Eddie Redmayne. Todos os elementos do longa são eclipsados diante do trabalho magnífico e memorável do ator, que se desfigura para dar vida a um personagem dificílimo de se interpretar. Quase instantaneamente lembrei de Daniel Day Lewis em Meu Pé Esquerdo (1989). Redmayne impressiona não só por ser IDÊNTICO ao Hawking; há pequenos detalhes entre o humor afiado do físico e o amor que emana de seus olhos que convencem, e saltam à tela. Talvez seja por isso que a trama não tenha sido extraordinária, uma vez que o roteiro seleciona momentos da vida de Hawking em minuciosa atenção, em detrimento de outros que correm para dar lugar a história de amor. Um homem de tão grande importância e digno de inspiração não pode ser resumido em um caso amoroso (o fato de o longa ser baseado num livro de Jane pode explicar o enfoque aqui visto). No entanto, ainda assim, um maravilhoso filme a se ver. Por ora torço por você Eddie, na corrida pela estatueta. Vamos com fé!
Poderia ter todos os motivos para ver o filme com longas ressalvas -e um belo pé atrás-, afinal, não há mais de 10 anos tivemos o adorado Tobey Maguire na trilogia de S. Raimi interpretando o nosso herói. Então, por que uma releitura da obra, assim tão recente? De qualquer forma O Espetacular Homem-Aranha, ao menos para mim, superou as baixas expectativas que tinha. Entretém com cenas de ação bem executadas e apresenta uma trama coerente (a origem do superpoder me convenceu mais aqui, que no outro). E, bem, Andrew Garfield até manda bem com seu Peter Parker, embora imageticamente Tobey não será substituído tão cedo.
Aaah, Milos Forman! Que capacidade admirável de partir de cenas hilariantes, como as sequências do "furto" do barco e da festinha rebelde improvisada por McMurphy no sanatório, para situações carregadas de emoção e densidade, como o que ocorre com Billy. A trama começa tímida, beirando à incoerência, para chegar na segunda metade do longa te arrebatar com os acontecimentos malucos deste ninho e o caos que o estranho causa. Inclusive, Jack Nicholson em seu trabalho soberbo, balanceando entre o gingado e a lábia de maladrão e o olhar enigmático com toques de carisma; merecedor do Oscar de melhor atuação. Não haveria quem pudesse melhor imprimir um McMurphy de outra forma.
Surpreso que é um remake, assisti desconhecendo o fato. E, ora, se o original for tão sem graça quanto esse, não valerá a pena perder meu tempo. Não, o filme não é ruim. Ele é bom, dentro da média. Mas a falta de empatia com Jordin Sparks, e sua protagonista Sparkle, é algo que atrapalha seu envolvimento com a trama. Em certo momento do filme o empresário do grupo deixa implícito que Sparkle tem talento mas sua falta de brilho e aquele "tcham" de artista não a levará tão longe. Em contrapartida, sua irmã Sister irradia como uma estrela; pois bem, o empresário estava certíssimo. Protagonista apagada, sem vida. Whitney brilha! Mesmo em seus momentos mais difíceis da vida, nos entregou um último trabalho bem feito.
As camadas de maquiagem em Steve Carell são tão impressionantes quanto sua capacidade de se reinventar neste filme. Um personagem tão complexo, incômodo, misterioso. Eu quase não reconheci o ator, e só o fiz já no final do filme quando me acostumei com a faceta do personagem. Quanto ao enredo: nada de novo, nada de extraordinário. Pelo contrário, aqui tudo se encontra demais no campo do ordinário. É uma cinebiografia sem grandes surpresas, exceto pelo final. Um bom filme, não mais que isso.
Peca em parecer criar círculos em si e se tornar enfadonho em alguma parte lá na metade do filme, dando a impressão de que talvez o formato de longa duração (e põe longa) pode ter sido mais uma ferramenta que atrapalha do que contribuí. Talvez como série televisa pudesse me cativar melhor. Não quero dizer que o filme é ruim, mas ele tá longe de ser excepcional em diversos aspectos. E, Jake, desculpe-me por já ter duvidado de sua atuação um dia rs.
Sobre o inevitável: Ainda me incomodo com a atuação de Pattinson. Há alto entre o sorriso desconcertado e o olhar furtivo que me dá a sensação de "oh, já vi isso em outro personagem dele -inclusive o vampirinho". Mas nada que atrapalhe seu desempenho, que ao menos é esforçado e auxiliado pelos vencedores do Oscar, Witherspoon e Waltz. Sobre o filme: Nada novo, nada grandioso, no entanto cativante. Aquele caso esporádico de pieguice e fórmula repetida que dá certo.
