Esta obra marca a transição do cinema de Resnais, o qual passaria a ser constituídos de obras mais leves e cômicas, sempre enfocando no microcosmo burguês, e justamente por se tratar de um "filme de transição" na carreira do cineasta, é possível perceber a confusão de um autor que ainda não conseguiu definir o tipo de arte que deseja fazer. É repleto de experimentalismos e originalidade, mas a maioria dessas ideias, por mais interessantes que possam parecer, nunca são bem desenvolvidas, criando esse amontoado disforme de ideias e personagens que compõem a fita.
Uma epopeia que caminha entre um humor delicioso e surreal e um drama duramente realista. Emir Kusturica bebeu muito da fonte de Fellini aqui, e acaba entregando uma obra de grandiosidade e força comparáveis às dos filmes do mestre italiano. Imperdível!
Um filme tão pictórico, que acaba por esquecer dos cuidados com o roteiro e a condução. A narrativa funciona unicamente como forma de evocar o sentimento de saudosismo que a obra deseja alcançar, o que significa que a construção de personagens e conflitos é deixando em segundo plano, ou seja, é uma obra de personagens e diálogos artificiais, os quais por sua vez só poderiam resultar em atuações canhestras. É claro, que não são só defeitos, a fotografia(como já foi dito aqui inúmeras vezes) é tão impressionante que acaba adquirindo um status de protagonista na trama, tornando esta homenagem do Oliveira à arte em uma pintura viva. A retomada de autores portugueses consagrados como Camilo Castelo Branco e José Régio de maneira direta também é uma bela forma que o cineasta encontra de instaurar sua atmosfera de romantismo nostálgico que permeia toda a obra.
A maneira como o Olivier Assayas experimenta com diversos elementos aparentemente desconexos, como o espiritismo e o mundo da moda, me fez enxergar o porquê deste ser um dos maiores cineastas desta geração. A capacidade que ele tem de surpreender o espectador, e ainda assim, entregar uma trama elegante e inteligente, é o que mais tem me fascinado em seu cinema, porque o que há de mais interessante na arte é quando o autor não nos dá aquilo que nós pensamos desejar, mas sim, exerce a sua provocação sob o público, e nos faz ver aquilo que realmente desejamos: o misterioso, o inusitado, o desconhecido.
É interessante perceber o quanto meu olhar ocidentalizado e "civilizado" influiu na minha percepção da obra e da vida desses indivíduos. Nos primeiros momentos, houve um estranhamento meu diante daquela cultura que parece ainda tão distante, mas é justamente esta a função de Flaherty, fazer com que através desta experiência, possamos nos dar conta de nossa visão etnocêntrica, tornando "Nanook, o Esquimó" muito mais do que uma simples fita sobre o triunfo do homem na natureza. O que se tem aqui é um verdadeiro exercício de alteridade.
Uma desconstrução dos mitos históricos que há muito habitam o nosso inconsciente. Sobretudo, o mito do homem europeu como um herói católico, valente e virtuoso. O que se encontra em A Rainha Margot é um retrato do ser humano em sua pior forma, sem idealizações, sem falsos moralismos. Curioso notar que este é um filme que fala muito não apenas sobre este momento histórico, como também sobre os dias de hoje. Pessoas ainda matam em nome de suas religiões, as quais por sua vez, possuem motivações muito mais políticas do que espirituais. Muito pouco mudou, o homem, sobretudo aquele que possui poder, continua igualmente vão, covarde e animalesco, sendo que as vestes e joias ostentadas pela nobreza servem tão somente para tentar esconder a podridão e degeneração das almas.
Desde Bergman, eu não via o tema ser exposto com tamanha lucidez e maturidade como acontece aqui. É daqueles filmes em que a realidade se faz presente de tal maneira que parece até que os elementos dramáticos são deixados em segundo plano, mas não, o que se vê aqui é o relato de alguém que sabe como é uma separação e quão doloroso esta pode ser. O roteiro de Christian Vincent, interpretado de maneira irrepreensível pelo casal de protagonistas, possui uma veracidade rara que nos coloca no lugar dos personagens mesmo nos momentos mais banais. Tudo aqui parece assustadoramente real, e é como uma catarse para o espírito de alguém que passou pelo processo retratado.
