Depois que eu terminei de assistir 'May December' (Segredos de Um Escândalo) e saí da sala de cinema eu fiquei pensando, "o que vou escrever sobre esse filme", porque sempre que um filme acaba, eu tenho ali mais ou menos um esboço do que vou escrever, porque já da pra avaliar bem o que acabei de assistir. Mas com 'May December' foi complicado, porque confesso aqui que saí do filme sem entender aquele final, toda a trajetória de ambas as protagonistas, fiquei realmente no escuro, não consegui compreender completamente o filme de Todd Haynes. Levei alguns dias pra poder começar a pescar uma coisa ali e acolá.
Dos filmes que vi de Todd Haynes, 'Velvet Goldmine' é um dos que menos lembro, só o vi uma vez e criança ainda, tem zero lembranças do filme, e 'Não Estou Lá', onde ele traz inúmeros atores renomados para interpretar uma das várias facetas musicais de Bob Dylan, já é um filme bem complexo, onde ele brinca com as personalidades musicais das letras de Dylan, para criar facetas do cantor e acaba sendo um grande filme, mas de entendimento bem complexo.
Então, ver 'May December' acaba sendo algo que está no DNA de sua filmografia, onde ele pega uma história da vida real (busquem no google a real história por trás deste filme) e o transporta para as telas de uma forma ficcional, sem nenhuma interação com o fato verídico e traz uma conversa mais ampla sobre o crescimento do sensacionalismo americano nos casos surreais que acometem a vida humana nos lugares menos conhecidos do país.
A forma como Todd Haynes escreveu Grace Atherthon-Yoo (Julianne Moore) foi a posicionando como uma mulher que não se arrepende do que fez, não enxerga nada errado, uma vez que ambos eram completamente apaixonados um pelo outro, e que é muita segura de si mesmo, coisa que em nenhum momento do filme fica explícito, a não ser na cena final do longa... apesar disto, Grace, é uma mulher que tem um sério problema emocional, que precisa se manter 100% ocupada, que não pode ser recusada e que possui um relacionamento conturbado e próximo ao mesmo tempo com seus filhos do primeiro casamento. Pra mim pessoalmente, aquela quebra total de personalidade apresentada durante todo o longa, foi o que mais me surpreendeu durante todo filme, vista na cena final do longa.
Já a personagem de Natalie Portman, Elizabeth Berry, que é uma atriz que vem estudar e conhecer Grace, para melhor interpretá-la no filme que irão fazer sobre o caso ocorrido, é muito sombria, se assim posso dizer, possui um relacionamento diferente/questionável com seu marido/agente, enfim, aparenta usar de subornos emocionais para atingir o que quer em termos profissionais... entra na família de Grace, de forma sutil a princípio, porém vai demonstrando um comportamento um tanto quanto errático/estranho... ela quer 'ser' Grace, no sentido literal do adjetivo, ela quer respirar pelo corpo da mulher, são trejeitos que ela busca, maquiagem, formas de falar, de pensar, de entender plenamente como funciona a cabeça de Grace, e o porque de tudo o que ela almeja descobrir da época em que ela se relacionou com Joe. Se torna uma obsessão ter um relacionamento com os filhos dela, e até mesmo com seu marido, uma obsessão doentia, o que ela deseja conseguir com tal conquista, com tal aproximação? Ela, para fazer sua personagem de forma tão literal e completa, está disposta a ter o mesmo tipo de experiência que Grace teve no passado? Um ato libidinoso fora do contexto?
E Joe Yoo (Charles Melton) acaba por se demonstrar um homem que lutou para amadurecer antes de seu tempo, pois foi pai cedo, teve um relacionamento cedo, foi exposto cedo, virou homem cedo... ele estava apaixonado por ela sim, acabou a seduzindo (mesmo?) e estava mergulhado naquela relação... mas o que isso lhe custou? E a estadia de Elizabeth na casa dos dois o faz se questionar, "Eu fui seduzido?", "Eu realmente sabia o que queria? O que estava fazendo...?". Isso começa a abalar os fundamentos de seu casamento, que pode ter chegado ou não a um fim, mas é o suficiente para ele confrontar Grace, que possui tantos problemas emocionais que a deixam instável... mas será também? E a segurança que ela tanto passa no final, na conversa com Elizabeth?
Por si só, todos esses aspectos deixam o filme de Todd Haynes mais que interessante, o deixa intrigante, e acaba sendo um estudo de personalidades, para tentarmos compreender como cada um se sente como o fato ocorrido e como cada um lida com aquilo. Grace demonstra dualidade, lida bem, sem culpa ou remorso, mas demonstra instabilidade emocional que é posta contra prova em sua conversa final com Elizabeth. Joe Yoo sempre parece estar na defensiva, com algo guardado que não pode expelir pra fora, e vai levando, até se ver envolto em um caso, em um flerte e em uma certeza que nunca quis acreditar. Elizabeth, a mais intrigante, busca mergulhar na psique de Grace, de forma completa, ela quer absorver tudo, até os detalhes que pouco importam para sua representação no filme que vai rodar... e aquilo a consome, vira uma possível obsessão, também vira uma certeza, que cai por terra quando ela testemunha uma faceta de Grace da qual ela ainda não havia testemunhado.
A sua cena final, já gravando uma fala com o ator mirim que faz Joe, com a cobra, tentando ter a performance correta, tentando chegar no que realmente quer passar de Grace... seria a certeza do que absorveu? Ou a dificuldade em representar alguém que não conseguiu desvendar?
Para ser sincero, foi difícil eu ter toda essas questões diluídas, pois durante o filme eu estava tentando juntar todos os pedaços do quebra-cabeça e não conseguia chegar a todos os lugares... entendia algumas coisas e outras ficavam bem nubladas, outros sem nenhum entendimento. Esse quebra-cabeça montado por Todd Haynes e Samy Burch e Alex Mechanik, os roteiristas, ficou confuso em vários momentos e quando começava a ter luz de entendimento, sempre vinha uma nuvem que bagunçava tudo novamente... eu pessoalmente tive muita dificuldade com este filme.
Para mim, o ponto alto do longa mesmo está nas interpretações de Natalie Portman e Julianne Moore, duas monstras de Hollywood que entregaram novamente um trabalho muito acima da média e foram a alma do filme. Julianne esteve incrível, colocando todos os sentimentos de uma mulher para fora em camadas, uma de cada vez, todas de forma sensível, com clareza, com acertividade. Acho que ela em suas cenas de discussão com Joe e em suas cenas finais com Elizabeth, foi de uma crescente absurda e onde ela foi gigante e mais uma vez se superou em termos de interpretação.
Natalie Portman para mim foi de uma força neste filme... esteve maravilhosa no papel, na forma como queria incorporar 100% Grace, em como ela a olhava e em como se portava quando os pequenos detalhes chegavam ao seus ouvidos. A forma como Natalie mudava totalmente sua expressão corporal quando estava perto de Joe Yoo, e até a entonação de voz tinha mais suavidade, uma inclinação feminina maior, como quem estava mesmo flertando, tentando abocanhar a presa... Natalie foi incrível, foi perfeita neste filme, incorporou bem o papel que aceitou e foi além do que estava previsto no roteiro para a personagem.
Já Charles Melton (de Riverdale, que ainda não vi) foi muito bem, ele entregou exatamente o que se esperava de seu personagem nas cenas mais dramáticas do longa, onde ele fuma um baseado com seu filho no telhado, em sua cena com Elizabeth na casa dela onde ele lhe entrega uma carta pessoal, e obviamente, na cena onde ele e Grace discutem no quarto, onde Julianne Moore dá um show e Melton acompanha a altura e de forma precisa e coesa. Ele foi esnobado tanto no BAFTA, quanto no Oscar, em Ator Coadjuvante, uma vez que ele vinha ganhando muitos prêmios da crítica americana setorizada, e também havia ganhado o Gotham de Filmes Independentes... mas no final, eu se fosse um votante, não o teria indicado mesmo, opinião minha. O filme ainda conta com Cory Michael Smith como Georgie um dos filhos de Grace, Cory fez o Charada na série de TV 'Gotham'.
'May December' possui uma trilha composta por Marcelo Zavros e Michel Legrand, e QUE TRILHA, é perfeita, traz aquele clima de suspense, de inquietação, de que algo está errático, seja lá o que for que está errático, sempre anunciando algo que está por vir, e sempre contextualizando o que acabamos de presenciar... muito bem inserida no filme, perfeitamente posicionada, realmente, são poucos os filmes que conseguem posicionar tão bem a sua música, criando uma imersão perfeita entre fatos, takes e música.
O roteiro é bem escrito, não nego, com livre inspiração nos fatos que inspiraram essa história... esse caso real que aconteceu no sul de Seatlle entre Mary Kay Letourneau e Vili Fualaau, pouco teve a ver com o que Todd Haynes criou para o filme, foi livremente inspirado, teve muitas mudanças para não ser completamente associado a ele... mas dentro do que ele criou, realmente ficou uma história de suspense e de estudo de personalidade distintas, de alguém que não carrega culpa, mas todos os indícios mostram sequelas deste acontecimento... de alguém que se sente vítima, mas nunca verbaliza ou acredita piamente naquilo... e de alguém que está disposta a mergulhar em personagem que ela, minuciosamente estuda e começa a compreender, mas se torna um ponto de interrogação quando é pega de surpresa pela mesma... Para criar tudo isso com tamanha riqueza de detalhes, Todd Haynes merece muito crédito, mas para mim, pessoalmente, e só para mim, a forma como ele construiu tudo isso no filme, ficou confuso em alguns momentos, ousado demais em outros, e se tornou uma psicanálise em boa parte do longa... é preciso assisti-lo e assisti-lo par se ter uma dimensão mais ampla para poder falar e debater sobre ele. O que para mim o torna pouco aceitável para premiações... mas posso estar falando uma tremenda bobagem também.
Charles Melton faturou uma dezena de prêmios por sua atuação no filme, como Ator Coadjuvante e se tornou um dos principais favoritos nesta temporada de premiações... mas acabou ficando pelo caminho, e recebeu somente indicações de destaque no Globo de Ouro, no Critics Choice Awards, no Satellite awards e no Spirit Awards e no Festival de Cannes. Julianne Moore foi indicada por Atriz Coadjuvante no Globo de Ouro, Critics Choice Awards, Satellite Awards, Gotham Awards; Natalie Portman foi indicada a Atriz Principal no Globo de Ouro, no Spirit Awards, no Festival de Cannes, no Satellite Awards. Foi indicado a Melhor Filme no Globo de Ouro (Comédia/Musical), no Spirit Awards, no Satellite Awards (Drama), no Festival de Cannes na Palma de Ouro e no Grand Prix (o Prêmio do Júri). As demais indicações foram para Roteiro Original no Oscar, em Cannes, no Critics Choice, no Gotham, no Spirit Awards e no Satellite Awards. Além de Direção para Todd Haynes no Spirit Awards e em Cannes.
Como já mencionei, tem que conferir 'May December' mais de uma vez para se ter uma dimensão maior do que ele passa, das conversas que ele gera e do que ele lhe fornece para seu amplo conhecimento. Perdeu muita força na temporada de premiações com pouquíssima campanha do estúdio, e nem ficou como coadjuvante (como Maestro) nesta temporada de premiações...mas é um bom filme para estudo de personagens e de roteiro... eu só achei pessoalmente um pouco bagunçado em sua concepção total.
Eu tenho um problema muito sério com os filmes de Sofia Coppola, eu não sei, não consigo explicar direito, não sei se é o ar cor de rosa demais para seus longas, ou se traz um ar muito juvenil para o tom de seus filmes, aquela coisa meio fogos de artifício, que nesse longa também aparece numa das cenas... não sei, não consigo me afeiçoar totalmente. Acho que as exceções são seus dois primeiros filmes, que alavancaram sua carreira de diretora, ela era muito promissora... 'As Virgens Suicidias' com Angelina Jolie e 'Lost in Translation' com os já monstros da atuação Bill 'dia da marmota' Murray e Scarlett 'Viúva Negra' Johansson. Eu tinha gostado muito destes dois filmes, mas lá naquela época eu não focava tanto nos diretores, sabia que era a Sofia Coppola, filha de Ford Coppola, mas ainda estava trilhando meu caminho de futuro cinéfilo. Outro filme dela que me agrada até, é 'Marie Antoinette' com Kirsten 'Mary Jane' Dunst, que traz um olhar mais pop para a personagem, uma trilha sonora totalmente atual e este filme sim tem um tom MUITO cor de rosa, mas aqui não me incomodou, dada a audácia em ter essa visão em um filme de época. Mas só... os demais filmes não me agradaram, sua visão muito, como posso dizer, menina adolescente não me agrada nos outros filmes e não gostei nada nada de seu último filme, 'On The Rocks' que achei sem sal, insosso e um porre.
'Priscilla' tinha tudo para ser um ótimo filme do ponto de vista da Sra. Presley, seria um filme que dependendo de como ficasse o produto final, se complementaria bem com 'Elvis' de Baz Luhrmann, mas claro que são dois filmes distintos, mas poderíamos ter pequenas semelhanças ali e acolá. Não vou ser hipócrita e deixar de elogiar o olhar que Coppola teve para com este filme, a forma como quis que a história fosse contada e transplantada para a tela. o tom que ela escolheu, esse foco unicamente nos dois, em Priscilla e em Elvis e em como o relacionamento deles foi fazendo curvas com o passar dos anos, é um olhar bem interessante para se tratar no filme.
O que me incomodou muito no longa de Sofia foi a forma como ela dirigiu seus protagonistas, sendo que Priscilla foi a que mais me incomodou. Cailee Spaeny (Mare of Easttown) faz muito bem o papel de Priscilla, nisso eu não contesto, adorei ela em cena, principalmente nas cenas de adolescente, e em algumas partes de Priscilla já casada com Elvis... porém eu percebi que ela sempre esteve muito contida em sua atuação durante grande ´parte de do filme. Cailee estava sempre com o freio de mão puxado, não estava se soltando conforme o filme avançava, não sei o que Sofia estava pedindo para ela, mas era incrível como Priscilla não evoluía como pessoa e personagem com o passar do longa... a mesma garotinha de 14 anos que íamos no começo do filme, estava ali no casarão de Elvis quando ela foi morar em definitivo e estudar na cidade dele. Quando estavam prestes a se casar, e depois quando se casaram, era a mesma pessoa, com os mesmos medos e inseguranças, com o mesmo jeito retraído, com o mesmo tom de voz baixo, de quem ainda é moldada por quem a cerca. Isso me incomodou bastante, quando você não tem uma evolução da personagem, ela não sai do lugar, é a mesma pessoa que você enxerga desde o começo do filme, não tem como você se prender ao longa como um todo, o incomodo fica nítido, a história acaba não captando quem assiste, e fica deveras inconveniente estar interligado com aquele mundo proposto por seus idealizadores. Apenas na parte final do filme, quando Priscilla vai para outra cidade e tem suas aulas de karatê (?... ou era judô, eu fiquei confuso agora), e está com seu instrutor numa mesa conversando e rindo com outras pessoas, é que enxergo uma outra Priscilla ali, madura, segura, diferente, aquela que já era pra estar sendo mostrada desde que se mudou para o casarão de Elvis.
No caso do incrível Jacob Elordi (Saltburn), já consegui ver uma ótima atuação como Elvis, bem diferente, obviamente de Austin Butler, com seu próprio toque pessoal, mais fácil de se absorver, com muitos trejeitos que Elvis possuía e se portando mesmo como ele. Mas Jacob cai na mesma armadilha de Cailee, só que em menor proporção... Coppola também segura muito as rédeas da atuação de Jacob, foi que percebi, acho que ela tentou não pintar Elvis como algo muito negativo, e isso influenciou na atuação de Jacob. Eu o via em algumas cenas muito preso, sem se soltar, a voz também muito contida, as ações mais hostis de Elvis também mais seguradas, era um momento de ira, para vários minutos de leveza arrependida na sequência... e sempre o mesmo Elvis descolado, viajado, que curtia uma com os amigos, desde o começo do longa, até o momento que Priscilla dá a luz à sua primeira filha. Dali em diante, no pouco que resta do filme, vemos um pequeno vislumbre do que seria o Elvis mais afetado por remédios e transformado em marionete no fim da vida, nos fatídicos shows em Las Vegas... mas é todo um filme desperdiçando o talento dos dois atores, que poderiam se soltar mais, poderiam ter mais momentos de explosão, poderiam colocar mais seus talentos e sentimentos das personagens para fora... eu acho tudo muito contido no filme.
E aí temos algumas passagens típicas de Sofia Coppola, uma cena dos dois se beijando sob fogos de artifício, muito adolescente pro meu gosto, as cenas da prova de vestidos e alguns takes de Priscilla com seu cãozinho, um ar muito cor de rosa, uma vez que seu dia a dia não se limitava somente aquilo... assim como as repetidas cenas de Priscilla ainda adolescente na escola, suspirando e sentindo a falta de Elvis, sem conseguir focar em mais nada na vida, uma repetição que desagrada e limita a personagem ao seu sonho adolescente de menina apaixonada pelo príncipe encantado... muito forçado todo esse enredo de Sofia, e isto poderia ser muito bem diluído no filme, ter sido adaptado de uma forma mais concreta, mais limpa, e não esse conto de fadas, esse desperdício de cenas repetidas... não gostei.
Acho que esteticamente o filme é muito bem feito, temos um figurino da mais alta categoria, bem inspirado e que remete bem não só as vestimentas da época, mas a personalidade de Priscilla e de Elvis, isso com certeza é nítido. A edição do filme eu já não achei tão boa assim, nada que estrague a experiência com o longa, mas muitos takes foram editados repetidamente, sempre um corte onde a imagem desaparece gradualmente, algo muito visto nos filmes antigos da década de 50, 60, 70, mas como falei, repetido várias vezes em curtos períodos do longa.Para mim, faltou uma coesão de montagem no longa.
Gostei da cinematografia do filme, temos muita boas cenas fotografadas, dou mais ênfase as cenas internas, na casa de Elvis, principalmente em seus aposentos, em algumas festas dadas no filme também temos ótimos recortes fotográficos... uma iluminação que privilegia as cenas, e ótimos takes externos também.
A trilha sonora ficou por conta de Randall Poster (de Império da Luz e Asteroid City) junto à banda Phoenix, de quem Sofia é casada junto ao vocalista Thomas Mars. Ainda não estou familiarizado com o trabalho de Randall, mas a banda Phoenix eu não gosto nem um pouco, é uma banda mais pop eletrônica, que não se solta muito com os instrumentos, a guitarra não grita, a bateria é plástica, e a forma como Thomas canta...blargh, não me agrada, as músicas do Phoenix não me agrada... hahahahahahah, uma bandinha chata devo confessar. Daí o meu desagrado com a trilha, não gostei, achei tediosa, não fez diferença para mim no longa, poucas vezes bati o pé durante o filme, a não ser quando vinha algum som de Elvis.
O filme foi produzido e distribuído pela A24 (minha preciosa) e O2 Play e Stage 6, e posso dizer pessoalmente que é uma das pouquíssimas produções da A24 que foi fraca em seu produto final. Não posso esquecer de dizer que achei o filme como um todo, em termos de desenvolvimento de cenas, muito vazio... percebi muitas cenas que envolvia apenas os dois protagonistas, até aí tudo bem, mas tudo nos takes era meio vazio, faltava vida em muitas cenas, sabe... faltava cor, era tudo mais escuro, mais pagado, cores escuras, pouca coisa vívida...foi minha impressão, não sei aonde Sofia e os demais profissionais queria chegar com essa escolhas.
As indicações de Priscilla nas premiações foram quase nulas, quase... - No festival de Veneza, foi indicado ao Leão de Ouro, ao Prêmio Especial do Júri, ao Leão de Prata de Melhor Diretora, Copa Volpi de Melhor Ator (Jacob Elordi) e a Melhor Roteiro, perdendo todos; - No Gotham Awards de Filmes Independentes e no Globo de Ouro, Cailee Spaney foi indicada a Performance Principal e Melhor Atriz Filme Drama respectivamente, perdendo ambos para Lily Gladstone (Killers of The Flower Moon); - No Critics Choice Awards foi indicado a Melhor Maquiagem, perdendo para 'Barbie'; - No Satellite Awards Cailee Spaney também está indicada a Melhor Atriz Comédia/Musical; O longa foi esnobado no Oscar e no BAFTA, sendo que no BAFTA, Jacob Elordi foi indicado ao prêmio E.E Rising star, estrela ascendente, um prêmio para quem está se destacando na atuação, as estrelas do futuro, não premia uma atuação em filme em específico.
Pois é, achei 'Priscilla' bem abaixo do que eu esperava, do que os trailers mostravam, não gostei do produto final de Sofia Coppola, gostei muito da atuação de Cailee e Jacob, mas Sofia segurou demais a performance deles, e o filme é muito, não sei, escuro, sem vida, preso, no freio de mão puxado... faltou se soltar, deixar rolar, deixar fluir. É a minha visão, as demais pessoas podem gostar do filme, se simpatizaram, gostaram do que viram, mas eu realmente saí do cinema com aquela sensação de... "Que desperdício de talento".
Não sabia exatamente o que esperar do trabalho de Paul King com este filme, pois a única coisa que vi dele, foi a série Space Force da Netflix, onde ele dirigiu os 4 primeiros episódios. Até dá uma dimensão do que se pode esperar de um trabalho no cinema, mas não aquela dimensão toda. E realmente, eu gostei demais do que Paul King fez aqui em 'Wonka'. Eu fui um daqueles que quando ouvi a primeira vez sobre o projeto, um prequel mostrando a juventude de Willy Wonka, não fiquei muito entusiasmado com a ideia, não sabia se era necessário beber mais dessa fonte, vide as tantas bombas que temos hoje em dia de filmes que desenterram do passado. Mas Paul King segurou o rojão, e criou um roteiro agradável junto a Simon Farnaby e Simon Rich, e fez um trabalho estupendo na direção e construção do longa.
Diferente do que foi feito nos dois filmes anteriores, onde focaram em Willy Wonka e sua fábrica inusitada de chocolates, no filme de Gene Wilder, e posteriormente onde focaram em Charlie, um garoto pobre que tem o sonho de visitar a famosa fábrica de Willy Wonka, que carrega todo um peso dramático no longa, protagonizado por Johnny Depp... aqui em 'Wonka' temos uma aventura do jovem Wonka contra os chocolateiros famosos da cidade, onde ele pretende abrir uma loja que era um sonho seu e de sua mãe. Isso por si só já dá um contexto diferente para um filme sobre Willy Wonka, pois não temos uma fábrica para explorar, e sim uma construção de personalidade e caráter de Wonka para trabalhar e como se sucederá a sua fábrica. Esse ponto em particular, por mais que tenha sido ficado óbvio o como e porque de ele ter conseguido um local, gigante, para fazer sua fábrica, acho que ficou bem corrido no filme, foi apenas colocado lá, e faltou um pouco mais de apresentação e contexto. Mas dá pra aceitar, dada a forma que as coisas terminaram no longa.
Achei o filme uma joia preciosa, tudo muito bem feito tecnicamente, uma cenografia surreal, figurinos estupendos e inspiradíssimos, sem contar em alguns efeitos para a maleta de Wonka, a chuva de doces na abertura da loja de Wonka, as máquinas usadas no hotel de Mrs Scrubitt para lavar e passar as roupas...nossa, tudo muito bem inserido, bem desenhado, bem criado, bem transplantado para a tela. Possui uma cinematografia estupenda, várias foram muito bem enquadradas e iluminadas, com o tom certo de luminosidade, bem captadas, principalmente as cenas externas noturnas.
O que Paul King fez, para mim, é cinema em seu estado puro, puríssimo... é um tipo de cinema que dificilmente é feito hoje em dia, aquele cinema que remete os anos 50, 60, citando até os 70... cinema que temos um roteiro trabalhado no texto, onde os personagens sabem se expressar, e têm algo a aprender uns com os outros... um cinema que usa e abusa da magia dos contos, aqui o pensamento é livre e muita coisa é possível, deixando o limite do real de lado, e transportando o público para um mundo diferente, o da fantasia, da magia. E por ser um musical, é um cinema que abusa das danças, dos números coreografados, das cenas extravagantes, e do poder de uma boa canção, que rime bem, e que entregue um ótimo refrão. É tudo muito mágico, tudo muito bonito e tudo muito fantasioso, e isso é cinema sim... aliás o cinema começou assim, entretendo o público em forma de fantasia e foi evoluindo com o passar das décadas e a evolução tecnológica e das obras em geral. É óbvio que devo citar que os números musicais onde Timothée Chalamet cantou, só não ficaram de excelência porque escolheram usar o formato gravado em estúdio, para inserir nas cenas... algo compreensível, pois é complicado você ser afinado e coeso quando está sendo puxado por cabos, ou correndo nas ruas, ou num fundo verde voando nos 'balões' de um lado pra outro. Compreensível, mas tira muito da alma da sequência... percebe-se claramente que ficou plástico e artificial.
Acho que o roteiro foi muito bem escrito, é uma história bem clichê, de aprendizado, de encontrar o seu lugar no mundo, acreditar nos seus sonhos, e superar os traumas pessoais, como a promessa para sua mãe, e inspirar quem está a sua volta, aprender com os mesmos, e derrotar os vilões da história... mais clichê, impossível, mas isso é cinema, isso é fantasia, isso é entretenimento, e isso é o que faz de 'Wonka' um filme tão mágico e diferenciado. É infantil, sim, feito para as crianças, sim também... mas os adultos podem se relacionar com o longa e se entreter da mesma forma...o filme cumpre seu papel, e seu papel é simples, esqueça do mundo lá fora por duas horas e entre neste pequeno mundo de fantasia e chocolates.
Timothèe Chalamet (de 'Duna', 'Call Me By Your Name' e 'A Crônica Francesa') traz a sua interpretação de Willy Wonka, um mais jovem, mais aspirante, mais sonhador, muito mais ingênuo... que vai de contra ponto aos Wonkas passados que conhecemos, mas que segue uma linha parecida de amadurecimento. Da forma como vejo, acho que ele se assemelha mais ao Wonka de Gene Wilder, a ingenuidade e a inocência, pode-se muito bem se enxergar em algumas facetas do Wonka de Wilder, e vejo ele sendo mais uma versão jovem do Wonka dele, do que do Wonka de Johnny Depp. Chalamet para mim fez um trabalho fantástico, trouxe trejeitos interessantes para o personagem, uma forma única de interagir com as demais pessoas, uma leve melancolia em se tratando da mãe dele, sempre que toca no assunto, e um ar de sonhador, que é o fator principal para Wonka ir despertando e amadurecendo a ideia/vontade de expandir sua versão de comercialização de chocolates, dado ao conselho que sua mãe lhe deixou anotado no chocolate que ele carrega consigo, que o fará desembocar em uma fábrica gigantesca e mágica. E falando em mágico, para mim foi um conceito bem interessante de incorporar ao personagem, de ele ter alguns truques mágicos, mesmo sem entender exatamente como funciona sua cartola, mas seus ingredientes adquiridos em sua viagem em lugares inóspitos e únicos, carregados dentro de sua maleta funcional, onde ele pode fazer um chocolate em poucos instantes... só mesmo tendo essa característica única, para ele poder criar uma Fábrica de Chocolates, que possua tamanha diversidade gostos, formas de doces, algodões doce espalhados em formato de nuvem, e adereços comestíveis em todo lugar da fábrica e etc, e etc... uma boa sacada de Paul King e seus roteiristas. Timothée Chalamet só cresce a cada trabalho, é um ator super competente e profissional, de muito talento e 'time' para atuação, que cada vez mais cai nas graças de diretores, e dos estúdios cinematográficos. Ainda teremos muito dele no futuro.
O elenco ainda conta com Keegan-Michael-Key que faz o chefe de polícia corrupto, tarado por doces, em um papel engraçado, tendo lá seu charme... mas só também. Paterson Joseph, Matt Lucas e Mathew Baynton, fazem os três chocolateiros que dominam a cidade e tentam eliminar a concorrência de Wonka. Matt e Mathew são hilários em suas cenas, e Paterson Joseph é um ator com A maiúsculo... que desenvoltura para atuar e fazer um vilão na medida certa, nem muito 'dark' demais porque o filme é mais leve, e nem leve demais pois tem que amedrontar e convencer quem assiste.
A indicada ao Oscar Sally Hawkins (de A Forma da Água e Blue Jasmine) fez a mãe de Wonka, e por mais que tenha tido pouco tempo de tela, ela já deixou ali toda a sua experiência em tela, e emocionou quando precisou emocionar. A oscarizada e mãe da #$%¨& toda, Olivia Colman (dispensa apresentações) fez a Mrs Scrubitt ao lado de Tom Davis... e os dois fizeram uma ótima dupla no filme, e nem preciso ficar falando do trabalho de Olivia aqui no filme... tudo que essa mulher faz, fica uma coisa de outro mundo, vê-la em cena é um colírio e um deleite, apenas isso. Rowan Atkinson, o Mr. Bean em pessoa fez o padre corrupto, e no pouco que apareceu fez seu showzinho... ainda teve Natasha Rothwell (de Sonic 2) e Hugh Grant (qe também dispensa comentários) fazendo o famoso Oompa Loompa... aqui ele faz apenas um, o que já dá um vislumbre de como eles se juntariam a Wonka em sua fábrica. O destaque fica para a pequena Calah lane, que fez Noodle, a amiga e sósia de Wonka, dando um show de talento e carisma, e uma boa cena fazendo dueto com Chalamet.
A trilha sonora do filme é de Joby Talbot de 'Sing', ele faz um trabalho competente, envolvente e bem orquestrado... gostei muito das canções do longa, são boas de se ouvir, não são maçantes nem bregas, são bem arranjadas e escritas, e grudam na cabeça durante o filme... depois você dificilmente irá lembrar delas... ou seja, cumpre seu papel de complementar bem o filme.
'Wonka' foi pouco lembrado nessa temporada de premiações: - No Globo de Ouro Timothée Chalamet foi indicado a Ator em Comédia/Musical, perdendo para Paul Giamatti (Os Rejeitados); - No Critics Choice Awards foi indicado a Melhor Figurino e Melhor Jovem Ator/Atriz para Calah Lane, perdendo ambos os prêmios; - No BAFTA foi indicado a Melhor Filme Britânico (não acho que deva levar); - No People's Choice Awards foi indicado a Estrela de Filme comédia do ano e Ator de Cinema, ambos para Timothée Chalamet, e ainda indicado a Melhor Filme de Comédia; - No Astra Awards levou indicação para Melhor Campanha Publicitária, pela Warner Bros.
Gostei muito do produto final, Paul King se superou neste longa, 'Wonka' é um filme com muita alma, traz a magia do cinema antigo pros tempos atuais, possui um enredo totalmente funcional, um protagonista que trouxe sua própria personalidade apara Willy Wonka e que agrega bem a cinematografia da saga Wonka com um filme fora da curva comparado aos os outros dois. Moderno, ousado e inspirador... esse é 'Wonka' de Paul King!
(Assistido em 14/02/2024 - Espaço Itaú de Cinema Pompeia)
Desde que vi o trailer eu fiquei apaixonado pela estética que esta animação carrega e pela história proposta, ainda mais por se inverter um pouco os valores, onde os animais vivem a vida dos humanos,e os robôs acabam fazendo um papel de companhia para esses animais, em alguns casos, como se fossem uma espécie de robôs de estimação, ou seja, temos um olhar totalmente invertido aqui.
'Robot Dreams' é baseado na HQ de Sara Varon que trata de um cachorro que vive na Nova York nos anos 80, e se sentindo solitário por não ter uma companhia, compra um robô ao ver um anúncio na TV, para ser seu companheiro e acabar com sua solidão. A animação é dirigida e roteirizada por Pablo Berger (de Abracadabra), ele evolui o estilo de arte de Robot Dreams de Sara Varon, obviamente trazendo toda uma cenografia riquíssima de fundo fazendo jus aos anos 80, tanto no apartamento do cachorro, quanto nas ruas nova-iorquinas, trazendo uma imersão mais completa ao assistirmos, do que quando se lê.
Um aspecto interessante de se observar em 'Robot Dreams' é o fato do Cachorro se sentir solitário ao ver um casal de vizinhos compartilharem a noite juntos, aproveitando a companhia de ambos, demonstrando felicidade... sendo assim o Cachorro busca esse robô que é anunciado pela TV para preencher esse vazio, e é quase como se fosse uma relação homoerótica, a margem para ser interpretado dessa forma, ou não, vai do espectador. Mas percebe-se que ali não é só amizade, ali tem troca, tem cumplicidade, tem fidelidade, tem afeição... é uma relação que transcende o simples companheirismo.
Gostei muito de como Pablo Berger implementou referências da cultura pop dos anos 80, como os comerciais de facas Ginzu (quem lembra dos Mamonas?), a MTV com as bandas de metal (farofas ou não), os dançadores de break na rua, os punks no começo do filme, onde o robô se socializa mostrando o dedo do meio, e principalmente a música a qual eles dançam e se torna a trilha do robô que a assobia em todo lugar que vai... September do Earth Wind & Fire.
A HQ de Sara Varon já foi concebida com o detalhe de eles não terem falas, apenas as situações e os olhares já verbalizam o que eles querem dizer entre eles, ou para com os outros, essa é uma linguagem muito usada nos desenhos antigos americanos, como Tom & Jerry e a Pantera Cor de Rosa, e os mais recentes como Happy Tree Friends. Sendo trazida obviamente para o filme, chega a ser uma espécie de saudação ao antigo cinema mudo, muito conhecido pelas obras de Charlie Chaplin. O fato de não termos falas no longa, o deixa com mais charme, com mais personalidade, muitos dos sentimentos ali presentes você capta na feição dos personagens, não há a necessidade de diálogos para contextualizar o que já está óbvio.
O ritmo do filme é tão gostoso, que você mal vê o tempo passar e se assusta ao perceber o quão perto do fim o filme está, isso é claro, para aqueles que gostaram e se conectaram com o filme, afinal, aqueles que não gostaram não vão sentir a mesma experiência.
O título do filme faz jus as cenas mais interessantes e criativas do filme, que são os sonhos que o Robô tem quando está preso na praia, ou no fim quando reencontra o Cachorro. Toda aquela sequência com as girassóis que remete ao clássico 'O Mágico de Oz' de 1939 é criatividade pura, de uma visão precisa, muito bem coreografada, que enriquece a experiência com o filme, e ainda possui uma canção que gruda na cabeça, e ainda toca nos créditos finais.
Toda a sequência do longa, com os desencontros entre o Cachorro e o Robô, fazem a gente criar aquela expectativa, se será possível eles se encontrarem no final do filme, ainda depois dos eventos no ferro-velho. Pablo Berger cria aquele cenário onde coisas aleatórias vão acontecendo, um ar de caça de gato e rato, onde ninguém chega a lugar nenhum, como se você corresse atrás do próprio rabo... e instiga no espectador aquela ânsia por um final satisfatório... e fico feliz de ver que o roteiro não seguiu um caminho prático, temos um final bem contundente, condizente com o que foi criado durante todo o enredo do conto, mais próximo ao que acontece a nossa volta, sendo exatamente um reflexo e/ou um espelho da realidade que nos acomete diariamente. Afinal de contas, quantas relações são construídas e forjadas a ferro, e por questões alheias a nossa vontade, elas acabam enfraquecendo ou simplesmente se esvaindo por diversas questões... e quando falo relações, elas podem ser de amigos, podem ser com parentes, podem ser relações amorosas, conjugais ou não... mas no final, o que importa é estar feliz no momento em que se vive, e ficar feliz pelo próximo, se sentir bem em saber que a pessoa que você gosta ou gostou, está bem, assim como você, e aquilo que um dia vocês tiveram sempre vai permanecer no coração um do outro e só irá morrer quando os dois deixarem a terra de vez. Isso pode ser um olhar inocente, e até ser ingênuo da minha parte, mas quando se faz obras cinematográficas como essa, são esses sentimentos e questões que precisam ser levadas em consideração, quando se quer tocar o público que assiste, afinal, temos que nos relacionar com aquilo que consumimos.
A trilha é de Alfonso de Vilallonga, que fez um bom trabalho complementando o filme, suprindo a ausência de falas, ditando as ações dos personagens... inseriu muito bem as canções no longa, criou algumas que são ótimas, como na sequência das girassóis, e conseguiu criar um clima oitentista que exala a Nova York daquela época, que podemos relembrar de tantos filmes da década que já acompanhamos.
O filme foi indicado a Melhor Animação no Oscar e no Satellite Awards, foi bem bacana ver o filme ser indicado ao Satellite, pelo menos uma lembrança nessa época de premiações, mas no dia do anúncio dos indicados ao Oscar, ao ser revelado a indicação do filme na categoria, eu fiquei muito contente, afinal, claramente 'Robot Dreams' não é de longe o favorito para vencer o Oscar, mas acredito que a indicação já é um prêmio pelo trabalho feito, já é uma vitória imensa, e ajudará a ter mais visibilidade pelo público que gosta de consumir filmes animados.
O Goya Awards, o Oscar espanhol, deu uma chuva de indicações para o filme, Melhor Animação, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Trilha Sonora Original e Melhor Montagem. O filme levou os prêmios de Melhor Animação e Melhor Roteiro Adaptado.
'Robot Dreams' é uma pérola da animação moderna, sustentando sua estética 2D, simplista, priorizando o roteiro ao invés de criar todo um estilo de animação ousado e textos cômicos. Afinal, querendo ou não, esta animação é muito mais adulta do que infantil, e para mim, aí é que está o charme do longa, onde ele ganha mais e mais fãs, cada vez que descobrem esta obra.
Eu fiquei sabendo recentemente que Molly Manning Walker, diretora de 'How To Have Sex', seu filme de estreia, baseou o enredo de seu longa em um acontecimento de sua vida pessoal, pois ela foi abusada sexualmente aos 16... e, assim como Molly, Celine Song também trouxe este lado autobiográfico para seu, também, filme de estreia 'Vidas Passadas'.
Gosto muito dessa combinação Direção/Produção/Escritora, que é o que Celine faz em seu filme, pois é perceptível ali o dedo de quem cria, sem interferências externas, tem puramente sua visão de como deve ser, e como deve ser transplantado para a tela.
Produzido e distribuído pelo poço de criatividade que é A24, meu estúdio de filmes preferido nos últimos 5, 6 anos, 'Vidas Passadas' é um filme que contém muita sensibilidade, muito charme e muita alma. O longa possui, em um contexto mais abrangente, poucas falas, percebemos que o olhar dita mais as regras aqui. Temos cenas onde nada é verbalizado e os olhares se cruzam, em outras cenas os olhares não se cruzam, em outras a conversa rola somente pelos olhares, e isso é algo difícil de ser verossímil em um filme, o diretor tem que ter uma visão ampla do que quer passar, saber tirar o que precisa ser colocado em tela dos atores, e fazer isso parecer verdadeiro, comum, aceitável para o público.
Celine Song, para mim acerta em cheio no que propôs com 'Vidas Passadas', ela cria uma situação verossímil onde Nora e Hae Sung não se veêm a 12 anos, a não ser por vídeo chamadas, e mais tarde levando mais 12 anos para se encontrarem cara a cara. E a cena onde eles se encontram, com tão poucas linhas, focado mais na reação de um ao outro, no olhar que se cruzam entre eles, é muito singelo, algo que foi desenvolvido pela própria Celine Song, como ela conta em entrevistas, com relação ao seus dois protagonistas.
Eu não vou negar que o ritmo do filme transita muito entre, muito parado e um ritmo automático, eu percebi que em muitas tomadas carecia muito de ritmo, era muito parado, demandava um pouco da nossa atenção e paciência... em outras o ritmo estava no modo automático e então fica fácil se desligar de um olhar mais crítico e entrar no universo da história. Mas essa transição pode acabar deixando a experiência um pouco enfadonha para aqueles que não são afccionados por cinema e procuram apenas por entretenimento. Entretanto, é na ambiguidade do que é proposto que está o charme do longa, pois aqui temos uma direção mais focada, centrada, que capta a forma como os personagens se comunicam com o espectador por sua expressão facial. Existem muitas respostas, questões não respondidas, visões de vida, dúvidas, etc, etc nas expressões faciais dos personagens, nas falas que não são ditas... aquela coisa do não verbalizar, que fica engasgado e não se põe para fora porque se enxerga muito no olhar do outro certas posições, certas respostas, certas verdades... e isso Greta Lee e Yoo Teo fazem muito bem. Não só eles, mas John Magaro (Arthur, marido de Nora) também entrega muito bem.
Essa coisa de "Quantas vidas não vividas, cabem em uma vida" é um jogo de gato e rato, é algo que sai de lugar nenhum, e chega a lugar algum. 'E se...', esse pequeno começo de sentença é tão vago, tão ilusório, tão imperfeito, tão incompleto... abre-se muitas vertentes, muitas interpretações, mas não entrega um ponto final, não entrega 'o Concreto', o que se espera, a conclusão, a resposta, é uma conversa que não tem fim. 'Vidas Passadas' é isso, um jogo de gato e rato entre Nora e Hae Sung, correndo atrás daquilo que não se completa, que não traz desfecho, eles se prendem a um conto romântico onde os dois escreveram de forma distintas, mas se encontra no mesmo livro, e as histórias não se cruzam, o desfecho não se entrelaça, eles forçam um amálgama, mas cada um escreve para direções distintas. O longa pode ter em boas partes um ritmo muito parado, uma demora de desenvolvimento de cenas, porém ganha no charme do desencontro, ganha no carisma do carinho dos dois protagonistas, é gostoso vê-los, tanto em cena como por vídeo chamada, ficamos íntimos deles, muitas das vezes me peguei ali, com essas experiências que tive, transplantadas na experiência que eles estão tendo... e quando um filme consegue transportar o que a gente sente, o que a gente viveu, nossas experiências, nossa intimidade, para o que estamos assistindo, nos fazendo se relacionar com o que é passado, sem perder a verdade, e o que os protagonistas querem nos passar... é porque o filme está plenamente no caminho certo.
'Vidas Passadas' também é charmoso em sua direção de arte, muito bem construída e montada por Grace Yun (de Hereditário), que trouxe aquele ar de Nova York para os cômodos dos locais onde Nora morava, principalmente em seu apartamento. E claro, riquíssimo em detalhes e muito inspirado em todas as cenas na Coreia, tanto internas, na casa de Hae Sung e no restaurante que ele frequentava com os amigos, quanto nas cenas externas, como as filmadas na infância dos dois protagonistas.
Um filme bem montado, com todas as cenas importantes que ajudam a pavimentar o caminho dos dois, bem editas em tela, trazendo coesão para o que estamos assistindo.
Shabier Kischner é quem faz a cinematografia (fotografia) do filme, e grande parte do charme das cenas do longa vem daí... Soube captar bem o jogo de olhares dos personagens, enquadrar perfeitamente em cena, facilitar a vida de quem fez a edição do longa, e ainda trouxe cenas lindíssimas da Nova York ao entardecer, da Coreia vista do bonde, e uma sequência ótima de quando Hae Sung na fila para as passagens, entrega um lanche a Nora, de café da manhã... essa cena ficou lindamente fotografada.
Greta Lee e Teo Yoo são duas pérolas para serem lapidadas futuramente em produções que estejam a altura dos dois, espero que não se percam em produções vazias Hollywoodianas que não lhes favoreçam roteiristicamente... pois quando lhes dão um roteiro onde eles têm muito a dizer, mas com o olhar, com o corpo, a forma como se movem, como se comportam na presença um do outro, é simplesmente divina, é pura escola de teatro, é atuação com A maiúsculo. Os dois são um colírio em cana, e por mais que seja vê-los nas cenas aleatórias do longa, Nora com Arthur, ou conversando com a Mãe, e Hae Sung com os amigos na Coreia ou fazendo check-in em Nova York... .o prazer está mesmo em ver os dois contracenando, ali está a alma do filme, é entretenimento puro, parece que somos nós que estamos namorando com eles em cena. Com certeza toda a sequência dos dois em suas respectivas cidades, conversando por vídeo chamada, são as mais prazerosas do filme, que nos hipnotiza em cena e nos transporta para dentro da situação, levando nossa própria experiência passada para dentro do contexto deles, nos deixando mais próximos dos dois, e nos dando dimensão e imersão do relacionamento deles, seja este qual for. Sou só elogios para os dois, e deveriam ser muito mais compensados nesta temporada de premiações, especialmente Teo Yoo, faltou um Oscar para coroar esse seu trabalho tão singelo e ingênuo,. mas tão verdadeiro, forte e impactante. John Magaro como Arthur também foi ótimo, sua sequência na cama com Nora, alternando entre dimensão da realidade e insegurança foi ótimo, e deram um belo texto para ele trabalhar. Os dois atores mirins de Nora e Hae Sung também ~soa muito carismáticos, e possuem muita química em cena, toda sua sequência foi ótima e enriqueceu muito a construção da persona dos dois, para quando ficaram adultos.
Fica aqui também meu registro para a indicação de filme de Nora para Hae Sung, 'Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças', do mestre Michel Gondry, uma obra-prima do cinema moderno, do qual sou FÃ em caps lock, e sempre revejo pelo menos uma vez ao ano.
A trilha sonora é o fino do fino, o uso do piano, a forma como ela é inserida nas cenas, em momentos chave, em como ela dita o caminho que os dois visam para o futuro, ou até mesmo para o presente momento... uma composição singela e impactante. Chistopher Bear e Daniel Rossen, ao que parece, é o primeiro trabalho cinematográfico dos dois compositores, não cheguei a pesquisar a fundo.
Quanto ás indicações, 'Vidas Passadas' levou muitas delas, e muitas são principais: - No Oscar para Melhor Filme e Melhor Roteiro Original; - No BAFTA para Melhor Ator (Teo Yoo MERECIDÍSSIMO), Melhor Filme Estrangeiro, Melhor Roteiro Original; - No Satellite Awards para Melhor Filme Drama, Melhor Atriz Drama (Greta Lee MERECIDÍSSIMA), Melhor Roteiro Original; - No Spirit Awards de Filme Independentes para Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Roteiro, Melhor performance Principal para Teo Yoo e Greta Lee; - No British Film Independent Awards para Melhor Filme Internacional; - No Critics Choice Awards para Melhor Filme, Melhor atriz e melhor Roteiro Original; - No Globo de Ouro para Melhor Filme Drama, melhor Filme em Língua Não Inglesa, Melhor Diretor, Melhor Roteiro e Melhor Atriz Drama; - No Astra Awards para Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Atriz, Melhor Roteiro Original e Melhor Filme de Estreia;
Levou até agora apenas o prêmio de Melhor Filme no Gotham Awards de Filmes Independentes.
'Vidas Passadas' é uma pérola em forma de longa metragem, Celine Song começou muito bem sua carreira no cinema, já sendo indicada ao (nada relevante) Oscar e ao BAFTA e todas as outras grandes premiações, assim com alguns reconhecimentos para Greta Lee e Teo Yoo. Torço muito pelo filme em levar alguns prêmios nas premiações vindouras, principalmente para Teo Yoo no BAFTA e Roteiro Original no Oscar.
Jon Batiste é um músico que pouco conhecia, pois eu o conhecia mais de nome, acho que não havia ouvido nada de sua carreira, o único trabalho mesmo dele que ouvi foi a trilha sonora do filme 'Soul',que realmente é muito boa, da qual ele ganhou um Oscar. Em 2022 ele levou 5 prêmios Grammy, incluindo o mais importante da noite, o Álbum do Ano... eu, como não sou ligado no Grammy, não acho relevante, acho uma premiação muito vendida, não é do meu agrado, acho que na época não dei bola, nem vi os vencedores, não tenho nenhuma lembrança dessa premiação naquele ano.
Realmente eu o fui conhecer, não só como músico, mas como pessoa, agora neste documentário 'American Symphony' que o acompanha no período de ' ano, onde ele está indicado ao Grammy e compondo essa sinfonia homônima que vai ser apresentada somente uma única vez no famoso 'Carnegie Hall' em Nova York, ao mesmo tempo que ele acompanha sua esposa, Suleika Jaouad, que tem Leucemia e está prestes também a fazer um segundo transplante de medula em sua vida.
O diretor Matthew Heineman, que também é o editor e o diretor de fotografia deste documentário, conseguiu nos trazer cenas bem íntimas da vida do casal... mas não intimidade conjugal, mas sim intimidades verbalizadas, coisas que só dizem ao respeito do casal, foram captalizadas pelo diretor, conversas sobre medos, inseguranças, possíveis falas de esperança, coisas relacionadas à doença de Suleika... temas que dificilmente Jon traria abertamente para entrevistas em programas e rádios, onde não seria assim tão aberto para a imprensa e público... esse é um dos bons pontos do filme.
