Leve e divertido, como somente os anos 90 pode nos proporcionar. Drew Barrymore está hilária e juntamente Whoopdi Goldberg eleva a irreverência do longa (afinal, são os dois grandes nomes desta década em questão), cabendo a Mary-Louise Parker as cenas mais dramáticas. A dosagem entre os dois gêneros é agradável e torna o ritmo dinâmico. Como um elenco só de mulheres faz uma grande diferença, ein!?
Dee Rees em Mudbound capta bem a amargura e a hipocrisia do racismo norte-americano em um drama potente e sólido. O roteiro bem amarrado, fruto da sensibilidade da idealizadora diante do material original, dá vida à personagens complexos em tom de cinza tal qual sua fotografia e cenários gélidos, e descortina as relações e conflitos entre sujeitos imersos num cenário historicamente opressor. É revoltante a cada texto e sequência perceber que o preconceito racial está ali intacto e à espreita, desconfiado e cuidadoso, como um vulcão que está prestes a entrar em erupção. Acimenta as relações e determina qual lugar de cada um. Afronta, quando preciso. Obrigado Dee Rees por cutucar a ferida mais uma vez. Diretores/as como você devem ser lembrados/as sempre pelo compromisso com a História e a dignidade humana.
Cher está tão radiante e bela em Mermaids que eu ficava hipnotizado a cada cena em que a musa sorria. A sintonia entre ela, a estreante Christina Ricci e a crush suprema dos anos 90 Winona prende a atenção do espectador, nos conectando a este drama hilário e descompromissado.
A mudança de tom na trama do Deus do Trovão, que deslocou a ação mais séria e sombria para a fórmula enlatada dos grandes sucessos da franquia MCU calhou bem viu!? A dinâmica entre Thor e Hulk funcionou de forma agradável, fazendo com que o personagem-título até se tornasse cômico e empático. Mas estava na hora né!? Parece que o herói se encontrou, após dois fiascos longas.
***Hela é uma vilã que precisa retornar para o universo de alguma forma, uma das poucas que funcionou até agora***
Convencional. Mas desde quando há problema nisso? "Die Göttliche Ordnung" possibilita inúmeras leituras e reflexões acerca da histórica dominação sexual-social: peguemos como exemplo a recusa da mulher em seguir o papel doméstico ao qual foi designada em tempos imemoriais, da filha a esposa; daí analisamos como o patriarcado também ceifa a liberdade sexual e de pensamento, tolhendo direitos individuais de inúmeros sujeitos; e não esquecemos que há no próprio sistema uma lógica que empurra homens (sim!) há uma masculinidade compulsória, ditando a figura do macho provedor e inquestionável (nesse ponto o Hans Grube encarna o fardo). Pimba! Temos uma aula em forma de longa metragem, irmãos e irmãs. Não se enganem que este filme, e o movimento das sufragistas no globo, se resume à conquista do do voto universal. É um questionamento ao status quo.
Não tem para onde correr: a entrega de Frances McDormand e sua capacidade em dar vida a uma personagem tão complexa, que explode raiva e dor na mesma proporção, basicamente consome o longa. Claro, há ali o texto afiado de Martin McDonagh e o roteiro recheado de reviravoltas dramáticas imprevisíveis (forçadas também, vamos assumir), mas é graças a performance de nossa protagonista que a empatia e a força da trama vem à tona. Em cada sequência, desde o enfrentamento ácido com o padre à sua tentativa falha de apagar o fogo dos outdoors, sentimos a fúria de uma mãe em luto, e isso é muito mais mérito da habilidade da atriz em externar as emoções que do idealizador do longa. Frances McDormand, por favor, a sétima arte não pode te perder! Se envolva em mais projetos.
Judi Dench magnífica. Vê-la em Mrs. Brown e depois em Victoria e Abdull é comprovar que a atriz faz um trabalho de imersão em personagem de maneira surpreendente, mesmo reprisando o papel com 20 anos de diferença.
