Incrível como um filme de menos de 90 minutos me fez pegar no sono lá pro final. Maçante, fraco e desinteressante, com exceção das cenas com o pequeno Reilly Murphy, que foi de longe o que entregou a melhor atuação do filme. A cena no banheiro é uma referência a A Hora do Pesadelo que poderia ter sido melhor aproveitada. Os efeitos também não ajudaram. Enfim, um remake desnecessário - que veio com uma tradução nacional nada a ver como se fosse uma sequência do filme de 1978.
Um remake que se destaca pelas diferenças que tem em relação ao original, respeitando seu predecessor e trazendo elementos muito próprios. Enquanto no filme de Siegel as atuações e o processo de declínio da sanidade do protagonista são o que tornam o filme especialmente marcante, a versão de Kaufman investe numa atmosfera mais sombria durante toda a projeção, com uma direção e trilha sonora que levam a tensão ao ápice, além de ter grandes efeitos especiais e uma presença de body horror muito bem feita (a cena do cachorro é bizarra). Tem umas cenas meio soltas e em alguns momentos tudo acontece muito rápido, mas o resultado é muito gratificante, especialmente a cena final.
Esperava uma comédia besteirol e saí muito pensativo. Uma comédia dramática muito bem construída, que parte de uma premissa incomum para abordar problemas emocionais, negligência familiar, fobia social, traumas, autotransformação e responsabilidade comunitária, com um discurso psicológico muito maduro e levado a sério. Ryan Gosling está muito bem em seu papel, sabendo ser ao mesmo tempo estranho e adorável. É um filme divertido, mas principalmente sensível.
O comecinho é enjoado, mas a partir do momento que os garotos mudam de casa, o filme vai ficando com uma atmosfera bem tensa e misteriosa, que vai crescendo, crescendo, com cenas bem realizadas, até que... tudo desanda no fim. O final quebra totalmente com o clima construído durante todo o filme, algumas motivações ficam sem explicação, fica algo meio pastelão e ainda tem a adição de uma cena das amigas totalmente desnecessária. Uma pena, pensei que ia entregar um bom desfecho. Leelee Sobieski sempre maravilhosa.
É um filme Pixar padronizado, mas sem os diferenciais que destacam os filmes da produtora de todas as outras ou que tornam algumas de suas obras memoráveis. Bons visuais, boas mensagens, algumas belas cenas, mas soa tão requentado e pouco inspirado que não impacta muito. Divertidinho (a comédia com as águas choronas não funcionou) e bem intencionado, distrai bem para um fim de noite ou uma distração despretensiosa na pegada familiar, mas faltou mais coração, que é simplesmente o que torna tão único um filme da Pixar.
Até pra fazer filme ruim de propósito tem que saber filmar, e isso o Brendan Steere mostrou que sabe. Dá pra pegar muita referência de cinema da Nova Hollywood e giallo (sim!) e traços artísticos muito curiosos na direção desse trash que se assume como tal, não se leva a sério em momento nenhum e leva ao máximo do ridículo que pode as suas interações. Para uma semana estressante, foi um filme ótimo pra dar umas risadas das besteiradas. A batalha final é coisa de gênio.
Um desfile de ícones da cena punk britânica, uma trilha sonora que é puro deleite e uma estética iconoclasta dão um brilho especial a esse filme "pós-apocalíptico" (mas que era tão somente um retrato da Grã-Bretanha profundamente quebrada da época) que mostra, admira e crítica ferrenhamente o ideário dos jovens perdidos de uma Londres destruída. Nada aqui está a salvo da acidez de Jarman. Os personagens são todos desequilibrados e de algum modo abomináveis, mas também fascinantes. Tudo é sujo, violento e amoral. No fim das contas, era difícil ser mais punk que isso. A incursão elizabetana no futuro, pelo visto, a fez mudar algumas coisas em suas ações, pois sua sucessora não foi morta num assalto após o Jubileu de Prata e o punk, em vez de matar, foi morto - como bem disse o Crass. Belo encontro entre o clássico e o revolucionário.