Se não foi intenção, então que HBO me perdoe. Mas "Marina Abramovic – Artista Presente" te faz quase que instantaneamente venerar a artista que Marina é. Eu, que sou um leigo em arte performática e sabia o superficial de Marina, me maravilhei com seu trabalho. Infelizmente o documentário foi elaborado por ocasião da exposição de retrospectiva da carreira de Marina, e se atém a preparação e realização da performance nova, e conhecemos apenas de relance seus trabalhos anteriores. Talvez se estendessem aí alguns minutos, garanto que ninguém acharia ruim nem se tornaria enfadonho rs. Mesmo assim, o doc satisfaz e brilha. E os olhos de Marina também.
Ah, vai, não é de um todo ruim. Sim, o roteiro não contribui muito: pela apresentação desesperada e efêmera, o que deveria ser o reboot mais parece a sequência de uma franquia já em andamento. Não conhecemos cada um deles, não criamos empatia pela trupe, porque não há tempo: April, a humana, é a que tem mais destaque em detrimento das tartarugas mutantes. Não souberam aproveitar a personalidade única de cada um. O ponto fica para o trabalho visual, que de tão bem feito as criaturas digitais se camuflam nas locações reais e nada parece tão fake. E o lance de dar uma repaginada atual pela cultura pop foi bem engraçado: o quarteto dançando Hollaback Girl me deu umas leves risadas. Ao menos entretém.
Pode parecer meio previsível, visto que lá pela metade do filme os indícios são tão mais claros e o desfecho já nos é apresentado. No entanto, consigo enxergar aí um mérito no roteiro.
Havia a possibilidade de que a personagem de DiCaprio estivesse certa em sua assertiva, e que realmente a ilha fosse um centro de experimentos científicos. Assim como também poderíamos indagar sobre sua sanidade, refletir até onde aquilo era verdade e onde era fantasia, até porque sua condição de sobrevivente da Grande Guerra já denuncia traumas psicológicos e pequenos desequilíbrios mentais. Scorsese mantém as duas possibilidades até o final, e seria extremamente confortável adotar a primeira (até porque não seria a primeira narrativa a explorar o herói injustiçado e incompreendido).
É aí que o roteiro surpreende, ao não surpreender. Ele opta a ir pelo "óbvio", ao invés do mirabolante e chocante. E isto não impede de se por em cheque, durante todo o longa, as pistas e sequências que nos são apresentadas, que é o papel de um thriller psicológico. Em algumas vezes o final pouco importa.
McQueen trás a tona a vergonha e a dor deste duro capítulo da história da humanidade. Com um realismo impressionante e sequências cruas -e cruéis-, o roteiro vai de encontro à uma filmografia que sempre procurou suavizar as relações entre escravos e senhores; este último tratado exaustivamente como homem altruísta e repleto e virtudes, que somente "lançou mão" da escravidão por ser um "homem de seu tempo", portanto perdoável em suas atitudes. Aqui não. Encontramos escravos sofridos, humilhados, açoitados e estuprados, ante a um público abastado que, sadicamente, observa e atua no espetáculo de horror da Casa Grande e Senzala (exponenciando na realidade norte-americana, como a História nos fala). Dado a sua relevância história, e social, a obra é magnífica. Peca, ao meu ver como espectador dentro de uma experiência subjetiva com o longa, pela dramaticidade exagerada nas atuações e em certas cenas, mas nada que prejudique o todo.
Uma salva de palmas em pé para Lupita Nyong'o, nunca é demais celebrar seu desempenho aqui e os merecidos prêmios recebidos ao longo do ano; também para a personagem de Sarah Paulson, Mary Epps, que por ser tão complexa merecia minutos a mais, porém ainda assim não deixou de ser marcante. Michael Fassbender, homi, não há mais o que falar de ti rs.
