Anomalisa inspira um mergulho agridoce nas angústias humanas. O tédio e a solidão, velhas e incômodas companheiras de nossas jornadas, talvez nunca nos deixem. Pragas que se acoplaram em nosso organismo. Graças ao encontro do argumento peculiar de Charlie Kaufman com a técnica stop-motion de alta qualidade do Duke Johnson, Anomalisa já nasce uma obra curiosa e reflexiva obrigatória a todos que buscam se conhecer.
Não é tão ruim quanto eu supus ser. Fez uma releitura tecnológica/temática para se adequar ao cenário blockbuster atual sem perder a essência da mitologia da franquia: o upgrade na constituição da armadura e das bugigangas (nave, Zordon e o ajudante, zords) condiz mais com a proposta do que as vistas nos seriados, afinal a origem dos power rangers remonta à vida extraterrestre e aqui se torna mais evidente, sobretudo ao beber do imaginário da ficção científica. Há algumas referências pontuais que ativam o nostálgico em nós, crianças e adolescentes dos anos 90, mas não se prende a isso já que há uma intenção de se apresentar a nova geração (por isso as vezes soa algo meio Transformers e derivados). É mediano e tem potencial para uma continuação, caso não caiam na mania de se prender demais aos efeitos especiais.
Free Fire é tal qual como se vende seja no título, no poster e na premissa: não tem trama e não há fio condutor, apenas tiroteio desordenado e inconsequente. Não há motivação nem valores por trás dos personagens, tudo é aleatório e inesperado, parcerias se fazem e desfazem em questão de segundos e acordos são descumpridos ao simples vislumbre da meleta de dinheiro. A única certeza é que alguém vai levar um tiro, em qualquer parte disponível do corpo. Mesmo não sendo um fã do gênero me diverti com este.
"Mãe Só Há Uma" tem um recorte específico de temática que pode desagradar a uma parte do público. Isso porque Muylaert escolheu direcionar seu registro a um caminho que a trama não indicava que ia. Quem espera que o longa desnude as relações parentais e reflita sobre a (des)naturalização do amor entre pais e filhos, vai se decepcionar: aqui mais importa perceber as nuanças de Felipe/Pierre em plena fase de experimentalismos na identidade (de gênero, de pessoa, de percepção) enquanto uma tragédia dramática recai sobre sua cabeça. O fato de ser sequestrado de seus pais biológicos desencadeia crises em sua personalidade, em seu modo de se perceber e se reafirmar; o conflito familiar em si fica mesmo relegado a algumas sequências aqui e ali, sobretudo no final. A trama tinha um potencial ao ir pelo óbvio, que era confrontar o garoto a sua situação de não pertencimento (se sente deslocado da família biológica e se sente enganado pela família de criação). Não foi o que a idealizadora fez, o que é uma pena.
A crítica social como pretexto para desenrolar um suspense hipnotizante é pertinente e promissor. Louvável que o gênero na tentativa de se reinventar tem incorporado novas demandas de público e partido de desafios temáticos que antes se confinavam ao drama; no caso de Get Out, o racismo centenário que persiste ao se adaptar as aparências e se espraia como peste onde há terreno fértil, mesmo (e sobretudo) com a "modernização" e "civilização" dada como alcançada. Portanto, em termos de argumento e idealização Corra! se sobressai as obras mais recentes. Jordan Peele está de parabéns!
No entanto, o MEU problema com o longa vem de certas escolhas narrativas que acabam por azedar o conjunto: o roteiro parece subestimar a capacidade do espectador de elaborar teorias apenas com símbolos visuais sugestivos. A trama surpreende, sim, mas as custas de se entregar tudo de mão beijada. As revelações parecem certificar-se de que todos compreenderam tintim por tintim, com as motivações proferidas em alto bom som pelos personagens. Não é que seja previsível, é que sobra pouco pras entrelinhas. Se não fosse por isso eu teria gostado bem mais do que esperava.
Kathy Bates é mesmo um monstro de atuação! A forma como a musa alternou entre a delicadeza afetada que beirava ao infantil e os espasmos de fúria impressiona. O diretor Rob Reiner pode até atingido a tensão adequada ao captar a obra de King mas certamente não teria o mesmo resultado se não fosse sua escolha pela oscarizada aqui. E agora, 27 anos depois, ter a oportunidade de assistir a atriz fazendo a Açougueira em My Roanoke Nightmare é de aplaudir.
Embora tenha se desvirtuado da proposta embrionária lá pela virada para o segundo ato, A Comunidade não vacila ao permear os dramas da montanha-russa emocional humana. Vinterberg parece se (e nos) seduzir à trama do casal protagonista, que presos à monotonia de um matrimônio duradouro se vê diante de novos inusitados desafios: da tentativa de dinamizar as relações sociais com a introdução de novos sujeitos no ambiente familiar à fuga emocional em outros amantes. Erik encontra sua válvula de escape, Anna jamais supôs fazê-lo. Seu sofrimento e angústia diante do fato de não conseguir mais ter controle sobre sua própria vida e família corta o coração do público e de fato é o grande trunfo da obra e da interpretação Trine Dyrholm. No entanto, o estudo dos dois personagens só tornou-se possível graças ao roteiro que quase minou a discussão sobre a comunidade em si, relegando-a a segundo plano. Tantas personagens coadjuvantes aqui me instigaram a conhecer e adentrar em suas tramas mas não foi possível. Uma pena.
