Magic Mike XXL é tão feminista que ele é a única obra audiovisual que eu percebi ter recoberto a integralidade de cada um dos dois esquemas da jornada da heroína, ou "monomito da jornada (cíclica) interior arquetípica" (de mulheres e homens): o de Maureen Murdock e o de Victoria Lynn Schmidt.
E a coisa é tão doida que se juntarmos o primeiro filme com a continuação, a gente tem uma jornada macro, com o Matthew McConaughey representando o masculino/yang/opressor; e a Jada Pinkett Smith, o sagrado feminino.
O (primeiro) Magic Mike já era uma "jornada da heroína". Mas isso aí já é outro patamar. É o monomito elevado à quarta potência.
Esse filme não tem nada de "otimista". Pelo contrário, não tem nenhum 'happy ending'. Mas ele também não cai no determinismo (racista) / fatalismo do protagonista que vai preso, ou morre, ou qualquer coisa do gênero.
Yanis foi rotulado de forma indelével (ao menos por uns bons anos) e, sem se encaixar no sistema educativo público francês, nem tampouco cair na marginalidade, acabou jogado no "limbo" do sistema de ensino. Tal qual a personagem chamada 'Brahim' apresentada aos 7'20'' do filme e que clama pra ser resgatada aos 90' minutos de filme.
O protagonista é muito lúcido e carismático. Os roteiristas traçam um panorama social como muita propriedade e conhecimento de causa.
Pra ser melhor, só faltava equilibrar um pouco mais as personagens (menos flashbascks da Bertinelli, mais da Canário, mais agência do Zsasz...) e aplicar a ideia de Nando v Movies: https://youtu.be/HXCnRrSGT34.
Muitos falam da fotografia, da direção, da atuação, mas não vi ninguém falando da trilha. Ora! com o intuito de provocar um tiquinho, eu diria que ela é muito mais relevante que todas as demais partes do filme somadas, rs:
Um típico monomito da jornada (cíclica) interior arquetípica teorizado por Victoria Lynn Schmidt: https://filmow.com/listas/jornada-da-heroina-o-monomito-da-jornada-ciclica-interior-arquetipica-de-mulheres-e-homens-l116520/. ;-)
Ao passo que vemos homens falando entre si sobre utopias, sonhos, desesperanças, as mulheres apenas são ouvidas a respeito de Fernando Birri.
Tudo isso tendo como cenário ora uma mulher limpando o chão, ora um aquário com formato de um corpo de mulher nua (não me lembro se com cabeça)... Também vemos na tela um homem mostrando uma imagem (erótica? pornográfica?) de buceta para outro homem.
É "como se" a utopia para Fernando Birri fosse o sonho de uma igualdade entre homens, com as mulheres (mais novas) o idolatrando e nunca perguntadas a respeito de algo que não seja ele, sua procissão fúnebre, seu legado, seu antigo quarto (que se tornou templo-museu-santuário).
Aliás, uma análise semiótica do próprio cartaz do doc corrobora essa leitura. Ele, mirando ao longe, por meio de um binóculo colorido e infantil e sendo olhado e admirado por três mulheres mal enquadradas.
"Dizer que um homem é heterossexual implica somente que ele mantém relações sexuais exclusivamente com [ou submete sexualmente] o sexo oposto, ou seja, mulheres. Tudo ou quase tudo que é próprio do amor, a maioria dos homens hétero reservam exclusivamente para outros homens. As pessoas que eles admiram; respeitam; adoram e veneram; honram; quem eles imitam, idolatram e com quem criam vínculos mais profundos; a quem estão dispostos a ensinar e com quem estão dispostos a aprender; aqueles cujo respeito, admiração, reconhecimento, honra, reverência e amor eles desejam: estes são, em sua maioria esmagadora, outros homens. Em suas relações com mulheres, o que é visto como respeito é gentileza, generosidade ou paternalismo; o que é visto como honra é a colocação da mulher em uma redoma. Das mulheres eles querem devoção, servitude e sexo. A cultura heterossexual masculina é homoafetiva; ela cultiva o amor pelos homens." [Marilyn Frye]
Não à toa, todos os nomes do cinema citados por ele foram de homens. Como se não existissem mulheres cineastas desde a época de Georges Méliès, que ele menciona. São a esses homens que ele quer ser equiparado em vida e em morte: Méliès, Chaplin, Godard; nunca a uma Alice Guy-Blaché, uma Mary Pickford ou uma Agnès Varda.
Esperava mais vindo de um longa dirigido por mulher.