Um retrato levemente satírico, teatral e histérico da política por trás da ação da Santa Inquisição e das hipocrisias aristocráticas travestidas de responsabilidade católica. A fotografia e a direção de arte fazem o filme assumir um patamar onírico memorável, e as cenas mais chocantes são realmente marcantes. Ken Russell brinca, exagera e moderniza, mas sabe fazê-lo com vigor, segurança e coragem, de forma que o resultado final é atemporal. Vanessa Redgrave e Oliver Reed estão fantásticos. Um filme polêmico e tenebroso, no melhor dos sentidos.
Particularmente, prefiro o que foi realizado em A Montanha Sagrada, pois funciona como o inverso do mostrado aqui: primeiro o choque com a crueza da realidade para depois a busca por autoconhecimento e iluminação pessoal. Aqui o caminho se inicia pela jornada individual(ista) mágica do forasteiro, que realiza sua jornada no deserto da alma e confronta as agruras e os desafios do processo - e de seus resultados - durante toda a projeção. É arte psicomágica do tipo que somente Jodorowsky tinha coragem e capacidade de realizar. O simbolismo esotérico, tarológico, bíblico e cabalístico é muito forte e constante aqui. A representação feminina é um tanto problemática, mas também cumpre seu papel dentro desse misticismo ocultista do qual Jodo parece participar. Além disso, as alegorias políticas inseridas na segunda metade, a crítica à hipocrisia da sociedade cristã e conservadora, é sempre muito pertinente. Enfim, pensei que ia entender muito menos do que acabei entendendo. É um filme-metáfora por excelência.
Toda monotonia, toda rotina, toda repetição esconde sentimentos reprimidos, incômodos e frustrações soterradas. Isso se faz muito presente, mas de forma muito sutil, no olhar estático da câmera de Chantal Akerman para o cotidiano de sua Jeanne Dielman, muito bem interpretada por Delphine Seyrig, numa atuação de poucas palavras e poucas expressões, mas que esconde questões muito profundas do ser mulher, do ser mãe e do ser esposa/viúva. A ausência de trilha sonora não diegética confere um tom mais íntimo ao filme, que se constrói de forma lenta, com cenas longas e simples, mas que, de alguma forma, mostram que algo ali está fermentando por finalmente explodir. A longa duração e o ritmo lento podem ser um desafio para aqueles não habituados, mas é uma experiência gratificante aos que gostam desse tipo de cinema, ainda mais pelo rico protagonismo feminino visto aqui.
Um belo conto de aventura, desbravamento, amizade, envelhecimento e exílio que tem a assinatura majestosa de um mestre do porte de Kurosawa. Tudo se encaixa muito bem, de forma que mesmo não sendo um dos meus gêneros favoritos, esse drama aventureiro e bucólico me fascinou, especialmente em seu ato final.
Um filme triste, tenso e desolador. Um drama de guerra que exala risco, ao mesmo tempo em que é profundamente emocional e que consegue fazer o espectador sentir o frio gélido do ambiente hostil, o medo dos inimigos e a tristeza e desamparo das vítimas. A fotografia em preto e branco, a trilha sonora e a direção impecável de Larisa Shepitko se juntam às maravilhosas atuações e ao texto pungente para entregar um dos filmes soviéticos mais memoráveis sobre o período sombrio da Segunda Guerra, no qual a culpa, a morte, o temor e o peso da consciência faziam parte do cotidiano daqueles que lutavam contra ou se dobravam à barbárie nazista.
A parceria Leone e Morricone não falha. Mesmo sendo um dos filmes menos ovacionado da parceria, o resultado é tão grandioso quanto o dos outros, com cenas memoráveis e um bom humor muito prazeroso. O filme também traz uma carga dramática bastante forte e o foco na Revolução Mexicana é o grande destaque da trama. O personagem de Rod Steiger é simplesmente cativante demais.
