Jessia Chastain. O longa transpira a presença imponente e arrebatadora de sua personagem que, feita sob encomenda à atriz, se molda a suas expressões e entonações pra revelar uma Miss Sloane ambiciosa, firme e calculista -o diretor revelou que o roteiro e a montagem das cenas já foi idealizado para Chastain, uma prova de que a subestimada moça é a força vital para a obra. O texto inteligente* e sagaz do estreante Jonathan Perera nos concede sequências admiráveis, apesar de esbarrar aqui e ali em certas conveniências narrativas ("ingenuidade" dos demais personagens, artificieis tecnológicos insuperáveis...). Seu trabalho é descortinar os bastidores das acirradas aprovações de leis na política americana, e toca num assunto polêmico e controverso. Caminho perigoso -pôr em cheque a Constituição foi bem ousado-, mas feliz. A trama mantém um ritmo agradável e você se pega aguardando o próximo movimento das peças no jogo de xadrez da lobista idealista.
Agora, pelo que parece, a temática da Segunda Emenda pesou sobre a percepção do público e da crítica sobre a produção. Numa leitura MINHA, depois de rever cenas chaves, John Madden equilibra os argumentos de ambos os lados na disputa do lobby. Óbvio que há uma leve inclinação à restrição do uso armas, uma vez que a obra se atém a mostrar a perspectiva da Miss Sloane, mas não se trata de panfletismo. Parece que nem todos pensaram por esse lado, e a crítica agiganta os defeitos por tocar num tema divisor de águas como esse, o público segue o rumo (o filme não tá indo bem das pernas).
"Escutem todos, vou contar uma história. Um padre dá carona para uma jovem freira,e ao mudar de marcha, põe a mão no joelho dela. A freira diz ao padre: "Padre, lembre-se de Lucas 14:10." O padre tira a mão, envergonhado. Aí param em um sinal, e ele põe a mão na coxa dela. E a freira repete: "Lembre-se de Lucas 14:10, padre." O padre pede desculpa. "A carne é fraca", ele diz. Ele deixa a freira, chega em casa, e abre a Bíblia em Lucas 14:10. Alguém sabe o que diz? 'Amigo, sobe mais, e então terás a glória'. A ignorância pode significar a perda de oportunidades.
Projeto soberbo de Miller, ainda mais que a trilogia original, que se sobressai a uma parcela considerável dos filmes de ação atualmente. O diretor australiano capta o frenesi e a loucura de uma perseguição como ninguém, sem deixar que você recupere o fôlego -o que pode, em certos momentos, até "te esgotar" mas que não se constitui num demérito. A produção técnica vista aqui é da mais alta qualidade: a ambientação no imenso deserto aliada a fotografia, as engenhocas decadentes (carros, armas, a própria Cidadela), a maquiagem e os planos longos foram merecedoras dos prêmios e louvores que receberam. E não é preciso elogiar a atuação do elenco, que tem sua força na Furiosa de Charlize e que apresenta um Max levemente diferente do original -enquanto o de Gibson é silencioso e contido, o de Hardy é silencioso, contido e muito raivoso, todo não-me-toque. Esperamos ver mais do universo Mad Max nos próximos anos, só não sature como os filmes de herói rs.
É uma pena que os atores mirins não tenham enveredado pela sétima arte, né!? Alakina Mann (a filha) proporciona momentos interessantíssimos no longa e a veria facilmente em produções recentes -isto é, se anos de prática e estudo permitissem aprimorar a atuação, o que não é o caso de vários atores mirins "mortos" pra indústria hoje em dia.
Criativo e intrigante, "Os Outros" é minha segunda experiência com o cinema de Amenábar e felizmente por ora me agrada a forma como o diretor chileno conduz seus projetos. Lançando mão do mesmo embaraço psicológico do anterior "Preso na Escuridão" mas adicionando a atmosfera sobrenatural comum ao horror, o longa segue a cartilha do gênero ao introduzir elementos costumeiros (casa mal-assombrada, jogo de sombras e luz, nevoeiro claustrofóbico, cemitério próximo) e ainda assim se sobressair à produções semelhantes. Tudo é executado com um cuidado tão sofisticado para 'vender o produto' ao público que se torna quase crível o que presenciamos. Nicole Kidman está arrasadora e a cada momento em tela nos dá uma sensação que beira a paranoia - e com um final surpreendente destes, é impossível não revirar a mente pra tentar buscar brechas na trama. Juntamente com o elenco afiadíssimo e firme e a trilha sonora assombrosa, "Os Outros" se aproxima de "O Sexto Sentido" no panteão das obras que valem a pena serem vistas e revistas.