Acho que o principal charme do documentário é essa batalha de Suleika contra a leucemia, contra o câncer que enfrenta. Como fica claro pelo médico dela no filme, não tem cura, é uma batalha diária, mensal, anual, o câncer entra em remissão, mas pode retornar em 5 anos, em 10 anos, como foi este último caso, e novamente ela volta a lutar contra ele com remédios e sessões hospitalares, como a quimioterapia, que será algo permanente na vida dela. É incrível a força que ela encontra para lutar contra a doença, fazer todas as sessões no hospital e ainda dar suporte ao seu marido que está fazendo shows, compondo uma sinfonia complicada e dando seu apoio a ele também na premiação do Grammy. Mesmo lutando pela vida, passando em hospitais do que em casa, ela tem uma força de vida muito grande, esperança e desespero amalgamado dentro do coração dela.
Já Jon Batiste também é outro que encontra forças de algum lugar que eu acredito que ele nem saiba que existe dentro de si, pois o homem não pára, é uma máquina de fazer música e de ideias... e tudo isso em meio a doença e internações da esposa. Ás vezes se comunicando com ela apenas por FaceCam, seja ela estando em casa ou no hospital... tem dias que ela está péssima, com sangramento, com náusea e outras coisas, e ele pela FaceCam tentando animá-la, tentando passar essa força, mas com certeza querendo estar com ela naquele momento.
Jon realmente não para, durante o documentário, ele está se apresentando pelos EUA, está ensaiando com sua orquestra para a vindoura Sinfonia, que será apresentada em um lugar tão emblemático como o Carnegie Hall, onde já passou Mahalia Jackson e tantos outros grandes nomes da música preta americana. Em casa, também não consegue se desligar, sempre tem algo surgindo na sua cabeça em termos de criação, fora as noites de sono perdidas e os períodos de inquietação, pelo fato de possuir ansiedade, que ele tem no momento devido a pressão da responsabilidade que tem em apresentar sua sinfonia, de uma forma perfeita, e a preocupação, claro para com sua esposa.
Jon é a mais pura representação do que é a música, do que é um musicista, mesmo eu não estando 100% familiarizado com seu trabalho, e também não sendo um dos ritmos musicais que eu mais aprecie para ouvir diariamente... não tem como não se empolgar com seu trabalho e não respeitar tudo o que ele cria ano após ano. Seu número no Grammy é incrível, um espetáculo a parte... suas mais distintas colaborações musicais e criações musicais são de tirar o chapéu e de se inspirar qualquer músico, e também qualquer pessoa comum que seja apaixonada por música. Ele não se prende a fórmulas seguidas pela grande maioria dos músicos pretos da atualidade nos EUA, e sempre cria algo que seja do seu gosto e que possua uma harmonia que lhe satisfaça... indo do R&B ao POP, do Jazz à música clássica... e há essa bronca dele com a imprensa e/ou pessoas em geral de que ele não pode ser pop e clássico ao mesmo tempo... essa é uma cena que eu gostei bastante particularmente, e acho que ele responde muito bem.
O ritmo do filme de Matthew Heineman, não vou negar, não é dos mais favoráveis, sendo que o começo realmente é um pouco devagar, e vai se seguindo num ritmo um pouco enfadonho... pra quem gosta de assistir qualquer obra cinematográfica, mesmo nas partes desfavoráveis de um trabalho, nós seguimos acompanhando de olho para ver se temos uma mudança no que está sendo apresentado, e óbvio seguimos nos entretendo com o que estamos acompanhando. E do meio do documentário pro final, esse ritmo aos poucos vai se consertando, eu acredito que irá ficar mais saboroso para o público comum, a medida que a apresentação sinfônica vai se aproximando.
Não deixa de ser um ótimo trabalho entregue por Heineman, e inicialmente eu me questionei o porque de não conseguir uma indicação ao Oscar, coisa que para mim já estava sacramentada... mas agora confesso, que entendo o porque de uma não indicação. O documentário é ótimo, eu particularmente gostei muito, mas peca um pouco no ritmo, ás vezes fica muito preso, nós percebemos mesmo que Jon está um pouco tenso durante o documentário, o que o faz ficar desconexo em alguns momentos do filme, pela pressão de tudo o que está vivendo no momento, muitas coisas ao mesmo tempo. O resultado é bom em termos de entretenimento, mas não favorável em termos de indicação.
Apesar de tudo, o documentário recebeu boas indicações: - Melhor Documentário no BAFTA, no Satellite Awards, Astra Awards; - Melhor Canção para 'I Never Went Away' no Oscar, no Satellite Awards; - Melhor Som no Satellite Awards; Merece ao menos uma lembranã em alguma categoria pelo ótimo documentário que ele é, ficarei na torcida.
Um bom filme para conhecer Jon Batiste, como pessoa e como músico, para buscar o trabalho dele, para conhecer...e para enaltecer o casamento dos dois, Jon e Suleika, um completa o outro, e os dois se preenchem de forças para suportar tudo que avida lhes trouxer nos caminhos à frente.
POSSUI SPOILERS...NÃO LEIA SE NÃO ASSISTIU! Eu ia dizer que não entendo como as pessoas que comandam as produções cinematográficas francesas conseguiram fazer a burrice e a estupidez de não escolher este filme como representante da França no Oscar deste ano. Seria o prêmio mais fácil da história, junto a 'Drive My Car' e 'Parasita' que levaram todas as premiações em Filme Estrangeiro nos últimos anos. Mas aí eu lembro que tudo envolve política, assim como foi no Brasil, nos muitos anos de filme ótimos nacionais que podiam ser escolhidos para representar o país, mas por questões puramente políticas, eles indicavam outros e o Brasil fica aí com ótimas produções que sequer ficam duas semanas em cartaz.
'Anatomia de Uma Queda' de Justine Triet, diretora do ótimo Sybil, é sem dúvidas um dos melhores filmes estrangeiros de 2023, sendo que é muito difícil você encontrar por aí filmes que são tão verossímeis, tão autênticos, tão honestos e verdadeiros, com uma entrega de atuação sem igual, uma paixão pela obra a ser representada, que o resultado não seria menos que esse... perfeição.
Dirigido e escrito por Justine Triet, em parceira com Arthur Harari, 'Anatomia de Uma Queda' tem um de seus charmes em seu roteiro, que foi cuidadosamente e meticulosamente escrito pela dupla. Houve ali um cuidado para que nenhuma ponta solta ficasse desfavorável ao espectador, que os acontecimentos passados se intercalariam com as apresentações presentes, que os personagens principais mesmo tendo muitas e muitas falas, eles se comunicariam mais com o espectador com olhares, com trejeitos, com música, com verdades e dúvidas, coisa rara de se conseguir dos seus personagens com tamanho êxito em cena.
Aqui nós temos um possível crime, um possível acidente, sem testemunhas, mas que só leva a um caminho, a uma possível culpada... é isso o que o advogado de acusação, interpretado pelo perfeito e ótimo Antoine Reinartz, deixa claro em sua acusação. Traz todas provas, evidências, e argumentos que deixam qualquer acusado recuado, sem palavras, sem uma defesa contundente, ele entra na mente do acusado e aluga muitos apartamentos lá... mas não com Sandra. O julgamento foi muito bem escrito pela dupla de escritores, e muito melhor ainda filmado por Justine, foi muito bem conduzido, seu trabalho de pesquisa trouxe um julgamento fiel, sem todo aquela pompa e show que conhecemos quando temos um julgamento amplamente coberto pela mídia, ou quando o crime é deveras hediondo... claro, aqui temos um possível assassinato, ou um suicídio, ou um acidente, temos a mídia... mas é conduzido de forma normal, sem tantos alardes, e o trunfo de Justine é que as provas, evidências, as defesas e as acusações, falem por si só... praticamente Justine apresenta toda a sequência de Julgamento para nós, nos colocando na pele de um dos jurados... cada um de nós que estamos assistindo no cinema ou em casa, somos um dos jurados daquela sessão. Por isso o texto é tão rico, recebeu essa atenção enorme dos roteiristas, os atores que fizeram os advogados foram ótimos, nos passarão aquela imersão, não os enxergamos como atores, mas como advogados mesmo, e a forma como acusam Sandra, como a defendem também, e a forma como ela se posta, como ela declama os fatos, seus pensamentos, seus medos, são nada mais que verossímeis, e nos coloca na pele de jurados, mesmo sem querermos tal posto. Qual seria o nosso veredito?
Temos inúmeras cenas de reconstituição, que ajudam o filme a ter mais charme, mais imersão, e temos todo o relacionamento de Sandra com seu advogado, Vincent, onde aos poucos descobrimos que existe ali um sentimento fortíssimo dele para com ela, e um carinho honesto e tenro dela para com ele. Coisa que já está bem explícita assim que ele nos é apresentado ao chegar na casa de Sandra.
O outro charme do longa está nos outros dois atores que comandam o longa... Sandra Hüller e Milo Machado-Graner; Sandra é uma força da natureza em cena, em várias delas, logo na cena inicial em sua conversa com Zoé mostrando muita desenvoltura e, como mesmo descreve o advogado de acusação, sedução... a cena em que ela interrompe o homem que trouxe o pen drive com a discussão entre Sandra e Samuel... e principalmente na cena onde Sandra e Samuel discutem no flashback que é o conteúdo do pen-drive, onde ali os dois atores dão um show de atuação, com Sandra chegando em seu ápice ao jogar muitas coisas na cara de de Samuel falando sobre sua generosidade, e seu medo em falhar, em como ela não tem culpa nenhuma, e ele é o único culpado, em chegar aos 40 sem conquistar o que esperava e jogando essa culpa nela...perfeita para não dizer divina em cena. Sandra morreu e encarnou outra Sandra, foi isso que aconteceu, pois ela nos conduz o filme todo, é impossível você não torcer por ela durante o longa, principalmente nas cenas onde ela está sendo acusada, ao mesmo tempo, que ficamos com dez mil pulgas atrás da orelha com relação a ela, e em vários momentos iremos nos pegar pensando, "não tem como, essa mulher deve ter empurrado Samuel, deve ter atacado ele", conseguimos enxergar uma certa repulsa dela em relação ao marido que produz o fracasso dele nela, e em como isso a afeta, a incomoda, e o quanto ela não se perdoa 100% pelo o que aconteceu a Daniel, seu filho.
E por falar em Daniel, para mim, pessoalmente, Milo Machado-Graner é a alma do filme... toda a mídia elogia muito a atuação de Sandra neste longa, e eu acabei de fazer isso e reconhecer... mas é Milo para mim, que é um matador neste filme. Esse garoto não é um força da natureza, ele é um poder divino em forma de ator. Que atuação MAGISTRAL, COLOSSAL, um adolescente entregar uma atuação daquela, com apenas dois filmes no currículo, como criança ainda, e trazer tanta alma, tanta ingenuidade, tanta verdade para seu personagem, tanta força na cena onde ele depôs contando a conversa que seu pai teve na volta do veterinário, na cena onde ele encontra o pai morto, na cena onde ele chora lamentando a perda do pai ao ser confortado por Monica, nas cenas da reconstituição, na cena da conversa com a Juíza que lhe pedia para não ir mais ao tribunal, na cena que conforta a mãe ao final do filme...são tantas as cenas com este garoto de grandeza, de força, de atuação em seu nível mais alto. A cena onde ele dá os tranquilizantes pro cachorro, e logo depois sua pequena conversa com Marge ao ar livre... e todas as suas cenas ao piano, cenas magistrais, onde ali ele se comunicava verdadeiramente com o espectador, ali ele realmente mostrava os traços de sua personalidade, e podíamos enxergar o que Daniel estava passando, o que ele queria botar pra fora, como se sentia com toda aquela situação horrenda. Magnífico. Por falar no cachorro, eu que amo muito animais, como fiquei aflito achando que ele ali já era... me segurei na poltrona, com força e torci, mas torci... hahahahahahahaha.
No longa ainda temos Samuel Theis que fez o marido de Sandra, e para mim, quando atuou com ela e quando fez o pequeno discurso para Daniel, na voz de Daniel, no carro voltando do veterinário, foi ótimo, um ator que esteve a altura do personagem e do longa que participou.
Temos uma atriz que gosto muito, mas como cantora, Jenny Beth fez Marge, a assistente mandada pela juíza para ficar com Daniel em sua casa... Jenny fez parte de uma chamada 'Savages' e conheci ela quando participou do disco 'Humanz' da banda Gorillaz de Damon Albarn (vocalista do Blur), ela participou da faixa 'We Got The Power' junto a Noel Gallagher (do Oasis, banda que sou fanzaço-aço). Jenny mata nessa faixa, principalmente ao vivo, onde a música ganhava muito mais vida que a versão de estúdio... tem uma entrevista muito bacana dela e de Damon no Youtube do programa Graham Norton Show, onde eles apresentam a faixa ao vivo e conversam com o apresentador e os convidados Kevin Bacon, The Rock, Jessica Chastain, Kevin Hart... muito boa e engraçada... ela ainda veio aqui no Brasil se apresentar ano passado no Lolapalooza.
Já citei o ótimo Antoine Reinartz, achei ele magnífico como advogado de Acusação... ótimo em cena, perfeito nas colocações, o texto lhe favoreceu muito, e acharam o ator correto para ser firme contra Sandra e seu advogado...era um deleite ver ele em cena atuando daquela forma...gostei demais dele.
E, Swann Arlaud, que fez Vincent, o advogado de Sandra, que esteve ótimo durante todo o filme, mas gostei mais dele no começo, antes do julgamento, aquela coisa que ele escondia sobre Sandra, mas estava escancarado em sua cara... e nas cenas onde ele se contrapõe ao advogado de Reinartz, onde ele entrega uma atuação muito convincente.
A trilha é espetacular, sempre ao som de piano, bem suave, bem tenso, ela vai em uma crescente onde se torna acusatória, e depois volta mais densa, mas inocente... é um contraposto ótimo que deixa as cenas mais vivas, expressa os sentimentos dos personagens em cena, e cria momentos que casam perfeitamente com o que o filme quer provocar no espectador.
A grande proeza de 'Anatomia de Uma Queda' está em toda sua experiência ao acompanhar o longa, está no texto de Justine Triet e Arthur Harari, está na conexão com os personagens do longa, Sandra, Daniel e Samuel, está nos deleites do embate na corte, está no desvendamento dos aspectos pessoais e íntimos de Sandra e de Daniel. Aqui, pouco importa o que realmente aconteceu, qual é o final do filme, se ela o assassinou mesmo, se foi um acidente, se foi suicídio, se as palavras de Sandra influenciaram no suicídio de Samuel... essas coisas não tem importância, total, o que conta mesmo é a experiência com a criação de Justine e Arthur em uma história que nos imersa em personagens interessantíssimos, e em como eles se relacionam conosco de várias e diversas formas. Hoje em dia, o público geral procura muito o famoso 'Plot Twist', um filme não feito de Plot Twist, ou só de Plot Twist, isso é muito pequeno, muito ínfimo... quem vai procurando apenas isso para verbalizar que gostou ou não de um filme, vai apenas perder o seu tempo, é bom procurar outra forma de se entreter... um fllme é muito, mas muito mais que apenas um singelo 'Plot Twist'.
'Anatomia de Uma Queda' recebeu uma chuva de indicações: - No Globo de Ouro para Melhor Filme Drama e Atriz Drama; - No Critics Choice para Melhor Atriz; - No Satellite Awards para Melhor Filme Internacional, Atriz Drama e Melhor Roteiro Original; - No Astra Awards para Melhor Filme Internacional, Melhor Diretor Internacional, Melhor Atriz Internacional e Melhor Roteiro Original; - No BAFTA para Melhor Filme, Melhor Filme em língua não-inglesa (Estrangeiro), Melhor Diretor, Melhor Atriz, Melhor Roteiro Original, Melhor Elenco e Melhor Edição; - No César Awards, o Oscar Francês, para Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Atriz, Melhor Ator Coadjuvante (Swann Arnaud e Antoine Reinartz, Justísssimo), Ator Promissor (Milo Machado-Graner, Justíssimo), Roteiro Original, Melhor Som, Melhor Edição, Melhor Design de Produção; - No Spirit Awards de filmes independentes para Filme Internacional; - No Oscar para Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Atriz, Melhor Roteiro Original e Melhor Edição;
Agora os prêmios que já abocanhou: - A Palma de Ouro no Festival de Cannes, e a Palm Dog, que é o prêmio para atuação canina... sim, o Snoop ganhou um prêmio em Cannes. - O Gotham de filmes independentes levando Melhor Roteiro e Melhor Filme Internacional; - O British Independent Film Awards levando Melhor Filme Independente Internacional; - O European Film Awards levando Melhor Editor Europeu, Melhor Filme, Melhor Diretora Europeia, Melhor Roteiro Europeu, Melhor Atriz Europeia, e o University Film Award, prêmio votado por Universitários Europeus; - No Globo de Ouro levou Melhor Filme em Língua Não-Inglesa e Melhor Roteiro; - No Critics Choice levou Melhor Filme Estrangeiro; - No Goya Awards, o Oscar Espanhol, levou Melhor Filme Europeu;
No Oscar seria o meu favorito, como fizeram esta bela cagada, parabéns França, vou torcer para levar mais uma ou outra premiação, pois até aqui já levou tudo até o momento, e ainda pode levar o BAFTA, tanto como Filme Internacional como Melhor Filme. E todos sabemos que a Academia não irá premiar 'Anatomia de Uma Queda' como Melhor Filme... 'Parasita' será a exceção por muitos anos, afinal os prêmios da 'Acadimia' é pra prestigiar os profissionais norte americanos, não os filmes de fora.
Mas sim, 'Anatomia de Uma Queda' é uma obra prima francesa e até aqui o melhor e definitivo trabalho de Justine Triet. E mais, a Anatomia aqui não é a da queda em si, de Samuel, mas a Queda do casal com o passar dos anos, o quanto este casamento foi se destruindo após o acidente de Daniel... é essa anatomia de queda que testemunhamos no tribunal com os fatos, falas e áudios apresentados. Plot Twist o caramba!!!
(Assistido em 10/02/2024 - Instituto Moreira Salles de Cinema)
Baseado no livro de mesmo nome escrito por Ibram X. Kendi, "Stamped From The Beginning" é um documentário narrado pelo próprio Kendi, e dirigido por Roger Ross Williams (de Love To Love You Donna Summer) que conta a origem do racismo na história americana.
Para contar sobre essa onda gigante de Racismo que existe nos Estados Unidos da América, Kendi volta até a básica e bem possível origem de tudo, 1444 quando descobriram que era muito mais prático e seguro escravizar os negros que habitavam o continente africano, do que os eslavos que podiam se rebelar facilmente e se misturar à multidão com a mesma facilidade justamente pelo fato de serem brancos... e nos ensina de onde vem a origem da palavra Escravo.
O documentário é basicamente uma aula como você nunca teve na sua vida, sobre qualquer assunto... se nós crianças e adultos, fossemos educados desta forma, podem ter certeza que teríamos uma parcela mínima e ínfima de pessoas ignorantes transitando e vomitando merda nesta terra.
Desde a o século 14, passando por 1600, 1700, 1800, traçando toda uma linha que segue minuciosamente mostrando como o branco que está no poder vai minando e diminuindo a cultura preta, os costumes pretos, a riqueza preta, a arte preta, e como usa palavras depreciativas e pontos de vista duvidosos e nada eloquentes para deixar o povo preto sempre um degrau abaixo. (Um degrau não, dez degraus abaixo)
Kendi, junto a um grupo de mulheres pretas, que possuem posições altas no EUA na questão de historiadores, também ajudam a desmitificar grandes nomes da história norte-americana que de alguma forma são vistos como salvadores dos direitos dos pretos, ou que ajudaram os pretos terem mais liberdade ou dignidade com suas ações ou políticas. Alguns deles, como Thomas Jefferson, chega a ser elucidador, pois pessoas leigas como eu, tinham uma visão do ex presidente americano, o que nos era mostrado em produções especiais, filmes, séries, matérias, documentários, enfim... quem nunca foi a fundo pesquisar ou conhecer, como eu, não tinha a menor noção de algumas das falas e posições do homem que ficou conhecido por libertar o preto da escravidão na América.
Kendi traz até os dias de hoje, os dias atuais, colocando George Floyd, entre outros casos de racismo na América, em foco, e nos mostra como tudo que foi construído, láááááááá atrás, está enraizado nos dias de hoje, ajuda a explicar o porquê de uma grande parte dos norte americanos serem conservadores, por se considerarem superiores pela cor da pele, por achar que os pretos não merecem dividir a América com eles, por acharem inferiores e por aí vai.
Uma verdadeira aula, é o que o documentário realmente é, algo minuciosamente explicado, e como nos mostra o quanto não sabemos de nada da cultura preta, o quanto a luta precisa ser evidenciada, e o quanto o povo preto precisa levar uma vida de liberdade, de dignidade, sem medo, com respeito, prosperidade, sem atos racistas de pessoas que nem sabem o que estão fazendo, são ignorantes, que foram ensinados a odiar ou a diminuir por uma sociedade que faz vista grossa para as tantas minorias que existem no planeta, e que normalizam atitudes e falas e atitudes e costumes que hoje em dia não são mais bem vinda, que não são mais práticas usadas por pessoas decentes e evoluídas.
O documentário está indicado ao Satellite Awards na categoria, claro, de Melhor Documentário. e um fato curioso é que Roger Ross Williams, que dirige este documentário, também está indicado na categoria por mais um documentário, 'Love To Love You, Donna Summer), ou seja, duas chances de ganhar :).
Trailer bom é assim, não entrega nada...quero ser surpreendido na sala de cinema sem spoilers..
Mas já deu pra ver ali o Pyro, Aaron Stanford de X-Men 2 e 3... fora uma HQ de Secret Wars. E mais Logan com sua versão dos tempos Madripoor, 'O Caolho'!
Com certeza 'A Sociedade da Neve' era um dos filmes que eu mais estava curioso, ansioso, para conferir. Diferente de muitas pessoas, apesar de ter ciência desse trágico acidente, nunca assisti 'Vivos' de 1993, que retratou os acontecimentos desta tragédia baseado em um dos inúmeros livros lançados que relatam o que aconteceu naquele fatídico dia e nos meses subsequentes.
Para mim o impacto do filme deve ter sido bem maior do que foi para outras pessoas que não estavam familiarizadas com os detalhes do que se passou na cordilheira dos Andes. Eu até fico meio perdido nas palavras para fazer essa resenha, porque foi tão impactante o filme em mim, todos os detalhes, tudo o que eles passaram, tudo o que se sucedeu entre aquelas montanhas, naqueles dois meses... que toda a parte técnica do filme ficou em segundo plano pra mim, o tanto que o filme me envolveu e me prendeu na frente da tela.
Sequer dá pra mensurar os horrores que os sobreviventes passaram naqueles mais de 70 dias, em um dos lugares mais inóspitos do mundo, onde não havia exatamente nada...NADA, luz, água, comida, banheiro, higiene íntima, roupas novas, calçado, enfim... Imagine passar a noite em um frio a 30° negativos, em uma geada absurda, em um dos lugares mais gelados do mundo, sem a proteção adequada para sobreviver... o quão doloroso deve ser morrer de frio, sofrer com a pele queimando de não conseguir suportar tal temperatura imprópria para qualquer ser humano.
Um dos maiores desesperos deve ser você ouvir em um rádio depois de 10 dias, que as buscas pelo seu avião serão encerradas, por acharem que você e as demais pessoas estão mortas, por ser impossível sobreviver a tais circunstâncias... o que se passa na cabeça nessa, saber que você está largado para a morte, que não há esperança de escapar dali com vida, que ninguém aguentará uma caminhada de dias, semanas, até algum lugar que seja menos frio, ou que tenha água... que quando sua hora estiver chegando, ninguém poderá fazer nada e você sofrerá até que seu último suspiro chegue...
Uma das cenas que mais me impactou, foi a avalanche que soterrou os sobreviventes dentro da carcaça do avião, onde todos riam, e brincavam e nutriam esperanças... e uma avalanche os varre de surpresa, sem aviso, matando algumas dessas esperanças... Algumas dessas pessoas, infelizmente morreram soterradas no gelo, sem ar, sufocadas, sem poder se mexer... o quão horrível deve ser essa sensação...eu me peguei pensando nesse momento toda a madrugada depois de ver o filme. O esforço de Canessa e Carlitos Paez para retirar seu colegas a tempo, sendo que uns eles conseguiram e outros infelizmente não deu tempo... as mãos queimando para se retirar o gelo suficiente para poder puxar seus camaradas, o cansaço físico para escapar do gelo, puxar seus amigos e cavar gelo sem parar na busca por mais sobreviventes... para logo em seguida, vir uma segunda onda da avalanche e soterrar todos de vez.
Quatro dias...imaginem...QUATRO DIAS, soterrados debaixo do gelo, com receio de faltar ar, sem comida, sem água, sem banheiro, pouco espaço, sem poder escapar pois a tempestade ainda está ocorrendo do lado de fora, e será pior se tentarem escapar, podem ficar mais soterrados ainda ou então morrer com o frio. Deve ser muito agoniante e angustiante, não saber quando poderão sair, se conseguirão sair... quatro dias é muita coisa, debaixo da neve, no escuro, com pouca iluminação, as horas demoram demais para passar, você não consegue distinguir dia de noite, e sequer sabe exatamente quantas horas se passou lá embaixo.
Eu sou uma das pessoas que achou que Numa não iria morrer, não conhecia a história a fundo, fui conhecer o básico com este filme, mas depois que ele cortou o pé, estava bem na cara, aquilo iria infeccionar e o óbito era só questão de tempo... e Numa foi corajoso, foi um herói também, todos ali foram.
Comer carne humana deve ser o ponto mais polêmico do filme, do que sucedeu lá, a cabeça da pessoa deve entrar em curto circuito ao perceber que, ou você come carne humana para sobreviver, ou irá morrer... a coragem que os outros tiveram para cortar as partes dos cadáveres, o sangue escorrendo, o xixi preto que saía, uma vez que não tinha mais líquido para expelir do organismo.
Se for pra falar do filme em si... a cinematografia é perfeita, fizeram um trabalho estrondoroso, incrível, de saltar os olhos nas muitas das cenas do longa. A maquiagem dos personagens, a forma como seus olhos escureciam, as manchas pretas, a carne se decompondo com o frio, o corpo esquelético mais para o fim do filme, realmente um trabalho muito bem feito. Toda a cenografia interna da carcaça do avião, os figurinos, a cenografia quando as cenas ainda se passavam no Uruguai, antes de eles viajarem... toda a sequência da partida de Rugby, bem filmada, bem coreografada, be detalhada. O filme é bem rico em seu 1º ato, divertido, nada enfadonho, faz você fazer parte daquele time, daquele circulo de amizade.
A direção de Juan Antonio Bayona é esplêndida, um trabalho meticuloso, dedicado, profissional, detalhado, muitos takes difíceis de se realizar, várias tomadas incríveis, como o do próprio soterramento, o do começo do filme com a sequência da jogada da partida de Rugby, toda a sequência do acidente, desde a conversa descontraída do pessoal no avião, passando pela turbulência e logo depois o acidente em si, com riqueza de detalhes, que deixam o espectador se segurando na cadeira com o coração na mão...parece que você está caindo junto com eles. A direção de Bayona é tão imersiva, tão perfeita, que a impressão que fica é que você estava naquele avião e na Cordilheira com aquelas pessoas esse tempo todo.
O elenco é perfeito, é ótimo, é a alma do filme...com destaque para Enzo Vogrincic Roldán, que interpretou Numa, um dos protagonistas, que teve uma atuação magnífica, surreal, uma entrega total ao personagem, dava para perceber o horror do que estava vivenciando em sua atuação. Agustín Pardella que fez Nando Parrado foi outro que se destacou, seu personagem cresce muito depois que ele passa pelo luto de perder a irmã e se torna uma espécie de força moral, de guia para os demais sobreviventes... é ele quem mais quer organizar uma ida além das montanhas para chegar ao Chile, e fazer algo ao invés de sentar e esperar um milagre de uma ajuda que nunca chega. Goste demais da atuação dele, cresce muito na parte final do longa. Eu não vou citar todo o elenco, senão vão ser linhas e mais linhas, gostaria muito de citar um por um... mas realmente todos estão ótimos no filme, contribuem muito para imersão dos fatos, trazem verocidade para seus personagens, e nos prendem, nos cativam, e nos faz torcer por cada um deles enquanto acompanhamos este magnífico trabalho.
A trilha sonora é de Michael Giacchino, que dispensa apresentações, mas mesmo assim cito, 'Up - Altas Aventuras' e 'The Batman' como compositor, 'Super 8' como ator, e 'Lobisomem da Noite' como diretor... e sua música para o filme é um dos seus pontos altos na carreira, trabalho primoroso, que se conecta com as cenas e principalmente com os personagens, nunca vi uma trilha se mesclar tão perfeitamente com as emoções dos personagens, acho que só em 'Perdi Meu Corpo' também da Netflix. Giacchino é um dos melhores compositores do Cinema, e um músico que me inspira muito com certeza.
Juan Antonio Bayona produz e também roteiriza junto a mais três escritores o longa, e o roteiro foi muito bem elaborado, muito bem escrito, as falas são muito poderosas, não deixaram as partes mais impactantes do livro de fora do corte final, nem as falas mais emblemáticas, como "eu autorizo vocês a se alimentar dos corpos de minha mãe e minha irmã" proferidas por Nando Parrado. Para mim, pessoalmente, é um roteiro 10/10, sem mais.
O longa foi lembrado em algumas premiações desta temporada: - No Oscar está indicado a Filme internacional e Maquiagem/Cabelo; - No Satelitte Awards a Filme Estrangeiro e Trilha Sonora; - No BAFTA a Filme Estrangeiro; - No Globo de Ouro perdeu em Filme Estrangeiro para 'Anatomia de Uma Queda'; - No Critics Choice Awards perdeu em Filme Estrangeiro também para o filme de Justine Triet e Melhor Compositor para Ludwig Göransson de Oppenheimer; - No Astra Awards foi indicado a Melhor Filme Internacional, Melhor Diretor Internacional e Melhor Ator Internacional para Enzo Vogrincic (uqe fez Numa); - No Goya Festival, premiação espanhola, está indicado a Melhor Filme, Melhor Diretor para J. A. Bayona, Ator Revelação para Matías Recalt (que fez Roberto Canessa, merecidíssimo), Roteiro Adaptado, Trilha Sonora Original, Efeitos Especiais, Fotografia, Maquiagem e Cabelo, Direção de Produção, Melhor Som, Melhor Montagem, Melhor Figurino, Melhor Direção Artística (Ufa!!); - Até o momento levou apenas o European Awards de Maquiagem e Cabelo e Efeitos Visuais.
Só não vou considerar 'A Sociedade da Neve' como Obra-Prima, porque usando do bom-senso, o filme é muito bom, muito bom mesmo, mas é um filme baseado em fatos verídicos como qualquer outro, e cumpre bem o seu papel de contar o que se sucedeu com aquelas pessoas. Em mim teve um impacto gigantesco, onde passei a madrugada toda, e o dia seguinte com o filme na cabeça, e as cenas, e os personagens, e me imaginando no lugar deles... e isso faz para mim um grande filme, um filmaço com F maiúsculo, com a melhor direção,a melhor trilha, as melhores interpretações... enfim... falta ainda eu conferir os pesos pesados em Filme Internacional, como 'Anatomia de Uma Queda', 'Zona de Interesse', 'Vidas Passadas', 'lo Capitano', '20 Days in Mariupol', entre outros... mas já é de longe o meu preferido a princípio.
Quem é o Monstro? Quem assistiu se arrisca a dizer? Nomear uma só pessoa? Duas? Três? Um grupo de pessoas? O monstro é uma ideia? O monstro é uma sociedade? O monstro é uma educação?
Hirokazu Kore-eda, diretor de 'Assuntos de Família' e de 'Broker - Uma Nova Chance' (filme que tive várias chances de ver, inclusive de graça e bestamente ainda não vi) traz um dos melhores filmes de 2023, com um roteiro muito bem construído, escrito, elaborado,. com várias vertentes e trazendo um tema muito mais do que comum já de muitos anos... Bullying, preconceito, aceitação de identidade, inocência, mentiras.
A sinopse já diz, mas o filme trata de Minato, uma criança cujo pai faleceu e mora com a Mãe, um dia após um prédio se consumir em chamas, ele chega da escola com um comportamento diferente, corta as madeixas, outro dia chega só com pé tênis, sua garrafa térmica está com barro ao invés de água, e ele não se abre com sua mãe. Ele apresenta comportamentos deveras estranhos e confessa que está sofrendo maus tratos de seu professor, Hori, sendo assim, sua mãe vai até a escola tirar satisfações com o professor, junto à diretora e o resto da diretoria escolar. Sua mãe, Saori, também vai até a casa de Eri, um amigo de Minato da escola, para buscar entender porque seu filho está estranho e se os dois brigaram mesmo na escola, segundo Hori. Esse é o ponto de partida do filme, que irá apresentar ao espectador três pontos de vista diferentes... primeiramente o da mãe, em seguida o do professor, Hori, e por último, amarrará todas as pontas apresentadas pelo ponto de vista de Minato e Eri.
Para quem viu o trailer como eu, imaginava que o filme seria uma coisa... algo mais levado para o lado do Thriller-Horror, que teríamos algo hediondo, algo que impactasse, que seria o segredo do filme, que o título do filme se fizesse presente, e possivelmente estaria linkado a algum personagem do longa (ou o mais óbvio deles). Porém, para minha total surpresa, o filme é exatamente o oposto de tudo o que eu pesava ou o que o trailer sugere que aconteça no longa, independentemente do que você espera do filme após ver o trailer.
Enquanto assistia ao filme, eu tentava desvendar o que poderia estar por trás dos acontecimentos apresentados, e comecei a pensar que o filme dava pequenos detalhes para que um dos personagens do longa você o autor de tais atos, que ele poderia ser o 'Monster' do título. Ás vezes, não fazia muito sentido, mas os detalhes deixavam claro que ali estava guardado a principal resolução do filme. Depois, percebi que o filme na verdade queria me induzir a achar o que eles queriam que eu achasse... depois você percebe que não tem absolutamente nada a ver com o que você estava pensando, e também pouco tem a ver com o que talvez você deduza ao ver o 2º ato do longa, que envolve o professor Hori.
É incrível como Kore-eda constrói uma trama, onde o tema que ele quer tratar, está tão escondido, tão enterrado, tão invisível com relação a outros fatos,. que quando isto vem a tona, quando você realmente se toca do que verdadeiramente está acontecendo, é como um soco na boca do estômago, e não tem como você não se sentir culpado, porque você seria uma das pessoas que sequer enxergaria o que estaria acontecendo e o porque de tais atos de ambos os lados.
É claro que não vou falar abertamente aqui, para não dar Spoilers, nem vou fechar com a marcação de spoiler para ninguém se sentir tentado a ler... deixo aqui meu conselho a quem está lendo e quer conferir o longa...vá assistir, pare de ler os demais comentários da página, vá se surpreender por conta própria... é um roteiro lindíssimo, bem costurado, é um labirinto que você só vai começar a sair perto do fim do longa.
Mas o que acontece ali no final do longa, em seu 3º ato, envolvendo os dois protagonistas (ou coadjuvantes se preferirem), é algo mais que comum que acontece nos dias de hoje. A falta de diálogo, de entendimento, faz com que algumas pessoas se afastem, não se abram, não se sintam seguras... O mesmo digo de alguns comentários que para alguns não tem nada demais, nada de ofensivo, é apenas uma brincadeira... mas para quem sente na pele, enxerga um mundo em que se sente solitário, que não pode confiar em ninguém onde todos pensam diferente dele(a), onde não se encontra uma brecha para se abrir, para verbalizar, para entender, para ouvir... e por um comentário assim, que para alguns é nada demais, a pessoa se isola, não se abrirá com quem proferiu o comentário e com mais ninguém, achará que todos são iguais e pensam da mesma forma...e aí, com quem vou conversar, me abrir, desabafar, aprender, quem vai me aconselhar? Então eu tenho um problema, preciso me tratar ou algo do tipo?
Uma vez eu tive que lidar com algo que tem mais ou menos a ver com o tema do longa... vieram até mim, queria conversar, não tinha ninguém para falar, a família não ouvia ou entendia, os amigos muito menos, sequer éramos próximos, era oi, tudo bem, e só... eu mesmo nem imaginava... mas veio me procurar, falou comigo, muita coisa, mas muita coisa... eu aconselhei, da melhor forma que pude, conversei, ouvi, entendi, aconselhei com bom senso, sempre respeitando o ser humano a minha frente. Hoje, me sinto orgulhoso de ter agido corretamente, emprestei meu ouvido, meu tempo, aconselhei, dei atenção, fiz o que um ser-humano faria por outro. Acho que ficou bem claro do que o filme fala, certo? Para quem ainda não viu... tá bem na cara, porém, além disso existem muitas outras camadas citadas lá no começo da minha resenha.
'Monster' é um filme tão bom, tão envolvente, tão direto no que quer tratar, e com tantas camadas, que os demais tópicos para falar do filme ficam em segundo plano... como direção de arte, cenografia, cinematografia, porque a qualidade do que foi entregue é tão gritante, que acaba ofuscando esses demais tópicos. O roteiro é brilhantemente escrito por Yuji Sakamoto, que não deixou nenhuma ponta solta sem solução, conseguiu unir tudo que foi apresentado, e de uma forma onde não ficamos confusos nem perdidos, é só dar atenção ao longa, que tudo é explicado e respondido no seu ato final. Kore-eda também fez um trabalho primoroso na direção... incrível como ele conseguiu fazer seus dois atores mirins entregarem aquele nível de atuação, de drama, de inocência, de foco, em um longa com tantas camadas para se trabalhar. Sem falar nas ótimas tomadas de câmeras, principalmente no ato do professor Hori, e em algumas cenas de difícil filmagem, como na mini caverna que leva ao ônibus abandonado, e dentro do próprio ônibus durante a chuva do tornado que se aproxima. Kore-eda também editou o seu filme, e talvez seja aí o grande mérito de 'Monster' ser tão envolvente, pois ele sabia exatamente o que queria mostrar em seu filme, e fez um corte que, tanto lhe agradasse, quanto nos envolvesse. Dito isto, Cenografia, design de produção, a fotografia do longa... nota 9/10, não vou me alongar.
O elenco é perfeito, sendo que a protagonista Sakura Andô que faz a mãe de Minato, já trabalhou com Kore-eda em 'Assuntos de Família', e neste filme ela está incrivelmente bem e muito convincente como a mãe de Minato. Eita Nagayama faz o professor Hori, e de longe foi o ator que mais gostei no longa, muita desenvoltura para ir do drama ao cômico, voltando ao drama com muita versatilidade. Entregou uma atuação ótima. Os dois garotos Soya Kurokawa (Minato) e Hinata Hiiragi (Eri) sou só elogios, são a alma do filme, tiveram uma química muito boa, talvez não no começo da amizade, mas depois ficou muito visível a facilidade dos dois em cena. Soya fez um ótimo trabalho de atuação, mas gostei muito mais de Hinata, o pequenino Eri é um colírio para quem assiste e um poço de inocência... é gostoso demais vê-lo atuando e foi meu favorito no longa.
Se o final de 'A Menina Silenciosa' é emocionante e comovente, e fica em aberto... aqui em 'Monster', o final é mais emocionante ainda, mais comovente, e não fica nada em aberto... claramente sabemos o que se sucedeu, e não é nada diferente do que podemos ver ou especular aqui no mundo real... pois a inspiração de Kore-eda e Sakamoto vem, obviamente das coisas que nos cercam, como sociedade (falha) e como pessoas.
Ryüichi Sakamoto foi o autor da ótima trilha sonora, densa, contemplativa, calma, incisiva, ditou o ritmo de algumas cenas e atos do longa, e nos deixou imersos cada vez mais no que assistíamos na tela, foi um trabalho bem singelo e primoroso de Ryüichi, que faleceu no meio do ano passado (2023).
'Monster' foi indicado ao prêmio de cinema independente britânico a Melhor Filme Internacional; No Japan Academy Prize, foi indicado a Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Trilha, Fotografia, Direção de Arte, Mixagem de Som, Edição, Iluminação e Atriz Principal para Sakura Andô; No Asian Film Awards para Melhor Diretor, Melhor Roteiro e Melhor Design de Produção; Em Cannes participou do Grand Prix, do Prêmio do Júri, da Palma de Ouro, Concorreu a Melhor Direção. Levou o Prêmio de melhor Roteiro para Yuki Sakamoto.
Como sempre digo, o cinema asiático em se tratando de drama, sempre entrega as mais belas pérolas, e 'Monster' é mais uma dela dentre tantas. Cabe a mim agora, pagar os demais filmes de Hirokazu Kore-eda, como 'Assuntos de Família' e 'Broker - Uma nova Chance' o quanto antes.
(Assistido em 06/02/2024 - Espaço Itaú de Cinema Augusta)
Gênio... quem você pensa quando fala-se essa palavra...? Scorsese, George Lucas, Spielberg, Tarantino, Nolan, Hitchcock, Kubrick, Chaplin...enfim... Eu cito um então... HAYAO MIYAZAKI... 'Meu Amigo Tototo', 'O Castelo Animado', 'A Viagem de Chihiro', apenas 3 das obras de Miyazaki que são obras primas da história do cinema asiático, do cinema animado, e claro, do cinema mundial.
Eu sempre tive um pouco de preconceito com filmes animados norte americanos de estúdios como Pixar, Disney, Dreamworks, achava as histórias muito sem criatividade, não me chamavam, muito mais do mesmo... mas esse preconceito acabou já tem aí uns 5, 6 anos, e tem muita obra que estou devendo ainda por conta disto. Isso não se aplicou ás animações asiáticas, mas eu fui conferir muitas produções de sucesso muitos anos depois de seus lançamentos, e os filmes do Studio Ghilbi estão inclusos, tendo visto 10, 15 anos depois de cada obra ter sido lançada, e por exemplo, ainda carrego o pecado de não ter visto 'A Viagem de Chihiro', que logo logo este pecado será pago.
Mas em se tratando de 'O Menino e a Garça' (How Do You Live, nome da obra original), eu sou somente elogios a mais essa obra-prima de Miyazaki. Aqui ele eleva ainda mais o carisma de seus personagens, e enriquece a fantasia que ele cria e é apresentada em mais um degrau. Mesmo sendo baseado livremente no livro de nome citado acima, Miyazaki consegue criar este mundo de uma forma coesa, que beira o simplismo, e se mostra completo, á medida que o longa avança e se aprofunda cada vez mais nesse mundo fantasioso que se hospeda dentro da Torre que se fica perto da casa da esposa de seu pai.
Miyazaki tornou seu filme autobiográfico, uma carta aberta ao seu neto, uma espécie de livro mágico... quando ele deixar esta terra, este vai ser o presente/legado que Miyazaki deixará a seu neto, que com certeza se inspirará das mais diversas formas no decorrer de sua vida adulta.
Do momento que o filme começa, até o seu encerramento, é impossível não se apegar à história e se sentir imerso naquele universo, sendo que Mahito Maki, inspirado no próprio Miyazaki quando infante, é os nossos olhos naquele momento do Japão que passava por uma guerra, e teve que se mudar para o interior depois de perder a mãe. Apesar de ser um pouco arrogante no começo, até pelo fato de ainda estar de luto pela perda da mãe, Mahito começa a desabrochar e evoluir à medida que adentra o mundo incrível que ele conhece, e nos remetemos muito a ele, nos enxergamos na personalidade do garoto, o que nos faz ficarmos fisgados na tela durante sua jornada.
Os personagens coadjuvantes também são um show de carisma e que nos ganham em poucos segundos em tela, tendo as vovós da residência da madrasta de Mahito, que são o puro suco do carisma desde que aparecem até o final do filme, assim momo sua própria madrasta, Natsuko, que no pouco que aparece, é de uma delicadeza sem igual. A Garça cinzenta, além de ser um dos alívios cômicos do filme, também é puro carisma, é aquele contra-ponto com o protagonista, pois ambos não se bicam, mas possuem muitas coisas em comum, e no final das contas acabam se acertando naturalmente, pois possuem um elo que não sabiam que existiam entre eles... amizade, lealdade e determinação. Os periquitos também são muito carismáticos, engraçados, e temos os pelicanos que são a alma do do mundo dentro da torre... presos em um mundo que não conhecem, destinados a voar o mais alto que podem, nunca encontrando uma saída, tendo que obrigatoriamente se alimentar dos pequeninos seres que rumam para o mundo real para nascerem, pois morrem de fome, e são atacados pela 'garota do fogo', queimados, largados pelos cantos, com aquela incrível cena de Mahito e o pelicano queimado, um texto rico... gostei demais dos pelicanos nesse longa.
Agora o trabalho técnico de Miyazaki e o restante dos animadores nesse longa é estupendo, de encher os olhos a cada frame que passa, a cada cena que aparece. Fora todo o trabalho artístico para se criar o mundo dentro da Torre, uma das coisas que mais me impressionou foi a direção de arte do filme... enquanto os personagens e os demais objetos do longa que eram manuseáveis, estavam em estilo animado mesmo, em pleno movimento, a cenografia ao fundo era em outro estilo animado, mais inanimado, mais detalhado, haviam imensos detalhes nos cômodos da casa de Natsuko, imensos, detalhadamente desenhados e inseridos, um trabalho riquíssimo. Assim como também tínhamos diversos detalhes em cômodos no mundo dentro da Torre, de livros, estantes, jarras, frutas, tapetes, quadros, rachaduras, enfim, são tantos detalhes cuidadosamente bem animados e bem representados em cena, animado de uma forma que se distingue do resto da animação que está em primeiro plano... a cada vez que eu observava o fundo, a cenografia, esses detalhes eu ficava embasbacado, e não à toa este filme levou anos para ser produzido e acabado, ou seja, a riqueza em detalhes foi algo muito elaborado pela equipe e teve muito dedicação em deixar o mais completo possível.
O longa é muito bem editado, as cenas se encaixam perfeitamente, não há a possibilidade de você ficar perdido durante o filme, e a dublagem também está estupenda. Respeito muito o trabalho de dublagem feita aqui no Brasil, apesar de não ser um consumidor nato, portanto, os mais afccionados ao cinema, recomendo a assistirem na dublagem original, em japonês, é um show a parte e traz emoção aos personagens e complementam bem a personalidade deles. Possui uma trilha sonora composta por Joe Hisaishi, parceiro de longa data de Miyazaki de seus filmes anteriores, que traz uma música introspectiva que envolve bem as cenas, principalmente as dramáticas e as que nos revelam novos lugares do mundo dentro da Torre que Mahito vai conhecendo. Não consegui ouvir muito a canção-tema ao subir os créditos, pois o áudio ficou baixo e as pessoas no cinema começaram a conversar muito alto. E por falar nas pessoas no cinema, a sala estava completamente lotada, mais de cem pessoas fácil, e todos aplaudiram no encerramento do longa, uma ótima atmosfera que é uma sala de cinema apaixonada. Muito bom.
Sem muito mais o que acrescentar sobre essa obra-prima, é exatamente isto que ela é, talvez um dos melhores trabalhos de Miyazaki em sua carreira, com uma animação perfeita de encher os olhos, riquíssima em detalhes, que flui de uma forma muito consistente e vívida. Um roteiro certeiro, perfeito, onde tudo se encaixa e todos os personagens possuem sua parte dramática, sendo cômicos em momentos chave de uma forma muito natural, nada forçado. Uma história muito bem escrita que se entrelaça no final, uma jornada formidável e emocionante sobre passado, presente e futuro que nos faz aprender mais sobre a vida, as relações humanas e sim, sobre nós mesmos.
Nesta temporada de premiações, 'O Menino e a Garça' está indicado na categoria de Filme em Animação no Oscar, no BAFTA, no Satellite Awards e no Producers Guild Awards. No Annie Awards, o Oscar da Animação, está indicado a Melhor Filme Animado, Melhor Música, Melhor Roteiro, Melhor Direção, Melhor Animação de Personagem, Melhor Storyboard e Melhor Produção de Animação. No Critics Choice Awards perdeu o prêmio para 'Homem-Aranha Através do Aranhaverso'; Porém, levou o prêmio de Filme em Animação no Globo de Ouro, o que foi uma surpresa para muitas pessoas, mas Miyazaki não esteve presente na cerimônia para aceitar o prêmio.
