco que não errou em nada, absolutamente nada: Olivia Colman, a grande rainha da sétima arte, artista com zero defeitos, e 1000 em qualidade, mais uma vez entrega o supra sumo da atuação. Uma verdadeira monstra em cena como Anne. O que essa mulher entregou de drama, de decepção, de culpa, de tristeza, de humanidade... fora de série, Olivia só crescia o filme inteiro, não tinha uma cena que ela não vencia com Anthony Hopkins em cena, era gol atrás de gol, muitas camadas dramáticas em cenas conjuntas e sucessivas... Não à toa foi indicada naquela temporada de premiações ao Oscar, ao Critics Choice Awards, Satelitte Awards, Globo de Ouro, SAG's Awards.
As talentosíssimas Imogen Poots (Natal sangrento) e Olivia Williams (O Sexto Sentido) abrilhantaram ainda mais com suas atuações para Laura e Catherine respectivamente, gostei demais das duas.
Porém, foi Anthony Hopkins quem realmente deu as cartas aqui... fica até meio sem sentido dizer que este pode ter sido o melhor trabalho de sua carreira, porque ele entregou o mesmo nível em tantos filmes de sua carreira... mas este em peculiar tem este tema que é tão condizente com a sua pessoa atual, a velhice, o estado em que o corpo está apto, mas a mente não, e dentro desta premissa, da idade, da rabugentice, da experiência, da dor, da saudade, Anthony Hopkins "pode", ênfase no aspas, ter entregue seu melhor trabalho na carreira. Nunca vi uma força da natureza dessa forma, quanta maestria para atuar, para dar luz e vida a um personagem tão forte e impactante, que tanto tem a mostrar e aprender ao espectador, traz carisma e repulsa amalgamados, e tem essa perda de ator e personagem, tão logo você já não consegue distinguir um do outro. Por isso o Oscar e o BAFTA esteve em ótimas mãos, porque realmente, aquele não foi de Anthony Hopkins, um dos melhores atores de toda uma geração... que nunca entregou menos, nem quando os filmes eram ruins ou bem abaixo, como 'Thor 1' ou 'A Lenda de Bewoulf', ou até mesmo 'Dragão Vermelho', 'O Grinch', enfim... sempre entregou lá encima, nunca lá embaixo, nunca mediano.
Em termos de prêmios, Olivia Colman não levou nada a que foi indicado mais acima, porém 'The Father' levou dois prêmios de Melhor Filme no Goya por Filme Estrangeiro e no César Awards de Filme Europeu... Ainda levou o Satelitte Awards, o Oscar, o BAFTA e o British Independent Awards de Roteiro Adaptado, além de Melhor edição no mesmo British Independent Awards para Yorgos Lamprinos. Já o grande Anthony Hopkins levou o Oscar, BAFTA e o British Independent Awards, de Melhor Ator, óbvio, muito merecido.
Muito gratificante, com essa idade, Anthony Hopkins ainda atuar, em grande estilo diga-se de passagem, e escolhendo bem os filmes em que quer atuar, já com seus 85 anos. E Florian Zeller, é um cara que sabe o que faz, e do seu jeito, sem enganar o público, e dentro dos seus termos. É primoroso demais e visionário quando se trata de contos a serem explorados e apresentados, e claro, já virei fã e sempre estarei de olho nos trabalhos do francês.
Primeiro eu vou falar sobre o filme, depois vou comentar sobre a esnobada e a injustiça que ele sofreu.
Nunca havia assistido nada de Gina Prince-Bythewood, a diretora do filme, a não ser os episódios que ela dirigiu para a série Manto e Adaga da Marvel, que eu nem me recordava que era ela, pois eu ainda não a conhecia. Gina conseguiu entregar 'um dos' melhores filmes do ano de 2022, uma direção espetacular, uma edição louvável e astuta, e uma história arrebatadora e envolvente com um elenco que, além de competente, é muito carismático.
'A Mulher Rei' trata do reino de Daomé, que existiu onde hoje é o atual país de Benin, entre os anos 1600 e 1900, que era protegido pelo seu grupo de guerreiras, as Agojie, que protegiam também, o seu rei, Ghezo. Eles travavam uma batalha feroz contra o povo Oyo, e outros, que buscavam escravizar seu povo, ajudados também pelos colonizadores franceses e portugueses. Nanisca (Viola Davis) é a líder das Agojie, e aspira ser a futura 'Mulher Rei', ela é uma líder e guerreira implacável, sanguinolenta e que preza por não cometer erros. O filme mostra esse embate entre os Agojie e seus inimigos, ao mesmo tempo que o Rei Ghezo começa a ter problemas com seu negociante de escravos brasileiro mais próximo, uma vez que ele deseja parar de negociar seu povo como escravos e passar a produzir e negociar Óleo de Palma. No meio de tudo isto, Nanisca e as demais Agojie começam a treinar jovens meninas para se tornarem futuras Agojies, e uma delas possui uma ligação muito forte com Nanisca, e isto resultará em um resultado definitivo na guerra que se impõe na tribo.
'A Mulher Rei' não é só um filme perfeito e forte ao mesmo tempo, não é só muito bem dirigido e produzido, não tem só uma história bem escrita, bem amarrada, que prende a atenção do espectador sem insultar sua inteligência, e sem lhe deixar perdido... ele também é um ótimo filme de ação, que não fica por baixo de nenhum filme da Marvel Studios, ou da DC, ou da franquia 007, ou de qualquer blockbuster famoso desse gênero. Ele tem muitas camadas que trazem os personagens para próximo do público, desenvolve bem suas personalidades, seus medos e esperanças, suas motivações e inseguranças e o mais importante, nos faz nos importarmos com eles, seu povo, sua luta, e seu sucesso. O quão incrível é você encontrar isto em um filme hoje em dia.
Gina acertou em cheio na direção, teve entendimento completo da história que tinha em mãos, da sua visão do que queria apresentar deste fato histórico, da importância em focar na tribo, no mito, e em como elas queriam atingir seu objetivo, sem deixar de entregar um ótimo entretenimento, com boas cenas de luta e ação, tirando atuações poderosas de seu recheado elenco.
Viola Davis, a protagonista do longa, foi uma força da natureza neste filme, até chego a arriscar, sem conhecimento, pois não assisti todos os seus filmes, que este foi o melhor papel dela até então (!!?). Viola teve uma atuação que, ao mesmo tempo que entrega uma verocidade sem igual para sua personagem, suaviza nas cenas mais densas, que baixam mais a guarda de Nanisca, que mostra que antes de ser uma líder implacável e uma guerreira, ela é uma mulher comum com inseguranças e cicatrizes como qualquer outra. Isso faz com que o público se identifique e caia nas graças da personagem muito fácil, e ela traz de seus trabalhos anteriores a experiência para equilibrar essas nuances que Nanisca possui nas muitas cenas de destaque e revelações que a personagem tem durante o longa. Uma atuação digna de premiação (sic).
John Boyega (da franquia Star Wars) faz o Rei Ghezo e também esteve ótimo no longa, não teve lá tantas cenas, a maioria foi sempre no mesmo tom, era aquele típico rei mais clichê, dos filmes de época, mas a imponência que ele impunha a seu personagem faz com que ele cresça nas cenas onde é exigido pelo roteiro. Eu gostei muito do que ele entregou. Ainda tivemos duas atrizes que gosto muito e considero as mais competentes de sua geração... Lashana Lynch e Thuso Mbedu. Lynch fez Izogie, mais uma guerreira Agojie implacável, que rivalizaria com as Dora Milaje facilmente (na verdade, um pouco da cultura apresentada ao longo dos anos de Pantera Negra bebe daqui, assim como algumas coisas deste filme bebe do longa do personagem da Marvel). Lynch que conheci no filme da Capitã Marvel, entrega aqui uma performance inspirada, de muita sagacidade nas cenas de ação, e um ar de mentora quando está em cena com as meninas, especialmente Nawi. Lashana Lynch levou o prêmio EE Rising Star no BAFTA, estrela ascendente, mais do que merecido, pois ela é uma atriz completíssima Já Thuso Mbedu, que fez Nawi, é uma das melhores atrizes jovens desta geração, sua atuação na série limitada 'The Underground Railroad' é memorável, de uma inteligência, que prende a atenção do espectador. Já ali ela mostrou a que veio, o talento que tem e o quanto ela pode ir longe na carreira. Neste filme, sua atuação não é assim nada demais, vocês podem reparar que é algo que geralmente vocês encontraram em filmes diversos por aí a fora, de personagens que começam em rota de colisão com seus mentores, e depois acabam se desenvolvendo com os acontecimentos. Mas as nuances de sua interpretação, a forma como ela constrói sua Nawi, com hostilidade, misturada com destreza e insegurança, tudo ao mesmo tempo, entendendo a personagem e o que lhe é exigida no longa, só mostra o quão talentosa ela é. Já sou fã de carteirinha dela.
Outra atriz que destaco é a ótima Sheila Atim, que fez Amenza, eu a vi primeiro em Doutor Estranho no Multiverso Da Loucura, e aqui pude acompanhar mais da sua forma de atuar, e aqui ela tem mais tempo de tela, e muito mais para brincar com a personagem. Foi muito talentosa nas cenas de luta e competente nas demais cenas,principalmente quando estava atuando com Viola.
A cenografia é ótima, muito bem detalhada, principalmetne nas cenas que se passam dentro do reino de Daomé, tanto nos aposentos de Rei Ghezo, como dentro dos portões onde só era permitido mulheres. A edição do filme é de longe o ponto forte do filme, não tem uma cena de luta onde você fique perdido e não saiba o que está acontecendo e para onde o personagem irá atacar, e quem irá atacar. Tudo muito bem coreografado e editado na sala de edição. A trilha sonora também preenche bem as passagens do longa e complementa os sentimentos dos personagens em questão, um ótimo trabalho entregue por Terence Blanchard, que trabalhou em filmes como 'Destacamento Blood' e 'Uma Noite em Miami'.
Agora, antes de falar das indicações e prêmios do longa, vou citar a grande esnobada que os membros da Academia do Oscar deram ao longa, ao não nomeá-lo em nenhuma indicação. No começo do ano vazou que alguns membros votantes, não sei quantos, comentaram com outros membros que não tinham a obrigação de assistir filmes como 'A Mulher Rei' e 'Till - Em busca de Justiça', praticamente dando mais ênfase nos filmes mais badalados e de profissionais de prestígios, do que reconhecer trabalhos que foram acima da média ou perfeitos da temporada, como este filme, como a atuação de Danielle Deadwyler em 'Till'. Obviamente pelo fato de serem filmes protagonizados e produzidos por Pretos, que tratam de assuntos que condizem aos pretos, seja social, seja histórico, ou de algo que condene algum ato hediondo branco que ocorreu e foi trazido as telas, como 'Till'.
O quão ridículo é você não reconhecer o ótimo trabalho entregue pela produção de 'A Mulher Rei' ou a incrível e forte atuação de Danielle Deadwyler em 'Till', somente porque não se quer alimentar o protagonismo e crescimento de pessoas pretas na indústria cinematográfica... o trabalho apresentado e entregue tem que falar mais alto do que a cisma ou a birra de algum membro mal intencionado, ou de costumes antigos que não mais correspondem com os dias atuais. Um dos melhores trabalhos da carreira de Gina Prince-Bythewood, e é completamente esnobada pelo que, por ser preta, ou pelo filme representar brancos como vilões e pretos como vítimas? E Viola Davis e Danielle Deadwyler? Porque foram completamente esnobadas pela Academia e lembradas em outra premiações, inclusive pelo BAFTA, que reconheceu e muito 'A Mulher Rei', um filme norte americano, numa premiação britânica? Eu acho uma tremenda vergonha. Deadwyler foi esnobada porque o filme mostra como os Brancos americanos foram/são cruéis com o povo Preto e incomoda ver uma história assim nas telas de cinema, então é melhor varrer pra debaixo do tapete? Já Viola, qual foi o critério usado? Não vivem, erroneamente dizendo, que ela é a Meryl Streep Preta? Essas histórias não merecem ser contadas, ganhar a luz, preencher as salas? Gosto muito de acompanhar premiações, mas de todas, o Oscar é o que menos tem relevância comigo, por essas e muitas outras incoerências e erros que não são consertados. Por exemplo, o 'Oscars So White' de nada adiantou pelo visto... Michelle Williams só foi indicada pelo prestígio em Hollywood a Melhor Atriz, Ana de armas apenas para dar um pequeno afago ao horroroso 'Blondie', Andrea Riseborough muito provavelmente foi aquele tapinha nas costas de contatos certos, 'meus amigos de Hollywood'. Levo mais em conta premiações como o HCA (Hollywood Critics Association) muito mais coerente, muito mais categorias, Melhor Terror, Melhor Trailer, entre outros, BAFTA que é o meu preferido (e que também tem suas incoerências, como no ano que indicou duas vezes a Margot Robbie), o Critics Choice Awards que me agrada, e o Spirit Awards que é uma premiação de filmes independentes.
'A Mulher Rei' foi indicada no Globo de Ouro para Atriz Drama, pela performance de Viola Davis; No Satelitte Awards para Edição, Som, Figurino, Trilha Sonora e Atriz Drama para Viola; No Critics Awards para Elenco, Diretor para Gina Prince Bythewood, Figurino e Viola em Atriz. No BAFTA para Viola Davis e Gina Bythewood em Atriz e Diretor; No SAG's para Elenco e Atriz para Viola Davis; No Oscar? NADA. Venceu o American Film Institute de Melhor Filme do Ano.
Eu pensei muito se dava cinco estrelas, ou seja, considerá-lo uma obra-prima... cheguei a conclusão de que é sim uma obra-prima moderna, claro que muita gente não irá pensar do mesmo modo, mas em minha visão, o filme é perfeito, e é cinema em sua mais pura essência... entretém, diverte, ensina, educa e faz o espectador esquecer sua realidade e durante duas horas é transportado para um outro mundo que lhe enriquecerá em experiência. Isso pra mim é Cinema, grandes histórias, grandes filmes.
Existem alguns filmes que estão no meu radar para assistir, mas eu enrolo demais, demais da conta pelo simples fato de achar que eles não vão ser tão bons assim, e aí vou postergando. Esse é um erro mais do que comum que cometo ao longo dos anos, e 'Padre Stu' entra neste quesito. Enrolei tanto para vê-lo achando que ia ser um filme mais ou menos, e no final, como sempre acontece, me surpreendi positivamente assistindo um filme muito bom.
Dirigido e roteirizado por Rosalind Ross, que tem apenas 33 anos, 'Padre Stu' traz a história real de um ex-boxeador, Stuart Long, que nada mais é do que um canastrão canalhão, que deixa a vida de boxeador para tentar ser ator de Hollywood, porém conhece uma mulher, que é cristã, e começa a frequnetar a igreja somente para tentar fisgá-la para si e para cama. Ao sofrer um acidente grave de moto, e retornar do coma, ele percebe que tem um propósito maior, e então decide ser Padre.
Ao mesmo tempo que é um filme cristão, ele tem sua identidade própria, ora pende pro cristianismo, ora caminha com as próprias pernas, sem se prender a este tema. Essa nuance bacana do filme que não o deixa 'chato' demais para quem não é cristão, nem deixa de conversar com quem é. Stuart Long tem uma história muito interessante e bonita de um certo ponto de vista, e este filme pode despertar a fé em pessoas que não são tão ligadas em religião. Ele toca em pontos e tem algumas falas, que vão atingir o espectador e despertar a fé que existem dentro deles, e os farão se questionar sobre diversos pontos e assuntos.
Rosalind dirige muito bem, eu gostei demais da forma como ela dirigiu os atores, em como ela foca no personagem, mesmo que seja um coadjuvante, ela o traz para dentro do foco, quando ele está no centro da câmera, dando-lhe um ar de protagonista, dando-lhe a importância que ele tem para os acontecimentos e para quem está assistindo. Gostei muito de como ela fez alguns takes específicos, pegando um ângulo de um retrovisor de automóvel, alguns detalhes da doença do Padre Stuart, em como ela traz a gente para sua deficiência em certos takes, também em como ela dá uma atenção diferente a Mel Gibson, que faz o pai de Stuart, como ela o filma de uma forma que ele tenha uma certa onipotência, sem deixar de registrar suas falhas como Pai e Marido. Essa mulher -e ainda muito jovem, e faz um trabalho tão decente, tão rico, tão completo... ela realmente é muito boa, e tem bastante futuro, se pegar os trabalhos certos. Vou ficar de olho em futuros trabalhos dela.
O longa é protagonizado por Mark Wahlberg, que faz o Padre Stuart, e Mark atua muitíssimo bem, e é claro que no começo, pela personalidade canastrona de Stuart Long, quando boxeador, você não verá nada demais na atuação de Wahlberg, que você já não tenha visto em filmes com ele, que não exigiam demais de sua atuação. è uma atuação mais caricata e despretensiosa, porém, conforme o filme avança e Stuart vai evoluindo, a atuação de Wahlberg atinge uma crescente que não para, não para, e mesmo quando o filme está em seu final, você só o vê elevando mais o seu trabalho. É surreal o que Mark Wahlberg faz neste filme, ainda mais ele que se tornou uma pessoa muito católica com o passar dos anos, se entregou demais no papel deste filme, que com certeza o influenciou demais a história e a fé de Stuart Long. Acredito que um dos melhores filme que já vi Wahlberg atuando.
Mel Gibson (eterno Mad Max) faz o pai de Stuart, Bill Long, e coincidentemente foi escalado para o longa por ser marido da diretora Rosalind Ross, os dois estão juntos desde 2014 e possuem um filho, e ela pôde dirigir seu marido neste seu primeiro filho, e o fez de uma forma ótima. Gibson está muito bem no papel, traz toda aquela experiência e bagagem de filmes fortes que ele já protagonizou, faz um pai durão, problemático, errático, que no fundo ama demais o filho mas não demonstra e vai se desconstruindo conforme os acontecimentos vão se desenrolando.
No elenco ainda temos a talentosíssima Jacki Weaver (de As Viúvas) fazendo a mãe de Stuart, Kathleen Long, além do já eternizado Malcolm McDowell (Alex de Laranja Mecânica) fazendo o Monsignor da Igreja onde Stuart atua. Teresa Ruiz faz Carmem, a cristã por quem Stuart tem uma queda/se apaixona, e por mais que seu papel seja mais simples e pouco lhe é exigida em tela, por ter poucas camadas para se aprofundar, Teresa está muito bem em cena, gosto da doçura na atuação dela, na leveza do olhar, em como ela se deixa levar pela personagem. Ela é mais conhecida pela série Narcos, e além de ser uma mulher lindíssima, ela tem um talento sem igual apara a atuação.
O filme possui uma trilha sonora bem competente, que cresce nos momentos certos e compõe bem as passagens mas tocantes e emocionantes do fllme, sendo composta por Dickon Hinchiffe, que trabalho na composição do filme 'A Filha Perdida' da Netflix. É bem editado, bem cenografado e tem ótimos figurinos cristãos.
Recebeu 1 indicação no Satelitte Awards na categoria de Melhor Ator em Filme Drama para Mark Wahlberg, que perdeu para Brendan Fraser por 'A Baleia'. Indicação esta que achei justíssima e realmente uma pena não ter sido lembrado em outras premiações como Globo de Ouro ou o Hollywood Critics Awards.
Vale muito a pena conferir o filme, possui uma história de superação, fé e amor a si próprio e aos outros, excedeu muito minhas baixas expectativas e foi um ótimo filme de estreia para Rosalind Ross, que deveria ter tido mais destaque na época em que foi lançado, mas ao que parece teve poucas salas disponíveis no cinema e pouco marketing também.
Quantos atores já ficaram imortalizados pelos personagens que interpretou? Sly será sempre lembrado por Rocky e Rambo, Scharzenegger por Terminator, Michael Keaton por Batman, Timothy Dalton por James Bond, Tom Cruise por Ethan Hunt e por aí vai... Chadwick Boseman entra para esta seleta lista como T'challa, o Pantera Negra, personagem que sempre foi do quarto escalão da Marvel, terceiro por uns tempos, e que virou o titular absoluto da Editora/Empresa/Estúdio desde que o primeiro filme dirigido e roteirizado por Ryan Coogler chegou aos cinemas em 2018.
Tarefa deveras difícil fazer uma continuação onde o ator do personagem que leva o nome do filme, faleceu de forma tão abrupta, comovendo todo o planeta e colegas de profissão, e entregar um filme que convença, agrade os fãs, chame a atenção de um público novo e faça jus ao que foi feito antes, sem o peso de seu protagonista. A forma que Coogler achou para o filme caminhar de uma forma coerente e natural foi se apoiando no elenco que ajudou o filme a se tornar parte da cultura pop mundial... toda Wakanda seria protagonista neste novo filme, claro como um pé em Letitia Wright, escolhida para ser a nova Pantera Negra.
Seria um passo natural colocar Shuri como a nova Pantera, uma vez que isso aconteceu nos quadrinhos, meio difícil você ir contra a principal premissa, o caminho mais óbvio. O fato é que Letitia de uma forma abrangente, não me convenceu muito como protagonista... mas vejam bem, não como Pantera, não que ela tenha sido uma Pantera Negra F%$#@, matou a pau, manteve o legado de Chadwick e tal, ela foi ok como Pantera, não tenha nada de contra nem muito a favor para comentar... mas como protagonista do filme, na minha opinião, ela teve uma atuação 50/50. Letitia teve um início muito demorado, não pelo luto, mas por sua personagem ainda estar meio perdida em que rumo seguir, o roteiro não sabia como pavimentar seu caminho até ela assumir o manto do Pantera, e a mesma estava um tanto quanto perdida em sua atuação, um tanto quanto carregada demais, mesmo sendo emotiva na medida certa, por todo o lance com Chadwick. Não achava que ela estava segurando o protagonismo de um filme tão esperado pelo público, e na verdade nunca acreditei que ela teria esse peso todo para ser o ator principal do longa... a partir do momento que ela toma a Erva Coração, o roteiro começa a acertar com a personagem e junto a isso Letitia também começa a crescer em protagonismo e sua participação no filme melhora muito. Não chega a ser perfeita como um todo, mas se seguir essa linha da reta final do filme, Letitia pode vir a ser uma boa protagonista em um possível futuro longa.
O restante do elenco complementa muito bem o filme como sempre, Winston Duke, que está ótimo como M'Baku, Michaela Coel como Aneka, Mabel Cadena como Namora, ela esteve ótima e merecia mais destaque, Alex Livinalli outro que esteve ótimo como Attuma e merecia mais destaque, e o mesmo vale para Florence Kasumba, como Ayo, que aqui teve quase zero destaque, vacilaram com ela, quem assistiu 'Falcão e o Soldado Invernal' sabe como ela é boa atriz e entrega bem. Danai Gurira dispensa comentários, além de eu ser fã, ela nasceu para ser ator, que mulher sensacional, e aqui novamente dá um banho de interpretação durante todo o filme. Além dela, a lindíssima e competente Lupita Nyong'o como Nakia, quando aparece em cena também dá um show de interpretação e carisma, gosto muito dela e de sua personagem, que sim merecia também mais destaque dentro de Wakanda. A eterna 'Old Christine' Julia Louis-Dreyfus que volta como Valentina Allegra de Fontaine e o já carimbado Martin Freeman como Everett Ross, formam um casal (forçado? não consigo opinar) e tem seu pequeno momento de tela, mas neste filme os dois ficaram meio que relegados, se eles não estivessem no roteiro, não iriam mudar em nada o andamento da história, acredito que tiveram dificuldade em encaixar os dois no roteiro do longa, e fica a impressão que estão lá mais por ser um ótimo easter egg para os fãs mais ardorosos, como eu, do que ser uma parte do filme que faz o roteiro caminhar e os acontecimentos se desenvolverem. Para se ter uma ideia, os acontecimentos do começo do filme, quando os 'atlantes' atacam o navio americano, temos dois personagens interpretados por Robert John Burke e Lake Bell (a voz de Viúva Negra de What If?) que tem mais importância para os acontecimentos do filme e estão bem ais bem inseridos que La Fontaine e Everett Ross.
Agora o destaque mesmo do filme são dois atores, Tenoch Huerta, ator mexicano que faz Namor, o Príncipe Submarino, que agigantou demais o personagem nas telas, com o mesmo tom arrogante que o personagem tem nos quadrinhos, a mesma postura onipotente, uma presença de tela incrível, dominou o personagem e esteve a vontade no papel. Huerta foi uma grata surpresa e seu Namor é uma das melhoras coisas dentro do MCU, gostei muito de toda a sequência dele e de Letitia em Talokan, mostrando a ela a cidade capital, o povo, a cultura, o sol feito de vibranium, a conversa tentando achar um meio termo para resolverem a questão de Riri Williams, e a ameaça que ambos fazem um ao outro de se guerrearem. Óbvio, acho que ele esteve uma degrau acima dela na atuação, e achei ele demais no filme, principalmente quando ele age ofensivamente contra Ramona e profere as frases bastante onipotência dramática: "Enterre seus mortos, lamente sua perda, Você agora é a rainha" apontando com o dedo... que cena!!!
A outra, foi a verdadeira protagonista do filme, a verdadeira rainha da sétima arte Angela Bassett, vencedora do Globo de Ouro e do Critics Awards de Atriz Coadjuvante pelo papel desempenhado neste filme. Angela foi gigante, não teve nenhuma cena onde ela tenha estado ok, ou tenha interpretado com menos afinco, ela foi grande em todos os momentos em que apareceu, com uma carga dramática sem igual, uma presença de cena e preenchimento de tela que poucos atores no ramo conseguem fazer. Elevou sua atuação do primeiro filme para algo divino nesta continuação, e seus monólogos na sede das nações unidas no começo do filme, e em Wakanda depois que Shuri é levada pelos Talokans, dando aquele esporro em Okoye, são a alma do filme, e que a premiaram nas duas premiações citadas... Realmente foi uma pena vê-la perder o BAFTA e principalmente o Oscar para a ótima e lendária Jamie Lee Curtis, porque é como se esse ano fosse dela, ela seria premiada por essa atuação, por esse papel, e seria um prêmio que também premiaria toda uma carreira competente de Bassett. Da forma como eu vejo, um Oscar honorário, que ela ganhou posteriormente, não tem o mesmo peso, nem de longe... não para ela.
Já Dominique Thorne ( de Se a Rua Beale Falasse e Judas e o Messias Negro) que é uma ótima atriz dos filmes já citados, esteve totalmente fora de tom no filme. Sua Riri Williams não convenceu, foi alívio cômico demais no filme, sempre deslumbrada com tudo, e apressadamente apresentada no MCU neste filme, que sequer a desenvolveu. Um ato bem errôneo por parte de Kevin Feige, onde claramente teve dedo dele em forçar a personagem no filme, com certeza um imposição dentro do roteiro de Ryan Coogler, e que no final se mostrou mal inserido e mal apresentada, mal desenvolvida e faltou um pouco de carisma... a Riri era a personagem mais invisível do filme para o público, era o elo principal do filme, que levou Wakanda e Talokan a entrarem em rota de colisão, mas para o público foi praticamente irrelevante, o que é uma pena, desperdiçar atriz e personagem de uma forma tão forçada como essa... os velhos hábitos de Feige que precisa mudar.
Talokan foi apresentada como sendo a Atlântida do MCU, já na pré-produção, os profissionais queriam apresentá-la de uma forma diferente, para não se assemelhar demais com o que foi apresentado em Aquaman da DC. Para não dar impressão de um copia e cola, um mais do mesmo para o público, para entregar algo que remeta mesmo a Aquaman, que é inegável, mas que tenha personalidade própria. E foi uma ideia muito bem vinda, baseá-la em uma mitologia asteca, explorando as culturas mesoamericanas, dando um ar de realidade, pois Talokan é baseada um culturas reais, que existiram, ao invés de trazer algo já estabelecido nos quadrinhos em Aquaman e o próprio Namor, ou em longas passados como Atlantis O Reino Perdido. Uma cultura real e única, com figurinos detalhados, baseado nas culturas antigas datadas de 1500, 1600, exatamente a época que Namor nasceu no filme... fora isso toda a representação de Talokan, que é lindíssima, sua apresentação quando Shuri a vê como um todo, toda aquela cidade que parece uma realeza, o templo que gera o sol para a cidade subaquática... que trabalho fenomenal da equipe de produção do filme, de efeitos visuais, e de figurino.
Ruth E. Carter foi novamente a figurinista do longa, e com certeza, pelo seu riquíssimo trabalho em criar as vestimentas do povo de Talokan, Namor, Attuma, Namora, e todo o povo de Wakanda, ela novamente foi premiada com o Oscar de Melhor Figurino, também sendo premiada no Critics Choice Awards.
Essa continuação tem algumas escorregadas que são mínimas, como forçarem no roteiro uma apresentação fraquíssima da personagem Riri Williams, a má utilização de alguns atores, Martin Freeman, Julia Louis-Dreyfus, Florence Kasumba. Uma das grandes escorregadas foi o destino dado á personagem de Angela Bassett, Ramona, que apenas serviu para ser uma virada de chave dentro do Shuri, para que finalmente pudesse assumir o manto de Pantera Negra e realmente ir à guerra contra Talokan... escolha muito óbvia, que poderia muito bem ter sido feito de uma maneira bem diferente. Um desperdício de personagem e talento dentro do MCU, com esse destino dado a Angela Bassett que tinha ainda muito a agregar a enredos futuros, uma vez que existe vontade de fazer mais uma continuação. Uma pena e bola fora.
No mais, Pantera Negra Wakanda Forever encerra a fase 4 da Marvel com chave de Ouro, apesar de muitos filmes ficarem devendo, e algumas séries também. Na minha opinião, esta continuação não supera o primeiro, mas tem um roteiro muito bem construído e mesmo tendo mais de 2h30, prende o espectador que já é familiarizado com os filmes do estúdio.
Sarah Polley é uma diretora de poucos filmes, são grandes os espaços entre os filmes que ela lança, porém, sem eu sequer lembrar ou ter consciência, já assisti um filme dirigido por ela, 'Longe Dela' de 2006, que foi indicado ao Oscar de Melhor Atriz na época, para Julie Chrsitie, e é um filme lindíssimo, de muita sensibilidade, que possui uma delicadeza na construção de seu roteiro e na forma como Polley dirige, sem igual. Se eu tivesse lembrado disto antes de conferir 'Women Talking' eu estaria mais preparado para o que ria ser entregue em tela.
Sarah Polley entrega um filme gigante, forte, com um roteiro que está mais calcado no texto do que nos acontecimentos e amadurecimentos dos personagens em si. Aqui, as personagens meio que já estão estabelecidas, já chegaram no ápice de seu crescimento e amadurecimento pessoal... o foco não é desenvolver essas mulheres, e si prestarmos atenção no que ela têm a dizer, no quela querem sentir, ouvir o que ela têm a gritar, e nos questionarmos o quão longe a voz da mulher pode ir, e o quão protagonista é o papel dela na formação de caráters e nos fundamentos da sociedade como um todo.
Baseado em eventos reais que ocorreram/ocorrem em Manitoba, uma colônia que reside no Leste Boliviano, o filme em nenhum momento faz menção de onde os acontecimentos se passam, e mesmo que a verdadeira colônia não fale inglês, e sim Plautdietsch, o filme tem seus personagens falando a língua norte americana. Nessa colônia, as mulheres não são alfabetizadas, proibidas de frequentar a escola, elas são 'educadas' desde pequenas a apenas serem submissa aos homens, se casarem, dar a luz, cuidar da casa e não retrucar nada do que disserem para elas. A colônia, que na vida real possui em torno de 2000 pessoas, não convive com eletricidade e nem com automóveis, e ainda há um grupo de homens que estupravam e violentavam sexualmente as mulheres da colônia á noite, usando um sedativo para animais grandes em forma de spray, deixando essas mulheres sedadas para serem violentadas pelos mesmos. Essas mulheres variavam de 65 anos sendo as mais velhos, para até crianças de 3 anos de idade (!!!!!!!!!!!)... algumas até com problemas mentais, vejam só. Muitas delas engravidavam e tinham que virar mães solteiras, as acusações das mesmas nunca eram levadas a sério, eram tratadas como devaneios femininos, coisas inventadas por elas, ou até mesmo coisas do demônio, onde algumas acreditavam pois a religião deles era muita rígida, e muitas acreditavam nas mais diversas histórias e não queriam perder a sua entrada no reino dos Céus.
Polley começa muito bem o filme já com a frase que diz que o filme é baseado no "fruto da imaginação fértil das mulheres', e então o texto começa a ser desenrolado e o grande carro chefe do longa, com as mulheres discutindo boa parte dele o porque elas tem que abandonar a colônia, porque ela devem fugir, os malefícios de deixar o lar para trás, o porque de não fugir, se devem levar as crianças ou não, e se levar, se devem levar os filhos homens, como esses filhos podem ser reeducados no novo lar pelas mulheres, e o quanto elas estão cansadas de serem violentadas à noite sem ninguém sendo culpado e ainda sofrerem abusos nas mãos de maridos bêbados e machistas.
Os pontos levantados e defendidos por cada uma delas são o ponto forte do longa, que não possui nenhuma cena chocante ou que vá chamar a sua atenção, afinal o foco é no texto, é no que essas mulheres têm a dizer, pensar, defender. As atuações são fortes, condizentes, algumas emocionantes e outras necessárias... elas contam histórias, relatam abusos, revelam traumas não só físicos, como emocionais, e também uma revolta muito grande por possuir filhas adolescentes e/ou crianças que são e foram vitimas de abuso sexual por parte desses homens.
O filme se passa majoritariamente em preto e branco com algumas nuances coloridas, e isso ajuda muito na cinematografia do filme que ganha um realce belíssimo por conta dessa escolha. A direção de arte do longa também é um ponto forte do filme, com cenários internos simples, mas muito vem decorados e repleto de itens que compõe bem a colônia que eles querem representar no longa.
Nas interpretações, destaque para as protagonistas Claire Foy (indicada ao Oscar por O Primeiro Homem) que faz Salome, uma da mulheres que além de ter sido violentada, possui uma filha de no máximo uns 7 anos de idade, que também sofreu abuso sexual a noite, vitima do sedativo em spray. Salome se tornou uma mulher violenta que fará de tudo, mas de tudo MESMO, para evitar que sua filha seja tocada por qualquer homem de dentro da colônia, e é a primeira a concordar em abandonar a colônia.
Rooney Mara (do recente O Beco do Pesadelo) faz Ona, que está grávida, uma criança que foi concebida fruto do abuso sexual que ela sofreu dos homens da colônia, ela que obviamente não sabe quem a abusou e não sabe quem é o pai, é questionada no filme se ela não tem raiva da criança, de estar grávida nessas condições, e ela responde que já ama essa criança mais do que qualquer coisa na terra. Claire Foy está uma força da natureza neste longa, muita presença de cena, está incrível e fico me perguntando se caberia uma lembrança para ela nesta temporada de premiações... atuação grandiosa e fortíssima. Já Rooney Mara é o oposto em termos de personalidade de Salome, Ona é mais delicada, mais esperançosa, mais realista e pé no chão. A atuação de Rooney Mara deixa isso em pleno destaque durante todo o filme, e há uma delicadeza sem tamanho na forma como Rooney Mara traz essa sensibilidade para as falas e os trejeitos de Ona no filme... ela está muito bem no longa, uma de suas melhores atuações na carreira.
Jessie Buckley fez Mariche, conheci Jessie no filme 'As Loucuras de Rose' e depois em outros filmes como 'Judy', 'Men', 'A Filha Perdida', ou seja, já virei fã dela que é uma atriz com A maiúsculo, e aqui ela está incrível novamente. Rouba a cena como Mariche em todas as cenas que aparece, tem uma carga dramática em sua atuação na maioria das cenas, principalmente nas cenas onde aparece com hematomas por ter apanhado do marido bêbado. E é muito bom ver como ela vem crescendo em suas atuações com o passar dos anos e dos trabalhos, e eu acredito fielmente que dentro em breve, Jessie irá abocanhar grandes prêmios e conseguirá um Oscar por suas grandes atuações.
Cito ainda Ben Wishaw (da série This is Going To Hurt) que faz o professor da colônia, August, apaixonado desde criança por Ona, ela junto ás mulheres da colônia, verbalizam uma forma de fugirem de lá, e o porque de saírem dos lares que vivem desde que nasceram. A participação de August é mais atenuada, ele ao mesmo tempo que não é levado muito em consideração nas decisões das mulheres, também é consultado e tem um papel importante durante os acontecimentos. Ele dá um certo ar de infantilidade e jovialidade a August, e é quase como se ele fosse o grande irmaozão de todas elas. Foi uma atuação bem singela a de Ben no filme. Fora que temos uma participação no começo e no fim do filme de Frances McDormand, que também é uma das produtoras do longa.
Com certeza uma das melhores coisas do filme é a música de Hildur Gudnadóttir, eu já sou fã dela desde a trilha de 'Joker', e este ano além de aparecer no filme 'Tár', ela também mostra seu trabalho neste filme, e sua trilha é perfeita. Do começo do longa, ao fim, depois que toca 'Daydream Believer' dos Monkees, quando sobem os créditos e entra mais uma das musicas de Gudnadóttir. A música dela compõe bem todas as cenas do filme, e dita o ritmo de algumas personagens do longa, casa bem com as ações apresentadas em cena, enaltece ainda mais alguns dramas evidenciados em tela pelas personagens, e é lindíssimo de se ouvir. Um dos mais belos trabalhos dessa compositora que admiro demais.
'Women Talking' ganhou inúmeras indicações nesta temporada de premiações: - No Critics Choice Awards foi indicado a Melhor Filme, Melhor Elenco, Atriz Coadjuvante (Jessie Buckley), Roteiro Adaptado, Diretor (Sarah Polley) e Compositor para Hildur Gudnadóttir. - No Globo foi indicado apenas a Melhor Roteiro e Trilha Sonora; - No Gotham Awards indicado a Roteiro e Atriz Coadjuvante (Jessie Buckley); - No SAG's indicado a Melhor Elenco; -No Spirits Awards indicado a Melhor Filme, Roteiro e Direção, além de um prêmio especial para o elenco do filme. - No Satellite Awards indicado a Trilha Sonora, Atriz Coadjuvante (Claire Foy), Ator Coadjuvante (Ben Wishaw), Diretor, Roteiro Adaptado e Filme Drama. - No Oscar teve duas indicações, Melhor Filme e Melhor Roteiro Adaptado.
Em questão de prêmios, levou o Critics Choice Awards de Roteiro Adaptado. E também levou dois prêmios no Satellite Awards, um também por Roteiro Adaptado para Sarah Polley e um de Atriz Coadjuvante para Claire Foy, que é mais protagonista no longa, do que coadjuvante, mas se colocam ela ou Rooney Mara para concorrer em Melhor Atriz, realmente não iria dar para levar um prêmio com concorrentes tão fortes como Ana de Armas, Viola Davis, Cate Blanchett e as demais.
'Women Talking' é um ótimo filme, um dos trabalhos mais refinados de Sarah Polley, quase nada de defeitos, tem ótimas atuações, um elenco de primeiríssima linha, uma trilha soberba, uma cinematografia que salta aos olhos e um texto muito mais que bem escrito. Acredito eu que deva levar o Oscar de Roteiro Adaptado, mas Melhor Filme com certeza está longe de ser um dos cogitados a levar.
Enquanto eu assistia 'Corsage', algumas passagens do filme me lembravam 'Maria Antonieta' de Sofia Coppola, muito pela história passar por uma premissa um tanto parecida, mulheres que são rainha e imperatriz de seus respectivos países, e que levavam uma vida à parte de seu povo, se preocupando apenas com etiquetas, padrão monárquico social, ociocismo, amantes e ditar moda.
Mas 'Corsage' foi um filme que me entreteu menos do que o filme de Sofia Coppola, pois as camadas lançadas em tela para definir quem era, e como se encontrava naquele atual estado a Imperatriz Elisabeth, foram bem rasas, beirando ao ridículo, e em nenhum momento senti que aquilo que eu via, era valido para tamanha angústia verbalizado Imperatriz.
O filme foi uma ideia de Vicky Krieps, que convidou a diretora Marie Kreutzer a filmar o longa, e a ideia de Krieps era justamente mostrar que havia uma melancolia, uma tristeza, uma inquietação por parte de da Imperatriz (apelidada de Sissi) que a fazia ser uma espécie de rebelde dentro da vida monárquica que levava junto ao seu marido, o Imperador Franz Joseph. Na verdade, o filme mistura fatos reais com fatos ficcionais de como foi esse período da vida de Sissi, após perder o filho (e que no filme, foi uma filha ainda bebê), e viver presa a uma rotina da qual desprezava, e pouco contato tinha com o povo austríaco e húngaro, apesar do desejo de realizar mais por eles.
Acredito que não foi uma das melhores formas de se conduzir o roteiro do longa, pois quando se mistura acontecimentos reais com ficcionais, o resultado geralmente não agrada, e aqui, na minha opinião, foi exatamente o que aconteceu. Tanto Krieps quanto Kreutzer, focaram no que Sissi estava sentindo na época, no quão estava incomodada, perturbada, mal amada, injuriada, feia, já nos seus 40 anos, sempre tentando se manter no peso, para não parecer fora de seu padrão de beleza reconhecido por muitos e muitos anos. Uma junção de sentimentos e arrependimentos, e medos e inseguranças que faziam, no filme, com que a Imperatriz vivesse triste, incompreendida, chateada, emburrada, como se estivesse de TOM 24 horas por dia.
No filme, a Imperatriz se irritava por tudo, por não ter atenção do Imperador, por não ser escutada por ele, por não gostar das etiquetas monárquicas nos intermináveis jantares formais, por não apertarem o espartilho dela o suficiente, por não se achar mais bela o suficiente, por não viajar, por viajar, por não ser cortejada, por não chegar aos finalmentes com seus amantes, enfim, eram muitos e muitos motivos, e isso deixou a personagem muito vazia. Claramente, não só pela idade e pela sua beleza jovial que estava lhe escapando, mas a Imperatriz nunca se recuperou da perda de seu filho e sua amante que morreram anos antes, e logo em seguida ela perdeu o pai, a irmã em um incêndio e a mãe. Porém, no filme, esses acontecimentos sequer são citados, apenas uma filha, ainda bebê que a mesma perdeu, e que nem parece ter tanto peso nas melancolias que Sissi sente durante o longa. A impressão que me passou, foi que a Imperatriz não sabia o que queria da vida, não sabia como viver, queria continuar sendo jovem, mas tacava o dane-se pra tudo, não queria a vida monárquica, mas gostava do conforto. Vivia viajando, mas se emburrava fácil nos lugares onde ficava, era doida para ter amantes que lhe dessem atenção, mas não chegava aos finalmentes com eles, pois as pessoas estavam 'comentando'. Não sabia agradar o marido, queria ser agrada, mas não sabia como e nem com o quê... quando agradava seu marido, não se sentia plena, maltratava as criadas por bobagens sem sentido, queria ver a irmã, mas ao mesmo tempo nunca mais a queria ver. Aparentava amar a filha, mas sequer passava 5 minutos com ela... ou seja, um roteiro que não dizia nada da personagem. Era um roteiro que queria se aprofundar nas melancolias femininas, sofridas pela Imperatriz austríaca, para refletir na feminilidade dos dias de hoje, mas representou uma personagem vazia, que não sabia o que queria, e que nada teve a mostrar ou conversar com o público que assistia ao filme.
Particularmente, eu achei o filme muito arrastado, sem vida, pouco atrativo, pouco engraçado e nenhum um pouco relevante. Ele não é chato, mas também não chama a atenção.
O que de bom pode se tirar do filme são seus visuais estéticos, afinal ele tem uma direção de arte soberba, recriaram muito bem aqueles finais dos anos 1800 na Áustria, as cenografias internas estão de cair o queixo mesmo, muitos detalhes em lustres, tapetes, quadros...fora os móveis, carroças, locais que filmaram o longa que se passavam em locais longínquos onde a Imperatriz ia passar férias, foram muito bem escolhidos e decorados. O figurino então, esteve impecável, sinceramente foi de primeira linha, desde as vestimentas da Imperatriz, como dos criados reais, assim como os do Imperador que estiveram impecáveis também, os demais personagens coadjuvantes que apareceram quando Sissi viajava, também tinham figurinos bem detalhados, costurados, caracterizados, foi um trabalho acima da média. Outro ponto que esteve 100% foi a cinematografia do filme, realizado por Judith Kaufmann, perfeito, tivemos cenas excepcionais, como a cena em que Sissi cavalgou com a filha de madrugada, as cenas onde ela estaca em campo aberto, as cenas onde o rapaz que estava criando as imagens em movimento, e captou ela, o filho dela, em preto e branco, com ela gritando e falando sabe-se lá o quê, pois não saía som ainda, realmente um belíssimo trabalho da profissional.
Gostei muito da atuação de Florian Teichtmeister como o Imperador Franz Joseph, nas poucas cenas em que apareceu ele mostrou uma grande presença de tela, atuou muito bem junto a Vicky Krieps, tiveram uma ótima parceira em cena, e poderia ser melhor trabalho pelo roteiro de Marie Kreutzer, mas ainda assim foi um vom trabalho.
Sobre a Vicky, não achei sua atuação ruim, nem forçada como vi alguns "críticos" comentando... acho que ela atuou bem, no que ela queria propor com a personagem, o que ela idealizou para o projeto, e como ela queria retratar a Imperatriz, ela foi bem no que ela propôs com o que tinha em mente. mesmo não tendo sido do meu agrado a representação do longa como um todo e da personagem em si, não nego que ela atuou bem com o que se propôs a apresentar... mas também só isso e nada demais a se ressaltar, tanto que pra mim, algumas indicações que ela ganhou nesta temporada de prêmios, foram um pouco exagerados...
A música do filme foi composta por Camille, uma compositora e atriz francesa,ela canta apenas uma música no filme, que se divide em partes do filme, e é uma canção belíssima, que compõe bem os sentimentos da Imperatriz no longa, merece muito crédito, mas se limita a apenas essa canção e nada mais... bem pobre para o que poderia oferecer para o longa.
O longa foi indicado a Melhor Filme Estrangeiro no BAFTA, Satellite Awards, Spirit Awards e Gotham Independent Awards; Além de Vicky Krieps ter sido indicada a Melhor Atriz Drama no Satellite Awards.
No quesito prêmios, a atriz Vicky Krieps ganhou por sua performance na categoria de Atriz no Prêmio de Cinema Europeu e no Prêmio Un Certain Regard.
Eu não indicaria 'Corsage' a Filme Estrangeiro em nenhuma premiação, obviamente alguns profissionais gostaram do longa de Marie Kreutzer, mas eu tive meus problemas com o filme, principalmente com a forma como quiseram misturar realidade e ficção e em como a protagonista do longa não tem nada a realmente dizer ao público que a assiste. A cena final, enquanto passa os créditos, de Vicky Krieps dançando em câmera lenta, foi muito mal inserida no longa, logo depois de a mesma se atirar no mar, deixando o final do filme vago, em aberto, para aqueles que não conhecem a história da Imperatriz, assim como eu não conhecia. Acho que Marie Kreutzer quis filmar de uma forma onde cada cena, cada passagem, fosse uma pintura em um quadro exposto em uma galeria como se fosse uma obra prima, edição rápida demais no filme de uma cena em forma de pintura para outra, e pouca atenção e construção no roteiro. Pra mim, um filme bem mediano.
Fico me perguntando se é muito pretensiosismo meu, tentar colocar Darren Aronofsky no mesmo grupo de diretores como, Shyamalan, Joel Schumacher, David Fincher, que possuem filmes que são ame ou odeiem, muitos bons e muito polêmicos... no caso de Aronofsky, filmes bem controversos como 'Mãe!' e 'Noé', e duas obras primas do cinema moderno, 'Cisne Negro' e 'O Lutador'.
Com A Baleia (The Whale), Aronofsky está novamente levantando essa questão, como discussões acaloradas entre críticos de cinema que meteram o pau no filme, e outros que elogiaram bem, e o público, onde grande maioria está tendo uma receptividade muito boa, e alguns poucos têm questionado a qualidade do roteiro e dos personagens. Apenas uma coisa é unanimidade entre todos eles, que Brendan Fraser (A Múmia) tem a atuação do ano, a atuação da sua carreira, que ele está de volta a Hollywood. E essa também é a minha opinião sobre Brendan.
Debaixo de uma camada grossa de próteses para deixá-lo obeso como apareceu no filme, Brendan conseguiu expressar todos os sentimentos que Charlie queria expressar ao espectador. Na forma de falar, na forma de se locomover, na forma como olha com ternura para a filha, em como dava atenção a sua amiga Liz, em como trouxe uma humanidade, uma fúria, uma densidade, uma inquietação dramática para seu personagem, em como ele mergulhou fundo na psique de um homem obeso que se esconde do mundo, das pessoas, que possui muitos traumas, recentes e antigos, que possui muita vergonha, mas ao mesmo tempo, detém um senso de esperança e de otimismo. Um amálgama de sentimentos que se digladiam dentro do âmago de Charlie, e faz com que ele seja uma das pessoas mais doces que alguém possa conhecer, e ao mesmo uma das pessoas mais egoístas e suicidas que se possa conhecer. Eu não vou me arriscar em dizer que foi 'A' atuação de 2022, mas que está no top 5, isto com certeza está, pois é impossível você não sentir nada com a jornada de Charlie durante o filme, ele te deixa bravo, ele te deixa emocionado, esperançoso, inspirado, apresenta muitas nuances de uma pessoa que tanto errou, tanto perdeu, e que de uma forma tão peculiar, também quer tanto viver. Tudo isso graças a grandiosíssima atuação de Brendan Fraser, que volta com tudo ao cenário Hollywoodiano, em um filme que tira tudo de sua veia dramática... não sei se foi o papel mais desafiador que ele já interpretou, só ele para dizer isso, mas com certeza, vai ser lembrado por décadas como uma de suas maiores interpretações em longas-metragens.