Mais divertido do que eu esperava, com ótimas tiradas e um humor referencial muito eficiente, além de ter algumas quebras da quarta parede bem inseridas. O filme perde um pouco do ritmo nas cenas com Will Ferrell e com Sasha e sua filha, mas o saldo final é bastante positivo e faz jus a todo o hype. Margot Robbie está mais deslumbrante que nunca (realmente impossível acreditar que aquela perfeição pode se sentir feia), mas em certos momentos ela não é tão protagonista - o que não é ruim, já que dá espaço à trama e às críticas (a grande maioria bem fajutas, já que o objetivo do filme é consumo e lucro mesmo). Em contrapartida, Ryan Gosling realmente rouba a cena, se entregando totalmente, dançando, cantando, passando vergonha e entregando os momentos mais hilários do filme. I'm Just Ken merece o Oscar, mas o mais provável é que seja o segundo de Billie Eilish, que mandou mais uma pedrada. De resto, trabalho e tanto de Greta Gerwig na direção, que abusa de referências fílmicas com muita propriedade e sabe como mesclar o cartunesco e surreal com o mundo real. Vai ter muita indicação ao Oscar de certeza.
Um Bergman mais político que nunca, com um alto orçamento em mãos e produção americana. O que se realiza é um drama político muito profundo, de muitas camadas e fortíssimo impacto. A parceria já comum com Liv Ullmann, como é de se esperar, resulta em mais uma grande performance, mas a presença de David Carradine impressiona pela ótima execução de seu personagem. A direção não é tão "selo Bergman de qualidade" quanto seus maiores clássicos, mas não há qualquer perda de qualidade, assim como no roteiro, que trabalha com questões muito humanas de isolamento, culpa e desalento, algo característico da obra do cineasta. Passeando por vários estilos, O Ovo da Serpente é um filme desolador que poderia ser facilmente utilizado em aulas de história sobre como é possível o surgimento e fortalecimento de ideologias extremistas, ecoando um atmosfera e representação (perfeitas) de uma Alemanha entre guerras já vista em clássicos do cinema alemão do período. Inesperadamente impactante.
Um dos dramas mais perfeitos que já vi. Sofrível, profundo, doloroso, intenso, sensível. Bergman provavelmente em sua melhor forma, acompanhado de uma despedida fascinante da gigante Ingrid Bergman e com uma atuação espetacular de Liv Ullmann, que para mim é uma das melhores, senão a melhor atuação feminina da história do cinema. Tudo é maravilhoso e as lágrimas rolaram em vários momentos com naturalidade, choque, surpresa ou dor. É um impacto absurdo que fica.
Talvez nenhuma outra produção retrate melhor a vida a dois que essa obra em seis atos impressionantes. A química entre Liv Ullmann e Erland Josephson é perfeita. O texto de Bergman é especialmente majestoso, e sua direção, com recursos limitados pelo orçamento televisivo, não sente esses entraves e consegue extrair o melhor possível de toda frase, toda cena, todo olhar. Incrível como essa história é tão moderna a ponto de ser adaptada para os dias de hoje com pouquíssimas mudanças e ser plenamente atual. Os segmentos Paula e Os Analfabetos, especialmente, são obras-primas.
Numa obra de perfeição técnica e estética, Bertolucci faz uma análise de como ditaduras fascistas se estabelecem e se mantém na sociedade, mostrando o tipo de indivíduo burguês que sublima traumas e culpas a ponto de se tornar um agente da brutalidade estatal, um conformista. Filme cheio de sutilezas e de barbárie escondida sob a beleza das imagens. À medida que avança, se torna mais e mais sufocante e angustiante. Um drama político gigantesco e indispensável.