Simplesmente uma Obra-Prima de Miyazaki, e a minha torcida inicial mesmo sem ter visto ainda os demais indicados na categoria (tirando Homem-Aranha) para levar os demais prêmios desta temporada.
O único filme de George C. Wolfe que assisti até hoje foi 'A Voz Suprema do Blues', que é curto, mas é um filmaço, também exclusivo Netflix. Eu mais ou menos sabia o que esperar de 'Rustin', sendo que o que mais me chamou a atenção em 'A Voz Suprema...' (além da atuação grandiosa de Chadwick Boseman) foi a forma como Wolfe soube conduzir as cenas dos personagens do longa, a forma como ele deu o enfoque, como o que cada um tinha a dizer, ou a forma como verbalizava, era bem unificado pelo diretor, para ficar nítido em tela, para ficar coeso, era um jogo de câmera em uma conversa, um diálogo ou uma discussão onde você, como espectador, não ficava perdido, sabia exatamente o que estava acontecendo e tinha total ciência das reações de cada personagem na cena.
Aqui em 'Rustin' Wolfe repete isso, deixando os personagens em evidência e respeitando o diálogo, o texto, o discurso entonado, há um enfoque grande em como o personagem se porta, como ele declama o texto, como se porta perante a cena, e em como os demais personagens em cena recebem o que lhes é verbalizado. É o controle cenográfico, tudo é evidenciado em um único jogo de câmera, onde temos a percepção do que cada personagem fala, recebe, como responde aquilo, seja como texto, seja com expressão facial, ou corporal, é um controle absoluto do que fala e do que se mostra.
Em um filme como 'Rustin' que é biográfico, onde se conta sobre um acontecimento real da história, os atos e falas dos personagens têm que ter uma atenção redobrada, pois aquilo tem que ser verossímil para quem assiste, não no sentido de nos fazer acreditar que aquilo aconteceu, porque sabemos que é um fato real dentro de uma obra fictícia... mas o diretor e roteirista precisa nos deixar imerso neste conto, para termos uma noção do que se passou naquela época, com aquelas pessoas, e nos entregar uma obra ficcional que remeta com sinceridade, autenticidade e artisticamente, os fatos que aconteceram naqueles tempos. Wolfe faz isso muito bem, deixou o filme muito redondo, com detalhes minuciosos, e um jogo de texto bem eloquente e inteligente, destacando cada traço de personalidade, tanto do protagonista, vivido pelo Colman Domingo, quanto de seus coadjuvantes, como Martin Luther King Jr., ou Ella Baker, ou Philip Randolph.
Pra mim o acerto do filme está no texto, ali que deixa a experiência interessante, o embate verbal entre Rustin e Luther King Jr., ou de Rustin e de Roy Wilkins que foi um dos mais interessantes para mim, com contrapontos dos dois lados, sem entrar no certo e no errado, isso que fez o ritmo do filme andar. Talvez algum outro profissional acabasse dando mais ênfase em como Bayard Rustin organizou todo aquele protesto pacífico, como ele negociou cada ida de pessoas famosas, ou do povo comum mesmo, e os banheiros químicos, e as cabanas e em como ele conseguiu os fundos e como ele fez para convencer a doarem esses fundos, e iria ser aquele discurso de superação, e por aí vai...e tudo bem, seria uma forma de jogar na segurança e fazer do filme um discurso positivo de perseverança... mas nunca iria realmente mostrar ao mundo quem foi Bayard Rustin. Wolfe foi além, e focou no embate moral, no discurso aberto e acalorado, no embate de ideias e posições, talvez tenha saído um pouco do foco de ele ser homossexual, houve ali um aprofundamento, mas em alguns momentos achei mais raso, o discurso não foi tão aberto, só o seus dois casos mostrados. Mas o foco de Wolfe foi em como Bayard era apaixonado pela causa, e em como ele queria que as pessoas que estavam a sua volta entendessem a sua visão, o que se passava no momento, não era só uma luta pela causa, por direitos, mas era entender a batalha civil e política que cometia os pretos na época... que não adiantava criar comitês e organizar protestos focados em políticos... ele queria que enxergassem como ele, o discurso tinha que ser feito a céu aberto para o país inteiro ouvir, para que as ideias ficassem claras, como cidadãos, e não só como pessoas de cor... o discurso era mais amplo e menos centralizado. Méritos, claro, do roteiro de Dustin Lance Black, que trabalhou em 'Milk' e 'J. Edgar'... roteiro costuradinho, corretíssimo.
O longa que é uma produção original Netflix, e não sei se por conta disso, tem ares de filme para TV, em alguns momentos a semelhança é nítida, em outros tem cara de filme para cinema mesmo, mas até a edição do longa e a trilha sonora de cenas pontuais, deixam o filme com cara de filme para TV. Uma espécie de telefilme, que como todo mundo sabe, pelo menos aqueles mais acostumados a consumir filmes em suas mais diferentes formas, que filmes biográficos acabam tendo um desempenho melhor quando são feitos para TV. O formato televisivo ajuda muito a se contar uma história biográfica, deixando tudo mais próximo e mais nítido para o público. Eu mesmo nunca havia ouvido falar de Bayard Rustin na vida, e sempre tive acesso a muitas coisas sobre Martin Luther Jr., e as coisas que ele conquistou à época e algumas de suas poucas passagens, pois muita coisa eu ainda não tenho conhecimento, mas nunca havia ouvido falar sobre Rustin, nem uma menção, nada... como pode ter ficado no ostracismo em todos esses anos, uma das pessoas mais importantes na carreira racial de Martin Luther Jr. ... um absurdo, não?
A trilha sonora do longa é de Lenny Kravitz, de quem sou fã, óbvio, desde os tempos de MTV nos anos 90, e já o vi ao vivo no Pacaembu em 2005, gosto muito do trabalho dele... e aqui fiquei surpreso com a versatilidade com que ele compôs essa trilha. Regada a muita música de época, ele abdicou um pouco de orquestra, e foi pro lado do Blues da música Preta regada a Jazz, os ritmos de boate, o som que ajudou a fomentar e ser os alicerces da música preta norte-americana. Muito baixo, muito trompete, metais a gosto, piano, tudo que construía a música preta naquela época, e composto e apresentado de forma ritimica, como se estivéssemos em um bar, ou em um show só com 'pessoas de cor'... sempre bem inserido nas cenas de transição, nos atos do longa, ou em cenas casuais que traziam algum momento de tensão ou reflexão. Acho que Lenny mais uma vez se superou artisticamente e entregou um trabalho muito competente aqui, um deleite ouvir quando entra em cena.
Colman Domingo interpreta brilhantemente Bayard Rustin, e Colman já é um ator que sou fã há muitos anos, desde que o vi pela primeira vez no terceiro episódio de 'Fear The Walking Dead' fazendo o icônico personagem Victor Strand. Nem vou me alongar muito sobre ele, só dizer mesmo que Colman é o que espelho se um dia eu quisesse ser ator, seria em quem eu me inspiraria, ele é 'O' cara, e posso citar inúemros trabalhos onde ele sempre entrega tudo e além, como no ótimo 'Zola', no já citado ' A Voz Suprema do Blues' (por isso a escolha de Wolfe para ser seu protagonista), 'Se A Rua Beale Falasse' ou no vindouro 'A Cor Púrpura'. Indicação ao Oscar, BAFTA e afins mais que merecida, finalmente.
Chris Rock faz Roy Wilkins e no começo não estava curtido muito a forma como Rock estava interpretando no longa, mas acho que com o decorrer do filme, ele foi se achando no personagem e acabou entregando uma atuação muito satisfatória. Ainda temos Jeffrey Wright (indicado ao Oscar esse ano por American Fiction) como Adam Clayton Powell, e é engraçado como tudo que Jeffrey põe a mão fica perfeito. Seu ponto alto no filme é quando todos estão juntos na mesma mesa e Powell ameaça expor a conduta sexual pública de Rustin no passado que o levou a ser preso, mas não sabe onde deixou o papel. Toda aquela cena, com um longo discurso dele contra Rustin é incrível e só mostra o tamanho desse ator, que é pouco reconhecido dentro e fora de Hollywood.
Audra Macdonald (de 'The Good Fight' e 'I Am Sam') faz Ella Baker e também têm muito destaque no longa e entrega uma ótima atuação, que faz jus à atriz que ela é. Bill Irwin (de quem sou fã, da série 'Legion') faz uma pequena ponta como o (ex)chefe de Rustin, e tem o seu momento quando o texto lhe entrega algo para brilhar... ele é um atorzaço, assistam 'Legion', uma série inteligentíssima. Aml Ameen (de I May Destroy You) faz só Martin Luther King, e o achei perfeito no papel, eu remetia muito ele à figura real de Luther King, não são idênticos, claro, mas sua atuação estava tão segura, tão um degrau acima, que eu enxergava com perfeição Martin Luther King ali. Talvez faltou uma força maior ali e acolá, durante algumas cenas, mas ele esteve ótimo e fico curioso como um ator britânico como ele conseguiu pegar aquele sotaque norte americano carregado que Luther King teve no filme. Tem atores que sabemos que são britânicos, e mesmo perdendo o sotaque nos longas americanos, conseguimos perceber uma entonação aqui e acolá do sotaque, mas com Aml não percebi absolutamente nada. Da'Vine Joy Randolph (indicada e favoritaça ao Oscar por 'Os Rejeitados) fez uma pequena ponta como a cantora ícone Gospel, Mahalia Jackson, e na sua única cena solta a voz de forma impecável... atriz versátil.
Gostei muito também da cinematografia do longa, que teve seu destaque em muitas cenas noturnas e principalmente nas cenas internas, seja na casa de Rustin, no escritório de seu novo emprego, ou na sala onde ele e os demais apoiadores da causa se instalaram para organizar o protesto. Mencionado também a cena final do discurso de Luther King e também quando Rustin começou a catar o lixo espalhado ao final do ato. Fotografia essa de Tobias A. Schliessler, que trabalhou com Wolfe em 'A Voz Suprema do Blues' e fez outros longas como 'A Bela e a Fera' e 'A Grande Mentira'.
Colman Domingo foi indicado a Melhor Ator no Oscar, BAFTA, Satelitte Awards, SAG's Awards, Astra Awards, perdendo o Critics Choice Awards para Paul Giamatti (Os Rejeitados) e o Globo de Ouro para Cillian Murphy (Oppenheimer). Já a canção 'Road To Freedom' de Lenny Kravitz foi indicado ao Globo de Ouro e ao Critics Choice Awards na categoria Melhor Canção Original, perdendo para 'What Was I Made For?' e 'I'm Just Ken' de Barbie, respectivamente. No Oscar a canção foi esnobada, perdendo lugar para uma das canções de 'Killers Of The Flower Moon'.
Gostei muito de 'Rustin', foi saber essa personalidade na vida de Luther King, e na história do povo Preto norte-americano, que ajudou, e MUITO, a dar voz numa época em que a voz não conseguia ser ouvida, ou simplesmente não queria ser ouvida. Talvez o filme, fora dos EUA, não chegue em tantas pessoas assim, para ele ser conhecido da forma que merece... mas o filme fez muito bem o seu trabalho de representá-lo e representar as demais personalidades que aparecem no longa e que também contribuíram para essa passagem histórica que reverbera até os dias de hoje. Apesar de ser muito, mas muito fã de Colman Domingo, ele não deve levar nenhum prêmio este ano, mas só de ser indicado ao Oscar, já é o primeiro passo, de quem sabe, um dia, receber tal honra.
Durante a temporada de premiações do ano passado, 'A Menina Silenciosa' era um dos filmes que estavam ganhando o boca a boca e recebeu algumas indicações em premiações grandes para Filme Internacional. Eu estava muito curioso para assistir à época, mas não achava em lugar nenhum para conferir, e fiquei muito surpreso quando o longa recebeu a indicação a Filme Internacional no Oscar do ano passado. Foi um dos poucos da temporada passada que acabei não conferindo, e 1 ano depois desta temporada, o longa finalmente (Brasil,sempre atrasado, incrível) estreou nas salas de cinema brasileiro e pude finalmente conferir este filme de estreia de Colm Bairéad.
Representante da Irlanda no Oscar passado, 'A Menina Silenciosa' traz a personagem Cáit, que mora com os pais e suas irmãs no interior em uma fazenda. Os pais de Cáit têm muitos filhos, ela e mais 3 irmãs já crescidas, e sua mãe ainda está esperando outro bebê. A vida pra eles não é fácil e com tantas bocas para alimentar e pouco dinheiro e comida entrando, eles decidem levar Cáit para passar o verão na casa da prima da mãe de Cáit, interpretada pela Kate Nic Chonaonaigh. Lá Cáit, que é calada, quieta, assustada, mal tratada, aprende uma nova forma de amor com seus novos tutores, e descobre o real significado de ter pais.
O filme é pura lindeza, tocante, muita sutileza, muitos detalhes, muito envolvente, com os personagens se desenvolvendo conforme os acontecimentos seguem, e é impossível você não sentir carisma por cada um deles.
Bairéad que estreia na direção, soube tirar o melhor de seu elenco para que eles entregassem performances que nos deixam presos à tela, fazendo com que fiquemos imersos naquele pequeno universo de acontecimentos, torcendo para cada um deles em momentos distintos. Ora você irá torcer por Eibhlín, ora você irá torcer por Séan, os novos pais de Cáit, a quem você irá torcer o filme inteiro... existem personagens que você irá se pegar xingando, ou seja, são personagens bem escritos que cativam o público mesmo sendo hediondos.... sendo um dos pequenos segredos de uma obra, para fazer o público esquecer a existência, para se jogar em uma pequena história numa sala de cinema.
Bairéad também soube entregar lindos takes, sendo que muitos deles, que soam aleatórios, na verdade podem ser interpretados como olhares inocentes de Cáit para as coisas e forma como ela enxerga a sua atual realidade. Temos takes no brinco da amante de seu pai, nas roupas balançando no varal com o vento, no céu cheio de nuvens, em árvores e galhos, na saia de sua nova 'mãe', no portão da cerca, no poço de água, nas duas luzes, que 'agora são três luzes' como citado por Séan numa das cenas. É de uma sutileza incrível, uma lindeza sem igual, pura arte moderna contemporânea de Bairéad que complementam todas as passagens de seu longa. Assim como o texto, que é direto, firme, consistente, sem contextualizar nada, sem dar embasamento aos acontecimentos citados pelos personagens, e se aprofundando no que a história se limita a mostrar, no que é relevante para o público compreender sobre os sentimentos de cada um dos personagens... sem se preocupar em explicar detalhadamente o porque de tudo.
Com total certeza a cereja do bolo, a alma do filme, nossa pequena religião em suas 1h36 de filme, é Catherine Clinch, que também faz sua estreia em longa metragens... essa garota é um furacão, uma força da natureza, que atuação linda, estupenda, inocente, inteligente. Catherine de duas uma, ou entendeu o que o diretor lhe pediu e quis lhe passar da personagem... ou leu o livro e compreendeu a forma que devia performar com Cáit... desde o momento que a vemos em cena, até o seu final, passando por todo o progresso dela no longa, ela nos ganha, e como eu mencionei, ela vira nossa pequena religião, porque não pensamos em outras coisas a não ser o bem estar da menina, a torcida por ela é inevitável e genuína, passamos o filme todo angustiado por ela, apaixonado por ela, e o sentimento quando o longa termina, é que queremos ir à fazenda e adotá-la já, pra ontem, o desejo de tê-la como filha vai crescendo em você a medida que os minutos após o filme passam. Sem entregar muitos Spoilers, mas na cena do poço de água, onde ela vai sozinha buscar água para Eibhlín, sozinha, só a sua caminhada até lá, me deu um nó no peito, uma angústia, um medo, porque estava na cara o que iria acontecer, e mesmo sendo uma obra de ficção, tudo aquilo é real pra você, de tão verossímil que ficou direção e interpretação... eu me remoí na poltrona do cinema com o que poderia vir a acontecer. Essa menina é um estouro e entregou uma atuação tão brilhante, mas tão brilhante, que beira a perfeição.
Carrie Crowley (de Vikings), que fez Eibhlín, a prima da mãe de Cáit foi outra que entregou uma performance incrível, arrebatadora... muitos dirão que não parece nada demais, mas a forma como deu força a personagem, em como ela colocou para fora muitas das emoções reprimidas de Eibhlín na tela, só uma grande atriz como ela poderia ser tão sensível para entregar uma atuação gigante como ela entregou. O que nos faz nos afeiçoar-nos a Eibhlín logo de cara. Andrew Bennett, que além de ator, trabalhou como diretor de arte nos filmes 'Sombras da Noite', 'Dumbo' e nos dois últimos '007', fez o marido de Eibhlín, Séan, e conforme o filme avança, vamos nos afeiçoando cada vez mais a Séan. No começo ele tem pouco a entregar, achamos que é mais uma figura masculina que pouco oferece a Cáit, como seu pai, mas no desenrolar dos fatos, Séan vai desabrochando, se abrindo, e nos mostrando seu lado paterno há muito adormecido... e obviamente nos conquistando, principalmente na cena noturna no mar com as 'três luzes'.
Michael Patric (de The 100) fez o pai de Cáit, a típica figura paterna que não liga para os filhos, os vê mais como posses, um fardo a se carregar, pouco afetivo ou nada afetivo, seu único dom é engravidar sua esposa sem parar. Apesar desse caráter dúbio e de uma personalidade nublada, só pegamos desprezo pelo pai de cáit, graças a uma atuação certeira de Patric.
O filme termina da forma mais magistral e perfeita que já vi em um filme, pois não interessa o que irá acontecer depois, se deu certo, ou se voltará para as mãos dele... Cáit entende o que é o verdadeiro significado de amor materno, amor paterno, amor fraternal, dentro de sua inocência, e nós temos ali uma 'burficação'... ou ficará tudo como é, ou se fará a curva e iremos para um novo caminho, uma nova vida...e o filme termina deixando em aberto, e a verdade mesmo é que pouco importa o que irá acontecer em seguida. Para as pessoas que querem apenas se entreter, que enxergam as coisas apenas como certo e errado, para as mais sentimentais que com toda a certeza, irão chorar ao final do filme e na subida dos créditos, elas vão imaginar que tudo deu certo no final, que foi um final feliz... outros podem até ir pro lado mais razoável, o bom senso, e argumentar que o final foi o oposto, que prevaleceu a ordem natural das coisas, que foi a permanência de quem possui. Mas para mim, e talvez para outros cinéfilos, pouco nos importamos com o que vem depois, é a construção da história que importa, a forma como foi levado as telas por Colm Bairéad, a história que foi contada, o que o longa nos causou, como nos atingiu, a poesia que o diretor impôs no texto, nas cenas, o quão o filme mexeu conosco, e a sua certeira opção por fechar o filme de uma forma poética... o que importa foi a jornada, e não se foi final feliz, ou não. A experiência de poder acompanhar isso vale mais do que um final escolhido.
A trilha sonora é perfeita,composta por Stephen Rennicks, complementa bem os acontecimentos do longa, e anda de mãos dadas com Cáit em todas as cenas, foi cuidadosamente bem composta, e denota a personalidade da fazenda de uma forma esplêndida. A cena final, onde a trilha ganha força, e o filme termina com os créditos subindo sem nenhuma música de fundo é soberba e perfeita...pura poesia.
Foi indicado a Melhor Filme Internacional no Oscar e no Satelitte Awards; Também foi indicado no BAFTA a Filme Estrangeiro e Roteiro Adaptado, uma vez que ele se baseia no livro 'Foster' de Claire Keegan, e adaptado por Colm Bairéad. Foi derrotado por 'Nada de Novo no Front' que é um filme arrebatador, mas com certeza ganhou o coração de inúmeros espectadores mundo afora, incluindo o meu.
Uma obra lindíssima da Irlanda, um filme de estreia perfeito de Colm Bairéad e Catherine Caith, um elenco muito competente, e cenas belíssimas... ' A Menina Silenciosa ' é o tipo de filme para se guardar em casa em DVD/BluRay debaixo do travesseiro e assistir pelo menos 1 vez no mês.
Vamos citar algumas obras (primas ou não) de Ridley Scott... 'Alien 1', 'Blade Runner', 'Thelma & Louise' (meu favorito dele), 'Gladiador', 'Falcão Negro em Perigo', 'Hannibal', 'American Gangster', 'Casa Gucci'... só para citar os mais emblemáticos. Dada essas obras, sempre podemos esperar algo grandioso de Ridley Scott, ou rico em termos de construção de personagem, isso pode vir tudo junto como em Gladiador e Alien por exemplo, ou separado como 'Thelma & Louise' como construção de personagem, ou 'Falcão Negro em Perigo' como filme grandioso.
Citei estes filmes pois 'Napoleão', grande epopeia que reuni novamente Ridley Scott e Joaquin Phoenix, que trabalharam em 'Gladiador', entra mais na categoria de filme grandioso, e não se enquadra muito em construção de personagem.
Ao assistir 'Napoleão' eu percebi que o filme peca muito na sua dupla de protagonistas, Napoleão Bonaparte e a Imperatriz Josephine, interpretada por Vanessa Kirky (de Pieces of A Woman e The Crown). Faltou muito ao roteiro de David Scarpa uma atenção maior ao desenvolvimento de seus dois protagonistas, pois ao conferir o longa, eu percebi que pouco de Napoleão é aprofundado ou desenvolvido. Nós temos um ponto de partida com ele que é a cena inicial com a execução em praça pública da rainha Maria Antonieta, na França, e apenas nos é informado que ele almeja uma promoção para General, aspirando mais, buscando mais poder. E a medida que o filme avança, ele pouco é desenvolvido, pouco vemos de suas reais motivações, aquele ímpeto que o motivo a sempre buscar grandeza, e como isso molda sua persona... faltou esses detalhes, apenas vemos ele galgando e galgando, e logo ele se torna o Primeiro Cônsul francês, e vemos que a sua personalidade agora é mais robusta, mais cheia, mais pomposa... mas é algo tão superficialmente apresentado que não consegui me prender à pessoa Napoleão, de compreender, de me envolver, de quem sabe acompanhar sua trajetória com afinco, não digo torcida, mas com um pouco mais de entusiasmo, de curiosidade... não tinha nada ali que me prendesse ao personagem, a sua jornada. Ele possui um pouco de carisma, muito por conta de Phoenix, mas não foi o suficiente para eu me ligar no personagem.
E o mesmo eu digo da Imperatriz Josephine Bonaparte, que uma vez nos trailers, se mostrava uma personagem forte, que iria ter muita presença e seria aquele choque de egos com seu marido, de uma forma semelhante que foi a personagem de Marion Cotillard, Lady MacBeth, no filme Homônimo de 2015, que era uma força dominatória na casamento com MacBeth e esse atrito entre os dois deixou o filme muito interessante. Pois fomos enganados no trailer, que foi muito bem montado, sendo que aquela cena onde ela diz a Napoleão que sem ela, ele não é nada, possui uma força muito grande, e mostra a força que a personagem deveria ter no longa, mas é o único momento no filme inteiro, que ela brilha mesmo, que mostra a influência que ela possui na vida de Napoleão... o resto do filme é como se ele perdesse a utilidade, seus casos de traição não são bem explorados, suas brigas com Napoleão não foi tão bem explorada, apenas uma cena que ficou ótima, ela fica muito apagada o resto do longa, mais chorando pelos cantos do que qualquer outra coisa... fica aquele foco grande em ela não conseguir dar um filho a ele, mas isso não é a única coisa que define o casamento deles, e nem a relação dela com ele... mas faltou mesmo se aprofundar na personagem, desenvolver melhor ela, dar mais cenas, criar mais atrito entre os dois... sempre ficou ali na promessa para ambos os personagens crescerem e nunca saíram da promessa. Uma pena.
Tecnicamente o filme é soberbo, possui uma direção artística fabulosa e uma cenografia incrível recriando um século 17 que nos faz viajar no tempo e vivenciar aquela época, seja na França onde a maioria do filme se passa, nos campos de batalha na Rússia, ou na Áustria... castelos muito bem construídos e detalhados internamente, móveis e demais objetos que remetem muito bem à época. Fora as carruagens, canhões de batalha, armas de fogo e objetos menores como caneta, tintas, folhas, almofadas e coroas.
Já o figurino é de um profissionalismo impecável, Napoleão é o que mais se sobressai, suas vestimentas são ótimas, bem costuradas, remete perfeitamente o que conhecemos do personagem de livros ou desenhos e séries/esquetes de programas diversos. É muito idêntico e digno de aplausos para os responsáveis pelo trabalho. Suas vestimentas quando é coroado rei também são de impressionar, e os vestidos usado pela Imperatriz, uns possuem muito destaque, mas o que ela usa depois que é exilada acaba sendo mais comum, ao meu ver. Os demais figurinos do longa dos mais variados personagens que aparecem, também são perfeitamente costurados e construídos, e o principal, remetem muito a personalidade de cada um, coisa rara de se acertar em alguns dos figurinos de filmes.
Mas o destaque maior mesmo está na cinematografia, de Dariusz Wolski (da trilogia Piratas do Caribe e Sweeney Todd), é raro de se ver um fotografia tão perfeita em um filme, são tomadas de cena onde ele posiciona muito bem Napoleão ao resto da cena, sempre denotando aquela grandeza do personagem, seja aonde ele esteja, na presença de quem ele esteja... esses takes são perceptíveis quando ele peita o conselho junto a seu irmão, quando ele está reunido com seus consortes que lhe questionam o porque dele ter abandonado seu posto no Egito, e principalmente suas cenas de hostilidade para com a Imperatriz Josephine... entre tantas outras que falta citar. As cenas de batalha então são um deleite, onde Napoleão sempre é o protagonista do take e sempre está posicionado de uma forma onde ele (e nós espectadores) tenha total visão do campo de batalha e do que está por vir. Inúmeras cenas onde temos uma fotografia mais acizentada-azulada, uma mistura de cores soberba que deixa tal passagem lindíssima e riquíssima em qualidade. É um trabalho esplêndido, e dado o currículo de Dariusz nos filmes já citados, e tendo trabalhado com Ridley também em 'Casa Gucci', 'Prometheus' e 'Conselheiro do Crime', Ridley sabia exatamente o que queria e o que esperar de Dariusz, o que facilitou demais o trabalho dele para entregar um trabalho que é um colírio para os olhos de quem assiste.
Ridley dirigiu muito bem, como sempre, achei este trabalho mais consistente que ' Casa Gucci', e as cenas de batalha são épicas, são as melhores de um filme de batalha de Ridley Scott, são detalhadamente coreografadas, muito bem construídas, bem colocadas em tela, não confundindo o espectador que sabe exatamente o que está acontecendo e onde estão posicionados cada lado da batalha. Sem falar das cenas onde ele lidera Joaquin e Vanessa Kirby, que possuem uma boa química em tela, entregam ótimas cenas com um bom texto, mas faltou mesmo se aprofundar nos mesmos.
Acho que Joaquin Phoenix está incrível como Napoleão Bonaparte, sua atuação é perfeita, concisa, de personalidade, suas nuances conforme Napoelão vai passando pelos tempos são ótimas, em nenhum momento Joaquin entrega menos do que se espera, segura muito bem o personagem, sempre com o sarrafo lá no alto... apenas acho que realmente não era algo para se lembrar no Oscar. Ele faz um trabalho muito competente e de grande qualidade, como sempre fez, mas digno do que o personagem pede, e de se aplaudir sem nenhuma dúvida, mas não é algo acima da média como 'Coringa' por exemplo.
Já Vanessa Kirby prometia muito como a esposa de Napoleão, os trailers entregaram isso muito bem, e durante o 1º ato do filme ela está perfeita, o roteiro lhe favorece e ela consegue entregar até além do que deveria, pois possui um texto bom, e cenas onde ela pode mostrar mais do que se pede. Mas como mencionei, depois da cena onde ela diz a Napoleão que ele não é nada sem ela, o roteiro a deixa de lado, lhe tira o brilho e ela vira apenas um ponto de desgosto na vida de Napoleão, nunca a desenvolvendo e sim posicionando-a como uma das algumas decepções que Napoleão possui em sua vida, uma das coisas que ele não conseguiu conquistar ou controlar, como a conquista de um herdeiro, ou as escapadas sexuais de sua esposa. O que é uma pena, pois Vanessa é uma atriz com A maiúsculo... nunca vi uma atriz entregar cenas de sexo com tanta maestria e competência como ela entrega aqui, e em alguns takes no seu outro filme 'Pieces of A Woman', onde ela recebeu uma indicação ao Oscar na época.
Por fim, a trilha sonora é decente, grandiosa quando precisa ser, e ali ela é muito boa, comedida em algumas cenas, mas sem comprometer a experiência e sem tirar o peso das cenas. No geral a trilha é bem casada com a personalidade de napoleão, pomposa, estilosa, intimidadora. Ótimo trabalho. O elenco ainda conta com Tahar Rahim (do ótimo 'O Mauritano'), Rupert Everett (de Os 'Mosqueteiros') e Ben Miles (de 'Tetris').
Em questão de indicações nesta temporada de premiações teve algumas boas indicações: - No Critics Choice Awards para Melhor Figurino; - No BAFTA para Melhor Filme Britânico, Melhor Figurino, Melhor Efeitos Visuais, Melhor Maquiagem; - No Satelitte Awards para Melhor Fotografia, Melhor Efeitos Visuais, Melhor Figurino, Melhor Direção de Arte, Melhor Som; - No Oscar para Melhor Direção de Arte, Melhor Figurino, Melhor Efeitos Visuais;
'Napoleão' é mais um grande filme de Ridley Scott, porém depois de 1h50/2h de duração, vai cansar quem tiver assistindo, porque terá pouco a acrescentar, pouco a desenvolver, e pouco coisa para encerrar... vai perder o interesse de quem estiver assistindo, porque tinha potencial para ser maior do que o trailer vendeu. Não deixa de ser um grande filme, mas ele tem seu méritos na parte técnica do longa, não em sua montagem e construção, seja de roteiro, seja de personagens.
Não me programei certinho para poder ver este filme nos cinemas quando estava em cartaz, fiquei muito curioso pra assistir na época... mas depois de assisti-lo recentemente, o que mais pegou em mim é que ele tem esse ar de filme feito para TV, é o tipo de história, de produção, que funcionaria 100% bem se fosse feito para Televisão. Toda a sua narrativa, a forma como o filme foi editado por William Goldenberg (vencedor do BAFTA por 'Argo'), as muitas cenas de diálogo ao telefone, o corte final do filme, tudo remete e se encaixa a um filme feito para TV.
Dirigido e produzido por Ben Affleck, 'Air' é um bom filme, eu particularmente gostei muito, aquela abertura ao som de 'Money for Nothing' do Dire Straits, que foi a trilha sonora oficial da inauguração da MTV Europa... 'I Want May M-T-V...', e aquela bateira setorizada, e então entra aquele solinho de guitarra, com todas aquelas cenas clássicas dos anos 80, com Alex Foley (quem lembra?), Marty Mcfly, Michael Jackson, Os Caça-Fantasmas, Indiana Jones, Madonna, 'Quero Ser Grande', entre tantas outras cenas que passam ali rapidamente... foi uma tacada de mestre abrir o filme dessa maneira ejá ganhou muito minha atenção ali e todo o resto do filme foi muito natural e automático para se acompanhar.
Muitos consideram uma passagem trivial para se adaptar, como foram as negociações para Michael Jordan assinar com a Nike e lançar o 'Air Jordan' que é um dos maiores pares de tênis até hoje... mas o fato é que essa jogada de Sonny Vaccaro, Phil Knight, Rob Strasser e Phil Moore mudaram o jogo no ramo de negociações com jogadores de basquete nos EUA, e em outras modalidades também. Foi um golpe de mestre que traz ramificações no mundo corporativo esportivo até os dias de hoje. E vamos ser sinceros, todo mundo adora um filme de bastidores, seja sobre qualquer assunto.
O filme é sempre direto ao ponto, dá a impressão de que não deixa passar nenhum ponto solto, foca no que tem que focar, sem dar muitas voltas em tramas paralelas que não agregariam ao que o filme se propõe a contar e mostrar. Traz uma boa dose de drama, nada acima do normal para não fugir muito da proposta e do tom do longa, e pode deixar um ou outro espectador confuso com os muitos personagens corporativos que vão aparecendo no filme, mas acredito que não seja nada que tire o espectador fora do ritmo do longa, nada que o faça se perder nos detalhes do filme.
Eu não vou negar que é bem dirigido, que as cenas são muito bem construídas, algumas passagens são super interessantes, que Ben Affleck dirige muito bem seu elenco no longa, sabe tirar exatamente o que ele quer de cada um deles, e constrói muito bem a linha do tempo dos acontecimentos trazendo um ótimo profissional, premiado, como William Goldenberg para montar seu filme de um jeito muito satisfatório. Mas eu não sei... tem algo nos filmes de Affleck que nunca faz eu os achar genuínos demais para considerá-los acima da média. Acho que o Affleck entrega sempre algo ok, um padrão satisfatório apenas, um feijão com arroz com purê de batata...não enxergo algo muito completo. Dos seus filmes como diretor, assisti apenas 'Argo' e 'Gone Baby Gone'...o primeiro, Oscarizado como Melhor Filme, da forma como me lembro, realmente é um filme muito bom, muito completo, mas em termos de direção, é ok, como mencionei, padrão Ben Affleck...a não ser que eu mude de ideia quando assisti-lo novamente. 'Gone, Baby, Gone' eu já não curti muito, nem direção, nem elenco, é um filme que deixa muito a desejar e ali acho que Ben Affleck errou bem a mão. Mas 'Air' é decente, eu curti o filme, como ele foi montado, construído...mas sua direção é ok, nada demais... inclusive existem algumas cenas que ficaram modestas demais, poderia ter um tempero a mais, uma sequência maior, um dedo a mais do diretor para deixar mais verossímil... não sei...é encrenca minha mesmo com a forma de Ben Affleck dirigir.
O elenco é muito bom, está todo mundo muito competente no longa... gosto demais da atuação de Jason Bateman (eterno Martin Byrde de Ozark), ele traz mesmo uma personalidade corporativística (existe essa palavra?) para seu personagem... era um dos mais interessantes de se ver em cena. Assim como é sempre bom ver Chris Tucker em cena (apesar de não ser o maior fã 'A Hora do Rush'), aqui Tucker traz aquela atuação canastrona que já conhecemos dele, mas que fica muito carismática dentro do personagem, Marlon Wayans também está bem divertido em sua curta aparição, bem desenvolto, deixou aquela cena no bar bem leve como se fosse um papo entre amigos mesmo, ele possui uma desenvoltura com o texto e personagem muito boas. Chris Messina está hilário como David Falk e suas conversas com sonny, são ótimas aquelas cenas. Julius Tennon muito carismático, maridão na vida real de Viola Davis, monstra sagrada, que... tá louco né... só ver essa mulher em cena, ela interpreta tudo com uma maestria inigualável...que força aquela mulher traz quando senta com Matt Damon, quando ele a visita na sua casa, para convencer Michael a ir em uma reunião com a Nike, o que aquela mulher faz em cena, o peso que ela traz pra cena, a presença, a força... e a cena do telefone então, no fim do filme, quando ela liga para Sonny, como ela atua com o telefone em mãos, como ela se porta, como ela traz aquela força e presença de tela para o texto que ela performa ao telefone... essa mulher até hoje possuir apenas 1 Oscar, 1 BAFTA, 1 Globo de Ouro, 1 Emmy, é um pecado gigante.
Já Matt Damon entrega uma interpretação ótima, ele sim traz o drama que é necessário para o personagem e para o filme... Ben Affleck está mais canastrão na pele de Phil Knight, até porque o personagem pede isso, então ele mais se diverte do que se esforça... mas Matt Damon novamente dá um show, ele é muito talentoso, um dos melhores atores que Hollywood já entregou e presenciou, é difícil você ver uma obra com ele onde ele entrega menos, onde ele são se esforça o suficiente. Matt é muito competente, e novamente entrega um papel onde é digno de reconhecimento em premiações. Tanto que foi indicado ao Globo de Ouro de Ator em Comédia/Musical, perdendo para Paul Giamatti de 'Os Rejeitados'.
'Air' também foi indicado a Melhor Filme Comédia/Musical no Globo perdendo para 'Pobres Criaturas'; No Critics Choice Awards foi indicado a Melhor Elenco, Roteiro Original e Edição, perdendo todos.
A trilha sonora é recheada de sucessos da década de 80 com Bruce Sprigsteen, Michael Jackson, Cindy Lauper e sua releitura de 'Time After Time' (que pra mim não caiu bem na cena), Run DMC, entre outros... Possui uma cinematografia boa em cenas isoladas, como a corrida na chuva, Sonny tentando correr na pista de atletismo ao fim do filme, as cenas abaixo do prédio onde constroem o protótipo do 'Air Jordan', e principalmente na casa dos Jordan onde temos a conversa entre Sonny e e a mãe de Jordan. A fotografia é de Robert Richardson que trabalho duas vezes com Tarantino em 'Django Livre' e 'Era Uma Vez em... Hollywood'.
É um bom filme, um bom passatempo, não é nada cansativo nem arrastado, nada confuso, é leve, divertido em bons momentos e bem interessante... em pouco tempo você vai esquecê-lo, sua premissa é mais documentar do que impressionar. Talvez seja por isso que o filme, para mim, é mais simples do que ele foi construído para ser. Não sei se a Apple Studios demorou para promovê-lo ou não, ou se apenas perdeu força mesmo, mas na temporada de premiações sequer teve protagonismo, e não passou do Critics Choice com indicações bem modestas. É o típico filme que tinha muito potencial, mas foi produzido com outros olhares. Talvez não fosse um trabalho para parar nas mãos de Ben Affleck, um outro diretor talvez tivesse feito um trabalho mais audacioso, uma visão mais audaciosa (olha minha bronca com Affleck aparecendo de novo).
Pense em um bolo de casamento, um evento importante na vida de uma pessoa, e tudo tem que estar perfeito, o bolo é um deles... e o bolo para estar perfeito, precisa ser bem feito, bem construído, ser apresentável, e ser muito bem recheado. Fora a cereja do bolo, que pode ser os bonequinhos do casal no topo do bolo, pode ser a própria cereja mesmo, pode ser o sabor desse bolo...enfim.
'Maestro' é esse filme importante que, por mais que sua construção não dite que ele é uma biografia em si de Leonard Bernstein, ele acaba sendo uma biografia cinematográfica do músico, que diferente do bolo de casamento, não está perfeito, não foi assim tão bem feito, não foi bem construído, não é muito apresentável, mas possui um bom recheio, ao menos ele é bem recheado, capricharam no recheio, e a cereja do deste bolo, é Carey Mulligan.
Eu percebi muitas coisas semelhantes na forma de se dirigir e de construir este filme com 'Nasce Uma Estrela', primeiro filme de Bradley Cooper na direção/roteiro/produção, e aqui ele traz algumas coisas bem peculiares para a proposta/premissa de 'Maestro'.
O primeiro ato do filme é interessante, o que mais me chamou a atenção, uma ode aos filmes antigos em preto e branco da antiga Hollywood, com ares fantasiosos, com doses teatrais... as mudanças de cenas externas para internas sem cortar os frames, a edição que nada mais é que uma homenagem aos filmes da década de 40/50, figurinos e cenografia fiéis à época em que se passava, apesar da maquiagem não ser mais bem trabalhada, vide as rugas abaixo dos olhos de Mulligan, uma personagem que tinha o que... 20/30 anos? Mas enfim, uma ode aos tempos de ouro, uma homenagem aos clássicos que até hoje são reverenciados, um 'q' de musical em alguns momentos, para mostrar o começo de relacionamento de Leonard e Felicia Montealegre. Gostei muito, o texto é bom, os personagens secundários são interessantes, os dois protagonistas estão no mesmo tom e é um deleite vê-los serem felizes em cena... até aí o filme estava caminhando em seu modo automático.
Antes de falar do segundo e terceiro ato, é chover no molhado mencionar que o coração do filme, a alma do filme, é Felicia Montealegre, ou seja, Carey Mulligan... novamente Mulligan entrega um trabalho monstruoso, dedicado, incrível, sereno... uma entrega total e um deleite de interpretação que já presenciamos nos filmes 'Promising Young Woman', 'Não Me Abandone Jamais' e 'She Said'... entre outros de sua carreira. Simplesmente todas as vezes que ela está em cena, ela rouba as atenções, a impressão que dá é que, como espectadores, ficamos mais interessados em acompanhar e torcer por Felicia, e toda a caminhada de Leonard fica em segundo plano... não pela atuação de Cooper, ou pelo personagem em si, e mais mesmo pela forma como o filme é construído e desenvolvido em suas 2h de duração. A cereja do bolo de casamento. Carey Mulligan foi com muita justiça indicada a Melhor Atriz em todas as premiações de cinema até o momento, e por mais que não seja a favorita para vencer esta categoria este ano (de novo), fica aqui minha esperança (que é a última que morre), para que ela seja lembrada seja no Oscar, seja no SAG's, ou então no BAFTA (onde torcerei demais).
O segundo ato de 'Maestro' já começa a ficar bagunçado, toda aquela ode aos filmes antigos, aquela construção, aquele tom mais suave juvenil, fica para trás e o filme começa a ficar mais pesado de se acompanhar...pesado no sentido de: 'O que está acontecendo aqui? O que eu estou acompanhando mesmo?'. É a questão do recheio que comentei, pois, todo o filme é bem recheado, pois os personagens coadjuvantes são interessantíssimos, preenchem bem a história, complementam a jornada dos dois protagonistas, nos trazem boas nuances e gera entretenimento por se entrelaçarem na vida pessoal dos protagonistas. Porém isso não é de fato aprofundado, fica ali na borda, recheando apenas... E toda a passagem de Leonard Bernstein fica nublada, nada é realmente aprofundado, sua carreira, sua música, suas orquestras, seus feitos, suas conquistas, seu futuro legado, sua importância na cultura social e musical. Temos apenas um visão tumultuada e dramática demais de sua relação com Felicia, onde os dois estão plenamente felizes um com o outro e sua relação, e ao mesmo tempo estão sempre com algo faltando, com aquela sensação de 'eu gostaria de mais...', e ambos ficam numa crise existencial que começa a deixar o filme pesado com textos com ares de enigma. É preciso decifrar as entrelinhas de seus monólogos e conversas, para se ter uma ideia de que caminho está seguindo duas psiques. É como se fosse uma ida ao psicólogo ao contrário... ao invés de falarmos e falarmos, e o profissional nos instigar a falar mais, a nos questionarmos mais... aqui é como se os personagens estivessem desesperadamente tentando nos dizer algo, nos passar algo, nos evidenciar algo... e nós damos mais corda para que eles se aprofundem mais, e eles vão se afundando cada vez mais. Ao menos, foi essa a impressão que eu tive enquanto acompanhava o filme, não é bem uma biografia, mas um estudo de narrativa para decifrarmos qual o vazio que está consumindo individualmente Leonard e Felicia. Eles falam e nós analisamos, e os fatos que os cercam e os fizeram ser quem eles foram, ficam pelas bordas.
Já o terceiro e último ato do longa, para mim pessoalmente, é de uma bagunça completa, arrastado ao extremo... claro que temos a ótima cena com o ótimo texto de Leonard e Felicia discutindo no quarto durante o desfile de ação de graças... mas principalmente após Felicia receber o diagnóstico médico de sua doença fatal, eu fico se arrasta em cenas desnecessárias, que não dizem nada, que não agregam nada... é como se estivéssemos assistindo Felicia agonizar na cama de um hospital até dar seu suspiro final. Para mim, foi bem difícil acompanhar toda essa passagem com cenas que não conversavam comigo e não agregavam ao longa.
E ainda temos os filhos crescido de Leonard e Felicia, interpretados por Alexa Swinton, Sam Nivola e a já conhecida Maya Hawke (de Stranger Things), que estavam ali apenas para fazer sala mesmo... eu que não sou ator nem nada, poderia muito bem fazer o papel de Alexander Bernstein que não iria fazer diferença... o roteiro não entregou nada pra eles, não se aprofundou em nada... o máximo que tivemos foi um pequeno momento de Jamie e seu pai, e as fofocas na cidade onde ele cresceu, e o jantar entre ela, sua mãe e sua tia Shirley... mas zero profundidade, e nas cenas onde Felicia estava doente, eles pareciam mais um grupo de patetas porque as cenas com eles eram constrangedoras de ruins... realmente não entendi o inserimento deles no roteiro escrito por Bradley e Josh Singer (de Spotlight).
A cinematografia do filme ficou a cargo de Matthew Libatique, que fez um trabalho muito bom, mas muito bom mesmo, que saltou aos olhos nas cenas do 1° ato em preto e branco, e que também teve destaque nas cenas onde Bradley regeu a orquestra de Londres, fora também as cenas externas onde Libatique escolheu ops momentos e takes certos para favorecer sua fotografia no longa.
Com relação a atuação e direção de Bradley Cooper, eu gostei muito mais de sua atuação do que sua direção... não acho que Bradley está exagerado como a maioria dos críticos apontaram, e que sua atuação é desesperada para ganhar um Oscar... ele trouxe perfeitamente todos os trejeitos e detalhes de Leonard, e antes de vir aqui escrever, fui dar uma olhada no youtube em alguns poucos vídeos de Leonard para checar com a atuação de Bradley, e realmente está na medida, mas só aquela cena final do longa, com Leonard regendo sua orquestra já havia me dado o vislumbre de que não tinha nada de exagerado na atuação de Bradley. Acho ele matador na famosa cena onde ele rege a orquestra no ato final do filme, na discussão com Felicia no dia de ação de graças, na conversa inicial do filme entre ele e Felicia que tinham acabado de se conhecer, e conversavam em particular, num texto bem direto ao ponto... assim com nas cenas onde ele dá sua entrevista já idoso que inicia o filme, ali ele está matadoramente bem. Sua direção é boa, coesa, precisa, direta... mas na minha humilde opinião peca em momentos distintos, acho que se enaltece mais no 1° ato com aquele jogo de cenários internos e externos e ele faz essa transição tão bem, e dirige tão bem a Carey Mulligan e seus coadjuvantes... mas conforme o filme se desenvolve fica algo mais descaracterizado, acho que fica um pouco perdido, não sei direito o que ele quer dizer com algumas posições, com algumas decisões de filmagem, apesar de adorar muitos dos enquadramentos das cenas internas, naquela festa onde ele conhece seu amante, adoro aqueles enquadramentos, como se os protagonistas estivessem saindo de foco de suas próprias vidas...muito inteligente de Bradley.
A trilha sonora me abstenho de comentar... a obra de Leonard Bernstein fala por si só.
Em questão de indicações, são inúmeras em inúmeras premiações e não vou citar todas...apenas que até o momento, nas grandes premiações, é claro, 'Maestro' não levou nada, foi esnobado totalmente, a impressão que fica é que foi indicado mais por educação, porque não faturou nada, e a probabilidade de faturar algo nas premiações futuras são bem nulas. As principais indicações, óbvio, são Melhor Filme, Melhor Ator, Melhor Atriz, Melhor Direção e Melhor Roteiro Original, espalhados por Oscar, BAFTA, SAG's e Satelitte Awards. Não levou nada No Globo de Ouro e nem no Critics Choice Awards. Possui indicações técnicas também como Som, Fotografia, Maquiagem e Cabelo nestas premiações mas, não é favorito em nenhuma delas a princípio.
Eu particularmente achei o filme bem mais problemático do que muita gente apontou em suas resenhas desde que o filme estreou em cinemas seletos. Não me senti fisgado pelo o que Bradley construiu para Leonard neste longa, e se tornou cansativo acompanhar seus 25 minutos finais, muito exaustivo, eu ficava esperando Bradley encerrar seu filme, e o encerramento nunca vinha... não falo de terminar logo o filme, mas de ele dar o encerramento, no roteiro, no texto, uma conclusão cinematográfica sabe, se encaminhar para a conclusão de sua obra... que nunca chegava e se arrastava e arrastava em cenas desnecessárias ou fora de tom. Foi um final parecido com 'Nasce Uma Estrela' que é um filme ótimo e melhor que este, mas sofre do mesmo problema, é um parto para se encerrar e se arrasta e demora e quer tirar algo dali que já não tem.
