Eu demorei a entender o que os Coen estavam tentando dizer (que, para cada Bob Dylan, existem milhares de Llewyn Davis, como já falaram abaixo). Talvez porque eles dizem isso subvertendo magistralmente os clichês desse tipo de filme.
A cada momento de possível virada na trama - e são muitos, ela simplesmente não acontece. Ou seja, não é que Llewyn não teve oportunidades de ser um artista de sucesso ou ao menos de ser uma pessoa melhor; ou ele é rejeitado, ou deixa de fazer uma boa ação. O mundo não é legal, e Llewyn também não é uma pessoa muito legal, porque é assim que as coisas são na realidade. Só porque tu te esforça não vai dar tudo certo na tua vida.
Quase um The Room no espaço. Valeu pra saber de onde que a galera do Tremors pegou a ideia - e só. Que roubada essa em que o Lynch se meteu! Roteiro e direção do homem, quero explicações. Ao menos ele reabilitou muitos dos atores em Twin Peaks.
Uma vez que aceitemos o fato de que a perspectiva filosófica de onde parte o discurso de Terrence Malick é sobretudo cristã e por vezes muito maniqueísta ou romanceada, podemos nos deparar aqui com uma grandiosa realização cinematográfica. Um pouco menos profunda do que eu imaginava, mas aquele deleite audiovisual singular que sempre esperamos que o diretor entregue está aí novamente, desde os primeiros minutos.
É mais um filme pesado de suspense do que de terror. Não me provocou medo ou susto em nenhum momento, e sim uma sensação de angústia e ansiedade (digo isso para direcionar as expectativas de quem vai assistir). O roteiro é muito bem construído, consegue deixar a questão central do filme em aberto até o último momento. A atuação de Mia Farrow é visceral.
Uma abordagem original e bastante adequada para o tema em questão (méritos, em primeiro lugar, para o livro, de onde saiu a história). Aliás, a sátira parece ser a maneira mais apropriada de abordar modelos de pensamento e de sociedade como os do nazismo.
A abordagem escolhida para tratar desse fenômeno bastante peculiar foi a ideal, no meu entendimento. Embora subentenda-se que a visão dele não é favorável, em nenhum momento o diretor chega a bater o martelo sobre a realidade de Toritama. Se, por um lado, o trabalho é repetitivo, mal remunerado e praticamente ininterrupto, por outro lado é uma fonte de renda segura que traz o sustento para toda aquela população, sem desgastá-los tanto fisicamente, se compararmos com outras possíveis atividades. Como toda essa gente estaria sobrevivendo no agreste pernambucano sem o jeans? Claro que é uma vida longe do ideal, mas também não é o pior dos cenários, tendo em vista outras realidades no Brasil e no mundo. Aliás, infelizmente, o mundo "ideal" que a sociedade de mercado tem a nos oferecer é bem próximo desse de Toritama, com sua jornada de trabalho enfadonha, repetitiva e sem significado, mas que garante uma renda básica de sobrevivência. Os sonhadores, idealistas, que podem se dar ao luxo de "fazer o que amam", de buscar um significado para a vida, enfim, de abstrair, são a minoria da minoria, e parecem não entender que, para nossa sociedade funcionar, é preciso que existam inúmeras Toritamas sustentando nossos pilares, legiões costurando jeans, cortando cana, carregando saco de cimento, entre outras coisas. Também não acho esse o melhor dos mundos, mas existe uma alternativa viável no momento?
Sigo com a minha teoria de que o cinema de entretenimento morreu ali pelos anos 90. Tudo nesse filme é digno de reverência: roteiro, fotografia, montagem, trilha sonora, efeitos visuais, direção de arte. O registro de um lugar e de uma época, ainda com espaço para uma crítica social, mesmo que breve. Warriors tem personalidade, criatividade, estética própria, assinatura. Hoje, nessa nossa era de remakes e reboots, filmes assim são exceção - naqueles anos, pareciam ser a regra.
Para além do fato (aqui novamente confirmado) de que uma adaptação cinematográfica sempre fica bastante aquém do livro em que é baseada, achei muito interessante a abordagem estética do filme. A narrativa, como acontece quase sempre, perdeu muito em complexidade e profundidade. Como assisti o filme após ler o livro, resta saber se aquele se sustentaria sozinho.