Balagueró sabe manter o interesse preso pela resolução da história, à medida que mais e mais, até mais da metade do filme, vai colocando novas dúvidas e plantando caraminholas na cabeça do espectador, mas no fim ele ou não responde ou responde mal. A trama abre vários focos, dosa mal o tempo de tela de cada um e desenvolve muito pouco os mais interessantes. O terceiro ato é completamente atropelado, mas acaba sendo também o mais movimentado e violento, que acaba divertindo apesar dos pesares. Expósito exuberante e entregando uma atuação boa com o que tinha à disposição, assim como a pequena Inés Fernandéz. Dava pra ser um filmão, mas se perdeu todinho.
Ainda que não tenha o mesmo brilho que as outras grandes obras que tornaram Lanthimos reconhecido (amado ou odiado), tem o DNA do cineasta: a frieza, o ar mecânico das relações pessoais, o fator utilitário das interações, as ações robóticas de todo o elenco, é uma miscelânea de desconforto, incômodo e, acima de tudo, realidade. É um filme que tira o filtro social dos porquês que as pessoas sentem luto, e de que forma elas encontram uma válvula de escape para lidar com isso, com o vácuo deixado e com o próprio vazio da existência. Não tem grandes momentos escabrosos, mas o bizarro do cotidiano do mundo de Lanthimos é suficientemente desconfortante para que a experiência seja bastante marcante.
Procurando Nemo não tinha necessidade de uma sequência, mas esse filme conseguiu trazer algo diferenciado, voltado a Dory e mais uma vez um resgate às questões de família, perseverança e diferenças. A dinâmica entre os personagens é ótima, a bebê Dory é uma fofura só e o filme sabe ser engraçado e dramático de forma bem dosada. A cena pós-créditos foi muito inteligente, só para relembrar personagens marcantes do primeiro filme.
Tem personagens carismáticos e uma dose legal de violência, além de uma boa ambientação e atmosfera, mas é cheio de furos bem incômodos no roteiro e os efeitos visuais muitos vezes não funcionam, podendo ter sido realizados mais efeitos práticos. Além disso, o filme também acaba sendo longo demais, o que cansa um pouco, e é cheio de clichês de gênero, o que não chega a atrapalhar. Particularmente, gostei da retratação do Drácula unicamente de uma forma monstruosa, tirando o viés sedutor do vampiro e mostrando só seu lado demoníaco.
Incrível crescente de tensão, que culmina numa conclusão de tirar o fôlego. A construção do protagonista por Gene Hackman é perfeita, entregando um Harry misterioso, solitário e cheio de culpa, sobre o qual vamos conhecendo pouco a pouco no decorrer da narrativa lenta, mas muito bem desenvolvida. É impressionante como Coppola na década de 70 entregou simplesmente quatro obras-primas, e nesse aqui ele brinca com delírio e traz uma grande reviravolta no final. A ambientação e a trilha sonora dão um charme especial a tudo. Um dos grandes clássicos sobre solidão, culpa e responsabilidade pelas consequências de suas ações.
Provavelmente o filme mais esteticamente estonteante de Kubrick, com uma direção de arte, figurinos, penteados, maquiagens e fotografia sublimes, além de uma direção sempre esmerada que ganha destaque nas cenas mais tensas e agressivas. Porém, a longa duração, o ritmo que às vezes desgasta e o enredo sobre ascensão social na aristocracia europeia setecentista (que é algo que não sou muito fã) deixaram a experiência um tanto cansativa. A segunda parte é superior à primeira, mas temos os belos momentos das guerras e dos duelos nessa, além de que na parte final temos uns bons arranca-rabos, além da sequência mais triste do filme.
Os Invasores de Corpos: A Invasão Continua
3.0 83 Assista AgoraIncrível como um filme de menos de 90 minutos me fez pegar no sono lá pro final. Maçante, fraco e desinteressante, com exceção das cenas com o pequeno Reilly Murphy, que foi de longe o que entregou a melhor atuação do filme. A cena no banheiro é uma referência a A Hora do Pesadelo que poderia ter sido melhor aproveitada. Os efeitos também não ajudaram. Enfim, um remake desnecessário - que veio com uma tradução nacional nada a ver como se fosse uma sequência do filme de 1978.