Quanto ao longa: convencional e simples, no entanto agradável pelas bravas atuações e retratação histórica do recorte de vida da Rainha Victória.
Pelo olhar perdido e atencioso da menina Loung, Jolie e sua câmera capta sequências angustiantes de guerra, fome e trabalho forçado na Camboja comunista de forma precisa e direta. Não à interessa uma trama de altos e baixos perpassando por arquétipos e valores; é o horror em si, duro e cru. A visão da guria, que também é nossa, aproxima à realidade dolorosa, a ponto de desejarmos rapidamente o fim da saga infeliz da pequena. Ponto para Jolie e equipe, incluindo a própria sobrevivente que escreveu o livro originário. Só fiquei incomodado um pouco pela escolha narrativa da repetição como forma de imprimir e reforçar as barbáries do regime, por vezes se torna enfadonho. Porém nada que prejudique o conjunto, fazendo de First They Killed My Father uma sessão bem difícil de se assistir por conta da forma quase que documental do seu registro.
Dotado de uma sensibilidade primorosa e uma bela estética, Coco nos acerta com uma mensagem sobre laços familiares (também para além destes) e a importância do reconhecimento do outro como parte integrante e crucial para o entendimento do eu. A saga do menino Miguel e sua (re)construção a partir da memória faz o espectador pegar-se refletindo sobre sua própria trajetória; e pra mim, cinema é isso! Criar uma conexão ilusória porém palpável entre realidade e ficção. Sem dúvidas um dos melhores do ano e ponto, sem essa de incluir numa sub-categoria "animação".
***La Llorona, El latido de Mi Corazone e Recuérdame ecoam em minha mente mesmo dias após a sessão***
Não fez falta uma estória. Christopher Nolan opta por um projeto em que a guerra é a protagonista, e a aflição invade o espectador da mesma forma que fez parte das milhares de vidas imersas no horror da batalha de Dunkirk. Aqui todos os homens se confundem; não há rostos, não há background, só há a sobrevivência. Uma experiência visual e sonora que nos atinge, como cinema. Em várias sequências fiquei vidrado na tela, à expectativa da próxima desventura dos soldados. Poderia ter um roteiro acabado? Poderia! Mas Dunkirk mostrou a que veio à sua forma, com a técnica impecável e emoção no ponto.
Julguei que A Guerra dos Sexos teria um tom político presunçoso e mais discurso que trama e aspectos cinematográficos. Julguei errado, então! A mensagem que Faris e Dayton procura transmitir neste recorte da história de Billie Jean King é envolvente, emocionante e necessária. Não soa pedante, não soa anacrônico (pelo menos não de forma sobressaltante). Graças à atuação concisa de Emma Stone e dedicada do multifacetado Steve Carell o longa tem uma dinâmica agradável e não cai na superficialidade na construção de suas personas.
A delicadeza de Maudie reside particularmente na tocante performance de sua protagonista. Sally Hawkins, em uma carreira relativamente breve, já se consolida como uma das melhores atrizes desta geração. Sua capacidade de se transfigurar em gestos, tonalidades e sutilezas permitem que o espectador se sinta conectado à persona; e isso provoca a partir de uma história simples emoções avassaladoras.
Os anseios e desafios do povo sul-americano descortinados de forma inspiradora, em mais que uma aula de duas horas. Jorrando luta, garra e sofrimento. E vislumbrando a possibilidade de um horizonte em que a lógica do Novo Mundo subverte e rompe com a subserviência e indignidade. Ah se fizessem um Olhos Bem Abertos - 10 Anos Depois, que tristeza daria! Onde vamos parar, América?
Ousadia! Só a idealização do projeto de Sean Mathias, em trazer à tona a saga de um gay em meio à avalanche trágica do nazismo, já merece louvores. O longa é deveras provocativo e marcante. Só senti falta de uma entrega mais envolvente do Clive Owen, o que dá a sensação de que falta algo pra ser avassalador. O ator é sisudo demais, impedindo que certas cenas decolem; talvez seja uma performance intrínseca ao personagem, ou talvez nosso galã tenha impresso muito de sua personalidade na construção do outro. A produção e direção apresenta uma sofisticação mórbida que me faz questionar o porque dessa equipe não ter continuado produzindo longas nos últimos anos. "Bent" pode não se sobressair aos seus contemporâneos cinematográficos de mesma temática, no entanto nos presenteia uma trama curiosa e necessária.