É sem sombra de dúvidas, uma obra corajosa, que enfrenta e debocha dos estereótipos norte-americanos, criticando desde os conservadores e religiosos até os grupos feministas. O resultado é uma comédia ácida que flerta com o humor negro por diversas vezes, mas nunca cai na estupidez ou na gratuidade. E Laura Dern, como sempre, não decepciona, e entrega um desempenho cômico tão espetacular que fica difícil imaginar como seria esta fita sem ela.
É impressionante a maneira como Sean Baker une universos tão antagônicos em uma trama, e faz disso uma experiência imensamente prazerosa para o espectador. Foi assim em Tangerine, e não poderia ser diferente aqui em Starlet, uma obra original, audaciosa e incrivelmente deliciosa que retrata a improvável relação entre uma idosa frequentadora de bingos e uma jovem atriz de filmes eróticos.
Um dos mais belos filmes sobre o fazer poético já realizados, Paterson é a prova de que alguns autores nunca envelhecem, mesmo quando se encontram dentro de um círculo cinematográfico predatório e cada vez mais dominado pela saturação da imagem e recursos narrativos, como acontece dentro da indústria norte-americana. Jim Jarmusch cresceu dentro da cena indie estadunidense, e desde muito cedo mostrou um olhar excepcional para o cinema, extremamente autêntico e sensível, indo na contramão de tudo aquilo que se vê, em excesso, no cinema hollywoodiano. Paterson não é uma exceção dentro de sua obra, alias, diria até que é um de seus feitos mais notáveis, e para mim, o "vencedor moral" da Palma de Ouro do último Festival de Cannes.
Um marco para a sua época, "Primo, Prima" é um daqueles filmes de grande sucesso que hoje são pouquíssimo lembrados. Assistindo a ele com um olhar contemporâneo, se percebe que muitos dos estereótipos que se tem da sociedade francesa nos dias de hoje, são bem representado aqui, através do gênero cinematográfico que atualmente é conhecido pelos norte-americanos como french sex comedy. É difícil negar o charme que a película ainda preserva, por mais batida que a narrativa possar soar. O detalhe é que esta crônica sobre infidelidade é conduza com charme e irreverência, os quais se concentram, sobretudo, nas duas personagens femininas centrais, interpretadas de maneiras tão opostas por Marie-Christine Barrault e Marie-France Pisier, sendo a primeira uma mulher traída que embarca numa jornada de autodescoberta, e a segunda, dentro do arquétipo de grã-fina neurótica e histriônica.
É incrível a maneira como o Nelson Pereira dos Santos faz uma retomada de documentos históricos da época para contar esta história, utilizando-se de uma mise en scène de cuidadosa reconstituição pictórica da época. É preciso lembrar que, antes de tudo, Como Era Gostoso o Meu Francês é um relato sobre os nativos de nosso território através dos olhos do homem europeu, revelando ao mesmo tempo, o seu deslumbramento e preconceito frente à esta cultura estranha.
Eu discordo de quem condena a maneira como o Coutinho conduz as entrevistas em seus filmes. Penso que o seu olhar para os indivíduos apresentados, não é socialmente fetichista, mas simplesmente a visão de um contador de histórias nato. É óbvio que ele procura histórias, sentimentos para serem filmados, ele quer capturar o que há de mais pungente em cada entrevistado, criar um verdadeiro painel humano. Por isso mesmo que eu digo que cada filme do Coutinho é, não somente uma aula de roteiro e direção, mas verdadeiros estudos antropológicos, que conseguem apreender a beleza dos personagens desconhecidos do cotidiano. Cada obra sua é um convite para uma viagem por um universo fascinante e ignorado, em algum canto do Brasil.
Por mais que soe inegavelmente como um projeto de vaidade da família Salgado(afinal, o filme é co-dirigido por um membro da família), o resultado é absolutamente louvável, oferece um insight maravilhoso para a vida e obra deste artista, conseguindo dialogar muito bem com a poeticidade dos trabalhos de Sebastião Salgado. O fato de ser um relato intimista faz que o espectador entenda a relação de amor e ódio do fotógrafo com a humanidade, buscando no gênesis, e na natureza, uma resposta para as dores que afligem o homem
Da Nuvem à Resistência funciona como uma grande e digníssima homenagem ao escritor italiano Cesare Pavese, uma vez que une em um único longa, a transposição fílmica de duas obras do autor que não possuem qualquer tipo de ligação.