Filmaço! Consegue transmitir como poucas obras o espírito de uma época, no caso, os anos seguintes à integração da Alemanha (que, na verdade, foi mais uma anexação pelo lado ocidental do que uma integração). A desilusão e a falta de rumo da geração que se viu atirada de uma hora para outra no mundo da competição e da "liberdade", e que vê com saudosismo e idealização os passados nazista e comunista de seu país, períodos de supostas segurança, estabilidade e certezas. Cheguei até aqui pelo podcast de história Fronteiras Invisíveis do Futebol, que recomendo fortemente para quem quiser saber mais sobre a DDR (há um episódio específico tratando do tema).
Não sei, o filme não me pegou. Tecnicamente é brilhante, mas não consegui captar o propósito da narrativa, que à primeira vista parece requentada, algo que já vimos ser trabalhado em outras obras. Vi que muitos aqui falaram que há muitas metáforas, subtextos, representações mitológicas, enfim. Sinceramente, acredito que um filme deva funcionar por si, sem que haja a necessidade de termos lido ou visto outras obras para compreendê-lo totalmente. Porque, até então, para mim parece apenas
a história de duas pessoas que enlouqueceram devido ao isolamento (claro, existe a questão do abuso de autoridade do velho experiente em cima do novato...). E, sendo esse o propósito, não foi uma grandiosa ou inédita realização cinematográfica.
Essa história não me proporcionou a catarse que experimentei com A Bruxa, por exemplo. Talvez porque a mitologia, a moral e as relações de família presentes na Bruxa estejam mais próximas da realidade da maioria de nós, criados como cristãos.
sobre valorizarmos o que temos em vez de dedicarmos a vida na busca de algum devaneio,
é um tema batido, e é abordado de maneira rasa e óbvia, repleta de clichês e frases-feitas. Brad Pitt está aqui gratuitamente, assim como os demais. Não sei como atores desse calibre embarcam em canoas furadas como essa. Lamentável.
O filme se revelou bem mais acessível e simplório do que eu imaginava. Há muito de entretenimento aqui, situações e comportamentos exagerados, falta de realismo. Mas nada disso é demérito, apenas coloca o filme numa categoria diferente da que imaginei. Isso pode, inclusive, atrair mais público, o que é positivo dada a discussão levantada. A tão difamada crítica social, no meu entendimento, pareceu coroar a narrativa pitoresca - só mais para o final ela se revela com clareza e intensidade. Não diria que o propósito do filme é nos fazer sentir ódio dos ricos; na verdade, em mim gerou mais pena da alienação em que vivem (claro, como falei, há um certo exagero também nessa sua "ingenuidade"). A obra parece buscar revelar, isso sim, a desigualdade brutal existente inclusive em países ditos desenvolvidos e o que ela pode acarretar na vida das pessoas (sejam pobres ou ricas), ainda que para isso o diretor/roteirista se utilize de recursos narrativos não muito realistas.
A nostalgia parece ter levado o protagonista a idealizar sua terra natal. Chegando lá, entretanto, esbarrou com o mundo real, ainda e sempre com seus vícios e suas virtudes, nas pessoas e nele mesmo.
Belo trabalho de roteiro. A produção simples não me incomodou.
Extremamente desapontado. Fazia muito tempo que não me arrependia de ter assistido a um filme, não entendo o porquê de tamanha repercussão. A execução tem bastante qualidade, é claro, percebe-se o cuidado do diretor com a fotografia e a montagem, mas o roteiro é absolutamente desinteressante. Por concentrar-se apenas na superficialidade da investigação policial/jornalística, na busca por pistas, nos encontros e desencontros, o filme parece que não tem alma. Há apenas uma casca enfadonha com quase três horas de duração. Não há qualquer aprofundamento aqui, seja na brutalidade da violência, seja nas questões psicológicas ou sociais envolvendo a criminalidade, que são coisas que se espera desse tipo de filme. Os personagens, absolutamente frios, parecem compensar a falta de emoção com aquela verborragia tediosa e clichê das redações jornalísticas e dos departamentos de polícia. Sem qualquer demonstração de empatia ou abalo perante os crimes, eles estão apenas preocupados em encaixar as peças do quebra-cabeça que, aliás, é resolvido com bastante antecipação, restando apenas a comprovação das descobertas. Esse próprio mistério que o assassino faz em torno da sua identidade é raso e desinteressante. Enfim, o filme não entrega nem suspense, nem terror, nem aprofundamento psicossocial. Ainda bem que David Fincher vem compensando tudo isso em Mindhunter.