Belgica divaga sobre a jornada trágica de um relacionamento tóxico de maneira efetiva. Expõe duas pessoas que separadas até funcionam ao lidar em harmonia com seus demônios interiores mas próximas despertam os mais terríveis males adormecidos. As divergências quanto à gerência do bar é o de menos, aqui a máxima "amigos, amigos, negócios a parte" é abolida; ou é tudo isso ou é nada disso. A película é recheada de cenas bem montadas, embaladas por uma trilha sonora que faz jus ao cenário musical belga e nos aproxima à vida excitante e degradante dos irmãos e seus companheiros. Acredito que daria pra cortar uns minutinhos da montagem final e dar espaço para as querelas verbais dos protagonistas mas até que o tempo não prejudica o conjunto. Felix van Groeningen é um nome pra se guardar nos próximos anos do cinema europeu.
Cospe o lado obscuro do sonho americano. The Founder até poderia se tornar uma cinebiografia habitual afim de apenas expor uma estória curiosa sobre a explosão do fenômeno globalizado McDonald's, no entanto graças ao roteiro amarrado e a direção de Hancock o longa acaba por descortinar as podres trapaças e deslealdade por trás da bem-aventurança de um homem dos negócios. Com Ray Kroc aprendemos que os ingredientes para o sucesso se resumem à perseverança e ao foco; que para atingir o topo é preciso subir escadas longas e arriscadas, e que as vezes o degrau pode ser alguém ou algum valor. A perspicácia está em perceber isso e não vacilar. Ray se deu conta, os irmãos McDonald's não.
Michael Keaton defende com naturalidade a persona e esbanja carisma até quando se comporta como um rato ganancioso e prepotente. O sorrisinho cínico do magnata me fazia ter vontade de socá-lo. Tudo isso me faz pensar que Fome de Poder não deveria ser tão ignorado como foi.
Revelar o destino dos personagens principais antes mesmo de desenvolvê-los é arriscado porque ou pode afastar o público ou decepcionar por não haver "compensação"/finalidade na trama. Não é o caso de To Die For, pelo contrário. Graças a narrativa ágil ancorada num humor negro sedutor e a atuação certeira de Nicole Kidman, Gus Van Sant nos concede um longa divertidíssimo e um estudo inusitado sobre ambição e fama. Suzanne Stone se entrega lentamente a sua obsessão pela câmera e estrelato a ponto de manipular triunfantemente todos a sua volta em um jogo de flerte hipnótico; e até nos deixamos convencer por isso.
Destaco a cena que precede o final como o pico do longa e firma Kidman como uma atriz talentosa: quando Suzanne ao se dirigir para a delegacia é perseguida por repórteres e de forma cínica e forçada posa de vítima, atraindo todas as atenções para si. É seu sonho sem limites sendo concretizado.
Dear White People, um conto dotado de um peculiar humor pra denunciar que o racismo não é um problema de 50 anos atrás; pelo contrário, mais vivo que nunca conseguiu se camuflar. Disseminou-se de outras formas, as vezes até sutis, a ponto de os envolvidos nos conflitos raciais não se darem conta da disparidade social/cultural a que estão inseridos (ou intencionalmente não querem enxergar). Nossos protogonistas são reais e estão por todas as partes, do Brasil aos EUA, da universidade ao shopping, o que torna a trama palpável. O argumento social dá uma derrapada pela metade do filme e a ironia se torna escassa, fazendo com que o problema abordado se torne subtexto mas ao final se recupera. Tomara que Justin Simien contorne os poucos problemas da película em sua adaptação para a série em termos de narrativa, porque há um trunfo em suas mãos aqui com Cara Gente Branca.
***Pra quem reclama que as artes se contaminaram com uma suposta "agenda da esquerda cultural", lembre-se que para cada um Dear White People existe cinco franquias American Pie***
Estética impecável capitaneada por uma direção certeira mas que serve a um roteiro cheio de furos e lacunas. Mesmo com cenas de ação e perseguição bem executadas em cenários magníficos (a casa-estabelecimento do Grimm, o parque de diversões com um túnel que leva a boca do jacaré, um porto semi-abandonado) a trama não engrena, não convence e corre com o final. Cate Blanchett e Saoirse Ronan abrilhantam em atuação, o que não é novidade, mas falta carisma no Eric Bana. Entretém, caso você se desapegue de certos deslizes narrativos, mas fico imagino o que essa equipe com liderança de Joe Wright poderia fazer com uma ideia melhor em mãos.
***A trilha do The Chemical Brothers como sempre hipnótica. "The Devil Is in the Details" vai ficar soando na minha cabeça por umas boas semanas***
Drama, suspense e, de forma bizarra e doentia, até comédia. O Que Terá Acontecido a Baby Jane? se ancora na atuação magnífica das duas estrelas e na trama muito bem conduzida, fazendo jus ao que se propõe que é instigar no espectador curiosidade sobre as múltiplas possibilidades do passado e destino de seus personagens. Bette Davis nos presenteia uma performance muito acima da média até chegar ao ápice quando Baby Jane e Jane Hudson, criatura e criador, se fundem; e detém o brilho irradiante do conjunto. Aula de firmeza e estudo de personagem.