E que deixemos morrer essa utopia arcaica de homem branco hétero e cis!!! Que outras utopias sejam ouvidas e levadas adiante!
Pode até parecer um textão, mas está mais para 7 mini-textinhos, rs.:
- Achei a proposta interessante, mas não precisavam usar o nome de pessoas que viveram de fato para criar coisas nada a ver a partir de suas biografias.
- E, embora a proposta seja, como eu disse, bem interessante e eu tenha gostado sobretudo do desfecho, a diretora não soube se aproveitar do que já foi feito de melhor no subgênero 'survival' (do gênero aventura).
- E o confinamento entre duas mulheres tão distintas poderia ter dado espaço a altos diálogos. Até porque, quando nos vemos tão perto de morrer, a gente começa a relembrar e reavaliar nossas histórias de vida - e pode querer falar a respeito com alguém, mesmo que a pessoa não entenda tudo. E a co-protagonista, francamente, fala é relativamente bem. Muito bem até.
- Mas os defeitos não param por aí... Posso até entender que o pessoal da direção/produção ou do casting tenha muito quisto uma atriz específica para interpretar uma inuk, apesar dela ser é japonesa. Mas poderiam ter priorizado inuit par papéis secundários em vez de, por exemplo, chamar um espanhol de origem sulcoreana para atuar na pele de Odaq.
- A parte boa: a interpretação de Juliette Binoche. Por meio de pequenos tiques nervosos, breves sorrisos amarelos e falas evasivas, apresenta muito bem uma personagem extremamente neurótica, com suas tentativas de fingir que não sofre machismo e até mesmo de se antecipar a ele, fazendo valer os privilégios decorrentes de sua classe socio-econômica.
- Pessoalmente, discordo de quem vê no final a romantização da morte de uma não-branca. Interpreto como ela tomando a decisão de se matar mesmo, não de salvar a Josephine. Ela acabou de perder seu bebê. E o homem por quem ela esperou e arriscou a vida nem lembrou dela na hora do resgate, terceirizado por sinal. Se já é foda para a mulher, ele mandar buscá-la em vez de ir pessoalmente, o que dizer da amante da qual ele simplesmente nem recorda?
- Por fim, acho despropositado querer empoderamento feminino (girlpower) em todo filme com protagonista mulher ou menina. Principalmente se se trata de um drama "de época". E filmes de Agnès Varda, diretora feministona, (como 'As duas faces da felicidade') ou outros, como 'Lanternas vermelhas', estão aí para provar que para uma obra ser feminista, ela não precisa apresentar quase que super-heroínas, seres perfeitos e irrepreensíveis. Isso aliás, está mais para romantismo que feminismo. O que uma obra feminista faz é jogar luz nas várias facetas do machismo (e, direta ou indiretamente, nos apontar caminhos). Além do mais, o que a gente faria da esmagadora maioria das histórias baseadas em fatos. As mulheres que não foram, por exemplo, sufragistas no início do século devem ser apagadas da História? É para fingirmos que elas nunca existiram? Acho isso complicado demais.
Câmara de Espelhos
4.1 5Disponível gratuitamente no site da mostra 'Cinema, Olhares no Feminino' de 12 a 18 de setembro.
Baronesa
4.2 58 Assista AgoraA partir de hoje e até 11 de setembro, disponível gratuitamente no site da mostra Cinema, Olhares no Feminino.
Magic Mike XXL
3.2 469 Assista AgoraMagic Mike XXL é tão feminista que ele é a única obra audiovisual que eu percebi ter recoberto a integralidade de cada um dos dois esquemas da jornada da heroína, ou "monomito da jornada (cíclica) interior arquetípica" (de mulheres e homens): o de Maureen Murdock e o de Victoria Lynn Schmidt.
E a coisa é tão doida que se juntarmos o primeiro filme com a continuação, a gente tem uma jornada macro, com o Matthew McConaughey representando o masculino/yang/opressor; e a Jada Pinkett Smith, o sagrado feminino.
O (primeiro) Magic Mike já era uma "jornada da heroína". Mas isso aí já é outro patamar. É o monomito elevado à quarta potência.
https://filmow.com/listas/jornada-da-heroina-o-monomito-da-jornada-ciclica-interior-arquetipica-de-mulheres-e-homens-l116520/
Efeito Pigmaleão
3.4 27Esse filme não tem nada de "otimista". Pelo contrário, não tem nenhum 'happy ending'. Mas ele também não cai no determinismo (racista) / fatalismo do protagonista que vai preso, ou morre, ou qualquer coisa do gênero.