Praticamente um Telecurso 2000 sobre a história da perseguição às bruxas, realizado no inacreditável ano de 1922. Surpreendentes os efeitos visuais, a montagem, a fotografia e a direção de arte dessa espécie de documentário. A direção de arte, sobretudo, supera em muito a de várias megaproduções contemporâneas que tentam reconstruir a mesma época. A narrativa, é claro, ficou bastante datada, mas é interessante ver aqui o começo da sedimentação de um pensamento científico na sociedade, ao menos entre aqueles que produziram o filme. A resolução de imagem da versão restaurada pela Criterion Collection também me deixou de queixo caído, é a obra do cinema mudo filmada com a maior competência dentre as que pude assistir.
O argumento e seu desenvolvimento são ótimos. Talvez o filme não tenha acertado no tom. Me pareceu muito leve, talvez pela produção relativamente simples, com atuações não muito convincentes (começando pelo policial), alguns cortes e planos estranhos, revelando certa precariedade técnica. A realização não fica à altura do peso e da qualidade do roteiro, essa foi a minha impressão. Salvam-se a direção de arte e a trilha musical. Christopher Lee, é claro, está incrível. PS: é curioso que não me identifiquei nem com a mentalidade do policial, nem com a dos ilhéus. Talvez por isso a obra não tenha me impactado tanto.
A Estrada 47
3.3 157 Assista AgoraRoteiro bem fraco e raso. É uma pena, já que a produção em si ficou bastante caprichada.
Inside Llewyn Davis - Balada de um Homem Comum
3.8 529 Assista AgoraEu demorei a entender o que os Coen estavam tentando dizer (que, para cada Bob Dylan, existem milhares de Llewyn Davis, como já falaram abaixo). Talvez porque eles dizem isso subvertendo magistralmente os clichês desse tipo de filme.
A cada momento de possível virada na trama - e são muitos, ela simplesmente não acontece. Ou seja, não é que Llewyn não teve oportunidades de ser um artista de sucesso ou ao menos de ser uma pessoa melhor; ou ele é rejeitado, ou deixa de fazer uma boa ação. O mundo não é legal, e Llewyn também não é uma pessoa muito legal, porque é assim que as coisas são na realidade. Só porque tu te esforça não vai dar tudo certo na tua vida.
100 Anos: O Filme que Você Nunca Verá
3.4 31Que sensação ruim saber da existência de algo assim hahahaha
Duna
2.9 412 Assista AgoraQuase um The Room no espaço. Valeu pra saber de onde que a galera do Tremors pegou a ideia - e só. Que roubada essa em que o Lynch se meteu! Roteiro e direção do homem, quero explicações. Ao menos ele reabilitou muitos dos atores em Twin Peaks.
Uma Vida Oculta
3.9 154Uma vez que aceitemos o fato de que a perspectiva filosófica de onde parte o discurso de Terrence Malick é sobretudo cristã e por vezes muito maniqueísta ou romanceada, podemos nos deparar aqui com uma grandiosa realização cinematográfica. Um pouco menos profunda do que eu imaginava, mas aquele deleite audiovisual singular que sempre esperamos que o diretor entregue está aí novamente, desde os primeiros minutos.
Donnie Darko
4.2 3,8K Assista AgoraNão descartem essa obra por causa do fã-clube muitas vezes irritante. É um excelente filme.
Drive
3.9 3,5K Assista AgoraAlguma inconsistência no roteiro, mas uma ambientação sem igual.
O Bebê de Rosemary
3.9 1,9K Assista AgoraÉ mais um filme pesado de suspense do que de terror. Não me provocou medo ou susto em nenhum momento, e sim uma sensação de angústia e ansiedade (digo isso para direcionar as expectativas de quem vai assistir). O roteiro é muito bem construído, consegue deixar a questão central do filme em aberto até o último momento. A atuação de Mia Farrow é visceral.
Indústria Americana
3.6 168Pra quem ainda tinha dúvidas de que o que se passa na China é tudo menos marxismo, aí está.
Jojo Rabbit
4.2 1,6K Assista AgoraUma abordagem original e bastante adequada para o tema em questão (méritos, em primeiro lugar, para o livro, de onde saiu a história). Aliás, a sátira parece ser a maneira mais apropriada de abordar modelos de pensamento e de sociedade como os do nazismo.