Eu pessoalmente, não indicaria 'Maestro' a Melhor Filme no Oscar, nem no Globo, nem no Critics Choice... talvez ali no Satelitte Awards... do mesmo jeito que esnobaram Margot Robbie no Oscar, eu esnobaria 'Maestro' no Oscar, e daria a indicação para Bradley Cooper só a Melhor Ator, e tiraria ele fácil para colocar Greta Gerwig, e ainda lhe daria a indicação a Roteiro, mesmo com algumas falhas bem notáveis... mas não sou o maior fã deste trabalho de Bradley não; Acho que as indicações em todas essas premiações foram mais um afago em Bradley e na Netflix, do que merecimento mesmo... algo muito parecido com 'O Irlândes' de Scorsese, que sequer um Oscar levou... (apenas um Critics Choice de Melhor Elenco) e o mesmo deve acontecer aqui (Só que deve sair mãos abanando).
20 de Julho de 2023... essa foi a data que a maioria dos amantes de cinema guardou para escolher o que iria ver primeiro, no que ficou conhecido como o evento "Barbieheimer". Quando eu fiquei sabendo da produção dos dois filmes, nunca que eu pensei que iriam ser lançados no mesmo dia, e que seria um dos maiores eventos da história do cinema, junto com 'Titanic', 'Senhor dos Anéis', 'Star Wars', 'Vingadores Ultimato', entre tantos outros.
São poucos os filmes que tem a 'audácia' ou a 'coragem' de iniciar com uma sequência que remete diretamente a um dos maiores filmes da história da humanidade '2001 Uma Odisséia No Espaço'. E foi uma sacada muito boa.
Eu fico pensando, o quão difícil é você pegar uma franquia ou linha de brinquedos, como é este o caso, e criar um roteiro para um longa metragem se baseando em absolutamente nada... nada mesmo. Afinal de contas, o máximo que Barbie possui de história é os desenhos super infantis feito para as meninas, ou as histórias em quadrinhos que possuem 'Zero' história, são apenas passagens engraçadas. Não existem personalidades, não existe um ponto de partida para seguir, não hã nada para se basear, nenhum material existente para se adaptar (e aqui vem mais uma BURRICE dos Oscar em colocar o filme em Roteiro Adaptado, pelo menos nisto o BAFTA acertou).
Greta Gerwig, diretora de 'Adoráveis Mulheres' e 'Lady Bird' e atriz em 'Ruído Branco' e 'Jackie', escreveu o roteiro junto de Noah Baumbach, seu novo marido, diretor de 'Ruído Branco' e 'História de Um Casamento', e carregam um dos dois méritos de 'Barbie' ser um filme redondo, engraçado, divertido e decente, pois do mais completo nada, eles criaram um roteiro dando personalidade, mesmo que vaga a cada uma das Barbies do filme e dos Kens do filme, localizando a 'Barbieland' e dando todo um contexto reverso do nosso mundo e sociedade, e dentro da inocência de uma história de boneca perfeita e suas donas crianças que crescem e se tornam adultas com problemas, traz todo um tema sobre protagonismo social de gêneros, subversão de cargos e reflexão sobre dominância de ideias e costumes.
Greta e Noah criam um mundo onde os papéis se invertem, onde as coisas estão ao contrário para as bonecas e bonecos de 'barbieland' e o choque de realidade que Barbie e Ken recebem quando conhecem o 'Mundo Real', e todo o lance de patriarcado que Ken quer impor no seu mundo natal. Muitas destas cenas são ótimas e bem aplicadas no contexto do filme, não só apenas passando uma mensagem para quem está assistindo, como ao mesmo tempo se preocupa apenas em divertir, numa sutileza sem igual. É aquela velha máxima... existem muitas ideias ótimas e inteligentes, interessantes e funcionais, que além de você levar para as telas com uma história dramática totalmente original, ela também serve para personagens de fantasia... e isso engloba tudo, Marvel Comics, Star Wars, demais HQ's, desenhos animados, contos da Disney, e por aí vai. Coube muito perfeitamente em uma história de boneca de criança... o quão surreal é fazer isso? Méritos de Greta e Noah.
O outro dos méritos é de Margot Robbie, que junto a Greta e Noah, produziu o longa, apostou na ideia, comprou o desafio, e encarnou com uma performance digna de seu talento, a Barbie definitiva que as pessoas enxergarão daqui para frente. Margot deu a sua Barbie carisma, personalidade única, veia cômica, dramaticidade, e postura feminista dentro e fora de 'Barbieland', como vemos no choque que ela leva ao ver que no 'Mundo Real', tudo que as bonecas fazem, os homens é que fazem, e também em como ela se porta durante todo o problema do patriarcado instaurado por Ken na 'Barbieland'. As melhores cenas de Margot, são as de sua apresentação no começo do filme, para situar a Barbie ao público... as cenas de dança na festa à noite, as cenas onde ela tenta assimilar o que vê no 'Mundo Real'... e principalmente, as duas cenas finais onde ela não se acha boa o suficiente em sua conversa com Gloria, sua ex-dona, e a cena final com Ruth, onde ela finalmente se encontra dentro de si e sabe exatamente o que é e como deve prosseguir daqui pra frente. Esta cena final é carregada de emoção trazida pela atuação de Margot e, para mim, o ponto alto do filme.
Greta e Noah não poderiam ter criado um roteiro melhor para este filme, tudo funciona bem, de forma simples, sem complicação, explicado e colocado de forma sucinta, com discursos atuais, sem levantar bandeiras de feminismo ou machismo, o que foi muito inteligente de deles costurarem no roteiro, para não se perderem em discursos que não agregariam em nada o filme, apenas gerariam debates vazios por parte do público.
Uma das melhores cenas do longa, que Greta filmou magistralmente, foi toda a performance de "I'm Just Ken' com Ryan Gosling, Simu Liu e companhia. Isso é cinema, puro e simples, um número musical (que os americanos amam) que leva o roteiro adiante, que faz o personagem se encontrar dentro das suas dificuldades, sem deixar de entreter o público, são muitas camadas dentro de uma sequência só. Toda a sequência de dança de Gosling, Simu Liu, Kingsley Ben Adir e companhia foi muito bem coreografada, muito bem encenada pelos atores, e com show a parte de Ryan Gosling. Na verdade o ponto alto de Ryan Gosling como Ken, foi essa cena... essa sequência toda mostra a versatilidade de Ryan ao interpretar, que não é só atuar e dominar a arte do drama... mas saber dançar, saber cantar, muito afinado, muito bem, se portar diante da câmera, não sair do personagem, e ainda entregar emoção ao público. Ryan também merece crédito por criar um Ken do nada, pois, se as falas e a direção do personagem foram criados por Greta E Noah, foi Gosling quem deu o sopro de vida ao personagem, o carisma, a entonação de voz, o jeito de se portar, a forma de reagir a um mundo "dominado" por homens.
E óbvio, vale mencionar as demais Barbies e Kens do longa, todos muito estrelados, pois só tem monstro no papel: - Simu Liu, o Shang Chi da Marvel, ótimo como Ken, sua rivalidade com Ken Gosling é ótima; - Kingsley Ben Adir, de Invasão Secreta e do vindouro Bob Marley: One Love; - John Cena, o Pacificador em pessoa; - Ncuti Gatwa e Scott Evans, dois homossexuais interpretando Ken, que ficou muito bom de ver; - Issa Rae, de American Fiction como a Barbie presidente; - Emma Mackey, vencedora do E E Rising Star do BAFTA; - Dua Lipa, Sharon Rooney e Alexandra Shipp (de tick, tick...boom); - Harif Nef, atriz Transsexual que fez uma das Barbies; - A ótima e perfeita Kate McKinnon, da qual sou fã, que faz a Barbie estranha; Mencionado também Will Ferrel que dispensa apresentações, e a Oscarizada Helen Mirren, "A Rainha" que faz a narração do filme.
As canções do filme são muito boas, são ótimas, 'I'm Just Ken' é uma viagem de composição, que vai da simplicidade à bagunça sonora. A canção de Dua Lipa, 'Dance The Night' também é muito boa. 'Pink' da Lizzo que abre a cena inicial da Barbie na 'Barbie land' também é um dos pontos altos das canções do longa. Mas para mim, a melhor com certeza é 'What I Was Made For?' de Finneas e Billie Eilish, canção lindíssima que entrega a melhor cena dramática do longa, casou perfeito com o momento e foi muito bem composta pela dupla e performada pela Billie.
O filme, é ótimo, me ganhou, foi uma boa diversão, uma coisa ali e acolá no roteiro que ficou mal colocado ou expressado no roteiro que não atrapalha em nada o andamento do longa. Ponto. Não é e nem será nenhuma obra-prima, mas é um ótimo trabalho do quarteto Greta-Noah,Margot-Gosling, que ficará marcado na história do cinema junto a tantos outros clássicos, com toda a certeza.
Dito isto, gostariar de vomitar tudo que eu tenho pra falar da Academia do Oscar, e sua mais recente pataquada anual:
Com um trabalho desses, redondinho, que foi reconhecido sim pela academia, está indicado a Melhor Filme e outras categorias técnicas, teve uma GRANDE esnobada, uma não indicação por falta de coragem e outra indicação errônea por pura burrice mesmo.
Indicar o longa a Roteiro Adaptado é uma piada, e de mal gosto... Adaptado daonde? Da linha de bonecas? Tem história nessa linha de bonecas? Você precisa adaptar o seu roteiro de uma história já existente e pré-estabelecida... você adapta, para outra vertente e voilá. O BAFTA teve a inteligência de indicar o filme a Roteiro Original, deve ter sido o único, preciso pesquisar a fundo. Mas o Oscar, como sempre...
Não tiveram coragem de indicar Greta Gerwig a Direção, claro que olhando os indicados, quem você tirará dali para entrar, é complicado, eu assumo, e mesmo sendo indicada, talvez, e somente talvez, ela realmente não ganhasse. Mas não ter a coragem de indicá-la, de reconhecer o trabalho ótimo e surreal que ela fez com um filme que levou mais de 1 bilhão de pessoas ao cinema, é ser covarde do mesmo jeito que o BAFTA foi ao não indicar Martin Scorsese a Diretor, mas indicar 'Assassinos da Lua das Flores' a Melhor Filme... ou seja... cadê o critério? o Bom Senso?
E a grande esnobação deste ano, não indicar a Margot para Melhor Atriz, quando todas as demais premiações, (até o Satelitte Awards) indicou. E ainda ouvir a Whoopi Goldberg falando que se ela não foi indicada é porque não tinha que ser, que nem sempre todo mundo conseguirá ser indicado, e blá, blá, blá... A atuação de Margot, para um boneca que sequer tem personalidade, e o trabalho que ela entregou no longa, de várias nuances e vertente, é nada mais que DIGNO de indicação. É bem provável que ela não ganharia, pois este ano Emma Stone está matadora e é a principal favorita com sua mega atuação em 'Pobres Criaturas'. O próprio BAFTA a indicou, e olha que eles a indicaram duas vezes na mesma categoria por dois filmes diferentes anos atrás, o que foi um erro grotesco, pois ela merecia por apenas um.
Não só o Oscar, mas o BAFTA e por algumas poucas vezes os SAG's Awards, anualmente sempre cometem gafes, dão suas esnobadas, em questões de indicações, e no caso do Oscar, até nas questão de premiar também, com escolhas bem polêmicas. Mas a deste ano, realmente vai ficar marcado na história, é a mesma coisa de indicar Titanic em um recorde de indicações, mas não indicar seu protagonista Leonardo DiCaprio... percebem a incoerência?
Barbie recebeu uma chuva de indicações, e óbvio não vou colocar todos aqui porque a lista é gigante. Mas, Melhor Filme, Melhor Ator Coadjuvante, Melhor Elenco, Figurino, Melhor Canção estão indicados em todas as grandes premiações. Roteiro Adaptado apenas no Oscar, Roteiro Original em todas as outras premiações. America Ferrera recebeu indicação para Atriz Coadjuvante no Satelitte Awards, Critics Choice e Oscar;
Em termos de prêmios, até o momento, tirando os prêmios dados por críticos americanos setorizados, como em Nova York, Boston, Seattle e por aí vai... Barbie levou prêmios no Critics Choice Awards, e Globo de Ouro; - Canção Original para 'What I Was Made For?' da Billie Eilish e Finneas e Conquista Cinemática em Box Office, no Globo de Ouro; - Canção Original para 'I'm Just Ken', Melhor Comédia, Roteiro Original, Melhor Maquiagem e Cabelo, Melhor Figurino, Melhor Design de Produção, todos no Critics Choice Awards.
Este é o primeiro filme da Britânica Molly Manning Walker, de apenas 30 anos, ela dirige e escreve essas férias escolares de três adolescentes na flor da juventude, sexualmente ativas, viajando para Malia, Ilhas Gregas, para ter o melhor verão de suas vidas, regados a muita festa, muito álcool e muita pegação.
Porém, das três garotas, Tara, Skye e Em, apenas Tara é virgem e deseja desesperadamente perder a virgindade nessas férias, pois ela e Skye são as únicas que tem o futuro para a faculdade incerto, e claramente Tara não quer ir pra faculdade sem praticado o ato. Esse pequeno detalhe é o que engloba todo o roteiro do longa, pois a primeira experiência sexual de Tara, não foi dos mais agradáveis e o pós-sexo da garota é a cereja do bolo do longa.
Ao mesmo tempo que é um filme bem juvenil, um filme bem 'girls', com as questões femininas, os problemas juvenis das garotas e se parecerem gostosas, quais garotos vão conhecer, quem vai transar primeiro, o quanto irão beber na noite, o quanto não irão beber na noite, o quão irão se jogar na festa, se vão passar dos limites ou não... o filme também carrega o seu tom dramático, pois ele lida com uma primeira vez feminina dramática. Veja, este era para ser o melhor verão das vidas delas, as melhores férias 'Ever', mas para Tara, se tornou um martírio, um peso, um fardo, após sua primeira relação. Nós uma primeira metade de filme bem leve, a apresentação das garotas, a personalidade de cada um, a apresentação dos coadjuvantes, os garotos e garota que elas pegam, festas com muita música eletrônica, karaokês desafinados, vômitos, bebidas, roupas, piscinas, uma entrega a vida total... além de paqueras, e uma pseudo rivalidade criada por Skye com relação a Tara sobre um garoto que ambas estão afim (Badger, do ótimo Shaun Thomas).
A segunda parte do filme, até seu final, é justamente quando Tara tem essa sua perda de virgindade, e em como isso a afeta, pois como Molly deixa claro, ela não estava 100% certa de que queria, e do outro lado houve apenas a vontade de meter e se satisfazer, tornando a experiência de Tara horrível, que ditou o tom do resto do filme, e a mudança de comportamento da garota, que acabou com suas férias e sua curiosidade com a primeira vez, ao mesmo tempo que Tara não quis estragar essas férias com suas amigas, e esforçadamente fingiu que estava tudo bem para tudo continuar bem.
Eu acho que Molly Manning fez um ótimo trabalho, ao menos comigo é claro, conseguiu deixar o espectador imerso na narrativa e no que as garotas estavam vivenciando naquelas férias. Os diálogos são ótimos e denotam perfeitamente as atitudes e visão de mundo de adolescentes britânicas (que englobam no geral) que colocam a diversão em primeiro lugar, e a preocupação para depois, vide a inexperiência da idade. Molly não deixa de tirar o foco das três garotas em nenhum momento, mesmo Tara sendo a protagonista e obviamente tendo o maior tempo de tela e tendo o seu discurso mais entonado no filme. Há espaço para as inseguranças de Skye, que mesmo sabendo que é uma garota gostosa, não lida bem com garotos que não lhe dão atenção, que não lhe enxergam, jogando parte da culpa destes atos em outras garotas que estão perto dela chamando a atenção destes garotas... e aqui isso recai sobre Tara. Já com Em nós descobrimos conforme o longa se desenrola que ela é gay e por mais que queira se soltar em sua pegação com Paige (Laura Ambler), ela se sente um tanto quanto presa por ver que Paige está meio nervosa com essa paquera entre as duas.
Com Tara, Molly evidencia mais seu envolvimento com Badger, que são os primeiros a se conhecer do grupinho dos dois, e que de cara se curtem, indo etapa por etapa, até estarem naquele tipo de 'Romance/Pegação de verão', são namorados até as férias acabarem... Molly deixa sub entendido que as férias de Tara seriam perfeitas se a pegação dos dois fossem pra frente, se as experiências que Tara buscava fossem com ele, tudo estava bem até então...não fosse a competição da ereção com as meninas, que acabou assustando/afastando Tara, o famoso e eterno 'ciuminho' de ver sua paquera tão vivo, tão erótico, tão solto, tão 'não minha propriedade'. E, sem spoilers, mesmo tendo já contado muita coisa, dali para frente é só ladeira abaixo para ela.
É um discurso bem importante e atual sobre cruzar linhas, respeitar limites, saber enxergar quando os sinais mostram que há um NÃO bem grande à sua frente que não é verbalizado seja qual for o motivo de não ser expelido para fora. É claro que há a vontade (dos dois), que há a curiosidade, que há a preocupação em não estragar o clima, em não decepcionar o próximo, em não ser uma idiota (mesmo sendo um pensamento que não condiz)... mas há os sinais, são muito fáceis lê-los, e não há defesa quando se cruza tais limites... o bom senso sempre deve imperar.
Mia McKenna-Bruce é garota do momento, perfeita, talentosa, carismática, competente, sensível, explosiva, por alguns ,momentos pareceu a Florence Pugh mirim... grande parte do filme ser divertido e gracioso de se acompanhar se deve a sua atuação. Foi certeira em tudo que trouxe para a personagem e saiu do cômico para o dramático com muita naturalidade, em cenas que exigiram demais em entrega de emoções, em entregas performáticas, ou em entregas mais íntimas, onde ela os faz com muita segurança e sem repreensão. É uma menina que merece muita atenção a seus futuros projetos daqui para frente, pois tem muita veia dramática para mostrar e muito talento para manter um protagonismo satisfatório que ganhe o espectador do momento que aparece até o desfecho da trama.
As suas duas amigas interpretadas por Lara Peaks e Enva Lewis, também são ótimas e quando são exigidas encenam de igual pra igual com McKenna-Bruce, engrandecendo a trajetória das três garotas e entregando reações condizentes e satisfatórias, que as deixam com um enorme carisma dentro do longa.
Os rapazes, Samuel Bottomley e Shawn Thomas fazem os garotos festeiros e de bem com a vida, que já são pegadores natos, mas cada um com uma personalidade. Shawn faz o estilo bonzinho, e pegou o tom de seu personagem muito bem, pois até em seus trejeitos ele entrega essa persona mais pseudo-adulta, de querer fazer o certo dentro da confusão dos momentos, e o mais sensato do grupo do outro lado da hospedagem. Já Samuel faz o amigo dele que é mais 'farrista', não se importa com consequências ou emoções, o famoso 'se vacilar eu pego, se não for, eu vou', sempre querendo mais, sabendo o que quer, e deixando claro que quer e quando quer, e eu sei que você também quer.
Há alguns takes do filme, nos quartos de hotel e na balada de começo do filme, que cenograficamente é muito bem construído, muito bem detalhado, mas são as cenas externas que se fazem mais presentes, e sim são bem transplantas para as telas, como a cena depois da praia onde Tara anda sozinha em meio a muita bagunça nas calçadas de Malia. Também há takes fotográficos que enaltecem a cinematografia do longa, sendo que aqui ela se faz mais presentes nas cenas de festas, onde são cuidadosamente bem construídas e enquadradas, e esses poucos takes na praia que engradecem o trabalho de Nicolas Canniccioni, o diretor de fotografia do filme.
As músicas do filme são típicas de baladas regadas a muuuito álcool e drogas, aqueles 'Tranz' que envolve quem se joga no momento e deixa em transe quem está no 'feeling' da curtição... Quem frequenta Raves vai se familiarizar com o ritmo frenético, e mesmo quem não frequenta ou curte, reconhecerá de cara o frenetismo do som que dita o ritmo de todas as cenas de curtição das garotas e seus amigos.. principalmente nos créditos finais.
'How To Have Sex' recebeu três indicações no BAFTA deste ano, para Melhor Elenco, Melhor Estréia de um Diretor, Produtor ou Roteirista Britânico e Melhor Filme Britânico. Confesso que torço para Molly Manning levar ao menos um BAFTA para casa e com relação a Melhor Filme Britânico, ainda não assisti os outros Oito indicados, mas fico indeciso entre 'Saltburn' e este filme, sendo que tenho uma leve preferência por 'Saltburn'.
'How To Have Sex' ainda levou o prêmio 'Un Certain Regard' no Festival de Cannes; Também faturou três prêmios na Premiação de Filmes Independentes Britânico, para Performance Coadjuvante para Shaun Thomas, Performance Principal para Mia Mckenna-Bruce (merecidíssimo, batendo Tilda Swinton, Andrew Scott, Jodie Comer) e Melhor Elenco.
Um ótimo filme e roteiro de estreia para Molly Manning, um ótimo entretenimento, um tema muito relevante e atual na questão feminina e uma atuação de sua protagonista principal perfeita e corajosa. 'How To Have Sex' é um dos destaques do ano passado e Top de 10 sem medo de melhores filmes de 2023.
Uma das cenas do filme que viralizou nas redes sociais em Dezembro passado, foi quando Barbara (Rachel McAdams) conversava com a filha Margareth (Abby Ryder Fortson) sobre o porquê de Barbara não falar mais com seus pais. Essa cena traz uma atuação bem singela de Rachel, onde no momento onde ela fala 'Sorry' e enxuga as lágrimas, e volta a falar com a filha, e nos deixa no ar se faz parte do roteiro, ou se ela realmente se emocionou, pediu desculpa por chorar, mas seguiu com a cena como se fosse uma reação natural de Barbara. E nas redes sociais, os internautas escreviam como ela não havia ganhado tantas indicações para Atriz Coadjuvante nos prêmios que estavam acontecendo naquele mês.
Essa é uma das muitas (e eu digo MUITAS) cenas bacanas que este filme possui, sejam dramáticas, sejam cômicas, sejam inusitadas. E este filme é a prova viva de o quanto as premiações de cinema influenciam na promoção de um filme, afinal... 'Are You There, God? It's Me, Margareth,' (odeio o nome em português) não teve a miníma visibilidade pelo grande público, também pelo fato de não ser lançado no cinema e ir direto pro Streaming. Este fato faz o filme perder força, ser menos falado e visto, e se tivesse ganho muitas indicações, ou pelo menos as indicações de Rachel McAdams e Roteiro adaptado, teria alcançado um número mais considerável de espectadores.
Dirigido, Roteirizado e Produzido pela talentosa e delicada Kelly Fremon Craig, 'It's Me, Margareth.' é um filme leve, divertido, descontraído, que mergulha o espectador na entrada da adolescência das garotas de 12, 13 anos. Aqui no filme, Margareth é obrigada a se mudar de Nova York após seu pai ser promovido no emprego, e sua família se muda para New Jersey, onde ela fará novas amigas, conhecerá novos garotos, entrará na puberdade feminina, com todas as questões físicas e hormonais, e se redescobrirá como garota e também as origens de sua família.
Todo crédito do filme ser gostoso de acompanhar e ser um entretenimento puro, vai para Kelly Fremon, que não só teve tato para dirigir seu elenco e lidar com as várias questões femininas inseridas com a maior naturalidade e cuidado, como escreveu o roteiro perfeitamente, adaptado do Livro de mesmo nome, de uma forma simples, com texto cativante e detalhado, além de possuir personagens coadjuvantes que complementam a história contada.
São inúmeras as cenas que divertem e prendem a atenção do espectador no longa, como a já citada acima, e quando Margareth pede o primeiro sutiã para sua mãe... também quando ela e sua amiga Janie vão à farmácia comprar absorventes... a própria cena quando ela prova um absorvente pela primeira vez... quando ela põe meias na blusa para desfilar imaginando que tem seios grandes... todas as cenas onde ela tenta se encontrar em uma religião... a cena da brincadeira de 2 minutos no banheiro... e muita gente aqui vai concordar comigo, as melhores cenas do longa quando ela e suas quatro amigas, Janie, Nancy e Gretchen, gritam em uníssono "We Must, We Must, We Must increase our bust", fazendo uma coreografia com os braçoes, na intenção de seus seios crescerem mais rápido que os das outras garotas. HILÁRIO.
É uma comédia dramática muito bem adaptada para as telas baseada no livro, é praticamente uma viagem no verão para a casa de algum parente, ou de um amigo, umas férias longe de casa, é assim que descrevo a experiência de acompanhar este filme, com ótimas interpretações do elenco. Há temas muito bons, como a procura de Margareth em se encaixar em uma religião, já que sua mãe é cristã e seu pai e avó são judeus, e ela frequenta todas essas igrejas para tentar descobrir qual é a melhor religião para ela, dentro é claro da inocência de sua idade e como enxerga o mundo a sua volta. Também traz um olhar para questões de pertencimento dentro de grupo sociais, no caso, as novas amigas de bairro e escola, sem poder escolher com quem quer se enturmar e tendo que se dobrar a vontade de quem está a sua volta, para agradar e possuir um grupo de amizade, mesmo que seja um grupo que não a faça bem.
Outras questões incluem diferenças familiares que não são respeitadas ou tentam ser respeitadas, e questões de pertencimento a grupos sociais similares a que Margareth passou, mas envolvendo sua mãe, Barbara, que agora é mãe em tempo integral sem precisar trabalhar.
Rachel McAdams que faz a mãe de Margareth, a Barbara, está perfeita no filme, ela sabe como ninguém de colocar em um filme deste tipo, as comédias dramáticas, e as românticas também. A cena citada acima é seu ponto alto no longa, para mim digna de indicação a Coadjuvante, pelo menos nas premiações como Globo ou Critics Awards.
Ben Safdie, ótimo ator de filmes como, 'Stars At Noon', 'Pieces of A Woman' e 'Licorice Pizza', além de dirigir ao lado de seu irmão, Josh Safdie o filme 'Jóias Brutas' da Netflix, faz o marido de Barbara e pai de Margareth, Herb, que aqui aparece pontualmente, não é muito exigido, e só se destaca mais na questão envolvendo sua religião judaica na janta com a família toda reunida.
Mas os dois destaques do filme com certeza são Abby Ryder Fortson e Ellen Graham. que fazem Margareth e Nancy, respectivamente. Abby Ryder é mais conhecida por fazer a Cassie Lang, filha de Paul Rudd nos dois primeiros filmes do Homem-Formiga da Marvel... aqui, já bem mais crescida, ela está ótima como protagonista e atua de uma forma muito singela, gostosa, leve... possui uma veia cômica, que vai até a dramática num só piscar de olhos, algo que poucos atores conseguem fazer com naturalidade, e Abby entrega de uma forma genuína que deixa sua personagem muito agradável de se acompanhar. Seus monólogos com Deus, em seu quarto são também seu ponto no longa, sempre começando com 'Are You There, God? It's Me, Margareth Simom.' Daí o nome do livro e filme, e o porquê odeio tanto no nome em português, que sequer cito.
Já Ellen Graham que faz a amiga de Margareth, a Nancy Wheeler, a loirinha metida que quer ser dona de suas amigas, é de longe umas das melhores atuações do longa. Acharam essa menina a dedo, ela é perfeita, sua atuação é divina, hilária, performática, não deixa a peteca cair em nenhum segundo do filme. Uma dedicação à personagem sem igual, que pouco se vê em filmes aí a fora, seja com atores adultos, ou atores mirins. Temos premiações como o Critics Choice Awards, o Astra Awards, o Satelitte awards, que premiam Jovem Ator e Atriz do ano, e sem dúvida nenhuma, eu indicaria essa menina em todas as premiações que possuem essa categoria. Virei fanzaço dela, e de longe é a melhor personagem do filme.
Também temos a grandiosa Kathy Bates que dispensa comentários, fazendo a avó de Barbara, a Sylvia Simon, que aparece pontualmente no longa, e pouco exige da atriz, só sua figura grandiosa, já eleva o peso da avó na vida de Margareth.
A trilha sonora é de ninguém menos que do Oscarizado Hans Zimmer, que também dispensa comentários, e neste filme, esqueça aquelas composições magnânimas, grandiosas, fabulosas, regadas a muita orquestra, com tons densos e construções memoráveis. Aqui temos algo mais familiar, inocente, singelo, onde ele abusa do piano alegre, criando aquele ar de férias de verão que comentei mais acima.
Em termos de premiações, no People's Choice Awards foi indicado a Melhor Filme de Comédia; Na premiação Britânica de Filmes Independentes, deu indicação para Rachel McAdams para Atuação Coadjuvante; No Critics Choice Awards levou indicação para Roteiro Adaptado e Jovem Ator/Atriz para Abby Ryder Fortson, perdendo nas duas categorias.
Todos os méritos para Kelly Fremon que fez um filme delicioso de se acompanhar, com tantas camadas que deixam seus personagens interessantes, temas bem pertinentes e bem levantados no roteiro de Kelly, e um elenco super dedicado com uma dupla de garotas, Abby e Ellen, que dão um show em cena e faz deste filme uma das melhores comédias dramáticas do ano passado... e na minha mais modesta e humilde opinião, muito mais divertido que o mediano 'Que Horas Eu Te Pego?' (título que também odeio)
Eu sempre achei que o cinema asiático sempre foi muito competente em entregar dramas de altíssima qualidade, e sempre tendo a proeza de construir aquele drama que é a assinatura deles em obras fantasiosas que são parte da cultura social, principalmente japonesa, e que são exaltados e respeitados pelo seu povo.
Há vários filmes da franquia Godzilla onde eles tentam encaixar esse Drama, mas 'Godzilla: Minus One' é um dos poucos (ou talvez o único) que consegue atingir tal feito com extrema maestria, fazendo com que o foco do filme não seja no monstro nipônico em si, e sim, no protagonista e nos coadjuvantes, que são a peça chave, central e a alma do filme.
Este mérito pertence a Takashi Yamazaki, Diretor e Roteirista do longa, que fez um trabalho esplêndido ao dar importância para a jornada dos personagens do longa, seja do protagonista Shikshima, ou da mãe por acaso, Noriko, ou o garoto Shiro, ou Kenji Noda, o professor de trabalha para o governo, e todos os demais... Yamazaki faz com que nos importemos com estas personagens, ele os escreve de forma bem comum, é fácil demais nos enxergarmos neles, de vermos nossos medos ou imperfeições neles, de nos relacionarmos com eles e ficarmos agoniados para que estas personagens não tenham o mesmo fim que tiveram as pessoas atacadas pelo monstro gigante em sua investida no meio do filme.
Yamazaki também tem mérito em transpor para as telas de uma forma que a película remetesse aos tempos antigos, sendo que fica nítido que as câmeras usadas são da mais alta qualidade e que o filme está numa qualidade perfeita de captação, mas ele inclui aquele tom antigo, desgastado, que nos remete aos filmes da de´cada de 50, 60, onde os filmes do Lagarto gigante ganhou sua popularidade local. Há ótimas cenas filmadas no mar, no embate dos protagonistas com Godzilla, e o uso de esferas explosivas, metralhadoras de guerra com infinitas cápsulas, e takes subaquáticos que apesar de serem curtos, elevam a batalha final do longa.
As atuações são a cereja do bolo deste longa, com Ryûnosuke Kamiki liderando o elenco, com uma atuação segura e comovente, de um Shikshima que está desiludido por não ter cumprido seu dever como soldado kamikaze (ponto este trazido ao filme para evidenciar o profissionalismo, patriotismo e sentimentos dos soldados japoneses para com o dever durante a guerra).
Munetaka Aoki é outro ator que gostei demais em cena no longa, atuação forte, dedicada, estudada, uma presença de cena sem igual, trouxe muita personalidade para sua personagem, o chefe da ilha que Godzilla atacou, Sõsaku Tachibana. Ele volta no final do filme como o Ikki renascendo das cinzas para salvar o dia, e elevar o protagonista ao heroísmo. Grande ator.
Minami Hamabe foi muito bem também como o 'par romântico' de Shikshima, a Noriko Õishi, e traz as duas melhores cenas do longa para mim, quando ela empurra Shikshima quando vem a onda causada pelo impacto de Godzilla, em um ato heróico de salvar o seu amado...
E no fim, quando se encontra com ele no hospital, na MELHOR cena do filme, a mais emocionante, a mais inesperada e que fecha magistralmente essa passagem trágica que o povo nipônico sofreu durante a guerra com o monstro aquático. Isso sim é cinema em sua mais pura essência que conecta o espectador com as demais pessoas na sala de cinema, e entrega um entretenimento emocionante e humano.
Não vou citar todos do elenco, mas estão todos IMPECÁVEIS.
Uma ótima cinematografia, muito bem filmada, enquadrada, captada, e uma cenografia perfeita, uma construção de cenário devastado pela guerra convincente, e uma destruição de cidade entregue de uma forma surreal. E o que falar da trilha sonora composta por Naoki Sato? Não há um momento no filme que a trilha não seja uma extensão da cena em si, ela envolve os acontecimentos de momento, evidencia a personagem na cena em questão, e se torna uma extensão daquilo que estamos presenciando, enriquecendo demais a experiência de acompanhar o longa. É grandiosa, esplêndida, e pontua toda a fúria do monstro gigante, ao mesmo tempo que contextualiza o medo e o pavor ao percebermos (espectador e personagens/figurantes) a chegada do monstro.
Não tem como não torcer para ops personagens do longa, e ficar na expectativa para o gigante ser derrotado, ao mesmo tempo que ficamos aflitos para vermos qual será o destino de Shikshima, e também como se sairá o plano que elaboraram para derrotar o lagarto aquático... terão sucesso? Quantas baixas teremos? quem iremos lamentar a perda ao final do longa?
Infelizmente, o longa foi pouco lembrado nas premiações americanas nesta temporada, tendo conseguido apenas 1 indicação ao Critics Choice Awards de Melhor Filme Estrangeiro, perdendo para o arrasa quarteirão da temporada 'Anatomia de Uma Queda'. Já na premiação local, o Asian Film Awards, levou as indicações técnicas de Efeitos Visuais e Melhor Som, além da indicação para Minami Hamabe em Atriz Coadjuvante.
Pelo menos em minha opinião, considero 'Godzilla Minus One' uma obra-prima do cinema moderno nipônico, um trabalho esplêndido de Takashi Yamazaki, um diretor genial, a frente do tempo, visionário, e uma lenda no Japão. Como não sou grande conhecedor de seu trabalho e dos demais longas japoneses ao redor das décadas, não posso avaliar se é seu melhor trabalho. Mas eu considero um dos melhores Dramas que o Japão já produziu, sob as mãos geniais de Takashi Yamazaki.
(Assistido em 09/01/2024 - Espaço Itaú Cinema Frei Caneca)
Dirigido e Roteirizado por Gene Stupnitsky, 'No Hard Feelings' (não gosto do nome em português) é o seu segundo filme, e teve produção de muitos nomes, incluindo a protagonista Jennifer Lawrence. Foi a comédia pastel do verão americano ano passado, e eu lembro que quando estava em cartaz eu estava muito querendo conferir o filme, fiquei bem curioso para ver um filme totalmente comédia com a Jennifer Lawrence protagonizando.
Gosto muito da Jennifer, acho ela uma ótima atriz, completíssima, dramática e cômica na medida certa, sem falar que é um carisma imenso como pessoa. Mas eu confesso que fiquei sem entender a premissa desse filme, em ser a produtora de um projeto que pouco entregou. Nem parecia ser um filme feito para cinemas, parecia mais um filme feito para TV.
O roteiro de Gene Stupnitsky é bem básico, bem clichê, é o cinema cômico em sua essência (odeio essa palavra), aquilo que já conhecemos de inúmeros e diversos filmes, como 'Sim Senhor', 'Click', 'Quem Vai Ficar Com Mary?' e por aí vai. Acho que o problema aqui nem é o roteiro, mas a forma como foi transplantado para as telas, e algumas decisões de cenas que achei bem desnecessárias. O filme não é de todo ruim, tem bastante coisa ali que dá para elogiar, exaltar, como a relação de Maddie e Percy, as confusões que a Maddie passa no filme para tentar arrancar um coito com Percy, as questões emocionais de Percy, que ainda é um garoto e está começando a descobrir o mundo adulto do flerte/pegação/primeira vez com uma pessoa mais velha... enfim.
Mas eu fico me perguntando o quanto Jennifer ficou a vontade em dar o ok para algumas cenas que eu, pessoalmente, achei bem desnecessárias: - A principal foi a cena da luta nua na praia com os adolescentes que estavam roubando as roupas deles, eu achei uma cena bem apelativa, mais pelo fato de terem usado a nudez gratuita de Jennifer. Durante toda a cena e o desenrolar dela, depois da luta, com o Percy já no capô do carro, em nenhum momento vemos o Percy completamente nu, mas a Maddie está mostrando tudo na luta na praia, seios, vagina, bunda, tudo... aonde está coerência, porque o Percy também não apareceu com a Rola de fora, ele cobre com as mãos... então uma priquitinha é menos ofensivo na tela que uma Rola balançando? Pra mim a coerência foi zero, e a cena poderia muito ter sido enquadrada com a Jennifer lutando e aparecendo no máximo os seios, e nos takes, se evitava mostrar suas partes íntimas que mesmo assim teria ficado engraçado em cena. Não gosto muito de nudez gratuita, se for uma nudez que sirva o personagem, o roteiro, que diga alguma coisa para o filme, para o que estamos assistindo, é mais do que valido e nada ofensivo. Mas quando é gratuito, quando é com uma atriz que é atraente de corpo, bonita, claramente gostosa, dentro de um filme cômico que quer arrancar risadas do público à força, aí eu realmente não curto e pra mim foi um problema muito grande. Por isso me pergunto o quanto Jennifer ficou a vontade em dar o ok para algo assim, ela ficou 100% de boa, apostou no projeto? Ficou meio assim mas aceitou por ser uma Atriz e encara o que vier? Foi ideia dela? Enfim...
- Outra cena foi a do quarto onde eles finalmente foram transar, mas não rolou, quando Percy subiu encima dela ele acabou ejaculando antes de qualquer coisa. Nada foi mostrado, mas Maddie faz o movimento debaixo do cobertor e fala em cena, limpando a perna dela que ficou melada com a queima de largada do rapaz (quem nunca...). Mais uma cena, na verdade um diálogo, que eu também não curti, afinal a veia do filme é um cômico de idas e vindas e confusões para a protagonista conseguir o que quer, até cair a ficha e perceber que está agindo com falta de caráter... e não uma pegada 'American Pie', de cenas gratuitas de tesão que era a premissa central da franquia... aqui não é assim, teria que ser mais setorizado, as situações tem que servir ao filme, não o filme se sustentar nas situações, que caem na chanchada.
Mas isso, pessoal, é apenas a minha visão do que o filme poderia ser e como poderia ter se construído, afinal, o que não foi bom para mim, pode ter sido bom para os outros,
Da Jennifer eu não vou falar muita coisa, porque eu já comentei no início e sua carreira já diz por si só, foi divertido demais vê-la em cena e o mais bacana é ver como ela se entregou mesmo ao projeto.
Andrew Barth Feldman que fez Percy, é um ator bom, sem dúvidas, mas eu não sei, não curti muito ele em sua parceria com Jennifer, ao meu ver ficou devendo ali e acolá. Acho que para entreter o público ficou dentro do esperado, mas para mim, ficou desbalanceado. Tem muitas cenas que ele está muito bem, no restaurante, no sofá quando passa o creme de irritação de pele, no "sequestro" que não era sequestro... mas foram momentos esporádicos.
Do elenco coadjuvante, tem muitos rostos conhecidos de minha parte, fiquei feliz em vê-los, mas eles pouco têm a acrescentar no roteiro e apenas aparecem para dar aquela mudada no caráter de Maddie, fazê-la evoluir dentro do roteiro, e o casal de amigos dela, está completamente perdido no filme, não os atores, mas as personagens, não servem para nada, absolutamente nada.
O casal de amigos de Maddie são interpretados por Scott MacArhur e Natalie Morales, ela que conheço da série 'Disque Amiga pra Matar' da Netflix. Não sei se ela estava grávida de verdade, não cheguei a pesquisar. Ainda tivemos Ebon Moss-Bachrach como Gary, da fenomenal série da qual sou fã de carteirinha 'The Bear'. Os pais de Percy são interpretados pelo já consagrado Matthew Broderick do clássico 'Curtindo a Vida Adoidado' e 'O Pentelho'... e Laura Benanti, que foi a mãe de Kara Danvers na série 'Supergirl' da CW (eu me surpreendi com o quanto o Matthew deu uma engordada, fazia tempo que eu não o via).
Mal dirigido não foi, mas não teve aquela inspiração para entregar um filme mais redondo, atuações mais aceitáveis, cenas mais bacanas... pra mim não teve nada demais, não foi um trabalho ruim, mas não foi nem um pouco digno de elogios.
A impressão que ficou para mim, é que as indicações que o filme teve na temporada de premiações foi mais para trazer o filme de volta aos olhos do público do que merecimento. Também acho que foi aquele famoso tapinha nas costas que a indústria tem, para agradar/ajudar Executivo de distribuidora, ou algum produtor, algum parceiro da indústria, talvez até a própria Jennifer... porque nenhuma das indicações que o filme teve eu achei válido.
No Globo de Ouro foi indicado a Melhor Atriz em Filme Comédia/Musical para Jennifer Lawrence; No Critics Choice Awards foi indicado a Melhor Comédia; No People's Choice Awards foi indicado a Comédia do Ano, Atriz de Comédia Favorito e Estrela de Filme Comédia do Ano, ambos para Jennifer Lawrence.
No People's Cjoice Awards eu até compro, não falo, a premisaa da premiação é ser mais popular mesmo, mais pipoca. Mas no Globo e no Critics Awards, ao meu ver, foi forçado, indicações que para mim não condizem, e serviram mais para re-promover o filme do que qualquer merecimento que ele possa ter.
É o típico besteirol americano, aqui pessoalmente, muito forçado, muito gratuito, pouco inspirado, mas confesso possui muitas cenas de fazer você fiar boquiaberto e rir em bons momentos. Não é de se jogar completamente fora, mas também entrega pouco e de forma bem superficial. Por ter essas cena sgratuitas de nudez e situações forçadas de ejaculação precoce com falas descaracterizadas com a proposta real do longa, não chega nem ser filme de Sessão da Tarde... fica mais para Corujão;
Como não amar Emerald Fennell, se havia virado fã dela em seu primeiro filme (Promising Young Woman), neste segundo filme ela virou uma de minhas cineastas/roteiristas favoritas. Essa mulher consegue entregar entretenimento puro, e sádico, que lhe faz se desconectar do mundo à sua volta por cerca de 2 horas.
Muito se anda falando de 'Saltburn' ser o filme mais polêmico do ano passado, de ter muito conteúdo erótico, de ter cenas eróticas desconfortáveis, como a cena da banheira ou a do cemitério, quando na verdade estes pontos sequer entram em debate sobre o filme. O que deve se exaltado aqui é a construção de um roteiro que lhe faz entrar em dois mundos distintos, mas que se conectam... primeiro a universidade de Oxford que Oliver Quick acaba de ingressar, mesmo que seja superficialmente aprofundado no longa, e a outra é a escandalosa mansão Saltburn. Fennell lhe faz ingressar em mundo fora de qualquer contexto conhecido, seguindo suas próprias regras, sustentados por velhos e ultrapassados costumes, um mundo à parte que pode consumir a personalidade de pessoas que buscam algo sólido na vida... no caso de Oliver, isso engloba muito coisa.
Para mim, grande parte de 'Saltburn' se um grande filme, vem de seus personagens totalmente carismáticos, e por mais que o espectador não goste de um ou de outro, que tenha raiva de um personagem ou de outro, e que se assemelhe mais à um ou à outro... todos eles te prendem à primeira aparição na tela, e o carisma que cada um carrega faz você ficar cada vez mais envolvido com os breves momentos na universidade, ou nos acontecimentos estrondosos na Mansão Saltburn.
Não há grandes apresentações por parte de Fennell dos personagens, são inseridos de cara e conforme eles vão se performando em tela nós os conhecemos mais e mais. Óbvio que o foco do filme se dá na mansão que leva o nome do filme, mas a introdução de Fennell em Oxford, mesmo que não seje tão aprofundada em si, é o suficiente para já prender a atenção do espectador. Não temos algo focado em aulas, professores, ou em como os acadêmicos se relacionam na universidade, sua inserção no longa cabe mais para nos dar um ponto de partida no começo de amizade entre Oliver e Felix, nos apresentar alguns coadjuvantes, em como eles se relacionam fora das horas de estudo. Como vai se criando esse laço de camaradagem entre os dois, que leva a confidências pessoais, inseguranças compartilhadas, gostos em comum e uma profunda admiração um pelo outro. Só então temos uma transição para mansão, onde o filme praticamente muda, não da água para o vinho, mas nota-se em como o novo núcleo, que é a família excêntrica de Felix, faz o longa ter um rumo distinto do que vinha sendo construído até então.
É na família de Felix que temos boa parte do carisma dos personagens, cada um é o reflexo de uma faceta da alta sociedade moderna, ainda com adornos de costumes aristocratas que permeiam ainda no século atual. A Mãe carente de atenção, com costumes e trejeitos superficiais que é facilmente manipulada por terceiros, dada a sua desesperada vontade de falar sobre tudo e todos a sua volta. O pai fantasioso que não enxerga o mundo a sua volta. A filha que se coloca no centro do universo, como se tudo girasse ao seu redor. O mordomo preso a etiquetas que adora essa prisão. O primo/parente parasita. E, claro Felix, o 'Bon-vivant'.
A conversa do filme é tão rica, o que se propõe a mostrar, a dizer, a moldagem de seus personagens, como se relacionam, a faceta mostrada de uma pseudo-sociedade que acha que faz mais bem do que mal, sem saber o quão age fora da realidade atual. Tudo isso são os pilares centrais que fazem o filme de Fennell funcionar, e o erotismo incrustido nele, como o próprio adjetivo diz é só a pele que cobre o filme. Não enxerguei nada polêmico, fora do normal, que insulte o espectador ou que cause repulsa ou nojo (a não ser os mais puritanos que vão se incomodar, ou os que não se sentem a vontade com o tema sexo).
O sexo é sujo, é safado, é picante, os atos de Oliver no filme, nas duas cenas mais 'polêmicas' não são nada demais... a primeira no meio do filme não chega a ser nada que homens e mulheres não façam durante o coito (que é mais 'sujo' que o mostrado em tela). Já no fim do filme, o ato cometido por Oliver diz muito sobre o personagem, aquele fogo preso dentro de seu corpo que nunca foi posto pra fora, sempre ficou ali, enjaulado, louco para ser colocado para fora e nunca alcançado... um ato de desespero que diz muito sobre Oliver e a forma como ele enxerga o mundo e as pessoas. Um ato que em situações trazidas pro mundo real, dentro desse desespero, seria muito bem cometido a quatro paredes em um ato solitário bem trabalhado... percebem, o quão comum são essas ações? Mas dentro desta ficção, elas são colocadas em um contexto que serve ao personagem... se elas chocam a maioria das pessoas, é porque o personagem é excêntrico, suas ações são excêntricas, seus modos são excêntricos.
E o que falar do elenco que Fennell reuniu pro filme? Barry Keoghan (de 'Eternos' e 'Os Banshees de Inisherin') e Jacob Elordi (da xarope 'Barraca do Beijo', e o Elvis de 'Priscilla') entregaram tudo como Oliver e Felix. Barry já dispensa comentários, pois é um ator talentosíssimo que possui muitas camadas em suas atuações, entregando personas riquíssimas para seus personagens, como visto em 'Os Banshees de Inisherin' e seu Dominic, ou seu Druig em 'Eternos'... Barry construiu um Oliver que facilmente nos encantaria, que nos conquistaria sua delicadeza, sua generosidade e seu charme, que nos enganaria facilmente, sem desconfiarmos de sua verdadeira faceta. Já Jacob Elordi, é seu primeiro trabalho que confiro, pois 'Barraca do Beijo' não é pra mim, e eu gostei de mais de vê-lo em cena, muita desenvoltura, muito carisma, trouxe charme e descontração para seu Felix, é um deleite vê-lo em cena desde que aparece e sempre esperava por mais, e felizmente o roteiro de Fennell foi generoso com Jacob, pois seu Felix tinha muitas camadas para trabalhar e muitos caminhos a seguir no longa.