Não dá conta da carga dramática que supõe ter. O defeituoso roteiro deixa claro a confusão narrativa aqui: sem saber que estória contar, se o conflito cultural e ideológico de duas gerações distintas dentro do sonho americano ou um drama familiar sob a figura paterna, American Pastoral trata superficialmente ambas possibilidades. A edição vai no rumo e a impressão que dá é que algumas cenas foram cortadas e colocadas em aleatoriedade (a cena da moça no quarto do hotel se insinuando pro pai é o exemplo mais expressivo disso. O livro que deu origem ao longa tem um pouco mais de 500 páginas, isso pode elucidar muita coisa). Personagens sem vida endossados pela atuação esquecível de Dakota e sem firmeza de Jennifer Connelly; a exceção mesmo é Ewan McGregor e o talento de Uzo Aduba subutilizado. O terceiro ato surpreende e comove mas o tesão já se dissipou até lá.
Para além do cômico superficial. Óbvio que os notáveis ingredientes de Para Wong Foo... são suas sequências divertidas, frases hilariantes e situações inusitadas, graças a um roteiro ágil e bem direto; mas felizmente não se limita a isso. Traz uma mensagem singela e agradável: quando damos a chance de conhecer o outro, a troca de aprendizado é mágico e transformador. Tanto nosso trio de drags tresloucadas quanto os moradores da pacata pequena cidade no meio do nada cresceram como humanidade e aprenderam a viver. O elenco está afiadíssimo e eu me surpreendi com Patrick Swayze dando vida a uma persona tão delicada e apaixonante. A todo momento buscava encontrar em seu rosto traços masculinos mas só via a Glenn Close rs
Alexandria é dessas obras com múltiplas possibilidades de leituras e abordagens. Papel social da mulher na Antiguidade, funcionamento da estrutura política e intolerância religiosa dentro de um épico empolgante e com uma produção colossal, que não peca em nenhum momento pelo ponto de vista de uma obra ficcional. No entanto, levar às telas figuras e acontecimentos históricos nunca deixou (e nem deixará) de ser um campo minado. Ter que equilibrar expectativa de público, atração narrativa, retorno comercial e fidelidade histórica é um trabalho de mestre, e Amenábar tendo consciência disso romanceia por demais e se compromete em fazer um bom filme, mesmo que isso signifique lançar mão de discrepâncias com a verossimilhança. Informações misturadas, virtudes e defeitos exagerados (maniqueísmo gritou), e principalmente uma Hipátia de Alexandria forjada da forma mais pioneira do que os documentos históricos possam supor são visíveis aqui e ali, tanto aos olhos historiográficos quanto cinéfilos. Mas se você fechar os olhos aos detalhes narrativos/históricos e quiser se aventurar num épico como há tempos não fazem: eis Ágora, um entretenimento de qualidade louvável feito por um diretor cuidadoso.
Amenábar não deixou a desejar nem mesmo em sua estreia com recurso financeiro/logístico escaço e um roteiro escrito em plena maturação acadêmica, enquanto estudava cinema na própria universidade onde foi filmada. Tesis é um notável exemplo de suspense bem sucedido contendo uma estória simplória mas executado de maneira a instigar o espectador pelo que vem a seguir. Cada sequência ganha novos contornos com alguma informação nova ou mesmo algum detalhe despercebido reutilizado tornando a trama maleável, num vai e volta para descobrir sobre a identidade da mente e mãos por trás dos snuffs que perdura até os minutos finais do longa. Claustrofóbico e apreensivo ficamos, tal qual Ángela.
Um estudo curioso, irônico e cômico sobre a humanidade e sua (não)civilização. Polanski extrai de um episódio corriqueiro reflexões acerca do quanto somos persuadidos a ocultar a franqueza e sinceridade em nome da convenção social mas basta uma faísca, mínima que seja, para que um incêndio de egos se forme e que após a destruição verbal sobrem as cinzas da barbárie. O diretor com a peça original em mãos soube transportar a linguagem para o cinema, movimentando e acompanhando as nuances emocionais dos protagonistas de modo que o espectador nem se dá conta de que por 80min esteve de olhos somente a uma sala de um apartamento. Aliado a atuação magistral dos quatro atores que incorporaram com naturalidade suas personas a ponto de nem parecer um texto decorado, Carnage é um belo achado divertido e inteligente dos últimos anos.
***Pago pau especialmente a Jodie Foster. Em um de seus poucos trabalhos nos últimos anos mostrou que tem pique o suficiente pra levar a frente um projeto calcado em atuação, e não em distrações narrativas. Como eu ri toda vez que as inconveniências dela eram proferidas pra cutucar as três figuras**
Don't you tell me about Africa. I know all about suffering in Africa!
Dois elementos que me incomodaram: o apelo semi-sobrenatural no ato final quanto ao personagem do McAvoy mesmo que toda a construção narrativa estivesse calcada nas explicações psicológicas e os flashbacks da infância de Casey, que atrapalhou minimamente o ritmo do longa e poderia facilmente ter sido descartado. Tirando isso Shyamalan entregou um thriller agradável e instigante, ancorado em sua capacidade de estimular curiosidade no espectador e que tem sua força no trabalho mais que competente de James McAvoy. Três personagens distintos interpretados pelo mesmo ator, cada um com uma carga dramática própria e gesticulação diferenciada, que não depende do figurino para que o público reconheça as personas: as expressões do rosto e a entonação de voz indicam bem mais quem é Dennis, Patricia e Hedwig do que as roupas que vestem.