Que o tema sobrevivência já foi tratado exaustivamente nas telonas de Hollywood, isso estamos cansados de saber. Gravidade poderia ser só mais um dentre eles. No entanto, a qualidade técnica que nos aproxima do espaço e a direção certeira de Alfonso Cuarón proporciona uma agonia sem igual. Tamanha as desventuras, e o azar inigualável da Doutora, faz com que surge um desejo de pegar a porra desse roteiro e acabar o sofrimento da protagonista de uma vez rs. Ah, falando nela, que grata surpresa! Um elenco praticamente formado por uma pessoa, já que Clooney tá ali na órbita -trocadilho sem graça- de seu arco dramático, era de esperar um desastre. Mas não, Bullock prende tua atenção mesmo que ela esteja apenas tentando respirar o oxigênio rarefeito. Ao final bateu um arrependimento monstro de tê-lo ignorado quando ainda estava nas telonas. Imagine essa obra visualmente impecável em 3D...
Um tanto confuso e massante do meio pro fim, American Hustle se sustenta em parte pela trilha sonora maravilhosa e pelo trabalho técnico cuidadoso e bem executado, destacando-se aí a ambientação setentista, trazendo a tona os figurinos brega-chic e os penteados bizarros. Outro ponto em que o longa se faz feliz é na escolha do elenco, em que desde os protagonistas aos coadjuvantes de ponta (ai ai, De Niro, ai!) o desempenho é favorável ao desenvolvimento da trama. Mas, que roteiro ein!? Aquele velho incômodo de se estar vendo um filme repetido, que esbarra na mesma fórmula de tantos outros do gênero. Bem mediano.
Que maravilhoso! E num é que o filme mereceu todo o estardalhaço e polêmica do ano passado!? "Azul é a Cor Mais Quente" esmiúça, como poucos fizeram, os pormenores das experiências e descobertas de uma adolescente comum em seu cotidiano, se afastando da corriqueira exploração de relação homoafetiva conflituosa (esperado para quem lê a sinopse). São cenas longas e focalizadas da moça comendo macarrão como uma esfomeada, ou pegando um ônibus e conversando com um guri, ou assistindo a suas aulas de literatura em que se debatem, não por acaso, amor a primeira vista e tragédia amorosa. Assim como também são diálogos interessantes e sequências marcantes, como a cena em que Adèle assume ter traído Emma com seu colega de trabalho e chora desesperadamente por perdão. Por que é isso. O filme detalha a vivência de Adèle, que é eu, é você, é humana; é entregue as suas paixões, é confusa em suas ambições, e perdida em si mesma. É "A Vida de Adele".
Percepções da película a parte, creio que a projeção e recepção do público merece algumas reflexões. O filme tem longas e vagarosas horas (no entanto, não chatas), em que temos centenas de jantares em família onde se impera debates sobre assuntos triviais como alergia a crustáceos e o diabo a quatro. Temos Adèle se sujando toda ao comer sua macarronada, e logo mais a frente sendo questionada sobre sua sexualidade por longos minutos. Também temos minutos gastos em um protesto que, aparentemente, nada a ver tem com a trama. Agora, adivinha qual cena que mais incomodou e chocou o público? Os sete minutos de sexo. Uns dizem que não havia necessidade do tempo utilizado para tal, que destoa da proposta, que anula o dramático pra focalizar no sexual e fetichista. Não sei, não sei se penso desta forma. A cena em questão é intensa e real, próxima ao espírito natural conquistado desde o começo, e para mim uma das cenas mais sexy do cinema. Diferente do que acontece nos filmes mainstream (e, por que não, hétero em imaginário?), o sexo é um componente. Não é algo deslocado e exterior ao desenvolvimento do roteiro.É excitante ver as duas moças se deliciando, se encontrando e se fundindo. Por isto digo: o incômodo sobre a tal cena diz mais sobre você, sobre nós, do que sobre o filme.
Mediano. Senti falta de veracidade no laço afetivo entre o casal, não sei se por conta da atuação regular dos atores protagonistas ou a exploração superficial do roteiro. Me parece uma relação rasa que pretende-se ser profunda, que saiu do nada e chegou num todo inexplicável. Erra aí, acerta no contexto: Além da Fronteira não ignora o panorama político-social em que Nimer e Roy estão inseridos, tendo o cuidado de nos aproximar da realidade divisória de palestinos e israelense e do (não-)lugar do homossexual em ambos os povos. Poderia ter sido melhor desenvolvido.
Eu esperava bem mais. Presenciei o mesmo que assola as últimas releituras de clássicos dos contos de fada: produção de mais, consistência de menos. Parece que a trama se esconde por trás da megalomania dos cenários e efeitos visuais e sonoros... Talvez o que tenha estragado fora a anulação do corriqueiro maniqueísmo dos contos: maquiaram um motivo para explicar a maldade de Malévola, quando na verdade vilões deste tipo de história são ruins pelo simples fato de serem ruins. No mais, se sustenta apenas na atuação e beleza de Jolie. Esquecível!