Dentre as inúmeras obras que anualmente abarrotam as salas de cinemas mundo à fora com a temática da Segunda Guerra Mundial, Un Sac de Billes não surpreende nem inova mas ao menos agrada. Com a força da empatia residindo nas atuações dos pequeninos competentes Batyste Fleurial e Dorian Le Clech, nos apegamos a saga dos irmãos judeus em busca da liberdade de ser quem se é. Talvez se não tivéssemos as tentativas descaradas do idealizador em emocionar forçadamente em certas sequências, minando uma reação mais orgânica do espectador, teria sido mais feliz. Mas nada que destrone a obra por completo, que ao final deixa um suspiro em quem assiste.
The Little Hours tem uma estória divertida capitaneada por um time de ótimos atores, o que já contribui para o fluir da sessão. Acredito que se tivesse uns 15 minutos a mais de duração ou, ao menos, o acréscimo de situações nonsense e desbocadas no começo do longa, teria elevado o nível de irreverência da produção. Há duas cenas no ato final tão engraçadas que me deixaram com vontade de esticar a trama:
Agradável passa-tempo de uma estória genuína e engraçada recheada de personagens carismáticos. Robert Carlyle, que um ano antes deu vida ao tresloucado Begbie de Trainspotting, inspira empatia, bem como seus outros cinco companheiros de desemprego. Agora, vamos combinar, 1997 nem foi um ano horripilante assim pra Full Monty receber tantos louvores quanto teve. Nomeação a Best Picture e Best Director forçadíssimo! É divertido mas facilmente imemorável.
Eu me sinto um alienígena ao analisar a condução da história de Grandes Olhos pelo prisma da atuação dos protagonistas. Se por um lado temos, de fato, uma Amy Adams sensivelmente maravilhosa e crível demarcando o propósito de sua performance, que é emocionar, por outro temos Christoph Waltz as vezes caricato, over acting, típico personagem vigarista de desenho animado, fazendo com que a falta de timing cômico mine a capacidade dramática das cenas -o que foi aquela cena do auto-questionamento no tribunal? Que vergonha, destoa de toda a construção narrativa. Entretanto, Tim Burton acertou em por o projeto pra frente, conduzindo uma trama curiosa e necessária. A Margaret de Adams nos faz questionar sobre o papel social designado à mulher na década de 60, confrontando com a trajetória única de uma artista usurpada por uma questão de gênero. Poderia ser melhor? Definitivamente! Mas é o que temos pra hoje. Ignoramos os pequenos defeitos e embarcamos nessa biografia fascinante.
Jack Nicholson, a alma de As Good as It Gets. Sua louvável capacidade de criar empatia e dar um tom cômico à personagens insuportáveis numa primeira camada nos leva a grudar na poltrona aguardando as vicissitudes dessa estória sobre convivência. Não é a primeira vez que vemos isso (Um Estranho no Ninho) e não será a última, certamente. Mesmo que o roteiro tenha seguido uma linearidade evolutiva previsível, traçando a figura de Melvin desde os seus pequenos ódios diários à sua "conversão" ao lado harmônico das relações sociais, em nenhum momento decai numa trama piegas e forçada. O longa de James L. Brooks traz um lembrete sobre as possibilidades de se permitir conhecer o outro e se contaminar com o aprendizado simbiótico da vida.