De uma sensibilidade incômoda e uma sinceridade impar, "Moonlight" arrebata e é A descoberta do ano. Sem diálogos marcantes e pontuais e a ausência de movimentos bruscos na trama pode afastar uma parte do público, mas é justamente aí que se esconde a pérola do longa: o semblante solitário e amedrontado de Little/Chiron/Black é suficiente para transmitir a dureza de ser quem se é. A escolha narrativa em dividir a trama em três atos acompanhando infância, adolescência e vida adulta foi feliz por criar um elo entre espectador e personagem. Mesmo sem a violência constante e um melodrama insistente, tudo fica claro através da sutileza das cenas.
Obs.: Todos louvores a Trevante Rhodes que, sendo o brutamontes e homão que é, ainda conseguiu apresentar o mesmo olhar perdido e desconfiado que o personagem tinha quando criança.
Eis que a nova geração das animações tomou um fôlego interessante nos últimos anos e a cada produção se inova em técnica, temática e elementos narrativos. Moana é um exemplo da necessidade do cinema de se adaptar às demandas de público: desloca o maniqueísmo convencional para uma história de múltiplas possibilidades (me refiro aqui a ausência de vilão) e a menina-cabeça-de-vento dá lugar a uma heroína inspiradora. Junto de "Valente" e "Mulan", Moana entra na nova geração que pode se deleitar com a diversidade de histórias e personagens.
Exaltação de um altruísmo que chega a ser piegas e saturado, e que teve no recente "Cavalo de Guerra" do Spielberg um tom semelhante -a saga de um rapaz idealista e apaixonado que seguindo os conselhos do coração se mete em meio a um guerra da qual não faz parte de seu mundo. Aos moldes para abocanhar estatuetas por aí Mel Gibson volta à direção em seu trunfo: a habilidade espetacular de encenar e captar a ação claustrofóbica da guerra desde Coração Valente. Andrew Garfield se encaixa bem no personagem e é perceptível o comprometimento do moço em construir a trama a partir dali. No entanto, o longa figura entre as várias obras do gênero e não se sobressai -nem que seja sua intenção, talvez. Entretém ao menos.
Contar uma história fascinante e atrativa é um dom, e Kubo tira de letra. Animação que agrada aos olhos por conta do cuidadoso trabalho técnico em um stop motion surpreendentemente rico em detalhes, e agrada a alma pela mensagem sobre família e empatia. Além do mais, há respeito e reverência ao folclore e ancestralidade oriental, provando que nada ali fora jogado e mal posicionado. Disney que se cuide porque o estúdio Laika já mostrou que veio com tudo.
Obs.: melhor animação do ano sim. Vindo de alguém que nem se sente atraída pelo gênero.
Um tema convencional -aos olhos cinematográficos- mas feito de forma diferente. Jeff Nichols fez uma escolha arriscada ao moldar o roteiro e direção da forma como fez: sem melodrama, sem personagens e feitos heroicos (apesar de historicamente significativos), sem exageros. O longa apela pela simplicidade e pela leveza justamente por tratar os protagonistas deste casamento ilegal como duas pessoas comuns, com o objetivo apenas de viver o amor que sentem um pelo outro sem incomodar ninguém nem ser incomodados. Mérito também, obviamente, do trabalho dos atores. Ricos em expressões e em gestos sensíveis, Ruth Negga e Joel Edgerton entregam seus personagens com um convencimento tão agradável que basta o olhar triste e esperançoso da primeira e o olhar contido e cabeça baixa do último para a empatia se concretizar. Merecidos os elogios da crítica e do público.
Dilemas éticos e filosóficos se tornam o mote para o thriller mediano The Purge. Mesmo com a falta de originalidade -questionamentos semelhantes estão presentes no recente blockbuster Jogos Vorazes, que por sua vez não é nada original- o idealizador DeMonaco abre um leque de possibilidades de leituras: o espectador pode refletir sobre a industria da arma que lucra horrores com o estado permanente de medo, a violência e repulsa como inerentes ao ser humano, o fascismo a espreita buscando a eliminação de grupos específicos para purificar a humanidade ou o próprio desenvolvimento econômico/social... Para além do argumento infelizmente a execução não mantém a qualidade por toda sua duração, uma vez que certas sequências inverossímeis e repetidas forçam o suspense do meio pro fim. Reviravoltas óbvias e em doses desnecessárias dificultam a empatia com qualquer personagem. Fico me perguntando se a proposta não se daria melhor desenvolvida numa minissérie, quem sabe!?
A estreante Heather Matarazzo entrega uma das melhores weirdo kid que veremos na história do cinema. Bem Vindo a Casa de Bonecas não traz alívio nunca: é a esquisita e frustrada vida de uma guria "feia" e desconsertada tentando viver em meio ao mundo perfeito das bonecas. O elemento estranho que não se encaixa na escola, entre amigos e dentro de casa. O bullying escolar e a negligência familiar que tanto espreita e ninguém se dá conta.