Por mais que o tom contestador e mais narrativo de "A Lua e as Fogueiras" seja cativante, nada supera a primeira parte do longa, que traz uma versão reduzida de "Diálogos com Leucó", magnus opus de Pavese. Cada diálogo é não somente um deleite para o espectador aberto às suas reflexões filosóficas, como também um atestado da genialidade deste intelectual italiano pouco conhecido no Brasil.
Se não fosse o fato de trabalhar com atores nativos da ilha citada no título, falado em seu idioma nativo e trazer uma história real deste povo, Tanna talvez nem tivesse saído do papel, de tão convencional que é sua história. O grande problema é os realizadores acharem que a abordagem naturalista do cotidiano de uma aldeia indígena que ainda vive longe da civilização na contemporaneidade é o suficiente para ganhar o público, no entanto, ao menos comigo, a tática não funcionou. O roteiro é tão medíocre que acaba prejudicando com toda a atmosfera documental criada pela direção, e o resultado soa como uma versão mais fraca, e extremamente tardia, de "Tabu", último filme de F.W Murnau.
Soberbo em todos os sentidos, "Non, ou a Vã Glória de Mandar" é um dos mais impressionantes e subestimados feitos do sempre genial Manoel de Oliveira. Seu roteiro audacioso e perspicaz joga luz sobre a história de Portugal, criando uma espécie de antítese para a epopeia camoniana. Aqui não há a glória do povo lusitano ou heróis sendo guiados por deuses do Olimpo, mas sim, homens incertos de sua missão na guerra, e inquietos diante dos caminhos misteriosos traçados por Deus para o futuro da nação portuguesa.
Se a direção de João Batista de Andrade aponta para um grande filme, imbuído numa estética marginal extremamente condizente com o período em questão, o roteiro de Lauro César Muniz se revela um verdadeiro pastiche do que há de mais capenga entre os thriller eróticos das décadas de 70 e 80. É uma pena, pois o diretor é talentoso e claramente politizado, no entanto, tem suas boas intenções podadas pelas escolhas de gosto duvidoso do roteirista.
A juventude taiwanesa dos anos 50 busca refúgio da situação política do país no sonho americano. Um Dia Quente de Verão mais do que um registro histórico, é uma verdadeira tese antropológica de toda uma geração, filmado de maneira impecável por um dos maiores cineastas chineses de todos os tempos, Edward Yang.
Um verdadeiro delírio de obsessão romântica do cineasta, em uma de suas obras mais belas e subjetivas, um de seus maiores e mais significativos poemas visuais.
Um dos primeiros trabalhos de narrativos de Schroeter, Der Bomberpilot já possui muitas das características que eternizaram a obra de um dos mais geniais cineastas alemães de todos os tempos, a mise en scène repleta de tableaux vivants, a iconoclastia como metáfora, a caracterização propositalmente artificial e quase fantasmagórica das atrizes, entre outras. Tudo isto torna o cinema de Werner Schroeter único e de uma rara autenticidade, do tipo que não se vê muito nos dias de hoje.
O motim da trama pode ser a festa de casamento mencionada no título, mas não se engane, The Catered Affair é muito mais do que isso, e é através dessa problemática inicial que disseca as relações humanas dentro de uma típica família classe média. A maneira pontual como cada um dos membros da família é retratado, revela a mente sensível e à frente de seu tempo que o escritor Gore Vidal possuía,o qual com o auxílio da direção habilidosa de Richard Brooks, evita ao máximo o sentimentalismo forçado e barato, criando assim um drama sobre o cotidiano, nos moldes do cinema de Yasujiro Ozu. As atuações de todo elenco condiz com a proposta de um cinema menos teatral, e mais voltado para a representação da realidade de maneira mais sóbria. Bette Davis desaparece na pele de uma matriarca repleta de ressentimentos, Ernest Borgnine representa com precisão assustadora o pai infeliz e renegado, enquanto que Debbie Reynolds surpreende em um desempenho dramático elegante e convincente.