A24, essa é o estúdio por trás de 'The Whale', o meu estúdio favorito hoje em dia, da qual sou fanzaço, desbancando até o estúdio que vou amar até a morte, o Marvel Studios (fã de quadrinhos aqui)... mas a A24 vem crescendo muito nos últimos 5 anos, desde que modestamente começou a produzir filmes, ali por volta de 2013, e já em 2016 ou foi 2017 já levou o Oscar de Melhor Filme por Moonlight (controverso, eu sei, mas levou). Este filme, que foi baseado em uma peça de Samuel D. Hunter, se passa quase que inteiramente na pequena casa de Charlie, grande parte na sala, que é ligada a cozinha, pouquíssimas cenas externas, e uma cena no quarto do namorado de Charlie que morreu. Ele tem essa pegada, esse ar de peça teatral, e isso fica bem nítido na forma como os personagens que entram e saem da casa de Charlie se locomovem pelo cômodo. Sempre para lá e para cá, nunca ficando em uma posição que dificulte o contato visual com Charlie, que passa quase que praticamente o filme todo sentado. Esse foi um ponto que me incomodou um pouco, principalmente nas cenas com Samantha Morton, que fez Mary, a ex-mulher de Charlie... na discussão que eles tiveram próximo do fim do filme, em nenhum momento ela ficava parada rente ao Charlie, para falar seu texto, era o tempo todo indo pra cozinha, voltando pro meio da sala, senta, levanta, vai para a porta, segue para próximo da janela, volta, fica em frente dele, vai pra cozinha de novo... a gente entende que tem esse ar de peça teatral como mencionei, mas aqui acredito que Aronofsky poderia ter deixado Samantha mais à vontade. Ela já é uma atriz experiente, consagrada, poderia ter conversado com ela e pedido para ela entregar o que já sabe, e deixado ela mais livre para poder realizar a cena. Tenho quase certeza que foi orientação dele para que ela fosse, viesse, voltasse, sentasse, levantasse e por aí vai.
Mas no geral, eu achei o filme muito satisfatório, com um ritmo muito bem construído, cenas e textos que, ao meu ver, prendem o espectador, fora o carisma de Brendan como Charlie, e também traz essa construção de cenário de perda, entre ele e Liz, sua enfermeira, a relação dos dois é muito boa, muito bem construída, tem uma química bacana entre ele e Hong Chau, e é algo bonito de se ver e que se relaciona com o público. Não enxergo essa bomba toda que alguns críticos especializados estão soltando sobre o longa, sobre a relação dos personagens com Charlie, de como o filme é pretensioso demais e blá blá blá. Confesso que não achei a direção de Aronofsky a coisa mais das perfeitas, algo para se exaltar e tal, tem coisas ali que acho que ele poderia ter tido um pouco mais de tato, de bom senso, de olhar... porém, entrega o básico para conversar com o público.
Além de Fraser e Samantha Morton que já citei, temos Hong Chau (de O Menu) fazendo Liz, como também já mencionei, como uma interpretação ótima, bonita, bem condensada, acho que ela se entregou bastante ao projeto, entendeu a personagem, entendeu o contexto que se inseria, entrou no sentimento da relação entre os dois, e realmente entregou uma performance de se aplaudir. Gostei muito dela, demais mesmo.
Sadir Sink (de Stranger Things) também esteve ótima na minha visão... acredito que ela começou um pouco mais fria, mais sisuda, demorou um pouco para achar uma sintonia com Fraser, mas do meio pro final do filme, era nítido como sua atuação estava cada vez ficando mais solta, e brilhou demais na conclusão do longa. Ela já é ótima na série da Netflix que conquistou o mundo, e aqui mostra uma veia um pouco mais dramática e o quão boa atriz ela é.
E ainda tivemos Ty Simpkins (de Homem de Ferro 3), quem se lembra dele no filme, vai ver aqui um homem já feito, atuando muito bem, ele faz Thomas, da igreja Nova Vida, tem uma cena ótima com Sadie no quarto do ex namorado de Charlie, outra cena de destaque com Hong Chau, na parte externa da casa de Charlie, onde ela brilha um pouco mais que ele, e claro, sua cena inicial e final com Brendan Fraser que são os pontos altos de sua atuação no filme. Gosto muito dele e foi muito bom vê-lo atuando tão bem no longa e agregando ao filme.
A música do filme é de Rob Simonsen, e é uma das coisas mais velas do filme, se mescla vem com as cenas, cria todo um ar apatia, desespero, tristeza, enfim ... Rob estava inspirado, pois realmente foi um belo trabalho realizado.
Agora, falando em indicações e prêmios, nesta temporada de premiações, 'The Whale' vem forte mesmo com Brendan Fraser, como um franco favorito para levar o Oscar de Melhor Ator: - Fraser foi indicado a Melhor Ator no Globo de Ouro, SAG's awards, BAFTA, Critics Choice Awards, Copa Volpi do Festival de Veneza, Satellite Awards, Hollywood Critics Association e o OSCAR. Até agora, levou o SAG's, o Critics Choice, o Hollywood Critics Association e o Festival de Veneza. É franquíssimo favorito ao Oscar e acredito que no Satellite possa dar Austin Butler... veremos.
-Hong Chau foi indicada a Atriz Coadjuvante no SAG's Awards e no BAFTA e perdeu os dois, mas também não era a favorita. Ainda tem o Oscar, mas também deve passar batido.
-Sadie Sink foi indicada a Melhor Jovem Ator/Atriz no Critics Choice, mas perdeu merecidamente para Grabriel LaBelle.
-Ainda foi indicado no Oscar, BAFTA e Critics Choice a Maquiagem e Penteado. Foi indicado ao Sindicato dos Produtores a Melhor Filme, perdendo para 'Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo'. Foi indicado a Roteiro Adaptado no BAFTA, Festival de Veneza e Critics Choice, perdendo os três, mas ainda concorre no Satellite Awards.
'The Whale' é um filme que com certeza irá tocar cada pessoa que for ao cinema assistir... na sala em que fui, foram vários os soluços quando o filme acabou, e muitas pessoas que ficaram sentadas vendo os créditos, apenas absorvendo toda a experiência que tinham acabado de acompanhar. Se puderem, vão ver o filme no cinema, é uma experiência única, o tipo de filme para ter suas reações junto a outras pessoas, e ver como o longa toca cada uma delas a sua maneira. Foi uma experiência muito próxima de Aftersun, quando conferi. Bem vindo de volta Brendan Fraser!
'Good Luck To You, Leo Grande' foi um dos grandes destaques do cinema estrangeiro no último ano, aqui mesmo no Brasil, foram várias salas abrigando o longa, e levou muitas semanas para sair de cartaz. Infelizmente, cometi o erro de não conferir nas telonas, mas após conferir o longa em casa, devo confessar que a experiência no cinema teria sido ótima, pois o filme é muito bem dirigido e tem um ritmo ótimo, com dois atores que estão em uma ótima sintonia, e possuem uma química que funciona muito bem.
Protagonizado por Daryl McCormack e Emma Thompson, o filme traz um tema que pouco é utilizado nos filmes, o prazer feminino. Aqui, Nancy teve uma vida atribulada como professora, filhos que cresceram e pouco lhe dão atenção, e um marido que foi muito bom para ela, menos no sexo, já que queria tudo muito certinho, 'papai e mamãe', vira pro lado e dorme. Foi o único homem na vida sexual de Nancy (Emma Thompson), e depois de ele falecer, ela resolve procurar um profissional do sexo ( que está mais para terapeuta do sexo), afim de ter uma coisa que nunca teve em sua vida inteira... um orgasmo. Mas Nancy, como mostra no filme, não quer só um orgasmo, coisa que nunca teve e sempre fingiu com o marido... na verdade ela quer ir além do orgasmo, pois ela também nunca fez um sexo oral (o famoso boquetão), nunca fez outras posições sexuais, como a famosa sentada, e o preferido dos homens, de quatro. Nancy quer o pacote completo, porém, são tantas questões internas não resolvidas, tanto arrependimento, amarguras, tristezas, medos, inseguranças, que Nancy não consegue relaxar e conseguir realizar aquilo que deseja, chegando ao ponto de quase desistir de seu objetivo/desejo.
É aí que entra Leo Grande (Daryl McCormack), que foi contratado para fornecer esses serviços, mas tem experiência o suficiente para servir como uma espécie de terapeuta sexual, uma vez que Nancy tem tantas questões pessoais para lidar que a impede de se entregar ás suas vontades e desejos. Apesar de Leo possuir muitas clientes ( e 'clientos'), já estar acostumado com seu trabalho, e tentar ajudar Nancy a relaxar e passar por cima de suas questões para então poder realizar suas vontades, Leo também tem suas questões internas, pontos pessoais, em termos familiares, que o fazem questionar a natureza do seu trabalho, o porque de esconder seu ofício da família (irmão e mãe), e como as questões de Nancy se misturam com suas questões.
Dirigido por Sophie Hyde, sendo apenas seu segundo longa na carreira, e escrito por Katy Brand, sua estreia como roteirista de longas, 'Boa Sorte, Leo Grande' é um ótimo filme, possui um texto muito bem escrito, um diálogo rico e ácido entre os dois protagonistas, questões bem desenvolvidas e exploradas em cena, e a impressão que passa é que a história dos dois é muito rasa, ou apresentada de forma rasa, mas na verdade, o roteiro nos apresenta o mundo que cerca os dois protagonistas muito bem, nos é apresentado o que precisamos saber da vida dos dois, apenas o suficiente para que faça parte do que está acontecendo dentro daquelas quatro paredes, que é a discussão que nos interessa. Sabemos sobre o casamento sem aventuras sexuais de Nancy, seus filhos que seguiram suas carreiras e pouco têm contato com ela, e sua vida profissional como professora que foi cheia de altos e baixos, com erros, acertos e equívocos, e tudo isso acaba tomando conta de suas emoções no momento em que ela está a sós com seu profissional do sexo, para fazer coisas que sempre teve desejo de fazer e sentir, mas nunca o fez. Assim como Leo, que tem uma preocupação de que sua família não aceita seu ofício, uma vez que sua mãe o expulsou de casa e não o reconhece mais como filho, depois de flagrá-lo em uma orgia, e seu irmão, que suspeita sobre seu verdadeiro ofício, mas prefere ser enganado. Essas questões fazem com que Leo se olhe no espelho e tente reconhecer o homem que ele está enxergando, até porque, Leo Grande é um personagem criado por ele, na verdade ele possui outro nome e um outro ofício... assim como Nancy, que possui outro nome, não teve coragem de se revelar totalmente a Leo quando o contratou.
O grosso do filme se passa nesse quarto de hotel onde Nancy e Leo Grande fazem sexo, conversam sobre a vida e as experiências, medos, e tudo o mais, são pouquíssimas cenas externas, e além dos dois, temos somente mais uma atriz no filme, Isabella Laughland, que faz Becky, funcionária de um hotel e ex aluna de Nancy.
Por ser o primeiro roteiro de Katy Brand, na minha opinião, ao ter assistido o filme, acho que ela mandou muito bem, criou um cenário gostoso de se acompanhar, de um tema que pouco é abordado, a sexualidade feminina, a aceitação com seu corpo, o desejo de experimentar fantasias sexuais, sejam elas quais forem, na terceira idade, e o tabu que é contratar alguém que fornece serviços sexuais para pessoas que estão solitárias, ou não possuem parceiro sexual ou na vida, ou que querem apenas ter uma noite de libido sem comprometimentos. O filme deixa claro que não há vergonha no trabalho desses profissionais do sexo, e que podem fazer um bem imensurável a pessoas (no caso aqui, mulheres) que querem ter uma noite agradável, ou apenas ter companhia, uma boa conversa, ou realizar certos desejos sexuais, dos mais simples aos mais cabeludos. E tudo isso foi muito apresentado em texto e em tela por essas duas mulheres, que conseguiram colocar sensibilidade, leveza e autenticidade no que foi apresentado em pouco mais de 1h30 de filme.
Daryl McCormack foi indicado ao BAFTA de Melhor Ator por este trabalho, assim como também levou a indicação ao prêmio 'EE Rising Star', o prêmio de estrela em ascenção da premiação Britânica, perdendo para Emma Mackey.
Já Emma Thomspon foi indicada a Melhor Atriz no BAFTA, no Globo de Ouro e no Satellite Awards, perdendo os dois primeiros para Cate Blanchett e Michelle Yoeh, respectivamente, restando o Satellite Awards, do qual eu acho que dificilmente ganhará.
O filme foi indicado a Melhor Filme Britânico no BAFTA, perdendo para 'Os Banshees de Inisherin', e Kate Brand foi indicada a Melhor Roteirista, diretor ou produtor Britânico Estreante, perdendo para Charlotte Wells por Aftersun.
É um filme bem gostoso, com uma ótima dupla de protagonistas, e um texto bacana de se acompanhar, de um tema que deveria ser mais explorado... é um filme sem pudor, sem vergonha de falar sobre sexo, e sem vergonha de expor o sexo. E possui uma cena final lindíssima, com Nancy abraçando e aceitando seu corpo. Arte pura.
Quando eu vi no catálogo do Star Plus o filme 'Veja Como Eles Correm', logo favoritei para poder ver o quanto antes, muito pelos dois protagonistas, San Rockwell (Homem de Ferro 2) e Saiorse Ronan (Atonement), e obviamente fiquei intrigado do porquê este filme não ter passado pelas salas de cinema aqui no Brasil. Após ver que o filme estava pré indicado ao BAFTA, e entender que se tratava de um filme britânico, descobri a resposta de não ter vindo para os cinemas, e já visualizei que seria um filme um pouco diferente em experiência dos filmes convencionais que assistimos o ano inteiro.
Realmente, 'Veja Como Eles Correm', por ser um filme britânico, já tem uma forma muito peculiar em sua forma de construção, tanto de roteiro, como de exibição. Escrito por Mark Chappell, o longa é um tradicional conto de: 'Descubra quem é o misterioso assassino, junto ao detetive astuto e esperto, que age como se não ligasse pra nada, e preste atenção nas pistas e detalhes'. Têm muitos filmes aí fora que seguem essa premissa à risca, 'Assassinato no Expresso do Oriente' é um, e mais recentemente os filmes de Rian Johnson 'Knives Out' e 'Glass Onion' conquistaram o público com essa premissa.
Neste longa de pouco mais de 1h30 de duração, é tudo muito clichê, meio batido, nada realmente irá surpreender o espectador, acredito que irá entretê-lo, mas é um filme que depois que termina, dificilmente você irá se lembrar dele no futuro, é apenas mesmo um bom entretenimento. Ambientado no West End de Londres da década de 50, um assassinato aocntece nos bastidores de uma famosa peça de tetatro que está em cartaz, e que está prestes a ter um contrato assinado para se realizar um longa metragem. O inspetor Stoppard entra no caso para solucionar o assassinato e tem a assistência da Policial Stalker (Stalker foi de propósito?), e ambos começam a se conhecer enquanto solucionam o caso, ele como uma espécie de mentor, que não dá a mínima pra ela, e ela como uma novata que irá tentar aprender cada detalhe com ele.
Sem dar spoilers para quem quer assistir um bom filme de 'descubra o assassino' calcado na comédia, o filme entrega o assassino de cara, na hora eu olhei e falei: 'aí tem'. Não deu outra, eles te dão vários suspeitos, mas no fim é tão óbvio, que não surpreende.
Esse foi o primeiro filme dirigido por Tom George, e ele fez um bom trabalho, claro que op filme não é nada demais, ele diverte, entrete, é um bom passatempo, mas é um filme bem ok, mesmo assim, Tom Foerge ritigiu muito bem, e ainda por cima faz uma sátira do próprio gênero de filmes de mistério/assassinato, com textos que fazem sátira a cenas de flashbavk em filmes deste gênero, e os palpites furados da Policial Stalker apontando o verdadeiro assassino antes da hora.
O elenco do filme é ótimo, muita gente competente que se sobressaem em seus papéis:
-Harris Dickinson (de Triângulo da Tristeza) faz Richard Attenborough, o ator principal da peça, e assim como em 'Triângulo da Tristeza', ele está ótimo no papel, bem desenvolto, numa atuação elegante, como a década pede... cada vez mais eu gosto dele atuando, ele precisa ganhar mais papéis, e interessantes é claro, que possam mostrar mais o talento dele em atuação, espero vê-lo em mais filmes daqui para frente.
-Adrien Brody (Blonde) entrega aquela atuação canastrona que já sabemos que ele sabe fazer, e faz excelentemente bem. Aqui ele é o diretor Leo Köpernick, e não spoiler nem nada, porque já fica implícito no filme, mas ele morre de cara, e é o caso a ser solucionado.
-David Oyelowo (O Céu da Meia Noite) faz Mervin Cocler-Norris donodo dos direitos da peça exibida no filme (sim, esqueci dela, me desculpem), e também entrega um performance muito boa, gosto muito dele como ator, bem versátil e sempre muito bem em cena.
Gora os dois protagonistas que dispensam comentários e apresentações, Sam Rockwell tem aquela performance de um inspetor beberrão, cheio de traumas passados, que aparenta não dar a mínima pra nada nem pra ninguém, mergulha fundo no trabalho. Tudo isso regado a um tom muito cômico. Já Saoirse Ronan, está perfeita como a atrapalhada Policial Stalker, que no fundo é bem esperta e astuta, com falas cômicas e uma performance despojada... com tantos filmes drama no currículo dela, é sempre vom vê-la faznedo algo que normalmente não nos apresenta, uma tuação cômica na medida certa.
O filme foi indicado ao BAFTA deste ano na categoria 'Melhor Filme Britânico', perdendo para 'Os Banshees de Inisherin' (estava torcendo para Afetrsun), e apesar de eu ter gostado do filme, de ter me entretido, realmente não tinha chances nenhuma de vencer aqui, e a indicação já foi uma vitória em si.
Fora tudo isso, ainda cito a ótima cenografia do filme, realmente um trabalho bem primoroso de Amanda McArthur e Celia De La Hey. E a trilha sonora que é muito muito muito boa, e bem composta por Daniel Pemberton (Enola Homes 2, Os Caras Malvados, Amsterdam).
Há 8 meses atrás eu havia comentado aqui que o filme tinha sido o grande vencedor da Palma de Ouro Cannes, e que com certeza iria conferir. Foi aplaudido por 8 minutos seguidos depois de sua exibição, e a partir de então começou a ganhar força para chegar como protagonista nas principais premiações desta temporada.
É a primeira vez que vejo um filme de Ruben Östlund, mas já dá pra arriscar sem medo que deve ser o melhor trabalho cinematográfico dele, uma sátira social aos super ricos e aos belos corpos, como ele mesmo disse. Dirigido, escrito e Montado por Östlund, 'Triângulo da Tristeza' começa bem humildizinho, em uma cena que serve como um prólogo do que está por vir, com modelos masculinos sendo entrevistados e expostos, um entrevistador com olhar clínico, para depois nos jogar na realidade de Carl e Yaya, um casal influencer (mais por parte de Yaya), que estão presos em uma discussão sobre feminismo e igualdade de gêneros na sociedade (ou no relacionamento, mais por parte de Carl), e tão logo descobrirão na pele o quanto essa (des)igualdade de gêneros tomará um nono nível, ao embarcarem em um cruzeiro de luxo, que Yaya ganhou justamente por ser influencer.
O charme do filme de Östlund, é justamente a mescla de não se levar a sério, e ser uma comédia mais descarada e nonsense, e se levar a sério e sempre deixar claro a imbecilidade de questões impostas pela sociedade, seja no cotidiano, seja no mundo da moda, e/ou das pessoas de alto poder aquisitivo. Ele deixa claro com os mais variados personagens a bordo do cruzeiro, o quanto estas pessoas endinheiradas, ainda tem passar um ar de humildade, simplicidade, em seus atos e caráters, mas na verdade não passam de egocêntricos que querem veementemente impor suas vontades e visões encima de pessoas que eles julgam serem menos do que eles, pois não vivem a plenitude da vida, desperdiçando o tempo em trabalhos dos quais não gostam (supostamente).
Há um ar de deboche de Östlund para com essa parcela da "sociedade" (eu não gosto dessa palavra), quando todas essas pessoas endinheiradas, dentro do cruzeiro, acabam passando mal, por comerem comidas tão exóticas e esquisitas, e por não aguentarem o mar violento pela tempestade que pode se aproximar lá fora, que faz o barco ameaçar de virar várias vezes. Eles começam a vomitar e "cagar" (diarréia) descontroladamente , quase como se Östlund quisesse nos dizer: "Ei, vocês endinheirados no cinema, vocês cagam igual a prole, ok, então parem com essa P%$#*@". É aquela coisa, não se achem, ou se portem como se vocês fossem a parte da "sociedade" que faz a máquina girar, a arte acontecer, o mundo ser essa vida cor de rosa que se quer vender nos outdoors da vida... olhem em volta que todos tem sua parte e todos estão no mesmo barco (meio metafórico não? Mas até aí o filme todo é assim).
No meio disso tudo ainda temos o Capitão e Dimitry (Woody Harrelson e Zlatko Buric), um marxista e o outro capitalista, e em uma sequência na sala de controles do barco, no microfone que leva voz ao barco inteiro, eles lêem e fazem sátiras marxistas e comunistas, uma vez que o Capitão Thomas está cansado de lidar com pessoas fúteis e sequer liga para elas... já Dimitry, pouco se importa com quem está a sua volta (como sua esposa) e está apenas interessado em suas posses, por mais ridículas que sejam, e isso fica nítido na cena na ilha quando encontra sua esposa e lhe tira suas joias.
Por falar na ilha,é só quando o iate é atacado por piratas (?) que saíram de sei lá daonde, que eles acabam aparando em uma ilha "deserta" (não é deserta), que a inversão de valores realmente acontece. Não do jeito que o público pensa, é um pouco mais sútil do que isso, mas o discurso ali é outro, ao invés de quem é empregado se torna dona da Zorra toda, e quem é endinheirado, se torna apenas um capataz.
Da forma como eu pude entender, a questão ali não era, a faxineira agora é a ban ban ban e o capitalista agora é a escória... ali trata-se mais de quem realmente consegue sobreviver no mundo capitalista e socialista de hoje em dia, onde o que é respeitado são as "coisas" que você conquista, e por coisas, me refiro a carros, joias, móveis, por aí vai, e posições sociais em forma de ofícios. Onde se respeita mais os panos que você veste, os lugares que frequenta, as bebidas que você experimenta, a educação que você recebe... enfim... tudo isso é conquistado graças ao capital, ao dinheiro, mas tire isto de qualquer pessoa do alto escalão, e o quanto ela terá êxito em se virar em uma "sociedade" que valoriza estas questões e deixa de lado aqueles que estão ali para servir os endinheirados e que de fato estão sobrevivendo, em uma ilha deserta disfarçada de mundo moderno. Espero ter captado bem esse olhar que Östlund trouxe para seu longa, de uma forma mais abrangente, afinal, foi muito divertido acompanhar o filme, que possui um ritmo satisfatório. Östlund soube dar espaço e tempo de tela e texto para cada personagem do longa, para expor exatamente o que queria passar com o filme e com que cada personagem tinha a dizer e oferecer. É muito mais comédia do que poderia ser, não tem medo de ser satírico sem pudor, sem escrachismo, faz você rir (ou os "bonitões" que estão representados no filme, entendeu) espontaneamente e de nervoso, não nervoso de bravo, nervoso de jogar certas coisas na cara, e por fazer parte da máquina, o espectador ri fingindo que não é com ele.
O elenco está afiadíssimo no filme e temos alguns rostos conhecidos, outros conhecidos só pra mim, e outras gratas surpresas;
Harris Dickinson (Veja Como Eles Correm, Um Lugar Bem Longe Daqui) faz Carl e está ótimo como sempre, eu o acho um atorzaço, muito desenvolto, e um jeito bem clássico de atuar. Woody Harrelson, que dispensa apresentações está muito bem como o Capitão Thomas. Vicki Berlin faz Paula, uma ótima atriz, gostei bastante dela. Dolly DeLeon fez a faxineira Abigail, deu um show a parte no terceiro ato do filme na ilha, é uma ótima atriz, e por este trabalho foi indicada a Atriz Coadjuvante no Globo de Ouro, no BAFTA e no Satellite Awards.
Por fim, temos a triz Charlbi Dean Kriek, que fez Yaya, esteve ótima no filme, sensual demais na cena do iate de biquíni marrom, como no pôster do longa, acho que no primeiro ato ela teve mais roteiro para atuar, no terceiro ato acredito que a personagem dela não teve tanto protagonismo, ficou um pouco escondida, mas teve uma boa sequência nas cenas finais do longa. Infelizmente, ela faleceu em Agosto de 2022, por conta de uma bactéria que atacou seu organismo, devido a um acidente anos atrás. Eu já a conhecia da série 'Raio Negro' da CW, personagem da DC Comics, e por lá ela fez a Syonide, que era braço direito do vilão Tobias Whale. Uma perda muito triste, na época tinha ficado bem chateado ao ouvir do falecimento dela.
O longa de Östlund foi bem indicado nesta temporada de premiações: -BAFTA para Melhor Elenco, Roteiro Original. -Critics Choice Awards para Melhor Elenco. -Satellite Awards para Melhor Filme Comédia/Musical, Roteiro Original. -OSCAR para Melhor Filme, Direção (Ruben Östlund), Roteiro Original. -CÉSAR, o Oscar Francês, para Filme Estrangeiro.
O longa levou inúmeros prêmios no Guldbagge Award e no Prêmio de Cinema Europeu. Acredito que no Oscar, o longa de Östlund não deva levar nenhum dos 3 prêmios em que concorre, mas acredito que tem muita chance de levar o César de filme estrangeiro.
É um filmaço, é só o que posso dizer, entretenimento puro, diversão mais que garantida, merecidamente vencedor da Palma de Ouro.
E ainda possui um final em aberto, afinal você pode interpretar de várias formas... Abgail pode, ou não, ter matado Yaya naquela cena final... e Carl pode tanto estar fugindo de Abgail, para não ter o mesmo fim de Yaya, como pode estar correndo para ajudar Yaya, temendo que Abgail faça algo ruim com ela. Ou até mesmo pode estar correndo para avisar o resto d pessoal que está na ilha, do ato de Abgail, que pode ter enlouquecido ou não.
Na história do cinema temos personagens originais que se tornaram icônicos em seus filmes, como Forrest Gump, 'A Noiva', Jack Torrance, Hannibal Lecter, entre outros, que fazem e sempre farão parte da cultura pop. É muito difícil criar personagens originais que tenham tanta personalidade, força, que causem um sonoro impacto na obra que estrelam, e no imaginário do público, ao ponto de eles aceitarem que tal personagem foi mesmo uma pessoa real. Isso é para poucos, pouquíssimos, a lista é curta e os 4 acima fazem parte dela.
A verdade é que Lydia Tár, não passa nem perto desta lista seleta de personagens originais icônicos, isso é um fato, não será lembrada por anos e anos, não fará parte da cultura pop, não tem o mesmo peso de outros icônicos personagens... Porém, o que Lydia Tár tem é presença, personalidade, força, serenidade, inquietação, transcendental, vários adjetivos que podem ser usados para evidenciar o tamanho que a personagem representa para a obra que ela estrela. Afinal de contas, Lydia Tár vive em nosso mundo, segundo o longa, é claro, e Lydia Tár é gigante, é uma mulher sem igual, dona de inúmeros dotes e talentos, os mais variados prêmios, sejam acadêmicos, sejam dentro da música clássica, ou até mesmo o EGOT, que poucos artistas possuem em sua carreira.
'Tár' foi um filme desenvolvido por Todd Field (do ótimo 'Pecados Íntimos', indicado a 3 Oscars) durante a pandemia do Coronavírus, e ele mergulha fundo no universo da música clássica, jogando luz a invejável e incrível carreira da Compositora/Maestrina Lydia Tár, a mais famosa e bem sucedida do século XX. Acredito que Field deva ser um ávido apreciador de orquestras, música clássica, regentes, para poder dedicar um filme tão rico em detalhes dentro deste universo, criando uma personagem que tem a regência na palma da mão como nenhum outro poderia ter.
A primeira hora de 'Tár' impressiona e muito, uma vez que o longa já começa fora do convencional... Field já abre o filme com os créditos da equipe que trabalhou no longa, o que seriam os 'créditos finais', já está ali na abertura (o que incomodou algumas inteli'J'entes na sala), para só depois de alguns minutos realmente começar o longa. As duas sequências iniciais que vou exaltar, o começo, quando Lydia é entrevistada diante de uma grande plateia... ali o texto de Todd Field é 101% perfeito, soberbamente bem escrito, ele joga luz a todos os pequenos detalhes que faz da música clássica o que ela é, detalhando minimamente sobre arranjos, composições, inspirações, aspirações, o que ela significa no âmago da existência humana, e como ela mexe com as percepções humanas a ponto de transcender a linha tênue entre realidade e existência. A conversa entre Lydia e o 'hoster' que comanda a entrevista, que visa divulgar seu vindouro livro de memórias, dura mais de 10 minutos, é deliciosamente prazerosa, Cate Blanchett está soberba e muito a vontade dando vida a Lydia, com aquele ar de soberba, escondida atrás de um certo nervosismo, quase como se estivesse nua, pois não estava à vontade regendo uma orquestra, e sim vulnerável aos olhos do público, dissecando e detalhando sobre um tema ao qual ela domina com maestria quando está numa sala lotada com uma orquestra à sua frente.
A segunda sequência se dá na aula que Lydia dá a alunos, onde um aluno em particular, super nervoso por estar na mesma sala que Lydia Tár, tem algumas pequenas visões diferentes de Lydia, pois não aceita trabalhos de compositores clássicos, gênios, por agirem de formas aos quais ele não aceita, dentro da sociedade atual, batendo de frente com Lydia, que tenta passar que a música em si, deve ser contemplada acima de qualquer questão trivial. Toda esta sequência, que possui também um texto rico, detalhado, estudado e enaltecedor, foi filmado em apenas uma tomada... uma única tomada, e isso é perceptível ao acompanhar a cena, e principalmente na forma como Todd Field escolhe os ângulos da câmera, onde decide se posicionar para dar um plano amplo onde Lydia está mais próxima dos espectadores e mais afastada do palco e de seu aluno, ou onde ele foca mais na percepção dos alunos, desfocando um pouco a posição de Lydia que fica mais ao fundo da sala. Foi uma ideia perfeita de se filmar a cena, de enquadrar os personagens e como queria que isto fosse passado ao público, assim como também foi desafiador a escolha de apenas uma tomada para uma cena que leva minutos, e tem um texto tão rico e detalhado, e a margem de erro tem que estar no mais absoluto 0,00%. Duas sequências magníficas que deixaram a primeira parte, ou a primeira hora do filme, com um charme sem igual, para nos evidenciar a persona de Lydia, um pouco de seu caráter, como o mundo a vê, e como ela se relaciona com a vida em si, sua família e seu trabalho.
O filme é ótimo, isso não dá para se negar, penso que Todd Field fez um roteiro muito inteligente, uma história muito sagaz, com muitas nuances, de uma personalidade que cai do seu trono, dada a sua soberba personalidade, de quem se imagina ser intocada. Porém, eu confesso, que para minha experiência, o filme cai um pouco de ritmo e de propósito na sua 1h30 final.
Depois de construir toda a realidade que cerca Lydia, na primeira hora do filme, como uma espécie de massagem de ego da protagonista, Field começa lentamente, cena por cena, a nos mostrar a queda de Lydia, de uma artista intocável que todos idolatram e respeitam, para um ser humano que usa suas parceiras amorosas, possui segundos interesses com as mesmas, é obcecada em ter atenção daquelas com quem flerta, usa os mais próximos para seu próprio bem, além de ter uma personalidade destrutiva quando não está em completo poder dos acontecimentos que a cercam. Lydia fica mau vista na mídia, com as pessoas que consomem seu trabalho, com as pessoas com quem ela trabalha, dentro e fora dos palcos, é assunto de escracho e deboche nas mídias sociais,e aos poucos começa a perder o controle que tem de sua vida pessoal e profissional.
A queda é tão grande, mas tão grande, que Lydia estava preparada para reger um de seus maiores desafios: uma gravação ao vivo da Sinfonia nº 5 de Gustav Mahler. Todo os ensaios são uma das partes centrais da metade do filme em diante, mas devido a queda de Lydia, o quanto ela perdeu o controle da própria vida e das próprias ações, Lydia perde o posto de regente deste trabalho, em um surto sem igual ao agredir o regente que a substitui, Eliot Kaplan (Mark Strong), diante de uma plateia lotada, e isso fez com que Lydia tivesse que recomeçar na Ásia, ou até mesmo, exercer seu trabalho por lá, uma vez que está totalmente manchada mundialmente, tendo que reger uma orquestra dentro de um parque de horrores. Isso que é uma Queda com 'Q' maiúsculo.
Essa queda que Todd Field nos mostra na 1h30 final de filme, de sua metade pro fim, realmente não conquistou o meu agrado, pessoalmente achei que destoou um pouco do que o filme poderia ser até o fim, ou da proposta em que ele se firmou em sua primeira hora inicial. Todos os detalhes, conhecimentos e vislumbres que tivemos do universo da regência, da músicas clássica, do que estávamos aprendendo como leigos do assunto (tirando os que já estavam familiarizados), foi substituído por uma drama que ao meu ver, só acometia Lydia, que pouco se fez presente na realidade dos demais personagens... até mesmo de Sharon (Nina Hoss), que mesmo sendo afetada pela traição de Lydia, lidou muito bem com a situação apenas se separando da mesma. Era uma drama de uma via só, o mundo em volta de Lydia parecia normal e só ela que estava naquela crise existencial, e dentro dessa narrativa, todos aqueles detalhes e protagonismo da música clássica ficou em segundo plano. Até as cenas em que Lydia regia a orquestra nos ensaios, ou tentava melhorar algum instrumento, ou o alcance do som de instrumento em específico, ficou em segundo plano, com cenas rapidamente cortadas, sem foco em sua regência e no número musical em si. Apenas alguns focos nos trejeitos mais furiosos de Cate regendo, o que era sensacional, de encher os olhos, obviamente, mas não tinha segmento, nem conclusão... e sim um corte abrupto, tudo para seguir com o drama que não respingava nos demais personagens. O filme se perdeu um pouco pra mim a partir dessa virada no roteiro, achei que ele ficou menos elegante e mais comum, menos atrativo e mais trivial... continuou bom de se acompanhar, mas não era mais aquela sensação gostosa, de que fui pego de surpresa, se tornou apenas um acompanhamento da derrocada de Lydia, e tudo que tinha de interessante, diferente, fabuloso, foi deixado aos poucos de lado.
Conforme os filmes chegam ás salas ou streamings, fica cada vez mais difícil elogiar Cate Blanchett, pois, o que vou falar dela que já não foi falado... sobre a interpretação, vai acabar sendo mais do mesmo, afinal, quem não se lembra de toda sua entrega em 'Blue Jasmine', ou aquela pompa e elegância em 'Elisabeth', ou toda a sua desenvoltura, estudo e competência ao interpretar Bob Dylan em 'I'm Not There', ou toda sua elegância, criatividade e audácia ao fazer Hela em 'Thor Ragnarok'. A entrega de Cate neste filme chegou a um nível novo, robusto, afinal, ela teve que reaprender a tocar piano, aprender a fala alemão, e o principal, a reger uma orquestra de verdade... inclusive suas cenas regendo a orquestra no longa, não são interpretação, ela realmente está regendo a orquestra, ela aprendeu a ser regente. Que mulher é essa! Ela é de outro mundo! Não á toa essa mulher possui 2 Oscar, 4 Globos, 3 SAG's e 4 BAFTA'S, e tem tudo para conquistar mais um Oscar e um SAG's nesta temporada de premiações.
No elenco de Tár ainda temos os já citados, Nina Hoss (Homeland), Noémie Merlant, Mark Strong (1917, Lanterna Verde), e um elenco gigante de músicos reais que compunham as orquestras do filme.
Houve muita controvérsia na indicação de Hildur Gudnadóttir (Coringa) para Melhor Trilha Sonora no Globo de Ouro e no Critics Choice Awards, e, se por um lado eu meio que entendo, pois ali temos muitas composições autorais, e praticamente nenhuma original, uma vez que a regência toma conta de boa parte da trilha do grosso do filme, a composição de Gudnadóttir ainda está lá... e não só está lá como uma de suas composições, que aparece já nos créditos finais, é surrealmente absurda, é ótima, é tão bem composta, tem tantos diferentes traços musicais, traços estes já característicos do trabalho de Gudnadóttir, que não tem como não levar em consideração suas músicas que compõem a constrição da película, e não o andamento do filme em si. Eu a indicaria sem medo, não acho nenhum demérito, tanto que o Critics Choice Awards não teve rabo preso em premiá-la como melhor Trilha Sonora neste ano.
'Tár' foi um dos filmes nesta temporada de premiação que recebeu mais indicações nas mais diversas premiações de cinema:
-Globo de Ouro, Melhor Roteiro, Melhor Filme Drama, Melhor Atriz; -Satellite Awards, Melhor Filme Drama, Melhor Atriz, Melhor Roteiro Original, Melhor Montagem; -Critics Choice Awards, Melhor Filme, Melhor Atriz, Melhor Compositor, Melhor Roteiro Original, Melhor Diretor, Melhor Edição; -Spirit Awards, Melhor Montagem, Melhor Diretor, Melhor Fotografia, Melhor Roteiro, Melhor Filme, Melhor Protagonista (Cate Blanchett), Melhor Coadjuvante (Nina Hoss); -BAFTA, Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Atriz, Melhor Roteiro Original, Melhor Som; -OSCAR, Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Atriz, Melhor Roteiro Original, Melhor Montagem, Melhor Fotografia; E entre outras indicações em outras premiações.
Com relação a Prêmios, até o momento levou: -2 Critics Awards para Cate Blanchett e Hildur Gudnadóttir, para Atriz e Compositor; -1 Globo de Ouro para Atriz Drama para Cate Blanchett; -1 BAFTA de melhor Atriz para Cate Blanchett; -1 Gotham Awards de Melhor Filme; -1 Volpi Cup do Festival de Veneza de Melhor Atriz para Cate Blanchett;
Com Blanchett vencendo tudo até o momento, ela é a grande favorita para levar o SAG's Awards semana que vem, e o Oscar em Março. Mesmo tendo achado o trabalho de Blanchett soberbo, a minha torcida ainda irá em Michelle Yeoh, que está estupenda em 'Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo'.
Mesmo eu apontando os pontos que me incomodaram um pouco no filme, se comparar com os dois filmes anteriores de Todd Field, 'Pecados Íntimos' e 'Entre Quatro Paredes', este filme de Field é com certeza o melhor de sua carreira, pois ele é grandioso em todos os pontos, do roteiro, ao som, das interpretações, ai tema do longa, à forma de dirigir, de como posicionar a câmera, enfim... querendo ou não, um filmaço dentro do que Todd Field geralmente entrega.
(Assistido 10/02/2023 - Espaço Itaú de Cinema Frei Caneca)
Temos inúmeros filmes que retratam, seja em ficção, seja em fatos reais, as violências, as covardias e as humilhações que as pessoas negras sofreram e sofrem ao longo dos tempos. E muitos desses casos são famosos, como os 5 do Central Park, Martin Luther King, George Floyd, as vítimas de Jeffrey Dahmer, e por aí vai. Este é um dos casos que aconteceram no sul segregacionista dos EUA, na década de 1950, no Mississipi, onde naquela época, por aquelas bandas americanas, o branco tinha seu lugar e sua posição, e o negro tinha seu lugar e sua posição, não podiam se misturar, não eram permitidos se misturar, o racismo era aberto, exposto, livre, não era crime, não era pecado, fazia parte da sociedade, estava enraizado na sociedade (ainda está até hoje... no mundo!), e não importa se por algum acaso o negro estivesse certo, com a razão, ou tinha um ponto, se um branco falou o oposto, e afirmasse que o negro o deixou desconfortável, a palavra do negro sequer seria escutada, e o negro seria linchado, agredido, seria colocado em seu devido lugar. Nenhuma polícia poderia, ou, iria interferir... afinal, era comum.
O filme 'TILL' conta a história de Mamie Til e seu filho Emmett 'Bobo' Till, quando Bobo vai até Mississipi visitar seus primos, uma vez que ele é de Chicago, cidade diferente, costumes diferentes, educação diferente, tolerância diferente... Bobo se comporta do seu jeito, mais despojado, boêmio, convencido, sem saber como é o dia a dia no sul do país. Em uma parada com os primos em um estabelecimento, Bobo elogia a atendente, branca, que obviamente não gosta do atrevimento do 'negrinho'. Por conta de seu ato, Bobo paga com a vida, uma vez que a moça branca conta o acontecido à seus familiares, e então dois homens brancos invadem a casa dos pais dos primos de Bobo, e o levam a força, o amarram a uma árvore ou algo assim e o agridem, o lincham com paus e ferros, amarram arame farpado ao redor de seu pescoço, e depois de levar tantos e severos golpes, seu corpo é jogado no rio.
Á época, Mamie, mãe de Bobo, resolveu mostrar o estado do corpo de Bobo ao país, realizou um funeral com caixão aberto, todos puderam ver o estado do corpo de Bobo depois das agressões. Com uma maquiagem pesadíssima no ator Jalyn Hall, podemos ter uma ideia de como ficou o corpo do garoto, inchado, roxo, hematomas saltitantes, desfiguramento, algo que deveria levar qualquer mãe á depressão ou ao suicídio, ou até mesmo à completa loucura.
Hoje em dia, casos hediondos contra os negros ainda acontecem, todos os dias, em todas as partes do mundo, e é claro, única e exclusivamente pelo tom de pele, pelo diferente, pela não encaixamento ao padrão, e vermos um filme como 'Till' que foca em um acontecimento tão hediondo, nos evidencia que de lá para cá, pouca coisa mudou. Se antes era normal, parte da sociedade, sequer era crime... hoje está mascarado atrás de ideias políticas, posições conservadoras, desvios de caráter, e a já famosa não aceitação ao padrão exigido pela sociedade como um todo.
'Till', apesar de ser um filme com uma discussão forte e pouco apelativo, acaba sendo um filme que apenas entrega o que se propõe, contar a história de Mamie, pois o filme se passa sob a perspectiva dela, e pouco se preocupa em se aprofudar no debate social da época, o quanto isso ainda é gritante nos dias de hoje, e em como a sociedade e os líderes políticos da época lidaram e responderam ao caso. O filme foca na dor e na força de Mamie, de perder o filho de forma tão brutal e em como se reergueu para lutar contra esse tipo de violência por toda a América, e exigir responsabilidade criminal para futuros assassinos racistas que até então não eram penalizados e nem responsabilizados pelos seus atos naqueles tempos.
É um ótimo filme, com um bom ritmo, que elucida bem os fatos e os desdobramentos, apesar de falhar aqui e acolá em dar mais atenção em algumas sequências da trama, certas passagens são evidenciadas no longa, mas não são detalhadas e concluídas, apenas são levantadas, para se fazer parte do contexto do que está sendo contado, e depois é largado para se avançar no segmento do roteiro. Nada que estrague a experiência de se acompanhar o longa, como não estragou nada para mim, mas é algo para ser notado, uma vez que seria interessante se aprofundar em algumas cenas mais intimistas, que envolviam Mamie e seu atual namorado, ou até mesmo Mamie e sua mãe Alma Carthan.
A grande força mesmo do filme, vem da interpretação monumental de Danielle Deadwyler, que está uma força da natureza em cena. Ela traz consigo uma carga emocional de drama tão gigantesca, tão enorme, tão nítida, que é impossível você não sentir a dor que Mamie está sentindo... na verdade, todos os sentimentos que Mamie tem durante o filme, você experimenta pela interpretação de Danielle, é como se você estivesse de mãos dadas a ela o filme todo. Te pega de uma forma meio inexplicável, e isso é algo que poucos atores e atrizes conseguem passar em cena, e Danielle foi muito feliz em captar isso do texto e trazer para as cenas de uma forma tão genuína, que transplantasse as telas e parasse no interior de cada pessoa que estivesse assistindo ao longa. Por conta de seu incrível trabalho, Danielle Deadwyler foi indicada a Melhor Atriz no Critics Choice Awards, SAG's Awards, BAFTA, Satellite Awards, e na NAACP, a Associação Nacional Para o Progresso de Pessoas de Cor. Por enquanto, Cate Blanchett levou o prêmio no Critics Choice, mas Danielle tem chances nas demais premiações, mesmo concorrendo com nomes de peso como Michelle Yeoh, Viola Davis e outras.
Jalyn Hall fez Bobo, e ele atuou muito bem, uma ótima revelação deste ano, tem carisma, sabe se portar diante da câmera com muita leveza e gingado, se assim posso dizer, se mostrou versátil, dançando, proclamando, e dando pequenos traços de comédia ao seu personagem. Jalyn foi indicado ao Critics Choice Awards na categoria Melhor Jovem Ator/Atriz, perdendo para Gabriel Labelle.
O longa ainda conta com Whoopi Goldberg, que dispensa comentários, que interpretou Alma Carthan, mãe de Mamie e avó de Bobo, e também foi produtora do longa. Além de Sean Patrick Thomas, John Douglas Thompson e Haley Bennett.
Dirigido, produzido e escrito por Chinonye Chukwu, 'Till' ainda foi indicado em outras categorias nesta temporada de premiações; - No Satellite Awards, concorre a Melhor Filme de Drama; - No NAACP, concorre a Melhor Filme, Melhor Diretor, Ator Coadjuvante (Jalyn Hall), Melhor Elenco, Melhor Atuação de Estreia (Jalyn Hall) e Melhor Penteado.
Não tem como finalizar sem mencionar a incrível ESNOBADA que o Oscar deu em Danielle Deadwyler, por não indicá-la a Melhor Atriz, isso mostra que toda aquele movimento do 'Oscars So White' de nada adiantou, afinal, mesmo tendo premiado atores negros nos últimos anos, como Mahershalla Ali e Daniel Kalluya, essas performances foram tão fortes, tão impactantes,e tão reais, que seria impossível não lembrá-las e como foi o caso, posteriormente premiá-las... Mas ao não indicar Danielle, que foi um dos grandes destaques femininos do ano passado em longa metragem, mostra que a Academia acaba privilegiando nomes já conhecidos e carimbados de Hollywood (Michelle Williams) e cedendo a campanhas fortes e que atingem grande parte do corpo votante, como foi o caso de Andrea Riseborough.
A mim, não cabe dizer quem merecia ou não merecia estar indicada no lugar de Deadwyler, mas fica evidente que a indicação de Williams, se dá mais pela divulgação e afago dos colegas hollywoodianos, ao longa de Spielberg, do que merecimento em si. Michelle tem trabalhos muito melhores que 'The Fabelmans', e nem ela e nem Paul Dano, trazem uma atuação acima da média, entregam o que se espera do talento deles como artistas. Mas Deadwyler esteve incrível neste longa, e sua não indicação mostra a predileção do corpo da Academia a nomes já carimbados, um afago, quase como um "Não preciso assistir filmes como 'Till', ou 'A Mulher Rei'". E não se esqueçam... os membros votantes da Academia, são nada mais nada menos, que os próprios atores, diretores, produtores, compositores, cinematografistas, e demais profissionais que todos somos fãs e assistimos ano após ano. O problema está na própria indústria cinematográfica Holywoodiana.
(Assistido 09/02/2023 - Espaço Itaú de Cinema Frei Caneca)
Todo mundo conhece Adam Sandler, e no caso já assistiu pelo menos 1 filme dele na vida... e filme com ele que fez sucesso comercial não falta: 'Espanglês', 'Afinado no Amor', 'Little Nicky', 'O Paizão', 'Click', 'Gente Grande', 'Como Se Fosse a Primeira Vez', 'Esposa de Mentirinha', 'Trocando os Pés', 'Ridiculous 6', 'Joias Brutas', etc, etc... Passei boa parte da adolescência e começo de vida adulta consumindo os filmes de Adam Sandler (assim como de outros comediantes, Ben Stiller, Jim Carrey, Steve Martin), e tirando Ridiculous 6 e Joias Brutas que ainda não conferi, posso dizer com certeza que este é o filme de melhor interpretação de Adam Sandler de longe (falta Joias Brutas, tô devendo).
O filme 'Hustle', 'Arremessando Alto' aqui no Brasil, até então tem uma premissa simples, onde temos um olheiro de jogadores de Basquete, que trabalha para o time da NBA Philladelphia 76ers, que está cansado de passar meses e meses longe da família, viajando para todo canto do globo atrás de um novo prodígio que rá arrebentar na principal liga de basquete norte americana, claro no time onde trabalha, o 76ers. Depois de bater de frente com o novo dono do clube, que acabou de perder o pai que era o dono do clube, Stanley (Adam Sandler) pede demissão, e passa a apostar tudo em um jovem que descobriu na Espanha chamado Bo Cruz (Juancho Hernangómez), e fará todos os sacrifícios para o garoto conseguir entrar no Draft, que é a peneira para novos jovens jogadores da NBA.