Rosamund Pike (do ótimo 'I Care A Lot' original Netflix) faz a mãe de Felix, Eslpeth, e está ótima no papel, bem diferente do que costumo ver dela, onde interpreta personagens com uma construção aprofundada que gera uma mudança em sua interpretação que a deixa irreconhecível em seus papéis. Aqui ela faz a aquela pessoa que você facilmente vai moldar as opiniões para que ela concorde com tudo que você verbaliza. E sua atuação como Eslpeth vai de acordo à essa personalidade.
O grande Richard E. Grant (de 'Loki' e do ótimo 'Todos Estão Falando Sobre Jamie'0 faz o Pai de Felix, Sir James Catton, em uma atuação que, para mim, é o crachá de apresentação de Grant... bem fantasiosa... e nisto, ele é gigante, aquela atuação beirando a canastrice, e que ganha grandiosidade na cena em que as cortinas são fechadas, quando se dirige a Farleigh.
Falando em Farleigh, ele é interpretado por Archie Madekwe (de 'Espírito Jovem' e 'Beau is Afraid), e gostei demais dele no personagem. Excêntrico na medida certa, coeso quando preciso. Alison Oliver que faz Venetia, a irmã de Oliver é um colírio em cena, que atriz sensacional, desenvolta, o que ela brincou com sua personagem em cena foi ótimo de ver. Possui uma camada dramática misturada ao cômico, que nem todos atores conseguem balancear em cena, uns perdem o tom, outros erram o tom, mas ela faz de uma maneira muito natural. Já Paul Rhys, faz o mordomo Duncan, sempre ótimo quando aparece em cena, ao meu ver, dava para explorá-lo mais, principalmente em cenas entre ele e Oliver. Não posso esquecer da pobre Pamela, interpretada por Carey Mulligan, protagonista do primeiro filme de Emerald Fennell, Atriz com A maiúsculo, de quem sou fã de carteirinha desde 'Inimigos Públicos' e 'Não Me Abandone Jamais'
O que gostei muito foi da cenografia do filme, muito bem trabalhada, milimetricamente construída, toda a construção cenográfica dentro da mansão é riquíssima em detalhes, os móveis, os livros, os demais adereços de época, o pequeno labirinto, os quartos de Ollie e Felix, o banheiro polêmico com a banheira no centro. Exalto também a cinematografia do filme, com cenas primorosas com Barry Keoghan em destaque, sendo realçado pela fotografia de Linus Sandgren em volta. são várias as cenas, na universidade, no jardim da mansão, na ponte onde jogam a pedra, na varanda onde Oliver se encontra de manhã pós festa de aniversário, na segunda cena erótica no ato final do filme... são muitas as cenas e essa cinematografia é perfeitamente enquadrada por Linus, que tem em seu trabalho os filmes 'La La Land', 'Don't Look Up' e 'Babilônia'.
Por ser fã de Oasis e do rock britânico, gostei muito da citação de Rosamund Pike ao Oasis, Blur e 'Commom People' do Pulp (hino do Britpop), música que ela atribui a composição de Jarvis Cocker a ela mesma.
Outra coisa que vou exaltar é o olhar certeiro de Emerald Fennell para a nudez artística presente no filme. É raríssimo você encontrar em filmes com teor erótico ou não, nudez masculina explícita que não seja gratuita. Algo que acontece aos montes com as mulheres, vide Margot Robbie, Jennifer Lawrence ou qualquer outra atriz onde em seus filmes temos uma nudez gratuita, que foi inserida apenas porque a atriz é atraente de corpo, até caberia no roteiro mas acaba ficando gratuito demais, e isso me incomoda muito, é como se explorassem o corpo dessas atrizes mais que famosas, sendo que o talento delas mais alto e por si só, para aparecerem de graça nuas em situações que poderiam ser melhores trabalhadas. Fennell traz uma cena artisticamente relevante onde Barry Keoghan está completamente nu, sem pudor, com a Rola de fora, e cabe muito bem dentro do roteiro. Corajosa e visionária, está faltando muito isso dentro do mundo cinematográfico, pois está inserido socialmente que é mais bonito mostrar seios e, bunda e vagina, onde não é agressivo, visto a abundância de cenas femininas deste tipo... e as masculinas sempre são beeem dosadas, porque é feio mostrar Pinto balançando ou não... se cabe com a proposta do filme e veste o personagem, é válido, tanto para as mulheres, como para os homens. Dou meus parabéns a Emerald Fennell por enxergar isto e expressar de maneira genuína em seu filme e espero que sirva de exemplo para outros cineastas... nudez gratuita não tem graça, a artística é muito mais relevante e ovacionada.
Saltburn precisa muito ser lembrado nesta temporada de premiações, e por enquanto algumas delas fizeram suas menções: O Globo de Ouro indicou Barry Keoghan e Rosamund Pike para Melhor Ator em filme Dramático e Melhor Atriz Coadjuvante respectivamente; O Critics Choice Awards foi além, indicou a Melhor Filme (emoji de palmas), Fotografia e Direção de Arte; O Satelitte Awards indicou Barry Keoghan e Rosamund Pike nas categorias já citadas e para Fotografia; Por enquanto o BAFTA soltou seus Pré-indicados, e Emerald Fennell foi pré-indicada a Melhor Direção, Roteiro Original, Melhor Filme Britânico, Ator para Barry Keoghan, Atriz Coadjuvante para Rosamund Pike, Ator Coadjuvante para Jacob Elordi, Fotografia, Diretor de Elenco, Figurino, Edição e Trilha Sonora. Vou torcer para ganhar todas essas indicações.
Sem esquecer de mencionar a ótima trilha sonora do longa, que permeia todo o filme e principalmente os créditos finais, composto delicadamente por Anthony Willis, gosto como ele usa os violoncelos para dar uma identidade ao longa. Fora as canções usadas no longa, como a boa cena que tem 'Time to Pretend' da dupla MGMT, e a cena final de Barry Keoghan ao som de 'Murder on The Dance Floor' que tocava exaustivamente na MTV da cantora Sophie Ellis Baxtor, que tocou no Primavera Sound em dezembro passado aqui em São Paulo. As canções do longa são todas da década de 2000, onde o filme se passa.
Pra mim, um dos grandes filmes desta temporada de premiações, está em pé de igualdade ao filme anterior de Fennell, o "Bela Vingança', no momento acho este um pouco melhor por ter saído recentemente do forno, mas os dois estão empatados no meu gosto. Um dos melhores filmes britânicos do ano de 2023, um dos meus favoritos nesta época de premiações para levar prêmios... é aquele filme que é para ter guardado em casa em DVD ou BluRay.
Aki Kaurismäki é um diretor que já possui uma carreira longa dentro do mundo cinematográfico, e possui uma trilogia de filmes da classe trabalhadora chamado de "Protelariat", este seu novo filme, 'Folhas de Outono' é mais uma extensão destas histórias que Aki conta desde os anos 80.
Aqui ele faz a famosa trinca (que eu adoro), Dirige, Roteiriza e Produz, e traz Ansa e Holappa, duas almas solitárias da Helsinki atual, que por acaso se encontram em um Karaokê local, e surge uma aproximação entre os dois. Porém, o acaso do dia-a-dia põe em xeque o possível relacionamento dos dois, que ao mesmo tempo que não possuem nada em comum, têm muita coisa em comum.
Como nunca vi nada de Aki Kaurismäki na vida, não tinha como eu ter um vislumbre do que poderia esperar de uma experiência de acompanhar este longa, e se não me engano, é o primeiro filme finlandês que assisto. Mas é um filme gostoso, porém com um ritmo completamente diferente do que os espectadores brasileiros estão acostumados (nem vou citar espectadores de fora). Dizer que Ansa e Holappa e seus coadjuvantes como, Huotari, Liisa, Tonja ou Raunio, possuem carisma é algo difícil de afirmar, pois os personagens são legais, nos enxergamos neles, retratam uma faceta de uma sociedade específica... mas você precisa ser um bom apreciador de filmes para gostar deles, caso contrário, não se afeiçoará aos protagonistas e dificilmente irá torcer por eles ou se relacionar com eles. O mesmo digo sobre o ritmo do filme, ao mesmo tempo que é parado, dentro de sua limitação e de seus diálogos que são poucos, ele segue de uma forma natural, que lhe faz ficar preso à tela, para saber o que irá acontecer. Até quem não gostar do filme, vai acabar não largando-o no meio e continuará só para saber como ele acabará.
Os diálogos que citei, são poucos, os protagonistas têm uma dificuldade imensa de se expressar, a não ser quando está com pessoas próximas, as que eles vêem todos os dias (são muito parecidos comigo). Entre os dois, onde o filme é focado, o diálogo é quase nulo, pouco verbalizam. Os que esperam mais de um longa, ficaram incomodados com este andamento. Aqui a falta de diálogo entre os protagonistas, é recompensada com os olhares, a atuação com olhos, trejeitos, cars e bocas, e os dois atores protagonistas neste quesito entregam muito bem, e para mim, é o charme do filme ver como eles se expressam com o olhar e como isso traz à tona facetas de suas personalidades... isso é um ponto alto do roteiro escrito por Kaurismäki, e também na forma como ele dirigiu seus atores para entregar isto em cena.
Os dois protagonistas atuam muito bem e possuem uma certa química em cena, o que é importante para o filme seguir um tom e um ritmo agradável. Alma Pöysti faz Ansa, e gostei demais dela no filme, ela traz uma leveza, uma inocência muito perceptível para Ansa, ao mesmo tempo que você vê uma vontade desesperadora de se entregar a vida quase explodindo dentro da personagem, querendo colocar pra fora o quanto antes. Já Jussi Vatanen que faz Holappa é uma atuação bem distinta, mais performática, mais teatral, um bêbado que ao mesmo que não tá nem aí pra vida, tem essa sede por viver que está estampada nos seus olhos... nas palavras do próprio Holappa "Estou deprimido, por isso eu bebo, bebo porque estou deprimido, estou deprimido porque bebo", é um circulo infinito que só pode ser encerrado por um risco que penetre este circulo, e este circulo é Ansa, que muda completamente a persona de Holappa.
Os desencontros dos dois durante o filme deixa o mesmo mais charmoso, é gostoso acompanhar e se indagar se no final eles conseguiram superar essas adversidades para ver "o que rola". Porém, acho que deveríamos ter mais situações como esta, trabalhar de uma forma mais coesa, que servisse ás vontades dos protagonistas e não apenas ser um adereço do longa. Ao mesmo tempo, temos no longa um discurso político forte, pois os acontecimentos se passam nos dias atuais, e o rádio no longa sempre está noticiando atualizações da guerra entre Rússia e Ucrânia, sem nenhuma intervenção dos protagonistas. Ou seja, não sabemos suas opiniões, suas posições, o que conversariam sobre... há apenas Ansa dizendo que "odeio a guerra". É um olhar interessante de Kaurismäki no roteiro para o filme como um todo e para os dois protagonistas, que em meio à guerra, tentam vencer suas questões internas de solidão e depressão. Fora isso, eles vivem sendo demitidos dos empregos onde trabalham, sendo mais um olhar que Kaurismäki lança para o sistema empregatício Finlandês de baixa renda, sem direitos e sem apoio de sindicatos.
A direção de Kaurismäki é o ponto alto do longa, perfeito é a palavra que uso, não só em como ele quer que seus protagonistas e coadjuvantes transpareçam em cena, mas também em tomadas mais despretensiosas, da cidade, da rua, do horizonte, da noite, do cinema, das folhas, do parque, da chuva... é muita sensibilidade que permeia as personalidades deprimidas dos personagens, essas tomadas é como se fossem uma extensão de seus pensamentos e angústias... ou vontades. Possui uma cinematografia bem construída e enquadrada principalmente nas cenas mais noturnas, tanto externas, como na frente do cinema, como internas dentro do Karaokê. Mas também se sobressai nas cenas ao entardecer, onde registra a cinzenta Helsinki e suas ruas e árvores que desenham a cidade. Trabalho competente do diretor de Fotografia Timo Salminen.
A trilha sonora é outro ponto forte do filme, pois no Karaokê, temos os personagens apresentando canções locais, que você nunca escutaria, afinal quem aqui vai procurar música Finlandesa para ouvir. Seja uma canção cantada por Huotari da forma mais básica e chocha possível, ou a dupla de garotas que performam uma canção de uma forma totalmente Blasé, para um público incomum, quase blasé... é como se completassem umas as outras dentro daquele estabelecimento, preenchendo o vazio de suas vidas com bebida, música, e a companhia sem relação um dos outros.
Em Cannes, 'Folhas de Outono' foi indicado a muitos prêmios, como Interpretação Masculina e Feminina para Jussi Vatanen e Alma Pöysti, Melhor Diretor para Kaurismäki, Melhor Roteiro e os principais prêmios, Grand Prix, Prêmio do Júri e Palma de Ouro. Sendo que levou o prêmio do Júri no Festival.
No Festival Cinema Europeu foi indicado a Melhor Filme, Melhor Diretos, Ator, Atriz e Roteiro. No Globo de Ouro foi indicado a Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Atriz Comédia/Musical para Alma Pöysti. No Satelitte Awards teve as mesmas indicações do Globo de Ouro.
'Folhas de Outono' é um bom filme, honesto, direto, de personalidade, que tem muito a dizer com o pouco de diálogo existente... é charmoso ao seu jeito e tem uma direção certeira de Aki Kaurismäki. Tenho plena certeza que as pessoas que não são consumidoras de filmes aleatórios, não irão se afeiçoar com este longa, e talvez algumas delas podem gostar um pouco pelo fato de ele ser curto, pouco mais de 1h20 de duração, coisa que não fará esse espectador cansar. Pra quem já está acostumado a acompanhar filmes estrangeiros, com outros tons e temas, encontrará uma película peculiar e sofisticada ao seu modo.
Segredos de um Escândalo
3.5 316 Assista AgoraPOSSUI LEVES SPOILERS!!!
Depois que eu terminei de assistir 'May December' (Segredos de Um Escândalo) e saí da sala de cinema eu fiquei pensando, "o que vou escrever sobre esse filme", porque sempre que um filme acaba, eu tenho ali mais ou menos um esboço do que vou escrever, porque já da pra avaliar bem o que acabei de assistir.
Mas com 'May December' foi complicado, porque confesso aqui que saí do filme sem entender aquele final, toda a trajetória de ambas as protagonistas, fiquei realmente no escuro, não consegui compreender completamente o filme de Todd Haynes. Levei alguns dias pra poder começar a pescar uma coisa ali e acolá.
Dos filmes que vi de Todd Haynes, 'Velvet Goldmine' é um dos que menos lembro, só o vi uma vez e criança ainda, tem zero lembranças do filme, e 'Não Estou Lá', onde ele traz inúmeros atores renomados para interpretar uma das várias facetas musicais de Bob Dylan, já é um filme bem complexo, onde ele brinca com as personalidades musicais das letras de Dylan, para criar facetas do cantor e acaba sendo um grande filme, mas de entendimento bem complexo.
Então, ver 'May December' acaba sendo algo que está no DNA de sua filmografia, onde ele pega uma história da vida real (busquem no google a real história por trás deste filme) e o transporta para as telas de uma forma ficcional, sem nenhuma interação com o fato verídico e traz uma conversa mais ampla sobre o crescimento do sensacionalismo americano nos casos surreais que acometem a vida humana nos lugares menos conhecidos do país.
A forma como Todd Haynes escreveu Grace Atherthon-Yoo (Julianne Moore) foi a posicionando como uma mulher que não se arrepende do que fez, não enxerga nada errado, uma vez que ambos eram completamente apaixonados um pelo outro, e que é muita segura de si mesmo, coisa que em nenhum momento do filme fica explícito, a não ser na cena final do longa... apesar disto, Grace, é uma mulher que tem um sério problema emocional, que precisa se manter 100% ocupada, que não pode ser recusada e que possui um relacionamento conturbado e próximo ao mesmo tempo com seus filhos do primeiro casamento. Pra mim pessoalmente, aquela quebra total de personalidade apresentada durante todo o longa, foi o que mais me surpreendeu durante todo filme, vista na cena final do longa.
Já a personagem de Natalie Portman, Elizabeth Berry, que é uma atriz que vem estudar e conhecer Grace, para melhor interpretá-la no filme que irão fazer sobre o caso ocorrido, é muito sombria, se assim posso dizer, possui um relacionamento diferente/questionável com seu marido/agente, enfim, aparenta usar de subornos emocionais para atingir o que quer em termos profissionais... entra na família de Grace, de forma sutil a princípio, porém vai demonstrando um comportamento um tanto quanto errático/estranho... ela quer 'ser' Grace, no sentido literal do adjetivo, ela quer respirar pelo corpo da mulher, são trejeitos que ela busca, maquiagem, formas de falar, de pensar, de entender plenamente como funciona a cabeça de Grace, e o porque de tudo o que ela almeja descobrir da época em que ela se relacionou com Joe.
Se torna uma obsessão ter um relacionamento com os filhos dela, e até mesmo com seu marido, uma obsessão doentia, o que ela deseja conseguir com tal conquista, com tal aproximação? Ela, para fazer sua personagem de forma tão literal e completa, está disposta a ter o mesmo tipo de experiência que Grace teve no passado? Um ato libidinoso fora do contexto?
E Joe Yoo (Charles Melton) acaba por se demonstrar um homem que lutou para amadurecer antes de seu tempo, pois foi pai cedo, teve um relacionamento cedo, foi exposto cedo, virou homem cedo... ele estava apaixonado por ela sim, acabou a seduzindo (mesmo?) e estava mergulhado naquela relação... mas o que isso lhe custou? E a estadia de Elizabeth na casa dos dois o faz se questionar, "Eu fui seduzido?", "Eu realmente sabia o que queria? O que estava fazendo...?".
Isso começa a abalar os fundamentos de seu casamento, que pode ter chegado ou não a um fim, mas é o suficiente para ele confrontar Grace, que possui tantos problemas emocionais que a deixam instável... mas será também? E a segurança que ela tanto passa no final, na conversa com Elizabeth?
Por si só, todos esses aspectos deixam o filme de Todd Haynes mais que interessante, o deixa intrigante, e acaba sendo um estudo de personalidades, para tentarmos compreender como cada um se sente como o fato ocorrido e como cada um lida com aquilo.
Grace demonstra dualidade, lida bem, sem culpa ou remorso, mas demonstra instabilidade emocional que é posta contra prova em sua conversa final com Elizabeth.
Joe Yoo sempre parece estar na defensiva, com algo guardado que não pode expelir pra fora, e vai levando, até se ver envolto em um caso, em um flerte e em uma certeza que nunca quis acreditar.
Elizabeth, a mais intrigante, busca mergulhar na psique de Grace, de forma completa, ela quer absorver tudo, até os detalhes que pouco importam para sua representação no filme que vai rodar... e aquilo a consome, vira uma possível obsessão, também vira uma certeza, que cai por terra quando ela testemunha uma faceta de Grace da qual ela ainda não havia testemunhado.
A sua cena final, já gravando uma fala com o ator mirim que faz Joe, com a cobra, tentando ter a performance correta, tentando chegar no que realmente quer passar de Grace... seria a certeza do que absorveu? Ou a dificuldade em representar alguém que não conseguiu desvendar?
Para ser sincero, foi difícil eu ter toda essas questões diluídas, pois durante o filme eu estava tentando juntar todos os pedaços do quebra-cabeça e não conseguia chegar a todos os lugares... entendia algumas coisas e outras ficavam bem nubladas, outros sem nenhum entendimento.
Esse quebra-cabeça montado por Todd Haynes e Samy Burch e Alex Mechanik, os roteiristas, ficou confuso em vários momentos e quando começava a ter luz de entendimento, sempre vinha uma nuvem que bagunçava tudo novamente... eu pessoalmente tive muita dificuldade com este filme.
Para mim, o ponto alto do longa mesmo está nas interpretações de Natalie Portman e Julianne Moore, duas monstras de Hollywood que entregaram novamente um trabalho muito acima da média e foram a alma do filme.
Julianne esteve incrível, colocando todos os sentimentos de uma mulher para fora em camadas, uma de cada vez, todas de forma sensível, com clareza, com acertividade. Acho que ela em suas cenas de discussão com Joe e em suas cenas finais com Elizabeth, foi de uma crescente absurda e onde ela foi gigante e mais uma vez se superou em termos de interpretação.
Natalie Portman para mim foi de uma força neste filme... esteve maravilhosa no papel, na forma como queria incorporar 100% Grace, em como ela a olhava e em como se portava quando os pequenos detalhes chegavam ao seus ouvidos. A forma como Natalie mudava totalmente sua expressão corporal quando estava perto de Joe Yoo, e até a entonação de voz tinha mais suavidade, uma inclinação feminina maior, como quem estava mesmo flertando, tentando abocanhar a presa... Natalie foi incrível, foi perfeita neste filme, incorporou bem o papel que aceitou e foi além do que estava previsto no roteiro para a personagem.
Já Charles Melton (de Riverdale, que ainda não vi) foi muito bem, ele entregou exatamente o que se esperava de seu personagem nas cenas mais dramáticas do longa, onde ele fuma um baseado com seu filho no telhado, em sua cena com Elizabeth na casa dela onde ele lhe entrega uma carta pessoal, e obviamente, na cena onde ele e Grace discutem no quarto, onde Julianne Moore dá um show e Melton acompanha a altura e de forma precisa e coesa.
Ele foi esnobado tanto no BAFTA, quanto no Oscar, em Ator Coadjuvante, uma vez que ele vinha ganhando muitos prêmios da crítica americana setorizada, e também havia ganhado o Gotham de Filmes Independentes... mas no final, eu se fosse um votante, não o teria indicado mesmo, opinião minha.
O filme ainda conta com Cory Michael Smith como Georgie um dos filhos de Grace, Cory fez o Charada na série de TV 'Gotham'.
'May December' possui uma trilha composta por Marcelo Zavros e Michel Legrand, e QUE TRILHA, é perfeita, traz aquele clima de suspense, de inquietação, de que algo está errático, seja lá o que for que está errático, sempre anunciando algo que está por vir, e sempre contextualizando o que acabamos de presenciar... muito bem inserida no filme, perfeitamente posicionada, realmente, são poucos os filmes que conseguem posicionar tão bem a sua música, criando uma imersão perfeita entre fatos, takes e música.
O roteiro é bem escrito, não nego, com livre inspiração nos fatos que inspiraram essa história... esse caso real que aconteceu no sul de Seatlle entre Mary Kay Letourneau e Vili Fualaau, pouco teve a ver com o que Todd Haynes criou para o filme, foi livremente inspirado, teve muitas mudanças para não ser completamente associado a ele... mas dentro do que ele criou, realmente ficou uma história de suspense e de estudo de personalidade distintas, de alguém que não carrega culpa, mas todos os indícios mostram sequelas deste acontecimento... de alguém que se sente vítima, mas nunca verbaliza ou acredita piamente naquilo... e de alguém que está disposta a mergulhar em personagem que ela, minuciosamente estuda e começa a compreender, mas se torna um ponto de interrogação quando é pega de surpresa pela mesma...
Para criar tudo isso com tamanha riqueza de detalhes, Todd Haynes merece muito crédito, mas para mim, pessoalmente, e só para mim, a forma como ele construiu tudo isso no filme, ficou confuso em alguns momentos, ousado demais em outros, e se tornou uma psicanálise em boa parte do longa... é preciso assisti-lo e assisti-lo par se ter uma dimensão mais ampla para poder falar e debater sobre ele. O que para mim o torna pouco aceitável para premiações... mas posso estar falando uma tremenda bobagem também.
Charles Melton faturou uma dezena de prêmios por sua atuação no filme, como Ator Coadjuvante e se tornou um dos principais favoritos nesta temporada de premiações... mas acabou ficando pelo caminho, e recebeu somente indicações de destaque no Globo de Ouro, no Critics Choice Awards, no Satellite awards e no Spirit Awards e no Festival de Cannes.
Julianne Moore foi indicada por Atriz Coadjuvante no Globo de Ouro, Critics Choice Awards, Satellite Awards, Gotham Awards;
Natalie Portman foi indicada a Atriz Principal no Globo de Ouro, no Spirit Awards, no Festival de Cannes, no Satellite Awards.
Foi indicado a Melhor Filme no Globo de Ouro (Comédia/Musical), no Spirit Awards, no Satellite Awards (Drama), no Festival de Cannes na Palma de Ouro e no Grand Prix (o Prêmio do Júri).
As demais indicações foram para Roteiro Original no Oscar, em Cannes, no Critics Choice, no Gotham, no Spirit Awards e no Satellite Awards.
Além de Direção para Todd Haynes no Spirit Awards e em Cannes.
Como já mencionei, tem que conferir 'May December' mais de uma vez para se ter uma dimensão maior do que ele passa, das conversas que ele gera e do que ele lhe fornece para seu amplo conhecimento.
Perdeu muita força na temporada de premiações com pouquíssima campanha do estúdio, e nem ficou como coadjuvante (como Maestro) nesta temporada de premiações...mas é um bom filme para estudo de personagens e de roteiro... eu só achei pessoalmente um pouco bagunçado em sua concepção total.
(Assistido em 15/02/2024 - Cine Belas Artes)
Priscilla
3.4 165 Assista AgoraEu tenho um problema muito sério com os filmes de Sofia Coppola, eu não sei, não consigo explicar direito, não sei se é o ar cor de rosa demais para seus longas, ou se traz um ar muito juvenil para o tom de seus filmes, aquela coisa meio fogos de artifício, que nesse longa também aparece numa das cenas... não sei, não consigo me afeiçoar totalmente.
Acho que as exceções são seus dois primeiros filmes, que alavancaram sua carreira de diretora, ela era muito promissora... 'As Virgens Suicidias' com Angelina Jolie e 'Lost in Translation' com os já monstros da atuação Bill 'dia da marmota' Murray e Scarlett 'Viúva Negra' Johansson. Eu tinha gostado muito destes dois filmes, mas lá naquela época eu não focava tanto nos diretores, sabia que era a Sofia Coppola, filha de Ford Coppola, mas ainda estava trilhando meu caminho de futuro cinéfilo.
Outro filme dela que me agrada até, é 'Marie Antoinette' com Kirsten 'Mary Jane' Dunst, que traz um olhar mais pop para a personagem, uma trilha sonora totalmente atual e este filme sim tem um tom MUITO cor de rosa, mas aqui não me incomodou, dada a audácia em ter essa visão em um filme de época.
Mas só... os demais filmes não me agradaram, sua visão muito, como posso dizer, menina adolescente não me agrada nos outros filmes e não gostei nada nada de seu último filme, 'On The Rocks' que achei sem sal, insosso e um porre.
'Priscilla' tinha tudo para ser um ótimo filme do ponto de vista da Sra. Presley, seria um filme que dependendo de como ficasse o produto final, se complementaria bem com 'Elvis' de Baz Luhrmann, mas claro que são dois filmes distintos, mas poderíamos ter pequenas semelhanças ali e acolá. Não vou ser hipócrita e deixar de elogiar o olhar que Coppola teve para com este filme, a forma como quis que a história fosse contada e transplantada para a tela. o tom que ela escolheu, esse foco unicamente nos dois, em Priscilla e em Elvis e em como o relacionamento deles foi fazendo curvas com o passar dos anos, é um olhar bem interessante para se tratar no filme.
O que me incomodou muito no longa de Sofia foi a forma como ela dirigiu seus protagonistas, sendo que Priscilla foi a que mais me incomodou. Cailee Spaeny (Mare of Easttown) faz muito bem o papel de Priscilla, nisso eu não contesto, adorei ela em cena, principalmente nas cenas de adolescente, e em algumas partes de Priscilla já casada com Elvis... porém eu percebi que ela sempre esteve muito contida em sua atuação durante grande ´parte de do filme. Cailee estava sempre com o freio de mão puxado, não estava se soltando conforme o filme avançava, não sei o que Sofia estava pedindo para ela, mas era incrível como Priscilla não evoluía como pessoa e personagem com o passar do longa... a mesma garotinha de 14 anos que íamos no começo do filme, estava ali no casarão de Elvis quando ela foi morar em definitivo e estudar na cidade dele. Quando estavam prestes a se casar, e depois quando se casaram, era a mesma pessoa, com os mesmos medos e inseguranças, com o mesmo jeito retraído, com o mesmo tom de voz baixo, de quem ainda é moldada por quem a cerca.
Isso me incomodou bastante, quando você não tem uma evolução da personagem, ela não sai do lugar, é a mesma pessoa que você enxerga desde o começo do filme, não tem como você se prender ao longa como um todo, o incomodo fica nítido, a história acaba não captando quem assiste, e fica deveras inconveniente estar interligado com aquele mundo proposto por seus idealizadores. Apenas na parte final do filme, quando Priscilla vai para outra cidade e tem suas aulas de karatê (?... ou era judô, eu fiquei confuso agora), e está com seu instrutor numa mesa conversando e rindo com outras pessoas, é que enxergo uma outra Priscilla ali, madura, segura, diferente, aquela que já era pra estar sendo mostrada desde que se mudou para o casarão de Elvis.
No caso do incrível Jacob Elordi (Saltburn), já consegui ver uma ótima atuação como Elvis, bem diferente, obviamente de Austin Butler, com seu próprio toque pessoal, mais fácil de se absorver, com muitos trejeitos que Elvis possuía e se portando mesmo como ele. Mas Jacob cai na mesma armadilha de Cailee, só que em menor proporção... Coppola também segura muito as rédeas da atuação de Jacob, foi que percebi, acho que ela tentou não pintar Elvis como algo muito negativo, e isso influenciou na atuação de Jacob.
Eu o via em algumas cenas muito preso, sem se soltar, a voz também muito contida, as ações mais hostis de Elvis também mais seguradas, era um momento de ira, para vários minutos de leveza arrependida na sequência... e sempre o mesmo Elvis descolado, viajado, que curtia uma com os amigos, desde o começo do longa, até o momento que Priscilla dá a luz à sua primeira filha. Dali em diante, no pouco que resta do filme, vemos um pequeno vislumbre do que seria o Elvis mais afetado por remédios e transformado em marionete no fim da vida, nos fatídicos shows em Las Vegas... mas é todo um filme desperdiçando o talento dos dois atores, que poderiam se soltar mais, poderiam ter mais momentos de explosão, poderiam colocar mais seus talentos e sentimentos das personagens para fora... eu acho tudo muito contido no filme.
E aí temos algumas passagens típicas de Sofia Coppola, uma cena dos dois se beijando sob fogos de artifício, muito adolescente pro meu gosto, as cenas da prova de vestidos e alguns takes de Priscilla com seu cãozinho, um ar muito cor de rosa, uma vez que seu dia a dia não se limitava somente aquilo... assim como as repetidas cenas de Priscilla ainda adolescente na escola, suspirando e sentindo a falta de Elvis, sem conseguir focar em mais nada na vida, uma repetição que desagrada e limita a personagem ao seu sonho adolescente de menina apaixonada pelo príncipe encantado... muito forçado todo esse enredo de Sofia, e isto poderia ser muito bem diluído no filme, ter sido adaptado de uma forma mais concreta, mais limpa, e não esse conto de fadas, esse desperdício de cenas repetidas... não gostei.
Acho que esteticamente o filme é muito bem feito, temos um figurino da mais alta categoria, bem inspirado e que remete bem não só as vestimentas da época, mas a personalidade de Priscilla e de Elvis, isso com certeza é nítido.
A edição do filme eu já não achei tão boa assim, nada que estrague a experiência com o longa, mas muitos takes foram editados repetidamente, sempre um corte onde a imagem desaparece gradualmente, algo muito visto nos filmes antigos da década de 50, 60, 70, mas como falei, repetido várias vezes em curtos períodos do longa.Para mim, faltou uma coesão de montagem no longa.
Gostei da cinematografia do filme, temos muita boas cenas fotografadas, dou mais ênfase as cenas internas, na casa de Elvis, principalmente em seus aposentos, em algumas festas dadas no filme também temos ótimos recortes fotográficos... uma iluminação que privilegia as cenas, e ótimos takes externos também.
A trilha sonora ficou por conta de Randall Poster (de Império da Luz e Asteroid City) junto à banda Phoenix, de quem Sofia é casada junto ao vocalista Thomas Mars.
Ainda não estou familiarizado com o trabalho de Randall, mas a banda Phoenix eu não gosto nem um pouco, é uma banda mais pop eletrônica, que não se solta muito com os instrumentos, a guitarra não grita, a bateria é plástica, e a forma como Thomas canta...blargh, não me agrada, as músicas do Phoenix não me agrada... hahahahahahah, uma bandinha chata devo confessar.
Daí o meu desagrado com a trilha, não gostei, achei tediosa, não fez diferença para mim no longa, poucas vezes bati o pé durante o filme, a não ser quando vinha algum som de Elvis.
O filme foi produzido e distribuído pela A24 (minha preciosa) e O2 Play e Stage 6, e posso dizer pessoalmente que é uma das pouquíssimas produções da A24 que foi fraca em seu produto final.
Não posso esquecer de dizer que achei o filme como um todo, em termos de desenvolvimento de cenas, muito vazio... percebi muitas cenas que envolvia apenas os dois protagonistas, até aí tudo bem, mas tudo nos takes era meio vazio, faltava vida em muitas cenas, sabe... faltava cor, era tudo mais escuro, mais pagado, cores escuras, pouca coisa vívida...foi minha impressão, não sei aonde Sofia e os demais profissionais queria chegar com essa escolhas.
As indicações de Priscilla nas premiações foram quase nulas, quase...
- No festival de Veneza, foi indicado ao Leão de Ouro, ao Prêmio Especial do Júri, ao Leão de Prata de Melhor Diretora, Copa Volpi de Melhor Ator (Jacob Elordi) e a Melhor Roteiro, perdendo todos;
- No Gotham Awards de Filmes Independentes e no Globo de Ouro, Cailee Spaney foi indicada a Performance Principal e Melhor Atriz Filme Drama respectivamente, perdendo ambos para Lily Gladstone (Killers of The Flower Moon);
- No Critics Choice Awards foi indicado a Melhor Maquiagem, perdendo para 'Barbie';
- No Satellite Awards Cailee Spaney também está indicada a Melhor Atriz Comédia/Musical;
O longa foi esnobado no Oscar e no BAFTA, sendo que no BAFTA, Jacob Elordi foi indicado ao prêmio E.E Rising star, estrela ascendente, um prêmio para quem está se destacando na atuação, as estrelas do futuro, não premia uma atuação em filme em específico.
Pois é, achei 'Priscilla' bem abaixo do que eu esperava, do que os trailers mostravam, não gostei do produto final de Sofia Coppola, gostei muito da atuação de Cailee e Jacob, mas Sofia segurou demais a performance deles, e o filme é muito, não sei, escuro, sem vida, preso, no freio de mão puxado... faltou se soltar, deixar rolar, deixar fluir.
É a minha visão, as demais pessoas podem gostar do filme, se simpatizaram, gostaram do que viram, mas eu realmente saí do cinema com aquela sensação de... "Que desperdício de talento".
(Assistido em 14/02/2024 - Cine Lasar Segall)
Wonka
3.4 390 Assista AgoraNão sabia exatamente o que esperar do trabalho de Paul King com este filme, pois a única coisa que vi dele, foi a série Space Force da Netflix, onde ele dirigiu os 4 primeiros episódios. Até dá uma dimensão do que se pode esperar de um trabalho no cinema, mas não aquela dimensão toda.
E realmente, eu gostei demais do que Paul King fez aqui em 'Wonka'. Eu fui um daqueles que quando ouvi a primeira vez sobre o projeto, um prequel mostrando a juventude de Willy Wonka, não fiquei muito entusiasmado com a ideia, não sabia se era necessário beber mais dessa fonte, vide as tantas bombas que temos hoje em dia de filmes que desenterram do passado.
Mas Paul King segurou o rojão, e criou um roteiro agradável junto a Simon Farnaby e Simon Rich, e fez um trabalho estupendo na direção e construção do longa.
Diferente do que foi feito nos dois filmes anteriores, onde focaram em Willy Wonka e sua fábrica inusitada de chocolates, no filme de Gene Wilder, e posteriormente onde focaram em Charlie, um garoto pobre que tem o sonho de visitar a famosa fábrica de Willy Wonka, que carrega todo um peso dramático no longa, protagonizado por Johnny Depp... aqui em 'Wonka' temos uma aventura do jovem Wonka contra os chocolateiros famosos da cidade, onde ele pretende abrir uma loja que era um sonho seu e de sua mãe.
Isso por si só já dá um contexto diferente para um filme sobre Willy Wonka, pois não temos uma fábrica para explorar, e sim uma construção de personalidade e caráter de Wonka para trabalhar e como se sucederá a sua fábrica. Esse ponto em particular, por mais que tenha sido ficado óbvio o como e porque de ele ter conseguido um local, gigante, para fazer sua fábrica, acho que ficou bem corrido no filme, foi apenas colocado lá, e faltou um pouco mais de apresentação e contexto. Mas dá pra aceitar, dada a forma que as coisas terminaram no longa.
Achei o filme uma joia preciosa, tudo muito bem feito tecnicamente, uma cenografia surreal, figurinos estupendos e inspiradíssimos, sem contar em alguns efeitos para a maleta de Wonka, a chuva de doces na abertura da loja de Wonka, as máquinas usadas no hotel de Mrs Scrubitt para lavar e passar as roupas...nossa, tudo muito bem inserido, bem desenhado, bem criado, bem transplantado para a tela.
Possui uma cinematografia estupenda, várias foram muito bem enquadradas e iluminadas, com o tom certo de luminosidade, bem captadas, principalmente as cenas externas noturnas.
O que Paul King fez, para mim, é cinema em seu estado puro, puríssimo... é um tipo de cinema que dificilmente é feito hoje em dia, aquele cinema que remete os anos 50, 60, citando até os 70... cinema que temos um roteiro trabalhado no texto, onde os personagens sabem se expressar, e têm algo a aprender uns com os outros... um cinema que usa e abusa da magia dos contos, aqui o pensamento é livre e muita coisa é possível, deixando o limite do real de lado, e transportando o público para um mundo diferente, o da fantasia, da magia.
E por ser um musical, é um cinema que abusa das danças, dos números coreografados, das cenas extravagantes, e do poder de uma boa canção, que rime bem, e que entregue um ótimo refrão. É tudo muito mágico, tudo muito bonito e tudo muito fantasioso, e isso é cinema sim... aliás o cinema começou assim, entretendo o público em forma de fantasia e foi evoluindo com o passar das décadas e a evolução tecnológica e das obras em geral.
É óbvio que devo citar que os números musicais onde Timothée Chalamet cantou, só não ficaram de excelência porque escolheram usar o formato gravado em estúdio, para inserir nas cenas... algo compreensível, pois é complicado você ser afinado e coeso quando está sendo puxado por cabos, ou correndo nas ruas, ou num fundo verde voando nos 'balões' de um lado pra outro. Compreensível, mas tira muito da alma da sequência... percebe-se claramente que ficou plástico e artificial.
Acho que o roteiro foi muito bem escrito, é uma história bem clichê, de aprendizado, de encontrar o seu lugar no mundo, acreditar nos seus sonhos, e superar os traumas pessoais, como a promessa para sua mãe, e inspirar quem está a sua volta, aprender com os mesmos, e derrotar os vilões da história... mais clichê, impossível, mas isso é cinema, isso é fantasia, isso é entretenimento, e isso é o que faz de 'Wonka' um filme tão mágico e diferenciado. É infantil, sim, feito para as crianças, sim também... mas os adultos podem se relacionar com o longa e se entreter da mesma forma...o filme cumpre seu papel, e seu papel é simples, esqueça do mundo lá fora por duas horas e entre neste pequeno mundo de fantasia e chocolates.
Timothèe Chalamet (de 'Duna', 'Call Me By Your Name' e 'A Crônica Francesa') traz a sua interpretação de Willy Wonka, um mais jovem, mais aspirante, mais sonhador, muito mais ingênuo... que vai de contra ponto aos Wonkas passados que conhecemos, mas que segue uma linha parecida de amadurecimento. Da forma como vejo, acho que ele se assemelha mais ao Wonka de Gene Wilder, a ingenuidade e a inocência, pode-se muito bem se enxergar em algumas facetas do Wonka de Wilder, e vejo ele sendo mais uma versão jovem do Wonka dele, do que do Wonka de Johnny Depp.
Chalamet para mim fez um trabalho fantástico, trouxe trejeitos interessantes para o personagem, uma forma única de interagir com as demais pessoas, uma leve melancolia em se tratando da mãe dele, sempre que toca no assunto, e um ar de sonhador, que é o fator principal para Wonka ir despertando e amadurecendo a ideia/vontade de expandir sua versão de comercialização de chocolates, dado ao conselho que sua mãe lhe deixou anotado no chocolate que ele carrega consigo, que o fará desembocar em uma fábrica gigantesca e mágica.
E falando em mágico, para mim foi um conceito bem interessante de incorporar ao personagem, de ele ter alguns truques mágicos, mesmo sem entender exatamente como funciona sua cartola, mas seus ingredientes adquiridos em sua viagem em lugares inóspitos e únicos, carregados dentro de sua maleta funcional, onde ele pode fazer um chocolate em poucos instantes... só mesmo tendo essa característica única, para ele poder criar uma Fábrica de Chocolates, que possua tamanha diversidade gostos, formas de doces, algodões doce espalhados em formato de nuvem, e adereços comestíveis em todo lugar da fábrica e etc, e etc... uma boa sacada de Paul King e seus roteiristas.
Timothée Chalamet só cresce a cada trabalho, é um ator super competente e profissional, de muito talento e 'time' para atuação, que cada vez mais cai nas graças de diretores, e dos estúdios cinematográficos. Ainda teremos muito dele no futuro.
O elenco ainda conta com Keegan-Michael-Key que faz o chefe de polícia corrupto, tarado por doces, em um papel engraçado, tendo lá seu charme... mas só também.
Paterson Joseph, Matt Lucas e Mathew Baynton, fazem os três chocolateiros que dominam a cidade e tentam eliminar a concorrência de Wonka. Matt e Mathew são hilários em suas cenas, e Paterson Joseph é um ator com A maiúsculo... que desenvoltura para atuar e fazer um vilão na medida certa, nem muito 'dark' demais porque o filme é mais leve, e nem leve demais pois tem que amedrontar e convencer quem assiste.
A indicada ao Oscar Sally Hawkins (de A Forma da Água e Blue Jasmine) fez a mãe de Wonka, e por mais que tenha tido pouco tempo de tela, ela já deixou ali toda a sua experiência em tela, e emocionou quando precisou emocionar.
A oscarizada e mãe da #$%¨& toda, Olivia Colman (dispensa apresentações) fez a Mrs Scrubitt ao lado de Tom Davis... e os dois fizeram uma ótima dupla no filme, e nem preciso ficar falando do trabalho de Olivia aqui no filme... tudo que essa mulher faz, fica uma coisa de outro mundo, vê-la em cena é um colírio e um deleite, apenas isso.
Rowan Atkinson, o Mr. Bean em pessoa fez o padre corrupto, e no pouco que apareceu fez seu showzinho... ainda teve Natasha Rothwell (de Sonic 2) e Hugh Grant (qe também dispensa comentários) fazendo o famoso Oompa Loompa... aqui ele faz apenas um, o que já dá um vislumbre de como eles se juntariam a Wonka em sua fábrica.
O destaque fica para a pequena Calah lane, que fez Noodle, a amiga e sósia de Wonka, dando um show de talento e carisma, e uma boa cena fazendo dueto com Chalamet.
A trilha sonora do filme é de Joby Talbot de 'Sing', ele faz um trabalho competente, envolvente e bem orquestrado... gostei muito das canções do longa, são boas de se ouvir, não são maçantes nem bregas, são bem arranjadas e escritas, e grudam na cabeça durante o filme... depois você dificilmente irá lembrar delas... ou seja, cumpre seu papel de complementar bem o filme.
'Wonka' foi pouco lembrado nessa temporada de premiações:
- No Globo de Ouro Timothée Chalamet foi indicado a Ator em Comédia/Musical, perdendo para Paul Giamatti (Os Rejeitados);
- No Critics Choice Awards foi indicado a Melhor Figurino e Melhor Jovem Ator/Atriz para Calah Lane, perdendo ambos os prêmios;
- No BAFTA foi indicado a Melhor Filme Britânico (não acho que deva levar);
- No People's Choice Awards foi indicado a Estrela de Filme comédia do ano e Ator de Cinema, ambos para Timothée Chalamet, e ainda indicado a Melhor Filme de Comédia;
- No Astra Awards levou indicação para Melhor Campanha Publicitária, pela Warner Bros.
Gostei muito do produto final, Paul King se superou neste longa, 'Wonka' é um filme com muita alma, traz a magia do cinema antigo pros tempos atuais, possui um enredo totalmente funcional, um protagonista que trouxe sua própria personalidade apara Willy Wonka e que agrega bem a cinematografia da saga Wonka com um filme fora da curva comparado aos os outros dois.
Moderno, ousado e inspirador... esse é 'Wonka' de Paul King!
(Assistido em 14/02/2024 - Espaço Itaú de Cinema Pompeia)
Meu Amigo Robô
4.0 84Desde que vi o trailer eu fiquei apaixonado pela estética que esta animação carrega e pela história proposta, ainda mais por se inverter um pouco os valores, onde os animais vivem a vida dos humanos,e os robôs acabam fazendo um papel de companhia para esses animais, em alguns casos, como se fossem uma espécie de robôs de estimação, ou seja, temos um olhar totalmente invertido aqui.
'Robot Dreams' é baseado na HQ de Sara Varon que trata de um cachorro que vive na Nova York nos anos 80, e se sentindo solitário por não ter uma companhia, compra um robô ao ver um anúncio na TV, para ser seu companheiro e acabar com sua solidão.
A animação é dirigida e roteirizada por Pablo Berger (de Abracadabra), ele evolui o estilo de arte de Robot Dreams de Sara Varon, obviamente trazendo toda uma cenografia riquíssima de fundo fazendo jus aos anos 80, tanto no apartamento do cachorro, quanto nas ruas nova-iorquinas, trazendo uma imersão mais completa ao assistirmos, do que quando se lê.
Um aspecto interessante de se observar em 'Robot Dreams' é o fato do Cachorro se sentir solitário ao ver um casal de vizinhos compartilharem a noite juntos, aproveitando a companhia de ambos, demonstrando felicidade... sendo assim o Cachorro busca esse robô que é anunciado pela TV para preencher esse vazio, e é quase como se fosse uma relação homoerótica, a margem para ser interpretado dessa forma, ou não, vai do espectador. Mas percebe-se que ali não é só amizade, ali tem troca, tem cumplicidade, tem fidelidade, tem afeição... é uma relação que transcende o simples companheirismo.
Gostei muito de como Pablo Berger implementou referências da cultura pop dos anos 80, como os comerciais de facas Ginzu (quem lembra dos Mamonas?), a MTV com as bandas de metal (farofas ou não), os dançadores de break na rua, os punks no começo do filme, onde o robô se socializa mostrando o dedo do meio, e principalmente a música a qual eles dançam e se torna a trilha do robô que a assobia em todo lugar que vai... September do Earth Wind & Fire.
A HQ de Sara Varon já foi concebida com o detalhe de eles não terem falas, apenas as situações e os olhares já verbalizam o que eles querem dizer entre eles, ou para com os outros, essa é uma linguagem muito usada nos desenhos antigos americanos, como Tom & Jerry e a Pantera Cor de Rosa, e os mais recentes como Happy Tree Friends. Sendo trazida obviamente para o filme, chega a ser uma espécie de saudação ao antigo cinema mudo, muito conhecido pelas obras de Charlie Chaplin.
O fato de não termos falas no longa, o deixa com mais charme, com mais personalidade, muitos dos sentimentos ali presentes você capta na feição dos personagens, não há a necessidade de diálogos para contextualizar o que já está óbvio.
O ritmo do filme é tão gostoso, que você mal vê o tempo passar e se assusta ao perceber o quão perto do fim o filme está, isso é claro, para aqueles que gostaram e se conectaram com o filme, afinal, aqueles que não gostaram não vão sentir a mesma experiência.
O título do filme faz jus as cenas mais interessantes e criativas do filme, que são os sonhos que o Robô tem quando está preso na praia, ou no fim quando reencontra o Cachorro. Toda aquela sequência com as girassóis que remete ao clássico 'O Mágico de Oz' de 1939 é criatividade pura, de uma visão precisa, muito bem coreografada, que enriquece a experiência com o filme, e ainda possui uma canção que gruda na cabeça, e ainda toca nos créditos finais.