O excesso de artificialidade na condução da trama e direção de atores, deixa claro que Cruel Desengano é um filme que não sobreviveu ao teste do tempo. O roteiro por si só, não ajuda, é uma sucessão de epifanias infantis da irritante personagem de Julie Harris(que interpreta uma garota de 12 anos, mesmo já tendo quase 30, na época da filmagem). No entanto, a experiência é válida por conta do desempenho arrebatador de Ethel Waters, uma atriz extremamente subestimada(assim como muitas em sua época, simplesmente pelo fato de serem negras). Ela é a única que consegue transmitir com eficiência a sensação de melancolia e abandono que o filme tanto busca passar.
Depois de conferir um dos filmes mais comentados do ano, acho que finalmente entendi o porquê de tamanho frisson. Tudo em Toni Erdmann foge do padrão, daquilo que se espera dele, é um projeto movido pelo inusitado, e talvez por isto mesmo, seja repleto de irregularidades, algo que talvez pudesse ser diferente se tivesse sido melhor lapidado na sala de edição(apesar de Maren Ade ter trabalhado um ano em seu processo de montagem). Há momentos absolutamente brilhantes, antológicos, hilários e de uma rara originalidade, mas é inegável que existem momentos ali sem importância ou razão de ser, criando uma "barriga" na trama e prejudicando a força dos bons momentos da película. Mesmo com alguns erros de percurso, esta nova incursão de Maren Ade pela comédia é um trabalho de um frescor e singularidade invejáveis. Ela consegue fazer rir e emocionar com uma dupla de personagens marcantes interpretados de maneira irretocável por Peter Simonischek e Sandra Hüller. O humor do filme consegue explorar o ridículo de cada um deles em diversas situações constrangedoras sem, no entanto, soar bobo ou infantil.
A Vida É um Romance
3.4 18Esta obra marca a transição do cinema de Resnais, o qual passaria a ser constituídos de obras mais leves e cômicas, sempre enfocando no microcosmo burguês, e justamente por se tratar de um "filme de transição" na carreira do cineasta, é possível perceber a confusão de um autor que ainda não conseguiu definir o tipo de arte que deseja fazer. É repleto de experimentalismos e originalidade, mas a maioria dessas ideias, por mais interessantes que possam parecer, nunca são bem desenvolvidas, criando esse amontoado disforme de ideias e personagens que compõem a fita.
Vida Cigana
4.3 36Uma epopeia que caminha entre um humor delicioso e surreal e um drama duramente realista.
Emir Kusturica bebeu muito da fonte de Fellini aqui, e acaba entregando uma obra de grandiosidade e força comparáveis às dos filmes do mestre italiano.
Imperdível!
O Estranho Caso de Angélica
3.4 40Um filme tão pictórico, que acaba por esquecer dos cuidados com o roteiro e a condução.
A narrativa funciona unicamente como forma de evocar o sentimento de saudosismo que a obra deseja alcançar, o que significa que a construção de personagens e conflitos é deixando em segundo plano, ou seja, é uma obra de personagens e diálogos artificiais, os quais por sua vez só poderiam resultar em atuações canhestras.
É claro, que não são só defeitos, a fotografia(como já foi dito aqui inúmeras vezes) é tão impressionante que acaba adquirindo um status de protagonista na trama, tornando esta homenagem do Oliveira à arte em uma pintura viva. A retomada de autores portugueses consagrados como Camilo Castelo Branco e José Régio de maneira direta também é uma bela forma que o cineasta encontra de instaurar sua atmosfera de romantismo nostálgico que permeia toda a obra.
Personal Shopper
3.1 384 Assista AgoraA maneira como o Olivier Assayas experimenta com diversos elementos aparentemente desconexos, como o espiritismo e o mundo da moda, me fez enxergar o porquê deste ser um dos maiores cineastas desta geração.
A capacidade que ele tem de surpreender o espectador, e ainda assim, entregar uma trama elegante e inteligente, é o que mais tem me fascinado em seu cinema, porque o que há de mais interessante na arte é quando o autor não nos dá aquilo que nós pensamos desejar, mas sim, exerce a sua provocação sob o público, e nos faz ver aquilo que realmente desejamos: o misterioso, o inusitado, o desconhecido.