"Viva" corre do óbvio e rejeita um cinema viciado em reproduzir atitudes humanas lógicas e previsíveis, trazendo a tona relações complexas, contraditórias e tão escondidas num emaranhado que torna a tentativa de racionalização falha. Em uma trama qualquer Jesus teria saído de casa, num ímpeto independente ao recusar ser reprimido por seu pai negligente e preconceituoso; em Viva o menino busca amenizar os conflitos e construir uma relação saudável com o carrasco de sua vida, nos fazendo refletir que nem tudo é tão simples de se resolver quanto parece. Uma grata surpresa de 2016.
Mais uma vez Gaspar Noé com sua habilidade em conduzir uma trama violenta e polêmica dá o ar de sua graça. O que poderia se tornar uma bagunça de má qualidade nas mãos de outros cineastas se torna seu grande trunfo: a narrativa em retrospecto instiga o espectador pelo final (que é começo rs) quase sem piscar os olhos e a edição frenética e turva torna crível a brutalidade pelas quais passam as personagens. É tanto horror sem um vislumbre de alívio. Daquelas obras que marcam pelo incômodo que causou a quem foi audacioso em assistir.
"Estamos aqui, isso é parte do Brasil. Com licença, esquerda e direita, aqui estamos!"
Uma radiografia da história da imprensa alternativa brasileira que resiste diante do monopólio da informação empresarial, bem como resgata a memória dos movimentos de contestação aos ditames morais e sexuais em meio às transformações políticas e sociais aos quais o país passava. Reivindicações à direita e à esquerda na década mais conturbada dos últimos anos da história nacional; no centro as "gueis", bombardeadas por todos os lados mas imperativas sobre sua própria identidade. Lampião da Esquina é uma aula didática e prazerosa acerca da contra-história produzida sobre, para e pelos LGBTs, marcando a conquista de espaços e expressões de um grupo ainda "guetificado". Um salve aos guerreiros e guerreiras que vieram antes de nós!
Eu tive que repetir a sequência final em que Romy, Michele e Sandy Frink performam a mais tresloucada dança que veremos num baile colegial. Ah, como eu ri! O longa é leve e bobinho sem picos de humor nos 92min de exibição, tornando até o conjunto um tanto esquecível e sem diferença substancial, mas entretém pelo entrosamento da dupla Lisa Kudrow e Mira Sorvino. Dava pra ter aproveitado as duas num texto mais ousado.
Um suspiro de qualidade num gênero já saturado e medíocre. Mulher-Maravilha é refrescante sem soar anacrônico, ponderando a força feminina apesar de inserida num espaço patriarcal. Patty Jenkins tinha tudo pra forçar ideais femininos pedantes e não o fez, por saber onde está pisando. Toda guerra ativa dispositivos masculinos/viris pra se legitimar e arregimentar apoio: em nome da defesa da pátria e da honra de seus compatriotas "indefesos" (idosos, crianças, mulheres, inválidos) "homens acima da média" vão a batalha; Wonder Woman subverte essa lógica tendo o cuidado de analisar a sociedade do século XX e nos leva a uma jornada de descoberta sobre-humana de Diana, formando uma persona poderosa e empática. Pontos para trabalho técnico de cenas de ação, eletrizante sobretudo nas lutas corpo-a-corpo da heroína abusando da coregrafia bem executada. Como faz diferença uma diretora competente em longas blockbuster, ein!
Somente Elas
3.8 117Leve e divertido, como somente os anos 90 pode nos proporcionar. Drew Barrymore está hilária e juntamente Whoopdi Goldberg eleva a irreverência do longa (afinal, são os dois grandes nomes desta década em questão), cabendo a Mary-Louise Parker as cenas mais dramáticas. A dosagem entre os dois gêneros é agradável e torna o ritmo dinâmico. Como um elenco só de mulheres faz uma grande diferença, ein!?