A relação construída pelos protagonistas dado as circunstâncias de ambos é no mínimo bizarra. Mesmo com toda a tentativa de tornar a história romanceada, eu não consigo não pensar que Will só conseguiu desenvolver algo pela moça porque está emocionalmente vulnerável. O lance médico/paciente, sabe!?
Emília Clark é esforçada mas por vezes me parece forçada nessa personagem. É tudo tão caricato: o modo bobo e ingênuo de se olhar a vida, a alegria saltitante a cada cena, as expressões faciais exageradas. Mirou no encantamento, acertou no sem sal.
Um tanto frustante. O velho caso de um longa com uma premissa interessante e uma execução mediana. Dormindo Com o Inimigo peca e feio no desenvolvimento de sua trama, que não dá espaços pra tornar o argumento crível: não convenceu o suficiente de que Laura sofria violência doméstica em grau traumático (dez minutos não basta pra se sensibilizar com o relacionamnento abusivo), não desenvolveu o suficiente o TOC adquirido pela protagonista por conta da obsessão de seu marido, e o embate final entre vítima e agressor deixou a desejar. É bom até, mas eu esperava mais.
***A beleza da Julia Roberts aqui é uma coisa de outro mundo. E sua atuação é a única que convence de fato***
"Você não pode me convencer de que não é possível mudar o mundo, porque eu vi isso acontecer". Doc poderoso sobre os anos iniciais do movimento feminista nos anos 60, pormenorizando as reivindicações dos grupos ativistas femininos e servindo como um diário para lembrar que a luta deve ser incessante até que se alcance a almejada equidade.
Que preço caro a se pagar pela liberdade, não é!? Mustang levanta um debate necessário sobre os limites de preceitos culturais que invadem a liberdade individual e impõe por meio da tradição restrições quanto ao modo de ser e viver de cada um (no filme em questão, os comportamentos femininos). O longa parece por demais simples, ou até bobo, em sua concepção mas ganha uma amplitude inesperada à medida que a agonia que sentimos pelas irmãs presas ao ditame "bela, recatada e do lar" cresce a ponto de o espectador vibrar por qualquer sensação de liberdade que a protagonista Lale sinta. Inclusive, Lale passa a ser minha heroína mirim favorita a partir de agora. Sua fofa!
“A lei não nos respeita, por que devemos respeitá-la?” Bem além de uma produção filmíca para entretenimento, As Sufragistas presta um grande serviço a sociedade ao abordar com sobriedade a histórica luta do feminismo. O recorte do longa é claro: aqui uma trama romântica ou a vida individual das personagens pouco importam; a luta por igualdade de gênero no acesso ao voto e a equiparação salarial no contexto de uma sociedade marcadamente patriarcal tomam conta de suas quase duas horas. E não para aí, há espaço pra reflexões sobre o papel da mulher nas relações sociais. Uma verdadeira aula de cidadania, e um debate não datado: emergencial, na verdade. Uma lástima a distribuição restrita do filme em nosso país, e a falta de receptividade nas premiações. Aqui fica um diálogo marcante:
"- A lei não significa nada pra mim. Não tive nada a dizer quando a fizeram. Partimos janelas, quebramos coisas, porque guerra é a única linguagem a que os homens dão atenção. Porque vocês têm-nos batido e traído, e nada mais resta além disso. - E nada mais nos resta a não ser pará-las - O que vai fazer? Prender-nos a todas? Estamos em todas as casas, somos metade da raça humana, não irá conseguir parar-nos a todas."
Não é de todo ruim, nem bom. O argumento tem potencial, mas esbarra numa execução repetitiva e oscilante: os primeiros minutos desinteressam, o segundo terço do longa timidamente te cativa e da metade pro fim deslancha no superficial. Tom Hardy é um bom ator esforçado, e se desdobra pra criar dois personagens semelhantes numa primeira olhada mas distintos se analisar atentamente, mudando voz e postura gestual. Mas as vezes transforma seus personagens em caricatura. A personagem de Emily Browning não tinha nem que tá aqui, linda! Uma distração diante duma trama que poderia ter direcionado os minutos gastos com ela para desenvolver a relação bizarra dos dois irmãos. Faltou ação também, uma vez que a história dos gêmeos Kray é bem mais sórdida que a apresentada aqui. Típico filme que poderia ter sido, mas não foi. Regular.