Nanook, o Esquimó
3.8 81 Assista AgoraÉ interessante perceber o quanto meu olhar ocidentalizado e "civilizado" influiu na minha percepção da obra e da vida desses indivíduos. Nos primeiros momentos, houve um estranhamento meu diante daquela cultura que parece ainda tão distante, mas é justamente esta a função de Flaherty, fazer com que através desta experiência, possamos nos dar conta de nossa visão etnocêntrica, tornando "Nanook, o Esquimó" muito mais do que uma simples fita sobre o triunfo do homem na natureza. O que se tem aqui é um verdadeiro exercício de alteridade.
A Rainha Margot
3.9 110 Assista AgoraUma desconstrução dos mitos históricos que há muito habitam o nosso inconsciente. Sobretudo, o mito do homem europeu como um herói católico, valente e virtuoso. O que se encontra em A Rainha Margot é um retrato do ser humano em sua pior forma, sem idealizações, sem falsos moralismos.
Curioso notar que este é um filme que fala muito não apenas sobre este momento histórico, como também sobre os dias de hoje. Pessoas ainda matam em nome de suas religiões, as quais por sua vez, possuem motivações muito mais políticas do que espirituais. Muito pouco mudou, o homem, sobretudo aquele que possui poder, continua igualmente vão, covarde e animalesco, sendo que as vestes e joias ostentadas pela nobreza servem tão somente para tentar esconder a podridão e degeneração das almas.
A Separação
3.5 1 Assista AgoraDesde Bergman, eu não via o tema ser exposto com tamanha lucidez e maturidade como acontece aqui.
É daqueles filmes em que a realidade se faz presente de tal maneira que parece até que os elementos dramáticos são deixados em segundo plano, mas não, o que se vê aqui é o relato de alguém que sabe como é uma separação e quão doloroso esta pode ser.
O roteiro de Christian Vincent, interpretado de maneira irrepreensível pelo casal de protagonistas, possui uma veracidade rara que nos coloca no lugar dos personagens mesmo nos momentos mais banais. Tudo aqui parece assustadoramente real, e é como uma catarse para o espírito de alguém que passou pelo processo retratado.
Ruth em Questão
3.7 17É sem sombra de dúvidas, uma obra corajosa, que enfrenta e debocha dos estereótipos norte-americanos, criticando desde os conservadores e religiosos até os grupos feministas. O resultado é uma comédia ácida que flerta com o humor negro por diversas vezes, mas nunca cai na estupidez ou na gratuidade.
E Laura Dern, como sempre, não decepciona, e entrega um desempenho cômico tão espetacular que fica difícil imaginar como seria esta fita sem ela.
Uma Estranha Amizade
3.7 88É impressionante a maneira como Sean Baker une universos tão antagônicos em uma trama, e faz disso uma experiência imensamente prazerosa para o espectador. Foi assim em Tangerine, e não poderia ser diferente aqui em Starlet, uma obra original, audaciosa e incrivelmente deliciosa que retrata a improvável relação entre uma idosa frequentadora de bingos e uma jovem atriz de filmes eróticos.
Paterson
3.9 353 Assista AgoraUm dos mais belos filmes sobre o fazer poético já realizados, Paterson é a prova de que alguns autores nunca envelhecem, mesmo quando se encontram dentro de um círculo cinematográfico predatório e cada vez mais dominado pela saturação da imagem e recursos narrativos, como acontece dentro da indústria norte-americana.
Jim Jarmusch cresceu dentro da cena indie estadunidense, e desde muito cedo mostrou um olhar excepcional para o cinema, extremamente autêntico e sensível, indo na contramão de tudo aquilo que se vê, em excesso, no cinema hollywoodiano. Paterson não é uma exceção dentro de sua obra, alias, diria até que é um de seus feitos mais notáveis, e para mim, o "vencedor moral" da Palma de Ouro do último Festival de Cannes.
Primo, Prima
3.4 6Um marco para a sua época, "Primo, Prima" é um daqueles filmes de grande sucesso que hoje são pouquíssimo lembrados. Assistindo a ele com um olhar contemporâneo, se percebe que muitos dos estereótipos que se tem da sociedade francesa nos dias de hoje, são bem representado aqui, através do gênero cinematográfico que atualmente é conhecido pelos norte-americanos como french sex comedy.