Toda a sequência do longa, com os desencontros entre o Cachorro e o Robô, fazem a gente criar aquela expectativa, se será possível eles se encontrarem no final do filme, ainda depois dos eventos no ferro-velho. Pablo Berger cria aquele cenário onde coisas aleatórias vão acontecendo, um ar de caça de gato e rato, onde ninguém chega a lugar nenhum, como se você corresse atrás do próprio rabo... e instiga no espectador aquela ânsia por um final satisfatório... e fico feliz de ver que o roteiro não seguiu um caminho prático, temos um final bem contundente, condizente com o que foi criado durante todo o enredo do conto, mais próximo ao que acontece a nossa volta, sendo exatamente um reflexo e/ou um espelho da realidade que nos acomete diariamente.
Afinal de contas, quantas relações são construídas e forjadas a ferro, e por questões alheias a nossa vontade, elas acabam enfraquecendo ou simplesmente se esvaindo por diversas questões... e quando falo relações, elas podem ser de amigos, podem ser com parentes, podem ser relações amorosas, conjugais ou não... mas no final, o que importa é estar feliz no momento em que se vive, e ficar feliz pelo próximo, se sentir bem em saber que a pessoa que você gosta ou gostou, está bem, assim como você, e aquilo que um dia vocês tiveram sempre vai permanecer no coração um do outro e só irá morrer quando os dois deixarem a terra de vez. Isso pode ser um olhar inocente, e até ser ingênuo da minha parte, mas quando se faz obras cinematográficas como essa, são esses sentimentos e questões que precisam ser levadas em consideração, quando se quer tocar o público que assiste, afinal, temos que nos relacionar com aquilo que consumimos.
A trilha é de Alfonso de Vilallonga, que fez um bom trabalho complementando o filme, suprindo a ausência de falas, ditando as ações dos personagens... inseriu muito bem as canções no longa, criou algumas que são ótimas, como na sequência das girassóis, e conseguiu criar um clima oitentista que exala a Nova York daquela época, que podemos relembrar de tantos filmes da década que já acompanhamos.
O filme foi indicado a Melhor Animação no Oscar e no Satellite Awards, foi bem bacana ver o filme ser indicado ao Satellite, pelo menos uma lembrança nessa época de premiações, mas no dia do anúncio dos indicados ao Oscar, ao ser revelado a indicação do filme na categoria, eu fiquei muito contente, afinal, claramente 'Robot Dreams' não é de longe o favorito para vencer o Oscar, mas acredito que a indicação já é um prêmio pelo trabalho feito, já é uma vitória imensa, e ajudará a ter mais visibilidade pelo público que gosta de consumir filmes animados.
O Goya Awards, o Oscar espanhol, deu uma chuva de indicações para o filme, Melhor Animação, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Trilha Sonora Original e Melhor Montagem. O filme levou os prêmios de Melhor Animação e Melhor Roteiro Adaptado.
'Robot Dreams' é uma pérola da animação moderna, sustentando sua estética 2D, simplista, priorizando o roteiro ao invés de criar todo um estilo de animação ousado e textos cômicos. Afinal, querendo ou não, esta animação é muito mais adulta do que infantil, e para mim, aí é que está o charme do longa, onde ele ganha mais e mais fãs, cada vez que descobrem esta obra.
(Assistido em 13/12/2024 - Cine Reserva Cultural)
Vidas Passadas
4.2 750 Assista AgoraEu fiquei sabendo recentemente que Molly Manning Walker, diretora de 'How To Have Sex', seu filme de estreia, baseou o enredo de seu longa em um acontecimento de sua vida pessoal, pois ela foi abusada sexualmente aos 16... e, assim como Molly, Celine Song também trouxe este lado autobiográfico para seu, também, filme de estreia 'Vidas Passadas'.
Gosto muito dessa combinação Direção/Produção/Escritora, que é o que Celine faz em seu filme, pois é perceptível ali o dedo de quem cria, sem interferências externas, tem puramente sua visão de como deve ser, e como deve ser transplantado para a tela.
Produzido e distribuído pelo poço de criatividade que é A24, meu estúdio de filmes preferido nos últimos 5, 6 anos, 'Vidas Passadas' é um filme que contém muita sensibilidade, muito charme e muita alma.
O longa possui, em um contexto mais abrangente, poucas falas, percebemos que o olhar dita mais as regras aqui. Temos cenas onde nada é verbalizado e os olhares se cruzam, em outras cenas os olhares não se cruzam, em outras a conversa rola somente pelos olhares, e isso é algo difícil de ser verossímil em um filme, o diretor tem que ter uma visão ampla do que quer passar, saber tirar o que precisa ser colocado em tela dos atores, e fazer isso parecer verdadeiro, comum, aceitável para o público.
Celine Song, para mim acerta em cheio no que propôs com 'Vidas Passadas', ela cria uma situação verossímil onde Nora e Hae Sung não se veêm a 12 anos, a não ser por vídeo chamadas, e mais tarde levando mais 12 anos para se encontrarem cara a cara. E a cena onde eles se encontram, com tão poucas linhas, focado mais na reação de um ao outro, no olhar que se cruzam entre eles, é muito singelo, algo que foi desenvolvido pela própria Celine Song, como ela conta em entrevistas, com relação ao seus dois protagonistas.
Eu não vou negar que o ritmo do filme transita muito entre, muito parado e um ritmo automático, eu percebi que em muitas tomadas carecia muito de ritmo, era muito parado, demandava um pouco da nossa atenção e paciência... em outras o ritmo estava no modo automático e então fica fácil se desligar de um olhar mais crítico e entrar no universo da história. Mas essa transição pode acabar deixando a experiência um pouco enfadonha para aqueles que não são afccionados por cinema e procuram apenas por entretenimento.
Entretanto, é na ambiguidade do que é proposto que está o charme do longa, pois aqui temos uma direção mais focada, centrada, que capta a forma como os personagens se comunicam com o espectador por sua expressão facial. Existem muitas respostas, questões não respondidas, visões de vida, dúvidas, etc, etc nas expressões faciais dos personagens, nas falas que não são ditas... aquela coisa do não verbalizar, que fica engasgado e não se põe para fora porque se enxerga muito no olhar do outro certas posições, certas respostas, certas verdades... e isso Greta Lee e Yoo Teo fazem muito bem. Não só eles, mas John Magaro (Arthur, marido de Nora) também entrega muito bem.
Essa coisa de "Quantas vidas não vividas, cabem em uma vida" é um jogo de gato e rato, é algo que sai de lugar nenhum, e chega a lugar algum. 'E se...', esse pequeno começo de sentença é tão vago, tão ilusório, tão imperfeito, tão incompleto... abre-se muitas vertentes, muitas interpretações, mas não entrega um ponto final, não entrega 'o Concreto', o que se espera, a conclusão, a resposta, é uma conversa que não tem fim.
'Vidas Passadas' é isso, um jogo de gato e rato entre Nora e Hae Sung, correndo atrás daquilo que não se completa, que não traz desfecho, eles se prendem a um conto romântico onde os dois escreveram de forma distintas, mas se encontra no mesmo livro, e as histórias não se cruzam, o desfecho não se entrelaça, eles forçam um amálgama, mas cada um escreve para direções distintas.
O longa pode ter em boas partes um ritmo muito parado, uma demora de desenvolvimento de cenas, porém ganha no charme do desencontro, ganha no carisma do carinho dos dois protagonistas, é gostoso vê-los, tanto em cena como por vídeo chamada, ficamos íntimos deles, muitas das vezes me peguei ali, com essas experiências que tive, transplantadas na experiência que eles estão tendo... e quando um filme consegue transportar o que a gente sente, o que a gente viveu, nossas experiências, nossa intimidade, para o que estamos assistindo, nos fazendo se relacionar com o que é passado, sem perder a verdade, e o que os protagonistas querem nos passar... é porque o filme está plenamente no caminho certo.
'Vidas Passadas' também é charmoso em sua direção de arte, muito bem construída e montada por Grace Yun (de Hereditário), que trouxe aquele ar de Nova York para os cômodos dos locais onde Nora morava, principalmente em seu apartamento. E claro, riquíssimo em detalhes e muito inspirado em todas as cenas na Coreia, tanto internas, na casa de Hae Sung e no restaurante que ele frequentava com os amigos, quanto nas cenas externas, como as filmadas na infância dos dois protagonistas.
Um filme bem montado, com todas as cenas importantes que ajudam a pavimentar o caminho dos dois, bem editas em tela, trazendo coesão para o que estamos assistindo.
Shabier Kischner é quem faz a cinematografia (fotografia) do filme, e grande parte do charme das cenas do longa vem daí... Soube captar bem o jogo de olhares dos personagens, enquadrar perfeitamente em cena, facilitar a vida de quem fez a edição do longa, e ainda trouxe cenas lindíssimas da Nova York ao entardecer, da Coreia vista do bonde, e uma sequência ótima de quando Hae Sung na fila para as passagens, entrega um lanche a Nora, de café da manhã... essa cena ficou lindamente fotografada.
Greta Lee e Teo Yoo são duas pérolas para serem lapidadas futuramente em produções que estejam a altura dos dois, espero que não se percam em produções vazias Hollywoodianas que não lhes favoreçam roteiristicamente... pois quando lhes dão um roteiro onde eles têm muito a dizer, mas com o olhar, com o corpo, a forma como se movem, como se comportam na presença um do outro, é simplesmente divina, é pura escola de teatro, é atuação com A maiúsculo.
Os dois são um colírio em cana, e por mais que seja vê-los nas cenas aleatórias do longa, Nora com Arthur, ou conversando com a Mãe, e Hae Sung com os amigos na Coreia ou fazendo check-in em Nova York... .o prazer está mesmo em ver os dois contracenando, ali está a alma do filme, é entretenimento puro, parece que somos nós que estamos namorando com eles em cena. Com certeza toda a sequência dos dois em suas respectivas cidades, conversando por vídeo chamada, são as mais prazerosas do filme, que nos hipnotiza em cena e nos transporta para dentro da situação, levando nossa própria experiência passada para dentro do contexto deles, nos deixando mais próximos dos dois, e nos dando dimensão e imersão do relacionamento deles, seja este qual for.
Sou só elogios para os dois, e deveriam ser muito mais compensados nesta temporada de premiações, especialmente Teo Yoo, faltou um Oscar para coroar esse seu trabalho tão singelo e ingênuo,. mas tão verdadeiro, forte e impactante.
John Magaro como Arthur também foi ótimo, sua sequência na cama com Nora, alternando entre dimensão da realidade e insegurança foi ótimo, e deram um belo texto para ele trabalhar.
Os dois atores mirins de Nora e Hae Sung também ~soa muito carismáticos, e possuem muita química em cena, toda sua sequência foi ótima e enriqueceu muito a construção da persona dos dois, para quando ficaram adultos.
Fica aqui também meu registro para a indicação de filme de Nora para Hae Sung, 'Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças', do mestre Michel Gondry, uma obra-prima do cinema moderno, do qual sou FÃ em caps lock, e sempre revejo pelo menos uma vez ao ano.
A trilha sonora é o fino do fino, o uso do piano, a forma como ela é inserida nas cenas, em momentos chave, em como ela dita o caminho que os dois visam para o futuro, ou até mesmo para o presente momento... uma composição singela e impactante. Chistopher Bear e Daniel Rossen, ao que parece, é o primeiro trabalho cinematográfico dos dois compositores, não cheguei a pesquisar a fundo.
Quanto ás indicações, 'Vidas Passadas' levou muitas delas, e muitas são principais:
- No Oscar para Melhor Filme e Melhor Roteiro Original;
- No BAFTA para Melhor Ator (Teo Yoo MERECIDÍSSIMO), Melhor Filme Estrangeiro, Melhor Roteiro Original;
- No Satellite Awards para Melhor Filme Drama, Melhor Atriz Drama (Greta Lee MERECIDÍSSIMA), Melhor Roteiro Original;
- No Spirit Awards de Filme Independentes para Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Roteiro, Melhor performance Principal para Teo Yoo e Greta Lee;
- No British Film Independent Awards para Melhor Filme Internacional;
- No Critics Choice Awards para Melhor Filme, Melhor atriz e melhor Roteiro Original;
- No Globo de Ouro para Melhor Filme Drama, melhor Filme em Língua Não Inglesa, Melhor Diretor, Melhor Roteiro e Melhor Atriz Drama;
- No Astra Awards para Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Atriz, Melhor Roteiro Original e Melhor Filme de Estreia;
Levou até agora apenas o prêmio de Melhor Filme no Gotham Awards de Filmes Independentes.
'Vidas Passadas' é uma pérola em forma de longa metragem, Celine Song começou muito bem sua carreira no cinema, já sendo indicada ao (nada relevante) Oscar e ao BAFTA e todas as outras grandes premiações, assim com alguns reconhecimentos para Greta Lee e Teo Yoo. Torço muito pelo filme em levar alguns prêmios nas premiações vindouras, principalmente para Teo Yoo no BAFTA e Roteiro Original no Oscar.
(Assistido em 12/02/2024 - Cine Sala)
Jon Batiste: American Symphony
3.3 25Jon Batiste é um músico que pouco conhecia, pois eu o conhecia mais de nome, acho que não havia ouvido nada de sua carreira, o único trabalho mesmo dele que ouvi foi a trilha sonora do filme 'Soul',que realmente é muito boa, da qual ele ganhou um Oscar.
Em 2022 ele levou 5 prêmios Grammy, incluindo o mais importante da noite, o Álbum do Ano... eu, como não sou ligado no Grammy, não acho relevante, acho uma premiação muito vendida, não é do meu agrado, acho que na época não dei bola, nem vi os vencedores, não tenho nenhuma lembrança dessa premiação naquele ano.
Realmente eu o fui conhecer, não só como músico, mas como pessoa, agora neste documentário 'American Symphony' que o acompanha no período de ' ano, onde ele está indicado ao Grammy e compondo essa sinfonia homônima que vai ser apresentada somente uma única vez no famoso 'Carnegie Hall' em Nova York, ao mesmo tempo que ele acompanha sua esposa, Suleika Jaouad, que tem Leucemia e está prestes também a fazer um segundo transplante de medula em sua vida.
O diretor Matthew Heineman, que também é o editor e o diretor de fotografia deste documentário, conseguiu nos trazer cenas bem íntimas da vida do casal... mas não intimidade conjugal, mas sim intimidades verbalizadas, coisas que só dizem ao respeito do casal, foram captalizadas pelo diretor, conversas sobre medos, inseguranças, possíveis falas de esperança, coisas relacionadas à doença de Suleika... temas que dificilmente Jon traria abertamente para entrevistas em programas e rádios, onde não seria assim tão aberto para a imprensa e público... esse é um dos bons pontos do filme.
Acho que o principal charme do documentário é essa batalha de Suleika contra a leucemia, contra o câncer que enfrenta. Como fica claro pelo médico dela no filme, não tem cura, é uma batalha diária, mensal, anual, o câncer entra em remissão, mas pode retornar em 5 anos, em 10 anos, como foi este último caso, e novamente ela volta a lutar contra ele com remédios e sessões hospitalares, como a quimioterapia, que será algo permanente na vida dela.
É incrível a força que ela encontra para lutar contra a doença, fazer todas as sessões no hospital e ainda dar suporte ao seu marido que está fazendo shows, compondo uma sinfonia complicada e dando seu apoio a ele também na premiação do Grammy. Mesmo lutando pela vida, passando em hospitais do que em casa, ela tem uma força de vida muito grande, esperança e desespero amalgamado dentro do coração dela.
Já Jon Batiste também é outro que encontra forças de algum lugar que eu acredito que ele nem saiba que existe dentro de si, pois o homem não pára, é uma máquina de fazer música e de ideias... e tudo isso em meio a doença e internações da esposa. Ás vezes se comunicando com ela apenas por FaceCam, seja ela estando em casa ou no hospital... tem dias que ela está péssima, com sangramento, com náusea e outras coisas, e ele pela FaceCam tentando animá-la, tentando passar essa força, mas com certeza querendo estar com ela naquele momento.
Jon realmente não para, durante o documentário, ele está se apresentando pelos EUA, está ensaiando com sua orquestra para a vindoura Sinfonia, que será apresentada em um lugar tão emblemático como o Carnegie Hall, onde já passou Mahalia Jackson e tantos outros grandes nomes da música preta americana.
Em casa, também não consegue se desligar, sempre tem algo surgindo na sua cabeça em termos de criação, fora as noites de sono perdidas e os períodos de inquietação, pelo fato de possuir ansiedade, que ele tem no momento devido a pressão da responsabilidade que tem em apresentar sua sinfonia, de uma forma perfeita, e a preocupação, claro para com sua esposa.
Jon é a mais pura representação do que é a música, do que é um musicista, mesmo eu não estando 100% familiarizado com seu trabalho, e também não sendo um dos ritmos musicais que eu mais aprecie para ouvir diariamente... não tem como não se empolgar com seu trabalho e não respeitar tudo o que ele cria ano após ano.
Seu número no Grammy é incrível, um espetáculo a parte... suas mais distintas colaborações musicais e criações musicais são de tirar o chapéu e de se inspirar qualquer músico, e também qualquer pessoa comum que seja apaixonada por música.
Ele não se prende a fórmulas seguidas pela grande maioria dos músicos pretos da atualidade nos EUA, e sempre cria algo que seja do seu gosto e que possua uma harmonia que lhe satisfaça... indo do R&B ao POP, do Jazz à música clássica... e há essa bronca dele com a imprensa e/ou pessoas em geral de que ele não pode ser pop e clássico ao mesmo tempo... essa é uma cena que eu gostei bastante particularmente, e acho que ele responde muito bem.
O ritmo do filme de Matthew Heineman, não vou negar, não é dos mais favoráveis, sendo que o começo realmente é um pouco devagar, e vai se seguindo num ritmo um pouco enfadonho... pra quem gosta de assistir qualquer obra cinematográfica, mesmo nas partes desfavoráveis de um trabalho, nós seguimos acompanhando de olho para ver se temos uma mudança no que está sendo apresentado, e óbvio seguimos nos entretendo com o que estamos acompanhando. E do meio do documentário pro final, esse ritmo aos poucos vai se consertando, eu acredito que irá ficar mais saboroso para o público comum, a medida que a apresentação sinfônica vai se aproximando.
Não deixa de ser um ótimo trabalho entregue por Heineman, e inicialmente eu me questionei o porque de não conseguir uma indicação ao Oscar, coisa que para mim já estava sacramentada... mas agora confesso, que entendo o porque de uma não indicação.
O documentário é ótimo, eu particularmente gostei muito, mas peca um pouco no ritmo, ás vezes fica muito preso, nós percebemos mesmo que Jon está um pouco tenso durante o documentário, o que o faz ficar desconexo em alguns momentos do filme, pela pressão de tudo o que está vivendo no momento, muitas coisas ao mesmo tempo. O resultado é bom em termos de entretenimento, mas não favorável em termos de indicação.
Apesar de tudo, o documentário recebeu boas indicações:
- Melhor Documentário no BAFTA, no Satellite Awards, Astra Awards;
- Melhor Canção para 'I Never Went Away' no Oscar, no Satellite Awards;
- Melhor Som no Satellite Awards;
Merece ao menos uma lembranã em alguma categoria pelo ótimo documentário que ele é, ficarei na torcida.
Um bom filme para conhecer Jon Batiste, como pessoa e como músico, para buscar o trabalho dele, para conhecer...e para enaltecer o casamento dos dois, Jon e Suleika, um completa o outro, e os dois se preenchem de forças para suportar tudo que avida lhes trouxer nos caminhos à frente.
(Assistido em 11/02/2024 - Netflix)
Anatomia de uma Queda
4.0 809 Assista AgoraPOSSUI SPOILERS...NÃO LEIA SE NÃO ASSISTIU!
Eu ia dizer que não entendo como as pessoas que comandam as produções cinematográficas francesas conseguiram fazer a burrice e a estupidez de não escolher este filme como representante da França no Oscar deste ano. Seria o prêmio mais fácil da história, junto a 'Drive My Car' e 'Parasita' que levaram todas as premiações em Filme Estrangeiro nos últimos anos.
Mas aí eu lembro que tudo envolve política, assim como foi no Brasil, nos muitos anos de filme ótimos nacionais que podiam ser escolhidos para representar o país, mas por questões puramente políticas, eles indicavam outros e o Brasil fica aí com ótimas produções que sequer ficam duas semanas em cartaz.
'Anatomia de Uma Queda' de Justine Triet, diretora do ótimo Sybil, é sem dúvidas um dos melhores filmes estrangeiros de 2023, sendo que é muito difícil você encontrar por aí filmes que são tão verossímeis, tão autênticos, tão honestos e verdadeiros, com uma entrega de atuação sem igual, uma paixão pela obra a ser representada, que o resultado não seria menos que esse... perfeição.
Dirigido e escrito por Justine Triet, em parceira com Arthur Harari, 'Anatomia de Uma Queda' tem um de seus charmes em seu roteiro, que foi cuidadosamente e meticulosamente escrito pela dupla. Houve ali um cuidado para que nenhuma ponta solta ficasse desfavorável ao espectador, que os acontecimentos passados se intercalariam com as apresentações presentes, que os personagens principais mesmo tendo muitas e muitas falas, eles se comunicariam mais com o espectador com olhares, com trejeitos, com música, com verdades e dúvidas, coisa rara de se conseguir dos seus personagens com tamanho êxito em cena.
Aqui nós temos um possível crime, um possível acidente, sem testemunhas, mas que só leva a um caminho, a uma possível culpada... é isso o que o advogado de acusação, interpretado pelo perfeito e ótimo Antoine Reinartz, deixa claro em sua acusação. Traz todas provas, evidências, e argumentos que deixam qualquer acusado recuado, sem palavras, sem uma defesa contundente, ele entra na mente do acusado e aluga muitos apartamentos lá... mas não com Sandra.
O julgamento foi muito bem escrito pela dupla de escritores, e muito melhor ainda filmado por Justine, foi muito bem conduzido, seu trabalho de pesquisa trouxe um julgamento fiel, sem todo aquela pompa e show que conhecemos quando temos um julgamento amplamente coberto pela mídia, ou quando o crime é deveras hediondo... claro, aqui temos um possível assassinato, ou um suicídio, ou um acidente, temos a mídia... mas é conduzido de forma normal, sem tantos alardes, e o trunfo de Justine é que as provas, evidências, as defesas e as acusações, falem por si só... praticamente Justine apresenta toda a sequência de Julgamento para nós, nos colocando na pele de um dos jurados... cada um de nós que estamos assistindo no cinema ou em casa, somos um dos jurados daquela sessão. Por isso o texto é tão rico, recebeu essa atenção enorme dos roteiristas, os atores que fizeram os advogados foram ótimos, nos passarão aquela imersão, não os enxergamos como atores, mas como advogados mesmo, e a forma como acusam Sandra, como a defendem também, e a forma como ela se posta, como ela declama os fatos, seus pensamentos, seus medos, são nada mais que verossímeis, e nos coloca na pele de jurados, mesmo sem querermos tal posto.
Qual seria o nosso veredito?
Temos inúmeras cenas de reconstituição, que ajudam o filme a ter mais charme, mais imersão, e temos todo o relacionamento de Sandra com seu advogado, Vincent, onde aos poucos descobrimos que existe ali um sentimento fortíssimo dele para com ela, e um carinho honesto e tenro dela para com ele. Coisa que já está bem explícita assim que ele nos é apresentado ao chegar na casa de Sandra.
O outro charme do longa está nos outros dois atores que comandam o longa... Sandra Hüller e Milo Machado-Graner;
Sandra é uma força da natureza em cena, em várias delas, logo na cena inicial em sua conversa com Zoé mostrando muita desenvoltura e, como mesmo descreve o advogado de acusação, sedução... a cena em que ela interrompe o homem que trouxe o pen drive com a discussão entre Sandra e Samuel... e principalmente na cena onde Sandra e Samuel discutem no flashback que é o conteúdo do pen-drive, onde ali os dois atores dão um show de atuação, com Sandra chegando em seu ápice ao jogar muitas coisas na cara de de Samuel falando sobre sua generosidade, e seu medo em falhar, em como ela não tem culpa nenhuma, e ele é o único culpado, em chegar aos 40 sem conquistar o que esperava e jogando essa culpa nela...perfeita para não dizer divina em cena. Sandra morreu e encarnou outra Sandra, foi isso que aconteceu, pois ela nos conduz o filme todo, é impossível você não torcer por ela durante o longa, principalmente nas cenas onde ela está sendo acusada, ao mesmo tempo, que ficamos com dez mil pulgas atrás da orelha com relação a ela, e em vários momentos iremos nos pegar pensando, "não tem como, essa mulher deve ter empurrado Samuel, deve ter atacado ele", conseguimos enxergar uma certa repulsa dela em relação ao marido que produz o fracasso dele nela, e em como isso a afeta, a incomoda, e o quanto ela não se perdoa 100% pelo o que aconteceu a Daniel, seu filho.
E por falar em Daniel, para mim, pessoalmente, Milo Machado-Graner é a alma do filme... toda a mídia elogia muito a atuação de Sandra neste longa, e eu acabei de fazer isso e reconhecer... mas é Milo para mim, que é um matador neste filme. Esse garoto não é um força da natureza, ele é um poder divino em forma de ator. Que atuação MAGISTRAL, COLOSSAL, um adolescente entregar uma atuação daquela, com apenas dois filmes no currículo, como criança ainda, e trazer tanta alma, tanta ingenuidade, tanta verdade para seu personagem, tanta força na cena onde ele depôs contando a conversa que seu pai teve na volta do veterinário, na cena onde ele encontra o pai morto, na cena onde ele chora lamentando a perda do pai ao ser confortado por Monica, nas cenas da reconstituição, na cena da conversa com a Juíza que lhe pedia para não ir mais ao tribunal, na cena que conforta a mãe ao final do filme...são tantas as cenas com este garoto de grandeza, de força, de atuação em seu nível mais alto.
A cena onde ele dá os tranquilizantes pro cachorro, e logo depois sua pequena conversa com Marge ao ar livre... e todas as suas cenas ao piano, cenas magistrais, onde ali ele se comunicava verdadeiramente com o espectador, ali ele realmente mostrava os traços de sua personalidade, e podíamos enxergar o que Daniel estava passando, o que ele queria botar pra fora, como se sentia com toda aquela situação horrenda. Magnífico.
Por falar no cachorro, eu que amo muito animais, como fiquei aflito achando que ele ali já era... me segurei na poltrona, com força e torci, mas torci... hahahahahahahaha.
No longa ainda temos Samuel Theis que fez o marido de Sandra, e para mim, quando atuou com ela e quando fez o pequeno discurso para Daniel, na voz de Daniel, no carro voltando do veterinário, foi ótimo, um ator que esteve a altura do personagem e do longa que participou.
Temos uma atriz que gosto muito, mas como cantora, Jenny Beth fez Marge, a assistente mandada pela juíza para ficar com Daniel em sua casa... Jenny fez parte de uma chamada 'Savages' e conheci ela quando participou do disco 'Humanz' da banda Gorillaz de Damon Albarn (vocalista do Blur), ela participou da faixa 'We Got The Power' junto a Noel Gallagher (do Oasis, banda que sou fanzaço-aço). Jenny mata nessa faixa, principalmente ao vivo, onde a música ganhava muito mais vida que a versão de estúdio... tem uma entrevista muito bacana dela e de Damon no Youtube do programa Graham Norton Show, onde eles apresentam a faixa ao vivo e conversam com o apresentador e os convidados Kevin Bacon, The Rock, Jessica Chastain, Kevin Hart... muito boa e engraçada... ela ainda veio aqui no Brasil se apresentar ano passado no Lolapalooza.
Já citei o ótimo Antoine Reinartz, achei ele magnífico como advogado de Acusação... ótimo em cena, perfeito nas colocações, o texto lhe favoreceu muito, e acharam o ator correto para ser firme contra Sandra e seu advogado...era um deleite ver ele em cena atuando daquela forma...gostei demais dele.
E, Swann Arlaud, que fez Vincent, o advogado de Sandra, que esteve ótimo durante todo o filme, mas gostei mais dele no começo, antes do julgamento, aquela coisa que ele escondia sobre Sandra, mas estava escancarado em sua cara... e nas cenas onde ele se contrapõe ao advogado de Reinartz, onde ele entrega uma atuação muito convincente.
A trilha é espetacular, sempre ao som de piano, bem suave, bem tenso, ela vai em uma crescente onde se torna acusatória, e depois volta mais densa, mas inocente... é um contraposto ótimo que deixa as cenas mais vivas, expressa os sentimentos dos personagens em cena, e cria momentos que casam perfeitamente com o que o filme quer provocar no espectador.
A grande proeza de 'Anatomia de Uma Queda' está em toda sua experiência ao acompanhar o longa, está no texto de Justine Triet e Arthur Harari, está na conexão com os personagens do longa, Sandra, Daniel e Samuel, está nos deleites do embate na corte, está no desvendamento dos aspectos pessoais e íntimos de Sandra e de Daniel.
Aqui, pouco importa o que realmente aconteceu, qual é o final do filme, se ela o assassinou mesmo, se foi um acidente, se foi suicídio, se as palavras de Sandra influenciaram no suicídio de Samuel... essas coisas não tem importância, total, o que conta mesmo é a experiência com a criação de Justine e Arthur em uma história que nos imersa em personagens interessantíssimos, e em como eles se relacionam conosco de várias e diversas formas.
Hoje em dia, o público geral procura muito o famoso 'Plot Twist', um filme não feito de Plot Twist, ou só de Plot Twist, isso é muito pequeno, muito ínfimo... quem vai procurando apenas isso para verbalizar que gostou ou não de um filme, vai apenas perder o seu tempo, é bom procurar outra forma de se entreter... um fllme é muito, mas muito mais que apenas um singelo 'Plot Twist'.
'Anatomia de Uma Queda' recebeu uma chuva de indicações:
- No Globo de Ouro para Melhor Filme Drama e Atriz Drama;
- No Critics Choice para Melhor Atriz;
- No Satellite Awards para Melhor Filme Internacional, Atriz Drama e Melhor Roteiro Original;
- No Astra Awards para Melhor Filme Internacional, Melhor Diretor Internacional, Melhor Atriz Internacional e Melhor Roteiro Original;
- No BAFTA para Melhor Filme, Melhor Filme em língua não-inglesa (Estrangeiro), Melhor Diretor, Melhor Atriz, Melhor Roteiro Original, Melhor Elenco e Melhor Edição;
- No César Awards, o Oscar Francês, para Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Atriz, Melhor Ator Coadjuvante (Swann Arnaud e Antoine Reinartz, Justísssimo), Ator Promissor (Milo Machado-Graner, Justíssimo), Roteiro Original, Melhor Som, Melhor Edição, Melhor Design de Produção;
- No Spirit Awards de filmes independentes para Filme Internacional;
- No Oscar para Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Atriz, Melhor Roteiro Original e Melhor Edição;
Agora os prêmios que já abocanhou:
- A Palma de Ouro no Festival de Cannes, e a Palm Dog, que é o prêmio para atuação canina... sim, o Snoop ganhou um prêmio em Cannes.
- O Gotham de filmes independentes levando Melhor Roteiro e Melhor Filme Internacional;
- O British Independent Film Awards levando Melhor Filme Independente Internacional;
- O European Film Awards levando Melhor Editor Europeu, Melhor Filme, Melhor Diretora Europeia, Melhor Roteiro Europeu, Melhor Atriz Europeia, e o University Film Award, prêmio votado por Universitários Europeus;
- No Globo de Ouro levou Melhor Filme em Língua Não-Inglesa e Melhor Roteiro;
- No Critics Choice levou Melhor Filme Estrangeiro;
- No Goya Awards, o Oscar Espanhol, levou Melhor Filme Europeu;
No Oscar seria o meu favorito, como fizeram esta bela cagada, parabéns França, vou torcer para levar mais uma ou outra premiação, pois até aqui já levou tudo até o momento, e ainda pode levar o BAFTA, tanto como Filme Internacional como Melhor Filme. E todos sabemos que a Academia não irá premiar 'Anatomia de Uma Queda' como Melhor Filme... 'Parasita' será a exceção por muitos anos, afinal os prêmios da 'Acadimia' é pra prestigiar os profissionais norte americanos, não os filmes de fora.
Mas sim, 'Anatomia de Uma Queda' é uma obra prima francesa e até aqui o melhor e definitivo trabalho de Justine Triet.
E mais, a Anatomia aqui não é a da queda em si, de Samuel, mas a Queda do casal com o passar dos anos, o quanto este casamento foi se destruindo após o acidente de Daniel... é essa anatomia de queda que testemunhamos no tribunal com os fatos, falas e áudios apresentados. Plot Twist o caramba!!!
(Assistido em 10/02/2024 - Instituto Moreira Salles de Cinema)
Marcados: A História do Racismo nos EUA
4.0 9Baseado no livro de mesmo nome escrito por Ibram X. Kendi, "Stamped From The Beginning" é um documentário narrado pelo próprio Kendi, e dirigido por Roger Ross Williams (de Love To Love You Donna Summer) que conta a origem do racismo na história americana.
Para contar sobre essa onda gigante de Racismo que existe nos Estados Unidos da América, Kendi volta até a básica e bem possível origem de tudo, 1444 quando descobriram que era muito mais prático e seguro escravizar os negros que habitavam o continente africano, do que os eslavos que podiam se rebelar facilmente e se misturar à multidão com a mesma facilidade justamente pelo fato de serem brancos... e nos ensina de onde vem a origem da palavra Escravo.
O documentário é basicamente uma aula como você nunca teve na sua vida, sobre qualquer assunto... se nós crianças e adultos, fossemos educados desta forma, podem ter certeza que teríamos uma parcela mínima e ínfima de pessoas ignorantes transitando e vomitando merda nesta terra.
Desde a o século 14, passando por 1600, 1700, 1800, traçando toda uma linha que segue minuciosamente mostrando como o branco que está no poder vai minando e diminuindo a cultura preta, os costumes pretos, a riqueza preta, a arte preta, e como usa palavras depreciativas e pontos de vista duvidosos e nada eloquentes para deixar o povo preto sempre um degrau abaixo. (Um degrau não, dez degraus abaixo)
Kendi, junto a um grupo de mulheres pretas, que possuem posições altas no EUA na questão de historiadores, também ajudam a desmitificar grandes nomes da história norte-americana que de alguma forma são vistos como salvadores dos direitos dos pretos, ou que ajudaram os pretos terem mais liberdade ou dignidade com suas ações ou políticas. Alguns deles, como Thomas Jefferson, chega a ser elucidador, pois pessoas leigas como eu, tinham uma visão do ex presidente americano, o que nos era mostrado em produções especiais, filmes, séries, matérias, documentários, enfim... quem nunca foi a fundo pesquisar ou conhecer, como eu, não tinha a menor noção de algumas das falas e posições do homem que ficou conhecido por libertar o preto da escravidão na América.
Kendi traz até os dias de hoje, os dias atuais, colocando George Floyd, entre outros casos de racismo na América, em foco, e nos mostra como tudo que foi construído, láááááááá atrás, está enraizado nos dias de hoje, ajuda a explicar o porquê de uma grande parte dos norte americanos serem conservadores, por se considerarem superiores pela cor da pele, por achar que os pretos não merecem dividir a América com eles, por acharem inferiores e por aí vai.
Uma verdadeira aula, é o que o documentário realmente é, algo minuciosamente explicado, e como nos mostra o quanto não sabemos de nada da cultura preta, o quanto a luta precisa ser evidenciada, e o quanto o povo preto precisa levar uma vida de liberdade, de dignidade, sem medo, com respeito, prosperidade, sem atos racistas de pessoas que nem sabem o que estão fazendo, são ignorantes, que foram ensinados a odiar ou a diminuir por uma sociedade que faz vista grossa para as tantas minorias que existem no planeta, e que normalizam atitudes e falas e atitudes e costumes que hoje em dia não são mais bem vinda, que não são mais práticas usadas por pessoas decentes e evoluídas.
O documentário está indicado ao Satellite Awards na categoria, claro, de Melhor Documentário. e um fato curioso é que Roger Ross Williams, que dirige este documentário, também está indicado na categoria por mais um documentário, 'Love To Love You, Donna Summer), ou seja, duas chances de ganhar :).
(Assistido em 08/02/2024 - Netflix)
Deadpool & Wolverine
27Trailer bom é assim, não entrega nada...quero ser surpreendido na sala de cinema sem spoilers..
Mas já deu pra ver ali o Pyro, Aaron Stanford de X-Men 2 e 3... fora uma HQ de Secret Wars.
E mais Logan com sua versão dos tempos Madripoor, 'O Caolho'!
A Sociedade da Neve
4.2 720 Assista AgoraCom certeza 'A Sociedade da Neve' era um dos filmes que eu mais estava curioso, ansioso, para conferir. Diferente de muitas pessoas, apesar de ter ciência desse trágico acidente, nunca assisti 'Vivos' de 1993, que retratou os acontecimentos desta tragédia baseado em um dos inúmeros livros lançados que relatam o que aconteceu naquele fatídico dia e nos meses subsequentes.
Para mim o impacto do filme deve ter sido bem maior do que foi para outras pessoas que não estavam familiarizadas com os detalhes do que se passou na cordilheira dos Andes. Eu até fico meio perdido nas palavras para fazer essa resenha, porque foi tão impactante o filme em mim, todos os detalhes, tudo o que eles passaram, tudo o que se sucedeu entre aquelas montanhas, naqueles dois meses... que toda a parte técnica do filme ficou em segundo plano pra mim, o tanto que o filme me envolveu e me prendeu na frente da tela.
Sequer dá pra mensurar os horrores que os sobreviventes passaram naqueles mais de 70 dias, em um dos lugares mais inóspitos do mundo, onde não havia exatamente nada...NADA, luz, água, comida, banheiro, higiene íntima, roupas novas, calçado, enfim...
Imagine passar a noite em um frio a 30° negativos, em uma geada absurda, em um dos lugares mais gelados do mundo, sem a proteção adequada para sobreviver... o quão doloroso deve ser morrer de frio, sofrer com a pele queimando de não conseguir suportar tal temperatura imprópria para qualquer ser humano.
Um dos maiores desesperos deve ser você ouvir em um rádio depois de 10 dias, que as buscas pelo seu avião serão encerradas, por acharem que você e as demais pessoas estão mortas, por ser impossível sobreviver a tais circunstâncias... o que se passa na cabeça nessa, saber que você está largado para a morte, que não há esperança de escapar dali com vida, que ninguém aguentará uma caminhada de dias, semanas, até algum lugar que seja menos frio, ou que tenha água... que quando sua hora estiver chegando, ninguém poderá fazer nada e você sofrerá até que seu último suspiro chegue...
Uma das cenas que mais me impactou, foi a avalanche que soterrou os sobreviventes dentro da carcaça do avião, onde todos riam, e brincavam e nutriam esperanças... e uma avalanche os varre de surpresa, sem aviso, matando algumas dessas esperanças...
Algumas dessas pessoas, infelizmente morreram soterradas no gelo, sem ar, sufocadas, sem poder se mexer... o quão horrível deve ser essa sensação...eu me peguei pensando nesse momento toda a madrugada depois de ver o filme.
O esforço de Canessa e Carlitos Paez para retirar seu colegas a tempo, sendo que uns eles conseguiram e outros infelizmente não deu tempo... as mãos queimando para se retirar o gelo suficiente para poder puxar seus camaradas, o cansaço físico para escapar do gelo, puxar seus amigos e cavar gelo sem parar na busca por mais sobreviventes... para logo em seguida, vir uma segunda onda da avalanche e soterrar todos de vez.
Quatro dias...imaginem...QUATRO DIAS, soterrados debaixo do gelo, com receio de faltar ar, sem comida, sem água, sem banheiro, pouco espaço, sem poder escapar pois a tempestade ainda está ocorrendo do lado de fora, e será pior se tentarem escapar, podem ficar mais soterrados ainda ou então morrer com o frio. Deve ser muito agoniante e angustiante, não saber quando poderão sair, se conseguirão sair... quatro dias é muita coisa, debaixo da neve, no escuro, com pouca iluminação, as horas demoram demais para passar, você não consegue distinguir dia de noite, e sequer sabe exatamente quantas horas se passou lá embaixo.
Eu sou uma das pessoas que achou que Numa não iria morrer, não conhecia a história a fundo, fui conhecer o básico com este filme, mas depois que ele cortou o pé, estava bem na cara, aquilo iria infeccionar e o óbito era só questão de tempo... e Numa foi corajoso, foi um herói também, todos ali foram.
Comer carne humana deve ser o ponto mais polêmico do filme, do que sucedeu lá, a cabeça da pessoa deve entrar em curto circuito ao perceber que, ou você come carne humana para sobreviver, ou irá morrer... a coragem que os outros tiveram para cortar as partes dos cadáveres, o sangue escorrendo, o xixi preto que saía, uma vez que não tinha mais líquido para expelir do organismo.
Se for pra falar do filme em si... a cinematografia é perfeita, fizeram um trabalho estrondoroso, incrível, de saltar os olhos nas muitas das cenas do longa.
A maquiagem dos personagens, a forma como seus olhos escureciam, as manchas pretas, a carne se decompondo com o frio, o corpo esquelético mais para o fim do filme, realmente um trabalho muito bem feito.
Toda a cenografia interna da carcaça do avião, os figurinos, a cenografia quando as cenas ainda se passavam no Uruguai, antes de eles viajarem... toda a sequência da partida de Rugby, bem filmada, bem coreografada, be detalhada. O filme é bem rico em seu 1º ato, divertido, nada enfadonho, faz você fazer parte daquele time, daquele circulo de amizade.
A direção de Juan Antonio Bayona é esplêndida, um trabalho meticuloso, dedicado, profissional, detalhado, muitos takes difíceis de se realizar, várias tomadas incríveis, como o do próprio soterramento, o do começo do filme com a sequência da jogada da partida de Rugby, toda a sequência do acidente, desde a conversa descontraída do pessoal no avião, passando pela turbulência e logo depois o acidente em si, com riqueza de detalhes, que deixam o espectador se segurando na cadeira com o coração na mão...parece que você está caindo junto com eles. A direção de Bayona é tão imersiva, tão perfeita, que a impressão que fica é que você estava naquele avião e na Cordilheira com aquelas pessoas esse tempo todo.
O elenco é perfeito, é ótimo, é a alma do filme...com destaque para Enzo Vogrincic Roldán, que interpretou Numa, um dos protagonistas, que teve uma atuação magnífica, surreal, uma entrega total ao personagem, dava para perceber o horror do que estava vivenciando em sua atuação.
Agustín Pardella que fez Nando Parrado foi outro que se destacou, seu personagem cresce muito depois que ele passa pelo luto de perder a irmã e se torna uma espécie de força moral, de guia para os demais sobreviventes... é ele quem mais quer organizar uma ida além das montanhas para chegar ao Chile, e fazer algo ao invés de sentar e esperar um milagre de uma ajuda que nunca chega. Goste demais da atuação dele, cresce muito na parte final do longa.
Eu não vou citar todo o elenco, senão vão ser linhas e mais linhas, gostaria muito de citar um por um... mas realmente todos estão ótimos no filme, contribuem muito para imersão dos fatos, trazem verocidade para seus personagens, e nos prendem, nos cativam, e nos faz torcer por cada um deles enquanto acompanhamos este magnífico
trabalho.
A trilha sonora é de Michael Giacchino, que dispensa apresentações, mas mesmo assim cito, 'Up - Altas Aventuras' e 'The Batman' como compositor, 'Super 8' como ator, e 'Lobisomem da Noite' como diretor... e sua música para o filme é um dos seus pontos altos na carreira, trabalho primoroso, que se conecta com as cenas e principalmente com os personagens, nunca vi uma trilha se mesclar tão perfeitamente com as emoções dos personagens, acho que só em 'Perdi Meu Corpo' também da Netflix.
Giacchino é um dos melhores compositores do Cinema, e um músico que me inspira muito com certeza.
Juan Antonio Bayona produz e também roteiriza junto a mais três escritores o longa, e o roteiro foi muito bem elaborado, muito bem escrito, as falas são muito poderosas, não deixaram as partes mais impactantes do livro de fora do corte final, nem as falas mais emblemáticas, como "eu autorizo vocês a se alimentar dos corpos de minha mãe e minha irmã" proferidas por Nando Parrado. Para mim, pessoalmente, é um roteiro 10/10, sem mais.
O longa foi lembrado em algumas premiações desta temporada:
- No Oscar está indicado a Filme internacional e Maquiagem/Cabelo;
- No Satelitte Awards a Filme Estrangeiro e Trilha Sonora;
- No BAFTA a Filme Estrangeiro;
- No Globo de Ouro perdeu em Filme Estrangeiro para 'Anatomia de Uma Queda';
- No Critics Choice Awards perdeu em Filme Estrangeiro também para o filme de Justine Triet e Melhor Compositor para Ludwig Göransson de Oppenheimer;
- No Astra Awards foi indicado a Melhor Filme Internacional, Melhor Diretor Internacional e Melhor Ator Internacional para Enzo Vogrincic (uqe fez Numa);
- No Goya Festival, premiação espanhola, está indicado a Melhor Filme, Melhor Diretor para J. A. Bayona, Ator Revelação para Matías Recalt (que fez Roberto Canessa, merecidíssimo), Roteiro Adaptado, Trilha Sonora Original, Efeitos Especiais, Fotografia, Maquiagem e Cabelo, Direção de Produção, Melhor Som, Melhor Montagem, Melhor Figurino, Melhor Direção Artística (Ufa!!);
- Até o momento levou apenas o European Awards de Maquiagem e Cabelo e Efeitos Visuais.
Só não vou considerar 'A Sociedade da Neve' como Obra-Prima, porque usando do bom-senso, o filme é muito bom, muito bom mesmo, mas é um filme baseado em fatos verídicos como qualquer outro, e cumpre bem o seu papel de contar o que se sucedeu com aquelas pessoas.
Em mim teve um impacto gigantesco, onde passei a madrugada toda, e o dia seguinte com o filme na cabeça, e as cenas, e os personagens, e me imaginando no lugar deles... e isso faz para mim um grande filme, um filmaço com F maiúsculo, com a melhor direção,a melhor trilha, as melhores interpretações... enfim... falta ainda eu conferir os pesos pesados em Filme Internacional, como 'Anatomia de Uma Queda', 'Zona de Interesse', 'Vidas Passadas', 'lo Capitano', '20 Days in Mariupol', entre outros... mas já é de longe o meu preferido a princípio.
(Assistido 07/02/2024 - Netflix)
Monstro
4.3 270 Assista AgoraQuem é o Monstro?
Quem assistiu se arrisca a dizer? Nomear uma só pessoa? Duas? Três? Um grupo de pessoas? O monstro é uma ideia? O monstro é uma sociedade? O monstro é uma educação?
Hirokazu Kore-eda, diretor de 'Assuntos de Família' e de 'Broker - Uma Nova Chance' (filme que tive várias chances de ver, inclusive de graça e bestamente ainda não vi) traz um dos melhores filmes de 2023, com um roteiro muito bem construído, escrito, elaborado,. com várias vertentes e trazendo um tema muito mais do que comum já de muitos anos... Bullying, preconceito, aceitação de identidade, inocência, mentiras.
A sinopse já diz, mas o filme trata de Minato, uma criança cujo pai faleceu e mora com a Mãe, um dia após um prédio se consumir em chamas, ele chega da escola com um comportamento diferente, corta as madeixas, outro dia chega só com pé tênis, sua garrafa térmica está com barro ao invés de água, e ele não se abre com sua mãe.
Ele apresenta comportamentos deveras estranhos e confessa que está sofrendo maus tratos de seu professor, Hori, sendo assim, sua mãe vai até a escola tirar satisfações com o professor, junto à diretora e o resto da diretoria escolar. Sua mãe, Saori, também vai até a casa de Eri, um amigo de Minato da escola, para buscar entender porque seu filho está estranho e se os dois brigaram mesmo na escola, segundo Hori.
Esse é o ponto de partida do filme, que irá apresentar ao espectador três pontos de vista diferentes... primeiramente o da mãe, em seguida o do professor, Hori, e por último, amarrará todas as pontas apresentadas pelo ponto de vista de Minato e Eri.