Ou seja, o filme é para amantes de Basquete, e principalmente da Liga Nacional de Basquete, a NBA, pois temos todos os detalhes do mundo da NBA presentes no filme, temos jogadas, fintas, linguagem, tudo relacionado ao mundo do Basquetebol, e para isso ser bem feito e não decepcionar os amantes de Basquete que irão acompanhar o longa, ele é produzido por nada mais nada menos que LeBron James, atual jogador do Los Angeles Lakers, um dos grandes craques da história da NBA, tendo Adam Sandler também na produção, uma vez que Sandler também é fã da NBA.
Todos os grandes nomes que fazem a NBA acontecer estão no filme, desde jogadores, técnicos, passando por dirigentes e lendas da NBA. O final do filme entrega todas as participações, citando um por um, naquela cena durante os créditos... alguns deles eu conheço, impossível não reconhecer, já outros eu realmente não tinha ideia de quem eram e de quer faziam parte da NBA. Apesar de reconhecer os rostos mais clássicos, sempre tive pouco contato com NBA, acompanhei mesmo mais durante o fim dos anos 90 e começo dos anos 2000. Hoje em dia mesmo eu mal vejo, estou por fora dos jogadores, mas conheço todos os times, inclusive os novatos. Mas foi muito bom ver um filme dentro dessa temática que foi os bastidores da NBA, de como se corre atrás do próximo grande astro. O filme possui um ritmo muito bom, consegue mesmo prender sua atenção, em pouco tempo você está imerso naquele universo, e se pega realmente torcendo pelos personagens. É claro, faltou ali dar uma atenção aqui e acolá em algumas cenas do longa, que possuem um corte de edição abrupto demais, como se só quisesse dar uma pincelada no determinado acontecimento.
Quem protagoniza o longa junto de Adam Sandler é Juanchito Hernángomes, que faz Bo Cruz, o jovem talento que Stanley está apostando para o Draft da NBA. Juanchito não é ator, ele é nada mais, nada menos que jogador de basquete profissional, e atualmente se não me engane, atua pelo Toronto Raptors, depois de ter sido dispensado pelo Utah Jazz Juanchito tem poucas falas no filme, parece muito desajustado, desleixado, mas é só o jeito dele, que acabou sendo uma espécie de carisma de Bo Cruz no filme. O quão legal é ter um jogadores mesmo de Basquete, como protagonista do filme, interpretando um personagem fictício, mas que possui familiaridades com sua vida pessoal e/ou profissional. Ponto para os produtores do filme, LeBron James, Adam Sandler e Allen Covert, por fazerem essa ideia funcionar tão bem no longa. O filme ainda conta no elenco com Queen Latifah, que dispensa comentários, é claro, que faz a esposa de Adam Sandler. Temos também Ben Foster (X-Men O Confronto Final), que faz Vince Merrick, filho do dono do 76ers que falece, e herda a posição do pai, mas possui uma rixa, com Stanley. Robert Duvall é outro que dispensa apresentações, e esse monstro da atuação faz Rex Merrick, dono do 76ers, que bate as botas no começo do filme.
A trilha sonora do filme é calcado no Hip Hop e Rap americano e traz grandes bandas e rappers como The Roots, Eve, Too $hort, entre outros.
Dirigido por Jeremiah Zagar, 'Hustle' tem aquele roteiro vem clichê, onde o protagonista conhece alguém prodígio, e ele resolve bancar o prodígio para que ele seja o novo campeão, e pra chegar no objetivo haverá muito treino, muito suor, algumas complicações, o prodígio irá quase desistir, mas persistirá e no fim tudo dará certo. Ou seja, aquele roteiro batidão dos anos 90 de filmes da 'sessão da tarde', tão óbvios pro grande público, mas que neste longa, foi muito bem arquitetado, bem conduzido, segue um ritmo ótimo, que envolve o espectador, que engloba muito bem o universo da NBA, e que de uma certa maneira conversa com o público, vai cativar quem assiste, faz com que o espectador se importe com os personagens, com a história que é contada... realmente fizeram a magia ali acontecer. Porém, mais uma vez ressalto... o filme tende a conversar mais com quem goste de esportes e principalmente de Basquete e/ou NBA. Espectadores mais casuais, podem ter dificuldades de gostar do longa por tratar de um tema que pouco lhes agrade.
'Hustle' teve indicações para Adam Sandler em duas premiações neste ano. No Satellite Awards concorre a Melhor Ator Comédia/Musical; E no SAG's Awards, concorre a Melhor Ator. Acho bem justo nas duas premiaçoes, reconhecendo o trabalho de Sandler agora em filme mais sérios, ou que exigem um pouco mais dele do que apenas comédias, como é o caso deste filme. Acho difícil ele bater nomes como Austin Butler ou Brendan Fraser, mas vale muito a lembrança, o reconhecimento. Adam levou um prêmio do People's Choice Awards de Estrela do ano em Comédia, por este filme, e devo dizer que foi um reconhecimento e tanto pela sua interpretação, e para o longa em si.
Não sabia como começar a escrever sobre este filme, a experiência foi tão surreal, tão avassaladora, tão única, que meio que fiquei sem argumentos práticos pra iniciar falando sobre ele, então já fui logo descrevendo o que eu penso dele... e olha que de uns 4 anos para cá, pra eu dar obra prima para um filme, tem que ser "O" filme.
Primeiro preciso ressaltar aqui que 'RRR (Revolta, Rebelião, Revolução)' apesar de ser um filme indiano, não é um filme de Bollywood, e sim de Tollywood. Bollywood é a indústria de filmes indiana que produz em média 1200 filmes, e é o principal portão de exportação de seu nome para fora da Índia, assim como para dentro também, obviamente. Já Tollywood produz em média uns 300 filmes, e é a indústria de cinema com filmes falado em Telegu, um idioma do sul da índia, e em Bengali com sede em Tollygunge. Esse idioma, Telegu, é o falado no filme de S. S. Rajamouli.
'RRR' é maravilhosamente maravilhoso, estupendo, grandioso, Cinema com C maiúsculo, com ares da moda antiga lembrando muito a velha Hollywood dos anos 50 e 60, com seus mega filmes grandiosos como Cleopatra e Ben-Hur. Aliás, consegui enxergar uma coisinha ou outra de Ben-Hur neste longa.
Rajamouli criou um filme onde tudo acontece o tempo todo e ao mesmo tempo (não tem como não parafrasear o filme dos Daniel), é um filme de ação, ao mesmo tempo que é um filme dramático, ao mesmo tempo que é um filme de comédia, e também é um filme de amizade, também beira a uma dramalhão mexicano, é um blockbuster, tem também o seu momento Marvel Studios, é um musical, é um romance... meu Deeeeeus Rajamouli, como você conseguiu colocar uns 11 estilos de filme diferentes em um só filme e fazer dar certo, sem errar, sem cansar o público, sem deixá-lo chato ou arrastado... são três horas e cinco de duração e em nenhum momento o filme é arrastado, ou cansativo, você ma vê a hora passar.
A história é fictícia, e se passa na década de 1920 durante o domínio imperial britânico na Índia, que foi um evento real... Ali existe uma tribo, Gondi, e eles tiveram uma de suas meninas, Malli, levada pelo Governador britânico Scott Buxton e sua esposa Catherine, que depois de vê-la cantar, a compra e a leva dos Gondi, sem o entendimento deles. Após levá-la e agredir quase fatalmente a mãe de Malli, a tribo recorre ao seu líder, Bheem, para que ele recupere a garotinha para a tribo. Sabendo da intenção e investida do líder da tribo Gondi em recuperar a garota, a esposa do Governador põe uma recompensa para quem capturá-lo, e aí entra em cena um oficial Indiano chamado Raju, muito astuto e obstinado, ele fará de tudo para capturar o Líder dos Gondi, afim de receber a recompensa, um cargo especial na guarda britânica.
A cena inicial já impressiona pela violência acometida na mãe de Malli, mas em seguida temos as cenas de apresentações dos dois protagonistas... Bheem e Raju (N.T Rama Rao Jr. e Ram Sharam, respectivamente). As duas cenas são de tirar o fôlego, sendo que Bheem luta contra um lobo e um tigre, e Raju luta contra uma multidão de protestantes, imensa e ele adentra o meio dela sozinho, para trazer um indivíduo que tacou pedra na residência oficial dos Britâncios na ìndia;
Se Bheem não estiver para o Hulk da Marvel, então ele está mais para o Fanático, imparável, porque vai ser forte e imparável assim na Índia... o cara é ridículo, tem fôlego pra caramba, tem força aonde não tem mais, e encara um tigre frente a frente, sem tremer um músculo. Já Raju, está mais para o Capitão América, uma espécie de Capitão Índia... pois ele é deveras atlético, tem muitos movimentos que quase nenhum ser humano conseguiria realizar, leva vários golpes na cabeça mas se levanta, é rápido, é ágil, é disciplinado, e também possui um 'q' de Fanático, pois nesta cena ele é imparável.
Rajamouli, o diretor do filme, criou uma história de Amor, Amizade, Rivalidade, Ação e Drama, que muita gente pode assemelhá-lo ao clichê, algo como "ah, mas já vi isso sem outros filmes, e até em novelas'. Mas o trunfo da trama de Rajamouli está na carisma dos personagens, na honestidade deles, em como eles representam aquilo que eles defendem, está na riqueza do texto, no peso dramático das falas, e no amálgama das cenas... muitos gêneros de filmes dentro de um filme só, espalhado por várias sequências. Um dos gêneros aqui, que mais se saiu melhor, o mais bem inserido, e um dos trunfos culturais do cinema indiano, é o musical. O filme tem muita sequencias musicais, algumas dessas sequências, uma em particular, nem esperava ver um número musical ali inserido, e não só foi inserido como funciona muito bem pro filme, pro texto e pras motivações dos personagens, principalmente de Raju. Fora isso, temos um pouco de dramalhão mexicano, visivelmente em várias partes do texto e das cenas. Temos muita ação neste filme, cenas de dar inveja gigantesca em Tom Cruise e suas cenas impossíveis nos filmes de Ethan Hunt. As sequências de ação deste filme é de tirar o fôlego, algumas delas beiram o Velozes & Furiosos, de tão impossíveis que os atos parecem, mas funcionam.
Por falar em funcionar, temos cenas no filme totalmente inspiradas em filmes da Marvel, são coreografias, rodopios, e salvamentos de crianças em perigo, que são o mais puro jeito Marvel de engrandecer um super-herói... e aqui, tanto Bheem quanto Raju, são retratados como tal, por seus povos,e são retaliados como tal pelo governo britânico. Sem falar que tanto Bheem quanto Raju, são dois brutamontes, os caras são muito musculosos, e muito ágeis, o filmes os retrata com força descomunal, eles quebram concreto como se fosse madeira, é impressionante... é como se o Colossus e Hércules tivessem um filho... seriam esses dois.
Tudo é muito grandioso no filme, as cenas de ação são de tirar o fôlego, e elas são, ora nível Vingadores, ora nível Missão Impossível, ora nível Furiosos... é claro, você vai ver bem perceptível uns cromaquis aqui e acolá... mas dá pra aliviar tranquilo, pois é tudo tão 'porrada na cara' que você vai rir de surpresa, vai adorar ver todas as incríveis coreografias presentes nas cenas. Por falara nas coreografias, acho que são as melhores que vi no últimos anos em um filme, tudo muito bem entrosado, bem calculado, e não só nas cenas de luta do filme, mas também nas cenas onde Bheem e Raju salvam um garoto, quando Bheem está fugindo do tigre na floresta, e claro, a incrível cena onde Raju entra no meio de um mar de gente que quer invadir o palácio britânico na Índia, um tumulto que está acontecendo, e no meio daquele mar imenso de gente, Raju vai buscar apenas 1 homem, e ele luta contra centenas para chegar nesse indivíduo, e tudo foi coreografado muito bem, minimamente detalhado, e o resultado final é de encher os olhos.
O filme todo é espetáculo a parte, afinal o cinema indiano por si só, já tem sua personalidade, acredito que o mais famoso deles seja 'Sllumdog Millionare' que venceu o Oscar de Melhor Filme, e ali mostra um traço de como o cinema indiano é filmado e apresentado nas telas. Aqui, Rajamouli conta um história que envolve duas tribos que se entrelaçam, com seus líderes sendo homens fora do comum, capaz de realizar grandes atos, pois eles obtém muita determinação (citação a Undertale) e serão capazes de tudo para conquistarem seus objetivos. E, no meio dessa jornada, os dois acabam formando uma amizade improvável, sem saber que os dois são destinados a serem inimigos, cada um defendendo e lutando pelo seu, mas que no fundo são iguais, em caráter, em bom senso, em determinação, em força, em moral, em tudo. Então, Rajamouli mistura, ação e aventura, com drama, comédia, musical, tudo dentro do jeito indiano de fazer cinema, e o resultado final é de cair o queixo, são por volta de 3 horas de um filme que passa voando, tamanho é o entretenimento entregue por Rajamouli e elenco, sem cansar o espectador, sem apelar para narrativas batidas... apenas o roteiro que se entrelaça na hora certa, e desvia para prólogos contextuais, sem nos fazer perder o fio da história principal, entrando no momento certo do longa.
Agora, preciso comentar... o que foi toda aquela sequência da canção 'Naatu Naatu? Meu Deus :D... que coisa mais sensacional, é incrível, e aí já volto na coreografia, o que foi aquilo... os dois atores, N .T Rama Rao Jr. e Ram Charan mandaram bem demais, são muito versáteis, além de terem feito uma atuação surreal, transitando entre o drama e a comédia, são dançarinos impecáveis. Esses são artistas com 'A' maiúsculo, atuam e dançam, entregam tudo em cena, e eu respeito demais artista assim, versátil até dizer chega. Mas voltando a Naatu Naatu, que apresentação, que batalha de dança, que rapidez ao fazer os movimentos, e a música é completamente contagiante envolta no ritmo indiano, e no meio desta cena de dança, temos os adversários de Bheem e Raju desafiando-os e entrando na dança também, e conseguem fazer os passos direitinho, ou seja, todo mundo se doou bastante para fazer este número sair 100% perfeito. Que Cena!!!
Tem que se exaltar também o figurino do longa, todos remetendo a época em que o filme se passa, tanto os trajes das tribos de Raju e Bheem, quanto aos trajes oficiais das forças britânicas, essas sim ficaram perfeitas com detalhes milimétricos, realmente um trabalho primoroso e cuidadoso.
Esse épico indiano dirigido e roteirizado por S. S. Rajamouli, recebeu algumas indicações nesta temporada de premiações, mas foram poucas para o que o filme merece, na minha opinião: - No Globo de Ouro, indicado a Filme Estrangeiro, perdendo para 'Argentina, 1985'; - No Critics Choice Awards, indicado a Melhor Filme, perdendo para 'Tudo em Todo Lugar ao mesmo Tempo', Melhor Diretor perdendo para 'os Daniel', Melhor Efeitos Visuais perdendo para 'Avatar 2'. - No Satellite Awards está indicado para Melhor Filme Comédia/Musical, Melhor Som, Melhor Efeitos Visuais, Melhor Direção de arte e Melhor Canção Original por 'Naatu, Naatu'. - No Oscar, também levou indicação para Melhor Canção Original por Naat, Naatu'.
Com relação a prêmios, por enquanto 'RRR' levou o prêmio de Filme Estrangeiro no Critics Choice Awards, muito merecido, é claro, além de levar Melhor Canção Original por 'Naatu, Naatu'. Ganhou o Globo de Ouro, também na categoria de Melhor Canção Original por 'Naatu, Naatu'. Também levou o prêmio de Melhor Diretor para Rajamouli no New York Film Circle Critic Awards, além de um prêmio honorário no vindouro Satellite Awards.
Poucas indicações e poucos prêmios para uma Obra-Prima do cinema indiano, e do cinema atual... o longa teve duas ausências bem sentidas em duas grandes premiações. No BAFTA, esteve pré-indicado na categoria de Filme em Língua Não Inglesa, mas obviamente não levou a indicação final na premiação, e isso se explica justamente por, no filme, o exército britânico, as forças britânicas, serem representados como inimigos, como forças opressoras, como uma força que queria apenas impor sua vontade, e oprimia os indianos em determinadas regiões. Claro, isso era verídico, não tem como deturpar essa realidade para fazê-los parecerem mocinhos, ou mal interpretados. Logo, a Academia Britânica de Cinema não iria lembrar, enaltecer, muito menos premiar um longa que claramente pinta os britânicos de vilões, inimigos, opressores. Neste caso, eu entendo o fato de 'RRR' ser esnobado. OK.
Porém, no Oscar, o filme não foi indicado a Melhor Filme Internacional, e sequer foi pré-indicado na categoria, recebendo apenas a indicação a Melhor Canção por 'Naatu, Naatu'. Mas aí, não foi esnobada do Oscar, pois tem uma explicação... a Índia simplesmente escolheu outro filme para representar o país no Oscar, o filme 'The Last Film Show' que acabou não sendo indicado. O porquê da Índia não apostar em 'RRR', não sei, vou ficar devendo... mas foi uma tremenda mancada com total certeza.
Mais nada tenho a dizer, já disse tudo simplificado na frase que abre esta resenha... Uma OBRA-PRIMA... sem mais!
Meu favorito para levar Melhor Filme Comédia/Musical no Satellite Awards, vou torcer bastante para coroar como merece este longa estupendo de Rajamouli. Mas como o próprio disse: "Ser elogiado por Steven Spielberg é o melhor prêmio que eu poderia receber". E que elogio... foram mais de 5 minutos de Steven destrinchando o filme nos ouvidos de Rajamouli.
Os filmes estrangeiros sempre são os mais interessantes de se acompanhar, sempre tenho ótimas surpresas e conheço produções de altíssimo nível, e/ou de roteiro acima da média. Pois novamente sou surpreendido positivamente com esta produção que é uma parceria entre Alemanha, Dinamarca. França e Suécia, dirigido, roteirizado e produzido por Ali Absasi e conta a história verídica de um assassino em série que deu cabo de 16 mulheres que trabalhavam como profissionais do sexo na cidade de Masshad, no Irã, e ficou conhecido como o 'Assassino de Aranhas', o Spider Killer, onde ele acreditava estar em uma missão divina em nome de Deus, para purificar as ruas da cidade de mulheres impuras e que sujavam a sociedade iraniana.
'Holy Spider' foi lançado em 22 de Maio de 2022, no Festival de Cannes e foi aplaudido pelo público por sete minutos, e também foi o representante da Dinamarca a filme Internacional no Oscar deste ano, não conseguindo uma indicação.
Impactante. Forte. Indigesto. Sufocante. Intragável. Revoltante. Nojento. Provocante. Ácido. Este são alguns exemplos que posso usar para descrever o filme, pois ele é um filme que não se limita em suas cenas, entrega o que precisa ser entregue para nos contar o que precisa ser contado, e evidencia o que precisamos entender de seu contexto. Seus primeiros minutos, são um prólogo, que brilhantemente antecede a abertura com o título do filme, em uma tomada de plano aberto abrangendo a cidade de Masshad à noite. (Eu ainda falei comigo mesmo, bem que agora poderia aparecer o título do filme como abertura do longa...e BUM, apareceu). Estes primeiros minutos, uma longa sequência mostrando Somayeh (Alice Rahimi), uma mulher profissional das ruas, contextualiza uma noite sua de trabalho, onde deixa sua família dormindo em casa, e sai para sua esquina diária onde trabalha... é aí que o filme já dá um tapa na cara do espectador, nos mostrando que Somayeh, assim como outras profissionais, de droga para fazer o seu serviço, e encontra clientes que a penetram com selvageria e palavras de baixo calão, não possuem empatia nem quando ela usa o banheiro, após a relação que tiveram... e ainda a mostra fazendo um sexo oral em outro cliente, que não lhe paga adequadamente porque ele não gozou, pois a polícia estava próximo do carro onde eles realizam o ato. Contexto sobre uma noite de trabalho de uma mulher do sexo.
Logo após ela acaba se tornando mais uma vítima do 'Spider Killer', o cidadão Saeed Hanaei (Mehdi Bajestani), que dá cabo de sua vida usando seu próprio lenço que cobre seu rosto, para estrangulá-la usando sua força bruta, em uma cena angustiante, lacerante, visceral, que fará você se revirar e se inquietar na cadeira do cinema ou no sofá de casa. Os olhos de Somayeh esbugalhados e vermelhos, a boca já sem respiração, a forma como ela simula a falta de ar aos poucos, é tudo tão impactante, uma atuação de morte da atriz Alice Rahimi impecável, e já nos impressiona, pois dava como certo que ela seria uma das protagonistas do longa.
Porém, após a abertura, já nos é apresentado Rahimi, interpretada por Zar Amir Ebrahimi, uma jornalista que chega em Masshad para investigar os assassinatos e fazer uma reportagem sobre o serial killer. A partir daí, o filme deixa de impressionar no quesito sexo, como na abertura, para focar em como Rahimi está focada em trazer esse assassino á luz do dia, e aos olhos do povo iraniano, com a ajuda de Sharifi (Arash Ashtiani) que trabalha no jornal local, e recebe ligações do serial killer, cada vez que ele comete um novo crime. As mortes impactante continuam, no mesmo tom de Somayeh, porém, uma das mortes, a de Zinab (Sara Fazilat), dá um novo impacto, pois ela não usa o lenço que as demais mulheres usam... então Saeed precisa improvisar, e a cena em questão, também impacta, revolta e angustia, fazendo você se inquietar novamente.
O filme é excelente pelo fato de não usar freio de mão, ostra o que tem que ser mostrado sem pudor, toca nos assuntos delicados sem se preocupar se o estado islâmico irá se ofender ou não. Possui uma ótima direção de Ali Abbasi, que foi cirúrgico nas cenas mais impactantes do longa e incisivo nas cenas delicadas onde se envolve a opinião pública do povo iraniano ao Serial Killer, e em como o governo e a polícia se comportou perante o caso, que levou em torno de 1 ano para ser solucionado, e quem assistiu o longa, sabe quem solucionou de verdade, pois era muito vantajoso para eles ter um cidadão limpando as ruas e fazendo o trabalho que a polícia não precisava fazer.
O roteiro de Abbasi foi muito bem escrito e pincelado, eu gostei bastante... Abassi não se preocupa em tomar um lado, ele está preocupado em contar o caso, apresentar os fatos, mostrar o empenho de Rahimi em descobrir quem é o assassino e consequentemente prendê-lo. Mostrar como o povo ficou dividido, entre aqueles que o queriam preso porque temiam por suas filhas, adolescentes e pequenas, e aqueles que acham que Saeed era um herói e fez um trabalho digno em ar cabo daquelas mulheres 'imorais'. Mostrar também como era a rotina de Saaed, sua família, esposa e filhos, como eles o viam, o que eles pensavam quando descobriram o trabalho que Saeed praticava nas ruas, o que se passava na cabeça de Saeed, o prazer que tinha em tirar a vida dessas mulheres, e o quanto isto estava desestabilizando-o emocionalmente e mentalmente, muito também pelo fardo de não ter se tornado um mártir para seu povo, depois da guerra.
Sabemos que Saeed era um monstro, um nojento, uma vida que não deveria caminhar na terra, mas Abbasi também focou em como ele tinha uma relação amorosa, dentro de um certo contexto, com sua família... seus filhos, um rapazinho de uns 14 anos, e uma garotinha, e sua amorosa e dedicada esposa, a quem ele tinha muito apreço. Dá aquela impressão que Abbasi quer humanizar o Serial Killer, que ele tinha um certo senso moral em sua missão divina. Mas a verdade é que ele não tentou humanizar ninguém, pois ai ele deixou claro que ali tinha um homem que possuía uma das maiores riquezas que Deus pode proporcionar na vida de um ser humano, uma família, linda e amorosa, e por mais que Saeed fosse atencioso com eles, ao seu jeito, ele estava totalmente deturpado em sua moralidade ao cometer tais atrocidades em nome Deus, como se fosse um anjo enviado a Terra para fazer a vontade de Deus Todo Poderoso.
É o que mais me cativou no roteiro de Abbasi, pois ficaria muito fácil tomar este partido, e na verdade você apenas evidencia essa realidade que acontecia naquele começo da década de 2000 em Masshad, colocando os dois pontos em evidência, o de Saeed e o de Rahimi, e explora isso em tela. Pois, nós aqui no Brasil, acredito que a grande maioria maciça repudiará tal conduta, definirá como nojento e desumano o que este ser cometeu naqueles tempos, em nome divino ainda por cima, e condenamos a forma como socialmente e religiosamente o Irã vive e trata de certas questões sociais e morais que vemos volta e meia nos noticiários diversos. Porém a realidade Iraniana é outra, seus costumes e crenças são diferentes, assim como sua justiça, e seria muito fácil realizar um longa atacando tais decisões, tais culturas, e tias atos. Mas como um bom contador de histórias e um bom cineasta, fazendo algo baseado em fatos reais ainda por cima, sabe que o profissional deve estar além de tomar partidos, e deve apresentar a obra da forma mais objetiva possível... mas sabe que também, terá aquele dedinho na ferida, aquele apontamento de dedo escondido nas entrelinhas, em um diálogo que pode passar despercebido, ou seja, sempre tem um jeito de ser neutro, mas também de esconder ali o quanto tudo isso é horrendo e inaceitável, e como as leis poderiam mudar uma vez que estamos em tempos tão modernos e avançados.
A atuação da dupla de protagonistas, Mehdi Bajestani e Zar Amir Ebrahimi é estupenda, os dois entregaram um trabalho maravilhoso e primoroso... Zar Amir Abrahimi teve aquela atuação de força, bem decidida, de uma mulher focada em seu objetivo e nada mais, trazendo o assassino á luz e evitar que mais mulheres perca a vida. Ela teve ótimas cenas de destaque dramático, uma em que é assediada e coagida pelo delegado da polícia local, em seu quarto de hotel, e outro quando está junto a Saeed e prestes a se tornar mais uma vítima. Zar Amir é uma atriz maravilhosa, talentosíssima e já se tornou também uma de minhas preferidas.
Já o ator Mehdi Bajestani, que fez o 'Spider Killer' Saeed, foi impecável em sua atuação por todo o filme, todas suas cenas são de excelência, carga dramática lá em cima, algumas poucas cenas de alívio cômico, mostrando a versatilidade do ator, e um desespero em sua cena final, para fechar com chave de ouro uma atuação certeira de um criminoso hediondo.
Também se deve destacar a incrível atriz Alice Rahimi que fez brevemente Somayeh, no começo do filme. Ela foi gigante, uma atuação de se aplaudir em pé, uma presença de cena, uma entrega à personagem, um mergulho no desespero de Somayeh, na sua tristeza, na sua realidade, em seus instintos ao qual ela tratava com honestidade, mas não a salvou de seu fim... para mim, uma atuação que merecia indicação a Atriz Coadjuvante em um BAFTA.
Martin Dirkov foi o dono da composição do filme e ele foi feliz demais em criar músicas que permearam bem com os acontecimentos dramáticos, trágicos e impactantes do longa. Abrilhantou mais ainda a experiência de quem acompanhou o filme.
Tendo produção associativa de Zar Amir Ebrahimi, onde também foi diretora de Elenco do filme, 'Holy Spider' foi pré indicado à filme Estrangeiro no Oscar, representando a Dinamarca, e no BAFTA, mas não conseguiu chegar aos cinco indicados finais. Porém o longa foi indicado na categoria no Satelitte Awards, e também recebeu inúmeras indicações ao prêmio Robert Award, o Oscar Dinamarquês. E nesta premiação levou os principais Prêmios, como Melhor Filme Dinamarquês, Melhor Atriz para Zar Amir Ebrahimi, Melhor Ator Coadjuvante para Arash Ashitani, Melhor Diretor para Ali Abbasi, Trilha Sonora, Efeitos Visuais, Cinematografia, Design de Produção, Edição, Roteiro Original, Design de Som, ou seja, levou tudo no Robert Award.
'Holy Spider' foi mais um filme que impactou o público presente na sala de cinema quando começou a subir os créditos. A música demorou para aparecer, quase 1 minuto de créditos sem som, e o público também não emitiu nenhum som, logo alguém já levantou e puxou alguns, as luzes da sala se acenderam e aí sim começou o 'converseiro'. Mas foi nítido, impactou, incomodou... vi uma pessoa ou outra se contorcendo na cadeira com algumas mortes, coisa que também fiz, o sentimento de impotência de quem estava sendo agredida, assassinada, e o olhar de revolta de quem acompanhava o filme. A gente sabe que foram prostitutas que foram vítimas do Serial Killer, mas em nenhum momento do texto quis usar essa palavra, se é que vocês perceberam. O Irã já tem toda uma questão social e religiosa, que reprime, e muito as mulheres, e é claro, sou completamente contra aos costumes sociais e religiosos que os iranianos pregam já a tantas décadas e séculos... mas não cabe a mim ficar aqui debatendo ou julgando. Cabe a mim somente respeitar as mulheres que, por qualquer razão que seja, acabaram entrando nessa vida, e de forma alguma mereciam um fim tão hediondo como esse. E com o responsável por estes atos ainda considerar isto como um 'trabalho de Deus'... o mínimo que posso fazer é me posicionar com respeito e tratá-las com um pouco de dignidade que as mesmas merecem... ser empático... profissionais do sexo, está muito bem colocado.
Apesar de ser um fato real, gostei muito do filme, fiquei preso à tela do cinema em suas 2h de duração e mal vi o tempo passar, e ainda nem queria que o longa acabasse, tamanho foi a imersão com o que era apresentado em tela. Não deve levar o Satelitte Awards de Filme Estrangeiro, mas foi muito bem indicado, merecia mais indicações.
(Assistido em 04/02/2023 - Espaço Itaú Frei Caneca)
'Os Banshees de Inisherin' foi um dos filmes mais comentados e clipados no Twitter no mês de dezembro, e eu digo clipado, porque muita gente colocava um pedacinho de uma cena ou outra do filme para falar bem... uma das cenas que eu mais vi ser compartilhada, foi aquela em que Barry Keoghan conversa com Kerry Condon e ele pergunta se ela se interessaria por ele no futuro, e ela diz não, e ele diz "Lá se vai aquele sonho" e ele sai dizendo que vai fazer o que ele tinha que fazer. Todos elogiavam a atuação de Barry, dizendo que ele merecia um prêmio e tudo mais.
Acredito que um dos bons acertos do filme está no fato de ele entregar aquilo que ele não vende... eu explico, a sinopse nos diz que Colm decide terminar a amizade com Pádraic, ambos vivendo em uma cidadezinha no interior da Irlanda durante a Guerra Civil, e que Pádraic, inconformado com a perda dessa amizade de anos, resolve a todo custo reatar esse relacionamento, mas que um acontecimento trará consequências alarmantes para ambos.
Na verdade o filme é vai mais fundo no que ele se propõe, pois temos uma situação normal do dia a dia, que são duas pessoas que são bem diferentes, mas que possuem uma amizade honesta, com algumas similaridades, como seus animais de estimação e suas idas pontuais ao Pub. Porém, a diferença de idade entre eles faz com que Colm reflita mais sobre a vida, algo que Pádraic provavelmente ainda não desenvolveu em seu caráter, justamente pela idade, vide que ele não quer deixar de viver sem sua irmã, que está desesperadamente querendo achar um companheiro. Essa ruptura entre eles, têm como pano de fundo a ilha fictícia de Inisherin, no interior da Irlanda, durante a Guerra Civil Irlandesa de 1923, e é aí que está a poesia de roteiro. Durante o filme, Colm, Pádraic e Siobhan são surpreendidos com as bombas que explodem durante o conflito, do outro lado da ilha, ambos tem reações particulares com o que acontece nesse embate, mas Pádraic diz "Boa sorte para vocês, mesmo sem saber pelo o que vocês tão lutando". Ou seja, da mesma forma que o motivo da guerra possa ser fútil, mesmo que na cabeça de Pádraic e dos outros habitantes, os motivos para o fim da amizade de Colm e Pádraic também são fúteis, podem significar algo para Colm, mas não são válidos para Pádraic... assim como na guerra, para um lado o motivo de guerrearem é justo e pro outro não faz tanto sentido a não ser defender suas próprias honras.
Porém, quando Pádraic sofre um duro golpe, uma perda, as coisas se tornam inevitáveis, e eus que no fim do filme, Pádraic diz a Colm, depois que Colm lhe diz que aparentemente a guerra já está chegando ao fim... "A guerra pode terminar, ou eles podem voltar a brigar no futuro, quem sabe, certas coisas não tem como superar". Totalmente poético, Pádraic não consegue superar o abrupto término da amizade, a perda pessoal que teve, assim como também não supera que as coisas tenham chegado a esse ponto. Quando dois lados decidem guerrear, os dois lados sairão perdendo.
Martin McDonagh realmente acertou no seu roteiro, fez algo bem intimista, uma vez que ele é britânico/irlandes, e nos entregou uma tocante história de pessoas irlandesas, durante uma das épocas importantes de sua história, de seu passado, dentro de suas simplicidades, e a forma como se relacionam e vêm a vida dentro da realidade que se encontram.
Os personagens que McDonagh criou são muito impactantes, têm muita personalidade, muito carisma, se conectam conosco instantaneamente, possuem medos, sonhos, frustrações que enxergamos em nós e naqueles que nos cercam, todos os dias. Grande parte deste trunfo, obviamente está no elenco que McDonagh trouxe para o longa, que tornaram estes personagens tão fortes e reais, que nos hipnotizam em frente a tela durante suas duas horas de duração.
McDonagh trouxe dois conhecidos que ele já está acostumado a trabalhar desde 2008 no longa 'A Mira Do Chefe', Colin Farrell e Brendan Gleeson, que protagonizaram este longa dirigido por McDonagh. Ele ainda traria Gleeson para protagonizar 'O Guarda' em 2011, e Farrell para protagonizar '7 Psicopatas e um Shin Tzu' em 2013. 14 anos depois de atuarem juntos, sob o mesmo diretor, a química entre Farrell e Gleeson aqui é arrebatadora, os dois preenchem as cenas quando estão junto, muita presença de tela, demonstram não ter nenhum tipo de dificuldade em contracenar e recitar suas falas, domina o roteiro de uma forma tão banal, que [é exatamente por isso que ficamos tão impactados conforme o longa se desenrola.
Impossível dizer quem está melhor que quem aqui, os dois protagonistas estão em pé de igualdade e entregam a mesma proporção de drama durante o filme, com Gleeson atuando dramaticamente a maior parte dele, para ceder um pouco no final... e Farrell atuando leve e honesto durante boa parte do filme, e partindo para o drama meloncólico/raivoso no ato final. Soberbos estiveram os dois em cena, na atuação, na construção de seus personagens, não á toa foram lembrados em todas as premiações desta temporada com muita justiça.
Assim como Kerry Condon (Ray Donovan) e Barry Keoghan (Eternos) que fizeram Siobhan e Dominic, respectivamente, estiveram magistrais em seus papéis. Kerry entregou uma sutileza sem igual para a irmã de Pádraic, com muitos toques de drama, ao mesmo tempo que tinha um serenidade em sua atuação, uma entrega afetiva em algumas cenas, entendendo o papel de irmã, que era mais como uma mãe para Pádraic. Suas cenas chorando na cama a noite, ou dando esporro em Pádraic sob a mesa de jantar são seus pontos altos no filme, assim como sua cena cena na casa de Colm, quando vai lhe devolver um dos dedos. Grande atuação de Kerry, de encger os olhos. Barry então nem se fala, pois a forma como ele deu vida a Dom, um moleque despojado, linguarudo, claramente com algum tipo de distúrbio, ou de nascença em seus trejeitos, ou mental, talvez pelos abusos sofridos pelo pai. Mas foi um dos personagens mais interessantes do longa, esperto, astuto, ligado, e como já citei acima, Barry teve sua melhor cena com Kerry Condon, e ali já vale qualquer indicação para ele. Barry é um atorzaço que vem crescendo filme após filme.
Com um elenco 100% irlandes, ainda temos um rosto conhecido, que é justamente o pai de Dominic, o policial Peadar, interpretado por Gary "John" Lydon, lendário vocalista de uma das melhores bandas de punk-rock 'Sex Pistols' e do também projeto consagrado 'P.I.L' (Public Image Limited). Quem não conhece e gosta de rock, vá conhecer! E Lydon está bem demais, eu sabia que ele fazia pontas em um filme e outro, mas nunca tinha parado para vê-lo em ação como ator, e realmente, Lydon é bom demais, é um artista completo. Não devia me surpreender, pois nos clipes de seu projeto P.I.L ele já mostrava essa faceta, eu que não queria enxergar.
A Música de Carter Burwell (The Ballad of Buster Scruggs e A Grande Mentira) é incrível, é soberba, é linda, é tocante, é penetrante, é tudo... que trilha perfeita, que melodias suaves e tristes e contemplativas. Permearam tão bem as cenas do longa, preencheram tão bem os espaços dramáticos ali presentes... o final então, singelo, magnífico, como já citei, contemplativo... merecia lembranças nas premiações de fato.
Mas o filme têm figurinos tão simples e ao mesmo tão elegantes, todos de época, uma cenografia que é belíssima, sendo filmado na costa litorânea da Irlanda, mas temos uns takes que claramente você enxerga o cromaqui, e aí ficou um pouco feio... mas, dá para passar um pequeno pano. A cinematografia (e não mais fotografia, aprendi isso), é linda demais, cada take que McDonagh pegou, que é de encher os olhos e cair o queixo, as cores que ele tirou quando a tarde se escondia no horizonte, o cinza que ele exaltou nas trades nubladas aonde filmou, o preto da noite, quando todos se encontravam no Pub, sério, o trabalho de Ben Davies, que trabalhou com McDonagh em Três Anúncios Para um Crime, e em Eternos e Capitã Marvel, é esplêndido, extraordinário, belíssimo demais, cuidadoso e delicado, minimamente escolhido no momento certo para pegar as melhores cores, no momento certo, na posição certa, e isso já é observado nos filmes citados acima.
O filme me ganhou desde o início, e tive uma relação muito íntima e próxima com Pádraic, pois também tive uma perda pessoal recente, daquelas que assim como ele, não se supera, jamais, fica incrustado no seu dia a dia, e consegui enxergar a minha dor na dor dele, na raiva dele, na angústia dele, na tristeza, na falta e no vazio que a perda deixou... realmente me senti tocado e isso mostra o tamanho que é o roteiro de McDonagh, quando se consegue entregar algo tão íntimo e verdadeiro e real que conversa com o público, é porque o roteiro tem muito amor, muita verdade, muita honestidade.
Vamos agora à chuva de indicações do filme, e depois os prêmios e derrotas:
No SAG'S AWARDS, Melhor Elenco, Ator Coadjuvante, Atriz Coadjuvante e Ator Principal para Keoghan e Gleeson, Condon e Farrell ,respectivamente; No BAFTA, Melhor Filme, Ator para Farrell, Ator Coadjuvante para Gleeson e Keoghan, Atriz Coadjuvante para Condon, Melhor Filme Britânico, Trilha Sonora para Carter Burwell, Melhor Montagem, Direção para McDonagh e Roteiro Original para o mesmo; No SATELITE AWARDS, Melhor Filme Comédia/Musical, Roteiro Original, Direção, Fotografia para Ben Davies, Trilha Sonora, Ator Comédia/Musical para Farrell, Atriz Coadjuvante para Condon e Ator Coadjuvante para Gleeson.
No Oscar está indicado a, Melhor Filme, Ator (Farrell), Ator Coadjuvante(Gleeson e Keoghan) e Atriz Coadjuvante (Condon), Direção e Roteiro Original (McDonagh), Trilha Sonora e Melhor Montagem.
No Globo de Ouro venceu como Melhor Filme Comédia/Musical, Melhor Roteiro e Melhor Ator Comédia/Musical para Colin Farrell, perdendo Ator Coadjuvante (Gleeson e Keoghan), Atriz Coadjuvante (Condon), Direção e Trilha Sonora;
No Critics Choice Awards perdeu tudo que concorreu, Melhor Filme, Direção, Roteiro, Melhor Elenco, Melhor Comédia, Ator, Ator Coadjuvante e Atriz Coadjuvante para Farrell, Fleeson e Keoghan e Condon.
O meu favorito ainda continua sendo 'Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo', mas acho que o prêmio de Melhor Filme no Globo De Ouro é bem justo para premiar o longa. Penso que se ganhar no Satellite Awards também será justo, mas BAFTA e Oscar já fico com meu favorito mesmo. Mas 'Os Banshees de Inisherin' merece muito ser lembrado nas premiações pois é um filmaço, tocante e verdadeiro, com um roteiro sensacional de Martin McDonagh.
Assistam no Cinema, nada paga essa experiência... ao fim do filme, com aquele final, depois de todos os acontecimentos do longa, ao vir os créditos finais, aquela música calma que aos poucos vai crescendo e ganhando forma, com a sala ainda escura, não ouvi um som, ninguém conversando entre si, ninguém se levantando, eu mesmo fiquei estático, contemplando tudo que havia assistido. Somente depois que as luzes acenderam, alguns segundos depois, a primeira pessoa se levantou, e aos poucos, alguns foram se levantando e saindo da sala. Isso mostra que o filme pegou nas pessoas, que teve um impacto, que as surpreendeu positivamente, que houve coisas a se tirar do filme... e isso somente uma sala de cinema pode proporcionar ao espectador e ao cinéfilo. Experiência muito parecida que tive com Afetrsun.
Quando 'The Menu' chegou ás salas de cinema em dezembro passado, ele chegou como qualquer outro filme que não é blockbuster chega, sem muito alarde, sem muito furor, os mais cinéfilos que costumam ir ao cinema eram os que iriam conferir, até pelo fato de não estar espalhado pelos cinemas mais populares Brasil afora. Porém, a cada semana, o filme ganhava o famoso 'boca a boca', as pessoas assistem e indicam e/ou debatem sobre, e instigam a curiosidade dos demais.
Acho que foi ali no final de Dezembro que 'The Menu' era o filme mais procurado nas salas de cinema aqui em São Paulo, com sessões concorridíssimas, uma vez que o filme não estava em muitas salas assim. Acabei perdendo a chance de ver no cinema, coisa que me arrependo, mas o longa justifica o boca a boca que as pessoas geraram, pois o longa de Mark Mylod (Succession) é entretenimento puro.
Escrito por Will Tracy & Seth Reiss, baseado em uma experiência que Tracy teve na Noruega em sua Lua de Mel, 'The Menu' é mais um filme que usa a gastronomia como pano de fundo, com uma pitada a mais, envolta em um plot de mistério e horror.
Achei um roteiro muito original, onde um Chef renomado, em uma ilha remota, serve seus pratos para uma clientela que ele pretende matar, todos, e as bizarrices que acontecem durante as degustações dos pratos. Uma ótima ficção com um argumento bem amarrado, dando contexto para todos os personagens, principalmente os clientes, e é claro, como a simplicidade funcionou no longa de Mylod... o filme começa sem ponto de partida, não se conta nada sobre personagem nenhum, não um prólogo, não há uma apresentação de personagens, um passado para se contextualizar... apenas os clientes chegando para pegar o barco e serem levados para a ilha, uma simplicidade que funcionou, não nos deixou confusos e Mylod conseguiu ganhar a atenção do espectador já de cara.
Neste quesito, a personagem de Anya Taylor Joy (O Gambito da Rainha), Margot, é o que mais se conecta conosco, afinal ela é nossos olhos, ela sabe tanto do Chef do restaurante, da ilha e do que se espera encontrar lá, quanto nós. Por isso nós nos vemos nela para conhecermos o local, a comida, o que se passa lá, o que nos espera lá, e junto do Chef Slowik (Ralph Fiennes) são os personagens mais interessantes do longa.
A sinopse do filme já nos entregava que coisas bizarras aconteceriam neste restaurante, ou no menu a ser servido, mas não tínhamos ideia do que seria, ou o quanto impactante seria, mas ter essa surpresa enquanto acompanhamos o longa, foi uma experiência divertida. Já na primeira 'morte' do filme, fica aquele baque, você se surpreende da mesma forma que os clientes se surpreendem, esse é um dos pontos positivos do roteiro e da direção de Mylod, ele te coloca dentro do restaurante, como se você fosse um dos clientes, como se você fosse ter o mesmo destino que o deles. A cada prato servido, mais a sua atenção fica presa ao filme, pois ele cria uma nuvem de mistério onde você se pergunta: "Porque isto está acontecendo?" "O que o leva a ter essa atitude?", "Porque Margot está ali?", "Porque não acontece um motim naquele recinto?", "Porque Tyler fica tão calmo?"... e por aí vai.
Acho que o final foi bem o que esperávamos, afinal, com tudo o que se desenrolou, e a forma como o filme foi construído, não podia ter uma outra resolução para os clientes que ali estavam, e até para o Chef Slowik, assim como o final de Margot, que foi convincente com o que a personagem representou no filme desde o primeiro take dela esperando o barco chegar junto à Tyler. Durante o filme eu só pensava que esse deveria ser o final, e se terminasse de forma diferente, mais esperançosa, eu ia ficar bem chateado.
Dito tudo isto, o filme tem alguns pontos negativos e algumas obviedades que nublam um pouco a originalidade do longa. O primeiro é o Chef Slowik, brilhantemente interpretado por Ralph Fiennes, que deu aquela vibe mórbida para Slowik, comi se fosse um cadáver ambulante, alguém com um desprezo muito grande para com tudo e com todos, enxergado no semblante de Fiennes em cena. Faltou contextualizar um pouco mais o Chef, trazer mais coisas do passado, conectar mais ele à alguns clientes, para que sua vingança fosse mais verossímil. Só aquelas descobertas de Margot no quarto pessoal de Slowik, para mim não foi convincente e/ou suficiente.
Outro ponto é o pano de fundo do longa... afinal, hoje temos inúmeros shows televisivos de gastronomia, inúmeros pratos, competições, e principalmente filmes e séries que usam da gastronomia e do estresse de uma cozinha para se contar uma história. 'The Menu' é um filme de terror/horror moderno, que os jovens adoram, com a cozinha gastronômica como pano de fundo. O suspense, o mistério, o plot, é o que conduz o filme, e o lance da cozinha, dos pratos, do chef, é apenas o pano de fundo para o filme ter um 'q' de originalidade. É claro que achei o filme maravilhoso e é bacana toda a ideia do restaurante na ilha remota, e os pratos diferentes e bem detalhados, mas tudo isso é pano de fundo para uma história que até então é genérica. Tire todo o lance do Menu, da gastronomia, dos Soul Chefs, e coloque essa história dentro de um outro contexto, um outro pano de fundo... é a mesma coisa, os mesmos mistérios, as mesmas mortes, as mesmas cenas impactantes, um final muito próximo do que foi apresentado... A verdade é que mesmo que a ideia tenha sido muito original, o plot é clichê, nada do que vimos aqui, já não vimos em outros filmes, apenas a temática é diferente, dentro de um assunto que muita gente tem se interessado hoje em dia.
O elenco está ótimo, Anya Taylor Joy, apenas elogios para ela, atuou bem demais e trouxe mais camadas para Margot do que deveria apresentar, engrandeceu mais ainda a protagonista e segurou o filme como nenhuma outra atriz conseguiria. Nicholas Hoult (Mad Max Estrada da Fúria), que fez Tyler também esteve ótimo em seu papel, apesar de ser personagem não ter tantas camadas para ele atuar, ser um personagem mais vago, quase vazio, pouco acrescentou à trama, também não evoluía, era um ponto que não se movia para nenhum lado... mas Hoult se destacou na cena da cozinha onde teve que cozinhar para o Chef... ali Hoult entregou uma performance ótima quando o Chef Slowik sussurra em seu ouvido, e ele mostra o quão bom ator ele é. Ainda temos a talentosíssima Hong Chau (indicada este ano ao Oscar por The Whale) como a assistente de Slowik, Elsa, e ela foi be o filme todo, uma atriz nata, sua personagem poderia mostrar um pouco mais, mas o que ela entregou quando requisitada, foi ótimo, muito gostoso vê-la em cena em um papel tão intrigante. Fora ainda o já renomado John Leguizamo (Para Wong Foo! Obrigado Por Tudo Julie Newmar) que fez um astro de cinema que estava em decadência, e fez uma ótima parceria com Aimee Carrero, que fez Felicity, sua agente. Os dois estiveram ótimos em cena e quase chegam a ser o alívio cômico do longa.
A cenografia do filme é ótima também, filmado na Geórgia e na praia da Ilha Jekyll, deu um tom veranesco para o restaurante durante o dia, e meio mórbido durante a noite. O figurino também esteve impecável, tanto por parte da equipe da cozinha da ilha, quanto dos convidados que estava lá par degustar do menu, acho que Anya teve o melhor figurino do filme de longe. Colin Stetson compôs a música original do longa, da qual eu gostei muito, casou bem com o ar misterioso que o filme queria passar, de o que está acontecendo por aqui, principalmente na cena de luta entre Margot e Elsa, e nas cenas impactantes também.
O filme ganhou duas indicações ao Globo de Ouro, Ator e Atriz em filme Comédia/Musical, ambos para Ralph Fiennes e Anya Taylor Joy, com os dois perdendo para Colin Farrell e Michelle Yeoh, achei justo os dois prêmios. Ainda concorre ao Satelitte Awards em Ator Comédia/Musical para Ralph Fiennes, mas acho que ele não ganha aqui.