Mudbound: Lágrimas Sobre o Mississippi
4.1 323 Assista AgoraDee Rees em Mudbound capta bem a amargura e a hipocrisia do racismo norte-americano em um drama potente e sólido. O roteiro bem amarrado, fruto da sensibilidade da idealizadora diante do material original, dá vida à personagens complexos em tom de cinza tal qual sua fotografia e cenários gélidos, e descortina as relações e conflitos entre sujeitos imersos num cenário historicamente opressor. É revoltante a cada texto e sequência perceber que o preconceito racial está ali intacto e à espreita, desconfiado e cuidadoso, como um vulcão que está prestes a entrar em erupção. Acimenta as relações e determina qual lugar de cada um. Afronta, quando preciso. Obrigado Dee Rees por cutucar a ferida mais uma vez. Diretores/as como você devem ser lembrados/as sempre pelo compromisso com a História e a dignidade humana.
Minha Mãe é uma Sereia
3.4 220 Assista AgoraCher está tão radiante e bela em Mermaids que eu ficava hipnotizado a cada cena em que a musa sorria. A sintonia entre ela, a estreante Christina Ricci e a crush suprema dos anos 90 Winona prende a atenção do espectador, nos conectando a este drama hilário e descompromissado.
Thor: Ragnarok
3.7 1,9K Assista AgoraA mudança de tom na trama do Deus do Trovão, que deslocou a ação mais séria e sombria para a fórmula enlatada dos grandes sucessos da franquia MCU calhou bem viu!? A dinâmica entre Thor e Hulk funcionou de forma agradável, fazendo com que o personagem-título até se tornasse cômico e empático. Mas estava na hora né!? Parece que o herói se encontrou, após dois fiascos longas.
***Hela é uma vilã que precisa retornar para o universo de alguma forma, uma das poucas que funcionou até agora***
Mulheres Divinas
3.9 38 Assista AgoraConvencional. Mas desde quando há problema nisso? "Die Göttliche Ordnung" possibilita inúmeras leituras e reflexões acerca da histórica dominação sexual-social: peguemos como exemplo a recusa da mulher em seguir o papel doméstico ao qual foi designada em tempos imemoriais, da filha a esposa; daí analisamos como o patriarcado também ceifa a liberdade sexual e de pensamento, tolhendo direitos individuais de inúmeros sujeitos; e não esquecemos que há no próprio sistema uma lógica que empurra homens (sim!) há uma masculinidade compulsória, ditando a figura do macho provedor e inquestionável (nesse ponto o Hans Grube encarna o fardo). Pimba! Temos uma aula em forma de longa metragem, irmãos e irmãs. Não se enganem que este filme, e o movimento das sufragistas no globo, se resume à conquista do do voto universal. É um questionamento ao status quo.
Três Anúncios Para um Crime
4.2 2,0K Assista AgoraNão tem para onde correr: a entrega de Frances McDormand e sua capacidade em dar vida a uma personagem tão complexa, que explode raiva e dor na mesma proporção, basicamente consome o longa. Claro, há ali o texto afiado de Martin McDonagh e o roteiro recheado de reviravoltas dramáticas imprevisíveis (forçadas também, vamos assumir), mas é graças a performance de nossa protagonista que a empatia e a força da trama vem à tona. Em cada sequência, desde o enfrentamento ácido com o padre à sua tentativa falha de apagar o fogo dos outdoors, sentimos a fúria de uma mãe em luto, e isso é muito mais mérito da habilidade da atriz em externar as emoções que do idealizador do longa. Frances McDormand, por favor, a sétima arte não pode te perder! Se envolva em mais projetos.
Sua Majestade, Mrs. Brown
3.4 27Judi Dench magnífica. Vê-la em Mrs. Brown e depois em Victoria e Abdull é comprovar que a atriz faz um trabalho de imersão em personagem de maneira surpreendente, mesmo reprisando o papel com 20 anos de diferença.
Quanto ao longa: convencional e simples, no entanto agradável pelas bravas atuações e retratação histórica do recorte de vida da Rainha Victória.