Para quem viu o trailer como eu, imaginava que o filme seria uma coisa... algo mais levado para o lado do Thriller-Horror, que teríamos algo hediondo, algo que impactasse, que seria o segredo do filme, que o título do filme se fizesse presente, e possivelmente estaria linkado a algum personagem do longa (ou o mais óbvio deles).
Porém, para minha total surpresa, o filme é exatamente o oposto de tudo o que eu pesava ou o que o trailer sugere que aconteça no longa, independentemente do que você espera do filme após ver o trailer.
Enquanto assistia ao filme, eu tentava desvendar o que poderia estar por trás dos acontecimentos apresentados, e comecei a pensar que o filme dava pequenos detalhes para que um dos personagens do longa você o autor de tais atos, que ele poderia ser o 'Monster' do título. Ás vezes, não fazia muito sentido, mas os detalhes deixavam claro que ali estava guardado a principal resolução do filme.
Depois, percebi que o filme na verdade queria me induzir a achar o que eles queriam que eu achasse... depois você percebe que não tem absolutamente nada a ver com o que você estava pensando, e também pouco tem a ver com o que talvez você deduza ao ver o 2º ato do longa, que envolve o professor Hori.
É incrível como Kore-eda constrói uma trama, onde o tema que ele quer tratar, está tão escondido, tão enterrado, tão invisível com relação a outros fatos,. que quando isto vem a tona, quando você realmente se toca do que verdadeiramente está acontecendo, é como um soco na boca do estômago, e não tem como você não se sentir culpado, porque você seria uma das pessoas que sequer enxergaria o que estaria acontecendo e o porque de tais atos de ambos os lados.
É claro que não vou falar abertamente aqui, para não dar Spoilers, nem vou fechar com a marcação de spoiler para ninguém se sentir tentado a ler... deixo aqui meu conselho a quem está lendo e quer conferir o longa...vá assistir, pare de ler os demais comentários da página, vá se surpreender por conta própria... é um roteiro lindíssimo, bem costurado, é um labirinto que você só vai começar a sair perto do fim do longa.
Mas o que acontece ali no final do longa, em seu 3º ato, envolvendo os dois protagonistas (ou coadjuvantes se preferirem), é algo mais que comum que acontece nos dias de hoje. A falta de diálogo, de entendimento, faz com que algumas pessoas se afastem, não se abram, não se sintam seguras...
O mesmo digo de alguns comentários que para alguns não tem nada demais, nada de ofensivo, é apenas uma brincadeira... mas para quem sente na pele, enxerga um mundo em que se sente solitário, que não pode confiar em ninguém onde todos pensam diferente dele(a), onde não se encontra uma brecha para se abrir, para verbalizar, para entender, para ouvir... e por um comentário assim, que para alguns é nada demais, a pessoa se isola, não se abrirá com quem proferiu o comentário e com mais ninguém, achará que todos são iguais e pensam da mesma forma...e aí, com quem vou conversar, me abrir, desabafar, aprender, quem vai me aconselhar? Então eu tenho um problema, preciso me tratar ou algo do tipo?
Uma vez eu tive que lidar com algo que tem mais ou menos a ver com o tema do longa... vieram até mim, queria conversar, não tinha ninguém para falar, a família não ouvia ou entendia, os amigos muito menos, sequer éramos próximos, era oi, tudo bem, e só... eu mesmo nem imaginava... mas veio me procurar, falou comigo, muita coisa, mas muita coisa... eu aconselhei, da melhor forma que pude, conversei, ouvi, entendi, aconselhei com bom senso, sempre respeitando o ser humano a minha frente. Hoje, me sinto orgulhoso de ter agido corretamente, emprestei meu ouvido, meu tempo, aconselhei, dei atenção, fiz o que um ser-humano faria por outro.
Acho que ficou bem claro do que o filme fala, certo? Para quem ainda não viu... tá bem na cara, porém, além disso existem muitas outras camadas citadas lá no começo da minha resenha.
'Monster' é um filme tão bom, tão envolvente, tão direto no que quer tratar, e com tantas camadas, que os demais tópicos para falar do filme ficam em segundo plano... como direção de arte, cenografia, cinematografia, porque a qualidade do que foi entregue é tão gritante, que acaba ofuscando esses demais tópicos.
O roteiro é brilhantemente escrito por Yuji Sakamoto, que não deixou nenhuma ponta solta sem solução, conseguiu unir tudo que foi apresentado, e de uma forma onde não ficamos confusos nem perdidos, é só dar atenção ao longa, que tudo é explicado e respondido no seu ato final.
Kore-eda também fez um trabalho primoroso na direção... incrível como ele conseguiu fazer seus dois atores mirins entregarem aquele nível de atuação, de drama, de inocência, de foco, em um longa com tantas camadas para se trabalhar. Sem falar nas ótimas tomadas de câmeras, principalmente no ato do professor Hori, e em algumas cenas de difícil filmagem, como na mini caverna que leva ao ônibus abandonado, e dentro do próprio ônibus durante a chuva do tornado que se aproxima.
Kore-eda também editou o seu filme, e talvez seja aí o grande mérito de 'Monster' ser tão envolvente, pois ele sabia exatamente o que queria mostrar em seu filme, e fez um corte que, tanto lhe agradasse, quanto nos envolvesse.
Dito isto, Cenografia, design de produção, a fotografia do longa... nota 9/10, não vou me alongar.
O elenco é perfeito, sendo que a protagonista Sakura Andô que faz a mãe de Minato, já trabalhou com Kore-eda em 'Assuntos de Família', e neste filme ela está incrivelmente bem e muito convincente como a mãe de Minato.
Eita Nagayama faz o professor Hori, e de longe foi o ator que mais gostei no longa, muita desenvoltura para ir do drama ao cômico, voltando ao drama com muita versatilidade. Entregou uma atuação ótima.
Os dois garotos Soya Kurokawa (Minato) e Hinata Hiiragi (Eri) sou só elogios, são a alma do filme, tiveram uma química muito boa, talvez não no começo da amizade, mas depois ficou muito visível a facilidade dos dois em cena. Soya fez um ótimo trabalho de atuação, mas gostei muito mais de Hinata, o pequenino Eri é um colírio para quem assiste e um poço de inocência... é gostoso demais vê-lo atuando e foi meu favorito no longa.
Se o final de 'A Menina Silenciosa' é emocionante e comovente, e fica em aberto... aqui em 'Monster', o final é mais emocionante ainda, mais comovente, e não fica nada em aberto... claramente sabemos o que se sucedeu, e não é nada diferente do que podemos ver ou especular aqui no mundo real... pois a inspiração de Kore-eda e Sakamoto vem, obviamente das coisas que nos cercam, como sociedade (falha) e como pessoas.
Ryüichi Sakamoto foi o autor da ótima trilha sonora, densa, contemplativa, calma, incisiva, ditou o ritmo de algumas cenas e atos do longa, e nos deixou imersos cada vez mais no que assistíamos na tela, foi um trabalho bem singelo e primoroso de Ryüichi, que faleceu no meio do ano passado (2023).
'Monster' foi indicado ao prêmio de cinema independente britânico a Melhor Filme Internacional;
No Japan Academy Prize, foi indicado a Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Trilha, Fotografia, Direção de Arte, Mixagem de Som, Edição, Iluminação e Atriz Principal para Sakura Andô;
No Asian Film Awards para Melhor Diretor, Melhor Roteiro e Melhor Design de Produção;
Em Cannes participou do Grand Prix, do Prêmio do Júri, da Palma de Ouro, Concorreu a Melhor Direção. Levou o Prêmio de melhor Roteiro para Yuki Sakamoto.
Como sempre digo, o cinema asiático em se tratando de drama, sempre entrega as mais belas pérolas, e 'Monster' é mais uma dela dentre tantas.
Cabe a mim agora, pagar os demais filmes de Hirokazu Kore-eda, como 'Assuntos de Família' e 'Broker - Uma nova Chance' o quanto antes.
(Assistido em 06/02/2024 - Espaço Itaú de Cinema Augusta)
O Menino e a Garça
4.0 217Gênio... quem você pensa quando fala-se essa palavra...? Scorsese, George Lucas, Spielberg, Tarantino, Nolan, Hitchcock, Kubrick, Chaplin...enfim...
Eu cito um então... HAYAO MIYAZAKI... 'Meu Amigo Tototo', 'O Castelo Animado', 'A Viagem de Chihiro', apenas 3 das obras de Miyazaki que são obras primas da história do cinema asiático, do cinema animado, e claro, do cinema mundial.
Eu sempre tive um pouco de preconceito com filmes animados norte americanos de estúdios como Pixar, Disney, Dreamworks, achava as histórias muito sem criatividade, não me chamavam, muito mais do mesmo... mas esse preconceito acabou já tem aí uns 5, 6 anos, e tem muita obra que estou devendo ainda por conta disto.
Isso não se aplicou ás animações asiáticas, mas eu fui conferir muitas produções de sucesso muitos anos depois de seus lançamentos, e os filmes do Studio Ghilbi estão inclusos, tendo visto 10, 15 anos depois de cada obra ter sido lançada, e por exemplo, ainda carrego o pecado de não ter visto 'A Viagem de Chihiro', que logo logo este pecado será pago.
Mas em se tratando de 'O Menino e a Garça' (How Do You Live, nome da obra original), eu sou somente elogios a mais essa obra-prima de Miyazaki. Aqui ele eleva ainda mais o carisma de seus personagens, e enriquece a fantasia que ele cria e é apresentada em mais um degrau.
Mesmo sendo baseado livremente no livro de nome citado acima, Miyazaki consegue criar este mundo de uma forma coesa, que beira o simplismo, e se mostra completo, á medida que o longa avança e se aprofunda cada vez mais nesse mundo fantasioso que se hospeda dentro da Torre que se fica perto da casa da esposa de seu pai.
Miyazaki tornou seu filme autobiográfico, uma carta aberta ao seu neto, uma espécie de livro mágico... quando ele deixar esta terra, este vai ser o presente/legado que Miyazaki deixará a seu neto, que com certeza se inspirará das mais diversas formas no decorrer de sua vida adulta.
Do momento que o filme começa, até o seu encerramento, é impossível não se apegar à história e se sentir imerso naquele universo, sendo que Mahito Maki, inspirado no próprio Miyazaki quando infante, é os nossos olhos naquele momento do Japão que passava por uma guerra, e teve que se mudar para o interior depois de perder a mãe.
Apesar de ser um pouco arrogante no começo, até pelo fato de ainda estar de luto pela perda da mãe, Mahito começa a desabrochar e evoluir à medida que adentra o mundo incrível que ele conhece, e nos remetemos muito a ele, nos enxergamos na personalidade do garoto, o que nos faz ficarmos fisgados na tela durante sua jornada.
Os personagens coadjuvantes também são um show de carisma e que nos ganham em poucos segundos em tela, tendo as vovós da residência da madrasta de Mahito, que são o puro suco do carisma desde que aparecem até o final do filme, assim momo sua própria madrasta, Natsuko, que no pouco que aparece, é de uma delicadeza sem igual.
A Garça cinzenta, além de ser um dos alívios cômicos do filme, também é puro carisma, é aquele contra-ponto com o protagonista, pois ambos não se bicam, mas possuem muitas coisas em comum, e no final das contas acabam se acertando naturalmente, pois possuem um elo que não sabiam que existiam entre eles... amizade, lealdade e determinação.
Os periquitos também são muito carismáticos, engraçados, e temos os pelicanos que são a alma do do mundo dentro da torre... presos em um mundo que não conhecem, destinados a voar o mais alto que podem, nunca encontrando uma saída, tendo que obrigatoriamente se alimentar dos pequeninos seres que rumam para o mundo real para nascerem, pois morrem de fome, e são atacados pela 'garota do fogo', queimados, largados pelos cantos, com aquela incrível cena de Mahito e o pelicano queimado, um texto rico... gostei demais dos pelicanos nesse longa.
Agora o trabalho técnico de Miyazaki e o restante dos animadores nesse longa é estupendo, de encher os olhos a cada frame que passa, a cada cena que aparece. Fora todo o trabalho artístico para se criar o mundo dentro da Torre, uma das coisas que mais me impressionou foi a direção de arte do filme... enquanto os personagens e os demais objetos do longa que eram manuseáveis, estavam em estilo animado mesmo, em pleno movimento, a cenografia ao fundo era em outro estilo animado, mais inanimado, mais detalhado, haviam imensos detalhes nos cômodos da casa de Natsuko, imensos, detalhadamente desenhados e inseridos, um trabalho riquíssimo. Assim como também tínhamos diversos detalhes em cômodos no mundo dentro da Torre, de livros, estantes, jarras, frutas, tapetes, quadros, rachaduras, enfim, são tantos detalhes cuidadosamente bem animados e bem representados em cena, animado de uma forma que se distingue do resto da animação que está em primeiro plano... a cada vez que eu observava o fundo, a cenografia, esses detalhes eu ficava embasbacado, e não à toa este filme levou anos para ser produzido e acabado, ou seja, a riqueza em detalhes foi algo muito elaborado pela equipe e teve muito dedicação em deixar o mais completo possível.
O longa é muito bem editado, as cenas se encaixam perfeitamente, não há a possibilidade de você ficar perdido durante o filme, e a dublagem também está estupenda. Respeito muito o trabalho de dublagem feita aqui no Brasil, apesar de não ser um consumidor nato, portanto, os mais afccionados ao cinema, recomendo a assistirem na dublagem original, em japonês, é um show a parte e traz emoção aos personagens e complementam bem a personalidade deles.
Possui uma trilha sonora composta por Joe Hisaishi, parceiro de longa data de Miyazaki de seus filmes anteriores, que traz uma música introspectiva que envolve bem as cenas, principalmente as dramáticas e as que nos revelam novos lugares do mundo dentro da Torre que Mahito vai conhecendo. Não consegui ouvir muito a canção-tema ao subir os créditos, pois o áudio ficou baixo e as pessoas no cinema começaram a conversar muito alto.
E por falar nas pessoas no cinema, a sala estava completamente lotada, mais de cem pessoas fácil, e todos aplaudiram no encerramento do longa, uma ótima atmosfera que é uma sala de cinema apaixonada. Muito bom.
Sem muito mais o que acrescentar sobre essa obra-prima, é exatamente isto que ela é, talvez um dos melhores trabalhos de Miyazaki em sua carreira, com uma animação perfeita de encher os olhos, riquíssima em detalhes, que flui de uma forma muito consistente e vívida. Um roteiro certeiro, perfeito, onde tudo se encaixa e todos os personagens possuem sua parte dramática, sendo cômicos em momentos chave de uma forma muito natural, nada forçado. Uma história muito bem escrita que se entrelaça no final, uma jornada formidável e emocionante sobre passado, presente e futuro que nos faz aprender mais sobre a vida, as relações humanas e sim, sobre nós mesmos.
Nesta temporada de premiações, 'O Menino e a Garça' está indicado na categoria de Filme em Animação no Oscar, no BAFTA, no Satellite Awards e no Producers Guild Awards.
No Annie Awards, o Oscar da Animação, está indicado a Melhor Filme Animado, Melhor Música, Melhor Roteiro, Melhor Direção, Melhor Animação de Personagem, Melhor Storyboard e Melhor Produção de Animação.
No Critics Choice Awards perdeu o prêmio para 'Homem-Aranha Através do Aranhaverso';
Porém, levou o prêmio de Filme em Animação no Globo de Ouro, o que foi uma surpresa para muitas pessoas, mas Miyazaki não esteve presente na cerimônia para aceitar o prêmio.
Simplesmente uma Obra-Prima de Miyazaki, e a minha torcida inicial mesmo sem ter visto ainda os demais indicados na categoria (tirando Homem-Aranha) para levar os demais prêmios desta temporada.
(Assistido 04/02/2024 - Cine Sato)
Rustin
3.3 81 Assista AgoraO único filme de George C. Wolfe que assisti até hoje foi 'A Voz Suprema do Blues', que é curto, mas é um filmaço, também exclusivo Netflix. Eu mais ou menos sabia o que esperar de 'Rustin', sendo que o que mais me chamou a atenção em 'A Voz Suprema...' (além da atuação grandiosa de Chadwick Boseman) foi a forma como Wolfe soube conduzir as cenas dos personagens do longa, a forma como ele deu o enfoque, como o que cada um tinha a dizer, ou a forma como verbalizava, era bem unificado pelo diretor, para ficar nítido em tela, para ficar coeso, era um jogo de câmera em uma conversa, um diálogo ou uma discussão onde você, como espectador, não ficava perdido, sabia exatamente o que estava acontecendo e tinha total ciência das reações de cada personagem na cena.
Aqui em 'Rustin' Wolfe repete isso, deixando os personagens em evidência e respeitando o diálogo, o texto, o discurso entonado, há um enfoque grande em como o personagem se porta, como ele declama o texto, como se porta perante a cena, e em como os demais personagens em cena recebem o que lhes é verbalizado. É o controle cenográfico, tudo é evidenciado em um único jogo de câmera, onde temos a percepção do que cada personagem fala, recebe, como responde aquilo, seja como texto, seja com expressão facial, ou corporal, é um controle absoluto do que fala e do que se mostra.
Em um filme como 'Rustin' que é biográfico, onde se conta sobre um acontecimento real da história, os atos e falas dos personagens têm que ter uma atenção redobrada, pois aquilo tem que ser verossímil para quem assiste, não no sentido de nos fazer acreditar que aquilo aconteceu, porque sabemos que é um fato real dentro de uma obra fictícia... mas o diretor e roteirista precisa nos deixar imerso neste conto, para termos uma noção do que se passou naquela época, com aquelas pessoas, e nos entregar uma obra ficcional que remeta com sinceridade, autenticidade e artisticamente, os fatos que aconteceram naqueles tempos.
Wolfe faz isso muito bem, deixou o filme muito redondo, com detalhes minuciosos, e um jogo de texto bem eloquente e inteligente, destacando cada traço de personalidade, tanto do protagonista, vivido pelo Colman Domingo, quanto de seus coadjuvantes, como Martin Luther King Jr., ou Ella Baker, ou Philip Randolph.
Pra mim o acerto do filme está no texto, ali que deixa a experiência interessante, o embate verbal entre Rustin e Luther King Jr., ou de Rustin e de Roy Wilkins que foi um dos mais interessantes para mim, com contrapontos dos dois lados, sem entrar no certo e no errado, isso que fez o ritmo do filme andar. Talvez algum outro profissional acabasse dando mais ênfase em como Bayard Rustin organizou todo aquele protesto pacífico, como ele negociou cada ida de pessoas famosas, ou do povo comum mesmo, e os banheiros químicos, e as cabanas e em como ele conseguiu os fundos e como ele fez para convencer a doarem esses fundos, e iria ser aquele discurso de superação, e por aí vai...e tudo bem, seria uma forma de jogar na segurança e fazer do filme um discurso positivo de perseverança... mas nunca iria realmente mostrar ao mundo quem foi Bayard Rustin.
Wolfe foi além, e focou no embate moral, no discurso aberto e acalorado, no embate de ideias e posições, talvez tenha saído um pouco do foco de ele ser homossexual, houve ali um aprofundamento, mas em alguns momentos achei mais raso, o discurso não foi tão aberto, só o seus dois casos mostrados. Mas o foco de Wolfe foi em como Bayard era apaixonado pela causa, e em como ele queria que as pessoas que estavam a sua volta entendessem a sua visão, o que se passava no momento, não era só uma luta pela causa, por direitos, mas era entender a batalha civil e política que cometia os pretos na época... que não adiantava criar comitês e organizar protestos focados em políticos... ele queria que enxergassem como ele, o discurso tinha que ser feito a céu aberto para o país inteiro ouvir, para que as ideias ficassem claras, como cidadãos, e não só como pessoas de cor... o discurso era mais amplo e menos centralizado. Méritos, claro, do roteiro de Dustin Lance Black, que trabalhou em 'Milk' e 'J. Edgar'... roteiro costuradinho, corretíssimo.
O longa que é uma produção original Netflix, e não sei se por conta disso, tem ares de filme para TV, em alguns momentos a semelhança é nítida, em outros tem cara de filme para cinema mesmo, mas até a edição do longa e a trilha sonora de cenas pontuais, deixam o filme com cara de filme para TV. Uma espécie de telefilme, que como todo mundo sabe, pelo menos aqueles mais acostumados a consumir filmes em suas mais diferentes formas, que filmes biográficos acabam tendo um desempenho melhor quando são feitos para TV. O formato televisivo ajuda muito a se contar uma história biográfica, deixando tudo mais próximo e mais nítido para o público.
Eu mesmo nunca havia ouvido falar de Bayard Rustin na vida, e sempre tive acesso a muitas coisas sobre Martin Luther Jr., e as coisas que ele conquistou à época e algumas de suas poucas passagens, pois muita coisa eu ainda não tenho conhecimento, mas nunca havia ouvido falar sobre Rustin, nem uma menção, nada... como pode ter ficado no ostracismo em todos esses anos, uma das pessoas mais importantes na carreira racial de Martin Luther Jr. ... um absurdo, não?
A trilha sonora do longa é de Lenny Kravitz, de quem sou fã, óbvio, desde os tempos de MTV nos anos 90, e já o vi ao vivo no Pacaembu em 2005, gosto muito do trabalho dele... e aqui fiquei surpreso com a versatilidade com que ele compôs essa trilha. Regada a muita música de época, ele abdicou um pouco de orquestra, e foi pro lado do Blues da música Preta regada a Jazz, os ritmos de boate, o som que ajudou a fomentar e ser os alicerces da música preta norte-americana.
Muito baixo, muito trompete, metais a gosto, piano, tudo que construía a música preta naquela época, e composto e apresentado de forma ritimica, como se estivéssemos em um bar, ou em um show só com 'pessoas de cor'... sempre bem inserido nas cenas de transição, nos atos do longa, ou em cenas casuais que traziam algum momento de tensão ou reflexão. Acho que Lenny mais uma vez se superou artisticamente e entregou um trabalho muito competente aqui, um deleite ouvir quando entra em cena.
Colman Domingo interpreta brilhantemente Bayard Rustin, e Colman já é um ator que sou fã há muitos anos, desde que o vi pela primeira vez no terceiro episódio de 'Fear The Walking Dead' fazendo o icônico personagem Victor Strand. Nem vou me alongar muito sobre ele, só dizer mesmo que Colman é o que espelho se um dia eu quisesse ser ator, seria em quem eu me inspiraria, ele é 'O' cara, e posso citar inúemros trabalhos onde ele sempre entrega tudo e além, como no ótimo 'Zola', no já citado ' A Voz Suprema do Blues' (por isso a escolha de Wolfe para ser seu protagonista), 'Se A Rua Beale Falasse' ou no vindouro 'A Cor Púrpura'. Indicação ao Oscar, BAFTA e afins mais que merecida, finalmente.
Chris Rock faz Roy Wilkins e no começo não estava curtido muito a forma como Rock estava interpretando no longa, mas acho que com o decorrer do filme, ele foi se achando no personagem e acabou entregando uma atuação muito satisfatória.
Ainda temos Jeffrey Wright (indicado ao Oscar esse ano por American Fiction) como Adam Clayton Powell, e é engraçado como tudo que Jeffrey põe a mão fica perfeito. Seu ponto alto no filme é quando todos estão juntos na mesma mesa e Powell ameaça expor a conduta sexual pública de Rustin no passado que o levou a ser preso, mas não sabe onde deixou o papel. Toda aquela cena, com um longo discurso dele contra Rustin é incrível e só mostra o tamanho desse ator, que é pouco reconhecido dentro e fora de Hollywood.
Audra Macdonald (de 'The Good Fight' e 'I Am Sam') faz Ella Baker e também têm muito destaque no longa e entrega uma ótima atuação, que faz jus à atriz que ela é.
Bill Irwin (de quem sou fã, da série 'Legion') faz uma pequena ponta como o (ex)chefe de Rustin, e tem o seu momento quando o texto lhe entrega algo para brilhar... ele é um atorzaço, assistam 'Legion', uma série inteligentíssima.
Aml Ameen (de I May Destroy You) faz só Martin Luther King, e o achei perfeito no papel, eu remetia muito ele à figura real de Luther King, não são idênticos, claro, mas sua atuação estava tão segura, tão um degrau acima, que eu enxergava com perfeição Martin Luther King ali. Talvez faltou uma força maior ali e acolá, durante algumas cenas, mas ele esteve ótimo e fico curioso como um ator britânico como ele conseguiu pegar aquele sotaque norte americano carregado que Luther King teve no filme. Tem atores que sabemos que são britânicos, e mesmo perdendo o sotaque nos longas americanos, conseguimos perceber uma entonação aqui e acolá do sotaque, mas com Aml não percebi absolutamente nada.
Da'Vine Joy Randolph (indicada e favoritaça ao Oscar por 'Os Rejeitados) fez uma pequena ponta como a cantora ícone Gospel, Mahalia Jackson, e na sua única cena solta a voz de forma impecável... atriz versátil.
Gostei muito também da cinematografia do longa, que teve seu destaque em muitas cenas noturnas e principalmente nas cenas internas, seja na casa de Rustin, no escritório de seu novo emprego, ou na sala onde ele e os demais apoiadores da causa se instalaram para organizar o protesto. Mencionado também a cena final do discurso de Luther King e também quando Rustin começou a catar o lixo espalhado ao final do ato.
Fotografia essa de Tobias A. Schliessler, que trabalhou com Wolfe em 'A Voz Suprema do Blues' e fez outros longas como 'A Bela e a Fera' e 'A Grande Mentira'.
Colman Domingo foi indicado a Melhor Ator no Oscar, BAFTA, Satelitte Awards, SAG's Awards, Astra Awards, perdendo o Critics Choice Awards para Paul Giamatti (Os Rejeitados) e o Globo de Ouro para Cillian Murphy (Oppenheimer).
Já a canção 'Road To Freedom' de Lenny Kravitz foi indicado ao Globo de Ouro e ao Critics Choice Awards na categoria Melhor Canção Original, perdendo para 'What Was I Made For?' e 'I'm Just Ken' de Barbie, respectivamente. No Oscar a canção foi esnobada, perdendo lugar para uma das canções de 'Killers Of The Flower Moon'.
Gostei muito de 'Rustin', foi saber essa personalidade na vida de Luther King, e na história do povo Preto norte-americano, que ajudou, e MUITO, a dar voz numa época em que a voz não conseguia ser ouvida, ou simplesmente não queria ser ouvida. Talvez o filme, fora dos EUA, não chegue em tantas pessoas assim, para ele ser conhecido da forma que merece... mas o filme fez muito bem o seu trabalho de representá-lo e representar as demais personalidades que aparecem no longa e que também contribuíram para essa passagem histórica que reverbera até os dias de hoje.
Apesar de ser muito, mas muito fã de Colman Domingo, ele não deve levar nenhum prêmio este ano, mas só de ser indicado ao Oscar, já é o primeiro passo, de quem sabe, um dia, receber tal honra.
(Assistido em 02/02/2024 - Netflix)
A Menina Silenciosa
4.0 130 Assista AgoraDurante a temporada de premiações do ano passado, 'A Menina Silenciosa' era um dos filmes que estavam ganhando o boca a boca e recebeu algumas indicações em premiações grandes para Filme Internacional. Eu estava muito curioso para assistir à época, mas não achava em lugar nenhum para conferir, e fiquei muito surpreso quando o longa recebeu a indicação a Filme Internacional no Oscar do ano passado.
Foi um dos poucos da temporada passada que acabei não conferindo, e 1 ano depois desta temporada, o longa finalmente (Brasil,sempre atrasado, incrível) estreou nas salas de cinema brasileiro e pude finalmente conferir este filme de estreia de Colm Bairéad.
Representante da Irlanda no Oscar passado, 'A Menina Silenciosa' traz a personagem Cáit, que mora com os pais e suas irmãs no interior em uma fazenda. Os pais de Cáit têm muitos filhos, ela e mais 3 irmãs já crescidas, e sua mãe ainda está esperando outro bebê.
A vida pra eles não é fácil e com tantas bocas para alimentar e pouco dinheiro e comida entrando, eles decidem levar Cáit para passar o verão na casa da prima da mãe de Cáit, interpretada pela Kate Nic Chonaonaigh.
Lá Cáit, que é calada, quieta, assustada, mal tratada, aprende uma nova forma de amor com seus novos tutores, e descobre o real significado de ter pais.
O filme é pura lindeza, tocante, muita sutileza, muitos detalhes, muito envolvente, com os personagens se desenvolvendo conforme os acontecimentos seguem, e é impossível você não sentir carisma por cada um deles.
Bairéad que estreia na direção, soube tirar o melhor de seu elenco para que eles entregassem performances que nos deixam presos à tela, fazendo com que fiquemos imersos naquele pequeno universo de acontecimentos, torcendo para cada um deles em momentos distintos.
Ora você irá torcer por Eibhlín, ora você irá torcer por Séan, os novos pais de Cáit, a quem você irá torcer o filme inteiro... existem personagens que você irá se pegar xingando, ou seja, são personagens bem escritos que cativam o público mesmo sendo hediondos.... sendo um dos pequenos segredos de uma obra, para fazer o público esquecer a existência, para se jogar em uma pequena história numa sala de cinema.
Bairéad também soube entregar lindos takes, sendo que muitos deles, que soam aleatórios, na verdade podem ser interpretados como olhares inocentes de Cáit para as coisas e forma como ela enxerga a sua atual realidade.
Temos takes no brinco da amante de seu pai, nas roupas balançando no varal com o vento, no céu cheio de nuvens, em árvores e galhos, na saia de sua nova 'mãe', no portão da cerca, no poço de água, nas duas luzes, que 'agora são três luzes' como citado por Séan numa das cenas.
É de uma sutileza incrível, uma lindeza sem igual, pura arte moderna contemporânea de Bairéad que complementam todas as passagens de seu longa. Assim como o texto, que é direto, firme, consistente, sem contextualizar nada, sem dar embasamento aos acontecimentos citados pelos personagens, e se aprofundando no que a história se limita a mostrar, no que é relevante para o público compreender sobre os sentimentos de cada um dos personagens... sem se preocupar em explicar detalhadamente o porque de tudo.
Com total certeza a cereja do bolo, a alma do filme, nossa pequena religião em suas 1h36 de filme, é Catherine Clinch, que também faz sua estreia em longa metragens... essa garota é um furacão, uma força da natureza, que atuação linda, estupenda, inocente, inteligente. Catherine de duas uma, ou entendeu o que o diretor lhe pediu e quis lhe passar da personagem... ou leu o livro e compreendeu a forma que devia performar com Cáit... desde o momento que a vemos em cena, até o seu final, passando por todo o progresso dela no longa, ela nos ganha, e como eu mencionei, ela vira nossa pequena religião, porque não pensamos em outras coisas a não ser o bem estar da menina, a torcida por ela é inevitável e genuína, passamos o filme todo angustiado por ela, apaixonado por ela, e o sentimento quando o longa termina, é que queremos ir à fazenda e adotá-la já, pra ontem, o desejo de tê-la como filha vai crescendo em você a medida que os minutos após o filme passam.
Sem entregar muitos Spoilers, mas na cena do poço de água, onde ela vai sozinha buscar água para Eibhlín, sozinha, só a sua caminhada até lá, me deu um nó no peito, uma angústia, um medo, porque estava na cara o que iria acontecer, e mesmo sendo uma obra de ficção, tudo aquilo é real pra você, de tão verossímil que ficou direção e interpretação... eu me remoí na poltrona do cinema com o que poderia vir a acontecer.
Essa menina é um estouro e entregou uma atuação tão brilhante, mas tão brilhante, que beira a perfeição.
Carrie Crowley (de Vikings), que fez Eibhlín, a prima da mãe de Cáit foi outra que entregou uma performance incrível, arrebatadora... muitos dirão que não parece nada demais, mas a forma como deu força a personagem, em como ela colocou para fora muitas das emoções reprimidas de Eibhlín na tela, só uma grande atriz como ela poderia ser tão sensível para entregar uma atuação gigante como ela entregou. O que nos faz nos afeiçoar-nos a Eibhlín logo de cara.
Andrew Bennett, que além de ator, trabalhou como diretor de arte nos filmes 'Sombras da Noite', 'Dumbo' e nos dois últimos '007', fez o marido de Eibhlín, Séan, e conforme o filme avança, vamos nos afeiçoando cada vez mais a Séan. No começo ele tem pouco a entregar, achamos que é mais uma figura masculina que pouco oferece a Cáit, como seu pai, mas no desenrolar dos fatos, Séan vai desabrochando, se abrindo, e nos mostrando seu lado paterno há muito adormecido... e obviamente nos conquistando, principalmente na cena noturna no mar com as 'três luzes'.
Michael Patric (de The 100) fez o pai de Cáit, a típica figura paterna que não liga para os filhos, os vê mais como posses, um fardo a se carregar, pouco afetivo ou nada afetivo, seu único dom é engravidar sua esposa sem parar. Apesar desse caráter dúbio e de uma personalidade nublada, só pegamos desprezo pelo pai de cáit, graças a uma atuação certeira de Patric.
O filme termina da forma mais magistral e perfeita que já vi em um filme, pois não interessa o que irá acontecer depois, se deu certo, ou se voltará para as mãos dele... Cáit entende o que é o verdadeiro significado de amor materno, amor paterno, amor fraternal, dentro de sua inocência, e nós temos ali uma 'burficação'... ou ficará tudo como é, ou se fará a curva e iremos para um novo caminho, uma nova vida...e o filme termina deixando em aberto, e a verdade mesmo é que pouco importa o que irá acontecer em seguida.
Para as pessoas que querem apenas se entreter, que enxergam as coisas apenas como certo e errado, para as mais sentimentais que com toda a certeza, irão chorar ao final do filme e na subida dos créditos, elas vão imaginar que tudo deu certo no final, que foi um final feliz... outros podem até ir pro lado mais razoável, o bom senso, e argumentar que o final foi o oposto, que prevaleceu a ordem natural das coisas, que foi a permanência de quem possui.
Mas para mim, e talvez para outros cinéfilos, pouco nos importamos com o que vem depois, é a construção da história que importa, a forma como foi levado as telas por Colm Bairéad, a história que foi contada, o que o longa nos causou, como nos atingiu, a poesia que o diretor impôs no texto, nas cenas, o quão o filme mexeu conosco, e a sua certeira opção por fechar o filme de uma forma poética... o que importa foi a jornada, e não se foi final feliz, ou não. A experiência de poder acompanhar isso vale mais do que um final escolhido.
A trilha sonora é perfeita,composta por Stephen Rennicks, complementa bem os acontecimentos do longa, e anda de mãos dadas com Cáit em todas as cenas, foi cuidadosamente bem composta, e denota a personalidade da fazenda de uma forma esplêndida. A cena final, onde a trilha ganha força, e o filme termina com os créditos subindo sem nenhuma música de fundo é soberba e perfeita...pura poesia.
Foi indicado a Melhor Filme Internacional no Oscar e no Satelitte Awards;
Também foi indicado no BAFTA a Filme Estrangeiro e Roteiro Adaptado, uma vez que ele se baseia no livro 'Foster' de Claire Keegan, e adaptado por Colm Bairéad.
Foi derrotado por 'Nada de Novo no Front' que é um filme arrebatador, mas com certeza ganhou o coração de inúmeros espectadores mundo afora, incluindo o meu.
Uma obra lindíssima da Irlanda, um filme de estreia perfeito de Colm Bairéad e Catherine Caith, um elenco muito competente, e cenas belíssimas... ' A Menina Silenciosa ' é o tipo de filme para se guardar em casa em DVD/BluRay debaixo do travesseiro e assistir pelo menos 1 vez no mês.
(assistido 31/01/2024 - Cine Segall)
Napoleão
3.1 323 Assista AgoraVamos citar algumas obras (primas ou não) de Ridley Scott... 'Alien 1', 'Blade Runner', 'Thelma & Louise' (meu favorito dele), 'Gladiador', 'Falcão Negro em Perigo', 'Hannibal', 'American Gangster', 'Casa Gucci'... só para citar os mais emblemáticos.
Dada essas obras, sempre podemos esperar algo grandioso de Ridley Scott, ou rico em termos de construção de personagem, isso pode vir tudo junto como em Gladiador e Alien por exemplo, ou separado como 'Thelma & Louise' como construção de personagem, ou 'Falcão Negro em Perigo' como filme grandioso.
Citei estes filmes pois 'Napoleão', grande epopeia que reuni novamente Ridley Scott e Joaquin Phoenix, que trabalharam em 'Gladiador', entra mais na categoria de filme grandioso, e não se enquadra muito em construção de personagem.
Ao assistir 'Napoleão' eu percebi que o filme peca muito na sua dupla de protagonistas, Napoleão Bonaparte e a Imperatriz Josephine, interpretada por Vanessa Kirky (de Pieces of A Woman e The Crown).
Faltou muito ao roteiro de David Scarpa uma atenção maior ao desenvolvimento de seus dois protagonistas, pois ao conferir o longa, eu percebi que pouco de Napoleão é aprofundado ou desenvolvido. Nós temos um ponto de partida com ele que é a cena inicial com a execução em praça pública da rainha Maria Antonieta, na França, e apenas nos é informado que ele almeja uma promoção para General, aspirando mais, buscando mais poder. E a medida que o filme avança, ele pouco é desenvolvido, pouco vemos de suas reais motivações, aquele ímpeto que o motivo a sempre buscar grandeza, e como isso molda sua persona... faltou esses detalhes, apenas vemos ele galgando e galgando, e logo ele se torna o Primeiro Cônsul francês, e vemos que a sua personalidade agora é mais robusta, mais cheia, mais pomposa... mas é algo tão superficialmente apresentado que não consegui me prender à pessoa Napoleão, de compreender, de me envolver, de quem sabe acompanhar sua trajetória com afinco, não digo torcida, mas com um pouco mais de entusiasmo, de curiosidade... não tinha nada ali que me prendesse ao personagem, a sua jornada. Ele possui um pouco de carisma, muito por conta de Phoenix, mas não foi o suficiente para eu me ligar no personagem.
E o mesmo eu digo da Imperatriz Josephine Bonaparte, que uma vez nos trailers, se mostrava uma personagem forte, que iria ter muita presença e seria aquele choque de egos com seu marido, de uma forma semelhante que foi a personagem de Marion Cotillard, Lady MacBeth, no filme Homônimo de 2015, que era uma força dominatória na casamento com MacBeth e esse atrito entre os dois deixou o filme muito interessante.
Pois fomos enganados no trailer, que foi muito bem montado, sendo que aquela cena onde ela diz a Napoleão que sem ela, ele não é nada, possui uma força muito grande, e mostra a força que a personagem deveria ter no longa, mas é o único momento no filme inteiro, que ela brilha mesmo, que mostra a influência que ela possui na vida de Napoleão... o resto do filme é como se ele perdesse a utilidade, seus casos de traição não são bem explorados, suas brigas com Napoleão não foi tão bem explorada, apenas uma cena que ficou ótima, ela fica muito apagada o resto do longa, mais chorando pelos cantos do que qualquer outra coisa... fica aquele foco grande em ela não conseguir dar um filho a ele, mas isso não é a única coisa que define o casamento deles, e nem a relação dela com ele... mas faltou mesmo se aprofundar na personagem, desenvolver melhor ela, dar mais cenas, criar mais atrito entre os dois... sempre ficou ali na promessa para ambos os personagens crescerem e nunca saíram da promessa. Uma pena.
Tecnicamente o filme é soberbo, possui uma direção artística fabulosa e uma cenografia incrível recriando um século 17 que nos faz viajar no tempo e vivenciar aquela época, seja na França onde a maioria do filme se passa, nos campos de batalha na Rússia, ou na Áustria... castelos muito bem construídos e detalhados internamente, móveis e demais objetos que remetem muito bem à época. Fora as carruagens, canhões de batalha, armas de fogo e objetos menores como caneta, tintas, folhas, almofadas e coroas.
Já o figurino é de um profissionalismo impecável, Napoleão é o que mais se sobressai, suas vestimentas são ótimas, bem costuradas, remete perfeitamente o que conhecemos do personagem de livros ou desenhos e séries/esquetes de programas diversos. É muito idêntico e digno de aplausos para os responsáveis pelo trabalho. Suas vestimentas quando é coroado rei também são de impressionar, e os vestidos usado pela Imperatriz, uns possuem muito destaque, mas o que ela usa depois que é exilada acaba sendo mais comum, ao meu ver. Os demais figurinos do longa dos mais variados personagens que aparecem, também são perfeitamente costurados e construídos, e o principal, remetem muito a personalidade de cada um, coisa rara de se acertar em alguns dos figurinos de filmes.
Mas o destaque maior mesmo está na cinematografia, de Dariusz Wolski (da trilogia Piratas do Caribe e Sweeney Todd), é raro de se ver um fotografia tão perfeita em um filme, são tomadas de cena onde ele posiciona muito bem Napoleão ao resto da cena, sempre denotando aquela grandeza do personagem, seja aonde ele esteja, na presença de quem ele esteja... esses takes são perceptíveis quando ele peita o conselho junto a seu irmão, quando ele está reunido com seus consortes que lhe questionam o porque dele ter abandonado seu posto no Egito, e principalmente suas cenas de hostilidade para com a Imperatriz Josephine... entre tantas outras que falta citar.
As cenas de batalha então são um deleite, onde Napoleão sempre é o protagonista do take e sempre está posicionado de uma forma onde ele (e nós espectadores) tenha total visão do campo de batalha e do que está por vir.
Inúmeras cenas onde temos uma fotografia mais acizentada-azulada, uma mistura de cores soberba que deixa tal passagem lindíssima e riquíssima em qualidade. É um trabalho esplêndido, e dado o currículo de Dariusz nos filmes já citados, e tendo trabalhado com Ridley também em 'Casa Gucci', 'Prometheus' e 'Conselheiro do Crime', Ridley sabia exatamente o que queria e o que esperar de Dariusz, o que facilitou demais o trabalho dele para entregar um trabalho que é um colírio para os olhos de quem assiste.
Ridley dirigiu muito bem, como sempre, achei este trabalho mais consistente que ' Casa Gucci', e as cenas de batalha são épicas, são as melhores de um filme de batalha de Ridley Scott, são detalhadamente coreografadas, muito bem construídas, bem colocadas em tela, não confundindo o espectador que sabe exatamente o que está acontecendo e onde estão posicionados cada lado da batalha. Sem falar das cenas onde ele lidera Joaquin e Vanessa Kirby, que possuem uma boa química em tela, entregam ótimas cenas com um bom texto, mas faltou mesmo se aprofundar nos mesmos.
Acho que Joaquin Phoenix está incrível como Napoleão Bonaparte, sua atuação é perfeita, concisa, de personalidade, suas nuances conforme Napoelão vai passando pelos tempos são ótimas, em nenhum momento Joaquin entrega menos do que se espera, segura muito bem o personagem, sempre com o sarrafo lá no alto... apenas acho que realmente não era algo para se lembrar no Oscar. Ele faz um trabalho muito competente e de grande qualidade, como sempre fez, mas digno do que o personagem pede, e de se aplaudir sem nenhuma dúvida, mas não é algo acima da média como 'Coringa' por exemplo.
Já Vanessa Kirby prometia muito como a esposa de Napoleão, os trailers entregaram isso muito bem, e durante o 1º ato do filme ela está perfeita, o roteiro lhe favorece e ela consegue entregar até além do que deveria, pois possui um texto bom, e cenas onde ela pode mostrar mais do que se pede.
Mas como mencionei, depois da cena onde ela diz a Napoleão que ele não é nada sem ela, o roteiro a deixa de lado, lhe tira o brilho e ela vira apenas um ponto de desgosto na vida de Napoleão, nunca a desenvolvendo e sim posicionando-a como uma das algumas decepções que Napoleão possui em sua vida, uma das coisas que ele não conseguiu conquistar ou controlar, como a conquista de um herdeiro, ou as escapadas sexuais de sua esposa. O que é uma pena, pois Vanessa é uma atriz com A maiúsculo... nunca vi uma atriz entregar cenas de sexo com tanta maestria e competência como ela entrega aqui, e em alguns takes no seu outro filme 'Pieces of A Woman', onde ela recebeu uma indicação ao Oscar na época.
Por fim, a trilha sonora é decente, grandiosa quando precisa ser, e ali ela é muito boa, comedida em algumas cenas, mas sem comprometer a experiência e sem tirar o peso das cenas. No geral a trilha é bem casada com a personalidade de napoleão, pomposa, estilosa, intimidadora. Ótimo trabalho.
O elenco ainda conta com Tahar Rahim (do ótimo 'O Mauritano'), Rupert Everett (de Os 'Mosqueteiros') e Ben Miles (de 'Tetris').
Em questão de indicações nesta temporada de premiações teve algumas boas indicações:
- No Critics Choice Awards para Melhor Figurino;
- No BAFTA para Melhor Filme Britânico, Melhor Figurino, Melhor Efeitos Visuais, Melhor Maquiagem;
- No Satelitte Awards para Melhor Fotografia, Melhor Efeitos Visuais, Melhor Figurino, Melhor Direção de Arte, Melhor Som;
- No Oscar para Melhor Direção de Arte, Melhor Figurino, Melhor Efeitos Visuais;
'Napoleão' é mais um grande filme de Ridley Scott, porém depois de 1h50/2h de duração, vai cansar quem tiver assistindo, porque terá pouco a acrescentar, pouco a desenvolver, e pouco coisa para encerrar... vai perder o interesse de quem estiver assistindo, porque tinha potencial para ser maior do que o trailer vendeu. Não deixa de ser um grande filme, mas ele tem seu méritos na parte técnica do longa, não em sua montagem e construção, seja de roteiro, seja de personagens.
(Assistido em 30/01/2024 - Kinoplex Vila Olímpia)
AIR: A História Por Trás do Logo
3.6 244 Assista AgoraNão me programei certinho para poder ver este filme nos cinemas quando estava em cartaz, fiquei muito curioso pra assistir na época... mas depois de assisti-lo recentemente, o que mais pegou em mim é que ele tem esse ar de filme feito para TV, é o tipo de história, de produção, que funcionaria 100% bem se fosse feito para Televisão.
Toda a sua narrativa, a forma como o filme foi editado por William Goldenberg (vencedor do BAFTA por 'Argo'), as muitas cenas de diálogo ao telefone, o corte final do filme, tudo remete e se encaixa a um filme feito para TV.
Dirigido e produzido por Ben Affleck, 'Air' é um bom filme, eu particularmente gostei muito, aquela abertura ao som de 'Money for Nothing' do Dire Straits, que foi a trilha sonora oficial da inauguração da MTV Europa... 'I Want May M-T-V...', e aquela bateira setorizada, e então entra aquele solinho de guitarra, com todas aquelas cenas clássicas dos anos 80, com Alex Foley (quem lembra?), Marty Mcfly, Michael Jackson, Os Caça-Fantasmas, Indiana Jones, Madonna, 'Quero Ser Grande', entre tantas outras cenas que passam ali rapidamente... foi uma tacada de mestre abrir o filme dessa maneira ejá ganhou muito minha atenção ali e todo o resto do filme foi muito natural e automático para se acompanhar.
Muitos consideram uma passagem trivial para se adaptar, como foram as negociações para Michael Jordan assinar com a Nike e lançar o 'Air Jordan' que é um dos maiores pares de tênis até hoje... mas o fato é que essa jogada de Sonny Vaccaro, Phil Knight, Rob Strasser e Phil Moore mudaram o jogo no ramo de negociações com jogadores de basquete nos EUA, e em outras modalidades também. Foi um golpe de mestre que traz ramificações no mundo corporativo esportivo até os dias de hoje. E vamos ser sinceros, todo mundo adora um filme de bastidores, seja sobre qualquer assunto.
O filme é sempre direto ao ponto, dá a impressão de que não deixa passar nenhum ponto solto, foca no que tem que focar, sem dar muitas voltas em tramas paralelas que não agregariam ao que o filme se propõe a contar e mostrar. Traz uma boa dose de drama, nada acima do normal para não fugir muito da proposta e do tom do longa, e pode deixar um ou outro espectador confuso com os muitos personagens corporativos que vão aparecendo no filme, mas acredito que não seja nada que tire o espectador fora do ritmo do longa, nada que o faça se perder nos detalhes do filme.
Eu não vou negar que é bem dirigido, que as cenas são muito bem construídas, algumas passagens são super interessantes, que Ben Affleck dirige muito bem seu elenco no longa, sabe tirar exatamente o que ele quer de cada um deles, e constrói muito bem a linha do tempo dos acontecimentos trazendo um ótimo profissional, premiado, como William Goldenberg para montar seu filme de um jeito muito satisfatório.