Produzido por Adam McKay (dos ótimos 'Don't Look Up e 'O Âncora') e pelo ator Will Ferrell (dispensa apresentações), não vou negar que gostei muito de 'The Menu', mereceu todo esse sucesso, é um ótimo entretenimento, uma pena eu ter perdido no cinema, e é uma ótima experiência. Porém, não nego que também é bem clichê, pois é na verdade um thriller suspense de horror bem básico, que encontramos toda semana por aí afora no mundo do cinema, apenas contextualizado no mundo da gastronomia. Temos ótimas produções dentro desse tema, que na minha opinião superam 'The Menu', como: 'The Bear' (série do Star Plus), os filmes 'Chef' (de Jon Favreau), 'Pegando Fogo' (com Bradley Cooper), e o sensacional 'Boiling Point' que é um arrasa quarteirão. 'The Menu' é original e básico ao mesmo tempo, agrada e entrete muito, mas entrega mais do mesmo.
Eu não conheço o trabalho de Andrew Dominik a fundo, acredito que deva ser o primeiro longa que eu vejo dele, não sei nada sobre sua vida, o que pensa da vida e o que deixa de pensar, sobre cinema e assuntos em geral... mas eu vi algumas entrevistas dele e o cineasta tem alguma coisa relacionada a grandes celebridades, ou a mulheres, não sei, as coisas que ele falou sobre Marilyn Monroe em alguns lugares, a forma como se portou. Eu acho que cabia aqui um pouco de pesquisa, tato, bom senso, da Wild Bunch International e de Brad Pitt e sua Plan B, ao escalar alguém como Dominik para Roteirizar e Dirigir a "cinebiografia" de Marilyn Monroe, uma das maiores estrelas de Hollywood e do mundo, Sex Simbol, Atriz e Artista.
Verdade seja dita, sequer podemos chamar "Blonde" de cinebiografia, afinal de contas o roteiro é baseado no romance de Joyce Carol Oates, um romance que dá mais atebção aos boatos e mitos que giravam em torno da vida pessoal de Marilyn. Por exemplo, haviam rumores, boatos, histórias, de quem seria o pai de Marilyn, isso nunca foi confirmado (até recentemente, sendo Charles Stanley Gifford), mas ela relata esses rumores, e o filme abraça isso. Ou seja, baseado neste romance, o filme todo retrata os rumores e boatos que cercavam a vida pessoal de Marilyn Monroe, e pouca coisa ali realmente é verdade.
Dominik preferiu partir do ponto onde ele queria focar em um trauma da infância que Marilyn teve... nascida Norma Jean Mortenson, quando criança, nunca chegou a conhecer o pai, a mãe fazia mistério, bebia e tinha problemas psicológicos sérios, em pouco tempo Norma Jean acabou indo para orfanatos e lares adotivos, enquanto sua mãe nunca mais saiu de hospitais psiquiátricos para tratar sua condição mental frágil. À partir deste trauma na infância, Dominik segue pelo campo dos boatos e rumores e para mostrar como isso afetou a vida adulta e profissional de Norma Jean, regrado a muito excesso sexual apelativo.
Vocês vêm, por ser uma Sex Symbol gigante naquela época, e até hoje ser a maior sex Symbol de todas, Dominik (que claramente deve ter algum problema ao retratar mulheres fortes) usou e abusou de evidenciar que Norma Jean foi usada e abusada pelos homens naqueles tempos. No filme ele deixa escancarado que Marilyn era violentada sexualmente e permitia tal ato, se escondendo em mantras que a própria criou (!!??), que Marilyn sofria diversas agressões físicas, porém ela minimizava pois estava emocionalmente instável (!!!???), que gostava de se expor sexualmente incluindo nudez, para poder manter seu status de Sex Symbol.
É óbvio que Norma Jean, pelo fato de ter uma mãe perturbada e um api que nunca conheceu, cresceu com uma carência afetiva muito grande, tentando preencher esta falta se relacionando com os mais diversos tipo de homens, mas a maioria com algo em comum, eram controladores... e pelo de ser mulher, e já ter essa carência mesmo dentro de si, de se sentir amada e não querer ficar sozinha e viver um amor, Norma Jean se entregou por completo nos relacionamentos que teve, mas por ser uma mulher famosa, desejada, querendo ou não endinheirada (mesmo recebendo pouco pelos seus filmes), Norma Jean acabaria se envolvendo mais por homens que lhe trouxessem uma segurança financeira e uma personalidade acolhedora. E esses homens nem sempre a trataram bem, sempre visando o próprio prazer e poder no fim das contas, sempre abusando física e emocionalmente de Norma Jean.
Acho que o fato de ela passar por esses percalços amorosos na vida dela, não é desculpa para Dominik retratar Norma Jean de um jeito que transparece que ela passou por toda sua carreira e vida artística sendo abusada pelos homens que teve, sendo sempre um estepe sexual nas mãos deles, e que não tinha personalidade suficiente para confrontá-los e sempre aceitar tudo de cabeça baixa. É ridículo, qualquer um que conheça minimamente da Marilyn Monroe, sabe que ela também era uma mulher de personalidade forte, totalmente segura, possuía seus próprios negócios, e levava sim jeito para negociações. Ela não era só esse poço de drama e chilique descontrolado que Dominik retratou.
Tudo bem que o filme foi baseado em um romance de Joyce Carol Oates, onde ela trabalha apenas com os boatos e rumores que cercavam a vida de Monroe. Porém, Dominik aqui criou uma fábula voraz que denigre não só a imagem, mas o legado de Marilyn Monroe, ela não era só essa pessoa que foi retratada no filme, limitada a problemas emocionais e depressivos, dependente afetivamente e emocionalmente de homens, oi até mesmo um objeto de adoração devido ao seu corpo perante aos homens. Havia muita para se aprofundar e jogar luz na vida e carreira de Norma Jean, que neste filme foi deixado de lado para evidenciar um mito que foi alimentado pela imprensa cruel Hollywoodiana da época.
Outro ponto de defeito de Dominik no filme, a exploração visual de Ana De Armas no longa interpretando Marilyn Monroe... simplesmente um horror. Sempre cito Patty Jenkins como exemplo para se dirigir uma mulher protagonista de personalidade... ela dirigiu Mulher Maravilha sem dar nenhum close gratuito no corpo de Gal Gadot, em nenhuma parte, em nenhum close específico de roupa, nem em decotes, nem na bunda, roupa íntima, nada. E estamos falando de uma heroína que pouco veste roupa e de uma atriz que praticamente uma deusa de tão linda. Já Dominik jogou o talento de Ana De Armas no lixo com cenas de sexo desnecessárias, como quando foi abusada por um figurão do alto escalão de Hollywood, em uma cena de estupro onde ele pega Ana De Armas por trás e começa o ato... ok, foi para contextualizar o ocorrido e o que ela passou antes de atingir o estrelato? Eu aceito, afinal, um filme dessa estirpe, de carga dramática altíssima, não pode seguir com o freio de mão puxado, vamos mostrar e sem rédeas ou pudores... porém, ele repete essa fórmula em cenas seguintes, como no sexo a três com os Gêmeos de Charlie Chaplin, ao qual Norma Jean namorou. E no meio daquele coito a três, Dominik novamente expôs Ana a uma cena onde ela não só faz um sexo voraz com Cass Chaplin e seu irmão Eddie, como ele foca em uma simulação de orgasmo por aparte de Ana, e na sequência em mais uma vez alguém metendo nela por trás (artisticamente é claro), sem a menor necessidade em uma cena que de nada agrega a trama.
Fora tudo isso, Dominik ainda fez Ana De Armas passar boa parte do filme, ou seja, longos takes, com os seios de fora, em uma exposição gratuita, como se fosse só isso que Marilyn tivesse a oferecer. Mais nojento ainda foi a cena com o Ex Presidente Kennedy, onde Ana De Armas simula uma masturbação seguida de um sexo oral no ator Caspar Phillipson. Até entendo que os atores não devem ter pudores, e dentro de uma cena sexual, você precisa entregar aquilo que a cena pede, o que o diretor quer passar, e o que o filme demanda... porém, com tanta exposição sexual de Ana no filme, ainda ter que colocar uma cena tão forçada como essa é de um mau caratismo muito grande, de uma falta de tato, de uma escrotice. Logo após essa cena, ela vai ao banheiro fazer xixi, talvez na sequência dessa cena o Presidente ainda tenha feito sexo com ela, ou não, mas o xixi que ela faz incomoda, você ouve pelo barulho que não é o normal, e ela pede pra pessoa que bate na porta não entrar... achei um take muito invasivo. Nós sabemos que houve um... não diria um relacionamento mesmo, pode ter sido um téte a téte, um caso,entre Marilyn Monroe e o Ex Presidente Kennedy, e que dentro daquele quarto presidencial pode (e rolou) muita intima entre os dois e talvez o Ex Presidente pode ter forçado algo, abusado, enfim... mas é só contextualizar Dominik, não precisa sujar a imagem de Marilyn, abusar da atuação de Ana De Armas, nem satisfazer a fantasia de tarados que gostam de ver cenas assim onde a mulher está em uma posição de submissa.
Da forma como eu vejo, a direção de Dominik é ridícula, suas ideias são ultrapassadas, certas passagens do filme ele fez sim um bom trabalho, isso eu não nego, soube montar alguns atos...mas jogou a imagem de Marilyn Monroe no lixo com essa visão e desperdiçou o talento de Ana De Armas, explorando sexualmente seu corpo e abusando de sua boa vontade e desejo de interpretar um ícone que foi Monroe.
Em termos de elenco o filme ainda conta com Bobby Cannavale (de Homem Formiga) como Joe DiMaggio, o segundo marido de Marilyn; Evan Williams e Xavier Samuel como os gêmeos filhos de Chaplin... Julianne Nicholson como Gladys, mãe de Marilyn; E Adrian Brody (O Pianista) como Arthur Miller, terceiro Marido de Marilyn.
A trilha sonora de Nick Cave e Warren Ellis está esplêndida, perfeita, a música casa muito bem com o tom do filme, e respeita não só a época em que o filme se passa, como exalta os sentimentos que Ana transmitia em cena de Marilyn em seus momentos dramáticos... Nick Cave já é um puta de um músico, junto a sua Banda The Bad Seeds, conheço pouco o trabalho dele com a banda, mas se mostrou um ótimo compositor de filmes.
Se eu for falar de Ana De Armas eu vou chover no molhado, Ana foi GIGANTE no filme, acho ela uma das melhores atrizes de sua geração, lindíssima, talentosíssima, tem uma presença de cena impactante... com certeza ela não ia deixar passar a oportunidade de interpretar Marilyn Monroe em um longa metragem, um papel que qualquer atriz no nível dela, na posição dela, aceitaria e sonharia em pegar. Uma pena que tenha sido em um filme com uma visão tão podre, amassada, ultrapassada... Ela teve o azar de pegar o pior diretor, que por algum motivo que desconheço, tem fetiche em retratar mulheres com problemas emocionais ou descontroladas de uma forma baixa, pequena, como se fossem bonecas infláveis, ou apenas carentes que viram saco de pancadas nas mãos de homens que, no fim das contas "não queriam fazer aquilo". Independente disso, Ana se entregou ao personagem, mergulhou fundo na interpretação e caracterização, seus trejeitos estão perfeitos, a forma como fala (que muitos criticaram por não ter sotaque), o drama que ela condicionou à personalidade de Marilyn... a forma como não se acovardou nas cenas mais íntimas, nas mais invasivas, sem pudor, e como achou um desequilíbrio perfeito nas cenas onde era humilhada por Joe DiMaggio, ou nas crises no casamento com Arthur Miller, e por aí vai.
Ana foi indicada a Melhor Atriz no Oscar, no BAFTA , Prêmio Internacional Australiano (AACTA) e no SAG's Awards. Ela também foi indicada no Globo de Ouro de Atriz Drama, perdendo para Cate Blanchett. As indicações de Ana são merecidas, acho difícil ela sair com algum prêmio, eu mesmo mesmo gostaria de premiá-la em alguma premiação, e acredito que o prêmio da AACTA seria o mais apropriado.
Concluindo, fiquei decepcionadíssimo com o resultado do filme, que é longo demais par tanta coisa nonsense que Dominik fez em suas 2h46 de duração, um martírio em certos momentos. Visão muito machista e invasiva do ícone que Marilyn Monroe, e muitas inverdades ali, um show de horrores como dizem alguns críticos. Vale mesmo pela atuação de Ana De Armas, que carrega o filme nas costas e justamente foi lembrada nas principais premiações este ano. O filme só não é inteiramente ruim por conta dela.
Mas o filme foi lembrado, justamente, na famosa premiação Framboesa de Ouro, que premia os piores do ano, e lá foi lembrado em Pior Filme, Pior Roteiro e Pior Diretor. Além de Pior Ator Coadjuvante com indicação dupla para Xavier Samuel e Evan Williams (também achei justo, muito canastrões). Ainda foi indicado duplamente na categoria Pior Casal em Tela, a cena em que Monroe é violada por Kennedy foi indicada como 'Ambos os personagens da vida real na cena falaciosa do quarto da Casa Branca', e também 'Andrew Dominik e seus problemas com mulheres'. Realmente... merece ganhar tudo. Bola fora de Dominik, bola fora da Plan B, bola fora da Netflix.
Cinema Sul Coreano... o que vem a mente quando se pensa? Para mim, Invasão Zumbi, Okja, Parasita, A Criada, Haeundae... Fora os que não vi ainda como Em Chamas ou o já consagrado de 2003 Oldboy do próprio Park Chan-wook, que é diretor produtor e roteirista de 'Decision To Leave', seu mais novo filme que foi ovacionado por 5 minutos no Festival de Cannes.
'Decision To Leave' é um deleite, grande parte de seu trunfo está no roteiro que não desacelera nem um minuto, é uma sequência de acontecimentos, encontros, desencontros, confissões e mistérios, que te deixam preso àquele romance, àquele texto, que você praticamente desejará que o longa não acabe.
O detetive Hae Joon investiga o assassinato do marido de Song Seo-Rae, que caiu ao fazer alpinismo em uma montanha, e conforme Hae Joon se aprofunda no caso e testemunho de Seo-Rae, mais os dois acabam criando uma ligação, que os faz se aproximarem perigosamente, uma vez que Hae Joon a considera suspeita, e ele é casado.
Park Chan-Wook deu ênfase em sua câmera ora estática, ora invasiva ao nos fazer acompanhar os protagonistas Hae Joon e Seo-Rae, conforme eles se conhecem, e Hae Joon desenvolve um interesse romântico para com Seo-Rae, que é recíproco... mas o mais bacana são as entrelinhas do roteiro que vão e vem nos acontecimentos, fazendo com que nós questionemos o tempo todo, quem quer passar a perna em quem, o que realmente é genuíno naquele pseudo-romance, o quão Seo-Rae está envolvida no acidente de seu marido e porque temos a impressão de que ela esconde algo...uma questão totalmente implícita desde que a personagem aparece.
Essa faísca entre eles, um tentando desvendar o outro é o que nos faz ficar ligado em frente a telona do cinema, os dois personagens são muito carismáticos, nos ganham em suas primeiras cenas, e são perfeitamente interpretados pelos atores Park Hae-il e Wei Tang, se não fosse o talento dos dois, talvez o filme ficasse um tanto quanto arrastado, porque quando não temos carisma suficiente, os personagens cansam e os acontecimentos também.
Quando descobrimos realmente o que aconteceu, porque aconteceu, o que levou tais atos a serem cometidos, além das coisas começarem a fazer sentido, a uma mudança no longa, de tempo, de ares, não de ritmo, mas de tom, e os personagens entregam camadas de personalidade que ainda não haviam entregue em todo o primeiro ato do filme... e então em uma nova localidade, em uma nova rotina, vemos os dois protagonistas brincarem mais ainda com uma faceta a mais adicionada à seus caráters, que nos faz enxergarmos da forma como eles realmente são, puramente crus em cena, com as guardas baixas e escudos dispensados, e isso é genial em um roteiro. Os personagens mais uma vez nos ganham, nos chama a atenção, é uma conversa intima entre eles e nós.... como se fôssemos amigos antigos, mas agora que nos reencontramos depois de tempos, é que realmente enxergamos quem eles sempre foram, e não o que apenas nos mostravam.
É genial a forma como Park Chan-Wook construiu seu roteiro e desenrolou seu romance, e além de termos protagonistas tão carismáticos, eles nos dá coadjuvantes que possuem o mesmo carisma, acabam sendo o alívio cômico no filme, mas é como se nos enxergássemos neles, pois a visão que eles têm de Hae Joon e Seo-Rae é a mesma que nós temos... eles conhecem apenas o que eles mostram de suas personalidades, e não quem realmente são intrinsecamente, quando o filme dá um salto de meses na história.
'Decision to Leave' tem um ótimo ritmo, para quem realmente gosta de assistir filmes, analisá-los, entrar no universo da história e deixar se levar, não será nada cansativo, será uma ótima experiência, e um deleite acompanhar personagens tão ricos em personalidade. Park Chan-wook dirigiu muito bem, fez o casal de protagonistas brilharem em cena, fez o seu filme ser muito poético, adinal, ao acompanhar toda a trama e o desenvolvimento dos personagens principais, ao assistir o encerramento do longa, aquela tomada de atitude, a forma como se sucede a procura pelo mar, aquilo é poesia pura, mostra o quanto os personagens são grandes e tiveram muito a entregar em termos de arte e drama.
A cenografia do filme é outro ponto a se ressaltar, sempre muito bem detalhado, com adereços locais e ambientes externos abertos... assim como a cinematografia que também capta os por menores de Seo-Rae e Hae Joon em seus rostos, enaltecendo cada sentimento que ali é transmitido... fora as cenas gravadas na praia e na nova casa de Hae Joon e Jung-an.
A trilha sonora foi composta por Yeong-wook Jo, um trabalho esplendoroso, incrível, a música casa perfeitamente com as cenas, e ele cria um clima de mistério nas cenas chave do longa, assim como deixa sua composição mais densa nas cenas onde Sei-Rae e Hae Joon estão a sós, seja passeando na chuva, seja quando ele está na casa dela.
O longa, nesta temporada de premiações foi indicado para Filme Estrangeiro no Globo de Ouro, perdendo para 'Argentina 1985' (achei justo). e também concorreu no Critics Choice Awards perdendo para RRR da Índia. Concorre nessa categoria ainda no Satelitte Awards e no BAFTA... sendo que no BAFTA ainda concorre a Melhor Diretor para Park Chan-wook, mas o páreo será duro pois ali tem 'Os Daniel', Martin McDonagh, Edward Berger, só para citar os favoritos a princípio. No Oscar foi esnobado, ficando de fora da disputa, uma pena, e um erro... defendo muito a indicação de 'EO', agora há de se ver os filmes 'The Quiet Girl' e 'Close', poderia haver uma vaga para o longa de Park Chan-wook no lugar de um desses filmes... preciso conferi-los para poder argumentar.
Assistam, de preferência, no cinema, o filme é belo e engraçado em determinadas partes, muito bom para se experimentar numa sala com outros espectadores.
(Assistido em 24/01/2023 - Instituto Moreira Salles)
O cinema alemão já é dono de grandes obras primas que foram (ou não) premiados ao longo do tempo, como 'Os Falsários', 'A Vida Dos Outros', entre outros, e para esta temporada de premiações, o longa escolhido pelo país foi 'Nada de Novo no Front', filme dirigido por Edward Berger, baseado no romance de Erich M. Remarche, onde o mesmo escreve sobre suas experiências durante seu serviço na primeira guerra mundial, onde testemunhou as barbáries que aconteceram no campo de guerra contra os franceses.
O filme traz o adolescente Paul Bäumer, junto aos seus demais amigos adolescentes Albert, Franz, que abandonam a escola para se alistarem nos serviços militares, afim de lutar na guerra e servir sua amada pátria Alemanha, contra os Franceses, que cada vez mais ganhavam terreno e encurralavam os alemães. O que Paul não sabia, à parte de seu patriotismo em servir o seu país na guerra, eram os horrores e a desumanidade que ele encontraria nas trincheiras e enquanto percorria a França tentando deter seus inimigos, e o quanto aquilo o afetaria e mudaria a vida e o destino de seus amigos para sempre.
Não vou negar, temos aqui uma "quase" Obra Prima, chegou muito perto, pois o filme é soberbo, voraz, marcante, tenebroso, mórbido e ao mesmo tempo ele é bem tocante, pega muito nos sentimentos humanos dentro de um ambiente de carnificina que é a guerra, onde a maioria não entende o idioma do inimigo, e nos mostra que no fundo, lá no fundo, ninguém quer a guerra, só quem a quer são aqueles que gostam e amam ter o poder.
Não li o romance de Remarche, mas o roteiro foi muito bem conduzido e alinhado por Edward Berger, que nos mostrou detalhadamente, os acontecimentos e percalços que acontecem no campo de batalha quando os inimigos se encontram, os detalhes dos horrores dos golpes, dos corpos, da sede de sangue, do medo dos jovens, da brutalidade dos ataques, e da compaixão ao presenciar cenas de tirar o sono, de ficar impregnado em sua mente e te aterrorizar durante a noite, o sono, e por toda sua vida.
Paul queria tanto servir o seu país, queria tanto voltar para casa como um herói, assim como seus amigos, com sonhos e desejos juvenis como todos os outros garotos,mas não estava preparado para o que viria lhe suceder no gorro da guerra. Em como ele teria que tirar uma vida humana, onde ficaria à mercê da morte por milímetros de ser acertado por uma bala, as máquinas de destruição que passariam por sua cabeça, esmagando ossos de seus compatriotas, o medo de perder seus amigos no campo de batalha, a solidão de avançar o campo, sozinho, tendo que cuidar de si mesmo e matar quando você conseguir, e ainda permanecer vivo e inteiro, temendo pela segurança de seus amigos que fazem o mesmo.
Uma das cenas mais fortes do longa, quando Paul avança e esfaqueia um inimigo francês, que nem armado estava, e o mesmo começa a agonizar no chão engasgando no próprio sangue, e ele não morre, e Paul se desespera, não quer ver, não quer ouvir, se cansou daquela situação toda, só quer voltar para casa, e no desespero tenta sufocar o agonizante com lama, e não surte efeito, e cansado e culpado de vê-lo asfixiando lentamente, tenta ajudá-lo estancando o sangue que jorra de seu peito, com o francês assustado achando que ele terminará de matá-lo logo, e logo em seguida, depois de muitos minutos, o francês não suporta e falece... E Paul ao fuçar em suas roupas, vê uma foto da esposa e filha do falecido. É uma cena fortíssima, que incomoda, que fica na sua mente, vai fazer você querer desligar a TV, parar o filme, vai mexer com você. Nisso, Edward Berger foi muito bem, conseguiu transcrever perfeitamente, como se sucede tais atos numa guerra, onde o inimigo não conhece o inimigo, eles se enfrentam porque assim o governo determinou.
O filme determina muito bem que é o governo, seus líderes políticos e militares, quem determinam a guerra, os próximos passos, como irão agir, como irão se posicionar, quando vão avançar, qual o próximo passo a ser dado. Aqui mostra bem quando a guerra está acabada, terminada, quando se está praticamente derrotado, mas o orgulho fala mais alto, você determina mais homens, mais jovens, mais balas, para poder lançar um contra ataque, ou então tentar manter aquele perímetro de terra que você não quer entregar nas mãos do inimigo... e enquanto mais e mais jovens, homens, e inocentes patriotas morrem, os líderes traçam mais planos, sem conseguir enxergar que está derrotado, não há mais alternativas a não ser se render... ou o outro lado, que está em vantagem, que prefere matar e matar e matar, sem se importar com os seus homens na linha de frente, que tanto querem retornar às suas famílias, e podem acabar morrendo no campo de batalha por um erro ou uma bobagem qualquer, quando a guerra já podia ser encerrada.
Além de ser bem dirigido, 'Nada de Novo no Front' tem uma trilha sonora inspirada, ela é densa e ao mesmo tempo é mórbida, ela é bem cinza e nenhum momento ela possui notas que nos remetem à esperança, ou ao um novo alvorecer, é uma trilha que se mantém tensa, inquieta, os violinos não se conversam, eles apenas dialogam com o terror dos ataques, ao com a desilusão dos personagens. Possui instrumentos únicos que mesclados nos passam o sentimento de morte o tempo inteiro. Méritos do compositor Volker Bertelmann.
A direção de arte é de Christian M Goldbeck e é fantástica, desde os tanques usados no campo de batalha, aos cenários usados para se filmar as cenas, alinhados ao figurino de Michal Motycka, que fez um trabalho incrível ao recriar os uniformes para serem o mais bem parecido com os usados na época da primeira guerra mundial, assim como descrito no livro. O Som do filme é perfeitamente bem sonorizado, casando bem com as ações, fazendo você ter uma boa noção de que poderia muito bem estar ali dentro do campo de batalha, tenso com quem ou o que pode vir a lhe atacar ou emboscar. A cinematografia é de James Friend, e ele fez um ótimo trabalho junto ao diretor Berger em captar bem os personagens e destacá-los nas cenas mais importantes, e captar os horrores e a desesperança em seus rostos. Assim como temos belas tomadas de cena onde o roxo prevalece, assim como o cinza, cenas essas que traduzem ao espectador o sentimento de que tudo está meio mórbido no momento, ou que a uma falta de esperança nestas cenas, e por aí vai. Tecnicamente, o filme é soberbo, perfeito e vai impressionar quem assiste e aprecia os bons detalhes técnicos de um filme.
A única coisa que me incomodou no longa, o que faz eu, particularmente, não o considerar uma obra prima de fato, é o fato de não contextualizar os personagens no início do filme. Eles simplesmente decidem ir para guerra, e assim o fazem. Não sabemos quem são suas famílias, suas relações com eles, quais são seus sonhos, o que eles deixaram para trás, como eram suas vidas e como eles enxergavam seu país e sua realidade. Essa falta de contextualização no protagonista e seus amigos coadjuvantes, fez com que eu não me ligasse muito na jornada deles, não me afeiçoasse a eles, não torcesse de fato por eles, eu apenas acompanha suas caminhadas e seu destino. Esses destinos já traçados para os personagens, que ficaram bem óbvios com o decorrer do filme, fez com que eu não sentisse tanto a conclusão de suas jornadas, de não absorver aquele sentimento, e isso em um filme tão impactante como este, é algo muito importante que faz com que você se conecte com o personagem e sinta o que ele sente, que você se coloque no lugar dele... e eu não senti isso. O descaso que eles também têm com animais fez com que eu não me ligasse tanto na jornada deles e no que um significava para o outro. Essa falha de conexão com os personagens protagonista e coadjuvantes, fez com que toda a carga dramática do filme e sua grandiosidade sentimental caísse um pouco por terra e não me importasse tanto assim com os soldados que ali estavam na linha de frente da batalha. Apenas o personagem Katz (de Albrecht Schuch) foi o que mais me afeiçoei e me liguei no filme, aquele que realmente se conectou comigo.
'Nada de Novo no Front', um filme Original Netflix, que teve produção direção e roteiro de Edward Berger, com Daniel Brühl também envolvido na produção teve inúmeras indicações no BAFTA deste ano... 14 ao total, o filme com mais indicações, ganhando a indicação ainda na categoria de Melhor Filme, o mais importante da noite. Além desta indicação, foi indicado também a Melhor Ator Coadjuvante para Albrecht Schuch, Melhor Direção para Edward Berger, Trilha Sonora, Efeitos Visuais, Montagem, Roteiro Adaptado, Maquiagem e Cabelo, Fotografia, Figurino, Melhor Som, Melhor Design de Produção, Melhor Elenco e finalmente Melhor Filme em Língua Não Inglesa (Estrangeiro). Ufa... 14 indicações, o BAFTA amou o filme mesmo.
Foi indicado ao Globo de Ouro em Filme Estrangeiro, perdendo para Argentina 1985 (meu Favorito), e no Critics Choice Awards na mesma categoria, perdendo para RRR. Com certeza será nomeado nesta categoria no Oscar, e quem sabe, pode até abocanhar alguma indicação em uma ou mais categorias técnicas.
O meu favorito nessa temporada de premiações ainda é Argentina, 1985, sempre que estiver indicado estarei torcendo, até que outro indicado que eu irei conferir roube este posto. Mas ficarei feliz se o filme de Edward Berger levar o prêmio de Filme Estrangeuri no BAFTA deste ano. Só acho que a indicação do longa para Melhor Filme no BAFTA foi um pouco exagerado, eu particularmente não indicaria e teria colocado 'Aftersun' no lugar fácil, por exemplo. Porém, essa indicação se justifica pelo fato do longa ter recebido quase todas as indicações na categorias técnicas, fora Direção e Roteiro.
Mais uma pérola incrível do cinema alemão que só melhora a cada ano que passa. Mais um ponto para a Netflix.
Sra. Harris vai a Paris
3.6 92 Assista AgoraEsse é o típico filme que integra e compreende a escola britânica de cinema, assim como a forma que é dirigido e como é transplantado para a tela. Dá até pra confundi-lo com um telefilme, que é algo muito comum na Grã-Bretanha, e pra quem costuma assistir/consumir filmes britânicos, assim que o filme começa, nos seus 15 primeiros segundos já dá pra cravar... "esse filme é britânico".
Estrelado pela ótima atriz Leslie Manville, que faz a protagonista Ada Harris, 'Sra. Harris Vai à Paris' é um longa que faz um afago no ego britânico, ao mesmo tempo que é um longa que traz aquele calor no coração de quem assiste, com uma história estilo conto de fadas, onde o acaso trabalhará para no final tudo dar certo, e todos serem felizes para sempre.
Isso vai ser motivo de críticas negativas de muita gente, que sempre espera por um filme com o famoso 'plot twist' no final, mas a verdade é que 'Sra Harris Vai à Paris' nada mais é que o cinema em sua mais pura forma, e que nunca deixará de envelhecer... histórias mais descompromissadas para entreter o público por 2 horas, com uma magia que só o cinema pode proporcionar.
Ada Harris é uma viúva de um combatente da segunda mundial, e vivendo na década de 50 na Inglaterra, trabalhando como empregada doméstica, vê um vestido de da Dior, famosa grife de roupas femininas, no guarda-roupas de sua patroa. Maravilhada, ela começa a juntar as moedas para comprar o caro vestido que custa em torno de 500 euros, porém sua situação financeira não lha é tão favorável assim. Depois que descobre que o marido morto na guerra tem uma pensão recheada destinada a ela, ela viaja até Paris para comprar seu vestido, e enfrenta inúmeros contra-tempos, ao mesmo tempo que faz novos e maravilhosos amigos que lhe ajudam a realizar o seu sonho.
É um filme gostoso, tem um tom bem leve com interpretações bem competentes e personagens muito carismáticos, mesmo a severa Claudine Colbert, interpretada por Isabelle Huppert (de EO), e acho que isso é um dos grandes trunfos do filme, pois você fica muito imerso no que está acontecendo, envolvido na busca de Ada pelo vestido Dior, e interessado no que os demais personagens coadjuvantes pensam e como agem.
Dirigido, Roteirizado e Produzido por Anthony Fabian, em seu primeiro longa, e já muito bem sucedido pois faturou mais de 10 Milhões de Dólares nos Estados Unidos, e que teve ainda a protagonista Lesley Manville na Produção Executiva.
Possui uma trilha sonora fantástica, riquíssima com temas da época e que segue de mãos dadas com as cenas e com as motivações de Ada. Sem esta trilha, o filme não seria a mesma coisa, ele dita o tom do longa, e chega a ser um personagem a parte do filme, de tão bem inserido e composto como foi no e para o longa.
Além dele, temos o grande figurino do filme que é milimetricamente construído para remeter os vestidos da marca do já saudoso Christian Dior, vestidos belíssimos diga-se de passagem, assim como os demais figurinos do longa, que são muito bem costurados e construídos para enaltecer a persona de Ada e de outros personagens do filme como o Marquês de Chassagne, André Fauvel e Natasha.
Falando no restante do elenco, Alba Baptista (atual namorada de Chris Evans), lindíssima e talentosa, interpreta Natasha e está bem no filme, nada demais que chame a atenção, mas com o básico que lhe é entregue em roteiro, ela faz bem e faz de maneira competente.
Lucas Bravo faz André, interesse romântico de Natasha e brilha em seu discurso ao falar com Christian Dior e os demais funcionários da Dior.
A já citada Isabelle Huppert que está ótima no filme, atriz completíssima, e ainda cito Jason Isaacs como Archie que traz um charme na medida para seu personagem.
Felix Wiedemann foi o profissional responsável pela cinematografia do filme, e há algumas cenas com tomadas belíssimas de Paris ao entardecer, ou mesmo de manhã, agumas passagens à noite e em locais mais fechados como os becos que levam até o prédio da Dior ou a casa de Claudine Colbert. Cinematografia competente e que embeleza as cenas.
Na temporada de premiações de 2023, foi indicado a Melhor Figurino no Oscar, no BAFTA e no British Independent Awards, perdendo para 'Pantera Negra Wakanda Forever', 'Elvis' e 'Femme' respectivamente.
Já Leslie Manville foi indicada a Melhor Atriz Comédia/Musical no Globo de Ouro, mas perdeu para Michelle Yeoh e sua perfeita performance em 'Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo'.
'Sra. Harris Vai à Paris' é um deleite para quem quer se entreter numa tarde qualquer de meio de semana, um filme gostoso de se acompanhar, com personagens cativantes e uma trilha sonora que caminha de mãos dadas com as cenas. É descompromissado, vai direto ao ponto, traz alguns temas á tona, como a greve de lixeiros de Paris, 'o empregado é o dono', Slogan da época que deixava claro a atual situação empregatícia na França, e as pequenas diferenças sociais da classe trabalhadora francesa e inglesa.
Tudo isso dentro de uma pequena fábula de Ada Harris, personagem que foi criada por Paul Gallico, escritor americano que criou uma série de livros que trazia Ada Harris como protagonista.
(01/01/2024)
Assassinos da Lua das Flores
4.1 611 Assista AgoraAh Scorsese, mais conhecido pela alcunha dada por mim mesmo como: "O Rei das Obras-Primas".
"O Rei da Comédia", "Taxi Driver", "Os Bons Companheiros", "Cassino", nem vou citar mais, são tantos, e pra mim, não tem nada mais gratificante em ver este gênio, nos altos de seus 81 anos, com saúde, e 100% ativo, nos brindando com mais um grande filme.
Baseado na obra de David Grann lançada em 2017, acerca dos assassinatos misteriosos que aconteciam em Oklahoma, contra a tribo Osage na década de 1920, Scorsese co-escreveu o roteiro junto a Eric Roth (de O Curioso Caso de Benjamin Button).
Dirigiu e Produziu o longa que foi comprado pela Apple TV, que vem dando um show no mundo cinematográfico, tanto nas telonas, quanto com as séries, sempre uma grande produção atrás da outra, hoje em minha mais modesta opinião, a Apple TV supera a Netflix no quesito produções de Streaming e tem entregado uma gama muito maior e mais interessante de filmes e séries. O lance é que aqui no Brasil não se gosta de produções, gostam apenas de ser entretidos e assim, ficam apenas naquela que é a mais acessível, Netflix, sendo que na Apple TV temos produções absurdamentes riquíssimas em qualidade e histórias.. Enfim.
"Killers of The Flower Moon" foi filmado em 2021 e tem um amplo estudo de Martin Scorsese da tribo 'Osage', uma vez que Scorsese conversou com líderes da tribo, convencendo-os a colaborar no quesito conhecimento histórico, para deixar o filme mais visceral, representar o povo 'Osage' da maneira que devem ser representados.
Obviamente baseado em fatos reais que levaram ao envolvimento à época de J. Edgar Hoover, do então recém criado FBI (Federal Bureau Investigation), Scorsese trata de retratar as hostilidades que o povo 'Osage' sofreu do resto dos Norte-americanos, que se diziam do bem, ao descobrirem que as terras tribais possuíam Petróleo, fazendo com que sua famosa ganância pelo poder e dinheiro, levassem indivíduos pontuais a exterminar semana apo´s semana pessoas chaves da comunidade 'Osage' visando se apossar de tais terras.
Scorsese é um gênio na arte da direção e na forma como se conta uma história, e aqui não seria diferente, com suas câmeras captando bem as diferentes nuances e expressões dos atores do núcleo 'Osage', nos deixando claro a cada frame e cena, o que pensam, o que sentem, como estão lidando com tais fatos, o terror em seus rostos, as alegrias nos dias mais calmos e por aí vai.
Assim como também foca muito em seus protagonistas, mas aqui de uma forma levemente diferente... há um enfoque maior quando estão em conjunto em cena, pois a forma como ele pega Di Caprio e Gladstone, em suas cenas, juntos, como ele destaca-os mais próximos á lente da câmera, suas feições, o enfoque na falas, em como eles se dialogam com os olhares, com as expressões, com a resposta facial ao diálogo em questão... faz com que nós fiquemos cada vez mais íntimos dos personagens, do que querem, do que sentem, do que almejam, do que temem... mais uma vez Scorsese procurando novas formas de nos conectarmos aos personagens, e novas formas de fazê-los se expressar perante a lente e nos entregar mais imersividade ao conto que estamos presenciando.
Afinal, são novamente 3h25 minutos de um longa de Scorsese, onde ele minimamente tem que arranjar novos meios de nos fazer ficarmos presos á tela, além do roteiro em si e dos atores/personagens apresentados. Se entregar mais do mesmo, tende a ficar maçante para o espectador acompanhar algo semelhante ao que ele vem fazendo à décadas, deixando a experiência cansativa e enjoativa... coisa que neste filme, não acontece, passa longe por sinal.
A cinematografia de Rodrigo Prieto (que também trabalhou em Barbie), é outro ponto alto e de se congratular, pois temos tomadas riquíssimas de paisagens e enquadramentos belíssimos dos locais filmados no condado de Osage e Washington. Os mais belos que pude presenciar no filme vieram do condado de Osage mesmo, mais interiorano, os da primeira hora do filme... Prieto se superou ao encontrar e construir esses enquadramentos perfeitos, com as luzes naturais certeiras para engrandecer as cenas externas.
Leonardo DiCaprio que faz o frouxo Ernest Burkhart, está mais uma vez se superando em suas atuações, pois aqui ele compõe bem toda a estrutura do personagem, transparecendo sua personalidade e suas inseguranças para os trejeitos e modos de Ernest. Na primeira hora seu personagem, diga-se de passagem é um poço de carisma, graças ao talento e experiência de DiCaprio em construir personagens do zero, e conforme o filme avança, vemos uma desconstrução no carisma desse personagem, que vai entrando em uma espiral de decadência e escuridão, que DiCaprio perfeitamente vai nos entregando em tela, vemos Ernest cair em desgraça lentamente, cena por cena, minuto a minuto, e o seu carisma se transforma em repulsa, e essa repulsa está incrivelmente presente em seus trejeitos e na forma como ele se expressa em tela e com os outros personagens do longa. Eu tinha visto um crítico falar mais ou menos mal deste personagem de DiCaprio, por ele ser um completo idiota (e é mesmo), mas infelizmente esse crítico não conseguiu enxergar por debaixo da carcaça de Ernest, o idiota, onde temos a incrível atuação, entrega e transformação de DiCaprio que deixou o personagem rico e completo no longa, uma experiência deliciosa de ser conferida.
Porém, é como eu disse mais acima, Ernest é um frouxo, um idiota, um cagão, um bunda suja, um mala sem alça, um completo boçal, um ridículo, um moleque, um Zé ninguém, um João sem braço, sequer dá para chamá-lo de Homem. Como eu torci para ele se F&¨%$# no final, para se dar mal, para acontecer o de pior com ele, ou se fazer a justiça, que acabou sendo leve pra ele, dado o seu final e o final de Mollie. FROUXO.
Já Lily Gladstone não está colecionando indicações e prêmios à toa nas premiações que já aconteceram neste mês de Dezembro, pois ela tem uma das melhores atuações do longa, se não a melhor, com sua Molly Eckhart se apresentando uma mulher mais misteriosa, que nunca se revelam totalmente, afinal as mulheres adoram um mistério, e debaixo daquela pompa toda dela, que ela apresenta e entrega no começo do filme, aos poucos ela vai se abrindo para Ernest, deixando ele entrar, se entregando mais a ele, pelo seu jeito cafajeste, e pelos seus olhos chamativos, até se entregar totalmente ao Homem.
Mas a criação de Lily para a personagem, a forma como ela olha, como fala, como responde a certos diálogos com olhares, como ela vai se retrabalhando quando deixa de ter aquele ar superior que sabe o que quer para si, e vai se entregando aos poucos para Ernest... Lily foi muito bem em toda essa criação/atuação, é praticamente impossível você não se afeiçoar e não torcer por Molly no longa, de não querer o melhor para ela.
Fica uma impressão que quando chega nas partes que Molly está enferma, pelas injeções que Ernest lhe dá, ela pode fixar uma pouco mais limitada em sua atuação, mas na verdade é o contrário, ela tem total controle da personagem quando atua de de uma forma dopada, os olhos que explanam sua dor, sua confusão com o que lhe está acontecendo, a forma como tenta se conectar com o mundo fora de sua cama, e principalmente em como ela se encontra novamente, quando volta a ficar em si, se recuperando de sua condição dopada, e os olhares certeiros e verdadeiros para Ernest na meia hora final do longa.
Lily está grandiosíssima no longa e merece demais as indicações que vem recebendo como Melhor Atriz, tendo ganhado algumas premiações que já aconteceram, aquelas menos badaladas, mais setoriais, que lhe dão cada vez mais força para quando vier as de peso, as mais badaladas, como o Globo, o Critics, BAFTA, SAG´s, Satelitte e Oscar.
Robert De Niro mais uma vez entrega aquela canastrice que já conhecemos de inúmeros filmes onde ele faz uma espécie de Antagonista... afinal, por mais que aqui ele tenha esses ares de vilão, está apenas protegendo e buscando o que ele acha que é seu, por direito, por mais que achemos errado, em sua cabeça, ele acha que está correto, que está com a razão, age por essas diretrizes, e faz o que sabe fazer de melhor... entrega um personagem que soa nada mais nada menos que desprezível para quem acompanha, e para os demais personagens que são afetados por ele no longa. Ou seja, somente alguém do tamanho de De Niro para entregar uma atuação digna dessa forma, e construir uma persona para alguém tão fácil de se ler, mas tão complexo de se mostrar.
William Hale é tudo aquilo que nós detestaremos no longa, alguém que iremos torcer para cair, cair feio quando a hora chegar... e é claro que a vida real segue por caminhos que ás vezes não conseguimos compreender, mas aqui, neste caso cinematográfico, o prazeroso é ver como De Niro vai criando as camadas que transformam William em alguém quase intocável, influente, poderoso, sabe exatamente o que faz, como faz, e como sair de cena quando preciso. Um deleite para o espectador.
O elenco ainda conta com o Oscarizado Brendan Fraser (A Baleia) fazendo o advogado de William Hale , W.S Hamilton, que aparece mais no final do filme, sem tanto destaque, mas trazendo aquela imponência quando declama suas falas, e expressa seus trejeitos.
Temos também o ótimo Jesse Plemons (Breaking Bad) como o agente do FBI, Thomas Bruce White, que chega no ato final do longa, aparecendo em momentos chave para denunciar William Hale, e tentando de todas as maneiras trazer para seu lado Ernest, que reluta muito as investidas do agente White... como é um personagem mais direto, sem muito desenvolvimento, não há muito a fala de Plemons, ele faz o que sabe fazer, aquela atuação mais centrada e descarada ao mesmo tempo, gosto muito dele.
Ainda temos o GRANDE John Lithgow como promotor Leaward.
Outra ponto forte do longa é sua trilha sonora, composta pelo saudoso Robbie Robertson (1943-2023) que tocou na banda de Bob Dylan, teve seus trabalhos solos, indicado várias vezes ao Grammy, e que entregou uma obra primorosa neste longa. A trilha é ótima, se mescla bem ás cenas do longa, composta de uma forma sútil por Robertson, e é quase como se fosse um personagem próprio no longa.
Robbie já está indicado no Critics Awards, no Globo de Ouro e Satelitte Awards por seu trabalho, e com toda certeza será lembrado no Oscar e BAFTA e tem chances enormes de levar os prêmios póstumos, o que seria uma homenagem e tanto a este músico talentosíssimo.
Pessoalmente gostei muito do filme, é incrível como Scorsese faz 3h25 não serem tão longos assim, o filme me envolveu demais, não foi nenhum um pouco enfadonho acompanhá-lo, acredito que terminou na hora certa, dava certos sinais de que estava começando a ase aarrastar um pouco, mas terminou na hora certa.
Diferente de 'O Irlândes', que houve momentos de desgaste, cansaço, difícil entendimento, apesar de ser um ótimo filme, em 'Killers of The Flower Moon' tivemos um tiro certeiro... o espectador não se sentirá perdido, quem gosta de um bom filme terá um ótimo entretenimento em mãos, e a história de desenrola de uma forma muito natural e automática.
Não sou especialista em filmes nem nada, nem estou na melhor das posições para dizer o que é e o que não é bom na arte cinematográfica e no que diz respeito ao trabalho de Scorsese. Mas no meu olhar, na minha experiência nesses anos todos consumindo cinema, e no que considero bom para mim, e não tão bom assim para meu paladar cinematográfico, não considero 'Killers of The Flower Moon' uma obra-prima de Scorsese, mas está ali no seu Top 6... não vou enumerá-lo, mas com certeza está acima da média de sua imensa lista de filmes soberbos.
Temos um final poético demais, um final que com certeza ninguém estava preparado para testemunhar... como se tudo o que acompanhamos em mais de 3h, estivesse sendo contado naquele programa de rádio que foi apresentado no fim do filme. Que coisa perfeita foi essa passagem do Scorsese, ali nos entregando o destino de todos os personagens do longa, e pra encerrar com chave de ouro, o próprio Scorsese faz aquele desfecho em frente ao microfone, em um silêncio sepulcral, perfeito, divino, genial.
Primeiro dos indicados a Melhor Filme das principais premiações que acompanharemos em 2024 que assisto, 'Killers of The Flower Moon' está merecidamente indicado, mas pessoalmente, a princípio, mesmo sem ter conferido os outros, não é o meu preferido para ser premiado. Eu não vou saber explicar, mas falta algo, alguma coisa, não saberei dizer, que o faz ser um dos melhores trabalhos modernos de Scorsese... mas não o principal premiado da noite. Sempre, claro, em minha mais modesta opinião.
Mas posso estar enganado, por que não!
(19/12/2023 - Petra Belas Artes)
Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania
2.8 517 Assista AgoraLembro bem quando anunciaram o terceiro filme do Homem-Formiga, fiquei bem surpreso porque achei que não tinha mais espaço para filme solo do personagem, depois de dois filmes bem medianos. Mas sim, anunciaram o terceiro filme que "fecha" a trilogia.
Lembro bem também, depois de uns meses, quando anunciaram que 'Kang' um dos maiores vilões dos Vingadores seria o vilão do filme, fiquei pensando porque escalariam um vilão tão F%$#@ em um filme que não se espera nada, no começo achei um belo desperdício. Aí veio o anúncio de Jonathan Majors de Lovecraft Country como Kang e também anunciaram que o filme teria o vilão MODOK. Aí comecei a pensar em como este filme teria tudo para ser um grande filme e um potencial real. Isto tudo obem antes de Vingadores A Dinastia Kang e Guerras Secretas serem anunciados.
E Realmente, o filme tem um potencial imenso e poderia ser um ótimo longa finalmente do Homem-Formiga, mas ficou só na promessa.
Muita gente criou hype demais com o filme pelo fato de ter o Kang como vilão, ele que havia sido confirmado como o grande vilão da nova fase do MCU, hype esse criado erroneamente, afinal, boa parte das pessoas que se decepcionaram com o filme podem aceitar a culpa, pois Homem-Formiga nunca entregou um grande filme, e não seria diferente com este, não é um filme-evento nem nada do tipo.
Aliás, quando Jonathan foi anunciado como Kang, não houve nenhum alarde do público comum do MCU, ninguém conhecia o vilão e não deram muita boa, só depois que a fase 5 e 6 foi revelada na SDCC, é que começou o olhar hypado para o terceiro filme de Paull Rudd.
De fato o filme deixa muito a desejar, ele não é horrível e nem ruim, é bom no que se propõe a entregar, traz um certo entretenimento, só que é apenas sem graça, ideias batidas, ideias ruins, piadas que são mau inseridas, erraram bem a mão no roteiro do filme.
Na verdade, o roteiro em si não é ruim, e nem o grande problema, até que foi razoavelmente bem escrito e trabalhado... o problema mesmo são os diálogos, são os piores diálogos que vi em toda a história do MCU. Uma vergonha alheia atrás da outra, sendo que os diálogos de Scott com sua filha são de longe os piores do filme. Não há profundidade nos diálogos, é tudo meio vago, jogado no ar, sem inspiração, mau feito mesmo... péssimo, péssimo.