Esclarecedor sobre o trajeto e a obra deste gigante da arte e emocionante quanto seus últimos suspiros em vida. O gênio mais uma vez conseguiu confundir arte e vida num caldeirão, em uma relação simbiótica que sempre foi a tônica de seus trabalhos. Planejou, mesmo com a iminência da morte, a poesia e a mágica de sua música de modo que a tragédia ainda conseguiu render um grande espetáculo: em The Next Day o camaleão anuncia o retorno ("Here i am not quite dying") e retoma o seu legado enquanto aos poucos se avizinha o fim de seus dias terrenos, em Blackstar ("Look up here, I'm in heaven"). O doc foi eficiente ao resgatar os bastidores, o que ninguém sabia, trazendo a equipe e os envolvidos em entrevistas cruzando com registros de sua carreira. Uma bela homenagem ao homem-artista e um presente aos fãs.
**Confesso que não me aguentei no final quando o Tony Visconti, seu parceiro musical desde o segundo álbum, não se aguenta em um dos relatos sobre a produção dos álbuns e quase chora ao lembrar da postura artística do Bowie. Como esse homem marcou**
O documentário certamente foi montado e produzido como uma forma de garantir para a posteridade a divulgação dos trabalhos competentes de mãe e filha na sétima arte, no entanto ganhou um significado distinto após a morte das duas atrizes semanas antes de sua estreia: há, mesmo que não intencional, uma sensibilidade nas confissões e histórias compartilhadas entre ambas, tornando a produção não só um raio-x do legado artístico de Debbie e Carrie mas tecendo uma bela história de amor e cumplicidade que transcendem os laços sanguinos.
Demasiado leve para uma temática que poderia render mais. Ao que parece "Meu Nome é Ray" se vende de uma forma mas o roteiro insiste em se cambalear para um outro caminho, minando a intensidade dramática: enquanto a expectativa é que tenhamos uma trama centrada nos percalços do menino Ray, sorrateiramente somos levados a descortinar as crises de Maggie, a mãe. O longa trata-se muito mais de como a matriarca lida com o fato de ser mãe solteira de um menino trans (e mais pro final os fantasmas do passado: o ex-namorado e o cunhado) do que qualquer outra coisa. Naomi Watts e Elle Fanning fazem um trabalho consistente e crível, principalmente esta última. De olhos bem abertos para esta menina.
Agora, vamos ser sinceros, "Meu Nome é Maggie" faria maior sentido.
Apesar da atuação magistral de Emily Blunt, dando vida a essa Rachel neurótica, deprimida e alcoolizada, A Garota no Trem não me conquistou num todo. Misturar linhas temporais e intercalar cenas entre flashbacks e atualidade virou um recurso narrativo corriqueiro nas produções recentes para criar tensão e a lenta expectativa de mistério. Feito com exaustão, no entanto, confunde e cansa o espectador, fazendo-o prestar atenção naquilo que não prevalece na trama e tampouco condiz com seu final, muito em parte porque acontece de tudo na trama. Diferente de outros longas com finais surpreendentes (cito os mais exemplares, O Sexto Sentido e Os Outros) que não relevam mas ao menos dão pistas no decorrer da trama, esta produção faz um giro surreal só pra chocar no final. Teria sido muito feliz se focasse apenas nas confusões mentais da Rachel.
Dramédia adolescente leve nunca é demais! "Quase 18" segue a cartilha do gênero ao retratar a transição da adolescência, sabendo dosar bem entre os dramas corriqueiros e exagerados de uma menina insegura-deslocada e alívios cômicos em situações mais descompromissadas. Tem um cheiro de anos 80/90 na produção que beira a nostalgia e isso dá um charme especial pro visual do longa. Hailee Steinfeld tem um timing perfeito, partindo do irônico ao emocionante, do banal para o profundo, nos convencendo de sua persona. Seu trabalho abraça o de Woody Harrelson e há uma sintonia agradável entre os dois -as cenas com o professor de História mereciam acréscimos- bem como o de Hayden Szeto, que mesmo aos 30 anos soube desempenhar o adolescente muito bem.
Anomalisa
3.8 497 Assista AgoraAnomalisa inspira um mergulho agridoce nas angústias humanas. O tédio e a solidão, velhas e incômodas companheiras de nossas jornadas, talvez nunca nos deixem. Pragas que se acoplaram em nosso organismo. Graças ao encontro do argumento peculiar de Charlie Kaufman com a técnica stop-motion de alta qualidade do Duke Johnson, Anomalisa já nasce uma obra curiosa e reflexiva obrigatória a todos que buscam se conhecer.