Me deu um nervoso. Me deu raiva. Em dupla ambição Tom McCarthy aqui faz ode a um jornalismo sério, profundo e compromissado, em contraponto ao primo predatório do ano passado "O Abutre". Uma imprensa que veste a armadura e descortina o(s) segredo(s) em busca de alterar, para melhor, a realidade em seu entorno. Junto com os bastidores do jornalismo, o filme toca na polêmica e necessária questão do abuso sexual praticado por alguns padres da Igreja Católica (e no caso norte-americano exposto no filme, abusos sexuais institucionalizados, que encontram proteção debaixo das asas da Mãe Igreja). É de se vibrar esperando que os jornalistas consigam expor a rede de podridão que cercam as paredes de alguns templos. Filmaço pra ser visto e revisto.
Se indignar com o hype que JLaw tem recebido nos últimos anos na cena hollywoodiana é até compreensivo. Agora desmerecer sua atuação e relegar ao nada é ilógico, e "Joy" evidencia isso. A bela engole o filme para si. Faltou sintonia entre o trio repetitivo (Jen, DeNiro e Cooper) mas sobrou empatia com a personagem: você torce, você vibra e você quase chora por ela, porque Joy é real e é sua irmã, sua mãe, sua vizinha. Alguns bombardearam o filme e mais uma vez: oh, gostei. Talvez seja minha queda por histórias de superação (?)
Hipnotizante e surreal. Lento sim, porém não prejudicial: é na calmaria dos acontecimentos em que se encontram diálogos interessantíssimos e questionamentos pertinentes. Um suspense crescente, que convida o espectador a criar as possibilidades futuras para as sequências. E, como um belo sci-fi, a máquina serve de gatilho para a discussão sobre o que é humanidade e o que é artificial, qual o limite entre ambos. Tema já tão explorado (Eu Robô, A.I.), mas inesgotável. E precisa dizer algo sobre as atuações? Creio que não né!? Oscar Isaac maravilhoso, Domhall just ok e Alicia... uma nova musa a se admirar, engole o filme para si.
Alicia, Alicia e Alicia. Embora as expectativas estavam altas para a performance E. Redmayne, foi a co-protagonista do longa que roubou todas as atenções para si. Alicia Vikander nos presenteia uma personagem por demais interessante, e molda uma personalidade bem mais convidativa e caristmática que à do colega que divide as cenas. Instiga curiosidade: sobre seus anseios, sentimentos e pensamentos. Gerda é um mistério que eu ainda não consegui desvendar. Não, eu não lanço por terra o trabalho do Eddie. De fato, como algumas críticas apontam, os trejeitos exagerados e a emoção confusa e milimetricamente ensaiada para too-much-drama dificulta uma empatia com a personagem (eu ainda não sei se a Lili Elbe apenas tinha inadequeção ao sexo biológico ou se tinha distúrbio psicológico sério, tamanho era o exagero do Eddie). Mas, olha, eu gostei do filme. Só tira esse singular no título, porque As Garotas Dinamarquesas cai melhor uma vez que a execução não está de acordo com o argumento.
Primeiro vamos ao que salta aos olhos: a incrível semelhança entre a atriz Jennifer Lopez e a cantora mexicana de tejano Selena Quintanilla é de deixar qualquer um embasbacado. Talvez a escolha mais coerente que já vi para interpretação em uma cinebiografia. Falando em interpretação, JLo é uma grata surpresa, nos entregando uma Selena tão vívida, tão apaixonada pela vida e pela carreira, uma jovem igualmente linda e talentosa. E com um fim tão trágico. Embora esbarre em algumas falhas, principalmente nas cenas finais, o longa tem um saldo positivo ao trazer às telas a trajetória do maior expoente da música latina ao mundo.
Eu espero que façam um filme spin-off que retrate os jogos em que o Haymitch ganhou. Me recuso a aceitar que a saga tenha terminado com essas duas partes medíocres.
Armas na Mesa
4.0 221 Assista AgoraJessia Chastain. O longa transpira a presença imponente e arrebatadora de sua personagem que, feita sob encomenda à atriz, se molda a suas expressões e entonações pra revelar uma Miss Sloane ambiciosa, firme e calculista -o diretor revelou que o roteiro e a montagem das cenas já foi idealizado para Chastain, uma prova de que a subestimada moça é a força vital para a obra. O texto inteligente* e sagaz do estreante Jonathan Perera nos concede sequências admiráveis, apesar de esbarrar aqui e ali em certas conveniências narrativas ("ingenuidade" dos demais personagens, artificieis tecnológicos insuperáveis...). Seu trabalho é descortinar os bastidores das acirradas aprovações de leis na política americana, e toca num assunto polêmico e controverso. Caminho perigoso -pôr em cheque a Constituição foi bem ousado-, mas feliz. A trama mantém um ritmo agradável e você se pega aguardando o próximo movimento das peças no jogo de xadrez da lobista idealista.