Primeiro, Mataram o Meu Pai
3.8 238 Assista AgoraPelo olhar perdido e atencioso da menina Loung, Jolie e sua câmera capta sequências angustiantes de guerra, fome e trabalho forçado na Camboja comunista de forma precisa e direta. Não à interessa uma trama de altos e baixos perpassando por arquétipos e valores; é o horror em si, duro e cru. A visão da guria, que também é nossa, aproxima à realidade dolorosa, a ponto de desejarmos rapidamente o fim da saga infeliz da pequena. Ponto para Jolie e equipe, incluindo a própria sobrevivente que escreveu o livro originário. Só fiquei incomodado um pouco pela escolha narrativa da repetição como forma de imprimir e reforçar as barbáries do regime, por vezes se torna enfadonho. Porém nada que prejudique o conjunto, fazendo de First They Killed My Father uma sessão bem difícil de se assistir por conta da forma quase que documental do seu registro.
Viva: A Vida é Uma Festa
4.5 2,5K Assista AgoraDotado de uma sensibilidade primorosa e uma bela estética, Coco nos acerta com uma mensagem sobre laços familiares (também para além destes) e a importância do reconhecimento do outro como parte integrante e crucial para o entendimento do eu. A saga do menino Miguel e sua (re)construção a partir da memória faz o espectador pegar-se refletindo sobre sua própria trajetória; e pra mim, cinema é isso! Criar uma conexão ilusória porém palpável entre realidade e ficção. Sem dúvidas um dos melhores do ano e ponto, sem essa de incluir numa sub-categoria "animação".
***La Llorona, El latido de Mi Corazone e Recuérdame ecoam em minha mente mesmo dias após a sessão***
Dunkirk
3.8 2,0K Assista AgoraNão fez falta uma estória. Christopher Nolan opta por um projeto em que a guerra é a protagonista, e a aflição invade o espectador da mesma forma que fez parte das milhares de vidas imersas no horror da batalha de Dunkirk. Aqui todos os homens se confundem; não há rostos, não há background, só há a sobrevivência. Uma experiência visual e sonora que nos atinge, como cinema. Em várias sequências fiquei vidrado na tela, à expectativa da próxima desventura dos soldados. Poderia ter um roteiro acabado? Poderia! Mas Dunkirk mostrou a que veio à sua forma, com a técnica impecável e emoção no ponto.
A Guerra dos Sexos
3.7 316 Assista AgoraJulguei que A Guerra dos Sexos teria um tom político presunçoso e mais discurso que trama e aspectos cinematográficos. Julguei errado, então! A mensagem que Faris e Dayton procura transmitir neste recorte da história de Billie Jean King é envolvente, emocionante e necessária. Não soa pedante, não soa anacrônico (pelo menos não de forma sobressaltante). Graças à atuação concisa de Emma Stone e dedicada do multifacetado Steve Carell o longa tem uma dinâmica agradável e não cai na superficialidade na construção de suas personas.
**Sarah Silverman tá bem boa aqui também, ein!?**
Maudie: Sua Vida e Sua Arte
4.1 192 Assista AgoraA delicadeza de Maudie reside particularmente na tocante performance de sua protagonista. Sally Hawkins, em uma carreira relativamente breve, já se consolida como uma das melhores atrizes desta geração. Sua capacidade de se transfigurar em gestos, tonalidades e sutilezas permitem que o espectador se sinta conectado à persona; e isso provoca a partir de uma história simples emoções avassaladoras.
Olhos bem abertos: uma viagem pela America-latina de hoje
4.6 2Os anseios e desafios do povo sul-americano descortinados de forma inspiradora, em mais que uma aula de duas horas. Jorrando luta, garra e sofrimento. E vislumbrando a possibilidade de um horizonte em que a lógica do Novo Mundo subverte e rompe com a subserviência e indignidade. Ah se fizessem um Olhos Bem Abertos - 10 Anos Depois, que tristeza daria! Onde vamos parar, América?