Power Rangers
3.2 1,1K Assista AgoraNão é tão ruim quanto eu supus ser. Fez uma releitura tecnológica/temática para se adequar ao cenário blockbuster atual sem perder a essência da mitologia da franquia: o upgrade na constituição da armadura e das bugigangas (nave, Zordon e o ajudante, zords) condiz mais com a proposta do que as vistas nos seriados, afinal a origem dos power rangers remonta à vida extraterrestre e aqui se torna mais evidente, sobretudo ao beber do imaginário da ficção científica. Há algumas referências pontuais que ativam o nostálgico em nós, crianças e adolescentes dos anos 90, mas não se prende a isso já que há uma intenção de se apresentar a nova geração (por isso as vezes soa algo meio Transformers e derivados). É mediano e tem potencial para uma continuação, caso não caiam na mania de se prender demais aos efeitos especiais.
Free Fire: O Tiroteio
3.0 120 Assista AgoraFree Fire é tal qual como se vende seja no título, no poster e na premissa: não tem trama e não há fio condutor, apenas tiroteio desordenado e inconsequente. Não há motivação nem valores por trás dos personagens, tudo é aleatório e inesperado, parcerias se fazem e desfazem em questão de segundos e acordos são descumpridos ao simples vislumbre da meleta de dinheiro. A única certeza é que alguém vai levar um tiro, em qualquer parte disponível do corpo. Mesmo não sendo um fã do gênero me diverti com este.
Mãe Só Há Uma
3.5 407 Assista Agora"Mãe Só Há Uma" tem um recorte específico de temática que pode desagradar a uma parte do público. Isso porque Muylaert escolheu direcionar seu registro a um caminho que a trama não indicava que ia. Quem espera que o longa desnude as relações parentais e reflita sobre a (des)naturalização do amor entre pais e filhos, vai se decepcionar: aqui mais importa perceber as nuanças de Felipe/Pierre em plena fase de experimentalismos na identidade (de gênero, de pessoa, de percepção) enquanto uma tragédia dramática recai sobre sua cabeça. O fato de ser sequestrado de seus pais biológicos desencadeia crises em sua personalidade, em seu modo de se perceber e se reafirmar; o conflito familiar em si fica mesmo relegado a algumas sequências aqui e ali, sobretudo no final. A trama tinha um potencial ao ir pelo óbvio, que era confrontar o garoto a sua situação de não pertencimento (se sente deslocado da família biológica e se sente enganado pela família de criação). Não foi o que a idealizadora fez, o que é uma pena.
Corra!
4.2 3,6K Assista AgoraA crítica social como pretexto para desenrolar um suspense hipnotizante é pertinente e promissor. Louvável que o gênero na tentativa de se reinventar tem incorporado novas demandas de público e partido de desafios temáticos que antes se confinavam ao drama; no caso de Get Out, o racismo centenário que persiste ao se adaptar as aparências e se espraia como peste onde há terreno fértil, mesmo (e sobretudo) com a "modernização" e "civilização" dada como alcançada. Portanto, em termos de argumento e idealização Corra! se sobressai as obras mais recentes. Jordan Peele está de parabéns!
No entanto, o MEU problema com o longa vem de certas escolhas narrativas que acabam por azedar o conjunto: o roteiro parece subestimar a capacidade do espectador de elaborar teorias apenas com símbolos visuais sugestivos. A trama surpreende, sim, mas as custas de se entregar tudo de mão beijada. As revelações parecem certificar-se de que todos compreenderam tintim por tintim, com as motivações proferidas em alto bom som pelos personagens. Não é que seja previsível, é que sobra pouco pras entrelinhas. Se não fosse por isso eu teria gostado bem mais do que esperava.
Louca Obsessão
4.1 1,3K Assista AgoraKathy Bates é mesmo um monstro de atuação! A forma como a musa alternou entre a delicadeza afetada que beirava ao infantil e os espasmos de fúria impressiona. O diretor Rob Reiner pode até atingido a tensão adequada ao captar a obra de King mas certamente não teria o mesmo resultado se não fosse sua escolha pela oscarizada aqui. E agora, 27 anos depois, ter a oportunidade de assistir a atriz fazendo a Açougueira em My Roanoke Nightmare é de aplaudir.
A Comunidade
3.4 77 Assista AgoraEmbora tenha se desvirtuado da proposta embrionária lá pela virada para o segundo ato, A Comunidade não vacila ao permear os dramas da montanha-russa emocional humana. Vinterberg parece se (e nos) seduzir à trama do casal protagonista, que presos à monotonia de um matrimônio duradouro se vê diante de novos inusitados desafios: da tentativa de dinamizar as relações sociais com a introdução de novos sujeitos no ambiente familiar à fuga emocional em outros amantes.
Erik encontra sua válvula de escape, Anna jamais supôs fazê-lo. Seu sofrimento e angústia diante do fato de não conseguir mais ter controle sobre sua própria vida e família corta o coração do público e de fato é o grande trunfo da obra e da interpretação Trine Dyrholm. No entanto, o estudo dos dois personagens só tornou-se possível graças ao roteiro que quase minou a discussão sobre a comunidade em si, relegando-a a segundo plano. Tantas personagens coadjuvantes aqui me instigaram a conhecer e adentrar em suas tramas mas não foi possível. Uma pena.