Primeiro as coisas que funcionaram e depois as que não funcionaram:
Jonathan Majors, que ATOR, ele realmente é muito bom, salvou boa parte do filme, sempre que apareceu dominava as cenas, criou o seu Kang de uma forma muito ameaçadora, tanto na série 'LOKI', como aqui,sendo que neste filme ele dá um tom mais sombrio ao Kang, menos teatral e mais intimidador, que sabe que é poderoso demais, deu para perceber a ameaça, o sentimento de medo e pavor, a imponência que Kang demonstra quando se dirige à outra pessoa/inimigo. Majors, para mim, teve uma atuação ótima, digna, seu Kang é bem ameaçador e gosto muito do tom que ele traz para o personagem... estava bem animado para ver o que ele entregaria no vindouro filme da Dinastia Kang, o que ele poderia entregar como vilão e interpretação em um filme grandioso como este, porém, é uma pena que isso não vá mais acontecer.
Jonathan Majors foi julgado e considerado culpado no caso de agressão e abuso de força contra sua ex-namorada, sendo que sua sentença pode ser de 1 ano de prisão, ou não, e por conta da sentença, a Disney/Marvel resolveu demitir o ator. Não sabemos o que acontecerá com Kang, mas Majors errou feio em responder com agressão e uso de força as investidas hostis de sua então namorada naquela noite, ele estava em um momento de ascenção, tendo ótimos papéis e contratos, e se tivesse agido com um pouco mais de responsabilidade e caráter, teria evitado todo este imbróglio, que pode ter enterrado de vez sua carreira.
Michelle Pfeifer mais uma vez sendo o ponto positivo de um filme do Homem-Formiga, primeiro que ela é uma lenda, uma força da natureza no ato de atuar, e dada sua experiência em Hollywood, ela faz uma atuação muito segura, super interessante, e o roteiro a favoreceu boa parte do filme, até eu fiquei surpreso. E ela foi ganhando até eles segurarem ela no roteiro, quando Kang a faz de prisioneira quando MODOK ataca a nave de Hank no deserto quântico. Ali ela perdeu o destaque que vinha tendo e foi escanteada no roteiro, deixando todo o desfecho e destaque para Paul Rudd no final, quando o roteiro poderia incluí-la também na resolução dos acontecimentos, uma pena essa escolha preguiçosa.
Agora o que não funcionou:
Já dá para começar com MODOK... o que foi essa bizarrice que eles fizeram. Até entendo que dá pra se levar em diante a ideia de pegar o Darren Cross, vilão do primeiro filme, que foi mandado para o Reino Quântico por Scott, ser o MODOK pelo fato de ter sido salvo pelo Kang uma vez que ele foi mandado para lá, eu torceira o nariz no começo na sala dos roteiristas, mas depois até compraria a ideia para criar algo que funcionasse.
Mas o que fizeram foi uma afronta, aquilo nem de longe é o MODOK que esperávamos, sei que não seria o copia e cola dos quadrinhos, pois o MCU não é assim desde o começo, sempre prezaram pelas liberdade criativas, que eu aprovo até, mas aqui passaram demais do ponto, um CGI ridículo e feio, mal feito... olha... esquecível e o ponto mais baixo do filme.
Não entendi escalar um ator tão rico e completo, com o peso que tem, como Bill Murray, eterno Phil do dia da Marmota, para fazê-lo atuar por 3, 4 minutos? Se muito... ele merece muito mais, foi um desperdício escalá-lo e não lhe dar mais destaque, mais tempo, mais espaço no roteiro, e fazer ele falar meia dúzia de coisas nonsenses e outras coisas batidas, para no final ser devorado por um bicho esquisito do reino Quântico... faça-me o favor gente, dá para ser mais criativo.
Kathryn Newton, até hoje não vi nada dela, se não me engane, e se vi eu não lembro mais, e acredito sim que ela seja uma boa atriz, competente, e que entrega coisas boas em outros longas que ela tem lançado no mercado... mas aqui neste filme, acho que ela não vingou. Sua Cassie Lang está bem desconexa e fora de tom com o resto do elenco, e na minha mais modesta opinião, ela não tem química com Paul Rudd, nem com Evangeline Lilly, está uns dois degraus abaixo de todo o elenco, suas falas são bem chatas, a personagem dela não transmite carisma, torci mais pros habitantes guerreiros do reino Quântico do que pra ela.
Não convence como heroína, não curti ela com o traje, tenho mais contato com a Cassie Lang nos quadrinhos como 'Estatura', de sua época nos Jovens Vingadores, onde ela aumentava de tamanho. Seu arco dos tempos mais recentes, baseado no filme, onde ela usa um novo traje, diminui de tamanho igual o pai, e usa outro codinome, eu não li ainda, não conheço e não posso opinar muito... mas realmente não curti a Kathryn e não convenceu, na minha opinião, como heroína. Parece, não pesquisei direito, que foi uma escolha do diretor Peyton Reed, não sei se ele já havia trabalhado com ela, ou ele viu um trabalho e dela e gostou e quis trazê-la pro filme, foi uma coisa assim.
Já Evangeline Lilly foi estranhamente escanteada no roteiro, sequer tem destaque no filme, está bem perdida também, gosto dela desde os tempos de Lost, mas nos últimos tempos se mostrou negacionista e anti-vacina... mas neste filme ela realmente não atua bem, totalmente desconexa, o roteiro também lhe escanteou, em favorecimento de Cassie Lang, bem forçado né, e Evangeline pouco entregou.
Michael Douglas foi bem, como sempre, ele entende o que lhe é exigido no filme, de seu personagem, de sua atuação,muito experiente, um monstro da atuação, acredito que o roteiro foi bem honesto com ele, teria feito o mesmo. Gosto deste Hank Pym dele no MCU.
Gostei muito também de Katy O'Brian, como Jentorra, achei a atriz bem competente, profissional, esforçada, fez um bom trabalho e sua personagem par mim é mais carismática que a de Kathryn Newton. Fora ela, temos a volta de David Dastmalchian, desta vez dando a voz ao personagem 'Veb', obcecado por buracos (vai entender), e também Randall Park que aparece em uma breve e rápida cena como Jimmy Woo tomando um drink com Scott Lang.
O fato do filme se passar boa parte em cromaqui, no fundo verde, com quase nada de cenas externas, não me incomoda, se você vai fazer com que o filme se passe lá no Reino Quântico, no mínimo se espera que usem muito CGI mesmo... mas confesso que boa parte ali do Reino Quântico, as partes que não foram ali na cidadela de Kang, poderiam ter sido filmado externamente, e sido mesclado com CGI, mas é como eu disse, no final não me incomodou e o resultado até que foi satisfatório.
A trilha sonora não é nada demais, está bem até, bem composta, compõe bem o filme, gosto do que foi composto para os créditos finais do longa. Composto por Christophe Beck, ele entregou algo quase que nos mesmos moldes de 'Homem-Formiga e a Vespa', o segundo filme, com alguns novos elementos aqui, mas acho seu trabalho em 'Free Guy' e em 'Gavião Arqueiro' levemente superior que este aqui.
'Homem-Formiga e a Vespa Quantumania' não é um filme ruim, longe disso, na minha opinião, e minha experiência de espectador, é o melhor dos três filmes, não tinha hype nenhum para ver algo grandioso, acima da média, que surpreendesse e tal... é o Homem-Formiga gente, não vai ser apresentado nada de mais do que já foi mostrado nos dois filmes anteriores, é apenas entretenimento básico, é o Paul Rudd que está ali, não será nada nos moldes de Capitão América, ou Loki, que possuem peso, carga dramática, um 'Q' de grandiosidade... mesmo tendo o principal (ex) vilão da nova fase do MCU, seria um filme mais do mesmo, afinal, era novamente Peyton Reed na direção, entregando seu trabalho arroz com feijão fritas e bife para o público, jogando na segurança, debaixo das asas de Kevin Feige.
Enfim, tem muita gente que se deixa levar pela emoção e acha que é fã dos filmes da Marvel e antes eles só acertavam e agora está numa decadência e tal... mas grande parte dessas pessoas aí não é apreciador dos longas da Marvel, apenas acompanha porque hoje em dia todo mundo assiste e ele não vai ficar de fora, porque é o blockbuster do momento e vai acabar conferido por ser hype, pra poder participar das rodinhas de conversa, mesmo sem sequer ter o menor conhecimento sobre o que está falando... aí cria-se hypes que não existem e fica preso em um círculo vicioso onde tudo que a Marrvel Studios faz hoje em dia é ruim... mas lá no começo, Thor 1 e 2 eram fraquíssimos, Vingadores Era de Ultron tem muitos erros, o primeiro Homem-Formiga é bem genericão, e Homem de Ferro 3 é uma bomba gigante, ruim de doer com força. Coerência ás vezes passa longe!
Dito isto, o filme não é ruim, mas é beeeeem sem sal, tinha muito potencial, mas foi mau conduzido pelo seu limitado diretor Peyton Reed e seu roteirista Jeff Loveness que poderia ter lapidado mais sua história.
Pena!!!
22/02/2023 - (Cine Marquise)
Revisto 18/12/2023 - (Disney Plus)
Close
4.2 490 Assista AgoraNa temporada de premiações de 2023, 'Close', que é um filme Belga, recebeu uma chuva de indicações, indicado a Melhor Filme Estrangeiro em praticamente todas as premiações de destaque... no Oscar, No Globo de Ouro, no Satelitte Awards, Cesar Awards, Critics Choice Awards, British Independent Awards.
Sucesso e reconhecimento absoluto, também foi destaque no Grand Prix e na Palma de Ouro, e sendo o grande vencedor do Festival de Veneza, consolidando o filme como um dos principais longas estrangeiros do ano de 2023.
'Close' é dirigido e roteirizado por Lukas Dhont, com assistência de Angelo Tijssens, e traz um retrato de dois garotos que possuem uma linda e forte amizade, inseparáveis, como se as duas famílias fossem uma só, dada a proximidade e amizade dos dois garotos, que sofre uma grande mudança, quando eles começam a frequentar a escola no novo ano letivo.
O filme aborda como o preconceito enraizado na sociedade desde a infância, pode ser prejudicial para pessoas que ainda estão se conhecendo, seja sexualmente, seja em relacionamentos afetivos (amigos[a] ou namorados[a]), e como isso pode afetar emocionalmente a pessoa que ainda está tentando se descobrir no mundo e na sociedade em que se pertence.
Claramente o filme de Lukas Dhont deixa claro que a amizade de Leo e Rémi, além de ser muito forte, também vai muito além do que é encontrado nas amizades por aí a fora. E uma das coisas bacanas, é que ele brinca com esse relacionamento que os dois amigos têm... é uma mescla de cenas e falas, que não deixam 100% claro se Leo pode ser um garoto gay. Já com Rémi fica bem nítido que ele sim pode estar se descobrindo homossexual, apesar de isso não ficar implícito em tela. Lukas Dhont trabalhou isso de uma forma muito boa, ele deixa essa certeza no ar, sem apelar para cenas mais explicativas, ou seja, temos muitas cenas onde eles estão em casa e têm o costume de dormir a tarde a na mesma cama, confessar segredos e sonhos, mas são cenas muito singelas, normais, nada que defina algo.
Mas basicamente, o filme trata mesmo de amizade, sincera, bonita, verdadeira, que acaba se quebrando quando o preconceito existente na sociedade mundo afora, os atinge de uma forma menos hostil, com Leo se incomodando muito mais que Rémi, que não demonstra nenhum incômodo com falas, ou brincadeiras das outras crianças/adolescentes.
Grande parte do mérito do filme está na direção de Lukas Dhont, que é belíssima, singela, de uma delicadeza absurda, focando na reação dos dois garotos que aos poucos começam a se distanciar e perder aquela forte e sincera amizade que possuíam, e mostrado no começo do filme.
Também entra no mérito as ótimas e perfeitas atuações de Eden Dambrine (Leo) e Gustav De Waele (Rémi), os garotos que debutaram neste filme, e já entregaram essas atuações tão bonitas e fortes, verdadeiras, como se eles não existissem, o que existe ali é Leo e Rémi.
Eden foi contratado pelo diretor Lukas Dhont depois de conhecê-lo em uma viagem de trem, olhem só, e Lukas foi certeiro na escolha de seus dois atores mirins para protagonizar seu filme, e levar as emoções que ele queria passar para o público... e seus dois protagonistas seguraram muito bem a bronca para um primeiro trabalho nas telonas, mérito total dos dois meninos.
Outro ator que destaco também é Émilie Duquenne, que faz Sophie, mãe de Rémi, e que tem uma atuação dramática incrível, principalmente nas cenas em que contracena com Leo mais próximo do fim do filme. Ela esteve ótima durante todo o filme, e sua carga dramática só cresce a cada acontecimento passado no longa.
Abaixo, Spoilers fortes do longa, abra por conta e risco:
O filme não deixa claro como Rémi se suicida, e não determina um porquê... para Leo, é certeza que foi pelo fato de o afastar, de deixar de ser seu amigo mais próximo. Agora os motivos que levaram Rémi a cometer tal ato, podem ser mais complexos até, pois pelo fato de deixar de comer, se trancar muito tempo no banheiro, não querer conversar com a mãe, não conseguir uma verbalização mais aberta com Leo para entender o porque de não passarem mais tanto tempo juntos, são claros sinais de uma criança que já podia estar desenvolvendo depressão, ou já ter nascido com a doença.
O longa possui uma cinematografia ótima, linda, muito bem enquadrada e fotografada, trabalho incrível de Frank Van den Eeden. E também possui uma cenografia muito bem construída.
'Close' é um filme riquíssimo em um tema tão delicado que é o início da descoberta da sexualidade em crianças se tornando adolescentes, e da possível descoberta e confusão de ser LGBTQIAP+ ou de negar e/ou não saber se pode ser. A forma como você lida com estas questões quando outras pessoas passam a zombar de você, a te excluir do seu grupo de convívio, a de não te aceitar por ser diferente, e em como você pode negar o que pode ser, ou atestar para si mesmo de fato que não é, mas não saber lidar com amizades mais íntimas com pessoas do mesmo sexo.
Um filme lindíssimo que além de ter sido muito bem escrito, foi muito bem transplantado para a tela por Lukas Dhont, que trouxe um elenco afiadíssimo escolhido a dedo.
'Close' perdeu em todas as categorias que disputou para Filme Estrangeiro... perdeu o Oscar para o ótimo 'Nada de Novo no Front', perdeu o Globo de Ouro e o Satelitte Awards para o sensacional 'Argentina, 1985' e o Critics Choice Awards para a obra-prima 'RRR'. Além de perder o Satelitte Awards de Roteiro Original para 'Os Banshees de Inisherin'.
15/12/2023 - (Youtube Filmes)
Meu Pai
4.4 1,2K Assista AgoraEu lembro que 'The Father' era um dos filmes que eu mais estava ansioso para ver na época de premiação de 2021, o problema era a data de estreia aqui no Brasil, 8 de Abril, beeeem depois do Oscar, do BAFTA, das outras premiações. Ficou aquela agonia, e eu ia postergando, postergando, pagando outros filmes...
Aconteceu de eu assisti-lo online mesmo horas antes da premiação do Oscar, finalmente, e até aquele momento, eu entendia que o prêmio de Melhor Ator iria para Chadwick Boseman, não só pelo merecimento, da atuação no filme 'A Voz Suprema do Blues', do conjunto da obra de tudo de excelente que ele fez, um excelente momento para o Oscar dele, mesmo que póstumo, e principalmente pelo fato de anunciarem que naquele ano, o prêmio de Melhor Filme seria o penúltimo da noite, com o de Melhor Ator fechando a noite... tava na cara que o prêmio iria para Chadwick pelo seu Oscar póstumo e seria uma baita homenagem ao Ator e seria muito emocionante.
Eu mesmo torcia pela vitória de Chadwick, achei sua atuação mais que perfeita, e me surpreendi quando Anthony Hopkins levou o BAFTA, e após assistir 'The Father', horas antes do Oscar, aí entendi porque ele foi o escolhido do BAFTA, e passei a considerá-lo a escolha certa para o prêmio, e fiquei feliz quando ele venceu até... contabilizando mais uma Gafe para a história da 'Acadimia'.
Bom...
'The Father' é dirigido e Roteirizado por Florian Zeller, junto a Christopher Hampton, baseado na peça de teatro de mesmo concebido por Zeller.
Trata de Anthony (Hopkins) que se muda para a casa da filha Anne (Olivia Colman), porém não se lembra, acredita que o apartamento é seu, claramente sofrendo de demência, tendo lapsos onde se nega a achar que está delirando e que não tem nada de errado com ele, e reconhecendo que está doente, que não se lembra das coisas.
Um filme GENIAL, um trabalho primoroso de roteiro, e de interpretações, biscoito finíssimo da sétima arte, são apenas 1h37 de filme que te prende do início ao fim sem deixar você piscar, transporta você para uma outra realidade, nada que acontece ao seu redor te interessa a não ser o que está acontecendo na sua tela.
Será que eu posso considerar o melhor trabalho da carreira de Zeller? Não posso afirmar com certeza, mas que este é um dos seus melhores filmes, e um dos melhores desta década de 2020, com certeza este filme é.
A forma como Zeller filmou, como se estivéssemos mesmo em uma peça de teatro ao vivo, a forma como ele enquadrava os dois atores que se digladiavam em concordância e discordância, independente de serem os dois protagonistas, de como consegue captar e trazer à tona todas emoções e reações que Anthony Hopkins poderia entregar ao seu personagem... é absurdo o que Zeller realizou aqui, um divertido jogo de gato e rato onde tentamos cravar o que está acontecendo de fato, onde Anthony está delirando e onde ele está se confundindo, ao mesmo tempo que ele tenta nos enganar, com sua pseudo lucidez, bagunçando ainda mais a linha do tempo, quem ele conhece e quem de fato ele não conhece... Lucy, quem parecia com quem no final? Catherine parecia com Lucy? Lucy é quem parecia com Catherine?
Uma trilha sonora composta por Ludovico Einaudi, com músicas do próprio, além de Federico Mecozzi e Redi Hasa, que enriqueciam muito as passagens do longa, as angústias de Anthony, as tristezas de Anne, o sentimento de culpa de Paul... trilha lindíssima e de primeiríssima qualidade.
A edição também, decente e certeira, méritos de Yorgos Lamprinos que deixou o filme no capricho para o espectador poder se deleita. Existem muitos filmes bons, acima da média, que carecem de uma edição fidedigna para o espectador abraçar e se entregar aquele mundo que está acompanhando, que enriquecerá a experiência. Muito contente em ver que os profissionais envolvidos em 'The Father' são de extrema qualidade.
E falando em profissionais, temos o elenco que não errou em nada, absolutamente nada:
Olivia Colman, a grande rainha da sétima arte, artista com zero defeitos, e 1000 em qualidade, mais uma vez entrega o supra sumo da atuação. Uma verdadeira monstra em cena como Anne. O que essa mulher entregou de drama, de decepção, de culpa, de tristeza, de humanidade... fora de série, Olivia só crescia o filme inteiro, não tinha uma cena que ela não vencia com Anthony Hopkins em cena, era gol atrás de gol, muitas camadas dramáticas em cenas conjuntas e sucessivas... Não à toa foi indicada naquela temporada de premiações ao Oscar, ao Critics Choice Awards, Satelitte Awards, Globo de Ouro, SAG's Awards.
As talentosíssimas Imogen Poots (Natal sangrento) e Olivia Williams (O Sexto Sentido) abrilhantaram ainda mais com suas atuações para Laura e Catherine respectivamente, gostei demais das duas.
Porém, foi Anthony Hopkins quem realmente deu as cartas aqui... fica até meio sem sentido dizer que este pode ter sido o melhor trabalho de sua carreira, porque ele entregou o mesmo nível em tantos filmes de sua carreira... mas este em peculiar tem este tema que é tão condizente com a sua pessoa atual, a velhice, o estado em que o corpo está apto, mas a mente não, e dentro desta premissa, da idade, da rabugentice, da experiência, da dor, da saudade, Anthony Hopkins "pode", ênfase no aspas, ter entregue seu melhor trabalho na carreira.
Nunca vi uma força da natureza dessa forma, quanta maestria para atuar, para dar luz e vida a um personagem tão forte e impactante, que tanto tem a mostrar e aprender ao espectador, traz carisma e repulsa amalgamados, e tem essa perda de ator e personagem, tão logo você já não consegue distinguir um do outro. Por isso o Oscar e o BAFTA esteve em ótimas mãos, porque realmente, aquele não foi de Anthony Hopkins, um dos melhores atores de toda uma geração... que nunca entregou menos, nem quando os filmes eram ruins ou bem abaixo, como 'Thor 1' ou 'A Lenda de Bewoulf', ou até mesmo 'Dragão Vermelho', 'O Grinch', enfim... sempre entregou lá encima, nunca lá embaixo, nunca mediano.
Em termos de prêmios, Olivia Colman não levou nada a que foi indicado mais acima, porém 'The Father' levou dois prêmios de Melhor Filme no Goya por Filme Estrangeiro e no César Awards de Filme Europeu...
Ainda levou o Satelitte Awards, o Oscar, o BAFTA e o British Independent Awards de Roteiro Adaptado, além de Melhor edição no mesmo British Independent Awards para Yorgos Lamprinos.
Já o grande Anthony Hopkins levou o Oscar, BAFTA e o British Independent Awards, de Melhor Ator, óbvio, muito merecido.
Muito gratificante, com essa idade, Anthony Hopkins ainda atuar, em grande estilo diga-se de passagem, e escolhendo bem os filmes em que quer atuar, já com seus 85 anos.
E Florian Zeller, é um cara que sabe o que faz, e do seu jeito, sem enganar o público, e dentro dos seus termos. É primoroso demais e visionário quando se trata de contos a serem explorados e apresentados, e claro, já virei fã e sempre estarei de olho nos trabalhos do francês.
(Assistido 25/04/2021 - Online)
(Reassistido 11/12/2023 - Netflix)
A Mulher Rei
4.1 486 Assista AgoraPrimeiro eu vou falar sobre o filme, depois vou comentar sobre a esnobada e a injustiça que ele sofreu.
Nunca havia assistido nada de Gina Prince-Bythewood, a diretora do filme, a não ser os episódios que ela dirigiu para a série Manto e Adaga da Marvel, que eu nem me recordava que era ela, pois eu ainda não a conhecia.
Gina conseguiu entregar 'um dos' melhores filmes do ano de 2022, uma direção espetacular, uma edição louvável e astuta, e uma história arrebatadora e envolvente com um elenco que, além de competente, é muito carismático.
'A Mulher Rei' trata do reino de Daomé, que existiu onde hoje é o atual país de Benin, entre os anos 1600 e 1900, que era protegido pelo seu grupo de guerreiras, as Agojie, que protegiam também, o seu rei, Ghezo. Eles travavam uma batalha feroz contra o povo Oyo, e outros, que buscavam escravizar seu povo, ajudados também pelos colonizadores franceses e portugueses.
Nanisca (Viola Davis) é a líder das Agojie, e aspira ser a futura 'Mulher Rei', ela é uma líder e guerreira implacável, sanguinolenta e que preza por não cometer erros.
O filme mostra esse embate entre os Agojie e seus inimigos, ao mesmo tempo que o Rei Ghezo começa a ter problemas com seu negociante de escravos brasileiro mais próximo, uma vez que ele deseja parar de negociar seu povo como escravos e passar a produzir e negociar Óleo de Palma. No meio de tudo isto, Nanisca e as demais Agojie começam a treinar jovens meninas para se tornarem futuras Agojies, e uma delas possui uma ligação muito forte com Nanisca, e isto resultará em um resultado definitivo na guerra que se impõe na tribo.
'A Mulher Rei' não é só um filme perfeito e forte ao mesmo tempo, não é só muito bem dirigido e produzido, não tem só uma história bem escrita, bem amarrada, que prende a atenção do espectador sem insultar sua inteligência, e sem lhe deixar perdido... ele também é um ótimo filme de ação, que não fica por baixo de nenhum filme da Marvel Studios, ou da DC, ou da franquia 007, ou de qualquer blockbuster famoso desse gênero. Ele tem muitas camadas que trazem os personagens para próximo do público, desenvolve bem suas personalidades, seus medos e esperanças, suas motivações e inseguranças e o mais importante, nos faz nos importarmos com eles, seu povo, sua luta, e seu sucesso. O quão incrível é você encontrar isto em um filme hoje em dia.
Gina acertou em cheio na direção, teve entendimento completo da história que tinha em mãos, da sua visão do que queria apresentar deste fato histórico, da importância em focar na tribo, no mito, e em como elas queriam atingir seu objetivo, sem deixar de entregar um ótimo entretenimento, com boas cenas de luta e ação, tirando atuações poderosas de seu recheado elenco.
Viola Davis, a protagonista do longa, foi uma força da natureza neste filme, até chego a arriscar, sem conhecimento, pois não assisti todos os seus filmes, que este foi o melhor papel dela até então (!!?). Viola teve uma atuação que, ao mesmo tempo que entrega uma verocidade sem igual para sua personagem, suaviza nas cenas mais densas, que baixam mais a guarda de Nanisca, que mostra que antes de ser uma líder implacável e uma guerreira, ela é uma mulher comum com inseguranças e cicatrizes como qualquer outra. Isso faz com que o público se identifique e caia nas graças da personagem muito fácil, e ela traz de seus trabalhos anteriores a experiência para equilibrar essas nuances que Nanisca possui nas muitas cenas de destaque e revelações que a personagem tem durante o longa. Uma atuação digna de premiação (sic).
John Boyega (da franquia Star Wars) faz o Rei Ghezo e também esteve ótimo no longa, não teve lá tantas cenas, a maioria foi sempre no mesmo tom, era aquele típico rei mais clichê, dos filmes de época, mas a imponência que ele impunha a seu personagem faz com que ele cresça nas cenas onde é exigido pelo roteiro. Eu gostei muito do que ele entregou.
Ainda tivemos duas atrizes que gosto muito e considero as mais competentes de sua geração... Lashana Lynch e Thuso Mbedu.
Lynch fez Izogie, mais uma guerreira Agojie implacável, que rivalizaria com as Dora Milaje facilmente (na verdade, um pouco da cultura apresentada ao longo dos anos de Pantera Negra bebe daqui, assim como algumas coisas deste filme bebe do longa do personagem da Marvel). Lynch que conheci no filme da Capitã Marvel, entrega aqui uma performance inspirada, de muita sagacidade nas cenas de ação, e um ar de mentora quando está em cena com as meninas, especialmente Nawi. Lashana Lynch levou o prêmio EE Rising Star no BAFTA, estrela ascendente, mais do que merecido, pois ela é uma atriz completíssima
Já Thuso Mbedu, que fez Nawi, é uma das melhores atrizes jovens desta geração, sua atuação na série limitada 'The Underground Railroad' é memorável, de uma inteligência, que prende a atenção do espectador. Já ali ela mostrou a que veio, o talento que tem e o quanto ela pode ir longe na carreira. Neste filme, sua atuação não é assim nada demais, vocês podem reparar que é algo que geralmente vocês encontraram em filmes diversos por aí a fora, de personagens que começam em rota de colisão com seus mentores, e depois acabam se desenvolvendo com os acontecimentos. Mas as nuances de sua interpretação, a forma como ela constrói sua Nawi, com hostilidade, misturada com destreza e insegurança, tudo ao mesmo tempo, entendendo a personagem e o que lhe é exigida no longa, só mostra o quão talentosa ela é. Já sou fã de carteirinha dela.
Outra atriz que destaco é a ótima Sheila Atim, que fez Amenza, eu a vi primeiro em Doutor Estranho no Multiverso Da Loucura, e aqui pude acompanhar mais da sua forma de atuar, e aqui ela tem mais tempo de tela, e muito mais para brincar com a personagem. Foi muito talentosa nas cenas de luta e competente nas demais cenas,principalmente quando estava atuando com Viola.
A cenografia é ótima, muito bem detalhada, principalmetne nas cenas que se passam dentro do reino de Daomé, tanto nos aposentos de Rei Ghezo, como dentro dos portões onde só era permitido mulheres. A edição do filme é de longe o ponto forte do filme, não tem uma cena de luta onde você fique perdido e não saiba o que está acontecendo e para onde o personagem irá atacar, e quem irá atacar. Tudo muito bem coreografado e editado na sala de edição.
A trilha sonora também preenche bem as passagens do longa e complementa os sentimentos dos personagens em questão, um ótimo trabalho entregue por Terence Blanchard, que trabalhou em filmes como 'Destacamento Blood' e 'Uma Noite em Miami'.
Agora, antes de falar das indicações e prêmios do longa, vou citar a grande esnobada que os membros da Academia do Oscar deram ao longa, ao não nomeá-lo em nenhuma indicação.
No começo do ano vazou que alguns membros votantes, não sei quantos, comentaram com outros membros que não tinham a obrigação de assistir filmes como 'A Mulher Rei' e 'Till - Em busca de Justiça', praticamente dando mais ênfase nos filmes mais badalados e de profissionais de prestígios, do que reconhecer trabalhos que foram acima da média ou perfeitos da temporada, como este filme, como a atuação de Danielle Deadwyler em 'Till'. Obviamente pelo fato de serem filmes protagonizados e produzidos por Pretos, que tratam de assuntos que condizem aos pretos, seja social, seja histórico, ou de algo que condene algum ato hediondo branco que ocorreu e foi trazido as telas, como 'Till'.
O quão ridículo é você não reconhecer o ótimo trabalho entregue pela produção de 'A Mulher Rei' ou a incrível e forte atuação de Danielle Deadwyler em 'Till', somente porque não se quer alimentar o protagonismo e crescimento de pessoas pretas na indústria cinematográfica... o trabalho apresentado e entregue tem que falar mais alto do que a cisma ou a birra de algum membro mal intencionado, ou de costumes antigos que não mais correspondem com os dias atuais. Um dos melhores trabalhos da carreira de Gina Prince-Bythewood, e é completamente esnobada pelo que, por ser preta, ou pelo filme representar brancos como vilões e pretos como vítimas?
E Viola Davis e Danielle Deadwyler? Porque foram completamente esnobadas pela Academia e lembradas em outra premiações, inclusive pelo BAFTA, que reconheceu e muito 'A Mulher Rei', um filme norte americano, numa premiação britânica? Eu acho uma tremenda vergonha. Deadwyler foi esnobada porque o filme mostra como os Brancos americanos foram/são cruéis com o povo Preto e incomoda ver uma história assim nas telas de cinema, então é melhor varrer pra debaixo do tapete?
Já Viola, qual foi o critério usado? Não vivem, erroneamente dizendo, que ela é a Meryl Streep Preta? Essas histórias não merecem ser contadas, ganhar a luz, preencher as salas?
Gosto muito de acompanhar premiações, mas de todas, o Oscar é o que menos tem relevância comigo, por essas e muitas outras incoerências e erros que não são consertados. Por exemplo, o 'Oscars So White' de nada adiantou pelo visto... Michelle Williams só foi indicada pelo prestígio em Hollywood a Melhor Atriz, Ana de armas apenas para dar um pequeno afago ao horroroso 'Blondie', Andrea Riseborough muito provavelmente foi aquele tapinha nas costas de contatos certos, 'meus amigos de Hollywood'. Levo mais em conta premiações como o HCA (Hollywood Critics Association) muito mais coerente, muito mais categorias, Melhor Terror, Melhor Trailer, entre outros, BAFTA que é o meu preferido (e que também tem suas incoerências, como no ano que indicou duas vezes a Margot Robbie), o Critics Choice Awards que me agrada, e o Spirit Awards que é uma premiação de filmes independentes.
'A Mulher Rei' foi indicada no Globo de Ouro para Atriz Drama, pela performance de Viola Davis;
No Satelitte Awards para Edição, Som, Figurino, Trilha Sonora e Atriz Drama para Viola;
No Critics Awards para Elenco, Diretor para Gina Prince Bythewood, Figurino e Viola em Atriz.
No BAFTA para Viola Davis e Gina Bythewood em Atriz e Diretor;
No SAG's para Elenco e Atriz para Viola Davis;
No Oscar? NADA.
Venceu o American Film Institute de Melhor Filme do Ano.
Eu pensei muito se dava cinco estrelas, ou seja, considerá-lo uma obra-prima... cheguei a conclusão de que é sim uma obra-prima moderna, claro que muita gente não irá pensar do mesmo modo, mas em minha visão, o filme é perfeito, e é cinema em sua mais pura essência... entretém, diverte, ensina, educa e faz o espectador esquecer sua realidade e durante duas horas é transportado para um outro mundo que lhe enriquecerá em experiência. Isso pra mim é Cinema, grandes histórias, grandes filmes.
(10/12/2022 - HBO MAX)
Luta pela Fé: A História do Padre Stu
3.6 59Existem alguns filmes que estão no meu radar para assistir, mas eu enrolo demais, demais da conta pelo simples fato de achar que eles não vão ser tão bons assim, e aí vou postergando. Esse é um erro mais do que comum que cometo ao longo dos anos, e 'Padre Stu' entra neste quesito. Enrolei tanto para vê-lo achando que ia ser um filme mais ou menos, e no final, como sempre acontece, me surpreendi positivamente assistindo um filme muito bom.
Dirigido e roteirizado por Rosalind Ross, que tem apenas 33 anos, 'Padre Stu' traz a história real de um ex-boxeador, Stuart Long, que nada mais é do que um canastrão canalhão, que deixa a vida de boxeador para tentar ser ator de Hollywood, porém conhece uma mulher, que é cristã, e começa a frequnetar a igreja somente para tentar fisgá-la para si e para cama. Ao sofrer um acidente grave de moto, e retornar do coma, ele percebe que tem um propósito maior, e então decide ser Padre.
Ao mesmo tempo que é um filme cristão, ele tem sua identidade própria, ora pende pro cristianismo, ora caminha com as próprias pernas, sem se prender a este tema. Essa nuance bacana do filme que não o deixa 'chato' demais para quem não é cristão, nem deixa de conversar com quem é.
Stuart Long tem uma história muito interessante e bonita de um certo ponto de vista, e este filme pode despertar a fé em pessoas que não são tão ligadas em religião. Ele toca em pontos e tem algumas falas, que vão atingir o espectador e despertar a fé que existem dentro deles, e os farão se questionar sobre diversos pontos e assuntos.
Rosalind dirige muito bem, eu gostei demais da forma como ela dirigiu os atores, em como ela foca no personagem, mesmo que seja um coadjuvante, ela o traz para dentro do foco, quando ele está no centro da câmera, dando-lhe um ar de protagonista, dando-lhe a importância que ele tem para os acontecimentos e para quem está assistindo. Gostei muito de como ela fez alguns takes específicos, pegando um ângulo de um retrovisor de automóvel, alguns detalhes da doença do Padre Stuart, em como ela traz a gente para sua deficiência em certos takes, também em como ela dá uma atenção diferente a Mel Gibson, que faz o pai de Stuart, como ela o filma de uma forma que ele tenha uma certa onipotência, sem deixar de registrar suas falhas como Pai e Marido.
Essa mulher -e ainda muito jovem, e faz um trabalho tão decente, tão rico, tão completo... ela realmente é muito boa, e tem bastante futuro, se pegar os trabalhos certos. Vou ficar de olho em futuros trabalhos dela.
O longa é protagonizado por Mark Wahlberg, que faz o Padre Stuart, e Mark atua muitíssimo bem, e é claro que no começo, pela personalidade canastrona de Stuart Long, quando boxeador, você não verá nada demais na atuação de Wahlberg, que você já não tenha visto em filmes com ele, que não exigiam demais de sua atuação. è uma atuação mais caricata e despretensiosa, porém, conforme o filme avança e Stuart vai evoluindo, a atuação de Wahlberg atinge uma crescente que não para, não para, e mesmo quando o filme está em seu final, você só o vê elevando mais o seu trabalho. É surreal o que Mark Wahlberg faz neste filme, ainda mais ele que se tornou uma pessoa muito católica com o passar dos anos, se entregou demais no papel deste filme, que com certeza o influenciou demais a história e a fé de Stuart Long. Acredito que um dos melhores filme que já vi Wahlberg atuando.
Mel Gibson (eterno Mad Max) faz o pai de Stuart, Bill Long, e coincidentemente foi escalado para o longa por ser marido da diretora Rosalind Ross, os dois estão juntos desde 2014 e possuem um filho, e ela pôde dirigir seu marido neste seu primeiro filho, e o fez de uma forma ótima. Gibson está muito bem no papel, traz toda aquela experiência e bagagem de filmes fortes que ele já protagonizou, faz um pai durão, problemático, errático, que no fundo ama demais o filho mas não demonstra e vai se desconstruindo conforme os acontecimentos vão se desenrolando.
No elenco ainda temos a talentosíssima Jacki Weaver (de As Viúvas) fazendo a mãe de Stuart, Kathleen Long, além do já eternizado Malcolm McDowell (Alex de Laranja Mecânica) fazendo o Monsignor da Igreja onde Stuart atua.
Teresa Ruiz faz Carmem, a cristã por quem Stuart tem uma queda/se apaixona, e por mais que seu papel seja mais simples e pouco lhe é exigida em tela, por ter poucas camadas para se aprofundar, Teresa está muito bem em cena, gosto da doçura na atuação dela, na leveza do olhar, em como ela se deixa levar pela personagem. Ela é mais conhecida pela série Narcos, e além de ser uma mulher lindíssima, ela tem um talento sem igual apara a atuação.
O filme possui uma trilha sonora bem competente, que cresce nos momentos certos e compõe bem as passagens mas tocantes e emocionantes do fllme, sendo composta por Dickon Hinchiffe, que trabalho na composição do filme 'A Filha Perdida' da Netflix.
É bem editado, bem cenografado e tem ótimos figurinos cristãos.
Recebeu 1 indicação no Satelitte Awards na categoria de Melhor Ator em Filme Drama para Mark Wahlberg, que perdeu para Brendan Fraser por 'A Baleia'. Indicação esta que achei justíssima e realmente uma pena não ter sido lembrado em outras premiações como Globo de Ouro ou o Hollywood Critics Awards.
Vale muito a pena conferir o filme, possui uma história de superação, fé e amor a si próprio e aos outros, excedeu muito minhas baixas expectativas e foi um ótimo filme de estreia para Rosalind Ross, que deveria ter tido mais destaque na época em que foi lançado, mas ao que parece teve poucas salas disponíveis no cinema e pouco marketing também.
(07/12/2023 - Amazon Prime)
Pantera Negra: Wakanda Para Sempre
3.5 799 Assista AgoraQuantos atores já ficaram imortalizados pelos personagens que interpretou?
Sly será sempre lembrado por Rocky e Rambo, Scharzenegger por Terminator, Michael Keaton por Batman, Timothy Dalton por James Bond, Tom Cruise por Ethan Hunt e por aí vai...
Chadwick Boseman entra para esta seleta lista como T'challa, o Pantera Negra, personagem que sempre foi do quarto escalão da Marvel, terceiro por uns tempos, e que virou o titular absoluto da Editora/Empresa/Estúdio desde que o primeiro filme dirigido e roteirizado por Ryan Coogler chegou aos cinemas em 2018.
Tarefa deveras difícil fazer uma continuação onde o ator do personagem que leva o nome do filme, faleceu de forma tão abrupta, comovendo todo o planeta e colegas de profissão, e entregar um filme que convença, agrade os fãs, chame a atenção de um público novo e faça jus ao que foi feito antes, sem o peso de seu protagonista.
A forma que Coogler achou para o filme caminhar de uma forma coerente e natural foi se apoiando no elenco que ajudou o filme a se tornar parte da cultura pop mundial... toda Wakanda seria protagonista neste novo filme, claro como um pé em Letitia Wright, escolhida para ser a nova Pantera Negra.
Seria um passo natural colocar Shuri como a nova Pantera, uma vez que isso aconteceu nos quadrinhos, meio difícil você ir contra a principal premissa, o caminho mais óbvio. O fato é que Letitia de uma forma abrangente, não me convenceu muito como protagonista... mas vejam bem, não como Pantera, não que ela tenha sido uma Pantera Negra F%$#@, matou a pau, manteve o legado de Chadwick e tal, ela foi ok como Pantera, não tenha nada de contra nem muito a favor para comentar... mas como protagonista do filme, na minha opinião, ela teve uma atuação 50/50.
Letitia teve um início muito demorado, não pelo luto, mas por sua personagem ainda estar meio perdida em que rumo seguir, o roteiro não sabia como pavimentar seu caminho até ela assumir o manto do Pantera, e a mesma estava um tanto quanto perdida em sua atuação, um tanto quanto carregada demais, mesmo sendo emotiva na medida certa, por todo o lance com Chadwick. Não achava que ela estava segurando o protagonismo de um filme tão esperado pelo público, e na verdade nunca acreditei que ela teria esse peso todo para ser o ator principal do longa... a partir do momento que ela toma a Erva Coração, o roteiro começa a acertar com a personagem e junto a isso Letitia também começa a crescer em protagonismo e sua participação no filme melhora muito. Não chega a ser perfeita como um todo, mas se seguir essa linha da reta final do filme, Letitia pode vir a ser uma boa protagonista em um possível futuro longa.
O restante do elenco complementa muito bem o filme como sempre, Winston Duke, que está ótimo como M'Baku, Michaela Coel como Aneka, Mabel Cadena como Namora, ela esteve ótima e merecia mais destaque, Alex Livinalli outro que esteve ótimo como Attuma e merecia mais destaque, e o mesmo vale para Florence Kasumba, como Ayo, que aqui teve quase zero destaque, vacilaram com ela, quem assistiu 'Falcão e o Soldado Invernal' sabe como ela é boa atriz e entrega bem.
Danai Gurira dispensa comentários, além de eu ser fã, ela nasceu para ser ator, que mulher sensacional, e aqui novamente dá um banho de interpretação durante todo o filme. Além dela, a lindíssima e competente Lupita Nyong'o como Nakia, quando aparece em cena também dá um show de interpretação e carisma, gosto muito dela e de sua personagem, que sim merecia também mais destaque dentro de Wakanda.
A eterna 'Old Christine' Julia Louis-Dreyfus que volta como Valentina Allegra de Fontaine e o já carimbado Martin Freeman como Everett Ross, formam um casal (forçado? não consigo opinar) e tem seu pequeno momento de tela, mas neste filme os dois ficaram meio que relegados, se eles não estivessem no roteiro, não iriam mudar em nada o andamento da história, acredito que tiveram dificuldade em encaixar os dois no roteiro do longa, e fica a impressão que estão lá mais por ser um ótimo easter egg para os fãs mais ardorosos, como eu, do que ser uma parte do filme que faz o roteiro caminhar e os acontecimentos se desenvolverem. Para se ter uma ideia, os acontecimentos do começo do filme, quando os 'atlantes' atacam o navio americano, temos dois personagens interpretados por Robert John Burke e Lake Bell (a voz de Viúva Negra de What If?) que tem mais importância para os acontecimentos do filme e estão bem ais bem inseridos que La Fontaine e Everett Ross.
Agora o destaque mesmo do filme são dois atores, Tenoch Huerta, ator mexicano que faz Namor, o Príncipe Submarino, que agigantou demais o personagem nas telas, com o mesmo tom arrogante que o personagem tem nos quadrinhos, a mesma postura onipotente, uma presença de tela incrível, dominou o personagem e esteve a vontade no papel. Huerta foi uma grata surpresa e seu Namor é uma das melhoras coisas dentro do MCU, gostei muito de toda a sequência dele e de Letitia em Talokan, mostrando a ela a cidade capital, o povo, a cultura, o sol feito de vibranium, a conversa tentando achar um meio termo para resolverem a questão de Riri Williams, e a ameaça que ambos fazem um ao outro de se guerrearem. Óbvio, acho que ele esteve uma degrau acima dela na atuação, e achei ele demais no filme, principalmente quando ele age ofensivamente contra Ramona e profere as frases bastante onipotência dramática: "Enterre seus mortos, lamente sua perda, Você agora é a rainha" apontando com o dedo... que cena!!!
A outra, foi a verdadeira protagonista do filme, a verdadeira rainha da sétima arte Angela Bassett, vencedora do Globo de Ouro e do Critics Awards de Atriz Coadjuvante pelo papel desempenhado neste filme.
Angela foi gigante, não teve nenhuma cena onde ela tenha estado ok, ou tenha interpretado com menos afinco, ela foi grande em todos os momentos em que apareceu, com uma carga dramática sem igual, uma presença de cena e preenchimento de tela que poucos atores no ramo conseguem fazer. Elevou sua atuação do primeiro filme para algo divino nesta continuação, e seus monólogos na sede das nações unidas no começo do filme, e em Wakanda depois que Shuri é levada pelos Talokans, dando aquele esporro em Okoye, são a alma do filme, e que a premiaram nas duas premiações citadas...
Realmente foi uma pena vê-la perder o BAFTA e principalmente o Oscar para a ótima e lendária Jamie Lee Curtis, porque é como se esse ano fosse dela, ela seria premiada por essa atuação, por esse papel, e seria um prêmio que também premiaria toda uma carreira competente de Bassett. Da forma como eu vejo, um Oscar honorário, que ela ganhou posteriormente, não tem o mesmo peso, nem de longe... não para ela.
Já Dominique Thorne ( de Se a Rua Beale Falasse e Judas e o Messias Negro) que é uma ótima atriz dos filmes já citados, esteve totalmente fora de tom no filme. Sua Riri Williams não convenceu, foi alívio cômico demais no filme, sempre deslumbrada com tudo, e apressadamente apresentada no MCU neste filme, que sequer a desenvolveu. Um ato bem errôneo por parte de Kevin Feige, onde claramente teve dedo dele em forçar a personagem no filme, com certeza um imposição dentro do roteiro de Ryan Coogler, e que no final se mostrou mal inserido e mal apresentada, mal desenvolvida e faltou um pouco de carisma... a Riri era a personagem mais invisível do filme para o público, era o elo principal do filme, que levou Wakanda e Talokan a entrarem em rota de colisão, mas para o público foi praticamente irrelevante, o que é uma pena, desperdiçar atriz e personagem de uma forma tão forçada como essa... os velhos hábitos de Feige que precisa mudar.
Talokan foi apresentada como sendo a Atlântida do MCU, já na pré-produção, os profissionais queriam apresentá-la de uma forma diferente, para não se assemelhar demais com o que foi apresentado em Aquaman da DC. Para não dar impressão de um copia e cola, um mais do mesmo para o público, para entregar algo que remeta mesmo a Aquaman, que é inegável, mas que tenha personalidade própria.
E foi uma ideia muito bem vinda, baseá-la em uma mitologia asteca, explorando as culturas mesoamericanas, dando um ar de realidade, pois Talokan é baseada um culturas reais, que existiram, ao invés de trazer algo já estabelecido nos quadrinhos em Aquaman e o próprio Namor, ou em longas passados como Atlantis O Reino Perdido.
Uma cultura real e única, com figurinos detalhados, baseado nas culturas antigas datadas de 1500, 1600, exatamente a época que Namor nasceu no filme... fora isso toda a representação de Talokan, que é lindíssima, sua apresentação quando Shuri a vê como um todo, toda aquela cidade que parece uma realeza, o templo que gera o sol para a cidade subaquática... que trabalho fenomenal da equipe de produção do filme, de efeitos visuais, e de figurino.
Ruth E. Carter foi novamente a figurinista do longa, e com certeza, pelo seu riquíssimo trabalho em criar as vestimentas do povo de Talokan, Namor, Attuma, Namora, e todo o povo de Wakanda, ela novamente foi premiada com o Oscar de Melhor Figurino, também sendo premiada no Critics Choice Awards.
Essa continuação tem algumas escorregadas que são mínimas, como forçarem no roteiro uma apresentação fraquíssima da personagem Riri Williams, a má utilização de alguns atores, Martin Freeman, Julia Louis-Dreyfus, Florence Kasumba.
Uma das grandes escorregadas foi o destino dado á personagem de Angela Bassett, Ramona, que apenas serviu para ser uma virada de chave dentro do Shuri, para que finalmente pudesse assumir o manto de Pantera Negra e realmente ir à guerra contra Talokan... escolha muito óbvia, que poderia muito bem ter sido feito de uma maneira bem diferente. Um desperdício de personagem e talento dentro do MCU, com esse destino dado a Angela Bassett que tinha ainda muito a agregar a enredos futuros, uma vez que existe vontade de fazer mais uma continuação. Uma pena e bola fora.
No mais, Pantera Negra Wakanda Forever encerra a fase 4 da Marvel com chave de Ouro, apesar de muitos filmes ficarem devendo, e algumas séries também. Na minha opinião, esta continuação não supera o primeiro, mas tem um roteiro muito bem construído e mesmo tendo mais de 2h30, prende o espectador que já é familiarizado com os filmes do estúdio.
04/12/2023
(26/11/22 - UCI Jardim SUL)
Entre Mulheres
3.7 262Sarah Polley é uma diretora de poucos filmes, são grandes os espaços entre os filmes que ela lança, porém, sem eu sequer lembrar ou ter consciência, já assisti um filme dirigido por ela, 'Longe Dela' de 2006, que foi indicado ao Oscar de Melhor Atriz na época, para Julie Chrsitie, e é um filme lindíssimo, de muita sensibilidade, que possui uma delicadeza na construção de seu roteiro e na forma como Polley dirige, sem igual.
Se eu tivesse lembrado disto antes de conferir 'Women Talking' eu estaria mais preparado para o que ria ser entregue em tela.
Sarah Polley entrega um filme gigante, forte, com um roteiro que está mais calcado no texto do que nos acontecimentos e amadurecimentos dos personagens em si. Aqui, as personagens meio que já estão estabelecidas, já chegaram no ápice de seu crescimento e amadurecimento pessoal... o foco não é desenvolver essas mulheres, e si prestarmos atenção no que ela têm a dizer, no quela querem sentir, ouvir o que ela têm a gritar, e nos questionarmos o quão longe a voz da mulher pode ir, e o quão protagonista é o papel dela na formação de caráters e nos fundamentos da sociedade como um todo.