Uma pena que Rainha Diaba, cujo nome figura o título, tenha sido pouco explorada durante a película. Ao que parece há mais espaço para as vicissitudes de seus capangas viris do que para a própria figura excêntrica da protagonista, que aparece aqui e ali repleta de estereótipos estigmatizantes do homossexual afetado. O desfecho trágico, apesar de previsível, foi executado magistralmente, em grotesco toque de sadismo. Sentença: regular!
Maravilha de documentário! Que tristeza constatar que nós, geração das redes sociais, ignoramos essa extraordinária trupe de artistas singulares por tanto tempo. Treze homens que bradaram a liberdade (seja ela de que perspectiva for) num contexto repressor, marcado pela fixação extrema de papéis de gêneros e sustentado por uma ideia falseada de masculinidade viril brasileira. A sensualidade e sexualidade da dança feminina (?) e a rigidez e força masculina mescladas num só experimentalismo artístico, num toque de deboche e antropofagia, encanta a cada número exibido entre as falas dos convidados. A produção se torna quase um portal de entrada para o universo surreal das Dzi, lhe convidando a conhecer mais profundamente o enredo dos meninos; e é o que farei.
Inusitado, inovador, singular no cinema brasileiro. Reflexões de um Liquidificador, em sua premissa básica, já se revela fruto de um devaneio psicodélico do diretor/roteirista André Klotzel, onde um mero eletrodoméstico adquire consciência e passa a refletir sobre tudo que o cerca. Aliado ao sutil humor negro, raro aos olhos brasileiros, e pequenas surpresas aqui e ali, parece-me que o longa conseguiu satisfatoriamente hipnotizar o espectador com sua fórmula bem amarrada. Ana Lúcia Torre nos arranca risos e sorrisos, se tornando insubstituível na obra com sua pacata senhora dona-de-casa, bem como a voz inconfundível de Selton Mello, capaz de, mesmo sequer sem vê-lo, te proporcionar reflexões filosóficas pertinentes. Destaco uma cena em especial, que considero uma das mais geniais que já vi no cinema brasileiro:
A cena em que Elvira tritura, literalmente, seu marido no liquidificador. O que poderia ser uma cena escandalosa, grotesca e pesada, acaba se tornando uma sequência sádica, leve, engraçadíssima. Jamais esquecerei de Elvira dançando contente ao som das hélices do liquidificador moendo seu infiel companheiro. Momento necessário e deleitoso.
Delicadeza, a palavra chave para sentir e compreender o romance sublime que Bruno Barreto retratou. A ausência de temas polêmicos e trama de teor dramático pesado é, talvez, o mais interessante a ser observado no filme: diverge de metade das produções voltadas (inconsciente ou não) para o público LGBT. "Flores Raras" celebra o amor em suas nuanças, em suas idas e vindas, em suas fases de lua. E é nessa simples história que nos envolvemos com as personagens, principalmente através da admiração crescente por Elizabeth Bishop. A construção da personagem, tão solitária, pessimista e insegura, evidenciada pela excelente atuação da bela Miranda Otto, é o que mais atrai. Glória Pires não fica atrás, encarando a força determinada da mulher brasileira e se entregando à química indiscutível do casal. Outro ponto a ser destacado: o contexto histórico de ascensão dos militares que concorriam para o golpe inconstitucional. Mesmo em segundo plano, Bruno Barreto não ignora a relação de Lota com o discurso político da "ditadura", fundamentalmente por sua amizade pessoal com o udenista Carlos Lacerda, que aqui e ali aparece no longa.
Um Táxi para a Escuridão
4.1 15Esse pôster, caramba, que genial! E sobre a abordagem do doc: PARA JAMAIS ESQUECER! Reviremos o passado sim, quantas vezes for necessário.