É difícil negar o charme que a película ainda preserva, por mais batida que a narrativa possar soar. O detalhe é que esta crônica sobre infidelidade é conduza com charme e irreverência, os quais se concentram, sobretudo, nas duas personagens femininas centrais, interpretadas de maneiras tão opostas por Marie-Christine Barrault e Marie-France Pisier, sendo a primeira uma mulher traída que embarca numa jornada de autodescoberta, e a segunda, dentro do arquétipo de grã-fina neurótica e histriônica.
Como Era Gostoso o Meu Francês
3.6 51É incrível a maneira como o Nelson Pereira dos Santos faz uma retomada de documentos históricos da época para contar esta história, utilizando-se de uma mise en scène de cuidadosa reconstituição pictórica da época.
É preciso lembrar que, antes de tudo, Como Era Gostoso o Meu Francês é um relato sobre os nativos de nosso território através dos olhos do homem europeu, revelando ao mesmo tempo, o seu deslumbramento e preconceito frente à esta cultura estranha.
Babilônia 2000
4.3 36Eu discordo de quem condena a maneira como o Coutinho conduz as entrevistas em seus filmes. Penso que o seu olhar para os indivíduos apresentados, não é socialmente fetichista, mas simplesmente a visão de um contador de histórias nato. É óbvio que ele procura histórias, sentimentos para serem filmados, ele quer capturar o que há de mais pungente em cada entrevistado, criar um verdadeiro painel humano. Por isso mesmo que eu digo que cada filme do Coutinho é, não somente uma aula de roteiro e direção, mas verdadeiros estudos antropológicos, que conseguem apreender a beleza dos personagens desconhecidos do cotidiano. Cada obra sua é um convite para uma viagem por um universo fascinante e ignorado, em algum canto do Brasil.
O Sal da Terra
4.6 450 Assista AgoraPor mais que soe inegavelmente como um projeto de vaidade da família Salgado(afinal, o filme é co-dirigido por um membro da família), o resultado é absolutamente louvável, oferece um insight maravilhoso para a vida e obra deste artista, conseguindo dialogar muito bem com a poeticidade dos trabalhos de Sebastião Salgado.
O fato de ser um relato intimista faz que o espectador entenda a relação de amor e ódio do fotógrafo com a humanidade, buscando no gênesis, e na natureza, uma resposta para as dores que afligem o homem
Da Nuvem À Resistência
3.7 3Da Nuvem à Resistência funciona como uma grande e digníssima homenagem ao escritor italiano Cesare Pavese, uma vez que une em um único longa, a transposição fílmica de duas obras do autor que não possuem qualquer tipo de ligação.
Por mais que o tom contestador e mais narrativo de "A Lua e as Fogueiras" seja cativante, nada supera a primeira parte do longa, que traz uma versão reduzida de "Diálogos com Leucó", magnus opus de Pavese. Cada diálogo é não somente um deleite para o espectador aberto às suas reflexões filosóficas, como também um atestado da genialidade deste intelectual italiano pouco conhecido no Brasil.
Tanna
3.3 73 Assista AgoraSe não fosse o fato de trabalhar com atores nativos da ilha citada no título, falado em seu idioma nativo e trazer uma história real deste povo, Tanna talvez nem tivesse saído do papel, de tão convencional que é sua história. O grande problema é os realizadores acharem que a abordagem naturalista do cotidiano de uma aldeia indígena que ainda vive longe da civilização na contemporaneidade é o suficiente para ganhar o público, no entanto, ao menos comigo, a tática não funcionou. O roteiro é tão medíocre que acaba prejudicando com toda a atmosfera documental criada pela direção, e o resultado soa como uma versão mais fraca, e extremamente tardia, de "Tabu", último filme de F.W Murnau.
Non, ou a Vã Glória de Mandar
4.0 8Soberbo em todos os sentidos, "Non, ou a Vã Glória de Mandar" é um dos mais impressionantes e subestimados feitos do sempre genial Manoel de Oliveira. Seu roteiro audacioso e perspicaz joga luz sobre a história de Portugal, criando uma espécie de antítese para a epopeia camoniana. Aqui não há a glória do povo lusitano ou heróis sendo guiados por deuses do Olimpo, mas sim, homens incertos de sua missão na guerra, e inquietos diante dos caminhos misteriosos traçados por Deus para o futuro da nação portuguesa.