Baseado em eventos reais que ocorreram/ocorrem em Manitoba, uma colônia que reside no Leste Boliviano, o filme em nenhum momento faz menção de onde os acontecimentos se passam, e mesmo que a verdadeira colônia não fale inglês, e sim Plautdietsch, o filme tem seus personagens falando a língua norte americana.
Nessa colônia, as mulheres não são alfabetizadas, proibidas de frequentar a escola, elas são 'educadas' desde pequenas a apenas serem submissa aos homens, se casarem, dar a luz, cuidar da casa e não retrucar nada do que disserem para elas.
A colônia, que na vida real possui em torno de 2000 pessoas, não convive com eletricidade e nem com automóveis, e ainda há um grupo de homens que estupravam e violentavam sexualmente as mulheres da colônia á noite, usando um sedativo para animais grandes em forma de spray, deixando essas mulheres sedadas para serem violentadas pelos mesmos. Essas mulheres variavam de 65 anos sendo as mais velhos, para até crianças de 3 anos de idade (!!!!!!!!!!!)... algumas até com problemas mentais, vejam só.
Muitas delas engravidavam e tinham que virar mães solteiras, as acusações das mesmas nunca eram levadas a sério, eram tratadas como devaneios femininos, coisas inventadas por elas, ou até mesmo coisas do demônio, onde algumas acreditavam pois a religião deles era muita rígida, e muitas acreditavam nas mais diversas histórias e não queriam perder a sua entrada no reino dos Céus.
Polley começa muito bem o filme já com a frase que diz que o filme é baseado no "fruto da imaginação fértil das mulheres', e então o texto começa a ser desenrolado e o grande carro chefe do longa, com as mulheres discutindo boa parte dele o porque elas tem que abandonar a colônia, porque ela devem fugir, os malefícios de deixar o lar para trás, o porque de não fugir, se devem levar as crianças ou não, e se levar, se devem levar os filhos homens, como esses filhos podem ser reeducados no novo lar pelas mulheres, e o quanto elas estão cansadas de serem violentadas à noite sem ninguém sendo culpado e ainda sofrerem abusos nas mãos de maridos bêbados e machistas.
Os pontos levantados e defendidos por cada uma delas são o ponto forte do longa, que não possui nenhuma cena chocante ou que vá chamar a sua atenção, afinal o foco é no texto, é no que essas mulheres têm a dizer, pensar, defender.
As atuações são fortes, condizentes, algumas emocionantes e outras necessárias... elas contam histórias, relatam abusos, revelam traumas não só físicos, como emocionais, e também uma revolta muito grande por possuir filhas adolescentes e/ou crianças que são e foram vitimas de abuso sexual por parte desses homens.
O filme se passa majoritariamente em preto e branco com algumas nuances coloridas, e isso ajuda muito na cinematografia do filme que ganha um realce belíssimo por conta dessa escolha. A direção de arte do longa também é um ponto forte do filme, com cenários internos simples, mas muito vem decorados e repleto de itens que compõe bem a colônia que eles querem representar no longa.
Nas interpretações, destaque para as protagonistas Claire Foy (indicada ao Oscar por O Primeiro Homem) que faz Salome, uma da mulheres que além de ter sido violentada, possui uma filha de no máximo uns 7 anos de idade, que também sofreu abuso sexual a noite, vitima do sedativo em spray. Salome se tornou uma mulher violenta que fará de tudo, mas de tudo MESMO, para evitar que sua filha seja tocada por qualquer homem de dentro da colônia, e é a primeira a concordar em abandonar a colônia.
Rooney Mara (do recente O Beco do Pesadelo) faz Ona, que está grávida, uma criança que foi concebida fruto do abuso sexual que ela sofreu dos homens da colônia, ela que obviamente não sabe quem a abusou e não sabe quem é o pai, é questionada no filme se ela não tem raiva da criança, de estar grávida nessas condições, e ela responde que já ama essa criança mais do que qualquer coisa na terra.
Claire Foy está uma força da natureza neste longa, muita presença de cena, está incrível e fico me perguntando se caberia uma lembrança para ela nesta temporada de premiações... atuação grandiosa e fortíssima. Já Rooney Mara é o oposto em termos de personalidade de Salome, Ona é mais delicada, mais esperançosa, mais realista e pé no chão. A atuação de Rooney Mara deixa isso em pleno destaque durante todo o filme, e há uma delicadeza sem tamanho na forma como Rooney Mara traz essa sensibilidade para as falas e os trejeitos de Ona no filme... ela está muito bem no longa, uma de suas melhores atuações na carreira.
Jessie Buckley fez Mariche, conheci Jessie no filme 'As Loucuras de Rose' e depois em outros filmes como 'Judy', 'Men', 'A Filha Perdida', ou seja, já virei fã dela que é uma atriz com A maiúsculo, e aqui ela está incrível novamente.
Rouba a cena como Mariche em todas as cenas que aparece, tem uma carga dramática em sua atuação na maioria das cenas, principalmente nas cenas onde aparece com hematomas por ter apanhado do marido bêbado. E é muito bom ver como ela vem crescendo em suas atuações com o passar dos anos e dos trabalhos, e eu acredito fielmente que dentro em breve, Jessie irá abocanhar grandes prêmios e conseguirá um Oscar por suas grandes atuações.
Cito ainda Ben Wishaw (da série This is Going To Hurt) que faz o professor da colônia, August, apaixonado desde criança por Ona, ela junto ás mulheres da colônia, verbalizam uma forma de fugirem de lá, e o porque de saírem dos lares que vivem desde que nasceram. A participação de August é mais atenuada, ele ao mesmo tempo que não é levado muito em consideração nas decisões das mulheres, também é consultado e tem um papel importante durante os acontecimentos. Ele dá um certo ar de infantilidade e jovialidade a August, e é quase como se ele fosse o grande irmaozão de todas elas. Foi uma atuação bem singela a de Ben no filme.
Fora que temos uma participação no começo e no fim do filme de Frances McDormand, que também é uma das produtoras do longa.
Com certeza uma das melhores coisas do filme é a música de Hildur Gudnadóttir, eu já sou fã dela desde a trilha de 'Joker', e este ano além de aparecer no filme 'Tár', ela também mostra seu trabalho neste filme, e sua trilha é perfeita. Do começo do longa, ao fim, depois que toca 'Daydream Believer' dos Monkees, quando sobem os créditos e entra mais uma das musicas de Gudnadóttir. A música dela compõe bem todas as cenas do filme, e dita o ritmo de algumas personagens do longa, casa bem com as ações apresentadas em cena, enaltece ainda mais alguns dramas evidenciados em tela pelas personagens, e é lindíssimo de se ouvir. Um dos mais belos trabalhos dessa compositora que admiro demais.
'Women Talking' ganhou inúmeras indicações nesta temporada de premiações:
- No Critics Choice Awards foi indicado a Melhor Filme, Melhor Elenco, Atriz Coadjuvante (Jessie Buckley), Roteiro Adaptado, Diretor (Sarah Polley) e Compositor para Hildur Gudnadóttir.
- No Globo foi indicado apenas a Melhor Roteiro e Trilha Sonora;
- No Gotham Awards indicado a Roteiro e Atriz Coadjuvante (Jessie Buckley);
- No SAG's indicado a Melhor Elenco;
-No Spirits Awards indicado a Melhor Filme, Roteiro e Direção, além de um prêmio especial para o elenco do filme.
- No Satellite Awards indicado a Trilha Sonora, Atriz Coadjuvante (Claire Foy), Ator Coadjuvante (Ben Wishaw), Diretor, Roteiro Adaptado e Filme Drama.
- No Oscar teve duas indicações, Melhor Filme e Melhor Roteiro Adaptado.
Em questão de prêmios, levou o Critics Choice Awards de Roteiro Adaptado. E também levou dois prêmios no Satellite Awards, um também por Roteiro Adaptado para Sarah Polley e um de Atriz Coadjuvante para Claire Foy, que é mais protagonista no longa, do que coadjuvante, mas se colocam ela ou Rooney Mara para concorrer em Melhor Atriz, realmente não iria dar para levar um prêmio com concorrentes tão fortes como Ana de Armas, Viola Davis, Cate Blanchett e as demais.
'Women Talking' é um ótimo filme, um dos trabalhos mais refinados de Sarah Polley, quase nada de defeitos, tem ótimas atuações, um elenco de primeiríssima linha, uma trilha soberba, uma cinematografia que salta aos olhos e um texto muito mais que bem escrito. Acredito eu que deva levar o Oscar de Roteiro Adaptado, mas Melhor Filme com certeza está longe de ser um dos cogitados a levar.
(Assistido 07/03/2023 - Cine Marquise)
Corsage
3.4 26 Assista AgoraEnquanto eu assistia 'Corsage', algumas passagens do filme me lembravam 'Maria Antonieta' de Sofia Coppola, muito pela história passar por uma premissa um tanto parecida, mulheres que são rainha e imperatriz de seus respectivos países, e que levavam uma vida à parte de seu povo, se preocupando apenas com etiquetas, padrão monárquico social, ociocismo, amantes e ditar moda.
Mas 'Corsage' foi um filme que me entreteu menos do que o filme de Sofia Coppola, pois as camadas lançadas em tela para definir quem era, e como se encontrava naquele atual estado a Imperatriz Elisabeth, foram bem rasas, beirando ao ridículo, e em nenhum momento senti que aquilo que eu via, era valido para tamanha angústia verbalizado Imperatriz.
O filme foi uma ideia de Vicky Krieps, que convidou a diretora Marie Kreutzer a filmar o longa, e a ideia de Krieps era justamente mostrar que havia uma melancolia, uma tristeza, uma inquietação por parte de da Imperatriz (apelidada de Sissi) que a fazia ser uma espécie de rebelde dentro da vida monárquica que levava junto ao seu marido, o Imperador Franz Joseph.
Na verdade, o filme mistura fatos reais com fatos ficcionais de como foi esse período da vida de Sissi, após perder o filho (e que no filme, foi uma filha ainda bebê), e viver presa a uma rotina da qual desprezava, e pouco contato tinha com o povo austríaco e húngaro, apesar do desejo de realizar mais por eles.
Acredito que não foi uma das melhores formas de se conduzir o roteiro do longa, pois quando se mistura acontecimentos reais com ficcionais, o resultado geralmente não agrada, e aqui, na minha opinião, foi exatamente o que aconteceu.
Tanto Krieps quanto Kreutzer, focaram no que Sissi estava sentindo na época, no quão estava incomodada, perturbada, mal amada, injuriada, feia, já nos seus 40 anos, sempre tentando se manter no peso, para não parecer fora de seu padrão de beleza reconhecido por muitos e muitos anos. Uma junção de sentimentos e arrependimentos, e medos e inseguranças que faziam, no filme, com que a Imperatriz vivesse triste, incompreendida, chateada, emburrada, como se estivesse de TOM 24 horas por dia.
No filme, a Imperatriz se irritava por tudo, por não ter atenção do Imperador, por não ser escutada por ele, por não gostar das etiquetas monárquicas nos intermináveis jantares formais, por não apertarem o espartilho dela o suficiente, por não se achar mais bela o suficiente, por não viajar, por viajar, por não ser cortejada, por não chegar aos finalmentes com seus amantes, enfim, eram muitos e muitos motivos, e isso deixou a personagem muito vazia.
Claramente, não só pela idade e pela sua beleza jovial que estava lhe escapando, mas a Imperatriz nunca se recuperou da perda de seu filho e sua amante que morreram anos antes, e logo em seguida ela perdeu o pai, a irmã em um incêndio e a mãe. Porém, no filme, esses acontecimentos sequer são citados, apenas uma filha, ainda bebê que a mesma perdeu, e que nem parece ter tanto peso nas melancolias que Sissi sente durante o longa.
A impressão que me passou, foi que a Imperatriz não sabia o que queria da vida, não sabia como viver, queria continuar sendo jovem, mas tacava o dane-se pra tudo, não queria a vida monárquica, mas gostava do conforto. Vivia viajando, mas se emburrava fácil nos lugares onde ficava, era doida para ter amantes que lhe dessem atenção, mas não chegava aos finalmentes com eles, pois as pessoas estavam 'comentando'.
Não sabia agradar o marido, queria ser agrada, mas não sabia como e nem com o quê... quando agradava seu marido, não se sentia plena, maltratava as criadas por bobagens sem sentido, queria ver a irmã, mas ao mesmo tempo nunca mais a queria ver. Aparentava amar a filha, mas sequer passava 5 minutos com ela... ou seja, um roteiro que não dizia nada da personagem.
Era um roteiro que queria se aprofundar nas melancolias femininas, sofridas pela Imperatriz austríaca, para refletir na feminilidade dos dias de hoje, mas representou uma personagem vazia, que não sabia o que queria, e que nada teve a mostrar ou conversar com o público que assistia ao filme.
Particularmente, eu achei o filme muito arrastado, sem vida, pouco atrativo, pouco engraçado e nenhum um pouco relevante. Ele não é chato, mas também não chama a atenção.
O que de bom pode se tirar do filme são seus visuais estéticos, afinal ele tem uma direção de arte soberba, recriaram muito bem aqueles finais dos anos 1800 na Áustria, as cenografias internas estão de cair o queixo mesmo, muitos detalhes em lustres, tapetes, quadros...fora os móveis, carroças, locais que filmaram o longa que se passavam em locais longínquos onde a Imperatriz ia passar férias, foram muito bem escolhidos e decorados.
O figurino então, esteve impecável, sinceramente foi de primeira linha, desde as vestimentas da Imperatriz, como dos criados reais, assim como os do Imperador que estiveram impecáveis também, os demais personagens coadjuvantes que apareceram quando Sissi viajava, também tinham figurinos bem detalhados, costurados, caracterizados, foi um trabalho acima da média.
Outro ponto que esteve 100% foi a cinematografia do filme, realizado por Judith Kaufmann, perfeito, tivemos cenas excepcionais, como a cena em que Sissi cavalgou com a filha de madrugada, as cenas onde ela estaca em campo aberto, as cenas onde o rapaz que estava criando as imagens em movimento, e captou ela, o filho dela, em preto e branco, com ela gritando e falando sabe-se lá o quê, pois não saía som ainda, realmente um belíssimo trabalho da profissional.
Gostei muito da atuação de Florian Teichtmeister como o Imperador Franz Joseph, nas poucas cenas em que apareceu ele mostrou uma grande presença de tela, atuou muito bem junto a Vicky Krieps, tiveram uma ótima parceira em cena, e poderia ser melhor trabalho pelo roteiro de Marie Kreutzer, mas ainda assim foi um vom trabalho.
Sobre a Vicky, não achei sua atuação ruim, nem forçada como vi alguns "críticos" comentando... acho que ela atuou bem, no que ela queria propor com a personagem, o que ela idealizou para o projeto, e como ela queria retratar a Imperatriz, ela foi bem no que ela propôs com o que tinha em mente. mesmo não tendo sido do meu agrado a representação do longa como um todo e da personagem em si, não nego que ela atuou bem com o que se propôs a apresentar... mas também só isso e nada demais a se ressaltar, tanto que pra mim, algumas indicações que ela ganhou nesta temporada de prêmios, foram um pouco exagerados...
A música do filme foi composta por Camille, uma compositora e atriz francesa,ela canta apenas uma música no filme, que se divide em partes do filme, e é uma canção belíssima, que compõe bem os sentimentos da Imperatriz no longa, merece muito crédito, mas se limita a apenas essa canção e nada mais... bem pobre para o que poderia oferecer para o longa.
O longa foi indicado a Melhor Filme Estrangeiro no BAFTA, Satellite Awards, Spirit Awards e Gotham Independent Awards;
Além de Vicky Krieps ter sido indicada a Melhor Atriz Drama no Satellite Awards.
No quesito prêmios, a atriz Vicky Krieps ganhou por sua performance na categoria de Atriz no Prêmio de Cinema Europeu e no Prêmio Un Certain Regard.
Eu não indicaria 'Corsage' a Filme Estrangeiro em nenhuma premiação, obviamente alguns profissionais gostaram do longa de Marie Kreutzer, mas eu tive meus problemas com o filme, principalmente com a forma como quiseram misturar realidade e ficção e em como a protagonista do longa não tem nada a realmente dizer ao público que a assiste.
A cena final, enquanto passa os créditos, de Vicky Krieps dançando em câmera lenta, foi muito mal inserida no longa, logo depois de a mesma se atirar no mar, deixando o final do filme vago, em aberto, para aqueles que não conhecem a história da Imperatriz, assim como eu não conhecia.
Acho que Marie Kreutzer quis filmar de uma forma onde cada cena, cada passagem, fosse uma pintura em um quadro exposto em uma galeria como se fosse uma obra prima, edição rápida demais no filme de uma cena em forma de pintura para outra, e pouca atenção e construção no roteiro.
Pra mim, um filme bem mediano.
(Assistido 04/03/2023)
A Baleia
4.0 1,0K Assista AgoraFico me perguntando se é muito pretensiosismo meu, tentar colocar Darren Aronofsky no mesmo grupo de diretores como, Shyamalan, Joel Schumacher, David Fincher, que possuem filmes que são ame ou odeiem, muitos bons e muito polêmicos... no caso de Aronofsky, filmes bem controversos como 'Mãe!' e 'Noé', e duas obras primas do cinema moderno, 'Cisne Negro' e 'O Lutador'.
Com A Baleia (The Whale), Aronofsky está novamente levantando essa questão, como discussões acaloradas entre críticos de cinema que meteram o pau no filme, e outros que elogiaram bem, e o público, onde grande maioria está tendo uma receptividade muito boa, e alguns poucos têm questionado a qualidade do roteiro e dos personagens.
Apenas uma coisa é unanimidade entre todos eles, que Brendan Fraser (A Múmia) tem a atuação do ano, a atuação da sua carreira, que ele está de volta a Hollywood. E essa também é a minha opinião sobre Brendan.
Debaixo de uma camada grossa de próteses para deixá-lo obeso como apareceu no filme, Brendan conseguiu expressar todos os sentimentos que Charlie queria expressar ao espectador. Na forma de falar, na forma de se locomover, na forma como olha com ternura para a filha, em como dava atenção a sua amiga Liz, em como trouxe uma humanidade, uma fúria, uma densidade, uma inquietação dramática para seu personagem, em como ele mergulhou fundo na psique de um homem obeso que se esconde do mundo, das pessoas, que possui muitos traumas, recentes e antigos, que possui muita vergonha, mas ao mesmo tempo, detém um senso de esperança e de otimismo. Um amálgama de sentimentos que se digladiam dentro do âmago de Charlie, e faz com que ele seja uma das pessoas mais doces que alguém possa conhecer, e ao mesmo uma das pessoas mais egoístas e suicidas que se possa conhecer.
Eu não vou me arriscar em dizer que foi 'A' atuação de 2022, mas que está no top 5, isto com certeza está, pois é impossível você não sentir nada com a jornada de Charlie durante o filme, ele te deixa bravo, ele te deixa emocionado, esperançoso, inspirado, apresenta muitas nuances de uma pessoa que tanto errou, tanto perdeu, e que de uma forma tão peculiar, também quer tanto viver.
Tudo isso graças a grandiosíssima atuação de Brendan Fraser, que volta com tudo ao cenário Hollywoodiano, em um filme que tira tudo de sua veia dramática... não sei se foi o papel mais desafiador que ele já interpretou, só ele para dizer isso, mas com certeza, vai ser lembrado por décadas como uma de suas maiores interpretações em longas-metragens.
A24, essa é o estúdio por trás de 'The Whale', o meu estúdio favorito hoje em dia, da qual sou fanzaço, desbancando até o estúdio que vou amar até a morte, o Marvel Studios (fã de quadrinhos aqui)... mas a A24 vem crescendo muito nos últimos 5 anos, desde que modestamente começou a produzir filmes, ali por volta de 2013, e já em 2016 ou foi 2017 já levou o Oscar de Melhor Filme por Moonlight (controverso, eu sei, mas levou).
Este filme, que foi baseado em uma peça de Samuel D. Hunter, se passa quase que inteiramente na pequena casa de Charlie, grande parte na sala, que é ligada a cozinha, pouquíssimas cenas externas, e uma cena no quarto do namorado de Charlie que morreu.
Ele tem essa pegada, esse ar de peça teatral, e isso fica bem nítido na forma como os personagens que entram e saem da casa de Charlie se locomovem pelo cômodo. Sempre para lá e para cá, nunca ficando em uma posição que dificulte o contato visual com Charlie, que passa quase que praticamente o filme todo sentado. Esse foi um ponto que me incomodou um pouco, principalmente nas cenas com Samantha Morton, que fez Mary, a ex-mulher de Charlie... na discussão que eles tiveram próximo do fim do filme, em nenhum momento ela ficava parada rente ao Charlie, para falar seu texto, era o tempo todo indo pra cozinha, voltando pro meio da sala, senta, levanta, vai para a porta, segue para próximo da janela, volta, fica em frente dele, vai pra cozinha de novo... a gente entende que tem esse ar de peça teatral como mencionei, mas aqui acredito que Aronofsky poderia ter deixado Samantha mais à vontade. Ela já é uma atriz experiente, consagrada, poderia ter conversado com ela e pedido para ela entregar o que já sabe, e deixado ela mais livre para poder realizar a cena. Tenho quase certeza que foi orientação dele para que ela fosse, viesse, voltasse, sentasse, levantasse e por aí vai.
Mas no geral, eu achei o filme muito satisfatório, com um ritmo muito bem construído, cenas e textos que, ao meu ver, prendem o espectador, fora o carisma de Brendan como Charlie, e também traz essa construção de cenário de perda, entre ele e Liz, sua enfermeira, a relação dos dois é muito boa, muito bem construída, tem uma química bacana entre ele e Hong Chau, e é algo bonito de se ver e que se relaciona com o público.
Não enxergo essa bomba toda que alguns críticos especializados estão soltando sobre o longa, sobre a relação dos personagens com Charlie, de como o filme é pretensioso demais e blá blá blá.
Confesso que não achei a direção de Aronofsky a coisa mais das perfeitas, algo para se exaltar e tal, tem coisas ali que acho que ele poderia ter tido um pouco mais de tato, de bom senso, de olhar... porém, entrega o básico para conversar com o público.
Além de Fraser e Samantha Morton que já citei, temos Hong Chau (de O Menu) fazendo Liz, como também já mencionei, como uma interpretação ótima, bonita, bem condensada, acho que ela se entregou bastante ao projeto, entendeu a personagem, entendeu o contexto que se inseria, entrou no sentimento da relação entre os dois, e realmente entregou uma performance de se aplaudir. Gostei muito dela, demais mesmo.
Sadir Sink (de Stranger Things) também esteve ótima na minha visão... acredito que ela começou um pouco mais fria, mais sisuda, demorou um pouco para achar uma sintonia com Fraser, mas do meio pro final do filme, era nítido como sua atuação estava cada vez ficando mais solta, e brilhou demais na conclusão do longa. Ela já é ótima na série da Netflix que conquistou o mundo, e aqui mostra uma veia um pouco mais dramática e o quão boa atriz ela é.
E ainda tivemos Ty Simpkins (de Homem de Ferro 3), quem se lembra dele no filme, vai ver aqui um homem já feito, atuando muito bem, ele faz Thomas, da igreja Nova Vida, tem uma cena ótima com Sadie no quarto do ex namorado de Charlie, outra cena de destaque com Hong Chau, na parte externa da casa de Charlie, onde ela brilha um pouco mais que ele, e claro, sua cena inicial e final com Brendan Fraser que são os pontos altos de sua atuação no filme. Gosto muito dele e foi muito bom vê-lo atuando tão bem no longa e agregando ao filme.
A música do filme é de Rob Simonsen, e é uma das coisas mais velas do filme, se mescla vem com as cenas, cria todo um ar apatia, desespero, tristeza, enfim ... Rob estava inspirado, pois realmente foi um belo trabalho realizado.
Agora, falando em indicações e prêmios, nesta temporada de premiações, 'The Whale' vem forte mesmo com Brendan Fraser, como um franco favorito para levar o Oscar de Melhor Ator:
- Fraser foi indicado a Melhor Ator no Globo de Ouro, SAG's awards, BAFTA, Critics Choice Awards, Copa Volpi do Festival de Veneza, Satellite Awards, Hollywood Critics Association e o OSCAR.
Até agora, levou o SAG's, o Critics Choice, o Hollywood Critics Association e o Festival de Veneza. É franquíssimo favorito ao Oscar e acredito que no Satellite possa dar Austin Butler... veremos.
-Hong Chau foi indicada a Atriz Coadjuvante no SAG's Awards e no BAFTA e perdeu os dois, mas também não era a favorita. Ainda tem o Oscar, mas também deve passar batido.
-Sadie Sink foi indicada a Melhor Jovem Ator/Atriz no Critics Choice, mas perdeu merecidamente para Grabriel LaBelle.
-Ainda foi indicado no Oscar, BAFTA e Critics Choice a Maquiagem e Penteado. Foi indicado ao Sindicato dos Produtores a Melhor Filme, perdendo para 'Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo'.
Foi indicado a Roteiro Adaptado no BAFTA, Festival de Veneza e Critics Choice, perdendo os três, mas ainda concorre no Satellite Awards.
'The Whale' é um filme que com certeza irá tocar cada pessoa que for ao cinema assistir... na sala em que fui, foram vários os soluços quando o filme acabou, e muitas pessoas que ficaram sentadas vendo os créditos, apenas absorvendo toda a experiência que tinham acabado de acompanhar.
Se puderem, vão ver o filme no cinema, é uma experiência única, o tipo de filme para ter suas reações junto a outras pessoas, e ver como o longa toca cada uma delas a sua maneira. Foi uma experiência muito próxima de Aftersun, quando conferi.
Bem vindo de volta Brendan Fraser!
(Assistido 20/02/2023 - Cine Sala)
Boa Sorte, Leo Grande
3.8 117 Assista Agora'Good Luck To You, Leo Grande' foi um dos grandes destaques do cinema estrangeiro no último ano, aqui mesmo no Brasil, foram várias salas abrigando o longa, e levou muitas semanas para sair de cartaz. Infelizmente, cometi o erro de não conferir nas telonas, mas após conferir o longa em casa, devo confessar que a experiência no cinema teria sido ótima, pois o filme é muito bem dirigido e tem um ritmo ótimo, com dois atores que estão em uma ótima sintonia, e possuem uma química que funciona muito bem.
Protagonizado por Daryl McCormack e Emma Thompson, o filme traz um tema que pouco é utilizado nos filmes, o prazer feminino. Aqui, Nancy teve uma vida atribulada como professora, filhos que cresceram e pouco lhe dão atenção, e um marido que foi muito bom para ela, menos no sexo, já que queria tudo muito certinho, 'papai e mamãe', vira pro lado e dorme. Foi o único homem na vida sexual de Nancy (Emma Thompson), e depois de ele falecer, ela resolve procurar um profissional do sexo ( que está mais para terapeuta do sexo), afim de ter uma coisa que nunca teve em sua vida inteira... um orgasmo.
Mas Nancy, como mostra no filme, não quer só um orgasmo, coisa que nunca teve e sempre fingiu com o marido... na verdade ela quer ir além do orgasmo, pois ela também nunca fez um sexo oral (o famoso boquetão), nunca fez outras posições sexuais, como a famosa sentada, e o preferido dos homens, de quatro. Nancy quer o pacote completo, porém, são tantas questões internas não resolvidas, tanto arrependimento, amarguras, tristezas, medos, inseguranças, que Nancy não consegue relaxar e conseguir realizar aquilo que deseja, chegando ao ponto de quase desistir de seu objetivo/desejo.
É aí que entra Leo Grande (Daryl McCormack), que foi contratado para fornecer esses serviços, mas tem experiência o suficiente para servir como uma espécie de terapeuta sexual, uma vez que Nancy tem tantas questões pessoais para lidar que a impede de se entregar ás suas vontades e desejos.
Apesar de Leo possuir muitas clientes ( e 'clientos'), já estar acostumado com seu trabalho, e tentar ajudar Nancy a relaxar e passar por cima de suas questões para então poder realizar suas vontades, Leo também tem suas questões internas, pontos pessoais, em termos familiares, que o fazem questionar a natureza do seu trabalho, o porque de esconder seu ofício da família (irmão e mãe), e como as questões de Nancy se misturam com suas questões.
Dirigido por Sophie Hyde, sendo apenas seu segundo longa na carreira, e escrito por Katy Brand, sua estreia como roteirista de longas, 'Boa Sorte, Leo Grande' é um ótimo filme, possui um texto muito bem escrito, um diálogo rico e ácido entre os dois protagonistas, questões bem desenvolvidas e exploradas em cena, e a impressão que passa é que a história dos dois é muito rasa, ou apresentada de forma rasa, mas na verdade, o roteiro nos apresenta o mundo que cerca os dois protagonistas muito bem, nos é apresentado o que precisamos saber da vida dos dois, apenas o suficiente para que faça parte do que está acontecendo dentro daquelas quatro paredes, que é a discussão que nos interessa.
Sabemos sobre o casamento sem aventuras sexuais de Nancy, seus filhos que seguiram suas carreiras e pouco têm contato com ela, e sua vida profissional como professora que foi cheia de altos e baixos, com erros, acertos e equívocos, e tudo isso acaba tomando conta de suas emoções no momento em que ela está a sós com seu profissional do sexo, para fazer coisas que sempre teve desejo de fazer e sentir, mas nunca o fez.
Assim como Leo, que tem uma preocupação de que sua família não aceita seu ofício, uma vez que sua mãe o expulsou de casa e não o reconhece mais como filho, depois de flagrá-lo em uma orgia, e seu irmão, que suspeita sobre seu verdadeiro ofício, mas prefere ser enganado. Essas questões fazem com que Leo se olhe no espelho e tente reconhecer o homem que ele está enxergando, até porque, Leo Grande é um personagem criado por ele, na verdade ele possui outro nome e um outro ofício... assim como Nancy, que possui outro nome, não teve coragem de se revelar totalmente a Leo quando o contratou.
O grosso do filme se passa nesse quarto de hotel onde Nancy e Leo Grande fazem sexo, conversam sobre a vida e as experiências, medos, e tudo o mais, são pouquíssimas cenas externas, e além dos dois, temos somente mais uma atriz no filme, Isabella Laughland, que faz Becky, funcionária de um hotel e ex aluna de Nancy.
Por ser o primeiro roteiro de Katy Brand, na minha opinião, ao ter assistido o filme, acho que ela mandou muito bem, criou um cenário gostoso de se acompanhar, de um tema que pouco é abordado, a sexualidade feminina, a aceitação com seu corpo, o desejo de experimentar fantasias sexuais, sejam elas quais forem, na terceira idade, e o tabu que é contratar alguém que fornece serviços sexuais para pessoas que estão solitárias, ou não possuem parceiro sexual ou na vida, ou que querem apenas ter uma noite de libido sem comprometimentos.
O filme deixa claro que não há vergonha no trabalho desses profissionais do sexo, e que podem fazer um bem imensurável a pessoas (no caso aqui, mulheres) que querem ter uma noite agradável, ou apenas ter companhia, uma boa conversa, ou realizar certos desejos sexuais, dos mais simples aos mais cabeludos. E tudo isso foi muito apresentado em texto e em tela por essas duas mulheres, que conseguiram colocar sensibilidade, leveza e autenticidade no que foi apresentado em pouco mais de 1h30 de filme.
Daryl McCormack foi indicado ao BAFTA de Melhor Ator por este trabalho, assim como também levou a indicação ao prêmio 'EE Rising Star', o prêmio de estrela em ascenção da premiação Britânica, perdendo para Emma Mackey.
Já Emma Thomspon foi indicada a Melhor Atriz no BAFTA, no Globo de Ouro e no Satellite Awards, perdendo os dois primeiros para Cate Blanchett e Michelle Yoeh, respectivamente, restando o Satellite Awards, do qual eu acho que dificilmente ganhará.
O filme foi indicado a Melhor Filme Britânico no BAFTA, perdendo para 'Os Banshees de Inisherin', e Kate Brand foi indicada a Melhor Roteirista, diretor ou produtor Britânico Estreante, perdendo para Charlotte Wells por Aftersun.
É um filme bem gostoso, com uma ótima dupla de protagonistas, e um texto bacana de se acompanhar, de um tema que deveria ser mais explorado... é um filme sem pudor, sem vergonha de falar sobre sexo, e sem vergonha de expor o sexo.
E possui uma cena final lindíssima, com Nancy abraçando e aceitando seu corpo. Arte pura.
(Assistido em 19/02/2023)
Veja Como Eles Correm
3.2 59 Assista AgoraQuando eu vi no catálogo do Star Plus o filme 'Veja Como Eles Correm', logo favoritei para poder ver o quanto antes, muito pelos dois protagonistas, San Rockwell (Homem de Ferro 2) e Saiorse Ronan (Atonement), e obviamente fiquei intrigado do porquê este filme não ter passado pelas salas de cinema aqui no Brasil.
Após ver que o filme estava pré indicado ao BAFTA, e entender que se tratava de um filme britânico, descobri a resposta de não ter vindo para os cinemas, e já visualizei que seria um filme um pouco diferente em experiência dos filmes convencionais que assistimos o ano inteiro.
Realmente, 'Veja Como Eles Correm', por ser um filme britânico, já tem uma forma muito peculiar em sua forma de construção, tanto de roteiro, como de exibição. Escrito por Mark Chappell, o longa é um tradicional conto de: 'Descubra quem é o misterioso assassino, junto ao detetive astuto e esperto, que age como se não ligasse pra nada, e preste atenção nas pistas e detalhes'.
Têm muitos filmes aí fora que seguem essa premissa à risca, 'Assassinato no Expresso do Oriente' é um, e mais recentemente os filmes de Rian Johnson 'Knives Out' e 'Glass Onion' conquistaram o público com essa premissa.
Neste longa de pouco mais de 1h30 de duração, é tudo muito clichê, meio batido, nada realmente irá surpreender o espectador, acredito que irá entretê-lo, mas é um filme que depois que termina, dificilmente você irá se lembrar dele no futuro, é apenas mesmo um bom entretenimento.
Ambientado no West End de Londres da década de 50, um assassinato aocntece nos bastidores de uma famosa peça de tetatro que está em cartaz, e que está prestes a ter um contrato assinado para se realizar um longa metragem. O inspetor Stoppard entra no caso para solucionar o assassinato e tem a assistência da Policial Stalker (Stalker foi de propósito?), e ambos começam a se conhecer enquanto solucionam o caso, ele como uma espécie de mentor, que não dá a mínima pra ela, e ela como uma novata que irá tentar aprender cada detalhe com ele.
Sem dar spoilers para quem quer assistir um bom filme de 'descubra o assassino' calcado na comédia, o filme entrega o assassino de cara, na hora eu olhei e falei: 'aí tem'. Não deu outra, eles te dão vários suspeitos, mas no fim é tão óbvio, que não surpreende.
Esse foi o primeiro filme dirigido por Tom George, e ele fez um bom trabalho, claro que op filme não é nada demais, ele diverte, entrete, é um bom passatempo, mas é um filme bem ok, mesmo assim, Tom Foerge ritigiu muito bem, e ainda por cima faz uma sátira do próprio gênero de filmes de mistério/assassinato, com textos que fazem sátira a cenas de flashbavk em filmes deste gênero, e os palpites furados da Policial Stalker apontando o verdadeiro assassino antes da hora.
O elenco do filme é ótimo, muita gente competente que se sobressaem em seus papéis:
-Harris Dickinson (de Triângulo da Tristeza) faz Richard Attenborough, o ator principal da peça, e assim como em 'Triângulo da Tristeza', ele está ótimo no papel, bem desenvolto, numa atuação elegante, como a década pede... cada vez mais eu gosto dele atuando, ele precisa ganhar mais papéis, e interessantes é claro, que possam mostrar mais o talento dele em atuação, espero vê-lo em mais filmes daqui para frente.
-Adrien Brody (Blonde) entrega aquela atuação canastrona que já sabemos que ele sabe fazer, e faz excelentemente bem. Aqui ele é o diretor Leo Köpernick, e não spoiler nem nada, porque já fica implícito no filme, mas ele morre de cara, e é o caso a ser solucionado.
-David Oyelowo (O Céu da Meia Noite) faz Mervin Cocler-Norris donodo dos direitos da peça exibida no filme (sim, esqueci dela, me desculpem), e também entrega um performance muito boa, gosto muito dele como ator, bem versátil e sempre muito bem em cena.
Gora os dois protagonistas que dispensam comentários e apresentações, Sam Rockwell tem aquela performance de um inspetor beberrão, cheio de traumas passados, que aparenta não dar a mínima pra nada nem pra ninguém, mergulha fundo no trabalho. Tudo isso regado a um tom muito cômico.
Já Saoirse Ronan, está perfeita como a atrapalhada Policial Stalker, que no fundo é bem esperta e astuta, com falas cômicas e uma performance despojada... com tantos filmes drama no currículo dela, é sempre vom vê-la faznedo algo que normalmente não nos apresenta, uma tuação cômica na medida certa.
O filme foi indicado ao BAFTA deste ano na categoria 'Melhor Filme Britânico', perdendo para 'Os Banshees de Inisherin' (estava torcendo para Afetrsun), e apesar de eu ter gostado do filme, de ter me entretido, realmente não tinha chances nenhuma de vencer aqui, e a indicação já foi uma vitória em si.
Fora tudo isso, ainda cito a ótima cenografia do filme, realmente um trabalho bem primoroso de Amanda McArthur e Celia De La Hey.
E a trilha sonora que é muito muito muito boa, e bem composta por Daniel Pemberton (Enola Homes 2, Os Caras Malvados, Amsterdam).
(Assistido em 19/02/2023)
Triângulo da Tristeza
3.6 730 Assista AgoraHá 8 meses atrás eu havia comentado aqui que o filme tinha sido o grande vencedor da Palma de Ouro Cannes, e que com certeza iria conferir. Foi aplaudido por 8 minutos seguidos depois de sua exibição, e a partir de então começou a ganhar força para chegar como protagonista nas principais premiações desta temporada.
É a primeira vez que vejo um filme de Ruben Östlund, mas já dá pra arriscar sem medo que deve ser o melhor trabalho cinematográfico dele, uma sátira social aos super ricos e aos belos corpos, como ele mesmo disse.
Dirigido, escrito e Montado por Östlund, 'Triângulo da Tristeza' começa bem humildizinho, em uma cena que serve como um prólogo do que está por vir, com modelos masculinos sendo entrevistados e expostos, um entrevistador com olhar clínico, para depois nos jogar na realidade de Carl e Yaya, um casal influencer (mais por parte de Yaya), que estão presos em uma discussão sobre feminismo e igualdade de gêneros na sociedade (ou no relacionamento, mais por parte de Carl), e tão logo descobrirão na pele o quanto essa (des)igualdade de gêneros tomará um nono nível, ao embarcarem em um cruzeiro de luxo, que Yaya ganhou justamente por ser influencer.
O charme do filme de Östlund, é justamente a mescla de não se levar a sério, e ser uma comédia mais descarada e nonsense, e se levar a sério e sempre deixar claro a imbecilidade de questões impostas pela sociedade, seja no cotidiano, seja no mundo da moda, e/ou das pessoas de alto poder aquisitivo.
Ele deixa claro com os mais variados personagens a bordo do cruzeiro, o quanto estas pessoas endinheiradas, ainda tem passar um ar de humildade, simplicidade, em seus atos e caráters, mas na verdade não passam de egocêntricos que querem veementemente impor suas vontades e visões encima de pessoas que eles julgam serem menos do que eles, pois não vivem a plenitude da vida, desperdiçando o tempo em trabalhos dos quais não gostam (supostamente).
Há um ar de deboche de Östlund para com essa parcela da "sociedade" (eu não gosto dessa palavra), quando todas essas pessoas endinheiradas, dentro do cruzeiro, acabam passando mal, por comerem comidas tão exóticas e esquisitas, e por não aguentarem o mar violento pela tempestade que pode se aproximar lá fora, que faz o barco ameaçar de virar várias vezes.
Eles começam a vomitar e "cagar" (diarréia) descontroladamente , quase como se Östlund quisesse nos dizer: "Ei, vocês endinheirados no cinema, vocês cagam igual a prole, ok, então parem com essa P%$#*@". É aquela coisa, não se achem, ou se portem como se vocês fossem a parte da "sociedade" que faz a máquina girar, a arte acontecer, o mundo ser essa vida cor de rosa que se quer vender nos outdoors da vida... olhem em volta que todos tem sua parte e todos estão no mesmo barco (meio metafórico não? Mas até aí o filme todo é assim).
No meio disso tudo ainda temos o Capitão e Dimitry (Woody Harrelson e Zlatko Buric), um marxista e o outro capitalista, e em uma sequência na sala de controles do barco, no microfone que leva voz ao barco inteiro, eles lêem e fazem sátiras marxistas e comunistas, uma vez que o Capitão Thomas está cansado de lidar com pessoas fúteis e sequer liga para elas... já Dimitry, pouco se importa com quem está a sua volta (como sua esposa) e está apenas interessado em suas posses, por mais ridículas que sejam, e isso fica nítido na cena na ilha quando encontra sua esposa e lhe tira suas joias.
Por falar na ilha,é só quando o iate é atacado por piratas (?) que saíram de sei lá daonde, que eles acabam aparando em uma ilha "deserta" (não é deserta), que a inversão de valores realmente acontece. Não do jeito que o público pensa, é um pouco mais sútil do que isso, mas o discurso ali é outro, ao invés de quem é empregado se torna dona da Zorra toda, e quem é endinheirado, se torna apenas um capataz.
Da forma como eu pude entender, a questão ali não era, a faxineira agora é a ban ban ban e o capitalista agora é a escória... ali trata-se mais de quem realmente consegue sobreviver no mundo capitalista e socialista de hoje em dia, onde o que é respeitado são as "coisas" que você conquista, e por coisas, me refiro a carros, joias, móveis, por aí vai, e posições sociais em forma de ofícios. Onde se respeita mais os panos que você veste, os lugares que frequenta, as bebidas que você experimenta, a educação que você recebe... enfim... tudo isso é conquistado graças ao capital, ao dinheiro, mas tire isto de qualquer pessoa do alto escalão, e o quanto ela terá êxito em se virar em uma "sociedade" que valoriza estas questões e deixa de lado aqueles que estão ali para servir os endinheirados e que de fato estão sobrevivendo, em uma ilha deserta disfarçada de mundo moderno.
Espero ter captado bem esse olhar que Östlund trouxe para seu longa, de uma forma mais abrangente, afinal, foi muito divertido acompanhar o filme, que possui um ritmo satisfatório. Östlund soube dar espaço e tempo de tela e texto para cada personagem do longa, para expor exatamente o que queria passar com o filme e com que cada personagem tinha a dizer e oferecer.
É muito mais comédia do que poderia ser, não tem medo de ser satírico sem pudor, sem escrachismo, faz você rir (ou os "bonitões" que estão representados no filme, entendeu) espontaneamente e de nervoso, não nervoso de bravo, nervoso de jogar certas coisas na cara, e por fazer parte da máquina, o espectador ri fingindo que não é com ele.
O elenco está afiadíssimo no filme e temos alguns rostos conhecidos, outros conhecidos só pra mim, e outras gratas surpresas;
Harris Dickinson (Veja Como Eles Correm, Um Lugar Bem Longe Daqui) faz Carl e está ótimo como sempre, eu o acho um atorzaço, muito desenvolto, e um jeito bem clássico de atuar.
Woody Harrelson, que dispensa apresentações está muito bem como o Capitão Thomas.
Vicki Berlin faz Paula, uma ótima atriz, gostei bastante dela.
Dolly DeLeon fez a faxineira Abigail, deu um show a parte no terceiro ato do filme na ilha, é uma ótima atriz, e por este trabalho foi indicada a Atriz Coadjuvante no Globo de Ouro, no BAFTA e no Satellite Awards.
Por fim, temos a triz Charlbi Dean Kriek, que fez Yaya, esteve ótima no filme, sensual demais na cena do iate de biquíni marrom, como no pôster do longa, acho que no primeiro ato ela teve mais roteiro para atuar, no terceiro ato acredito que a personagem dela não teve tanto protagonismo, ficou um pouco escondida, mas teve uma boa sequência nas cenas finais do longa.
Infelizmente, ela faleceu em Agosto de 2022, por conta de uma bactéria que atacou seu organismo, devido a um acidente anos atrás. Eu já a conhecia da série 'Raio Negro' da CW, personagem da DC Comics, e por lá ela fez a Syonide, que era braço direito do vilão Tobias Whale.
Uma perda muito triste, na época tinha ficado bem chateado ao ouvir do falecimento dela.
O longa de Östlund foi bem indicado nesta temporada de premiações:
-BAFTA para Melhor Elenco, Roteiro Original.
-Critics Choice Awards para Melhor Elenco.
-Satellite Awards para Melhor Filme Comédia/Musical, Roteiro Original.
-OSCAR para Melhor Filme, Direção (Ruben Östlund), Roteiro Original.
-CÉSAR, o Oscar Francês, para Filme Estrangeiro.
O longa levou inúmeros prêmios no Guldbagge Award e no Prêmio de Cinema Europeu.
Acredito que no Oscar, o longa de Östlund não deva levar nenhum dos 3 prêmios em que concorre, mas acredito que tem muita chance de levar o César de filme estrangeiro.
É um filmaço, é só o que posso dizer, entretenimento puro, diversão mais que garantida, merecidamente vencedor da Palma de Ouro.
E ainda possui um final em aberto, afinal você pode interpretar de várias formas...
Abgail pode, ou não, ter matado Yaya naquela cena final... e Carl pode tanto estar fugindo de Abgail, para não ter o mesmo fim de Yaya, como pode estar correndo para ajudar Yaya, temendo que Abgail faça algo ruim com ela. Ou até mesmo pode estar correndo para avisar o resto d pessoal que está na ilha, do ato de Abgail, que pode ter enlouquecido ou não.
(Assistido 14/02/2023 - Espaço Itaú Cinema)
Tár
3.7 395 Assista AgoraNa história do cinema temos personagens originais que se tornaram icônicos em seus filmes, como Forrest Gump, 'A Noiva', Jack Torrance, Hannibal Lecter, entre outros, que fazem e sempre farão parte da cultura pop. É muito difícil criar personagens originais que tenham tanta personalidade, força, que causem um sonoro impacto na obra que estrelam, e no imaginário do público, ao ponto de eles aceitarem que tal personagem foi mesmo uma pessoa real. Isso é para poucos, pouquíssimos, a lista é curta e os 4 acima fazem parte dela.
A verdade é que Lydia Tár, não passa nem perto desta lista seleta de personagens originais icônicos, isso é um fato, não será lembrada por anos e anos, não fará parte da cultura pop, não tem o mesmo peso de outros icônicos personagens...
Porém, o que Lydia Tár tem é presença, personalidade, força, serenidade, inquietação, transcendental, vários adjetivos que podem ser usados para evidenciar o tamanho que a personagem representa para a obra que ela estrela.
Afinal de contas, Lydia Tár vive em nosso mundo, segundo o longa, é claro, e Lydia Tár é gigante, é uma mulher sem igual, dona de inúmeros dotes e talentos, os mais variados prêmios, sejam acadêmicos, sejam dentro da música clássica, ou até mesmo o EGOT, que poucos artistas possuem em sua carreira.
'Tár' foi um filme desenvolvido por Todd Field (do ótimo 'Pecados Íntimos', indicado a 3 Oscars) durante a pandemia do Coronavírus, e ele mergulha fundo no universo da música clássica, jogando luz a invejável e incrível carreira da Compositora/Maestrina Lydia Tár, a mais famosa e bem sucedida do século XX.
Acredito que Field deva ser um ávido apreciador de orquestras, música clássica, regentes, para poder dedicar um filme tão rico em detalhes dentro deste universo, criando uma personagem que tem a regência na palma da mão como nenhum outro poderia ter.
A primeira hora de 'Tár' impressiona e muito, uma vez que o longa já começa fora do convencional... Field já abre o filme com os créditos da equipe que trabalhou no longa, o que seriam os 'créditos finais', já está ali na abertura (o que incomodou algumas inteli'J'entes na sala), para só depois de alguns minutos realmente começar o longa.
As duas sequências iniciais que vou exaltar, o começo, quando Lydia é entrevistada diante de uma grande plateia... ali o texto de Todd Field é 101% perfeito, soberbamente bem escrito, ele joga luz a todos os pequenos detalhes que faz da música clássica o que ela é, detalhando minimamente sobre arranjos, composições, inspirações, aspirações, o que ela significa no âmago da existência humana, e como ela mexe com as percepções humanas a ponto de transcender a linha tênue entre realidade e existência.
A conversa entre Lydia e o 'hoster' que comanda a entrevista, que visa divulgar seu vindouro livro de memórias, dura mais de 10 minutos, é deliciosamente prazerosa, Cate Blanchett está soberba e muito a vontade dando vida a Lydia, com aquele ar de soberba, escondida atrás de um certo nervosismo, quase como se estivesse nua, pois não estava à vontade regendo uma orquestra, e sim vulnerável aos olhos do público, dissecando e detalhando sobre um tema ao qual ela domina com maestria quando está numa sala lotada com uma orquestra à sua frente.