Belgica
3.3 14Belgica divaga sobre a jornada trágica de um relacionamento tóxico de maneira efetiva. Expõe duas pessoas que separadas até funcionam ao lidar em harmonia com seus demônios interiores mas próximas despertam os mais terríveis males adormecidos. As divergências quanto à gerência do bar é o de menos, aqui a máxima "amigos, amigos, negócios a parte" é abolida; ou é tudo isso ou é nada disso. A película é recheada de cenas bem montadas, embaladas por uma trilha sonora que faz jus ao cenário musical belga e nos aproxima à vida excitante e degradante dos irmãos e seus companheiros. Acredito que daria pra cortar uns minutinhos da montagem final e dar espaço para as querelas verbais dos protagonistas mas até que o tempo não prejudica o conjunto. Felix van Groeningen é um nome pra se guardar nos próximos anos do cinema europeu.
Fome de Poder
3.6 830 Assista AgoraCospe o lado obscuro do sonho americano. The Founder até poderia se tornar uma cinebiografia habitual afim de apenas expor uma estória curiosa sobre a explosão do fenômeno globalizado McDonald's, no entanto graças ao roteiro amarrado e a direção de Hancock o longa acaba por descortinar as podres trapaças e deslealdade por trás da bem-aventurança de um homem dos negócios. Com Ray Kroc aprendemos que os ingredientes para o sucesso se resumem à perseverança e ao foco; que para atingir o topo é preciso subir escadas longas e arriscadas, e que as vezes o degrau pode ser alguém ou algum valor. A perspicácia está em perceber isso e não vacilar. Ray se deu conta, os irmãos McDonald's não.
Michael Keaton defende com naturalidade a persona e esbanja carisma até quando se comporta como um rato ganancioso e prepotente. O sorrisinho cínico do magnata me fazia ter vontade de socá-lo. Tudo isso me faz pensar que Fome de Poder não deveria ser tão ignorado como foi.
Um Sonho Sem Limites
3.5 185 Assista AgoraRevelar o destino dos personagens principais antes mesmo de desenvolvê-los é arriscado porque ou pode afastar o público ou decepcionar por não haver "compensação"/finalidade na trama. Não é o caso de To Die For, pelo contrário. Graças a narrativa ágil ancorada num humor negro sedutor e a atuação certeira de Nicole Kidman, Gus Van Sant nos concede um longa divertidíssimo e um estudo inusitado sobre ambição e fama. Suzanne Stone se entrega lentamente a sua obsessão pela câmera e estrelato a ponto de manipular triunfantemente todos a sua volta em um jogo de flerte hipnótico; e até nos deixamos convencer por isso.
Destaco a cena que precede o final como o pico do longa e firma Kidman como uma atriz talentosa: quando Suzanne ao se dirigir para a delegacia é perseguida por repórteres e de forma cínica e forçada posa de vítima, atraindo todas as atenções para si. É seu sonho sem limites sendo concretizado.
Cara Gente Branca
3.8 175 Assista AgoraDear White People, um conto dotado de um peculiar humor pra denunciar que o racismo não é um problema de 50 anos atrás; pelo contrário, mais vivo que nunca conseguiu se camuflar. Disseminou-se de outras formas, as vezes até sutis, a ponto de os envolvidos nos conflitos raciais não se darem conta da disparidade social/cultural a que estão inseridos (ou intencionalmente não querem enxergar). Nossos protogonistas são reais e estão por todas as partes, do Brasil aos EUA, da universidade ao shopping, o que torna a trama palpável. O argumento social dá uma derrapada pela metade do filme e a ironia se torna escassa, fazendo com que o problema abordado se torne subtexto mas ao final se recupera. Tomara que Justin Simien contorne os poucos problemas da película em sua adaptação para a série em termos de narrativa, porque há um trunfo em suas mãos aqui com Cara Gente Branca.
***Pra quem reclama que as artes se contaminaram com uma suposta "agenda da esquerda cultural", lembre-se que para cada um Dear White People existe cinco franquias American Pie***
Hanna
3.5 945 Assista AgoraEstética impecável capitaneada por uma direção certeira mas que serve a um roteiro cheio de furos e lacunas. Mesmo com cenas de ação e perseguição bem executadas em cenários magníficos (a casa-estabelecimento do Grimm, o parque de diversões com um túnel que leva a boca do jacaré, um porto semi-abandonado) a trama não engrena, não convence e corre com o final. Cate Blanchett e Saoirse Ronan abrilhantam em atuação, o que não é novidade, mas falta carisma no Eric Bana. Entretém, caso você se desapegue de certos deslizes narrativos, mas fico imagino o que essa equipe com liderança de Joe Wright poderia fazer com uma ideia melhor em mãos.
***A trilha do The Chemical Brothers como sempre hipnótica. "The Devil Is in the Details" vai ficar soando na minha cabeça por umas boas semanas***
O Que Terá Acontecido a Baby Jane?
4.4 829 Assista AgoraDrama, suspense e, de forma bizarra e doentia, até comédia. O Que Terá Acontecido a Baby Jane? se ancora na atuação magnífica das duas estrelas e na trama muito bem conduzida, fazendo jus ao que se propõe que é instigar no espectador curiosidade sobre as múltiplas possibilidades do passado e destino de seus personagens. Bette Davis nos presenteia uma performance muito acima da média até chegar ao ápice quando Baby Jane e Jane Hudson, criatura e criador, se fundem; e detém o brilho irradiante do conjunto. Aula de firmeza e estudo de personagem.