Bent
3.8 206Ousadia! Só a idealização do projeto de Sean Mathias, em trazer à tona a saga de um gay em meio à avalanche trágica do nazismo, já merece louvores. O longa é deveras provocativo e marcante. Só senti falta de uma entrega mais envolvente do Clive Owen, o que dá a sensação de que falta algo pra ser avassalador. O ator é sisudo demais, impedindo que certas cenas decolem; talvez seja uma performance intrínseca ao personagem, ou talvez nosso galã tenha impresso muito de sua personalidade na construção do outro. A produção e direção apresenta uma sofisticação mórbida que me faz questionar o porque dessa equipe não ter continuado produzindo longas nos últimos anos. "Bent" pode não se sobressair aos seus contemporâneos cinematográficos de mesma temática, no entanto nos presenteia uma trama curiosa e necessária.
Os Meninos que Enganavam Nazistas
4.1 179 Assista AgoraDentre as inúmeras obras que anualmente abarrotam as salas de cinemas mundo à fora com a temática da Segunda Guerra Mundial, Un Sac de Billes não surpreende nem inova mas ao menos agrada. Com a força da empatia residindo nas atuações dos pequeninos competentes Batyste Fleurial e Dorian Le Clech, nos apegamos a saga dos irmãos judeus em busca da liberdade de ser quem se é. Talvez se não tivéssemos as tentativas descaradas do idealizador em emocionar forçadamente em certas sequências, minando uma reação mais orgânica do espectador, teria sido mais feliz. Mas nada que destrone a obra por completo, que ao final deixa um suspiro em quem assiste.
A Comédia dos Pecados
2.9 128 Assista AgoraThe Little Hours tem uma estória divertida capitaneada por um time de ótimos atores, o que já contribui para o fluir da sessão. Acredito que se tivesse uns 15 minutos a mais de duração ou, ao menos, o acréscimo de situações nonsense e desbocadas no começo do longa, teria elevado o nível de irreverência da produção. Há duas cenas no ato final tão engraçadas que me deixaram com vontade de esticar a trama:
O ritual de bruxaria e o bispo relatando os pecados das três irmãs numa espécie de julgamento eclesiástico.
Ah se o idealizador tivesse pendido mais pro lado religioso da comédia! No mais, bom passatempo.
Ou Tudo, Ou Nada
3.6 159 Assista AgoraAgradável passa-tempo de uma estória genuína e engraçada recheada de personagens carismáticos. Robert Carlyle, que um ano antes deu vida ao tresloucado Begbie de Trainspotting, inspira empatia, bem como seus outros cinco companheiros de desemprego. Agora, vamos combinar, 1997 nem foi um ano horripilante assim pra Full Monty receber tantos louvores quanto teve. Nomeação a Best Picture e Best Director forçadíssimo! É divertido mas facilmente imemorável.
Grandes Olhos
3.8 1,1K Assista grátisEu me sinto um alienígena ao analisar a condução da história de Grandes Olhos pelo prisma da atuação dos protagonistas. Se por um lado temos, de fato, uma Amy Adams sensivelmente maravilhosa e crível demarcando o propósito de sua performance, que é emocionar, por outro temos Christoph Waltz as vezes caricato, over acting, típico personagem vigarista de desenho animado, fazendo com que a falta de timing cômico mine a capacidade dramática das cenas -o que foi aquela cena do auto-questionamento no tribunal? Que vergonha, destoa de toda a construção narrativa. Entretanto, Tim Burton acertou em por o projeto pra frente, conduzindo uma trama curiosa e necessária. A Margaret de Adams nos faz questionar sobre o papel social designado à mulher na década de 60, confrontando com a trajetória única de uma artista usurpada por uma questão de gênero. Poderia ser melhor? Definitivamente! Mas é o que temos pra hoje. Ignoramos os pequenos defeitos e embarcamos nessa biografia fascinante.
Melhor É Impossível
4.0 683Jack Nicholson, a alma de As Good as It Gets. Sua louvável capacidade de criar empatia e dar um tom cômico à personagens insuportáveis numa primeira camada nos leva a grudar na poltrona aguardando as vicissitudes dessa estória sobre convivência. Não é a primeira vez que vemos isso (Um Estranho no Ninho) e não será a última, certamente. Mesmo que o roteiro tenha seguido uma linearidade evolutiva previsível, traçando a figura de Melvin desde os seus pequenos ódios diários à sua "conversão" ao lado harmônico das relações sociais, em nenhum momento decai numa trama piegas e forçada. O longa de James L. Brooks traz um lembrete sobre as possibilidades de se permitir conhecer o outro e se contaminar com o aprendizado simbiótico da vida.