A segunda sequência se dá na aula que Lydia dá a alunos, onde um aluno em particular, super nervoso por estar na mesma sala que Lydia Tár, tem algumas pequenas visões diferentes de Lydia, pois não aceita trabalhos de compositores clássicos, gênios, por agirem de formas aos quais ele não aceita, dentro da sociedade atual, batendo de frente com Lydia, que tenta passar que a música em si, deve ser contemplada acima de qualquer questão trivial.
Toda esta sequência, que possui também um texto rico, detalhado, estudado e enaltecedor, foi filmado em apenas uma tomada... uma única tomada, e isso é perceptível ao acompanhar a cena, e principalmente na forma como Todd Field escolhe os ângulos da câmera, onde decide se posicionar para dar um plano amplo onde Lydia está mais próxima dos espectadores e mais afastada do palco e de seu aluno, ou onde ele foca mais na percepção dos alunos, desfocando um pouco a posição de Lydia que fica mais ao fundo da sala. Foi uma ideia perfeita de se filmar a cena, de enquadrar os personagens e como queria que isto fosse passado ao público, assim como também foi desafiador a escolha de apenas uma tomada para uma cena que leva minutos, e tem um texto tão rico e detalhado, e a margem de erro tem que estar no mais absoluto 0,00%.
Duas sequências magníficas que deixaram a primeira parte, ou a primeira hora do filme, com um charme sem igual, para nos evidenciar a persona de Lydia, um pouco de seu caráter, como o mundo a vê, e como ela se relaciona com a vida em si, sua família e seu trabalho.
O filme é ótimo, isso não dá para se negar, penso que Todd Field fez um roteiro muito inteligente, uma história muito sagaz, com muitas nuances, de uma personalidade que cai do seu trono, dada a sua soberba personalidade, de quem se imagina ser intocada.
Porém, eu confesso, que para minha experiência, o filme cai um pouco de ritmo e de propósito na sua 1h30 final.
Depois de construir toda a realidade que cerca Lydia, na primeira hora do filme, como uma espécie de massagem de ego da protagonista, Field começa lentamente, cena por cena, a nos mostrar a queda de Lydia, de uma artista intocável que todos idolatram e respeitam, para um ser humano que usa suas parceiras amorosas, possui segundos interesses com as mesmas, é obcecada em ter atenção daquelas com quem flerta, usa os mais próximos para seu próprio bem, além de ter uma personalidade destrutiva quando não está em completo poder dos acontecimentos que a cercam.
Lydia fica mau vista na mídia, com as pessoas que consomem seu trabalho, com as pessoas com quem ela trabalha, dentro e fora dos palcos, é assunto de escracho e deboche nas mídias sociais,e aos poucos começa a perder o controle que tem de sua vida pessoal e profissional.
A queda é tão grande, mas tão grande, que Lydia estava preparada para reger um de seus maiores desafios: uma gravação ao vivo da Sinfonia nº 5 de Gustav Mahler. Todo os ensaios são uma das partes centrais da metade do filme em diante, mas devido a queda de Lydia, o quanto ela perdeu o controle da própria vida e das próprias ações, Lydia perde o posto de regente deste trabalho, em um surto sem igual ao agredir o regente que a substitui, Eliot Kaplan (Mark Strong), diante de uma plateia lotada, e isso fez com que Lydia tivesse que recomeçar na Ásia, ou até mesmo, exercer seu trabalho por lá, uma vez que está totalmente manchada mundialmente, tendo que reger uma orquestra dentro de um parque de horrores. Isso que é uma Queda com 'Q' maiúsculo.
Essa queda que Todd Field nos mostra na 1h30 final de filme, de sua metade pro fim, realmente não conquistou o meu agrado, pessoalmente achei que destoou um pouco do que o filme poderia ser até o fim, ou da proposta em que ele se firmou em sua primeira hora inicial.
Todos os detalhes, conhecimentos e vislumbres que tivemos do universo da regência, da músicas clássica, do que estávamos aprendendo como leigos do assunto (tirando os que já estavam familiarizados), foi substituído por uma drama que ao meu ver, só acometia Lydia, que pouco se fez presente na realidade dos demais personagens... até mesmo de Sharon (Nina Hoss), que mesmo sendo afetada pela traição de Lydia, lidou muito bem com a situação apenas se separando da mesma. Era uma drama de uma via só, o mundo em volta de Lydia parecia normal e só ela que estava naquela crise existencial, e dentro dessa narrativa, todos aqueles detalhes e protagonismo da música clássica ficou em segundo plano.
Até as cenas em que Lydia regia a orquestra nos ensaios, ou tentava melhorar algum instrumento, ou o alcance do som de instrumento em específico, ficou em segundo plano, com cenas rapidamente cortadas, sem foco em sua regência e no número musical em si. Apenas alguns focos nos trejeitos mais furiosos de Cate regendo, o que era sensacional, de encher os olhos, obviamente, mas não tinha segmento, nem conclusão... e sim um corte abrupto, tudo para seguir com o drama que não respingava nos demais personagens.
O filme se perdeu um pouco pra mim a partir dessa virada no roteiro, achei que ele ficou menos elegante e mais comum, menos atrativo e mais trivial... continuou bom de se acompanhar, mas não era mais aquela sensação gostosa, de que fui pego de surpresa, se tornou apenas um acompanhamento da derrocada de Lydia, e tudo que tinha de interessante, diferente, fabuloso, foi deixado aos poucos de lado.
Conforme os filmes chegam ás salas ou streamings, fica cada vez mais difícil elogiar Cate Blanchett, pois, o que vou falar dela que já não foi falado... sobre a interpretação, vai acabar sendo mais do mesmo, afinal, quem não se lembra de toda sua entrega em 'Blue Jasmine', ou aquela pompa e elegância em 'Elisabeth', ou toda a sua desenvoltura, estudo e competência ao interpretar Bob Dylan em 'I'm Not There', ou toda sua elegância, criatividade e audácia ao fazer Hela em 'Thor Ragnarok'.
A entrega de Cate neste filme chegou a um nível novo, robusto, afinal, ela teve que reaprender a tocar piano, aprender a fala alemão, e o principal, a reger uma orquestra de verdade... inclusive suas cenas regendo a orquestra no longa, não são interpretação, ela realmente está regendo a orquestra, ela aprendeu a ser regente. Que mulher é essa! Ela é de outro mundo! Não á toa essa mulher possui 2 Oscar, 4 Globos, 3 SAG's e 4 BAFTA'S, e tem tudo para conquistar mais um Oscar e um SAG's nesta temporada de premiações.
No elenco de Tár ainda temos os já citados, Nina Hoss (Homeland), Noémie Merlant, Mark Strong (1917, Lanterna Verde), e um elenco gigante de músicos reais que compunham as orquestras do filme.
Houve muita controvérsia na indicação de Hildur Gudnadóttir (Coringa) para Melhor Trilha Sonora no Globo de Ouro e no Critics Choice Awards, e, se por um lado eu meio que entendo, pois ali temos muitas composições autorais, e praticamente nenhuma original, uma vez que a regência toma conta de boa parte da trilha do grosso do filme, a composição de Gudnadóttir ainda está lá... e não só está lá como uma de suas composições, que aparece já nos créditos finais, é surrealmente absurda, é ótima, é tão bem composta, tem tantos diferentes traços musicais, traços estes já característicos do trabalho de Gudnadóttir, que não tem como não levar em consideração suas músicas que compõem a constrição da película, e não o andamento do filme em si.
Eu a indicaria sem medo, não acho nenhum demérito, tanto que o Critics Choice Awards não teve rabo preso em premiá-la como melhor Trilha Sonora neste ano.
'Tár' foi um dos filmes nesta temporada de premiação que recebeu mais indicações nas mais diversas premiações de cinema:
-Globo de Ouro, Melhor Roteiro, Melhor Filme Drama, Melhor Atriz;
-Satellite Awards, Melhor Filme Drama, Melhor Atriz, Melhor Roteiro Original, Melhor Montagem;
-Critics Choice Awards, Melhor Filme, Melhor Atriz, Melhor Compositor, Melhor Roteiro Original, Melhor Diretor, Melhor Edição;
-Spirit Awards, Melhor Montagem, Melhor Diretor, Melhor Fotografia, Melhor Roteiro, Melhor Filme, Melhor Protagonista (Cate Blanchett), Melhor Coadjuvante (Nina Hoss);
-BAFTA, Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Atriz, Melhor Roteiro Original, Melhor Som;
-OSCAR, Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Atriz, Melhor Roteiro Original, Melhor Montagem, Melhor Fotografia;
E entre outras indicações em outras premiações.
Com relação a Prêmios, até o momento levou:
-2 Critics Awards para Cate Blanchett e Hildur Gudnadóttir, para Atriz e Compositor;
-1 Globo de Ouro para Atriz Drama para Cate Blanchett;
-1 BAFTA de melhor Atriz para Cate Blanchett;
-1 Gotham Awards de Melhor Filme;
-1 Volpi Cup do Festival de Veneza de Melhor Atriz para Cate Blanchett;
Com Blanchett vencendo tudo até o momento, ela é a grande favorita para levar o SAG's Awards semana que vem, e o Oscar em Março. Mesmo tendo achado o trabalho de Blanchett soberbo, a minha torcida ainda irá em Michelle Yeoh, que está estupenda em 'Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo'.
Mesmo eu apontando os pontos que me incomodaram um pouco no filme, se comparar com os dois filmes anteriores de Todd Field, 'Pecados Íntimos' e 'Entre Quatro Paredes', este filme de Field é com certeza o melhor de sua carreira, pois ele é grandioso em todos os pontos, do roteiro, ao som, das interpretações, ai tema do longa, à forma de dirigir, de como posicionar a câmera, enfim... querendo ou não, um filmaço dentro do que Todd Field geralmente entrega.
(Assistido 10/02/2023 - Espaço Itaú de Cinema Frei Caneca)
Till: A Busca por Justiça
3.7 66 Assista AgoraTemos inúmeros filmes que retratam, seja em ficção, seja em fatos reais, as violências, as covardias e as humilhações que as pessoas negras sofreram e sofrem ao longo dos tempos. E muitos desses casos são famosos, como os 5 do Central Park, Martin Luther King, George Floyd, as vítimas de Jeffrey Dahmer, e por aí vai.
Este é um dos casos que aconteceram no sul segregacionista dos EUA, na década de 1950, no Mississipi, onde naquela época, por aquelas bandas americanas, o branco tinha seu lugar e sua posição, e o negro tinha seu lugar e sua posição, não podiam se misturar, não eram permitidos se misturar, o racismo era aberto, exposto, livre, não era crime, não era pecado, fazia parte da sociedade, estava enraizado na sociedade (ainda está até hoje... no mundo!), e não importa se por algum acaso o negro estivesse certo, com a razão, ou tinha um ponto, se um branco falou o oposto, e afirmasse que o negro o deixou desconfortável, a palavra do negro sequer seria escutada, e o negro seria linchado, agredido, seria colocado em seu devido lugar. Nenhuma polícia poderia, ou, iria interferir... afinal, era comum.
O filme 'TILL' conta a história de Mamie Til e seu filho Emmett 'Bobo' Till, quando Bobo vai até Mississipi visitar seus primos, uma vez que ele é de Chicago, cidade diferente, costumes diferentes, educação diferente, tolerância diferente... Bobo se comporta do seu jeito, mais despojado, boêmio, convencido, sem saber como é o dia a dia no sul do país. Em uma parada com os primos em um estabelecimento, Bobo elogia a atendente, branca, que obviamente não gosta do atrevimento do 'negrinho'. Por conta de seu ato, Bobo paga com a vida, uma vez que a moça branca conta o acontecido à seus familiares, e então dois homens brancos invadem a casa dos pais dos primos de Bobo, e o levam a força, o amarram a uma árvore ou algo assim e o agridem, o lincham com paus e ferros, amarram arame farpado ao redor de seu pescoço, e depois de levar tantos e severos golpes, seu corpo é jogado no rio.
Á época, Mamie, mãe de Bobo, resolveu mostrar o estado do corpo de Bobo ao país, realizou um funeral com caixão aberto, todos puderam ver o estado do corpo de Bobo depois das agressões. Com uma maquiagem pesadíssima no ator Jalyn Hall, podemos ter uma ideia de como ficou o corpo do garoto, inchado, roxo, hematomas saltitantes, desfiguramento, algo que deveria levar qualquer mãe á depressão ou ao suicídio, ou até mesmo à completa loucura.
Hoje em dia, casos hediondos contra os negros ainda acontecem, todos os dias, em todas as partes do mundo, e é claro, única e exclusivamente pelo tom de pele, pelo diferente, pela não encaixamento ao padrão, e vermos um filme como 'Till' que foca em um acontecimento tão hediondo, nos evidencia que de lá para cá, pouca coisa mudou.
Se antes era normal, parte da sociedade, sequer era crime... hoje está mascarado atrás de ideias políticas, posições conservadoras, desvios de caráter, e a já famosa não aceitação ao padrão exigido pela sociedade como um todo.
'Till', apesar de ser um filme com uma discussão forte e pouco apelativo, acaba sendo um filme que apenas entrega o que se propõe, contar a história de Mamie, pois o filme se passa sob a perspectiva dela, e pouco se preocupa em se aprofudar no debate social da época, o quanto isso ainda é gritante nos dias de hoje, e em como a sociedade e os líderes políticos da época lidaram e responderam ao caso.
O filme foca na dor e na força de Mamie, de perder o filho de forma tão brutal e em como se reergueu para lutar contra esse tipo de violência por toda a América, e exigir responsabilidade criminal para futuros assassinos racistas que até então não eram penalizados e nem responsabilizados pelos seus atos naqueles tempos.
É um ótimo filme, com um bom ritmo, que elucida bem os fatos e os desdobramentos, apesar de falhar aqui e acolá em dar mais atenção em algumas sequências da trama, certas passagens são evidenciadas no longa, mas não são detalhadas e concluídas, apenas são levantadas, para se fazer parte do contexto do que está sendo contado, e depois é largado para se avançar no segmento do roteiro. Nada que estrague a experiência de se acompanhar o longa, como não estragou nada para mim, mas é algo para ser notado, uma vez que seria interessante se aprofundar em algumas cenas mais intimistas, que envolviam Mamie e seu atual namorado, ou até mesmo Mamie e sua mãe Alma Carthan.
A grande força mesmo do filme, vem da interpretação monumental de Danielle Deadwyler, que está uma força da natureza em cena. Ela traz consigo uma carga emocional de drama tão gigantesca, tão enorme, tão nítida, que é impossível você não sentir a dor que Mamie está sentindo... na verdade, todos os sentimentos que Mamie tem durante o filme, você experimenta pela interpretação de Danielle, é como se você estivesse de mãos dadas a ela o filme todo. Te pega de uma forma meio inexplicável, e isso é algo que poucos atores e atrizes conseguem passar em cena, e Danielle foi muito feliz em captar isso do texto e trazer para as cenas de uma forma tão genuína, que transplantasse as telas e parasse no interior de cada pessoa que estivesse assistindo ao longa.
Por conta de seu incrível trabalho, Danielle Deadwyler foi indicada a Melhor Atriz no Critics Choice Awards, SAG's Awards, BAFTA, Satellite Awards, e na NAACP, a Associação Nacional Para o Progresso de Pessoas de Cor. Por enquanto, Cate Blanchett levou o prêmio no Critics Choice, mas Danielle tem chances nas demais premiações, mesmo concorrendo com nomes de peso como Michelle Yeoh, Viola Davis e outras.
Jalyn Hall fez Bobo, e ele atuou muito bem, uma ótima revelação deste ano, tem carisma, sabe se portar diante da câmera com muita leveza e gingado, se assim posso dizer, se mostrou versátil, dançando, proclamando, e dando pequenos traços de comédia ao seu personagem.
Jalyn foi indicado ao Critics Choice Awards na categoria Melhor Jovem Ator/Atriz, perdendo para Gabriel Labelle.
O longa ainda conta com Whoopi Goldberg, que dispensa comentários, que interpretou Alma Carthan, mãe de Mamie e avó de Bobo, e também foi produtora do longa. Além de Sean Patrick Thomas, John Douglas Thompson e Haley Bennett.
Dirigido, produzido e escrito por Chinonye Chukwu, 'Till' ainda foi indicado em outras categorias nesta temporada de premiações;
- No Satellite Awards, concorre a Melhor Filme de Drama;
- No NAACP, concorre a Melhor Filme, Melhor Diretor, Ator Coadjuvante (Jalyn Hall), Melhor Elenco, Melhor Atuação de Estreia (Jalyn Hall) e Melhor Penteado.
Não tem como finalizar sem mencionar a incrível ESNOBADA que o Oscar deu em Danielle Deadwyler, por não indicá-la a Melhor Atriz, isso mostra que toda aquele movimento do 'Oscars So White' de nada adiantou, afinal, mesmo tendo premiado atores negros nos últimos anos, como Mahershalla Ali e Daniel Kalluya, essas performances foram tão fortes, tão impactantes,e tão reais, que seria impossível não lembrá-las e como foi o caso, posteriormente premiá-las...
Mas ao não indicar Danielle, que foi um dos grandes destaques femininos do ano passado em longa metragem, mostra que a Academia acaba privilegiando nomes já conhecidos e carimbados de Hollywood (Michelle Williams) e cedendo a campanhas fortes e que atingem grande parte do corpo votante, como foi o caso de Andrea Riseborough.
A mim, não cabe dizer quem merecia ou não merecia estar indicada no lugar de Deadwyler, mas fica evidente que a indicação de Williams, se dá mais pela divulgação e afago dos colegas hollywoodianos, ao longa de Spielberg, do que merecimento em si. Michelle tem trabalhos muito melhores que 'The Fabelmans', e nem ela e nem Paul Dano, trazem uma atuação acima da média, entregam o que se espera do talento deles como artistas.
Mas Deadwyler esteve incrível neste longa, e sua não indicação mostra a predileção do corpo da Academia a nomes já carimbados, um afago, quase como um "Não preciso assistir filmes como 'Till', ou 'A Mulher Rei'".
E não se esqueçam... os membros votantes da Academia, são nada mais nada menos, que os próprios atores, diretores, produtores, compositores, cinematografistas, e demais profissionais que todos somos fãs e assistimos ano após ano.
O problema está na própria indústria cinematográfica Holywoodiana.
(Assistido 09/02/2023 - Espaço Itaú de Cinema Frei Caneca)
Arremessando Alto
3.7 284 Assista AgoraTodo mundo conhece Adam Sandler, e no caso já assistiu pelo menos 1 filme dele na vida... e filme com ele que fez sucesso comercial não falta: 'Espanglês', 'Afinado no Amor', 'Little Nicky', 'O Paizão', 'Click', 'Gente Grande', 'Como Se Fosse a Primeira Vez', 'Esposa de Mentirinha', 'Trocando os Pés', 'Ridiculous 6', 'Joias Brutas', etc, etc...
Passei boa parte da adolescência e começo de vida adulta consumindo os filmes de Adam Sandler (assim como de outros comediantes, Ben Stiller, Jim Carrey, Steve Martin), e tirando Ridiculous 6 e Joias Brutas que ainda não conferi, posso dizer com certeza que este é o filme de melhor interpretação de Adam Sandler de longe (falta Joias Brutas, tô devendo).
O filme 'Hustle', 'Arremessando Alto' aqui no Brasil, até então tem uma premissa simples, onde temos um olheiro de jogadores de Basquete, que trabalha para o time da NBA Philladelphia 76ers, que está cansado de passar meses e meses longe da família, viajando para todo canto do globo atrás de um novo prodígio que rá arrebentar na principal liga de basquete norte americana, claro no time onde trabalha, o 76ers. Depois de bater de frente com o novo dono do clube, que acabou de perder o pai que era o dono do clube, Stanley (Adam Sandler) pede demissão, e passa a apostar tudo em um jovem que descobriu na Espanha chamado Bo Cruz (Juancho Hernangómez), e fará todos os sacrifícios para o garoto conseguir entrar no Draft, que é a peneira para novos jovens jogadores da NBA.
Ou seja, o filme é para amantes de Basquete, e principalmente da Liga Nacional de Basquete, a NBA, pois temos todos os detalhes do mundo da NBA presentes no filme, temos jogadas, fintas, linguagem, tudo relacionado ao mundo do Basquetebol, e para isso ser bem feito e não decepcionar os amantes de Basquete que irão acompanhar o longa, ele é produzido por nada mais nada menos que LeBron James, atual jogador do Los Angeles Lakers, um dos grandes craques da história da NBA, tendo Adam Sandler também na produção, uma vez que Sandler também é fã da NBA.
Todos os grandes nomes que fazem a NBA acontecer estão no filme, desde jogadores, técnicos, passando por dirigentes e lendas da NBA. O final do filme entrega todas as participações, citando um por um, naquela cena durante os créditos... alguns deles eu conheço, impossível não reconhecer, já outros eu realmente não tinha ideia de quem eram e de quer faziam parte da NBA.
Apesar de reconhecer os rostos mais clássicos, sempre tive pouco contato com NBA, acompanhei mesmo mais durante o fim dos anos 90 e começo dos anos 2000. Hoje em dia mesmo eu mal vejo, estou por fora dos jogadores, mas conheço todos os times, inclusive os novatos.
Mas foi muito bom ver um filme dentro dessa temática que foi os bastidores da NBA, de como se corre atrás do próximo grande astro. O filme possui um ritmo muito bom, consegue mesmo prender sua atenção, em pouco tempo você está imerso naquele universo, e se pega realmente torcendo pelos personagens. É claro, faltou ali dar uma atenção aqui e acolá em algumas cenas do longa, que possuem um corte de edição abrupto demais, como se só quisesse dar uma pincelada no determinado acontecimento.
Quem protagoniza o longa junto de Adam Sandler é Juanchito Hernángomes, que faz Bo Cruz, o jovem talento que Stanley está apostando para o Draft da NBA. Juanchito não é ator, ele é nada mais, nada menos que jogador de basquete profissional, e atualmente se não me engane, atua pelo Toronto Raptors, depois de ter sido dispensado pelo Utah Jazz
Juanchito tem poucas falas no filme, parece muito desajustado, desleixado, mas é só o jeito dele, que acabou sendo uma espécie de carisma de Bo Cruz no filme. O quão legal é ter um jogadores mesmo de Basquete, como protagonista do filme, interpretando um personagem fictício, mas que possui familiaridades com sua vida pessoal e/ou profissional. Ponto para os produtores do filme, LeBron James, Adam Sandler e Allen Covert, por fazerem essa ideia funcionar tão bem no longa.
O filme ainda conta no elenco com Queen Latifah, que dispensa comentários, é claro, que faz a esposa de Adam Sandler.
Temos também Ben Foster (X-Men O Confronto Final), que faz Vince Merrick, filho do dono do 76ers que falece, e herda a posição do pai, mas possui uma rixa, com Stanley.
Robert Duvall é outro que dispensa apresentações, e esse monstro da atuação faz Rex Merrick, dono do 76ers, que bate as botas no começo do filme.
A trilha sonora do filme é calcado no Hip Hop e Rap americano e traz grandes bandas e rappers como The Roots, Eve, Too $hort, entre outros.
Dirigido por Jeremiah Zagar, 'Hustle' tem aquele roteiro vem clichê, onde o protagonista conhece alguém prodígio, e ele resolve bancar o prodígio para que ele seja o novo campeão, e pra chegar no objetivo haverá muito treino, muito suor, algumas complicações, o prodígio irá quase desistir, mas persistirá e no fim tudo dará certo.
Ou seja, aquele roteiro batidão dos anos 90 de filmes da 'sessão da tarde', tão óbvios pro grande público, mas que neste longa, foi muito bem arquitetado, bem conduzido, segue um ritmo ótimo, que envolve o espectador, que engloba muito bem o universo da NBA, e que de uma certa maneira conversa com o público, vai cativar quem assiste, faz com que o espectador se importe com os personagens, com a história que é contada... realmente fizeram a magia ali acontecer.
Porém, mais uma vez ressalto... o filme tende a conversar mais com quem goste de esportes e principalmente de Basquete e/ou NBA. Espectadores mais casuais, podem ter dificuldades de gostar do longa por tratar de um tema que pouco lhes agrade.
'Hustle' teve indicações para Adam Sandler em duas premiações neste ano.
No Satellite Awards concorre a Melhor Ator Comédia/Musical;
E no SAG's Awards, concorre a Melhor Ator.
Acho bem justo nas duas premiaçoes, reconhecendo o trabalho de Sandler agora em filme mais sérios, ou que exigem um pouco mais dele do que apenas comédias, como é o caso deste filme. Acho difícil ele bater nomes como Austin Butler ou Brendan Fraser, mas vale muito a lembrança, o reconhecimento.
Adam levou um prêmio do People's Choice Awards de Estrela do ano em Comédia, por este filme, e devo dizer que foi um reconhecimento e tanto pela sua interpretação, e para o longa em si.
(Assistido em 08/02/2023 - Netflix)
RRR: Revolta, Rebelião, Revolução
4.1 322 Assista AgoraESTE FILME É UMA OBRA PRIMA!!!!!!!!!
Não sabia como começar a escrever sobre este filme, a experiência foi tão surreal, tão avassaladora, tão única, que meio que fiquei sem argumentos práticos pra iniciar falando sobre ele, então já fui logo descrevendo o que eu penso dele... e olha que de uns 4 anos para cá, pra eu dar obra prima para um filme, tem que ser "O" filme.
Primeiro preciso ressaltar aqui que 'RRR (Revolta, Rebelião, Revolução)' apesar de ser um filme indiano, não é um filme de Bollywood, e sim de Tollywood.
Bollywood é a indústria de filmes indiana que produz em média 1200 filmes, e é o principal portão de exportação de seu nome para fora da Índia, assim como para dentro também, obviamente.
Já Tollywood produz em média uns 300 filmes, e é a indústria de cinema com filmes falado em Telegu, um idioma do sul da índia, e em Bengali com sede em Tollygunge. Esse idioma, Telegu, é o falado no filme de S. S. Rajamouli.
'RRR' é maravilhosamente maravilhoso, estupendo, grandioso, Cinema com C maiúsculo, com ares da moda antiga lembrando muito a velha Hollywood dos anos 50 e 60, com seus mega filmes grandiosos como Cleopatra e Ben-Hur. Aliás, consegui enxergar uma coisinha ou outra de Ben-Hur neste longa.
Rajamouli criou um filme onde tudo acontece o tempo todo e ao mesmo tempo (não tem como não parafrasear o filme dos Daniel), é um filme de ação, ao mesmo tempo que é um filme dramático, ao mesmo tempo que é um filme de comédia, e também é um filme de amizade, também beira a uma dramalhão mexicano, é um blockbuster, tem também o seu momento Marvel Studios, é um musical, é um romance... meu Deeeeeus Rajamouli, como você conseguiu colocar uns 11 estilos de filme diferentes em um só filme e fazer dar certo, sem errar, sem cansar o público, sem deixá-lo chato ou arrastado... são três horas e cinco de duração e em nenhum momento o filme é arrastado, ou cansativo, você ma vê a hora passar.
A história é fictícia, e se passa na década de 1920 durante o domínio imperial britânico na Índia, que foi um evento real... Ali existe uma tribo, Gondi, e eles tiveram uma de suas meninas, Malli, levada pelo Governador britânico Scott Buxton e sua esposa Catherine, que depois de vê-la cantar, a compra e a leva dos Gondi, sem o entendimento deles.
Após levá-la e agredir quase fatalmente a mãe de Malli, a tribo recorre ao seu líder, Bheem, para que ele recupere a garotinha para a tribo. Sabendo da intenção e investida do líder da tribo Gondi em recuperar a garota, a esposa do Governador põe uma recompensa para quem capturá-lo, e aí entra em cena um oficial Indiano chamado Raju, muito astuto e obstinado, ele fará de tudo para capturar o Líder dos Gondi, afim de receber a recompensa, um cargo especial na guarda britânica.
A cena inicial já impressiona pela violência acometida na mãe de Malli, mas em seguida temos as cenas de apresentações dos dois protagonistas... Bheem e Raju (N.T Rama Rao Jr. e Ram Sharam, respectivamente).
As duas cenas são de tirar o fôlego, sendo que Bheem luta contra um lobo e um tigre, e Raju luta contra uma multidão de protestantes, imensa e ele adentra o meio dela sozinho, para trazer um indivíduo que tacou pedra na residência oficial dos Britâncios na ìndia;
Se Bheem não estiver para o Hulk da Marvel, então ele está mais para o Fanático, imparável, porque vai ser forte e imparável assim na Índia... o cara é ridículo, tem fôlego pra caramba, tem força aonde não tem mais, e encara um tigre frente a frente, sem tremer um músculo.
Já Raju, está mais para o Capitão América, uma espécie de Capitão Índia... pois ele é deveras atlético, tem muitos movimentos que quase nenhum ser humano conseguiria realizar, leva vários golpes na cabeça mas se levanta, é rápido, é ágil, é disciplinado, e também possui um 'q' de Fanático, pois nesta cena ele é imparável.
Rajamouli, o diretor do filme, criou uma história de Amor, Amizade, Rivalidade, Ação e Drama, que muita gente pode assemelhá-lo ao clichê, algo como "ah, mas já vi isso sem outros filmes, e até em novelas'. Mas o trunfo da trama de Rajamouli está na carisma dos personagens, na honestidade deles, em como eles representam aquilo que eles defendem, está na riqueza do texto, no peso dramático das falas, e no amálgama das cenas... muitos gêneros de filmes dentro de um filme só, espalhado por várias sequências.
Um dos gêneros aqui, que mais se saiu melhor, o mais bem inserido, e um dos trunfos culturais do cinema indiano, é o musical. O filme tem muita sequencias musicais, algumas dessas sequências, uma em particular, nem esperava ver um número musical ali inserido, e não só foi inserido como funciona muito bem pro filme, pro texto e pras motivações dos personagens, principalmente de Raju.
Fora isso, temos um pouco de dramalhão mexicano, visivelmente em várias partes do texto e das cenas. Temos muita ação neste filme, cenas de dar inveja gigantesca em Tom Cruise e suas cenas impossíveis nos filmes de Ethan Hunt.
As sequências de ação deste filme é de tirar o fôlego, algumas delas beiram o Velozes & Furiosos, de tão impossíveis que os atos parecem, mas funcionam.
Por falar em funcionar, temos cenas no filme totalmente inspiradas em filmes da Marvel, são coreografias, rodopios, e salvamentos de crianças em perigo, que são o mais puro jeito Marvel de engrandecer um super-herói... e aqui, tanto Bheem quanto Raju, são retratados como tal, por seus povos,e são retaliados como tal pelo governo britânico.
Sem falar que tanto Bheem quanto Raju, são dois brutamontes, os caras são muito musculosos, e muito ágeis, o filmes os retrata com força descomunal, eles quebram concreto como se fosse madeira, é impressionante... é como se o Colossus e Hércules tivessem um filho... seriam esses dois.
Tudo é muito grandioso no filme, as cenas de ação são de tirar o fôlego, e elas são, ora nível Vingadores, ora nível Missão Impossível, ora nível Furiosos... é claro, você vai ver bem perceptível uns cromaquis aqui e acolá... mas dá pra aliviar tranquilo, pois é tudo tão 'porrada na cara' que você vai rir de surpresa, vai adorar ver todas as incríveis coreografias presentes nas cenas.
Por falara nas coreografias, acho que são as melhores que vi no últimos anos em um filme, tudo muito bem entrosado, bem calculado, e não só nas cenas de luta do filme, mas também nas cenas onde Bheem e Raju salvam um garoto, quando Bheem está fugindo do tigre na floresta, e claro, a incrível cena onde Raju entra no meio de um mar de gente que quer invadir o palácio britânico na Índia, um tumulto que está acontecendo, e no meio daquele mar imenso de gente, Raju vai buscar apenas 1 homem, e ele luta contra centenas para chegar nesse indivíduo, e tudo foi coreografado muito bem, minimamente detalhado, e o resultado final é de encher os olhos.
O filme todo é espetáculo a parte, afinal o cinema indiano por si só, já tem sua personalidade, acredito que o mais famoso deles seja 'Sllumdog Millionare' que venceu o Oscar de Melhor Filme, e ali mostra um traço de como o cinema indiano é filmado e apresentado nas telas.
Aqui, Rajamouli conta um história que envolve duas tribos que se entrelaçam, com seus líderes sendo homens fora do comum, capaz de realizar grandes atos, pois eles obtém muita determinação (citação a Undertale) e serão capazes de tudo para conquistarem seus objetivos. E, no meio dessa jornada, os dois acabam formando uma amizade improvável, sem saber que os dois são destinados a serem inimigos, cada um defendendo e lutando pelo seu, mas que no fundo são iguais, em caráter, em bom senso, em determinação, em força, em moral, em tudo.
Então, Rajamouli mistura, ação e aventura, com drama, comédia, musical, tudo dentro do jeito indiano de fazer cinema, e o resultado final é de cair o queixo, são por volta de 3 horas de um filme que passa voando, tamanho é o entretenimento entregue por Rajamouli e elenco, sem cansar o espectador, sem apelar para narrativas batidas... apenas o roteiro que se entrelaça na hora certa, e desvia para prólogos contextuais, sem nos fazer perder o fio da história principal, entrando no momento certo do longa.
Agora, preciso comentar... o que foi toda aquela sequência da canção 'Naatu Naatu?
Meu Deus :D... que coisa mais sensacional, é incrível, e aí já volto na coreografia, o que foi aquilo... os dois atores, N .T Rama Rao Jr. e Ram Charan mandaram bem demais, são muito versáteis, além de terem feito uma atuação surreal, transitando entre o drama e a comédia, são dançarinos impecáveis. Esses são artistas com 'A' maiúsculo, atuam e dançam, entregam tudo em cena, e eu respeito demais artista assim, versátil até dizer chega.
Mas voltando a Naatu Naatu, que apresentação, que batalha de dança, que rapidez ao fazer os movimentos, e a música é completamente contagiante envolta no ritmo indiano, e no meio desta cena de dança, temos os adversários de Bheem e Raju desafiando-os e entrando na dança também, e conseguem fazer os passos direitinho, ou seja, todo mundo se doou bastante para fazer este número sair 100% perfeito. Que Cena!!!
Tem que se exaltar também o figurino do longa, todos remetendo a época em que o filme se passa, tanto os trajes das tribos de Raju e Bheem, quanto aos trajes oficiais das forças britânicas, essas sim ficaram perfeitas com detalhes milimétricos, realmente um trabalho primoroso e cuidadoso.
Esse épico indiano dirigido e roteirizado por S. S. Rajamouli, recebeu algumas indicações nesta temporada de premiações, mas foram poucas para o que o filme merece, na minha opinião:
- No Globo de Ouro, indicado a Filme Estrangeiro, perdendo para 'Argentina, 1985';
- No Critics Choice Awards, indicado a Melhor Filme, perdendo para 'Tudo em Todo Lugar ao mesmo Tempo', Melhor Diretor perdendo para 'os Daniel', Melhor Efeitos Visuais perdendo para 'Avatar 2'.
- No Satellite Awards está indicado para Melhor Filme Comédia/Musical, Melhor Som, Melhor Efeitos Visuais, Melhor Direção de arte e Melhor Canção Original por 'Naatu, Naatu'.
- No Oscar, também levou indicação para Melhor Canção Original por Naat, Naatu'.
Com relação a prêmios, por enquanto 'RRR' levou o prêmio de Filme Estrangeiro no Critics Choice Awards, muito merecido, é claro, além de levar Melhor Canção Original por 'Naatu, Naatu'.
Ganhou o Globo de Ouro, também na categoria de Melhor Canção Original por 'Naatu, Naatu'.
Também levou o prêmio de Melhor Diretor para Rajamouli no New York Film Circle Critic Awards, além de um prêmio honorário no vindouro Satellite Awards.
Poucas indicações e poucos prêmios para uma Obra-Prima do cinema indiano, e do cinema atual... o longa teve duas ausências bem sentidas em duas grandes premiações.
No BAFTA, esteve pré-indicado na categoria de Filme em Língua Não Inglesa, mas obviamente não levou a indicação final na premiação, e isso se explica justamente por, no filme, o exército britânico, as forças britânicas, serem representados como inimigos, como forças opressoras, como uma força que queria apenas impor sua vontade, e oprimia os indianos em determinadas regiões. Claro, isso era verídico, não tem como deturpar essa realidade para fazê-los parecerem mocinhos, ou mal interpretados. Logo, a Academia Britânica de Cinema não iria lembrar, enaltecer, muito menos premiar um longa que claramente pinta os britânicos de vilões, inimigos, opressores. Neste caso, eu entendo o fato de 'RRR' ser esnobado. OK.
Porém, no Oscar, o filme não foi indicado a Melhor Filme Internacional, e sequer foi pré-indicado na categoria, recebendo apenas a indicação a Melhor Canção por 'Naatu, Naatu'. Mas aí, não foi esnobada do Oscar, pois tem uma explicação... a Índia simplesmente escolheu outro filme para representar o país no Oscar, o filme 'The Last Film Show' que acabou não sendo indicado. O porquê da Índia não apostar em 'RRR', não sei, vou ficar devendo... mas foi uma tremenda mancada com total certeza.
Mais nada tenho a dizer, já disse tudo simplificado na frase que abre esta resenha...
Uma OBRA-PRIMA... sem mais!
Meu favorito para levar Melhor Filme Comédia/Musical no Satellite Awards, vou torcer bastante para coroar como merece este longa estupendo de Rajamouli. Mas como o próprio disse: "Ser elogiado por Steven Spielberg é o melhor prêmio que eu poderia receber". E que elogio... foram mais de 5 minutos de Steven destrinchando o filme nos ouvidos de Rajamouli.
(Assistido 05/02/2023 - Netflix)
Holy Spider
4.0 120 Assista AgoraOs filmes estrangeiros sempre são os mais interessantes de se acompanhar, sempre tenho ótimas surpresas e conheço produções de altíssimo nível, e/ou de roteiro acima da média.
Pois novamente sou surpreendido positivamente com esta produção que é uma parceria entre Alemanha, Dinamarca. França e Suécia, dirigido, roteirizado e produzido por Ali Absasi e conta a história verídica de um assassino em série que deu cabo de 16 mulheres que trabalhavam como profissionais do sexo na cidade de Masshad, no Irã, e ficou conhecido como o 'Assassino de Aranhas', o Spider Killer, onde ele acreditava estar em uma missão divina em nome de Deus, para purificar as ruas da cidade de mulheres impuras e que sujavam a sociedade iraniana.
'Holy Spider' foi lançado em 22 de Maio de 2022, no Festival de Cannes e foi aplaudido pelo público por sete minutos, e também foi o representante da Dinamarca a filme Internacional no Oscar deste ano, não conseguindo uma indicação.
Impactante. Forte. Indigesto. Sufocante. Intragável. Revoltante. Nojento. Provocante. Ácido. Este são alguns exemplos que posso usar para descrever o filme, pois ele é um filme que não se limita em suas cenas, entrega o que precisa ser entregue para nos contar o que precisa ser contado, e evidencia o que precisamos entender de seu contexto.
Seus primeiros minutos, são um prólogo, que brilhantemente antecede a abertura com o título do filme, em uma tomada de plano aberto abrangendo a cidade de Masshad à noite. (Eu ainda falei comigo mesmo, bem que agora poderia aparecer o título do filme como abertura do longa...e BUM, apareceu).
Estes primeiros minutos, uma longa sequência mostrando Somayeh (Alice Rahimi), uma mulher profissional das ruas, contextualiza uma noite sua de trabalho, onde deixa sua família dormindo em casa, e sai para sua esquina diária onde trabalha... é aí que o filme já dá um tapa na cara do espectador, nos mostrando que Somayeh, assim como outras profissionais, de droga para fazer o seu serviço, e encontra clientes que a penetram com selvageria e palavras de baixo calão, não possuem empatia nem quando ela usa o banheiro, após a relação que tiveram... e ainda a mostra fazendo um sexo oral em outro cliente, que não lhe paga adequadamente porque ele não gozou, pois a polícia estava próximo do carro onde eles realizam o ato. Contexto sobre uma noite de trabalho de uma mulher do sexo.
Logo após ela acaba se tornando mais uma vítima do 'Spider Killer', o cidadão Saeed Hanaei (Mehdi Bajestani), que dá cabo de sua vida usando seu próprio lenço que cobre seu rosto, para estrangulá-la usando sua força bruta, em uma cena angustiante, lacerante, visceral, que fará você se revirar e se inquietar na cadeira do cinema ou no sofá de casa. Os olhos de Somayeh esbugalhados e vermelhos, a boca já sem respiração, a forma como ela simula a falta de ar aos poucos, é tudo tão impactante, uma atuação de morte da atriz Alice Rahimi impecável, e já nos impressiona, pois dava como certo que ela seria uma das protagonistas do longa.
Porém, após a abertura, já nos é apresentado Rahimi, interpretada por Zar Amir Ebrahimi, uma jornalista que chega em Masshad para investigar os assassinatos e fazer uma reportagem sobre o serial killer.
A partir daí, o filme deixa de impressionar no quesito sexo, como na abertura, para focar em como Rahimi está focada em trazer esse assassino á luz do dia, e aos olhos do povo iraniano, com a ajuda de Sharifi (Arash Ashtiani) que trabalha no jornal local, e recebe ligações do serial killer, cada vez que ele comete um novo crime.
As mortes impactante continuam, no mesmo tom de Somayeh, porém, uma das mortes, a de Zinab (Sara Fazilat), dá um novo impacto, pois ela não usa o lenço que as demais mulheres usam... então Saeed precisa improvisar, e a cena em questão, também impacta, revolta e angustia, fazendo você se inquietar novamente.
O filme é excelente pelo fato de não usar freio de mão, ostra o que tem que ser mostrado sem pudor, toca nos assuntos delicados sem se preocupar se o estado islâmico irá se ofender ou não.
Possui uma ótima direção de Ali Abbasi, que foi cirúrgico nas cenas mais impactantes do longa e incisivo nas cenas delicadas onde se envolve a opinião pública do povo iraniano ao Serial Killer, e em como o governo e a polícia se comportou perante o caso, que levou em torno de 1 ano para ser solucionado, e quem assistiu o longa, sabe quem solucionou de verdade, pois era muito vantajoso para eles ter um cidadão limpando as ruas e fazendo o trabalho que a polícia não precisava fazer.
O roteiro de Abbasi foi muito bem escrito e pincelado, eu gostei bastante... Abassi não se preocupa em tomar um lado, ele está preocupado em contar o caso, apresentar os fatos, mostrar o empenho de Rahimi em descobrir quem é o assassino e consequentemente prendê-lo. Mostrar como o povo ficou dividido, entre aqueles que o queriam preso porque temiam por suas filhas, adolescentes e pequenas, e aqueles que acham que Saeed era um herói e fez um trabalho digno em ar cabo daquelas mulheres 'imorais'. Mostrar também como era a rotina de Saaed, sua família, esposa e filhos, como eles o viam, o que eles pensavam quando descobriram o trabalho que Saeed praticava nas ruas, o que se passava na cabeça de Saeed, o prazer que tinha em tirar a vida dessas mulheres, e o quanto isto estava desestabilizando-o emocionalmente e mentalmente, muito também pelo fardo de não ter se tornado um mártir para seu povo, depois da guerra.
Sabemos que Saeed era um monstro, um nojento, uma vida que não deveria caminhar na terra, mas Abbasi também focou em como ele tinha uma relação amorosa, dentro de um certo contexto, com sua família... seus filhos, um rapazinho de uns 14 anos, e uma garotinha, e sua amorosa e dedicada esposa, a quem ele tinha muito apreço.
Dá aquela impressão que Abbasi quer humanizar o Serial Killer, que ele tinha um certo senso moral em sua missão divina. Mas a verdade é que ele não tentou humanizar ninguém, pois ai ele deixou claro que ali tinha um homem que possuía uma das maiores riquezas que Deus pode proporcionar na vida de um ser humano, uma família, linda e amorosa, e por mais que Saeed fosse atencioso com eles, ao seu jeito, ele estava totalmente deturpado em sua moralidade ao cometer tais atrocidades em nome Deus, como se fosse um anjo enviado a Terra para fazer a vontade de Deus Todo Poderoso.
É o que mais me cativou no roteiro de Abbasi, pois ficaria muito fácil tomar este partido, e na verdade você apenas evidencia essa realidade que acontecia naquele começo da década de 2000 em Masshad, colocando os dois pontos em evidência, o de Saeed e o de Rahimi, e explora isso em tela.
Pois, nós aqui no Brasil, acredito que a grande maioria maciça repudiará tal conduta, definirá como nojento e desumano o que este ser cometeu naqueles tempos, em nome divino ainda por cima, e condenamos a forma como socialmente e religiosamente o Irã vive e trata de certas questões sociais e morais que vemos volta e meia nos noticiários diversos.
Porém a realidade Iraniana é outra, seus costumes e crenças são diferentes, assim como sua justiça, e seria muito fácil realizar um longa atacando tais decisões, tais culturas, e tias atos. Mas como um bom contador de histórias e um bom cineasta, fazendo algo baseado em fatos reais ainda por cima, sabe que o profissional deve estar além de tomar partidos, e deve apresentar a obra da forma mais objetiva possível... mas sabe que também, terá aquele dedinho na ferida, aquele apontamento de dedo escondido nas entrelinhas, em um diálogo que pode passar despercebido, ou seja, sempre tem um jeito de ser neutro, mas também de esconder ali o quanto tudo isso é horrendo e inaceitável, e como as leis poderiam mudar uma vez que estamos em tempos tão modernos e avançados.
A atuação da dupla de protagonistas, Mehdi Bajestani e Zar Amir Ebrahimi é estupenda, os dois entregaram um trabalho maravilhoso e primoroso...
Zar Amir Abrahimi teve aquela atuação de força, bem decidida, de uma mulher focada em seu objetivo e nada mais, trazendo o assassino á luz e evitar que mais mulheres perca a vida. Ela teve ótimas cenas de destaque dramático, uma em que é assediada e coagida pelo delegado da polícia local, em seu quarto de hotel, e outro quando está junto a Saeed e prestes a se tornar mais uma vítima. Zar Amir é uma atriz maravilhosa, talentosíssima e já se tornou também uma de minhas preferidas.
Já o ator Mehdi Bajestani, que fez o 'Spider Killer' Saeed, foi impecável em sua atuação por todo o filme, todas suas cenas são de excelência, carga dramática lá em cima, algumas poucas cenas de alívio cômico, mostrando a versatilidade do ator, e um desespero em sua cena final, para fechar com chave de ouro uma atuação certeira de um criminoso hediondo.
Também se deve destacar a incrível atriz Alice Rahimi que fez brevemente Somayeh, no começo do filme. Ela foi gigante, uma atuação de se aplaudir em pé, uma presença de cena, uma entrega à personagem, um mergulho no desespero de Somayeh, na sua tristeza, na sua realidade, em seus instintos ao qual ela tratava com honestidade, mas não a salvou de seu fim... para mim, uma atuação que merecia indicação a Atriz Coadjuvante em um BAFTA.
Martin Dirkov foi o dono da composição do filme e ele foi feliz demais em criar músicas que permearam bem com os acontecimentos dramáticos, trágicos e impactantes do longa. Abrilhantou mais ainda a experiência de quem acompanhou o filme.
Tendo produção associativa de Zar Amir Ebrahimi, onde também foi diretora de Elenco do filme, 'Holy Spider' foi pré indicado à filme Estrangeiro no Oscar, representando a Dinamarca, e no BAFTA, mas não conseguiu chegar aos cinco indicados finais.
Porém o longa foi indicado na categoria no Satelitte Awards, e também recebeu inúmeras indicações ao prêmio Robert Award, o Oscar Dinamarquês. E nesta premiação levou os principais Prêmios, como Melhor Filme Dinamarquês, Melhor Atriz para Zar Amir Ebrahimi, Melhor Ator Coadjuvante para Arash Ashitani, Melhor Diretor para Ali Abbasi, Trilha Sonora, Efeitos Visuais, Cinematografia, Design de Produção, Edição, Roteiro Original, Design de Som, ou seja, levou tudo no Robert Award.
'Holy Spider' foi mais um filme que impactou o público presente na sala de cinema quando começou a subir os créditos. A música demorou para aparecer, quase 1 minuto
de créditos sem som, e o público também não emitiu nenhum som, logo alguém já levantou e puxou alguns, as luzes da sala se acenderam e aí sim começou o 'converseiro'.
Mas foi nítido, impactou, incomodou... vi uma pessoa ou outra se contorcendo na cadeira com algumas mortes, coisa que também fiz, o sentimento de impotência de quem estava sendo agredida, assassinada, e o olhar de revolta de quem acompanhava o filme.
A gente sabe que foram prostitutas que foram vítimas do Serial Killer, mas em nenhum momento do texto quis usar essa palavra, se é que vocês perceberam. O Irã já tem toda uma questão social e religiosa, que reprime, e muito as mulheres, e é claro, sou completamente contra aos costumes sociais e religiosos que os iranianos pregam já a tantas décadas e séculos... mas não cabe a mim ficar aqui debatendo ou julgando. Cabe a mim somente respeitar as mulheres que, por qualquer razão que seja, acabaram entrando nessa vida, e de forma alguma mereciam um fim tão hediondo como esse. E com o responsável por estes atos ainda considerar isto como um 'trabalho de Deus'... o mínimo que posso fazer é me posicionar com respeito e tratá-las com um pouco de dignidade que as mesmas merecem... ser empático... profissionais do sexo, está muito bem colocado.