A Teoria de Tudo
4.1 3,4K Assista AgoraEddie Redmayne. Todos os elementos do longa são eclipsados diante do trabalho magnífico e memorável do ator, que se desfigura para dar vida a um personagem dificílimo de se interpretar. Quase instantaneamente lembrei de Daniel Day Lewis em Meu Pé Esquerdo (1989). Redmayne impressiona não só por ser IDÊNTICO ao Hawking; há pequenos detalhes entre o humor afiado do físico e o amor que emana de seus olhos que convencem, e saltam à tela. Talvez seja por isso que a trama não tenha sido extraordinária, uma vez que o roteiro seleciona momentos da vida de Hawking em minuciosa atenção, em detrimento de outros que correm para dar lugar a história de amor. Um homem de tão grande importância e digno de inspiração não pode ser resumido em um caso amoroso (o fato de o longa ser baseado num livro de Jane pode explicar o enfoque aqui visto). No entanto, ainda assim, um maravilhoso filme a se ver. Por ora torço por você Eddie, na corrida pela estatueta. Vamos com fé!
Chocolate City
1.9 21"Are you ready for the real magic?" Hahahahahha
O Espetacular Homem-Aranha
3.4 4,9K Assista AgoraPoderia ter todos os motivos para ver o filme com longas ressalvas -e um belo pé atrás-, afinal, não há mais de 10 anos tivemos o adorado Tobey Maguire na trilogia de S. Raimi interpretando o nosso herói. Então, por que uma releitura da obra, assim tão recente? De qualquer forma O Espetacular Homem-Aranha, ao menos para mim, superou as baixas expectativas que tinha. Entretém com cenas de ação bem executadas e apresenta uma trama coerente (a origem do superpoder me convenceu mais aqui, que no outro). E, bem, Andrew Garfield até manda bem com seu Peter Parker, embora imageticamente Tobey não será substituído tão cedo.
Um Estranho no Ninho
4.4 1,8K Assista AgoraAaah, Milos Forman! Que capacidade admirável de partir de cenas hilariantes, como as sequências do "furto" do barco e da festinha rebelde improvisada por McMurphy no sanatório, para situações carregadas de emoção e densidade, como o que ocorre com Billy. A trama começa tímida, beirando à incoerência, para chegar na segunda metade do longa te arrebatar com os acontecimentos malucos deste ninho e o caos que o estranho causa. Inclusive, Jack Nicholson em seu trabalho soberbo, balanceando entre o gingado e a lábia de maladrão e o olhar enigmático com toques de carisma; merecedor do Oscar de melhor atuação. Não haveria quem pudesse melhor imprimir um McMurphy de outra forma.
Sparkle: O Brilho de uma Estrela
3.4 87 Assista AgoraSurpreso que é um remake, assisti desconhecendo o fato. E, ora, se o original for tão sem graça quanto esse, não valerá a pena perder meu tempo. Não, o filme não é ruim. Ele é bom, dentro da média. Mas a falta de empatia com Jordin Sparks, e sua protagonista Sparkle, é algo que atrapalha seu envolvimento com a trama. Em certo momento do filme o empresário do grupo deixa implícito que Sparkle tem talento mas sua falta de brilho e aquele "tcham" de artista não a levará tão longe. Em contrapartida, sua irmã Sister irradia como uma estrela; pois bem, o empresário estava certíssimo. Protagonista apagada, sem vida. Whitney brilha! Mesmo em seus momentos mais difíceis da vida, nos entregou um último trabalho bem feito.
Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo
3.3 809 Assista AgoraAs camadas de maquiagem em Steve Carell são tão impressionantes quanto sua capacidade de se reinventar neste filme. Um personagem tão complexo, incômodo, misterioso. Eu quase não reconheci o ator, e só o fiz já no final do filme quando me acostumei com a faceta do personagem. Quanto ao enredo: nada de novo, nada de extraordinário. Pelo contrário, aqui tudo se encontra demais no campo do ordinário. É uma cinebiografia sem grandes surpresas, exceto pelo final. Um bom filme, não mais que isso.
Zodíaco
3.7 1,3K Assista AgoraPeca em parecer criar círculos em si e se tornar enfadonho em alguma parte lá na metade do filme, dando a impressão de que talvez o formato de longa duração (e põe longa) pode ter sido mais uma ferramenta que atrapalha do que contribuí. Talvez como série televisa pudesse me cativar melhor. Não quero dizer que o filme é ruim, mas ele tá longe de ser excepcional em diversos aspectos. E, Jake, desculpe-me por já ter duvidado de sua atuação um dia rs.
Água para Elefantes
3.5 2,0K Assista AgoraSobre o inevitável: Ainda me incomodo com a atuação de Pattinson. Há alto entre o sorriso desconcertado e o olhar furtivo que me dá a sensação de "oh, já vi isso em outro personagem dele -inclusive o vampirinho". Mas nada que atrapalhe seu desempenho, que ao menos é esforçado e auxiliado pelos vencedores do Oscar, Witherspoon e Waltz. Sobre o filme: Nada novo, nada grandioso, no entanto cativante. Aquele caso esporádico de pieguice e fórmula repetida que dá certo.