Pastoral Americana
3.1 103 Assista AgoraNão dá conta da carga dramática que supõe ter. O defeituoso roteiro deixa claro a confusão narrativa aqui: sem saber que estória contar, se o conflito cultural e ideológico de duas gerações distintas dentro do sonho americano ou um drama familiar sob a figura paterna, American Pastoral trata superficialmente ambas possibilidades. A edição vai no rumo e a impressão que dá é que algumas cenas foram cortadas e colocadas em aleatoriedade (a cena da moça no quarto do hotel se insinuando pro pai é o exemplo mais expressivo disso. O livro que deu origem ao longa tem um pouco mais de 500 páginas, isso pode elucidar muita coisa). Personagens sem vida endossados pela atuação esquecível de Dakota e sem firmeza de Jennifer Connelly; a exceção mesmo é Ewan McGregor e o talento de Uzo Aduba subutilizado. O terceiro ato surpreende e comove mas o tesão já se dissipou até lá.
Para Wong Foo, Obrigada Por Tudo! Julie Newmar
3.8 343 Assista AgoraPara além do cômico superficial. Óbvio que os notáveis ingredientes de Para Wong Foo... são suas sequências divertidas, frases hilariantes e situações inusitadas, graças a um roteiro ágil e bem direto; mas felizmente não se limita a isso. Traz uma mensagem singela e agradável: quando damos a chance de conhecer o outro, a troca de aprendizado é mágico e transformador. Tanto nosso trio de drags tresloucadas quanto os moradores da pacata pequena cidade no meio do nada cresceram como humanidade e aprenderam a viver. O elenco está afiadíssimo e eu me surpreendi com Patrick Swayze dando vida a uma persona tão delicada e apaixonante. A todo momento buscava encontrar em seu rosto traços masculinos mas só via a Glenn Close rs
Alexandria
4.0 581 Assista AgoraAlexandria é dessas obras com múltiplas possibilidades de leituras e abordagens. Papel social da mulher na Antiguidade, funcionamento da estrutura política e intolerância religiosa dentro de um épico empolgante e com uma produção colossal, que não peca em nenhum momento pelo ponto de vista de uma obra ficcional. No entanto, levar às telas figuras e acontecimentos históricos nunca deixou (e nem deixará) de ser um campo minado. Ter que equilibrar expectativa de público, atração narrativa, retorno comercial e fidelidade histórica é um trabalho de mestre, e Amenábar tendo consciência disso romanceia por demais e se compromete em fazer um bom filme, mesmo que isso signifique lançar mão de discrepâncias com a verossimilhança. Informações misturadas, virtudes e defeitos exagerados (maniqueísmo gritou), e principalmente uma Hipátia de Alexandria forjada da forma mais pioneira do que os documentos históricos possam supor são visíveis aqui e ali, tanto aos olhos historiográficos quanto cinéfilos. Mas se você fechar os olhos aos detalhes narrativos/históricos e quiser se aventurar num épico como há tempos não fazem: eis Ágora, um entretenimento de qualidade louvável feito por um diretor cuidadoso.
Morte ao Vivo
3.8 209 Assista AgoraAmenábar não deixou a desejar nem mesmo em sua estreia com recurso financeiro/logístico escaço e um roteiro escrito em plena maturação acadêmica, enquanto estudava cinema na própria universidade onde foi filmada. Tesis é um notável exemplo de suspense bem sucedido contendo uma estória simplória mas executado de maneira a instigar o espectador pelo que vem a seguir. Cada sequência ganha novos contornos com alguma informação nova ou mesmo algum detalhe despercebido reutilizado tornando a trama maleável, num vai e volta para descobrir sobre a identidade da mente e mãos por trás dos snuffs que perdura até os minutos finais do longa. Claustrofóbico e apreensivo ficamos, tal qual Ángela.
Deus da Carnificina
3.8 1,4KUm estudo curioso, irônico e cômico sobre a humanidade e sua (não)civilização. Polanski extrai de um episódio corriqueiro reflexões acerca do quanto somos persuadidos a ocultar a franqueza e sinceridade em nome da convenção social mas basta uma faísca, mínima que seja, para que um incêndio de egos se forme e que após a destruição verbal sobrem as cinzas da barbárie. O diretor com a peça original em mãos soube transportar a linguagem para o cinema, movimentando e acompanhando as nuances emocionais dos protagonistas de modo que o espectador nem se dá conta de que por 80min esteve de olhos somente a uma sala de um apartamento. Aliado a atuação magistral dos quatro atores que incorporaram com naturalidade suas personas a ponto de nem parecer um texto decorado, Carnage é um belo achado divertido e inteligente dos últimos anos.
***Pago pau especialmente a Jodie Foster. Em um de seus poucos trabalhos nos últimos anos mostrou que tem pique o suficiente pra levar a frente um projeto calcado em atuação, e não em distrações narrativas. Como eu ri toda vez que as inconveniências dela eram proferidas pra cutucar as três figuras**
Don't you tell me about Africa. I know all about suffering in Africa!