A Próxima Vítima
3.7 33Se a direção de João Batista de Andrade aponta para um grande filme, imbuído numa estética marginal extremamente condizente com o período em questão, o roteiro de Lauro César Muniz se revela um verdadeiro pastiche do que há de mais capenga entre os thriller eróticos das décadas de 70 e 80. É uma pena, pois o diretor é talentoso e claramente politizado, no entanto, tem suas boas intenções podadas pelas escolhas de gosto duvidoso do roteirista.
Um Dia Quente de Verão
4.3 47A juventude taiwanesa dos anos 50 busca refúgio da situação política do país no sonho americano. Um Dia Quente de Verão mais do que um registro histórico, é uma verdadeira tese antropológica de toda uma geração, filmado de maneira impecável por um dos maiores cineastas chineses de todos os tempos, Edward Yang.
O Rei Das Rosas
4.1 9Um verdadeiro delírio de obsessão romântica do cineasta, em uma de suas obras mais belas e subjetivas, um de seus maiores e mais significativos poemas visuais.
Piloto de Bombardeio
4.0 3Um dos primeiros trabalhos de narrativos de Schroeter, Der Bomberpilot já possui muitas das características que eternizaram a obra de um dos mais geniais cineastas alemães de todos os tempos, a mise en scène repleta de tableaux vivants, a iconoclastia como metáfora, a caracterização propositalmente artificial e quase fantasmagórica das atrizes, entre outras. Tudo isto torna o cinema de Werner Schroeter único e de uma rara autenticidade, do tipo que não se vê muito nos dias de hoje.
A Festa de Casamento
3.9 23 Assista AgoraO motim da trama pode ser a festa de casamento mencionada no título, mas não se engane, The Catered Affair é muito mais do que isso, e é através dessa problemática inicial que disseca as relações humanas dentro de uma típica família classe média.
A maneira pontual como cada um dos membros da família é retratado, revela a mente sensível e à frente de seu tempo que o escritor Gore Vidal possuía,o qual com o auxílio da direção habilidosa de Richard Brooks, evita ao máximo o sentimentalismo forçado e barato, criando assim um drama sobre o cotidiano, nos moldes do cinema de Yasujiro Ozu.
As atuações de todo elenco condiz com a proposta de um cinema menos teatral, e mais voltado para a representação da realidade de maneira mais sóbria. Bette Davis desaparece na pele de uma matriarca repleta de ressentimentos, Ernest Borgnine representa com precisão assustadora o pai infeliz e renegado, enquanto que Debbie Reynolds surpreende em um desempenho dramático elegante e convincente.
Cruel Desengano
3.7 4O excesso de artificialidade na condução da trama e direção de atores, deixa claro que Cruel Desengano é um filme que não sobreviveu ao teste do tempo. O roteiro por si só, não ajuda, é uma sucessão de epifanias infantis da irritante personagem de Julie Harris(que interpreta uma garota de 12 anos, mesmo já tendo quase 30, na época da filmagem). No entanto, a experiência é válida por conta do desempenho arrebatador de Ethel Waters, uma atriz extremamente subestimada(assim como muitas em sua época, simplesmente pelo fato de serem negras). Ela é a única que consegue transmitir com eficiência a sensação de melancolia e abandono que o filme tanto busca passar.
As Faces de Toni Erdmann
3.8 257 Assista AgoraDepois de conferir um dos filmes mais comentados do ano, acho que finalmente entendi o porquê de tamanho frisson. Tudo em Toni Erdmann foge do padrão, daquilo que se espera dele, é um projeto movido pelo inusitado, e talvez por isto mesmo, seja repleto de irregularidades, algo que talvez pudesse ser diferente se tivesse sido melhor lapidado na sala de edição(apesar de Maren Ade ter trabalhado um ano em seu processo de montagem). Há momentos absolutamente brilhantes, antológicos, hilários e de uma rara originalidade, mas é inegável que existem momentos ali sem importância ou razão de ser, criando uma "barriga" na trama e prejudicando a força dos bons momentos da película.
Mesmo com alguns erros de percurso, esta nova incursão de Maren Ade pela comédia é um trabalho de um frescor e singularidade invejáveis. Ela consegue fazer rir e emocionar com uma dupla de personagens marcantes interpretados de maneira irretocável por Peter Simonischek e Sandra Hüller. O humor do filme consegue explorar o ridículo de cada um deles em diversas situações constrangedoras sem, no entanto, soar bobo ou infantil.