Agora, pelo que parece, a temática da Segunda Emenda pesou sobre a percepção do público e da crítica sobre a produção. Numa leitura MINHA, depois de rever cenas chaves, John Madden equilibra os argumentos de ambos os lados na disputa do lobby. Óbvio que há uma leve inclinação à restrição do uso armas, uma vez que a obra se atém a mostrar a perspectiva da Miss Sloane, mas não se trata de panfletismo. Parece que nem todos pensaram por esse lado, e a crítica agiganta os defeitos por tocar num tema divisor de águas como esse, o público segue o rumo (o filme não tá indo bem das pernas).
Enfim, tem um diálogo que merece quote:
"Escutem todos, vou contar uma história. Um padre dá carona para uma jovem freira,e ao mudar de marcha, põe a mão no joelho dela. A freira diz ao padre: "Padre, lembre-se de Lucas 14:10." O padre tira a mão, envergonhado. Aí param em um sinal, e ele põe a mão na coxa dela. E a freira repete: "Lembre-se de Lucas 14:10, padre." O padre pede desculpa. "A carne é fraca", ele diz. Ele deixa a freira, chega em casa, e abre a Bíblia em Lucas 14:10. Alguém sabe o que diz? 'Amigo, sobe mais, e então terás a glória'. A ignorância pode significar a perda de oportunidades.
Mad Max: Estrada da Fúria
4.2 4,7K Assista AgoraProjeto soberbo de Miller, ainda mais que a trilogia original, que se sobressai a uma parcela considerável dos filmes de ação atualmente. O diretor australiano capta o frenesi e a loucura de uma perseguição como ninguém, sem deixar que você recupere o fôlego -o que pode, em certos momentos, até "te esgotar" mas que não se constitui num demérito. A produção técnica vista aqui é da mais alta qualidade: a ambientação no imenso deserto aliada a fotografia, as engenhocas decadentes (carros, armas, a própria Cidadela), a maquiagem e os planos longos foram merecedoras dos prêmios e louvores que receberam. E não é preciso elogiar a atuação do elenco, que tem sua força na Furiosa de Charlize e que apresenta um Max levemente diferente do original -enquanto o de Gibson é silencioso e contido, o de Hardy é silencioso, contido e muito raivoso, todo não-me-toque. Esperamos ver mais do universo Mad Max nos próximos anos, só não sature como os filmes de herói rs.
Os Outros
4.1 2,5K Assista AgoraÉ uma pena que os atores mirins não tenham enveredado pela sétima arte, né!? Alakina Mann (a filha) proporciona momentos interessantíssimos no longa e a veria facilmente em produções recentes -isto é, se anos de prática e estudo permitissem aprimorar a atuação, o que não é o caso de vários atores mirins "mortos" pra indústria hoje em dia.
Os Outros
4.1 2,5K Assista AgoraCriativo e intrigante, "Os Outros" é minha segunda experiência com o cinema de Amenábar e felizmente por ora me agrada a forma como o diretor chileno conduz seus projetos. Lançando mão do mesmo embaraço psicológico do anterior "Preso na Escuridão" mas adicionando a atmosfera sobrenatural comum ao horror, o longa segue a cartilha do gênero ao introduzir elementos costumeiros (casa mal-assombrada, jogo de sombras e luz, nevoeiro claustrofóbico, cemitério próximo) e ainda assim se sobressair à produções semelhantes. Tudo é executado com um cuidado tão sofisticado para 'vender o produto' ao público que se torna quase crível o que presenciamos. Nicole Kidman está arrasadora e a cada momento em tela nos dá uma sensação que beira a paranoia - e com um final surpreendente destes, é impossível não revirar a mente pra tentar buscar brechas na trama. Juntamente com o elenco afiadíssimo e firme e a trilha sonora assombrosa, "Os Outros" se aproxima de "O Sexto Sentido" no panteão das obras que valem a pena serem vistas e revistas.
Moonlight: Sob a Luz do Luar
4.1 2,4K Assista AgoraDe uma sensibilidade incômoda e uma sinceridade impar, "Moonlight" arrebata e é A descoberta do ano. Sem diálogos marcantes e pontuais e a ausência de movimentos bruscos na trama pode afastar uma parte do público, mas é justamente aí que se esconde a pérola do longa: o semblante solitário e amedrontado de Little/Chiron/Black é suficiente para transmitir a dureza de ser quem se é. A escolha narrativa em dividir a trama em três atos acompanhando infância, adolescência e vida adulta foi feliz por criar um elo entre espectador e personagem. Mesmo sem a violência constante e um melodrama insistente, tudo fica claro através da sutileza das cenas.