Yanis foi rotulado de forma indelével (ao menos por uns bons anos) e, sem se encaixar no sistema educativo público francês, nem tampouco cair na marginalidade, acabou jogado no "limbo" do sistema de ensino. Tal qual a personagem chamada 'Brahim' apresentada aos 7'20'' do filme e que clama pra ser resgatada aos 90' minutos de filme.
O protagonista é muito lúcido e carismático. Os roteiristas traçam um panorama social como muita propriedade e conhecimento de causa.
Filme muito acima da média.
Magic Mike XXL
3.2 469 Assista AgoraNível fundamental:
mágoa / desilusão x cura / entusiasmo.
Malévola: Dona do Mal
3.4 617 Assista AgoraQue p#&&@ de touca horrível é essa na cabeça de Angelina Jolie aos 17 min do filme?!!!
Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa
3.4 1,4KPra ser melhor, só faltava equilibrar um pouco mais as personagens (menos flashbascks da Bertinelli, mais da Canário, mais agência do Zsasz...) e aplicar a ideia de Nando v Movies: https://youtu.be/HXCnRrSGT34.
Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa
3.4 1,4KNível fundamental:
dependência emocional vs. emancipação
Jackie Brown
3.8 739 Assista AgoraNível fundamental:
agência vs. inação
Moana: Um Mar de Aventuras
4.1 1,5KNível fundamental:
empatia vs. egocentrismo
Ganga Bruta
3.4 51Nível fundamental:
pulsão erótica e de vida vs. repressão sexual e pulsão de morte
Os Embalos de Sábado à Noite
3.4 662 Assista AgoraNível fundamental:
masculinidade tóxica vs. positiva
Fargo: Uma Comédia de Erros
3.9 920 Assista AgoraNível fundamental:
ganância vs. contentamento
Você Nunca Esteve Realmente Aqui
3.6 521 Assista AgoraMuitos falam da fotografia, da direção, da atuação, mas não vi ninguém falando da trilha. Ora! com o intuito de provocar um tiquinho, eu diria que ela é muito mais relevante que todas as demais partes do filme somadas, rs:
https://seventh-row.com/2018/03/27/paul-davies-you-were-never-really-here/
Assunto de Família
4.2 400 Assista AgoraUm 'Padrinhos de Tóquio' em muito melhor (e live action).
Visages, Villages
4.4 161 Assista AgoraDisponível (com legendas em francês) no YouTube: https://youtu.be/Eq7S2PqYOnE.
Eu Não Sou Seu Negro
4.5 135 Assista AgoraDisponível legendado em francês no YouTube: https://youtu.be/rQoSoBsluuM.
Contratadas para Matar
3.9 40http://soldatsdhier.e-monsite.com/pages/films-ou-realite/les-femmes-de-l-ombre-du-film-a-la-realite.html
Camocim
3.5 19https://www.youtube.com/watch?v=5mBeUBSVgI4
Magic Mike
3.0 1,3K Assista AgoraUm típico monomito da jornada (cíclica) interior arquetípica teorizado por Victoria Lynn Schmidt:
https://filmow.com/listas/jornada-da-heroina-o-monomito-da-jornada-ciclica-interior-arquetipica-de-mulheres-e-homens-l116520/.
;-)
O Estado Contra Mandela e os Outros
3.7 1Primeiríssima entrevista concedida pelos diretores a respeito desse documentário:
https://www.youtube.com/watch?v=MHWA_lkADrc (em francês).
Amarra Teu Arado A Uma Estrela
3.8 1Ao passo que vemos homens falando entre si sobre utopias, sonhos, desesperanças, as mulheres apenas são ouvidas a respeito de Fernando Birri.
Tudo isso tendo como cenário ora uma mulher limpando o chão, ora um aquário com formato de um corpo de mulher nua (não me lembro se com cabeça)... Também vemos na tela um homem mostrando uma imagem (erótica? pornográfica?) de buceta para outro homem.
É "como se" a utopia para Fernando Birri fosse o sonho de uma igualdade entre homens, com as mulheres (mais novas) o idolatrando e nunca perguntadas a respeito de algo que não seja ele, sua procissão fúnebre, seu legado, seu antigo quarto (que se tornou templo-museu-santuário).
Aliás, uma análise semiótica do próprio cartaz do doc corrobora essa leitura. Ele, mirando ao longe, por meio de um binóculo colorido e infantil e sendo olhado e admirado por três mulheres mal enquadradas.