Marina Abramovic: A Artista Está Presente
4.5 150Se não foi intenção, então que HBO me perdoe. Mas "Marina Abramovic – Artista Presente" te faz quase que instantaneamente venerar a artista que Marina é. Eu, que sou um leigo em arte performática e sabia o superficial de Marina, me maravilhei com seu trabalho. Infelizmente o documentário foi elaborado por ocasião da exposição de retrospectiva da carreira de Marina, e se atém a preparação e realização da performance nova, e conhecemos apenas de relance seus trabalhos anteriores. Talvez se estendessem aí alguns minutos, garanto que ninguém acharia ruim nem se tornaria enfadonho rs. Mesmo assim, o doc satisfaz e brilha. E os olhos de Marina também.
As Tartarugas Ninja
3.1 1,3K Assista AgoraAh, vai, não é de um todo ruim. Sim, o roteiro não contribui muito: pela apresentação desesperada e efêmera, o que deveria ser o reboot mais parece a sequência de uma franquia já em andamento. Não conhecemos cada um deles, não criamos empatia pela trupe, porque não há tempo: April, a humana, é a que tem mais destaque em detrimento das tartarugas mutantes. Não souberam aproveitar a personalidade única de cada um. O ponto fica para o trabalho visual, que de tão bem feito as criaturas digitais se camuflam nas locações reais e nada parece tão fake. E o lance de dar uma repaginada atual pela cultura pop foi bem engraçado: o quarteto dançando Hollaback Girl me deu umas leves risadas. Ao menos entretém.
Ilha do Medo
4.2 4,0K Assista AgoraPode parecer meio previsível, visto que lá pela metade do filme os indícios são tão mais claros e o desfecho já nos é apresentado. No entanto, consigo enxergar aí um mérito no roteiro.
Havia a possibilidade de que a personagem de DiCaprio estivesse certa em sua assertiva, e que realmente a ilha fosse um centro de experimentos científicos. Assim como também poderíamos indagar sobre sua sanidade, refletir até onde aquilo era verdade e onde era fantasia, até porque sua condição de sobrevivente da Grande Guerra já denuncia traumas psicológicos e pequenos desequilíbrios mentais. Scorsese mantém as duas possibilidades até o final, e seria extremamente confortável adotar a primeira (até porque não seria a primeira narrativa a explorar o herói injustiçado e incompreendido).
12 Anos de Escravidão
4.3 3,0KMcQueen trás a tona a vergonha e a dor deste duro capítulo da história da humanidade. Com um realismo impressionante e sequências cruas -e cruéis-, o roteiro vai de encontro à uma filmografia que sempre procurou suavizar as relações entre escravos e senhores; este último tratado exaustivamente como homem altruísta e repleto e virtudes, que somente "lançou mão" da escravidão por ser um "homem de seu tempo", portanto perdoável em suas atitudes. Aqui não. Encontramos escravos sofridos, humilhados, açoitados e estuprados, ante a um público abastado que, sadicamente, observa e atua no espetáculo de horror da Casa Grande e Senzala (exponenciando na realidade norte-americana, como a História nos fala). Dado a sua relevância história, e social, a obra é magnífica. Peca, ao meu ver como espectador dentro de uma experiência subjetiva com o longa, pela dramaticidade exagerada nas atuações e em certas cenas, mas nada que prejudique o todo.
Uma salva de palmas em pé para Lupita Nyong'o, nunca é demais celebrar seu desempenho aqui e os merecidos prêmios recebidos ao longo do ano; também para a personagem de Sarah Paulson, Mary Epps, que por ser tão complexa merecia minutos a mais, porém ainda assim não deixou de ser marcante. Michael Fassbender, homi, não há mais o que falar de ti rs.