Estou Me Guardando Para Quando o Carnaval Chegar
4.3 209A abordagem escolhida para tratar desse fenômeno bastante peculiar foi a ideal, no meu entendimento. Embora subentenda-se que a visão dele não é favorável, em nenhum momento o diretor chega a bater o martelo sobre a realidade de Toritama. Se, por um lado, o trabalho é repetitivo, mal remunerado e praticamente ininterrupto, por outro lado é uma fonte de renda segura que traz o sustento para toda aquela população, sem desgastá-los tanto fisicamente, se compararmos com outras possíveis atividades. Como toda essa gente estaria sobrevivendo no agreste pernambucano sem o jeans? Claro que é uma vida longe do ideal, mas também não é o pior dos cenários, tendo em vista outras realidades no Brasil e no mundo. Aliás, infelizmente, o mundo "ideal" que a sociedade de mercado tem a nos oferecer é bem próximo desse de Toritama, com sua jornada de trabalho enfadonha, repetitiva e sem significado, mas que garante uma renda básica de sobrevivência. Os sonhadores, idealistas, que podem se dar ao luxo de "fazer o que amam", de buscar um significado para a vida, enfim, de abstrair, são a minoria da minoria, e parecem não entender que, para nossa sociedade funcionar, é preciso que existam inúmeras Toritamas sustentando nossos pilares, legiões costurando jeans, cortando cana, carregando saco de cimento, entre outras coisas. Também não acho esse o melhor dos mundos, mas existe uma alternativa viável no momento?
Os Selvagens da Noite
4.0 597 Assista AgoraSigo com a minha teoria de que o cinema de entretenimento morreu ali pelos anos 90. Tudo nesse filme é digno de reverência: roteiro, fotografia, montagem, trilha sonora, efeitos visuais, direção de arte. O registro de um lugar e de uma época, ainda com espaço para uma crítica social, mesmo que breve. Warriors tem personalidade, criatividade, estética própria, assinatura. Hoje, nessa nossa era de remakes e reboots, filmes assim são exceção - naqueles anos, pareciam ser a regra.
O Grande Gatsby
3.9 2,7K Assista AgoraPara além do fato (aqui novamente confirmado) de que uma adaptação cinematográfica sempre fica bastante aquém do livro em que é baseada, achei muito interessante a abordagem estética do filme. A narrativa, como acontece quase sempre, perdeu muito em complexidade e profundidade. Como assisti o filme após ler o livro, resta saber se aquele se sustentaria sozinho.
Nós Somos Jovens. Nós Somos Fortes.
3.7 19Filmaço! Consegue transmitir como poucas obras o espírito de uma época, no caso, os anos seguintes à integração da Alemanha (que, na verdade, foi mais uma anexação pelo lado ocidental do que uma integração). A desilusão e a falta de rumo da geração que se viu atirada de uma hora para outra no mundo da competição e da "liberdade", e que vê com saudosismo e idealização os passados nazista e comunista de seu país, períodos de supostas segurança, estabilidade e certezas. Cheguei até aqui pelo podcast de história Fronteiras Invisíveis do Futebol, que recomendo fortemente para quem quiser saber mais sobre a DDR (há um episódio específico tratando do tema).
El Pepe, Uma Vida Suprema
3.8 42Documentário bem superficial, na verdade. Mas vale pelo sempre acurado e poético discurso do Mujica.
O Farol
3.8 1,6K Assista AgoraNão sei, o filme não me pegou. Tecnicamente é brilhante, mas não consegui captar o propósito da narrativa, que à primeira vista parece requentada, algo que já vimos ser trabalhado em outras obras. Vi que muitos aqui falaram que há muitas metáforas, subtextos, representações mitológicas, enfim. Sinceramente, acredito que um filme deva funcionar por si, sem que haja a necessidade de termos lido ou visto outras obras para compreendê-lo totalmente. Porque, até então, para mim parece apenas
a história de duas pessoas que enlouqueceram devido ao isolamento (claro, existe a questão do abuso de autoridade do velho experiente em cima do novato...). E, sendo esse o propósito, não foi uma grandiosa ou inédita realização cinematográfica.