Obs.: Todos louvores a Trevante Rhodes que, sendo o brutamontes e homão que é, ainda conseguiu apresentar o mesmo olhar perdido e desconfiado que o personagem tinha quando criança.
Moana: Um Mar de Aventuras
4.1 1,5KEis que a nova geração das animações tomou um fôlego interessante nos últimos anos e a cada produção se inova em técnica, temática e elementos narrativos. Moana é um exemplo da necessidade do cinema de se adaptar às demandas de público: desloca o maniqueísmo convencional para uma história de múltiplas possibilidades (me refiro aqui a ausência de vilão) e a menina-cabeça-de-vento dá lugar a uma heroína inspiradora. Junto de "Valente" e "Mulan", Moana entra na nova geração que pode se deleitar com a diversidade de histórias e personagens.
Até o Último Homem
4.2 2,0K Assista AgoraExaltação de um altruísmo que chega a ser piegas e saturado, e que teve no recente "Cavalo de Guerra" do Spielberg um tom semelhante -a saga de um rapaz idealista e apaixonado que seguindo os conselhos do coração se mete em meio a um guerra da qual não faz parte de seu mundo. Aos moldes para abocanhar estatuetas por aí Mel Gibson volta à direção em seu trunfo: a habilidade espetacular de encenar e captar a ação claustrofóbica da guerra desde Coração Valente. Andrew Garfield se encaixa bem no personagem e é perceptível o comprometimento do moço em construir a trama a partir dali. No entanto, o longa figura entre as várias obras do gênero e não se sobressai -nem que seja sua intenção, talvez. Entretém ao menos.
Kubo e as Cordas Mágicas
4.2 635 Assista AgoraContar uma história fascinante e atrativa é um dom, e Kubo tira de letra. Animação que agrada aos olhos por conta do cuidadoso trabalho técnico em um stop motion surpreendentemente rico em detalhes, e agrada a alma pela mensagem sobre família e empatia. Além do mais, há respeito e reverência ao folclore e ancestralidade oriental, provando que nada ali fora jogado e mal posicionado. Disney que se cuide porque o estúdio Laika já mostrou que veio com tudo.
Obs.: melhor animação do ano sim. Vindo de alguém que nem se sente atraída pelo gênero.
Loving: Uma História de Amor
3.7 292 Assista AgoraUm tema convencional -aos olhos cinematográficos- mas feito de forma diferente. Jeff Nichols fez uma escolha arriscada ao moldar o roteiro e direção da forma como fez: sem melodrama, sem personagens e feitos heroicos (apesar de historicamente significativos), sem exageros. O longa apela pela simplicidade e pela leveza justamente por tratar os protagonistas deste casamento ilegal como duas pessoas comuns, com o objetivo apenas de viver o amor que sentem um pelo outro sem incomodar ninguém nem ser incomodados. Mérito também, obviamente, do trabalho dos atores. Ricos em expressões e em gestos sensíveis, Ruth Negga e Joel Edgerton entregam seus personagens com um convencimento tão agradável que basta o olhar triste e esperançoso da primeira e o olhar contido e cabeça baixa do último para a empatia se concretizar. Merecidos os elogios da crítica e do público.
Uma Noite de Crime
3.2 2,2K Assista AgoraDilemas éticos e filosóficos se tornam o mote para o thriller mediano The Purge. Mesmo com a falta de originalidade -questionamentos semelhantes estão presentes no recente blockbuster Jogos Vorazes, que por sua vez não é nada original- o idealizador DeMonaco abre um leque de possibilidades de leituras: o espectador pode refletir sobre a industria da arma que lucra horrores com o estado permanente de medo, a violência e repulsa como inerentes ao ser humano, o fascismo a espreita buscando a eliminação de grupos específicos para purificar a humanidade ou o próprio desenvolvimento econômico/social... Para além do argumento infelizmente a execução não mantém a qualidade por toda sua duração, uma vez que certas sequências inverossímeis e repetidas forçam o suspense do meio pro fim. Reviravoltas óbvias e em doses desnecessárias dificultam a empatia com qualquer personagem. Fico me perguntando se a proposta não se daria melhor desenvolvida numa minissérie, quem sabe!?
Obs.: Lena é uma maravilha ne!?
Bem-Vindo à Casa de Bonecas
3.9 228A estreante Heather Matarazzo entrega uma das melhores weirdo kid que veremos na história do cinema. Bem Vindo a Casa de Bonecas não traz alívio nunca: é a esquisita e frustrada vida de uma guria "feia" e desconsertada tentando viver em meio ao mundo perfeito das bonecas. O elemento estranho que não se encaixa na escola, entre amigos e dentro de casa. O bullying escolar e a negligência familiar que tanto espreita e ninguém se dá conta.