Os Invasores de Corpos
3.7 192 Assista AgoraUm remake que se destaca pelas diferenças que tem em relação ao original, respeitando seu predecessor e trazendo elementos muito próprios. Enquanto no filme de Siegel as atuações e o processo de declínio da sanidade do protagonista são o que tornam o filme especialmente marcante, a versão de Kaufman investe numa atmosfera mais sombria durante toda a projeção, com uma direção e trilha sonora que levam a tensão ao ápice, além de ter grandes efeitos especiais e uma presença de body horror muito bem feita (a cena do cachorro é bizarra). Tem umas cenas meio soltas e em alguns momentos tudo acontece muito rápido, mas o resultado é muito gratificante, especialmente a cena final.
A Garota Ideal
3.8 1,2K Assista AgoraEsperava uma comédia besteirol e saí muito pensativo. Uma comédia dramática muito bem construída, que parte de uma premissa incomum para abordar problemas emocionais, negligência familiar, fobia social, traumas, autotransformação e responsabilidade comunitária, com um discurso psicológico muito maduro e levado a sério. Ryan Gosling está muito bem em seu papel, sabendo ser ao mesmo tempo estranho e adorável. É um filme divertido, mas principalmente sensível.
A Casa de Vidro
2.9 566 Assista AgoraO comecinho é enjoado, mas a partir do momento que os garotos mudam de casa, o filme vai ficando com uma atmosfera bem tensa e misteriosa, que vai crescendo, crescendo, com cenas bem realizadas, até que... tudo desanda no fim. O final quebra totalmente com o clima construído durante todo o filme, algumas motivações ficam sem explicação, fica algo meio pastelão e ainda tem a adição de uma cena das amigas totalmente desnecessária. Uma pena, pensei que ia entregar um bom desfecho. Leelee Sobieski sempre maravilhosa.
Elementos
3.7 470É um filme Pixar padronizado, mas sem os diferenciais que destacam os filmes da produtora de todas as outras ou que tornam algumas de suas obras memoráveis. Bons visuais, boas mensagens, algumas belas cenas, mas soa tão requentado e pouco inspirado que não impacta muito. Divertidinho (a comédia com as águas choronas não funcionou) e bem intencionado, distrai bem para um fim de noite ou uma distração despretensiosa na pegada familiar, mas faltou mais coração, que é simplesmente o que torna tão único um filme da Pixar.
The VelociPastor
2.8 67 Assista AgoraAté pra fazer filme ruim de propósito tem que saber filmar, e isso o Brendan Steere mostrou que sabe. Dá pra pegar muita referência de cinema da Nova Hollywood e giallo (sim!) e traços artísticos muito curiosos na direção desse trash que se assume como tal, não se leva a sério em momento nenhum e leva ao máximo do ridículo que pode as suas interações. Para uma semana estressante, foi um filme ótimo pra dar umas risadas das besteiradas. A batalha final é coisa de gênio.
Magnicídio
3.6 44Um desfile de ícones da cena punk britânica, uma trilha sonora que é puro deleite e uma estética iconoclasta dão um brilho especial a esse filme "pós-apocalíptico" (mas que era tão somente um retrato da Grã-Bretanha profundamente quebrada da época) que mostra, admira e crítica ferrenhamente o ideário dos jovens perdidos de uma Londres destruída. Nada aqui está a salvo da acidez de Jarman. Os personagens são todos desequilibrados e de algum modo abomináveis, mas também fascinantes. Tudo é sujo, violento e amoral. No fim das contas, era difícil ser mais punk que isso. A incursão elizabetana no futuro, pelo visto, a fez mudar algumas coisas em suas ações, pois sua sucessora não foi morta num assalto após o Jubileu de Prata e o punk, em vez de matar, foi morto - como bem disse o Crass. Belo encontro entre o clássico e o revolucionário.