Viva
3.9 60 Assista Agora"Viva" corre do óbvio e rejeita um cinema viciado em reproduzir atitudes humanas lógicas e previsíveis, trazendo a tona relações complexas, contraditórias e tão escondidas num emaranhado que torna a tentativa de racionalização falha. Em uma trama qualquer Jesus teria saído de casa, num ímpeto independente ao recusar ser reprimido por seu pai negligente e preconceituoso; em Viva o menino busca amenizar os conflitos e construir uma relação saudável com o carrasco de sua vida, nos fazendo refletir que nem tudo é tão simples de se resolver quanto parece. Uma grata surpresa de 2016.
Irreversível
4.0 1,8K Assista AgoraMais uma vez Gaspar Noé com sua habilidade em conduzir uma trama violenta e polêmica dá o ar de sua graça. O que poderia se tornar uma bagunça de má qualidade nas mãos de outros cineastas se torna seu grande trunfo: a narrativa em retrospecto instiga o espectador pelo final (que é começo rs) quase sem piscar os olhos e a edição frenética e turva torna crível a brutalidade pelas quais passam as personagens. É tanto horror sem um vislumbre de alívio. Daquelas obras que marcam pelo incômodo que causou a quem foi audacioso em assistir.
Lampião da Esquina
4.2 16"Estamos aqui, isso é parte do Brasil. Com licença, esquerda e direita, aqui estamos!"
Uma radiografia da história da imprensa alternativa brasileira que resiste diante do monopólio da informação empresarial, bem como resgata a memória dos movimentos de contestação aos ditames morais e sexuais em meio às transformações políticas e sociais aos quais o país passava. Reivindicações à direita e à esquerda na década mais conturbada dos últimos anos da história nacional; no centro as "gueis", bombardeadas por todos os lados mas imperativas sobre sua própria identidade. Lampião da Esquina é uma aula didática e prazerosa acerca da contra-história produzida sobre, para e pelos LGBTs, marcando a conquista de espaços e expressões de um grupo ainda "guetificado". Um salve aos guerreiros e guerreiras que vieram antes de nós!
Romy e Michele
3.1 132 Assista AgoraEu tive que repetir a sequência final em que Romy, Michele e Sandy Frink performam a mais tresloucada dança que veremos num baile colegial. Ah, como eu ri!
O longa é leve e bobinho sem picos de humor nos 92min de exibição, tornando até o conjunto um tanto esquecível e sem diferença substancial, mas entretém pelo entrosamento da dupla Lisa Kudrow e Mira Sorvino. Dava pra ter aproveitado as duas num texto mais ousado.
Mulher-Maravilha
4.1 2,9K Assista AgoraUm suspiro de qualidade num gênero já saturado e medíocre. Mulher-Maravilha é refrescante sem soar anacrônico, ponderando a força feminina apesar de inserida num espaço patriarcal. Patty Jenkins tinha tudo pra forçar ideais femininos pedantes e não o fez, por saber onde está pisando. Toda guerra ativa dispositivos masculinos/viris pra se legitimar e arregimentar apoio: em nome da defesa da pátria e da honra de seus compatriotas "indefesos" (idosos, crianças, mulheres, inválidos) "homens acima da média" vão a batalha; Wonder Woman subverte essa lógica tendo o cuidado de analisar a sociedade do século XX e nos leva a uma jornada de descoberta sobre-humana de Diana, formando uma persona poderosa e empática. Pontos para trabalho técnico de cenas de ação, eletrizante sobretudo nas lutas corpo-a-corpo da heroína abusando da coregrafia bem executada. Como faz diferença uma diretora competente em longas blockbuster, ein!