Gravidade
3.9 5,1K Assista AgoraQue o tema sobrevivência já foi tratado exaustivamente nas telonas de Hollywood, isso estamos cansados de saber. Gravidade poderia ser só mais um dentre eles. No entanto, a qualidade técnica que nos aproxima do espaço e a direção certeira de Alfonso Cuarón proporciona uma agonia sem igual. Tamanha as desventuras, e o azar inigualável da Doutora, faz com que surge um desejo de pegar a porra desse roteiro e acabar o sofrimento da protagonista de uma vez rs. Ah, falando nela, que grata surpresa! Um elenco praticamente formado por uma pessoa, já que Clooney tá ali na órbita -trocadilho sem graça- de seu arco dramático, era de esperar um desastre. Mas não, Bullock prende tua atenção mesmo que ela esteja apenas tentando respirar o oxigênio rarefeito. Ao final bateu um arrependimento monstro de tê-lo ignorado quando ainda estava nas telonas. Imagine essa obra visualmente impecável em 3D...
Trapaça
3.4 2,2K Assista AgoraUm tanto confuso e massante do meio pro fim, American Hustle se sustenta em parte pela trilha sonora maravilhosa e pelo trabalho técnico cuidadoso e bem executado, destacando-se aí a ambientação setentista, trazendo a tona os figurinos brega-chic e os penteados bizarros. Outro ponto em que o longa se faz feliz é na escolha do elenco, em que desde os protagonistas aos coadjuvantes de ponta (ai ai, De Niro, ai!) o desempenho é favorável ao desenvolvimento da trama. Mas, que roteiro ein!? Aquele velho incômodo de se estar vendo um filme repetido, que esbarra na mesma fórmula de tantos outros do gênero. Bem mediano.
Ligações Perigosas
4.0 342 Assista AgoraGlenn Glose! Só consigo ver Glenn Close.
Azul é a Cor Mais Quente
3.7 4,3K Assista AgoraQue maravilhoso! E num é que o filme mereceu todo o estardalhaço e polêmica do ano passado!? "Azul é a Cor Mais Quente" esmiúça, como poucos fizeram, os pormenores das experiências e descobertas de uma adolescente comum em seu cotidiano, se afastando da corriqueira exploração de relação homoafetiva conflituosa (esperado para quem lê a sinopse). São cenas longas e focalizadas da moça comendo macarrão como uma esfomeada, ou pegando um ônibus e conversando com um guri, ou assistindo a suas aulas de literatura em que se debatem, não por acaso, amor a primeira vista e tragédia amorosa. Assim como também são diálogos interessantes e sequências marcantes, como a cena em que Adèle assume ter traído Emma com seu colega de trabalho e chora desesperadamente por perdão. Por que é isso. O filme detalha a vivência de Adèle, que é eu, é você, é humana; é entregue as suas paixões, é confusa em suas ambições, e perdida em si mesma. É "A Vida de Adele".
Percepções da película a parte, creio que a projeção e recepção do público merece algumas reflexões. O filme tem longas e vagarosas horas (no entanto, não chatas), em que temos centenas de jantares em família onde se impera debates sobre assuntos triviais como alergia a crustáceos e o diabo a quatro. Temos Adèle se sujando toda ao comer sua macarronada, e logo mais a frente sendo questionada sobre sua sexualidade por longos minutos. Também temos minutos gastos em um protesto que, aparentemente, nada a ver tem com a trama. Agora, adivinha qual cena que mais incomodou e chocou o público? Os sete minutos de sexo. Uns dizem que não havia necessidade do tempo utilizado para tal, que destoa da proposta, que anula o dramático pra focalizar no sexual e fetichista. Não sei, não sei se penso desta forma. A cena em questão é intensa e real, próxima ao espírito natural conquistado desde o começo, e para mim uma das cenas mais sexy do cinema. Diferente do que acontece nos filmes mainstream (e, por que não, hétero em imaginário?), o sexo é um componente. Não é algo deslocado e exterior ao desenvolvimento do roteiro.É excitante ver as duas moças se deliciando, se encontrando e se fundindo. Por isto digo: o incômodo sobre a tal cena diz mais sobre você, sobre nós, do que sobre o filme.
Além da Fronteira
3.8 440 Assista AgoraMediano. Senti falta de veracidade no laço afetivo entre o casal, não sei se por conta da atuação regular dos atores protagonistas ou a exploração superficial do roteiro. Me parece uma relação rasa que pretende-se ser profunda, que saiu do nada e chegou num todo inexplicável. Erra aí, acerta no contexto: Além da Fronteira não ignora o panorama político-social em que Nimer e Roy estão inseridos, tendo o cuidado de nos aproximar da realidade divisória de palestinos e israelense e do (não-)lugar do homossexual em ambos os povos. Poderia ter sido melhor desenvolvido.