Olhos bem abertos para Todd Solondz.
Como Eu Era Antes de Você
3.7 2,3K Assista AgoraA relação construída pelos protagonistas dado as circunstâncias de ambos é no mínimo bizarra. Mesmo com toda a tentativa de tornar a história romanceada, eu não consigo não pensar que Will só conseguiu desenvolver algo pela moça porque está emocionalmente vulnerável. O lance médico/paciente, sabe!?
Emília Clark é esforçada mas por vezes me parece forçada nessa personagem. É tudo tão caricato: o modo bobo e ingênuo de se olhar a vida, a alegria saltitante a cada cena, as expressões faciais exageradas. Mirou no encantamento, acertou no sem sal.
Dormindo Com o Inimigo
3.4 303 Assista AgoraUm tanto frustante. O velho caso de um longa com uma premissa interessante e uma execução mediana. Dormindo Com o Inimigo peca e feio no desenvolvimento de sua trama, que não dá espaços pra tornar o argumento crível: não convenceu o suficiente de que Laura sofria violência doméstica em grau traumático (dez minutos não basta pra se sensibilizar com o relacionamnento abusivo), não desenvolveu o suficiente o TOC adquirido pela protagonista por conta da obsessão de seu marido, e o embate final entre vítima e agressor deixou a desejar. É bom até, mas eu esperava mais.
***A beleza da Julia Roberts aqui é uma coisa de outro mundo. E sua atuação é a única que convence de fato***
She’s Beautiful When She’s Angry
4.6 152"Você não pode me convencer de que não é possível mudar o mundo, porque eu vi isso acontecer".
Doc poderoso sobre os anos iniciais do movimento feminista nos anos 60, pormenorizando as reivindicações dos grupos ativistas femininos e servindo como um diário para lembrar que a luta deve ser incessante até que se alcance a almejada equidade.
Cinco Graças
4.3 329 Assista AgoraQue preço caro a se pagar pela liberdade, não é!? Mustang levanta um debate necessário sobre os limites de preceitos culturais que invadem a liberdade individual e impõe por meio da tradição restrições quanto ao modo de ser e viver de cada um (no filme em questão, os comportamentos femininos). O longa parece por demais simples, ou até bobo, em sua concepção mas ganha uma amplitude inesperada à medida que a agonia que sentimos pelas irmãs presas ao ditame "bela, recatada e do lar" cresce a ponto de o espectador vibrar por qualquer sensação de liberdade que a protagonista Lale sinta.
Inclusive, Lale passa a ser minha heroína mirim favorita a partir de agora. Sua fofa!
As Sufragistas
4.1 778 Assista Agora“A lei não nos respeita, por que devemos respeitá-la?”
Bem além de uma produção filmíca para entretenimento, As Sufragistas presta um grande serviço a sociedade ao abordar com sobriedade a histórica luta do feminismo. O recorte do longa é claro: aqui uma trama romântica ou a vida individual das personagens pouco importam; a luta por igualdade de gênero no acesso ao voto e a equiparação salarial no contexto de uma sociedade marcadamente patriarcal tomam conta de suas quase duas horas. E não para aí, há espaço pra reflexões sobre o papel da mulher nas relações sociais. Uma verdadeira aula de cidadania, e um debate não datado: emergencial, na verdade. Uma lástima a distribuição restrita do filme em nosso país, e a falta de receptividade nas premiações. Aqui fica um diálogo marcante:
"- A lei não significa nada pra mim. Não tive nada a dizer quando a fizeram. Partimos janelas, quebramos coisas, porque guerra é a única linguagem a que os homens dão atenção. Porque vocês têm-nos batido e traído, e nada mais resta além disso.
- E nada mais nos resta a não ser pará-las
- O que vai fazer? Prender-nos a todas? Estamos em todas as casas, somos metade da raça humana, não irá conseguir parar-nos a todas."
Lendas do Crime
3.3 183Não é de todo ruim, nem bom. O argumento tem potencial, mas esbarra numa execução repetitiva e oscilante: os primeiros minutos desinteressam, o segundo terço do longa timidamente te cativa e da metade pro fim deslancha no superficial. Tom Hardy é um bom ator esforçado, e se desdobra pra criar dois personagens semelhantes numa primeira olhada mas distintos se analisar atentamente, mudando voz e postura gestual. Mas as vezes transforma seus personagens em caricatura. A personagem de Emily Browning não tinha nem que tá aqui, linda! Uma distração diante duma trama que poderia ter direcionado os minutos gastos com ela para desenvolver a relação bizarra dos dois irmãos. Faltou ação também, uma vez que a história dos gêmeos Kray é bem mais sórdida que a apresentada aqui. Típico filme que poderia ter sido, mas não foi. Regular.