Os Demônios
3.9 153Um retrato levemente satírico, teatral e histérico da política por trás da ação da Santa Inquisição e das hipocrisias aristocráticas travestidas de responsabilidade católica. A fotografia e a direção de arte fazem o filme assumir um patamar onírico memorável, e as cenas mais chocantes são realmente marcantes. Ken Russell brinca, exagera e moderniza, mas sabe fazê-lo com vigor, segurança e coragem, de forma que o resultado final é atemporal. Vanessa Redgrave e Oliver Reed estão fantásticos. Um filme polêmico e tenebroso, no melhor dos sentidos.
El Topo
4.0 219Particularmente, prefiro o que foi realizado em A Montanha Sagrada, pois funciona como o inverso do mostrado aqui: primeiro o choque com a crueza da realidade para depois a busca por autoconhecimento e iluminação pessoal. Aqui o caminho se inicia pela jornada individual(ista) mágica do forasteiro, que realiza sua jornada no deserto da alma e confronta as agruras e os desafios do processo - e de seus resultados - durante toda a projeção. É arte psicomágica do tipo que somente Jodorowsky tinha coragem e capacidade de realizar. O simbolismo esotérico, tarológico, bíblico e cabalístico é muito forte e constante aqui. A representação feminina é um tanto problemática, mas também cumpre seu papel dentro desse misticismo ocultista do qual Jodo parece participar. Além disso, as alegorias políticas inseridas na segunda metade, a crítica à hipocrisia da sociedade cristã e conservadora, é sempre muito pertinente. Enfim, pensei que ia entender muito menos do que acabei entendendo. É um filme-metáfora por excelência.
Jeanne Dielman
4.1 109 Assista AgoraToda monotonia, toda rotina, toda repetição esconde sentimentos reprimidos, incômodos e frustrações soterradas. Isso se faz muito presente, mas de forma muito sutil, no olhar estático da câmera de Chantal Akerman para o cotidiano de sua Jeanne Dielman, muito bem interpretada por Delphine Seyrig, numa atuação de poucas palavras e poucas expressões, mas que esconde questões muito profundas do ser mulher, do ser mãe e do ser esposa/viúva. A ausência de trilha sonora não diegética confere um tom mais íntimo ao filme, que se constrói de forma lenta, com cenas longas e simples, mas que, de alguma forma, mostram que algo ali está fermentando por finalmente explodir. A longa duração e o ritmo lento podem ser um desafio para aqueles não habituados, mas é uma experiência gratificante aos que gostam desse tipo de cinema, ainda mais pelo rico protagonismo feminino visto aqui.
Dersu Uzala
4.4 153 Assista AgoraUm belo conto de aventura, desbravamento, amizade, envelhecimento e exílio que tem a assinatura majestosa de um mestre do porte de Kurosawa. Tudo se encaixa muito bem, de forma que mesmo não sendo um dos meus gêneros favoritos, esse drama aventureiro e bucólico me fascinou, especialmente em seu ato final.
A Ascensão
4.3 61Um filme triste, tenso e desolador. Um drama de guerra que exala risco, ao mesmo tempo em que é profundamente emocional e que consegue fazer o espectador sentir o frio gélido do ambiente hostil, o medo dos inimigos e a tristeza e desamparo das vítimas. A fotografia em preto e branco, a trilha sonora e a direção impecável de Larisa Shepitko se juntam às maravilhosas atuações e ao texto pungente para entregar um dos filmes soviéticos mais memoráveis sobre o período sombrio da Segunda Guerra, no qual a culpa, a morte, o temor e o peso da consciência faziam parte do cotidiano daqueles que lutavam contra ou se dobravam à barbárie nazista.
Quando Explode a Vingança
4.1 133A parceria Leone e Morricone não falha. Mesmo sendo um dos filmes menos ovacionado da parceria, o resultado é tão grandioso quanto o dos outros, com cenas memoráveis e um bom humor muito prazeroso. O filme também traz uma carga dramática bastante forte e o foco na Revolução Mexicana é o grande destaque da trama. O personagem de Rod Steiger é simplesmente cativante demais.