Malévola
3.7 3,8K Assista AgoraEu esperava bem mais. Presenciei o mesmo que assola as últimas releituras de clássicos dos contos de fada: produção de mais, consistência de menos. Parece que a trama se esconde por trás da megalomania dos cenários e efeitos visuais e sonoros... Talvez o que tenha estragado fora a anulação do corriqueiro maniqueísmo dos contos: maquiaram um motivo para explicar a maldade de Malévola, quando na verdade vilões deste tipo de história são ruins pelo simples fato de serem ruins. No mais, se sustenta apenas na atuação e beleza de Jolie. Esquecível!
A Rainha Diaba
3.8 60Uma pena que Rainha Diaba, cujo nome figura o título, tenha sido pouco explorada durante a película. Ao que parece há mais espaço para as vicissitudes de seus capangas viris do que para a própria figura excêntrica da protagonista, que aparece aqui e ali repleta de estereótipos estigmatizantes do homossexual afetado. O desfecho trágico, apesar de previsível, foi executado magistralmente, em grotesco toque de sadismo. Sentença: regular!
Dzi Croquettes
4.4 244Maravilha de documentário! Que tristeza constatar que nós, geração das redes sociais, ignoramos essa extraordinária trupe de artistas singulares por tanto tempo. Treze homens que bradaram a liberdade (seja ela de que perspectiva for) num contexto repressor, marcado pela fixação extrema de papéis de gêneros e sustentado por uma ideia falseada de masculinidade viril brasileira. A sensualidade e sexualidade da dança feminina (?) e a rigidez e força masculina mescladas num só experimentalismo artístico, num toque de deboche e antropofagia, encanta a cada número exibido entre as falas dos convidados. A produção se torna quase um portal de entrada para o universo surreal das Dzi, lhe convidando a conhecer mais profundamente o enredo dos meninos; e é o que farei.
Reflexões de um Liquidificador
3.8 583 Assista Agora"Pensar é moer... Moer é pensar".
Reflexões de um Liquidificador
3.8 583 Assista AgoraInusitado, inovador, singular no cinema brasileiro. Reflexões de um Liquidificador, em sua premissa básica, já se revela fruto de um devaneio psicodélico do diretor/roteirista André Klotzel, onde um mero eletrodoméstico adquire consciência e passa a refletir sobre tudo que o cerca. Aliado ao sutil humor negro, raro aos olhos brasileiros, e pequenas surpresas aqui e ali, parece-me que o longa conseguiu satisfatoriamente hipnotizar o espectador com sua fórmula bem amarrada. Ana Lúcia Torre nos arranca risos e sorrisos, se tornando insubstituível na obra com sua pacata senhora dona-de-casa, bem como a voz inconfundível de Selton Mello, capaz de, mesmo sequer sem vê-lo, te proporcionar reflexões filosóficas pertinentes. Destaco uma cena em especial, que considero uma das mais geniais que já vi no cinema brasileiro:
A cena em que Elvira tritura, literalmente, seu marido no liquidificador. O que poderia ser uma cena escandalosa, grotesca e pesada, acaba se tornando uma sequência sádica, leve, engraçadíssima. Jamais esquecerei de Elvira dançando contente ao som das hélices do liquidificador moendo seu infiel companheiro. Momento necessário e deleitoso.
Flores Raras
3.8 567 Assista AgoraDelicadeza, a palavra chave para sentir e compreender o romance sublime que Bruno Barreto retratou. A ausência de temas polêmicos e trama de teor dramático pesado é, talvez, o mais interessante a ser observado no filme: diverge de metade das produções voltadas (inconsciente ou não) para o público LGBT. "Flores Raras" celebra o amor em suas nuanças, em suas idas e vindas, em suas fases de lua. E é nessa simples história que nos envolvemos com as personagens, principalmente através da admiração crescente por Elizabeth Bishop. A construção da personagem, tão solitária, pessimista e insegura, evidenciada pela excelente atuação da bela Miranda Otto, é o que mais atrai. Glória Pires não fica atrás, encarando a força determinada da mulher brasileira e se entregando à química indiscutível do casal.
Outro ponto a ser destacado: o contexto histórico de ascensão dos militares que concorriam para o golpe inconstitucional. Mesmo em segundo plano, Bruno Barreto não ignora a relação de Lota com o discurso político da "ditadura", fundamentalmente por sua amizade pessoal com o udenista Carlos Lacerda, que aqui e ali aparece no longa.