Spotlight - Segredos Revelados
4.1 1,7K Assista AgoraMe deu um nervoso. Me deu raiva. Em dupla ambição Tom McCarthy aqui faz ode a um jornalismo sério, profundo e compromissado, em contraponto ao primo predatório do ano passado "O Abutre". Uma imprensa que veste a armadura e descortina o(s) segredo(s) em busca de alterar, para melhor, a realidade em seu entorno. Junto com os bastidores do jornalismo, o filme toca na polêmica e necessária questão do abuso sexual praticado por alguns padres da Igreja Católica (e no caso norte-americano exposto no filme, abusos sexuais institucionalizados, que encontram proteção debaixo das asas da Mãe Igreja). É de se vibrar esperando que os jornalistas consigam expor a rede de podridão que cercam as paredes de alguns templos. Filmaço pra ser visto e revisto.
Joy: O Nome do Sucesso
3.4 778 Assista AgoraSe indignar com o hype que JLaw tem recebido nos últimos anos na cena hollywoodiana é até compreensivo. Agora desmerecer sua atuação e relegar ao nada é ilógico, e "Joy" evidencia isso. A bela engole o filme para si. Faltou sintonia entre o trio repetitivo (Jen, DeNiro e Cooper) mas sobrou empatia com a personagem: você torce, você vibra e você quase chora por ela, porque Joy é real e é sua irmã, sua mãe, sua vizinha. Alguns bombardearam o filme e mais uma vez: oh, gostei. Talvez seja minha queda por histórias de superação (?)
Ex Machina: Instinto Artificial
3.9 2,0K Assista AgoraHipnotizante e surreal. Lento sim, porém não prejudicial: é na calmaria dos acontecimentos em que se encontram diálogos interessantíssimos e questionamentos pertinentes. Um suspense crescente, que convida o espectador a criar as possibilidades futuras para as sequências. E, como um belo sci-fi, a máquina serve de gatilho para a discussão sobre o que é humanidade e o que é artificial, qual o limite entre ambos. Tema já tão explorado (Eu Robô, A.I.), mas inesgotável. E precisa dizer algo sobre as atuações? Creio que não né!? Oscar Isaac maravilhoso, Domhall just ok e Alicia... uma nova musa a se admirar, engole o filme para si.
A Garota Dinamarquesa
4.0 2,2K Assista AgoraAlicia, Alicia e Alicia. Embora as expectativas estavam altas para a performance E. Redmayne, foi a co-protagonista do longa que roubou todas as atenções para si. Alicia Vikander nos presenteia uma personagem por demais interessante, e molda uma personalidade bem mais convidativa e caristmática que à do colega que divide as cenas. Instiga curiosidade: sobre seus anseios, sentimentos e pensamentos. Gerda é um mistério que eu ainda não consegui desvendar. Não, eu não lanço por terra o trabalho do Eddie. De fato, como algumas críticas apontam, os trejeitos exagerados e a emoção confusa e milimetricamente ensaiada para too-much-drama dificulta uma empatia com a personagem (eu ainda não sei se a Lili Elbe apenas tinha inadequeção ao sexo biológico ou se tinha distúrbio psicológico sério, tamanho era o exagero do Eddie). Mas, olha, eu gostei do filme. Só tira esse singular no título, porque As Garotas Dinamarquesas cai melhor uma vez que a execução não está de acordo com o argumento.
Selena
3.5 269 Assista AgoraPrimeiro vamos ao que salta aos olhos: a incrível semelhança entre a atriz Jennifer Lopez e a cantora mexicana de tejano Selena Quintanilla é de deixar qualquer um embasbacado. Talvez a escolha mais coerente que já vi para interpretação em uma cinebiografia. Falando em interpretação, JLo é uma grata surpresa, nos entregando uma Selena tão vívida, tão apaixonada pela vida e pela carreira, uma jovem igualmente linda e talentosa. E com um fim tão trágico. Embora esbarre em algumas falhas, principalmente nas cenas finais, o longa tem um saldo positivo ao trazer às telas a trajetória do maior expoente da música latina ao mundo.
Jogos Vorazes: A Esperança - O Final
3.6 1,9K Assista AgoraEu espero que façam um filme spin-off que retrate os jogos em que o Haymitch ganhou. Me recuso a aceitar que a saga tenha terminado com essas duas partes medíocres.
Promessas de um Novo Mundo
4.6 72Emocionante. Eu poderia ver e rever, e ainda assim me sensibilizar com as crianças que vivem em meio à esse conflito horrendo.