"Dizer que um homem é heterossexual implica somente que ele mantém relações sexuais exclusivamente com [ou submete sexualmente] o sexo oposto, ou seja, mulheres. Tudo ou quase tudo que é próprio do amor, a maioria dos homens hétero reservam exclusivamente para outros homens. As pessoas que eles admiram; respeitam; adoram e veneram; honram; quem eles imitam, idolatram e com quem criam vínculos mais profundos; a quem estão dispostos a ensinar e com quem estão dispostos a aprender; aqueles cujo respeito, admiração, reconhecimento, honra, reverência e amor eles desejam: estes são, em sua maioria esmagadora, outros homens. Em suas relações com mulheres, o que é visto como respeito é gentileza, generosidade ou paternalismo; o que é visto como honra é a colocação da mulher em uma redoma. Das mulheres eles querem devoção, servitude e sexo. A cultura heterossexual masculina é homoafetiva; ela cultiva o amor pelos homens." [Marilyn Frye]
Não à toa, todos os nomes do cinema citados por ele foram de homens. Como se não existissem mulheres cineastas desde a época de Georges Méliès, que ele menciona. São a esses homens que ele quer ser equiparado em vida e em morte: Méliès, Chaplin, Godard; nunca a uma Alice Guy-Blaché, uma Mary Pickford ou uma Agnès Varda.
Esperava mais vindo de um longa dirigido por mulher.
E que deixemos morrer essa utopia arcaica de homem branco hétero e cis!!! Que outras utopias sejam ouvidas e levadas adiante!
Straight Outta Compton - A História do N.W.A.
4.2 361 Assista Agorahttps://www.theguardian.com/film/2015/aug/13/straight-outta-compton-film-ice-cube
Ninguém Deseja a Noite
3.4 51 Assista AgoraPode até parecer um textão, mas está mais para 7 mini-textinhos, rs.:
- Achei a proposta interessante, mas não precisavam usar o nome de pessoas que viveram de fato para criar coisas nada a ver a partir de suas biografias.
- E, embora a proposta seja, como eu disse, bem interessante e eu tenha gostado sobretudo do desfecho, a diretora não soube se aproveitar do que já foi feito de melhor no subgênero 'survival' (do gênero aventura).
- E o confinamento entre duas mulheres tão distintas poderia ter dado espaço a altos diálogos. Até porque, quando nos vemos tão perto de morrer, a gente começa a relembrar e reavaliar nossas histórias de vida - e pode querer falar a respeito com alguém, mesmo que a pessoa não entenda tudo. E a co-protagonista, francamente, fala é relativamente bem. Muito bem até.
- Mas os defeitos não param por aí... Posso até entender que o pessoal da direção/produção ou do casting tenha muito quisto uma atriz específica para interpretar uma inuk, apesar dela ser é japonesa. Mas poderiam ter priorizado inuit par papéis secundários em vez de, por exemplo, chamar um espanhol de origem sulcoreana para atuar na pele de Odaq.
- A parte boa: a interpretação de Juliette Binoche. Por meio de pequenos tiques nervosos, breves sorrisos amarelos e falas evasivas, apresenta muito bem uma personagem extremamente neurótica, com suas tentativas de fingir que não sofre machismo e até mesmo de se antecipar a ele, fazendo valer os privilégios decorrentes de sua classe socio-econômica.
- Pessoalmente, discordo de quem vê no final a romantização da morte de uma não-branca. Interpreto como ela tomando a decisão de se matar mesmo, não de salvar a Josephine. Ela acabou de perder seu bebê. E o homem por quem ela esperou e arriscou a vida nem lembrou dela na hora do resgate, terceirizado por sinal. Se já é foda para a mulher, ele mandar buscá-la em vez de ir pessoalmente, o que dizer da amante da qual ele simplesmente nem recorda?
- Por fim, acho despropositado querer empoderamento feminino (girlpower) em todo filme com protagonista mulher ou menina. Principalmente se se trata de um drama "de época". E filmes de Agnès Varda, diretora feministona, (como 'As duas faces da felicidade') ou outros, como 'Lanternas vermelhas', estão aí para provar que para uma obra ser feminista, ela não precisa apresentar quase que super-heroínas, seres perfeitos e irrepreensíveis. Isso aliás, está mais para romantismo que feminismo. O que uma obra feminista faz é jogar luz nas várias facetas do machismo (e, direta ou indiretamente, nos apontar caminhos).
Além do mais, o que a gente faria da esmagadora maioria das histórias baseadas em fatos. As mulheres que não foram, por exemplo, sufragistas no início do século devem ser apagadas da História? É para fingirmos que elas nunca existiram? Acho isso complicado demais.