Fragmentado
3.9 3,0K Assista AgoraDois elementos que me incomodaram: o apelo semi-sobrenatural no ato final quanto ao personagem do McAvoy mesmo que toda a construção narrativa estivesse calcada nas explicações psicológicas e os flashbacks da infância de Casey, que atrapalhou minimamente o ritmo do longa e poderia facilmente ter sido descartado. Tirando isso Shyamalan entregou um thriller agradável e instigante, ancorado em sua capacidade de estimular curiosidade no espectador e que tem sua força no trabalho mais que competente de James McAvoy. Três personagens distintos interpretados pelo mesmo ator, cada um com uma carga dramática própria e gesticulação diferenciada, que não depende do figurino para que o público reconheça as personas: as expressões do rosto e a entonação de voz indicam bem mais quem é Dennis, Patricia e Hedwig do que as roupas que vestem.
David Bowie: The Last Five Years
4.4 27Esclarecedor sobre o trajeto e a obra deste gigante da arte e emocionante quanto seus últimos suspiros em vida. O gênio mais uma vez conseguiu confundir arte e vida num caldeirão, em uma relação simbiótica que sempre foi a tônica de seus trabalhos. Planejou, mesmo com a iminência da morte, a poesia e a mágica de sua música de modo que a tragédia ainda conseguiu render um grande espetáculo: em The Next Day o camaleão anuncia o retorno ("Here i am not quite dying") e retoma o seu legado enquanto aos poucos se avizinha o fim de seus dias terrenos, em Blackstar ("Look up here, I'm in heaven"). O doc foi eficiente ao resgatar os bastidores, o que ninguém sabia, trazendo a equipe e os envolvidos em entrevistas cruzando com registros de sua carreira. Uma bela homenagem ao homem-artista e um presente aos fãs.
**Confesso que não me aguentei no final quando o Tony Visconti, seu parceiro musical desde o segundo álbum, não se aguenta em um dos relatos sobre a produção dos álbuns e quase chora ao lembrar da postura artística do Bowie. Como esse homem marcou**
Luzes Brilhantes: Com Debbie Reynolds e Carrie Fisher
4.4 17 Assista AgoraO documentário certamente foi montado e produzido como uma forma de garantir para a posteridade a divulgação dos trabalhos competentes de mãe e filha na sétima arte, no entanto ganhou um significado distinto após a morte das duas atrizes semanas antes de sua estreia: há, mesmo que não intencional, uma sensibilidade nas confissões e histórias compartilhadas entre ambas, tornando a produção não só um raio-x do legado artístico de Debbie e Carrie mas tecendo uma bela história de amor e cumplicidade que transcendem os laços sanguinos.
Meu Nome é Ray
3.3 269 Assista AgoraDemasiado leve para uma temática que poderia render mais. Ao que parece "Meu Nome é Ray" se vende de uma forma mas o roteiro insiste em se cambalear para um outro caminho, minando a intensidade dramática: enquanto a expectativa é que tenhamos uma trama centrada nos percalços do menino Ray, sorrateiramente somos levados a descortinar as crises de Maggie, a mãe. O longa trata-se muito mais de como a matriarca lida com o fato de ser mãe solteira de um menino trans (e mais pro final os fantasmas do passado: o ex-namorado e o cunhado) do que qualquer outra coisa. Naomi Watts e Elle Fanning fazem um trabalho consistente e crível, principalmente esta última. De olhos bem abertos para esta menina.
Agora, vamos ser sinceros, "Meu Nome é Maggie" faria maior sentido.
A Garota no Trem
3.6 1,6K Assista AgoraApesar da atuação magistral de Emily Blunt, dando vida a essa Rachel neurótica, deprimida e alcoolizada, A Garota no Trem não me conquistou num todo. Misturar linhas temporais e intercalar cenas entre flashbacks e atualidade virou um recurso narrativo corriqueiro nas produções recentes para criar tensão e a lenta expectativa de mistério. Feito com exaustão, no entanto, confunde e cansa o espectador, fazendo-o prestar atenção naquilo que não prevalece na trama e tampouco condiz com seu final, muito em parte porque acontece de tudo na trama. Diferente de outros longas com finais surpreendentes (cito os mais exemplares, O Sexto Sentido e Os Outros) que não relevam mas ao menos dão pistas no decorrer da trama, esta produção faz um giro surreal só pra chocar no final. Teria sido muito feliz se focasse apenas nas confusões mentais da Rachel.
Quase 18
3.7 604 Assista AgoraDramédia adolescente leve nunca é demais! "Quase 18" segue a cartilha do gênero ao retratar a transição da adolescência, sabendo dosar bem entre os dramas corriqueiros e exagerados de uma menina insegura-deslocada e alívios cômicos em situações mais descompromissadas. Tem um cheiro de anos 80/90 na produção que beira a nostalgia e isso dá um charme especial pro visual do longa. Hailee Steinfeld tem um timing perfeito, partindo do irônico ao emocionante, do banal para o profundo, nos convencendo de sua persona. Seu trabalho abraça o de Woody Harrelson e há uma sintonia agradável entre os dois -as cenas com o professor de História mereciam acréscimos- bem como o de Hayden Szeto, que mesmo aos 30 anos soube desempenhar o adolescente muito bem.
Eu tive que pausar o filme pra rir e reassistir a cena em que o casal está na roda gigante e ele tenta beijá-la. Que naturalidade!