Barbie
3.9 1,6K Assista AgoraMais divertido do que eu esperava, com ótimas tiradas e um humor referencial muito eficiente, além de ter algumas quebras da quarta parede bem inseridas. O filme perde um pouco do ritmo nas cenas com Will Ferrell e com Sasha e sua filha, mas o saldo final é bastante positivo e faz jus a todo o hype. Margot Robbie está mais deslumbrante que nunca (realmente impossível acreditar que aquela perfeição pode se sentir feia), mas em certos momentos ela não é tão protagonista - o que não é ruim, já que dá espaço à trama e às críticas (a grande maioria bem fajutas, já que o objetivo do filme é consumo e lucro mesmo). Em contrapartida, Ryan Gosling realmente rouba a cena, se entregando totalmente, dançando, cantando, passando vergonha e entregando os momentos mais hilários do filme. I'm Just Ken merece o Oscar, mas o mais provável é que seja o segundo de Billie Eilish, que mandou mais uma pedrada. De resto, trabalho e tanto de Greta Gerwig na direção, que abusa de referências fílmicas com muita propriedade e sabe como mesclar o cartunesco e surreal com o mundo real. Vai ter muita indicação ao Oscar de certeza.
O Ovo da Serpente
4.0 131Um Bergman mais político que nunca, com um alto orçamento em mãos e produção americana. O que se realiza é um drama político muito profundo, de muitas camadas e fortíssimo impacto. A parceria já comum com Liv Ullmann, como é de se esperar, resulta em mais uma grande performance, mas a presença de David Carradine impressiona pela ótima execução de seu personagem. A direção não é tão "selo Bergman de qualidade" quanto seus maiores clássicos, mas não há qualquer perda de qualidade, assim como no roteiro, que trabalha com questões muito humanas de isolamento, culpa e desalento, algo característico da obra do cineasta. Passeando por vários estilos, O Ovo da Serpente é um filme desolador que poderia ser facilmente utilizado em aulas de história sobre como é possível o surgimento e fortalecimento de ideologias extremistas, ecoando um atmosfera e representação (perfeitas) de uma Alemanha entre guerras já vista em clássicos do cinema alemão do período. Inesperadamente impactante.
Sonata de Outono
4.5 492Um dos dramas mais perfeitos que já vi. Sofrível, profundo, doloroso, intenso, sensível. Bergman provavelmente em sua melhor forma, acompanhado de uma despedida fascinante da gigante Ingrid Bergman e com uma atuação espetacular de Liv Ullmann, que para mim é uma das melhores, senão a melhor atuação feminina da história do cinema. Tudo é maravilhoso e as lágrimas rolaram em vários momentos com naturalidade, choque, surpresa ou dor. É um impacto absurdo que fica.
Cenas de um Casamento
4.4 232Talvez nenhuma outra produção retrate melhor a vida a dois que essa obra em seis atos impressionantes. A química entre Liv Ullmann e Erland Josephson é perfeita. O texto de Bergman é especialmente majestoso, e sua direção, com recursos limitados pelo orçamento televisivo, não sente esses entraves e consegue extrair o melhor possível de toda frase, toda cena, todo olhar. Incrível como essa história é tão moderna a ponto de ser adaptada para os dias de hoje com pouquíssimas mudanças e ser plenamente atual. Os segmentos Paula e Os Analfabetos, especialmente, são obras-primas.
O Conformista
4.1 83 Assista AgoraNuma obra de perfeição técnica e estética, Bertolucci faz uma análise de como ditaduras fascistas se estabelecem e se mantém na sociedade, mostrando o tipo de indivíduo burguês que sublima traumas e culpas a ponto de se tornar um agente da brutalidade estatal, um conformista. Filme cheio de sutilezas e de barbárie escondida sob a beleza das imagens. À medida que avança, se torna mais e mais sufocante e angustiante. Um drama político gigantesco e indispensável.