Ad Astra: Rumo às Estrelas
3.3 850 Assista AgoraNada para ver aqui. Filme vazio. A pequena discussão que levanta,
sobre valorizarmos o que temos em vez de dedicarmos a vida na busca de algum devaneio,
Parasita
4.5 3,6K Assista AgoraO filme se revelou bem mais acessível e simplório do que eu imaginava. Há muito de entretenimento aqui, situações e comportamentos exagerados, falta de realismo. Mas nada disso é demérito, apenas coloca o filme numa categoria diferente da que imaginei. Isso pode, inclusive, atrair mais público, o que é positivo dada a discussão levantada. A tão difamada crítica social, no meu entendimento, pareceu coroar a narrativa pitoresca - só mais para o final ela se revela com clareza e intensidade. Não diria que o propósito do filme é nos fazer sentir ódio dos ricos; na verdade, em mim gerou mais pena da alienação em que vivem (claro, como falei, há um certo exagero também nessa sua "ingenuidade"). A obra parece buscar revelar, isso sim, a desigualdade brutal existente inclusive em países ditos desenvolvidos e o que ela pode acarretar na vida das pessoas (sejam pobres ou ricas), ainda que para isso o diretor/roteirista se utilize de recursos narrativos não muito realistas.
O Irlandês
4.0 1,5K Assista AgoraO crepúsculo de uma geração. Na tela e por trás da tela.
Só não dou cinco estrelas porque um cara como o Jimmy Hoffa saberia o que lhe aguardava.
O Irlandês
4.0 1,5K Assista AgoraJoe.
Pesci.
O Cidadão Ilustre
4.0 198 Assista AgoraA nostalgia parece ter levado o protagonista a idealizar sua terra natal. Chegando lá, entretanto, esbarrou com o mundo real, ainda e sempre com seus vícios e suas virtudes, nas pessoas e nele mesmo.
Zodíaco
3.7 1,3K Assista AgoraExtremamente desapontado. Fazia muito tempo que não me arrependia de ter assistido a um filme, não entendo o porquê de tamanha repercussão. A execução tem bastante qualidade, é claro, percebe-se o cuidado do diretor com a fotografia e a montagem, mas o roteiro é absolutamente desinteressante. Por concentrar-se apenas na superficialidade da investigação policial/jornalística, na busca por pistas, nos encontros e desencontros, o filme parece que não tem alma. Há apenas uma casca enfadonha com quase três horas de duração. Não há qualquer aprofundamento aqui, seja na brutalidade da violência, seja nas questões psicológicas ou sociais envolvendo a criminalidade, que são coisas que se espera desse tipo de filme. Os personagens, absolutamente frios, parecem compensar a falta de emoção com aquela verborragia tediosa e clichê das redações jornalísticas e dos departamentos de polícia. Sem qualquer demonstração de empatia ou abalo perante os crimes, eles estão apenas preocupados em encaixar as peças do quebra-cabeça que, aliás, é resolvido com bastante antecipação, restando apenas a comprovação das descobertas. Esse próprio mistério que o assassino faz em torno da sua identidade é raso e desinteressante. Enfim, o filme não entrega nem suspense, nem terror, nem aprofundamento psicossocial. Ainda bem que David Fincher vem compensando tudo isso em Mindhunter.
Haxan: A Feitiçaria Através dos Tempos
4.2 183 Assista AgoraPraticamente um Telecurso 2000 sobre a história da perseguição às bruxas, realizado no inacreditável ano de 1922. Surpreendentes os efeitos visuais, a montagem, a fotografia e a direção de arte dessa espécie de documentário. A direção de arte, sobretudo, supera em muito a de várias megaproduções contemporâneas que tentam reconstruir a mesma época. A narrativa, é claro, ficou bastante datada, mas é interessante ver aqui o começo da sedimentação de um pensamento científico na sociedade, ao menos entre aqueles que produziram o filme. A resolução de imagem da versão restaurada pela Criterion Collection também me deixou de queixo caído, é a obra do cinema mudo filmada com a maior competência dentre as que pude assistir.
O Homem de Palha
4.0 482 Assista AgoraO argumento e seu desenvolvimento são ótimos. Talvez o filme não tenha acertado no tom. Me pareceu muito leve, talvez pela produção relativamente simples, com atuações não muito convincentes (começando pelo policial), alguns cortes e planos estranhos, revelando certa precariedade técnica. A realização não fica à altura do peso e da qualidade do roteiro, essa foi a minha impressão. Salvam-se a direção de arte e a trilha musical. Christopher Lee, é claro, está incrível. PS: é curioso que não me identifiquei nem com a mentalidade do policial, nem com a dos ilhéus. Talvez por isso a obra não tenha me impactado tanto.