Apesar de ser um fato real, gostei muito do filme, fiquei preso à tela do cinema em suas 2h de duração e mal vi o tempo passar, e ainda nem queria que o longa acabasse, tamanho foi a imersão com o que era apresentado em tela.
Não deve levar o Satelitte Awards de Filme Estrangeiro, mas foi muito bem indicado, merecia mais indicações.
(Assistido em 04/02/2023 - Espaço Itaú Frei Caneca)
Os Banshees de Inisherin
3.9 570 Assista Agora'Os Banshees de Inisherin' foi um dos filmes mais comentados e clipados no Twitter no mês de dezembro, e eu digo clipado, porque muita gente colocava um pedacinho de uma cena ou outra do filme para falar bem... uma das cenas que eu mais vi ser compartilhada, foi aquela em que Barry Keoghan conversa com Kerry Condon e ele pergunta se ela se interessaria por ele no futuro, e ela diz não, e ele diz "Lá se vai aquele sonho" e ele sai dizendo que vai fazer o que ele tinha que fazer. Todos elogiavam a atuação de Barry, dizendo que ele merecia um prêmio e tudo mais.
Acredito que um dos bons acertos do filme está no fato de ele entregar aquilo que ele não vende... eu explico, a sinopse nos diz que Colm decide terminar a amizade com Pádraic, ambos vivendo em uma cidadezinha no interior da Irlanda durante a Guerra Civil, e que Pádraic, inconformado com a perda dessa amizade de anos, resolve a todo custo reatar esse relacionamento, mas que um acontecimento trará consequências alarmantes para ambos.
Na verdade o filme é vai mais fundo no que ele se propõe, pois temos uma situação normal do dia a dia, que são duas pessoas que são bem diferentes, mas que possuem uma amizade honesta, com algumas similaridades, como seus animais de estimação e suas idas pontuais ao Pub. Porém, a diferença de idade entre eles faz com que Colm reflita mais sobre a vida, algo que Pádraic provavelmente ainda não desenvolveu em seu caráter, justamente pela idade, vide que ele não quer deixar de viver sem sua irmã, que está desesperadamente querendo achar um companheiro.
Essa ruptura entre eles, têm como pano de fundo a ilha fictícia de Inisherin, no interior da Irlanda, durante a Guerra Civil Irlandesa de 1923, e é aí que está a poesia de roteiro. Durante o filme, Colm, Pádraic e Siobhan são surpreendidos com as bombas que explodem durante o conflito, do outro lado da ilha, ambos tem reações particulares com o que acontece nesse embate, mas Pádraic diz "Boa sorte para vocês, mesmo sem saber pelo o que vocês tão lutando".
Ou seja, da mesma forma que o motivo da guerra possa ser fútil, mesmo que na cabeça de Pádraic e dos outros habitantes, os motivos para o fim da amizade de Colm e Pádraic também são fúteis, podem significar algo para Colm, mas não são válidos para Pádraic... assim como na guerra, para um lado o motivo de guerrearem é justo e pro outro não faz tanto sentido a não ser defender suas próprias honras.
Porém, quando Pádraic sofre um duro golpe, uma perda, as coisas se tornam inevitáveis, e eus que no fim do filme, Pádraic diz a Colm, depois que Colm lhe diz que aparentemente a guerra já está chegando ao fim... "A guerra pode terminar, ou eles podem voltar a brigar no futuro, quem sabe, certas coisas não tem como superar".
Totalmente poético, Pádraic não consegue superar o abrupto término da amizade, a perda pessoal que teve, assim como também não supera que as coisas tenham chegado a esse ponto. Quando dois lados decidem guerrear, os dois lados sairão perdendo.
Martin McDonagh realmente acertou no seu roteiro, fez algo bem intimista, uma vez que ele é britânico/irlandes, e nos entregou uma tocante história de pessoas irlandesas, durante uma das épocas importantes de sua história, de seu passado, dentro de suas simplicidades, e a forma como se relacionam e vêm a vida dentro da realidade que se encontram.
Os personagens que McDonagh criou são muito impactantes, têm muita personalidade, muito carisma, se conectam conosco instantaneamente, possuem medos, sonhos, frustrações que enxergamos em nós e naqueles que nos cercam, todos os dias.
Grande parte deste trunfo, obviamente está no elenco que McDonagh trouxe para o longa, que tornaram estes personagens tão fortes e reais, que nos hipnotizam em frente a tela durante suas duas horas de duração.
McDonagh trouxe dois conhecidos que ele já está acostumado a trabalhar desde 2008 no longa 'A Mira Do Chefe', Colin Farrell e Brendan Gleeson, que protagonizaram este longa dirigido por McDonagh. Ele ainda traria Gleeson para protagonizar 'O Guarda' em 2011, e Farrell para protagonizar '7 Psicopatas e um Shin Tzu' em 2013.
14 anos depois de atuarem juntos, sob o mesmo diretor, a química entre Farrell e Gleeson aqui é arrebatadora, os dois preenchem as cenas quando estão junto, muita presença de tela, demonstram não ter nenhum tipo de dificuldade em contracenar e recitar suas falas, domina o roteiro de uma forma tão banal, que [é exatamente por isso que ficamos tão impactados conforme o longa se desenrola.
Impossível dizer quem está melhor que quem aqui, os dois protagonistas estão em pé de igualdade e entregam a mesma proporção de drama durante o filme, com Gleeson atuando dramaticamente a maior parte dele, para ceder um pouco no final... e Farrell atuando leve e honesto durante boa parte do filme, e partindo para o drama meloncólico/raivoso no ato final. Soberbos estiveram os dois em cena, na atuação, na construção de seus personagens, não á toa foram lembrados em todas as premiações desta temporada com muita justiça.
Assim como Kerry Condon (Ray Donovan) e Barry Keoghan (Eternos) que fizeram Siobhan e Dominic, respectivamente, estiveram magistrais em seus papéis.
Kerry entregou uma sutileza sem igual para a irmã de Pádraic, com muitos toques de drama, ao mesmo tempo que tinha um serenidade em sua atuação, uma entrega afetiva em algumas cenas, entendendo o papel de irmã, que era mais como uma mãe para Pádraic. Suas cenas chorando na cama a noite, ou dando esporro em Pádraic sob a mesa de jantar são seus pontos altos no filme, assim como sua cena cena na casa de Colm, quando vai lhe devolver um dos dedos. Grande atuação de Kerry, de encger os olhos.
Barry então nem se fala, pois a forma como ele deu vida a Dom, um moleque despojado, linguarudo, claramente com algum tipo de distúrbio, ou de nascença em seus trejeitos, ou mental, talvez pelos abusos sofridos pelo pai. Mas foi um dos personagens mais interessantes do longa, esperto, astuto, ligado, e como já citei acima, Barry teve sua melhor cena com Kerry Condon, e ali já vale qualquer indicação para ele. Barry é um atorzaço que vem crescendo filme após filme.
Com um elenco 100% irlandes, ainda temos um rosto conhecido, que é justamente o pai de Dominic, o policial Peadar, interpretado por Gary "John" Lydon, lendário vocalista de uma das melhores bandas de punk-rock 'Sex Pistols' e do também projeto consagrado 'P.I.L' (Public Image Limited). Quem não conhece e gosta de rock, vá conhecer! E Lydon está bem demais, eu sabia que ele fazia pontas em um filme e outro, mas nunca tinha parado para vê-lo em ação como ator, e realmente, Lydon é bom demais, é um artista completo. Não devia me surpreender, pois nos clipes de seu projeto P.I.L ele já mostrava essa faceta, eu que não queria enxergar.
A Música de Carter Burwell (The Ballad of Buster Scruggs e A Grande Mentira) é incrível, é soberba, é linda, é tocante, é penetrante, é tudo... que trilha perfeita, que melodias suaves e tristes e contemplativas. Permearam tão bem as cenas do longa, preencheram tão bem os espaços dramáticos ali presentes... o final então, singelo, magnífico, como já citei, contemplativo... merecia lembranças nas premiações de fato.
Mas o filme têm figurinos tão simples e ao mesmo tão elegantes, todos de época, uma cenografia que é belíssima, sendo filmado na costa litorânea da Irlanda, mas temos uns takes que claramente você enxerga o cromaqui, e aí ficou um pouco feio... mas, dá para passar um pequeno pano.
A cinematografia (e não mais fotografia, aprendi isso), é linda demais, cada take que McDonagh pegou, que é de encher os olhos e cair o queixo, as cores que ele tirou quando a tarde se escondia no horizonte, o cinza que ele exaltou nas trades nubladas aonde filmou, o preto da noite, quando todos se encontravam no Pub, sério, o trabalho de Ben Davies, que trabalhou com McDonagh em Três Anúncios Para um Crime, e em Eternos e Capitã Marvel, é esplêndido, extraordinário, belíssimo demais, cuidadoso e delicado, minimamente escolhido no momento certo para pegar as melhores cores, no momento certo, na posição certa, e isso já é observado nos filmes citados acima.
O filme me ganhou desde o início, e tive uma relação muito íntima e próxima com Pádraic, pois também tive uma perda pessoal recente, daquelas que assim como ele, não se supera, jamais, fica incrustado no seu dia a dia, e consegui enxergar a minha dor na dor dele, na raiva dele, na angústia dele, na tristeza, na falta e no vazio que a perda deixou... realmente me senti tocado e isso mostra o tamanho que é o roteiro de McDonagh, quando se consegue entregar algo tão íntimo e verdadeiro e real que conversa com o público, é porque o roteiro tem muito amor, muita verdade, muita honestidade.
Vamos agora à chuva de indicações do filme, e depois os prêmios e derrotas:
No SAG'S AWARDS, Melhor Elenco, Ator Coadjuvante, Atriz Coadjuvante e Ator Principal para Keoghan e Gleeson, Condon e Farrell ,respectivamente;
No BAFTA, Melhor Filme, Ator para Farrell, Ator Coadjuvante para Gleeson e Keoghan, Atriz Coadjuvante para Condon, Melhor Filme Britânico, Trilha Sonora para Carter Burwell, Melhor Montagem, Direção para McDonagh e Roteiro Original para o mesmo;
No SATELITE AWARDS, Melhor Filme Comédia/Musical, Roteiro Original, Direção, Fotografia para Ben Davies, Trilha Sonora, Ator Comédia/Musical para Farrell, Atriz Coadjuvante para Condon e Ator Coadjuvante para Gleeson.
No Oscar está indicado a, Melhor Filme, Ator (Farrell), Ator Coadjuvante(Gleeson e Keoghan) e Atriz Coadjuvante (Condon), Direção e Roteiro Original (McDonagh), Trilha Sonora e Melhor Montagem.
No Globo de Ouro venceu como Melhor Filme Comédia/Musical, Melhor Roteiro e Melhor Ator Comédia/Musical para Colin Farrell, perdendo Ator Coadjuvante (Gleeson e Keoghan), Atriz Coadjuvante (Condon), Direção e Trilha Sonora;
No Critics Choice Awards perdeu tudo que concorreu, Melhor Filme, Direção, Roteiro, Melhor Elenco, Melhor Comédia, Ator, Ator Coadjuvante e Atriz Coadjuvante para Farrell, Fleeson e Keoghan e Condon.
O meu favorito ainda continua sendo 'Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo', mas acho que o prêmio de Melhor Filme no Globo De Ouro é bem justo para premiar o longa. Penso que se ganhar no Satellite Awards também será justo, mas BAFTA e Oscar já fico com meu favorito mesmo. Mas 'Os Banshees de Inisherin' merece muito ser lembrado nas premiações pois é um filmaço, tocante e verdadeiro, com um roteiro sensacional de Martin McDonagh.
Assistam no Cinema, nada paga essa experiência... ao fim do filme, com aquele final, depois de todos os acontecimentos do longa, ao vir os créditos finais, aquela música calma que aos poucos vai crescendo e ganhando forma, com a sala ainda escura, não ouvi um som, ninguém conversando entre si, ninguém se levantando, eu mesmo fiquei estático, contemplando tudo que havia assistido. Somente depois que as luzes acenderam, alguns segundos depois, a primeira pessoa se levantou, e aos poucos, alguns foram se levantando e saindo da sala. Isso mostra que o filme pegou nas pessoas, que teve um impacto, que as surpreendeu positivamente, que houve coisas a se tirar do filme... e isso somente uma sala de cinema pode proporcionar ao espectador e ao cinéfilo. Experiência muito parecida que tive com Afetrsun.
Viva o Cinema!!!
(Assistido em 03/02/2023 - Cine Belas Artes)
O Menu
3.6 1,0K Assista AgoraQuando 'The Menu' chegou ás salas de cinema em dezembro passado, ele chegou como qualquer outro filme que não é blockbuster chega, sem muito alarde, sem muito furor, os mais cinéfilos que costumam ir ao cinema eram os que iriam conferir, até pelo fato de não estar espalhado pelos cinemas mais populares Brasil afora.
Porém, a cada semana, o filme ganhava o famoso 'boca a boca', as pessoas assistem e indicam e/ou debatem sobre, e instigam a curiosidade dos demais.
Acho que foi ali no final de Dezembro que 'The Menu' era o filme mais procurado nas salas de cinema aqui em São Paulo, com sessões concorridíssimas, uma vez que o filme não estava em muitas salas assim. Acabei perdendo a chance de ver no cinema, coisa que me arrependo, mas o longa justifica o boca a boca que as pessoas geraram, pois o longa de Mark Mylod (Succession) é entretenimento puro.
Escrito por Will Tracy & Seth Reiss, baseado em uma experiência que Tracy teve na Noruega em sua Lua de Mel, 'The Menu' é mais um filme que usa a gastronomia como pano de fundo, com uma pitada a mais, envolta em um plot de mistério e horror.
Achei um roteiro muito original, onde um Chef renomado, em uma ilha remota, serve seus pratos para uma clientela que ele pretende matar, todos, e as bizarrices que acontecem durante as degustações dos pratos.
Uma ótima ficção com um argumento bem amarrado, dando contexto para todos os personagens, principalmente os clientes, e é claro, como a simplicidade funcionou no longa de Mylod... o filme começa sem ponto de partida, não se conta nada sobre personagem nenhum, não um prólogo, não há uma apresentação de personagens, um passado para se contextualizar... apenas os clientes chegando para pegar o barco e serem levados para a ilha, uma simplicidade que funcionou, não nos deixou confusos e Mylod conseguiu ganhar a atenção do espectador já de cara.
Neste quesito, a personagem de Anya Taylor Joy (O Gambito da Rainha), Margot, é o que mais se conecta conosco, afinal ela é nossos olhos, ela sabe tanto do Chef do restaurante, da ilha e do que se espera encontrar lá, quanto nós. Por isso nós nos vemos nela para conhecermos o local, a comida, o que se passa lá, o que nos espera lá, e junto do Chef Slowik (Ralph Fiennes) são os personagens mais interessantes do longa.
A sinopse do filme já nos entregava que coisas bizarras aconteceriam neste restaurante, ou no menu a ser servido, mas não tínhamos ideia do que seria, ou o quanto impactante seria, mas ter essa surpresa enquanto acompanhamos o longa, foi uma experiência divertida. Já na primeira 'morte' do filme, fica aquele baque, você se surpreende da mesma forma que os clientes se surpreendem, esse é um dos pontos positivos do roteiro e da direção de Mylod, ele te coloca dentro do restaurante, como se você fosse um dos clientes, como se você fosse ter o mesmo destino que o deles.
A cada prato servido, mais a sua atenção fica presa ao filme, pois ele cria uma nuvem de mistério onde você se pergunta: "Porque isto está acontecendo?" "O que o leva a ter essa atitude?", "Porque Margot está ali?", "Porque não acontece um motim naquele recinto?", "Porque Tyler fica tão calmo?"... e por aí vai.
Acho que o final foi bem o que esperávamos, afinal, com tudo o que se desenrolou, e a forma como o filme foi construído, não podia ter uma outra resolução para os clientes que ali estavam, e até para o Chef Slowik, assim como o final de Margot, que foi convincente com o que a personagem representou no filme desde o primeiro take dela esperando o barco chegar junto à Tyler. Durante o filme eu só pensava que esse deveria ser o final, e se terminasse de forma diferente, mais esperançosa, eu ia ficar bem chateado.
Dito tudo isto, o filme tem alguns pontos negativos e algumas obviedades que nublam um pouco a originalidade do longa.
O primeiro é o Chef Slowik, brilhantemente interpretado por Ralph Fiennes, que deu aquela vibe mórbida para Slowik, comi se fosse um cadáver ambulante, alguém com um desprezo muito grande para com tudo e com todos, enxergado no semblante de Fiennes em cena. Faltou contextualizar um pouco mais o Chef, trazer mais coisas do passado, conectar mais ele à alguns clientes, para que sua vingança fosse mais verossímil. Só aquelas descobertas de Margot no quarto pessoal de Slowik, para mim não foi convincente e/ou suficiente.
Outro ponto é o pano de fundo do longa... afinal, hoje temos inúmeros shows televisivos de gastronomia, inúmeros pratos, competições, e principalmente filmes e séries que usam da gastronomia e do estresse de uma cozinha para se contar uma história. 'The Menu' é um filme de terror/horror moderno, que os jovens adoram, com a cozinha gastronômica como pano de fundo. O suspense, o mistério, o plot, é o que conduz o filme, e o lance da cozinha, dos pratos, do chef, é apenas o pano de fundo para o filme ter um 'q' de originalidade.
É claro que achei o filme maravilhoso e é bacana toda a ideia do restaurante na ilha remota, e os pratos diferentes e bem detalhados, mas tudo isso é pano de fundo para uma história que até então é genérica. Tire todo o lance do Menu, da gastronomia, dos Soul Chefs, e coloque essa história dentro de um outro contexto, um outro pano de fundo... é a mesma coisa, os mesmos mistérios, as mesmas mortes, as mesmas cenas impactantes, um final muito próximo do que foi apresentado... A verdade é que mesmo que a ideia tenha sido muito original, o plot é clichê, nada do que vimos aqui, já não vimos em outros filmes, apenas a temática é diferente, dentro de um assunto que muita gente tem se interessado hoje em dia.
O elenco está ótimo, Anya Taylor Joy, apenas elogios para ela, atuou bem demais e trouxe mais camadas para Margot do que deveria apresentar, engrandeceu mais ainda a protagonista e segurou o filme como nenhuma outra atriz conseguiria.
Nicholas Hoult (Mad Max Estrada da Fúria), que fez Tyler também esteve ótimo em seu papel, apesar de ser personagem não ter tantas camadas para ele atuar, ser um personagem mais vago, quase vazio, pouco acrescentou à trama, também não evoluía, era um ponto que não se movia para nenhum lado... mas Hoult se destacou na cena da cozinha onde teve que cozinhar para o Chef... ali Hoult entregou uma performance ótima quando o Chef Slowik sussurra em seu ouvido, e ele mostra o quão bom ator ele é.
Ainda temos a talentosíssima Hong Chau (indicada este ano ao Oscar por The Whale) como a assistente de Slowik, Elsa, e ela foi be o filme todo, uma atriz nata, sua personagem poderia mostrar um pouco mais, mas o que ela entregou quando requisitada, foi ótimo, muito gostoso vê-la em cena em um papel tão intrigante.
Fora ainda o já renomado John Leguizamo (Para Wong Foo! Obrigado Por Tudo Julie Newmar) que fez um astro de cinema que estava em decadência, e fez uma ótima parceria com Aimee Carrero, que fez Felicity, sua agente. Os dois estiveram ótimos em cena e quase chegam a ser o alívio cômico do longa.
A cenografia do filme é ótima também, filmado na Geórgia e na praia da Ilha Jekyll, deu um tom veranesco para o restaurante durante o dia, e meio mórbido durante a noite.
O figurino também esteve impecável, tanto por parte da equipe da cozinha da ilha, quanto dos convidados que estava lá par degustar do menu, acho que Anya teve o melhor figurino do filme de longe.
Colin Stetson compôs a música original do longa, da qual eu gostei muito, casou bem com o ar misterioso que o filme queria passar, de o que está acontecendo por aqui, principalmente na cena de luta entre Margot e Elsa, e nas cenas impactantes também.
O filme ganhou duas indicações ao Globo de Ouro, Ator e Atriz em filme Comédia/Musical, ambos para Ralph Fiennes e Anya Taylor Joy, com os dois perdendo para Colin Farrell e Michelle Yeoh, achei justo os dois prêmios.
Ainda concorre ao Satelitte Awards em Ator Comédia/Musical para Ralph Fiennes, mas acho que ele não ganha aqui.
Produzido por Adam McKay (dos ótimos 'Don't Look Up e 'O Âncora') e pelo ator Will Ferrell (dispensa apresentações), não vou negar que gostei muito de 'The Menu', mereceu todo esse sucesso, é um ótimo entretenimento, uma pena eu ter perdido no cinema, e é uma ótima experiência.
Porém, não nego que também é bem clichê, pois é na verdade um thriller suspense de horror bem básico, que encontramos toda semana por aí afora no mundo do cinema, apenas contextualizado no mundo da gastronomia.
Temos ótimas produções dentro desse tema, que na minha opinião superam 'The Menu', como: 'The Bear' (série do Star Plus), os filmes 'Chef' (de Jon Favreau), 'Pegando Fogo' (com Bradley Cooper), e o sensacional 'Boiling Point' que é um arrasa quarteirão.
'The Menu' é original e básico ao mesmo tempo, agrada e entrete muito, mas entrega mais do mesmo.
(Assistido em 29/01/2023 - Star Plus)
Blonde
2.6 443 Assista AgoraEu não conheço o trabalho de Andrew Dominik a fundo, acredito que deva ser o primeiro longa que eu vejo dele, não sei nada sobre sua vida, o que pensa da vida e o que deixa de pensar, sobre cinema e assuntos em geral... mas eu vi algumas entrevistas dele e o cineasta tem alguma coisa relacionada a grandes celebridades, ou a mulheres, não sei, as coisas que ele falou sobre Marilyn Monroe em alguns lugares, a forma como se portou. Eu acho que cabia aqui um pouco de pesquisa, tato, bom senso, da Wild Bunch International e de Brad Pitt e sua Plan B, ao escalar alguém como Dominik para Roteirizar e Dirigir a "cinebiografia" de Marilyn Monroe, uma das maiores estrelas de Hollywood e do mundo, Sex Simbol, Atriz e Artista.
Verdade seja dita, sequer podemos chamar "Blonde" de cinebiografia, afinal de contas o roteiro é baseado no romance de Joyce Carol Oates, um romance que dá mais atebção aos boatos e mitos que giravam em torno da vida pessoal de Marilyn. Por exemplo, haviam rumores, boatos, histórias, de quem seria o pai de Marilyn, isso nunca foi confirmado (até recentemente, sendo Charles Stanley Gifford), mas ela relata esses rumores, e o filme abraça isso.
Ou seja, baseado neste romance, o filme todo retrata os rumores e boatos que cercavam a vida pessoal de Marilyn Monroe, e pouca coisa ali realmente é verdade.
Dominik preferiu partir do ponto onde ele queria focar em um trauma da infância que Marilyn teve... nascida Norma Jean Mortenson, quando criança, nunca chegou a conhecer o pai, a mãe fazia mistério, bebia e tinha problemas psicológicos sérios, em pouco tempo Norma Jean acabou indo para orfanatos e lares adotivos, enquanto sua mãe nunca mais saiu de hospitais psiquiátricos para tratar sua condição mental frágil.
À partir deste trauma na infância, Dominik segue pelo campo dos boatos e rumores e para mostrar como isso afetou a vida adulta e profissional de Norma Jean, regrado a muito excesso sexual apelativo.
Vocês vêm, por ser uma Sex Symbol gigante naquela época, e até hoje ser a maior sex Symbol de todas, Dominik (que claramente deve ter algum problema ao retratar mulheres fortes) usou e abusou de evidenciar que Norma Jean foi usada e abusada pelos homens naqueles tempos. No filme ele deixa escancarado que Marilyn era violentada sexualmente e permitia tal ato, se escondendo em mantras que a própria criou (!!??), que Marilyn sofria diversas agressões físicas, porém ela minimizava pois estava emocionalmente instável (!!!???), que gostava de se expor sexualmente incluindo nudez, para poder manter seu status de Sex Symbol.
É óbvio que Norma Jean, pelo fato de ter uma mãe perturbada e um api que nunca conheceu, cresceu com uma carência afetiva muito grande, tentando preencher esta falta se relacionando com os mais diversos tipo de homens, mas a maioria com algo em comum, eram controladores... e pelo de ser mulher, e já ter essa carência mesmo dentro de si, de se sentir amada e não querer ficar sozinha e viver um amor, Norma Jean se entregou por completo nos relacionamentos que teve, mas por ser uma mulher famosa, desejada, querendo ou não endinheirada (mesmo recebendo pouco pelos seus filmes), Norma Jean acabaria se envolvendo mais por homens que lhe trouxessem uma segurança financeira e uma personalidade acolhedora. E esses homens nem sempre a trataram bem, sempre visando o próprio prazer e poder no fim das contas, sempre abusando física e emocionalmente de Norma Jean.
Acho que o fato de ela passar por esses percalços amorosos na vida dela, não é desculpa para Dominik retratar Norma Jean de um jeito que transparece que ela passou por toda sua carreira e vida artística sendo abusada pelos homens que teve, sendo sempre um estepe sexual nas mãos deles, e que não tinha personalidade suficiente para confrontá-los e sempre aceitar tudo de cabeça baixa. É ridículo, qualquer um que conheça minimamente da Marilyn Monroe, sabe que ela também era uma mulher de personalidade forte, totalmente segura, possuía seus próprios negócios, e levava sim jeito para negociações. Ela não era só esse poço de drama e chilique descontrolado que Dominik retratou.
Tudo bem que o filme foi baseado em um romance de Joyce Carol Oates, onde ela trabalha apenas com os boatos e rumores que cercavam a vida de Monroe. Porém, Dominik aqui criou uma fábula voraz que denigre não só a imagem, mas o legado de Marilyn Monroe, ela não era só essa pessoa que foi retratada no filme, limitada a problemas emocionais e depressivos, dependente afetivamente e emocionalmente de homens, oi até mesmo um objeto de adoração devido ao seu corpo perante aos homens. Havia muita para se aprofundar e jogar luz na vida e carreira de Norma Jean, que neste filme foi deixado de lado para evidenciar um mito que foi alimentado pela imprensa cruel Hollywoodiana da época.
Outro ponto de defeito de Dominik no filme, a exploração visual de Ana De Armas no longa interpretando Marilyn Monroe... simplesmente um horror. Sempre cito Patty Jenkins como exemplo para se dirigir uma mulher protagonista de personalidade... ela dirigiu Mulher Maravilha sem dar nenhum close gratuito no corpo de Gal Gadot, em nenhuma parte, em nenhum close específico de roupa, nem em decotes, nem na bunda, roupa íntima, nada. E estamos falando de uma heroína que pouco veste roupa e de uma atriz que praticamente uma deusa de tão linda.
Já Dominik jogou o talento de Ana De Armas no lixo com cenas de sexo desnecessárias, como quando foi abusada por um figurão do alto escalão de Hollywood, em uma cena de estupro onde ele pega Ana De Armas por trás e começa o ato... ok, foi para contextualizar o ocorrido e o que ela passou antes de atingir o estrelato? Eu aceito, afinal, um filme dessa estirpe, de carga dramática altíssima, não pode seguir com o freio de mão puxado, vamos mostrar e sem rédeas ou pudores... porém, ele repete essa fórmula em cenas seguintes, como no sexo a três com os Gêmeos de Charlie Chaplin, ao qual Norma Jean namorou. E no meio daquele coito a três, Dominik novamente expôs Ana a uma cena onde ela não só faz um sexo voraz com Cass Chaplin e seu irmão Eddie, como ele foca em uma simulação de orgasmo por aparte de Ana, e na sequência em mais uma vez alguém metendo nela por trás (artisticamente é claro), sem a menor necessidade em uma cena que de nada agrega a trama.
Fora tudo isso, Dominik ainda fez Ana De Armas passar boa parte do filme, ou seja, longos takes, com os seios de fora, em uma exposição gratuita, como se fosse só isso que Marilyn tivesse a oferecer.
Mais nojento ainda foi a cena com o Ex Presidente Kennedy, onde Ana De Armas simula uma masturbação seguida de um sexo oral no ator Caspar Phillipson. Até entendo que os atores não devem ter pudores, e dentro de uma cena sexual, você precisa entregar aquilo que a cena pede, o que o diretor quer passar, e o que o filme demanda... porém, com tanta exposição sexual de Ana no filme, ainda ter que colocar uma cena tão forçada como essa é de um mau caratismo muito grande, de uma falta de tato, de uma escrotice.
Logo após essa cena, ela vai ao banheiro fazer xixi, talvez na sequência dessa cena o Presidente ainda tenha feito sexo com ela, ou não, mas o xixi que ela faz incomoda, você ouve pelo barulho que não é o normal, e ela pede pra pessoa que bate na porta não entrar... achei um take muito invasivo. Nós sabemos que houve um... não diria um relacionamento mesmo, pode ter sido um téte a téte, um caso,entre Marilyn Monroe e o Ex Presidente Kennedy, e que dentro daquele quarto presidencial pode (e rolou) muita intima entre os dois e talvez o Ex Presidente pode ter forçado algo, abusado, enfim... mas é só contextualizar Dominik, não precisa sujar a imagem de Marilyn, abusar da atuação de Ana De Armas, nem satisfazer a fantasia de tarados que gostam de ver cenas assim onde a mulher está em uma posição de submissa.
Da forma como eu vejo, a direção de Dominik é ridícula, suas ideias são ultrapassadas, certas passagens do filme ele fez sim um bom trabalho, isso eu não nego, soube montar alguns atos...mas jogou a imagem de Marilyn Monroe no lixo com essa visão e desperdiçou o talento de Ana De Armas, explorando sexualmente seu corpo e abusando de sua boa vontade e desejo de interpretar um ícone que foi Monroe.
Em termos de elenco o filme ainda conta com Bobby Cannavale (de Homem Formiga) como Joe DiMaggio, o segundo marido de Marilyn; Evan Williams e Xavier Samuel como os gêmeos filhos de Chaplin...
Julianne Nicholson como Gladys, mãe de Marilyn; E Adrian Brody (O Pianista) como Arthur Miller, terceiro Marido de Marilyn.
A trilha sonora de Nick Cave e Warren Ellis está esplêndida, perfeita, a música casa muito bem com o tom do filme, e respeita não só a época em que o filme se passa, como exalta os sentimentos que Ana transmitia em cena de Marilyn em seus momentos dramáticos... Nick Cave já é um puta de um músico, junto a sua Banda The Bad Seeds, conheço pouco o trabalho dele com a banda, mas se mostrou um ótimo compositor de filmes.
Se eu for falar de Ana De Armas eu vou chover no molhado, Ana foi GIGANTE no filme, acho ela uma das melhores atrizes de sua geração, lindíssima, talentosíssima, tem uma presença de cena impactante... com certeza ela não ia deixar passar a oportunidade de interpretar Marilyn Monroe em um longa metragem, um papel que qualquer atriz no nível dela, na posição dela, aceitaria e sonharia em pegar.
Uma pena que tenha sido em um filme com uma visão tão podre, amassada, ultrapassada... Ela teve o azar de pegar o pior diretor, que por algum motivo que desconheço, tem fetiche em retratar mulheres com problemas emocionais ou descontroladas de uma forma baixa, pequena, como se fossem bonecas infláveis, ou apenas carentes que viram saco de pancadas nas mãos de homens que, no fim das contas "não queriam fazer aquilo".
Independente disso, Ana se entregou ao personagem, mergulhou fundo na interpretação e caracterização, seus trejeitos estão perfeitos, a forma como fala (que muitos criticaram por não ter sotaque), o drama que ela condicionou à personalidade de Marilyn... a forma como não se acovardou nas cenas mais íntimas, nas mais invasivas, sem pudor, e como achou um desequilíbrio perfeito nas cenas onde era humilhada por Joe DiMaggio, ou nas crises no casamento com Arthur Miller, e por aí vai.
Ana foi indicada a Melhor Atriz no Oscar, no BAFTA , Prêmio Internacional Australiano (AACTA) e no SAG's Awards. Ela também foi indicada no Globo de Ouro de Atriz Drama, perdendo para Cate Blanchett.
As indicações de Ana são merecidas, acho difícil ela sair com algum prêmio, eu mesmo mesmo gostaria de premiá-la em alguma premiação, e acredito que o prêmio da AACTA seria o mais apropriado.
Concluindo, fiquei decepcionadíssimo com o resultado do filme, que é longo demais par tanta coisa nonsense que Dominik fez em suas 2h46 de duração, um martírio em certos momentos. Visão muito machista e invasiva do ícone que Marilyn Monroe, e muitas inverdades ali, um show de horrores como dizem alguns críticos. Vale mesmo pela atuação de Ana De Armas, que carrega o filme nas costas e justamente foi lembrada nas principais premiações este ano. O filme só não é inteiramente ruim por conta dela.
Mas o filme foi lembrado, justamente, na famosa premiação Framboesa de Ouro, que premia os piores do ano, e lá foi lembrado em Pior Filme, Pior Roteiro e Pior Diretor. Além de Pior Ator Coadjuvante com indicação dupla para Xavier Samuel e Evan Williams (também achei justo, muito canastrões).
Ainda foi indicado duplamente na categoria Pior Casal em Tela, a cena em que Monroe é violada por Kennedy foi indicada como 'Ambos os personagens da vida real na cena falaciosa do quarto da Casa Branca', e também 'Andrew Dominik e seus problemas com mulheres'.
Realmente... merece ganhar tudo.
Bola fora de Dominik, bola fora da Plan B, bola fora da Netflix.
(Assistido em 22/01/2023)
Decisão de Partir
3.6 143Cinema Sul Coreano... o que vem a mente quando se pensa?
Para mim, Invasão Zumbi, Okja, Parasita, A Criada, Haeundae...
Fora os que não vi ainda como Em Chamas ou o já consagrado de 2003 Oldboy do próprio Park Chan-wook, que é diretor produtor e roteirista de 'Decision To Leave', seu mais novo filme que foi ovacionado por 5 minutos no Festival de Cannes.
'Decision To Leave' é um deleite, grande parte de seu trunfo está no roteiro que não desacelera nem um minuto, é uma sequência de acontecimentos, encontros, desencontros, confissões e mistérios, que te deixam preso àquele romance, àquele texto, que você praticamente desejará que o longa não acabe.
O detetive Hae Joon investiga o assassinato do marido de Song Seo-Rae, que caiu ao fazer alpinismo em uma montanha, e conforme Hae Joon se aprofunda no caso e testemunho de Seo-Rae, mais os dois acabam criando uma ligação, que os faz se aproximarem perigosamente, uma vez que Hae Joon a considera suspeita, e ele é casado.
Park Chan-Wook deu ênfase em sua câmera ora estática, ora invasiva ao nos fazer acompanhar os protagonistas Hae Joon e Seo-Rae, conforme eles se conhecem, e Hae Joon desenvolve um interesse romântico para com Seo-Rae, que é recíproco... mas o mais bacana são as entrelinhas do roteiro que vão e vem nos acontecimentos, fazendo com que nós questionemos o tempo todo, quem quer passar a perna em quem, o que realmente é genuíno naquele pseudo-romance, o quão Seo-Rae está envolvida no acidente de seu marido e porque temos a impressão de que ela esconde algo...uma questão totalmente implícita desde que a personagem aparece.
Essa faísca entre eles, um tentando desvendar o outro é o que nos faz ficar ligado em frente a telona do cinema, os dois personagens são muito carismáticos, nos ganham em suas primeiras cenas, e são perfeitamente interpretados pelos atores Park Hae-il e Wei Tang, se não fosse o talento dos dois, talvez o filme ficasse um tanto quanto arrastado, porque quando não temos carisma suficiente, os personagens cansam e os acontecimentos também.
Quando descobrimos realmente o que aconteceu, porque aconteceu, o que levou tais atos a serem cometidos, além das coisas começarem a fazer sentido, a uma mudança no longa, de tempo, de ares, não de ritmo, mas de tom, e os personagens entregam camadas de personalidade que ainda não haviam entregue em todo o primeiro ato do filme... e então em uma nova localidade, em uma nova rotina, vemos os dois protagonistas brincarem mais ainda com uma faceta a mais adicionada à seus caráters, que nos faz enxergarmos da forma como eles realmente são, puramente crus em cena, com as guardas baixas e escudos dispensados, e isso é genial em um roteiro. Os personagens mais uma vez nos ganham, nos chama a atenção, é uma conversa intima entre eles e nós.... como se fôssemos amigos antigos, mas agora que nos reencontramos depois de tempos, é que realmente enxergamos quem eles sempre foram, e não o que apenas nos mostravam.
É genial a forma como Park Chan-Wook construiu seu roteiro e desenrolou seu romance, e além de termos protagonistas tão carismáticos, eles nos dá coadjuvantes que possuem o mesmo carisma, acabam sendo o alívio cômico no filme, mas é como se nos enxergássemos neles, pois a visão que eles têm de Hae Joon e Seo-Rae é a mesma que nós temos... eles conhecem apenas o que eles mostram de suas personalidades, e não quem realmente são intrinsecamente, quando o filme dá um salto de meses na história.
'Decision to Leave' tem um ótimo ritmo, para quem realmente gosta de assistir filmes, analisá-los, entrar no universo da história e deixar se levar, não será nada cansativo, será uma ótima experiência, e um deleite acompanhar personagens tão ricos em personalidade.
Park Chan-wook dirigiu muito bem, fez o casal de protagonistas brilharem em cena, fez o seu filme ser muito poético, adinal, ao acompanhar toda a trama e o desenvolvimento dos personagens principais, ao assistir o encerramento do longa, aquela tomada de atitude, a forma como se sucede a procura pelo mar, aquilo é poesia pura, mostra o quanto os personagens são grandes e tiveram muito a entregar em termos de arte e drama.
A cenografia do filme é outro ponto a se ressaltar, sempre muito bem detalhado, com adereços locais e ambientes externos abertos... assim como a cinematografia que também capta os por menores de Seo-Rae e Hae Joon em seus rostos, enaltecendo cada sentimento que ali é transmitido... fora as cenas gravadas na praia e na nova casa de Hae Joon e Jung-an.
A trilha sonora foi composta por Yeong-wook Jo, um trabalho esplendoroso, incrível, a música casa perfeitamente com as cenas, e ele cria um clima de mistério nas cenas chave do longa, assim como deixa sua composição mais densa nas cenas onde Sei-Rae e Hae Joon estão a sós, seja passeando na chuva, seja quando ele está na casa dela.
O longa, nesta temporada de premiações foi indicado para Filme Estrangeiro no Globo de Ouro, perdendo para 'Argentina 1985' (achei justo). e também concorreu no Critics Choice Awards perdendo para RRR da Índia.
Concorre nessa categoria ainda no Satelitte Awards e no BAFTA... sendo que no BAFTA ainda concorre a Melhor Diretor para Park Chan-wook, mas o páreo será duro pois ali tem 'Os Daniel', Martin McDonagh, Edward Berger, só para citar os favoritos a princípio.
No Oscar foi esnobado, ficando de fora da disputa, uma pena, e um erro... defendo muito a indicação de 'EO', agora há de se ver os filmes 'The Quiet Girl' e 'Close', poderia haver uma vaga para o longa de Park Chan-wook no lugar de um desses filmes... preciso conferi-los para poder argumentar.
Assistam, de preferência, no cinema, o filme é belo e engraçado em determinadas partes, muito bom para se experimentar numa sala com outros espectadores.
(Assistido em 24/01/2023 - Instituto Moreira Salles)
Nada de Novo no Front
4.0 612 Assista AgoraO cinema alemão já é dono de grandes obras primas que foram (ou não) premiados ao longo do tempo, como 'Os Falsários', 'A Vida Dos Outros', entre outros, e para esta temporada de premiações, o longa escolhido pelo país foi 'Nada de Novo no Front', filme dirigido por Edward Berger, baseado no romance de Erich M. Remarche, onde o mesmo escreve sobre suas experiências durante seu serviço na primeira guerra mundial, onde testemunhou as barbáries que aconteceram no campo de guerra contra os franceses.
O filme traz o adolescente Paul Bäumer, junto aos seus demais amigos adolescentes Albert, Franz, que abandonam a escola para se alistarem nos serviços militares, afim de lutar na guerra e servir sua amada pátria Alemanha, contra os Franceses, que cada vez mais ganhavam terreno e encurralavam os alemães.
O que Paul não sabia, à parte de seu patriotismo em servir o seu país na guerra, eram os horrores e a desumanidade que ele encontraria nas trincheiras e enquanto percorria a França tentando deter seus inimigos, e o quanto aquilo o afetaria e mudaria a vida e o destino de seus amigos para sempre.
Não vou negar, temos aqui uma "quase" Obra Prima, chegou muito perto, pois o filme é soberbo, voraz, marcante, tenebroso, mórbido e ao mesmo tempo ele é bem tocante, pega muito nos sentimentos humanos dentro de um ambiente de carnificina que é a guerra, onde a maioria não entende o idioma do inimigo, e nos mostra que no fundo, lá no fundo, ninguém quer a guerra, só quem a quer são aqueles que gostam e amam ter o poder.
Não li o romance de Remarche, mas o roteiro foi muito bem conduzido e alinhado por Edward Berger, que nos mostrou detalhadamente, os acontecimentos e percalços que acontecem no campo de batalha quando os inimigos se encontram, os detalhes dos horrores dos golpes, dos corpos, da sede de sangue, do medo dos jovens, da brutalidade dos ataques, e da compaixão ao presenciar cenas de tirar o sono, de ficar impregnado em sua mente e te aterrorizar durante a noite, o sono, e por toda sua vida.
Paul queria tanto servir o seu país, queria tanto voltar para casa como um herói, assim como seus amigos, com sonhos e desejos juvenis como todos os outros garotos,mas não estava preparado para o que viria lhe suceder no gorro da guerra.
Em como ele teria que tirar uma vida humana, onde ficaria à mercê da morte por milímetros de ser acertado por uma bala, as máquinas de destruição que passariam por sua cabeça, esmagando ossos de seus compatriotas, o medo de perder seus amigos no campo de batalha, a solidão de avançar o campo, sozinho, tendo que cuidar de si mesmo e matar quando você conseguir, e ainda permanecer vivo e inteiro, temendo pela segurança de seus amigos que fazem o mesmo.
Uma das cenas mais fortes do longa, quando Paul avança e esfaqueia um inimigo francês, que nem armado estava, e o mesmo começa a agonizar no chão engasgando no próprio sangue, e ele não morre, e Paul se desespera, não quer ver, não quer ouvir, se cansou daquela situação toda, só quer voltar para casa, e no desespero tenta sufocar o agonizante com lama, e não surte efeito, e cansado e culpado de vê-lo asfixiando lentamente, tenta ajudá-lo estancando o sangue que jorra de seu peito, com o francês assustado achando que ele terminará de matá-lo logo, e logo em seguida, depois de muitos minutos, o francês não suporta e falece... E Paul ao fuçar em suas roupas, vê uma foto da esposa e filha do falecido. É uma cena fortíssima, que incomoda, que fica na sua mente, vai fazer você querer desligar a TV, parar o filme, vai mexer com você. Nisso, Edward Berger foi muito bem, conseguiu transcrever perfeitamente, como se sucede tais atos numa guerra, onde o inimigo não conhece o inimigo, eles se enfrentam porque assim o governo determinou.
O filme determina muito bem que é o governo, seus líderes políticos e militares, quem determinam a guerra, os próximos passos, como irão agir, como irão se posicionar, quando vão avançar, qual o próximo passo a ser dado. Aqui mostra bem quando a guerra está acabada, terminada, quando se está praticamente derrotado, mas o orgulho fala mais alto, você determina mais homens, mais jovens, mais balas, para poder lançar um contra ataque, ou então tentar manter aquele perímetro de terra que você não quer entregar nas mãos do inimigo... e enquanto mais e mais jovens, homens, e inocentes patriotas morrem, os líderes traçam mais planos, sem conseguir enxergar que está derrotado, não há mais alternativas a não ser se render... ou o outro lado, que está em vantagem, que prefere matar e matar e matar, sem se importar com os seus homens na linha de frente, que tanto querem retornar às suas famílias, e podem acabar morrendo no campo de batalha por um erro ou uma bobagem qualquer, quando a guerra já podia ser encerrada.
Além de ser bem dirigido, 'Nada de Novo no Front' tem uma trilha sonora inspirada, ela é densa e ao mesmo tempo é mórbida, ela é bem cinza e nenhum momento ela possui notas que nos remetem à esperança, ou ao um novo alvorecer, é uma trilha que se mantém tensa, inquieta, os violinos não se conversam, eles apenas dialogam com o terror dos ataques, ao com a desilusão dos personagens. Possui instrumentos únicos que mesclados nos passam o sentimento de morte o tempo inteiro. Méritos do compositor Volker Bertelmann.
A direção de arte é de Christian M Goldbeck e é fantástica, desde os tanques usados no campo de batalha, aos cenários usados para se filmar as cenas, alinhados ao figurino de Michal Motycka, que fez um trabalho incrível ao recriar os uniformes para serem o mais bem parecido com os usados na época da primeira guerra mundial, assim como descrito no livro.
O Som do filme é perfeitamente bem sonorizado, casando bem com as ações, fazendo você ter uma boa noção de que poderia muito bem estar ali dentro do campo de batalha, tenso com quem ou o que pode vir a lhe atacar ou emboscar.
A cinematografia é de James Friend, e ele fez um ótimo trabalho junto ao diretor Berger em captar bem os personagens e destacá-los nas cenas mais importantes, e captar os horrores e a desesperança em seus rostos. Assim como temos belas tomadas de cena onde o roxo prevalece, assim como o cinza, cenas essas que traduzem ao espectador o sentimento de que tudo está meio mórbido no momento, ou que a uma falta de esperança nestas cenas, e por aí vai.
Tecnicamente, o filme é soberbo, perfeito e vai impressionar quem assiste e aprecia os bons detalhes técnicos de um filme.
A única coisa que me incomodou no longa, o que faz eu, particularmente, não o considerar uma obra prima de fato, é o fato de não contextualizar os personagens no início do filme. Eles simplesmente decidem ir para guerra, e assim o fazem.
Não sabemos quem são suas famílias, suas relações com eles, quais são seus sonhos, o que eles deixaram para trás, como eram suas vidas e como eles enxergavam seu país e sua realidade.
Essa falta de contextualização no protagonista e seus amigos coadjuvantes, fez com que eu não me ligasse muito na jornada deles, não me afeiçoasse a eles, não torcesse de fato por eles, eu apenas acompanha suas caminhadas e seu destino. Esses destinos já traçados para os personagens, que ficaram bem óbvios com o decorrer do filme, fez com que eu não sentisse tanto a conclusão de suas jornadas, de não absorver aquele sentimento, e isso em um filme tão impactante como este, é algo muito importante que faz com que você se conecte com o personagem e sinta o que ele sente, que você se coloque no lugar dele... e eu não senti isso. O descaso que eles também têm com animais fez com que eu não me ligasse tanto na jornada deles e no que um significava para o outro.
Essa falha de conexão com os personagens protagonista e coadjuvantes, fez com que toda a carga dramática do filme e sua grandiosidade sentimental caísse um pouco por terra e não me importasse tanto assim com os soldados que ali estavam na linha de frente da batalha. Apenas o personagem Katz (de Albrecht Schuch) foi o que mais me afeiçoei e me liguei no filme, aquele que realmente se conectou comigo.
'Nada de Novo no Front', um filme Original Netflix, que teve produção direção e roteiro de Edward Berger, com Daniel Brühl também envolvido na produção teve inúmeras indicações no BAFTA deste ano... 14 ao total, o filme com mais indicações, ganhando a indicação ainda na categoria de Melhor Filme, o mais importante da noite. Além desta indicação, foi indicado também a Melhor Ator Coadjuvante para Albrecht Schuch, Melhor Direção para Edward Berger, Trilha Sonora, Efeitos Visuais, Montagem, Roteiro Adaptado, Maquiagem e Cabelo, Fotografia, Figurino, Melhor Som, Melhor Design de Produção, Melhor Elenco e finalmente Melhor Filme em Língua Não Inglesa (Estrangeiro).
Ufa... 14 indicações, o BAFTA amou o filme mesmo.
Foi indicado ao Globo de Ouro em Filme Estrangeiro, perdendo para Argentina 1985 (meu Favorito), e no Critics Choice Awards na mesma categoria, perdendo para RRR.
Com certeza será nomeado nesta categoria no Oscar, e quem sabe, pode até abocanhar alguma indicação em uma ou mais categorias técnicas.
O meu favorito nessa temporada de premiações ainda é Argentina, 1985, sempre que estiver indicado estarei torcendo, até que outro indicado que eu irei conferir roube este posto. Mas ficarei feliz se o filme de Edward Berger levar o prêmio de Filme Estrangeuri no BAFTA deste ano.
Só acho que a indicação do longa para Melhor Filme no BAFTA foi um pouco exagerado, eu particularmente não indicaria e teria colocado 'Aftersun' no lugar fácil, por exemplo. Porém, essa indicação se justifica pelo fato do longa ter recebido quase todas as indicações na categorias técnicas, fora Direção e Roteiro.
Mais uma pérola incrível do cinema alemão que só melhora a cada ano que passa. Mais um ponto para a Netflix.
(Assistido em 14/01/2023 - Netflix)