Vênus
2.8 67 Assista AgoraBalagueró sabe manter o interesse preso pela resolução da história, à medida que mais e mais, até mais da metade do filme, vai colocando novas dúvidas e plantando caraminholas na cabeça do espectador, mas no fim ele ou não responde ou responde mal. A trama abre vários focos, dosa mal o tempo de tela de cada um e desenvolve muito pouco os mais interessantes. O terceiro ato é completamente atropelado, mas acaba sendo também o mais movimentado e violento, que acaba divertindo apesar dos pesares. Expósito exuberante e entregando uma atuação boa com o que tinha à disposição, assim como a pequena Inés Fernandéz. Dava pra ser um filmão, mas se perdeu todinho.
Alpes
3.5 89 Assista AgoraAinda que não tenha o mesmo brilho que as outras grandes obras que tornaram Lanthimos reconhecido (amado ou odiado), tem o DNA do cineasta: a frieza, o ar mecânico das relações pessoais, o fator utilitário das interações, as ações robóticas de todo o elenco, é uma miscelânea de desconforto, incômodo e, acima de tudo, realidade. É um filme que tira o filtro social dos porquês que as pessoas sentem luto, e de que forma elas encontram uma válvula de escape para lidar com isso, com o vácuo deixado e com o próprio vazio da existência. Não tem grandes momentos escabrosos, mas o bizarro do cotidiano do mundo de Lanthimos é suficientemente desconfortante para que a experiência seja bastante marcante.
Procurando Dory
4.0 1,8K Assista AgoraProcurando Nemo não tinha necessidade de uma sequência, mas esse filme conseguiu trazer algo diferenciado, voltado a Dory e mais uma vez um resgate às questões de família, perseverança e diferenças. A dinâmica entre os personagens é ótima, a bebê Dory é uma fofura só e o filme sabe ser engraçado e dramático de forma bem dosada. A cena pós-créditos foi muito inteligente, só para relembrar personagens marcantes do primeiro filme.
Drácula: A Última Viagem do Deméter
2.9 231 Assista AgoraTem personagens carismáticos e uma dose legal de violência, além de uma boa ambientação e atmosfera, mas é cheio de furos bem incômodos no roteiro e os efeitos visuais muitos vezes não funcionam, podendo ter sido realizados mais efeitos práticos. Além disso, o filme também acaba sendo longo demais, o que cansa um pouco, e é cheio de clichês de gênero, o que não chega a atrapalhar. Particularmente, gostei da retratação do Drácula unicamente de uma forma monstruosa, tirando o viés sedutor do vampiro e mostrando só seu lado demoníaco.
A Conversação
4.0 231 Assista AgoraIncrível crescente de tensão, que culmina numa conclusão de tirar o fôlego. A construção do protagonista por Gene Hackman é perfeita, entregando um Harry misterioso, solitário e cheio de culpa, sobre o qual vamos conhecendo pouco a pouco no decorrer da narrativa lenta, mas muito bem desenvolvida. É impressionante como Coppola na década de 70 entregou simplesmente quatro obras-primas, e nesse aqui ele brinca com delírio e traz uma grande reviravolta no final. A ambientação e a trilha sonora dão um charme especial a tudo. Um dos grandes clássicos sobre solidão, culpa e responsabilidade pelas consequências de suas ações.
Barry Lyndon
4.2 400 Assista AgoraProvavelmente o filme mais esteticamente estonteante de Kubrick, com uma direção de arte, figurinos, penteados, maquiagens e fotografia sublimes, além de uma direção sempre esmerada que ganha destaque nas cenas mais tensas e agressivas. Porém, a longa duração, o ritmo que às vezes desgasta e o enredo sobre ascensão social na aristocracia europeia setecentista (que é algo que não sou muito fã) deixaram a experiência um tanto cansativa. A segunda parte é superior à primeira, mas temos os belos momentos das guerras e dos duelos nessa, além de que na parte final temos uns bons arranca-rabos, além da sequência mais triste do filme.