Mas eu não sei... tem algo nos filmes de Affleck que nunca faz eu os achar genuínos demais para considerá-los acima da média. Acho que o Affleck entrega sempre algo ok, um padrão satisfatório apenas, um feijão com arroz com purê de batata...não enxergo algo muito completo.
Dos seus filmes como diretor, assisti apenas 'Argo' e 'Gone Baby Gone'...o primeiro, Oscarizado como Melhor Filme, da forma como me lembro, realmente é um filme muito bom, muito completo, mas em termos de direção, é ok, como mencionei, padrão Ben Affleck...a não ser que eu mude de ideia quando assisti-lo novamente.
'Gone, Baby, Gone' eu já não curti muito, nem direção, nem elenco, é um filme que deixa muito a desejar e ali acho que Ben Affleck errou bem a mão.
Mas 'Air' é decente, eu curti o filme, como ele foi montado, construído...mas sua direção é ok, nada demais... inclusive existem algumas cenas que ficaram modestas demais, poderia ter um tempero a mais, uma sequência maior, um dedo a mais do diretor para deixar mais verossímil... não sei...é encrenca minha mesmo com a forma de Ben Affleck dirigir.
O elenco é muito bom, está todo mundo muito competente no longa... gosto demais da atuação de Jason Bateman (eterno Martin Byrde de Ozark), ele traz mesmo uma personalidade corporativística (existe essa palavra?) para seu personagem... era um dos mais interessantes de se ver em cena.
Assim como é sempre bom ver Chris Tucker em cena (apesar de não ser o maior fã 'A Hora do Rush'), aqui Tucker traz aquela atuação canastrona que já conhecemos dele, mas que fica muito carismática dentro do personagem,
Marlon Wayans também está bem divertido em sua curta aparição, bem desenvolto, deixou aquela cena no bar bem leve como se fosse um papo entre amigos mesmo, ele possui uma desenvoltura com o texto e personagem muito boas.
Chris Messina está hilário como David Falk e suas conversas com sonny, são ótimas aquelas cenas.
Julius Tennon muito carismático, maridão na vida real de Viola Davis, monstra sagrada, que... tá louco né... só ver essa mulher em cena, ela interpreta tudo com uma maestria inigualável...que força aquela mulher traz quando senta com Matt Damon, quando ele a visita na sua casa, para convencer Michael a ir em uma reunião com a Nike, o que aquela mulher faz em cena, o peso que ela traz pra cena, a presença, a força... e a cena do telefone então, no fim do filme, quando ela liga para Sonny, como ela atua com o telefone em mãos, como ela se porta, como ela traz aquela força e presença de tela para o texto que ela performa ao telefone... essa mulher até hoje possuir apenas 1 Oscar, 1 BAFTA, 1 Globo de Ouro, 1 Emmy, é um pecado gigante.
Já Matt Damon entrega uma interpretação ótima, ele sim traz o drama que é necessário para o personagem e para o filme... Ben Affleck está mais canastrão na pele de Phil Knight, até porque o personagem pede isso, então ele mais se diverte do que se esforça... mas Matt Damon novamente dá um show, ele é muito talentoso, um dos melhores atores que Hollywood já entregou e presenciou, é difícil você ver uma obra com ele onde ele entrega menos, onde ele são se esforça o suficiente. Matt é muito competente, e novamente entrega um papel onde é digno de reconhecimento em premiações.
Tanto que foi indicado ao Globo de Ouro de Ator em Comédia/Musical, perdendo para Paul Giamatti de 'Os Rejeitados'.
'Air' também foi indicado a Melhor Filme Comédia/Musical no Globo perdendo para 'Pobres Criaturas';
No Critics Choice Awards foi indicado a Melhor Elenco, Roteiro Original e Edição, perdendo todos.
A trilha sonora é recheada de sucessos da década de 80 com Bruce Sprigsteen, Michael Jackson, Cindy Lauper e sua releitura de 'Time After Time' (que pra mim não caiu bem na cena), Run DMC, entre outros...
Possui uma cinematografia boa em cenas isoladas, como a corrida na chuva, Sonny tentando correr na pista de atletismo ao fim do filme, as cenas abaixo do prédio onde constroem o protótipo do 'Air Jordan', e principalmente na casa dos Jordan onde temos a conversa entre Sonny e e a mãe de Jordan. A fotografia é de Robert Richardson que trabalho duas vezes com Tarantino em 'Django Livre' e 'Era Uma Vez em... Hollywood'.
É um bom filme, um bom passatempo, não é nada cansativo nem arrastado, nada confuso, é leve, divertido em bons momentos e bem interessante... em pouco tempo você vai esquecê-lo, sua premissa é mais documentar do que impressionar. Talvez seja por isso que o filme, para mim, é mais simples do que ele foi construído para ser.
Não sei se a Apple Studios demorou para promovê-lo ou não, ou se apenas perdeu força mesmo, mas na temporada de premiações sequer teve protagonismo, e não passou do Critics Choice com indicações bem modestas. É o típico filme que tinha muito potencial, mas foi produzido com outros olhares. Talvez não fosse um trabalho para parar nas mãos de Ben Affleck, um outro diretor talvez tivesse feito um trabalho mais audacioso, uma visão mais audaciosa (olha minha bronca com Affleck aparecendo de novo).
(29/01/2024 - Amazon Prime)
Maestro
3.1 260Pense em um bolo de casamento, um evento importante na vida de uma pessoa, e tudo tem que estar perfeito, o bolo é um deles... e o bolo para estar perfeito, precisa ser bem feito, bem construído, ser apresentável, e ser muito bem recheado. Fora a cereja do bolo, que pode ser os bonequinhos do casal no topo do bolo, pode ser a própria cereja mesmo, pode ser o sabor desse bolo...enfim.
'Maestro' é esse filme importante que, por mais que sua construção não dite que ele é uma biografia em si de Leonard Bernstein, ele acaba sendo uma biografia cinematográfica do músico, que diferente do bolo de casamento, não está perfeito, não foi assim tão bem feito, não foi bem construído, não é muito apresentável, mas possui um bom recheio, ao menos ele é bem recheado, capricharam no recheio, e a cereja do deste bolo, é Carey Mulligan.
Eu percebi muitas coisas semelhantes na forma de se dirigir e de construir este filme com 'Nasce Uma Estrela', primeiro filme de Bradley Cooper na direção/roteiro/produção, e aqui ele traz algumas coisas bem peculiares para a proposta/premissa de 'Maestro'.
O primeiro ato do filme é interessante, o que mais me chamou a atenção, uma ode aos filmes antigos em preto e branco da antiga Hollywood, com ares fantasiosos, com doses teatrais... as mudanças de cenas externas para internas sem cortar os frames, a edição que nada mais é que uma homenagem aos filmes da década de 40/50, figurinos e cenografia fiéis à época em que se passava, apesar da maquiagem não ser mais bem trabalhada, vide as rugas abaixo dos olhos de Mulligan, uma personagem que tinha o que... 20/30 anos?
Mas enfim, uma ode aos tempos de ouro, uma homenagem aos clássicos que até hoje são reverenciados, um 'q' de musical em alguns momentos, para mostrar o começo de relacionamento de Leonard e Felicia Montealegre. Gostei muito, o texto é bom, os personagens secundários são interessantes, os dois protagonistas estão no mesmo tom e é um deleite vê-los serem felizes em cena... até aí o filme estava caminhando em seu modo automático.
Antes de falar do segundo e terceiro ato, é chover no molhado mencionar que o coração do filme, a alma do filme, é Felicia Montealegre, ou seja, Carey Mulligan... novamente Mulligan entrega um trabalho monstruoso, dedicado, incrível, sereno... uma entrega total e um deleite de interpretação que já presenciamos nos filmes 'Promising Young Woman', 'Não Me Abandone Jamais' e 'She Said'... entre outros de sua carreira.
Simplesmente todas as vezes que ela está em cena, ela rouba as atenções, a impressão que dá é que, como espectadores, ficamos mais interessados em acompanhar e torcer por Felicia, e toda a caminhada de Leonard fica em segundo plano... não pela atuação de Cooper, ou pelo personagem em si, e mais mesmo pela forma como o filme é construído e desenvolvido em suas 2h de duração. A cereja do bolo de casamento.
Carey Mulligan foi com muita justiça indicada a Melhor Atriz em todas as premiações de cinema até o momento, e por mais que não seja a favorita para vencer esta categoria este ano (de novo), fica aqui minha esperança (que é a última que morre), para que ela seja lembrada seja no Oscar, seja no SAG's, ou então no BAFTA (onde torcerei demais).
O segundo ato de 'Maestro' já começa a ficar bagunçado, toda aquela ode aos filmes antigos, aquela construção, aquele tom mais suave juvenil, fica para trás e o filme começa a ficar mais pesado de se acompanhar...pesado no sentido de: 'O que está acontecendo aqui? O que eu estou acompanhando mesmo?'.
É a questão do recheio que comentei, pois, todo o filme é bem recheado, pois os personagens coadjuvantes são interessantíssimos, preenchem bem a história, complementam a jornada dos dois protagonistas, nos trazem boas nuances e gera entretenimento por se entrelaçarem na vida pessoal dos protagonistas. Porém isso não é de fato aprofundado, fica ali na borda, recheando apenas...
E toda a passagem de Leonard Bernstein fica nublada, nada é realmente aprofundado, sua carreira, sua música, suas orquestras, seus feitos, suas conquistas, seu futuro legado, sua importância na cultura social e musical. Temos apenas um visão tumultuada e dramática demais de sua relação com Felicia, onde os dois estão plenamente felizes um com o outro e sua relação, e ao mesmo tempo estão sempre com algo faltando, com aquela sensação de 'eu gostaria de mais...', e ambos ficam numa crise existencial que começa a deixar o filme pesado com textos com ares de enigma. É preciso decifrar as entrelinhas de seus monólogos e conversas, para se ter uma ideia de que caminho está seguindo duas psiques.
É como se fosse uma ida ao psicólogo ao contrário... ao invés de falarmos e falarmos, e o profissional nos instigar a falar mais, a nos questionarmos mais... aqui é como se os personagens estivessem desesperadamente tentando nos dizer algo, nos passar algo, nos evidenciar algo... e nós damos mais corda para que eles se aprofundem mais, e eles vão se afundando cada vez mais.
Ao menos, foi essa a impressão que eu tive enquanto acompanhava o filme, não é bem uma biografia, mas um estudo de narrativa para decifrarmos qual o vazio que está consumindo individualmente Leonard e Felicia. Eles falam e nós analisamos, e os fatos que os cercam e os fizeram ser quem eles foram, ficam pelas bordas.
Já o terceiro e último ato do longa, para mim pessoalmente, é de uma bagunça completa, arrastado ao extremo... claro que temos a ótima cena com o ótimo texto de Leonard e Felicia discutindo no quarto durante o desfile de ação de graças... mas principalmente após Felicia receber o diagnóstico médico de sua doença fatal, eu fico se arrasta em cenas desnecessárias, que não dizem nada, que não agregam nada... é como se estivéssemos assistindo Felicia agonizar na cama de um hospital até dar seu suspiro final. Para mim, foi bem difícil acompanhar toda essa passagem com cenas que não conversavam comigo e não agregavam ao longa.
E ainda temos os filhos crescido de Leonard e Felicia, interpretados por Alexa Swinton, Sam Nivola e a já conhecida Maya Hawke (de Stranger Things), que estavam ali apenas para fazer sala mesmo... eu que não sou ator nem nada, poderia muito bem fazer o papel de Alexander Bernstein que não iria fazer diferença... o roteiro não entregou nada pra eles, não se aprofundou em nada... o máximo que tivemos foi um pequeno momento de Jamie e seu pai, e as fofocas na cidade onde ele cresceu, e o jantar entre ela, sua mãe e sua tia Shirley... mas zero profundidade, e nas cenas onde Felicia estava doente, eles pareciam mais um grupo de patetas porque as cenas com eles eram constrangedoras de ruins... realmente não entendi o inserimento deles no roteiro escrito por Bradley e Josh Singer (de Spotlight).
A cinematografia do filme ficou a cargo de Matthew Libatique, que fez um trabalho muito bom, mas muito bom mesmo, que saltou aos olhos nas cenas do 1° ato em preto e branco, e que também teve destaque nas cenas onde Bradley regeu a orquestra de Londres, fora também as cenas externas onde Libatique escolheu ops momentos e takes certos para favorecer sua fotografia no longa.
Com relação a atuação e direção de Bradley Cooper, eu gostei muito mais de sua atuação do que sua direção... não acho que Bradley está exagerado como a maioria dos críticos apontaram, e que sua atuação é desesperada para ganhar um Oscar... ele trouxe perfeitamente todos os trejeitos e detalhes de Leonard, e antes de vir aqui escrever, fui dar uma olhada no youtube em alguns poucos vídeos de Leonard para checar com a atuação de Bradley, e realmente está na medida, mas só aquela cena final do longa, com Leonard regendo sua orquestra já havia me dado o vislumbre de que não tinha nada de exagerado na atuação de Bradley.
Acho ele matador na famosa cena onde ele rege a orquestra no ato final do filme, na discussão com Felicia no dia de ação de graças, na conversa inicial do filme entre ele e Felicia que tinham acabado de se conhecer, e conversavam em particular, num texto bem direto ao ponto... assim com nas cenas onde ele dá sua entrevista já idoso que inicia o filme, ali ele está matadoramente bem.
Sua direção é boa, coesa, precisa, direta... mas na minha humilde opinião peca em momentos distintos, acho que se enaltece mais no 1° ato com aquele jogo de cenários internos e externos e ele faz essa transição tão bem, e dirige tão bem a Carey Mulligan e seus coadjuvantes... mas conforme o filme se desenvolve fica algo mais descaracterizado, acho que fica um pouco perdido, não sei direito o que ele quer dizer com algumas posições, com algumas decisões de filmagem, apesar de adorar muitos dos enquadramentos das cenas internas, naquela festa onde ele conhece seu amante, adoro aqueles enquadramentos, como se os protagonistas estivessem saindo de foco de suas próprias vidas...muito inteligente de Bradley.
A trilha sonora me abstenho de comentar... a obra de Leonard Bernstein fala por si só.
Em questão de indicações, são inúmeras em inúmeras premiações e não vou citar todas...apenas que até o momento, nas grandes premiações, é claro, 'Maestro' não levou nada, foi esnobado totalmente, a impressão que fica é que foi indicado mais por educação, porque não faturou nada, e a probabilidade de faturar algo nas premiações futuras são bem nulas.
As principais indicações, óbvio, são Melhor Filme, Melhor Ator, Melhor Atriz, Melhor Direção e Melhor Roteiro Original, espalhados por Oscar, BAFTA, SAG's e Satelitte Awards. Não levou nada No Globo de Ouro e nem no Critics Choice Awards.
Possui indicações técnicas também como Som, Fotografia, Maquiagem e Cabelo nestas premiações mas, não é favorito em nenhuma delas a princípio.
Eu particularmente achei o filme bem mais problemático do que muita gente apontou em suas resenhas desde que o filme estreou em cinemas seletos. Não me senti fisgado pelo o que Bradley construiu para Leonard neste longa, e se tornou cansativo acompanhar seus 25 minutos finais, muito exaustivo, eu ficava esperando Bradley encerrar seu filme, e o encerramento nunca vinha... não falo de terminar logo o filme, mas de ele dar o encerramento, no roteiro, no texto, uma conclusão cinematográfica sabe, se encaminhar para a conclusão de sua obra... que nunca chegava e se arrastava e arrastava em cenas desnecessárias ou fora de tom.
Foi um final parecido com 'Nasce Uma Estrela' que é um filme ótimo e melhor que este, mas sofre do mesmo problema, é um parto para se encerrar e se arrasta e demora e quer tirar algo dali que já não tem.
Eu pessoalmente, não indicaria 'Maestro' a Melhor Filme no Oscar, nem no Globo, nem no Critics Choice... talvez ali no Satelitte Awards... do mesmo jeito que esnobaram Margot Robbie no Oscar, eu esnobaria 'Maestro' no Oscar, e daria a indicação para Bradley Cooper só a Melhor Ator, e tiraria ele fácil para colocar Greta Gerwig, e ainda lhe daria a indicação a Roteiro, mesmo com algumas falhas bem notáveis... mas não sou o maior fã deste trabalho de Bradley não;
Acho que as indicações em todas essas premiações foram mais um afago em Bradley e na Netflix, do que merecimento mesmo... algo muito parecido com 'O Irlândes' de Scorsese, que sequer um Oscar levou... (apenas um Critics Choice de Melhor Elenco) e o mesmo deve acontecer aqui (Só que deve sair mãos abanando).
(28/01/2024 - Netflix)
Barbie
3.9 1,6K Assista Agora20 de Julho de 2023... essa foi a data que a maioria dos amantes de cinema guardou para escolher o que iria ver primeiro, no que ficou conhecido como o evento "Barbieheimer". Quando eu fiquei sabendo da produção dos dois filmes, nunca que eu pensei que iriam ser lançados no mesmo dia, e que seria um dos maiores eventos da história do cinema, junto com 'Titanic', 'Senhor dos Anéis', 'Star Wars', 'Vingadores Ultimato', entre tantos outros.
São poucos os filmes que tem a 'audácia' ou a 'coragem' de iniciar com uma sequência que remete diretamente a um dos maiores filmes da história da humanidade '2001 Uma Odisséia No Espaço'. E foi uma sacada muito boa.
Eu fico pensando, o quão difícil é você pegar uma franquia ou linha de brinquedos, como é este o caso, e criar um roteiro para um longa metragem se baseando em absolutamente nada... nada mesmo. Afinal de contas, o máximo que Barbie possui de história é os desenhos super infantis feito para as meninas, ou as histórias em quadrinhos que possuem 'Zero' história, são apenas passagens engraçadas.
Não existem personalidades, não existe um ponto de partida para seguir, não hã nada para se basear, nenhum material existente para se adaptar (e aqui vem mais uma BURRICE dos Oscar em colocar o filme em Roteiro Adaptado, pelo menos nisto o BAFTA acertou).
Greta Gerwig, diretora de 'Adoráveis Mulheres' e 'Lady Bird' e atriz em 'Ruído Branco' e 'Jackie', escreveu o roteiro junto de Noah Baumbach, seu novo marido, diretor de 'Ruído Branco' e 'História de Um Casamento', e carregam um dos dois méritos de 'Barbie' ser um filme redondo, engraçado, divertido e decente, pois do mais completo nada, eles criaram um roteiro dando personalidade, mesmo que vaga a cada uma das Barbies do filme e dos Kens do filme, localizando a 'Barbieland' e dando todo um contexto reverso do nosso mundo e sociedade, e dentro da inocência de uma história de boneca perfeita e suas donas crianças que crescem e se tornam adultas com problemas, traz todo um tema sobre protagonismo social de gêneros, subversão de cargos e reflexão sobre dominância de ideias e costumes.
Greta e Noah criam um mundo onde os papéis se invertem, onde as coisas estão ao contrário para as bonecas e bonecos de 'barbieland' e o choque de realidade que Barbie e Ken recebem quando conhecem o 'Mundo Real', e todo o lance de patriarcado que Ken quer impor no seu mundo natal. Muitas destas cenas são ótimas e bem aplicadas no contexto do filme, não só apenas passando uma mensagem para quem está assistindo, como ao mesmo tempo se preocupa apenas em divertir, numa sutileza sem igual.
É aquela velha máxima... existem muitas ideias ótimas e inteligentes, interessantes e funcionais, que além de você levar para as telas com uma história dramática totalmente original, ela também serve para personagens de fantasia... e isso engloba tudo, Marvel Comics, Star Wars, demais HQ's, desenhos animados, contos da Disney, e por aí vai.
Coube muito perfeitamente em uma história de boneca de criança... o quão surreal é fazer isso? Méritos de Greta e Noah.
O outro dos méritos é de Margot Robbie, que junto a Greta e Noah, produziu o longa, apostou na ideia, comprou o desafio, e encarnou com uma performance digna de seu talento, a Barbie definitiva que as pessoas enxergarão daqui para frente.
Margot deu a sua Barbie carisma, personalidade única, veia cômica, dramaticidade, e postura feminista dentro e fora de 'Barbieland', como vemos no choque que ela leva ao ver que no 'Mundo Real', tudo que as bonecas fazem, os homens é que fazem, e também em como ela se porta durante todo o problema do patriarcado instaurado por Ken na 'Barbieland'.
As melhores cenas de Margot, são as de sua apresentação no começo do filme, para situar a Barbie ao público... as cenas de dança na festa à noite, as cenas onde ela tenta assimilar o que vê no 'Mundo Real'... e principalmente, as duas cenas finais onde ela não se acha boa o suficiente em sua conversa com Gloria, sua ex-dona, e a cena final com Ruth, onde ela finalmente se encontra dentro de si e sabe exatamente o que é e como deve prosseguir daqui pra frente. Esta cena final é carregada de emoção trazida pela atuação de Margot e, para mim, o ponto alto do filme.
Greta e Noah não poderiam ter criado um roteiro melhor para este filme, tudo funciona bem, de forma simples, sem complicação, explicado e colocado de forma sucinta, com discursos atuais, sem levantar bandeiras de feminismo ou machismo, o que foi muito inteligente de deles costurarem no roteiro, para não se perderem em discursos que não agregariam em nada o filme, apenas gerariam debates vazios por parte do público.
Uma das melhores cenas do longa, que Greta filmou magistralmente, foi toda a performance de "I'm Just Ken' com Ryan Gosling, Simu Liu e companhia. Isso é cinema, puro e simples, um número musical (que os americanos amam) que leva o roteiro adiante, que faz o personagem se encontrar dentro das suas dificuldades, sem deixar de entreter o público, são muitas camadas dentro de uma sequência só.
Toda a sequência de dança de Gosling, Simu Liu, Kingsley Ben Adir e companhia foi muito bem coreografada, muito bem encenada pelos atores, e com show a parte de Ryan Gosling. Na verdade o ponto alto de Ryan Gosling como Ken, foi essa cena... essa sequência toda mostra a versatilidade de Ryan ao interpretar, que não é só atuar e dominar a arte do drama... mas saber dançar, saber cantar, muito afinado, muito bem, se portar diante da câmera, não sair do personagem, e ainda entregar emoção ao público.
Ryan também merece crédito por criar um Ken do nada, pois, se as falas e a direção do personagem foram criados por Greta E Noah, foi Gosling quem deu o sopro de vida ao personagem, o carisma, a entonação de voz, o jeito de se portar, a forma de reagir a um mundo "dominado" por homens.
E óbvio, vale mencionar as demais Barbies e Kens do longa, todos muito estrelados, pois só tem monstro no papel:
- Simu Liu, o Shang Chi da Marvel, ótimo como Ken, sua rivalidade com Ken Gosling é ótima;
- Kingsley Ben Adir, de Invasão Secreta e do vindouro Bob Marley: One Love;
- John Cena, o Pacificador em pessoa;
- Ncuti Gatwa e Scott Evans, dois homossexuais interpretando Ken, que ficou muito bom de ver;
- Issa Rae, de American Fiction como a Barbie presidente;
- Emma Mackey, vencedora do E E Rising Star do BAFTA;
- Dua Lipa, Sharon Rooney e Alexandra Shipp (de tick, tick...boom);
- Harif Nef, atriz Transsexual que fez uma das Barbies;
- A ótima e perfeita Kate McKinnon, da qual sou fã, que faz a Barbie estranha;
Mencionado também Will Ferrel que dispensa apresentações, e a Oscarizada Helen Mirren, "A Rainha" que faz a narração do filme.
As canções do filme são muito boas, são ótimas, 'I'm Just Ken' é uma viagem de composição, que vai da simplicidade à bagunça sonora. A canção de Dua Lipa, 'Dance The Night' também é muito boa. 'Pink' da Lizzo que abre a cena inicial da Barbie na 'Barbie land' também é um dos pontos altos das canções do longa.
Mas para mim, a melhor com certeza é 'What I Was Made For?' de Finneas e Billie Eilish, canção lindíssima que entrega a melhor cena dramática do longa, casou perfeito com o momento e foi muito bem composta pela dupla e performada pela Billie.
O filme, é ótimo, me ganhou, foi uma boa diversão, uma coisa ali e acolá no roteiro que ficou mal colocado ou expressado no roteiro que não atrapalha em nada o andamento do longa. Ponto.
Não é e nem será nenhuma obra-prima, mas é um ótimo trabalho do quarteto Greta-Noah,Margot-Gosling, que ficará marcado na história do cinema junto a tantos outros clássicos, com toda a certeza.
Dito isto, gostariar de vomitar tudo que eu tenho pra falar da Academia do Oscar, e sua mais recente pataquada anual:
Com um trabalho desses, redondinho, que foi reconhecido sim pela academia, está indicado a Melhor Filme e outras categorias técnicas, teve uma GRANDE esnobada, uma não indicação por falta de coragem e outra indicação errônea por pura burrice mesmo.
Indicar o longa a Roteiro Adaptado é uma piada, e de mal gosto... Adaptado daonde? Da
linha de bonecas? Tem história nessa linha de bonecas?
Você precisa adaptar o seu roteiro de uma história já existente e pré-estabelecida... você adapta, para outra vertente e voilá. O BAFTA teve a inteligência de indicar o filme a Roteiro Original, deve ter sido o único, preciso pesquisar a fundo. Mas o Oscar, como sempre...
Não tiveram coragem de indicar Greta Gerwig a Direção, claro que olhando os indicados, quem você tirará dali para entrar, é complicado, eu assumo, e mesmo sendo indicada, talvez, e somente talvez, ela realmente não ganhasse. Mas não ter a coragem de indicá-la, de reconhecer o trabalho ótimo e surreal que ela fez com um filme que levou mais de 1 bilhão de pessoas ao cinema, é ser covarde do mesmo jeito que o BAFTA foi ao não indicar Martin Scorsese a Diretor, mas indicar 'Assassinos da Lua das Flores' a Melhor Filme... ou seja... cadê o critério? o Bom Senso?
E a grande esnobação deste ano, não indicar a Margot para Melhor Atriz, quando todas as demais premiações, (até o Satelitte Awards) indicou.
E ainda ouvir a Whoopi Goldberg falando que se ela não foi indicada é porque não tinha que ser, que nem sempre todo mundo conseguirá ser indicado, e blá, blá, blá...
A atuação de Margot, para um boneca que sequer tem personalidade, e o trabalho que ela entregou no longa, de várias nuances e vertente, é nada mais que DIGNO de indicação. É bem provável que ela não ganharia, pois este ano Emma Stone está matadora e é a principal favorita com sua mega atuação em 'Pobres Criaturas'. O próprio BAFTA a indicou, e olha que eles a indicaram duas vezes na mesma categoria por dois filmes diferentes anos atrás, o que foi um erro grotesco, pois ela merecia por apenas um.
Não só o Oscar, mas o BAFTA e por algumas poucas vezes os SAG's Awards, anualmente sempre cometem gafes, dão suas esnobadas, em questões de indicações, e no caso do Oscar, até nas questão de premiar também, com escolhas bem polêmicas.
Mas a deste ano, realmente vai ficar marcado na história, é a mesma coisa de indicar Titanic em um recorde de indicações, mas não indicar seu protagonista Leonardo DiCaprio... percebem a incoerência?
Barbie recebeu uma chuva de indicações, e óbvio não vou colocar todos aqui porque a lista é gigante.
Mas, Melhor Filme, Melhor Ator Coadjuvante, Melhor Elenco, Figurino, Melhor Canção estão indicados em todas as grandes premiações.
Roteiro Adaptado apenas no Oscar, Roteiro Original em todas as outras premiações.
America Ferrera recebeu indicação para Atriz Coadjuvante no Satelitte Awards, Critics Choice e Oscar;
Em termos de prêmios, até o momento, tirando os prêmios dados por críticos americanos setorizados, como em Nova York, Boston, Seattle e por aí vai... Barbie levou prêmios no Critics Choice Awards, e Globo de Ouro;
- Canção Original para 'What I Was Made For?' da Billie Eilish e Finneas e Conquista Cinemática em Box Office, no Globo de Ouro;
- Canção Original para 'I'm Just Ken', Melhor Comédia, Roteiro Original, Melhor Maquiagem e Cabelo, Melhor Figurino, Melhor Design de Produção, todos no Critics Choice Awards.
(Assistido em 23/01/2024 - HBO MAX)
How to Have Sex
3.7 110 Assista AgoraEste é o primeiro filme da Britânica Molly Manning Walker, de apenas 30 anos, ela dirige e escreve essas férias escolares de três adolescentes na flor da juventude, sexualmente ativas, viajando para Malia, Ilhas Gregas, para ter o melhor verão de suas vidas, regados a muita festa, muito álcool e muita pegação.
Porém, das três garotas, Tara, Skye e Em, apenas Tara é virgem e deseja desesperadamente perder a virgindade nessas férias, pois ela e Skye são as únicas que tem o futuro para a faculdade incerto, e claramente Tara não quer ir pra faculdade sem praticado o ato.
Esse pequeno detalhe é o que engloba todo o roteiro do longa, pois a primeira experiência sexual de Tara, não foi dos mais agradáveis e o pós-sexo da garota é a cereja do bolo do longa.
Ao mesmo tempo que é um filme bem juvenil, um filme bem 'girls', com as questões femininas, os problemas juvenis das garotas e se parecerem gostosas, quais garotos vão conhecer, quem vai transar primeiro, o quanto irão beber na noite, o quanto não irão beber na noite, o quão irão se jogar na festa, se vão passar dos limites ou não... o filme também carrega o seu tom dramático, pois ele lida com uma primeira vez feminina dramática.
Veja, este era para ser o melhor verão das vidas delas, as melhores férias 'Ever', mas para Tara, se tornou um martírio, um peso, um fardo, após sua primeira relação. Nós uma primeira metade de filme bem leve, a apresentação das garotas, a personalidade de cada um, a apresentação dos coadjuvantes, os garotos e garota que elas pegam, festas com muita música eletrônica, karaokês desafinados, vômitos, bebidas, roupas, piscinas, uma entrega a vida total... além de paqueras, e uma pseudo rivalidade criada por Skye com relação a Tara sobre um garoto que ambas estão afim (Badger, do ótimo Shaun Thomas).
A segunda parte do filme, até seu final, é justamente quando Tara tem essa sua perda de virgindade, e em como isso a afeta, pois como Molly deixa claro, ela não estava 100% certa de que queria, e do outro lado houve apenas a vontade de meter e se satisfazer, tornando a experiência de Tara horrível, que ditou o tom do resto do filme, e a mudança de comportamento da garota, que acabou com suas férias e sua curiosidade com a primeira vez, ao mesmo tempo que Tara não quis estragar essas férias com suas amigas, e esforçadamente fingiu que estava tudo bem para tudo continuar bem.
Eu acho que Molly Manning fez um ótimo trabalho, ao menos comigo é claro, conseguiu deixar o espectador imerso na narrativa e no que as garotas estavam vivenciando naquelas férias. Os diálogos são ótimos e denotam perfeitamente as atitudes e visão de mundo de adolescentes britânicas (que englobam no geral) que colocam a diversão em primeiro lugar, e a preocupação para depois, vide a inexperiência da idade.
Molly não deixa de tirar o foco das três garotas em nenhum momento, mesmo Tara sendo a protagonista e obviamente tendo o maior tempo de tela e tendo o seu discurso mais entonado no filme. Há espaço para as inseguranças de Skye, que mesmo sabendo que é uma garota gostosa, não lida bem com garotos que não lhe dão atenção, que não lhe enxergam, jogando parte da culpa destes atos em outras garotas que estão perto dela chamando a atenção destes garotas... e aqui isso recai sobre Tara.
Já com Em nós descobrimos conforme o longa se desenrola que ela é gay e por mais que queira se soltar em sua pegação com Paige (Laura Ambler), ela se sente um tanto quanto presa por ver que Paige está meio nervosa com essa paquera entre as duas.
Com Tara, Molly evidencia mais seu envolvimento com Badger, que são os primeiros a se conhecer do grupinho dos dois, e que de cara se curtem, indo etapa por etapa, até estarem naquele tipo de 'Romance/Pegação de verão', são namorados até as férias acabarem... Molly deixa sub entendido que as férias de Tara seriam perfeitas se a pegação dos dois fossem pra frente, se as experiências que Tara buscava fossem com ele, tudo estava bem até então...não fosse a competição da ereção com as meninas, que acabou assustando/afastando Tara, o famoso e eterno 'ciuminho' de ver sua paquera tão vivo, tão erótico, tão solto, tão 'não minha propriedade'. E, sem spoilers, mesmo tendo já contado muita coisa, dali para frente é só ladeira abaixo para ela.
É um discurso bem importante e atual sobre cruzar linhas, respeitar limites, saber enxergar quando os sinais mostram que há um NÃO bem grande à sua frente que não é verbalizado seja qual for o motivo de não ser expelido para fora.
É claro que há a vontade (dos dois), que há a curiosidade, que há a preocupação em não estragar o clima, em não decepcionar o próximo, em não ser uma idiota (mesmo sendo um pensamento que não condiz)... mas há os sinais, são muito fáceis lê-los, e não há defesa quando se cruza tais limites... o bom senso sempre deve imperar.
Mia McKenna-Bruce é garota do momento, perfeita, talentosa, carismática, competente, sensível, explosiva, por alguns ,momentos pareceu a Florence Pugh mirim... grande parte do filme ser divertido e gracioso de se acompanhar se deve a sua atuação. Foi certeira em tudo que trouxe para a personagem e saiu do cômico para o dramático com muita naturalidade, em cenas que exigiram demais em entrega de emoções, em entregas performáticas, ou em entregas mais íntimas, onde ela os faz com muita segurança e sem repreensão.
É uma menina que merece muita atenção a seus futuros projetos daqui para frente, pois tem muita veia dramática para mostrar e muito talento para manter um protagonismo satisfatório que ganhe o espectador do momento que aparece até o desfecho da trama.
As suas duas amigas interpretadas por Lara Peaks e Enva Lewis, também são ótimas e quando são exigidas encenam de igual pra igual com McKenna-Bruce, engrandecendo a trajetória das três garotas e entregando reações condizentes e satisfatórias, que as deixam com um enorme carisma dentro do longa.
Os rapazes, Samuel Bottomley e Shawn Thomas fazem os garotos festeiros e de bem com a vida, que já são pegadores natos, mas cada um com uma personalidade. Shawn faz o estilo bonzinho, e pegou o tom de seu personagem muito bem, pois até em seus trejeitos ele entrega essa persona mais pseudo-adulta, de querer fazer o certo dentro da confusão dos momentos, e o mais sensato do grupo do outro lado da hospedagem. Já Samuel faz o amigo dele que é mais 'farrista', não se importa com consequências ou emoções, o famoso 'se vacilar eu pego, se não for, eu vou', sempre querendo mais, sabendo o que quer, e deixando claro que quer e quando quer, e eu sei que você também quer.
Há alguns takes do filme, nos quartos de hotel e na balada de começo do filme, que cenograficamente é muito bem construído, muito bem detalhado, mas são as cenas externas que se fazem mais presentes, e sim são bem transplantas para as telas, como a cena depois da praia onde Tara anda sozinha em meio a muita bagunça nas calçadas de Malia.
Também há takes fotográficos que enaltecem a cinematografia do longa, sendo que aqui ela se faz mais presentes nas cenas de festas, onde são cuidadosamente bem construídas e enquadradas, e esses poucos takes na praia que engradecem o trabalho de Nicolas Canniccioni, o diretor de fotografia do filme.
As músicas do filme são típicas de baladas regadas a muuuito álcool e drogas, aqueles 'Tranz' que envolve quem se joga no momento e deixa em transe quem está no 'feeling' da curtição... Quem frequenta Raves vai se familiarizar com o ritmo frenético, e mesmo quem não frequenta ou curte, reconhecerá de cara o frenetismo do som que dita o ritmo de todas as cenas de curtição das garotas e seus amigos.. principalmente nos créditos finais.
'How To Have Sex' recebeu três indicações no BAFTA deste ano, para Melhor Elenco, Melhor Estréia de um Diretor, Produtor ou Roteirista Britânico e Melhor Filme Britânico.
Confesso que torço para Molly Manning levar ao menos um BAFTA para casa e com relação a Melhor Filme Britânico, ainda não assisti os outros Oito indicados, mas fico indeciso entre 'Saltburn' e este filme, sendo que tenho uma leve preferência por 'Saltburn'.
'How To Have Sex' ainda levou o prêmio 'Un Certain Regard' no Festival de Cannes;
Também faturou três prêmios na Premiação de Filmes Independentes Britânico, para Performance Coadjuvante para Shaun Thomas, Performance Principal para Mia Mckenna-Bruce (merecidíssimo, batendo Tilda Swinton, Andrew Scott, Jodie Comer) e Melhor Elenco.
Um ótimo filme e roteiro de estreia para Molly Manning, um ótimo entretenimento, um tema muito relevante e atual na questão feminina e uma atuação de sua protagonista principal perfeita e corajosa. 'How To Have Sex' é um dos destaques do ano passado e Top de 10 sem medo de melhores filmes de 2023.
(Assistido 18/01/2024 - Cine Satyros Bijou)
Crescendo Juntas
3.8 96Uma das cenas do filme que viralizou nas redes sociais em Dezembro passado, foi quando Barbara (Rachel McAdams) conversava com a filha Margareth (Abby Ryder Fortson) sobre o porquê de Barbara não falar mais com seus pais. Essa cena traz uma atuação bem singela de Rachel, onde no momento onde ela fala 'Sorry' e enxuga as lágrimas, e volta a falar com a filha, e nos deixa no ar se faz parte do roteiro, ou se ela realmente se emocionou, pediu desculpa por chorar, mas seguiu com a cena como se fosse uma reação natural de Barbara. E nas redes sociais, os internautas escreviam como ela não havia ganhado tantas indicações para Atriz Coadjuvante nos prêmios que estavam acontecendo naquele mês.
Essa é uma das muitas (e eu digo MUITAS) cenas bacanas que este filme possui, sejam dramáticas, sejam cômicas, sejam inusitadas. E este filme é a prova viva de o quanto as premiações de cinema influenciam na promoção de um filme, afinal... 'Are You There, God? It's Me, Margareth,' (odeio o nome em português) não teve a miníma visibilidade pelo grande público, também pelo fato de não ser lançado no cinema e ir direto pro Streaming. Este fato faz o filme perder força, ser menos falado e visto, e se tivesse ganho muitas indicações, ou pelo menos as indicações de Rachel McAdams e Roteiro adaptado, teria alcançado um número mais considerável de espectadores.
Dirigido, Roteirizado e Produzido pela talentosa e delicada Kelly Fremon Craig, 'It's Me, Margareth.' é um filme leve, divertido, descontraído, que mergulha o espectador na entrada da adolescência das garotas de 12, 13 anos.
Aqui no filme, Margareth é obrigada a se mudar de Nova York após seu pai ser promovido no emprego, e sua família se muda para New Jersey, onde ela fará novas amigas, conhecerá novos garotos, entrará na puberdade feminina, com todas as questões físicas e hormonais, e se redescobrirá como garota e também as origens de sua família.
Todo crédito do filme ser gostoso de acompanhar e ser um entretenimento puro, vai para Kelly Fremon, que não só teve tato para dirigir seu elenco e lidar com as várias questões femininas inseridas com a maior naturalidade e cuidado, como escreveu o roteiro perfeitamente, adaptado do Livro de mesmo nome, de uma forma simples, com texto cativante e detalhado, além de possuir personagens coadjuvantes que complementam a história contada.
São inúmeras as cenas que divertem e prendem a atenção do espectador no longa, como a já citada acima, e quando Margareth pede o primeiro sutiã para sua mãe... também quando ela e sua amiga Janie vão à farmácia comprar absorventes... a própria cena quando ela prova um absorvente pela primeira vez... quando ela põe meias na blusa para desfilar imaginando que tem seios grandes... todas as cenas onde ela tenta se encontrar em uma religião... a cena da brincadeira de 2 minutos no banheiro... e muita gente aqui vai concordar comigo, as melhores cenas do longa quando ela e suas quatro amigas, Janie, Nancy e Gretchen, gritam em uníssono "We Must, We Must, We Must increase our bust", fazendo uma coreografia com os braçoes, na intenção de seus seios crescerem mais rápido que os das outras garotas. HILÁRIO.
É uma comédia dramática muito bem adaptada para as telas baseada no livro, é praticamente uma viagem no verão para a casa de algum parente, ou de um amigo, umas férias longe de casa, é assim que descrevo a experiência de acompanhar este filme, com ótimas interpretações do elenco.
Há temas muito bons, como a procura de Margareth em se encaixar em uma religião, já que sua mãe é cristã e seu pai e avó são judeus, e ela frequenta todas essas igrejas para tentar descobrir qual é a melhor religião para ela, dentro é claro da inocência de sua idade e como enxerga o mundo a sua volta.
Também traz um olhar para questões de pertencimento dentro de grupo sociais, no caso, as novas amigas de bairro e escola, sem poder escolher com quem quer se enturmar e tendo que se dobrar a vontade de quem está a sua volta, para agradar e possuir um grupo de amizade, mesmo que seja um grupo que não a faça bem.
Outras questões incluem diferenças familiares que não são respeitadas ou tentam ser respeitadas, e questões de pertencimento a grupos sociais similares a que Margareth passou, mas envolvendo sua mãe, Barbara, que agora é mãe em tempo integral sem precisar trabalhar.
Rachel McAdams que faz a mãe de Margareth, a Barbara, está perfeita no filme, ela sabe como ninguém de colocar em um filme deste tipo, as comédias dramáticas, e as românticas também. A cena citada acima é seu ponto alto no longa, para mim digna de indicação a Coadjuvante, pelo menos nas premiações como Globo ou Critics Awards.
Ben Safdie, ótimo ator de filmes como, 'Stars At Noon', 'Pieces of A Woman' e 'Licorice Pizza', além de dirigir ao lado de seu irmão, Josh Safdie o filme 'Jóias Brutas' da Netflix, faz o marido de Barbara e pai de Margareth, Herb, que aqui aparece pontualmente, não é muito exigido, e só se destaca mais na questão envolvendo sua religião judaica na janta com a família toda reunida.
Mas os dois destaques do filme com certeza são Abby Ryder Fortson e Ellen Graham. que fazem Margareth e Nancy, respectivamente.
Abby Ryder é mais conhecida por fazer a Cassie Lang, filha de Paul Rudd nos dois primeiros filmes do Homem-Formiga da Marvel... aqui, já bem mais crescida, ela está ótima como protagonista e atua de uma forma muito singela, gostosa, leve... possui uma veia cômica, que vai até a dramática num só piscar de olhos, algo que poucos atores conseguem fazer com naturalidade, e Abby entrega de uma forma genuína que deixa sua personagem muito agradável de se acompanhar. Seus monólogos com Deus, em seu quarto são também seu ponto no longa, sempre começando com 'Are You There, God? It's Me, Margareth Simom.' Daí o nome do livro e filme, e o porquê odeio tanto no nome em português, que sequer cito.
Já Ellen Graham que faz a amiga de Margareth, a Nancy Wheeler, a loirinha metida que quer ser dona de suas amigas, é de longe umas das melhores atuações do longa. Acharam essa menina a dedo, ela é perfeita, sua atuação é divina, hilária, performática, não deixa a peteca cair em nenhum segundo do filme. Uma dedicação à personagem sem igual, que pouco se vê em filmes aí a fora, seja com atores adultos, ou atores mirins.
Temos premiações como o Critics Choice Awards, o Astra Awards, o Satelitte awards, que premiam Jovem Ator e Atriz do ano, e sem dúvida nenhuma, eu indicaria essa menina em todas as premiações que possuem essa categoria. Virei fanzaço dela, e de longe é a melhor personagem do filme.
Também temos a grandiosa Kathy Bates que dispensa comentários, fazendo a avó de Barbara, a Sylvia Simon, que aparece pontualmente no longa, e pouco exige da atriz, só sua figura grandiosa, já eleva o peso da avó na vida de Margareth.
A trilha sonora é de ninguém menos que do Oscarizado Hans Zimmer, que também dispensa comentários, e neste filme, esqueça aquelas composições magnânimas, grandiosas, fabulosas, regadas a muita orquestra, com tons densos e construções memoráveis. Aqui temos algo mais familiar, inocente, singelo, onde ele abusa do piano alegre, criando aquele ar de férias de verão que comentei mais acima.
Em termos de premiações, no People's Choice Awards foi indicado a Melhor Filme de Comédia;
Na premiação Britânica de Filmes Independentes, deu indicação para Rachel McAdams para Atuação Coadjuvante;
No Critics Choice Awards levou indicação para Roteiro Adaptado e Jovem Ator/Atriz para Abby Ryder Fortson, perdendo nas duas categorias.
Todos os méritos para Kelly Fremon que fez um filme delicioso de se acompanhar, com tantas camadas que deixam seus personagens interessantes, temas bem pertinentes e bem levantados no roteiro de Kelly, e um elenco super dedicado com uma dupla de garotas, Abby e Ellen, que dão um show em cena e faz deste filme uma das melhores comédias dramáticas do ano passado... e na minha mais modesta e humilde opinião, muito mais divertido que o mediano 'Que Horas Eu Te Pego?' (título que também odeio)
(Assistido em 10/01/2024 - HBO MAX)
Godzilla: Minus One
4.1 308Eu sempre achei que o cinema asiático sempre foi muito competente em entregar dramas de altíssima qualidade, e sempre tendo a proeza de construir aquele drama que é a assinatura deles em obras fantasiosas que são parte da cultura social, principalmente japonesa, e que são exaltados e respeitados pelo seu povo.
Há vários filmes da franquia Godzilla onde eles tentam encaixar esse Drama, mas 'Godzilla: Minus One' é um dos poucos (ou talvez o único) que consegue atingir tal feito com extrema maestria, fazendo com que o foco do filme não seja no monstro nipônico em si, e sim, no protagonista e nos coadjuvantes, que são a peça chave, central e a alma do filme.
Este mérito pertence a Takashi Yamazaki, Diretor e Roteirista do longa, que fez um trabalho esplêndido ao dar importância para a jornada dos personagens do longa, seja do protagonista Shikshima, ou da mãe por acaso, Noriko, ou o garoto Shiro, ou Kenji Noda, o professor de trabalha para o governo, e todos os demais...
Yamazaki faz com que nos importemos com estas personagens, ele os escreve de forma bem comum, é fácil demais nos enxergarmos neles, de vermos nossos medos ou imperfeições neles, de nos relacionarmos com eles e ficarmos agoniados para que estas personagens não tenham o mesmo fim que tiveram as pessoas atacadas pelo monstro gigante em sua investida no meio do filme.
Yamazaki também tem mérito em transpor para as telas de uma forma que a película remetesse aos tempos antigos, sendo que fica nítido que as câmeras usadas são da mais alta qualidade e que o filme está numa qualidade perfeita de captação, mas ele inclui aquele tom antigo, desgastado, que nos remete aos filmes da de´cada de 50, 60, onde os filmes do Lagarto gigante ganhou sua popularidade local.
Há ótimas cenas filmadas no mar, no embate dos protagonistas com Godzilla, e o uso de esferas explosivas, metralhadoras de guerra com infinitas cápsulas, e takes subaquáticos que apesar de serem curtos, elevam a batalha final do longa.
As atuações são a cereja do bolo deste longa, com Ryûnosuke Kamiki liderando o elenco, com uma atuação segura e comovente, de um Shikshima que está desiludido por não ter cumprido seu dever como soldado kamikaze (ponto este trazido ao filme para evidenciar o profissionalismo, patriotismo e sentimentos dos soldados japoneses para com o dever durante a guerra).
Munetaka Aoki é outro ator que gostei demais em cena no longa, atuação forte, dedicada, estudada, uma presença de cena sem igual, trouxe muita personalidade para sua personagem, o chefe da ilha que Godzilla atacou, Sõsaku Tachibana. Ele volta no final do filme como o Ikki renascendo das cinzas para salvar o dia, e elevar o protagonista ao heroísmo. Grande ator.
Minami Hamabe foi muito bem também como o 'par romântico' de Shikshima, a Noriko Õishi, e traz as duas melhores cenas do longa para mim, quando ela empurra Shikshima quando vem a onda causada pelo impacto de Godzilla, em um ato heróico de salvar o seu amado...
E no fim, quando se encontra com ele no hospital, na MELHOR cena do filme, a mais emocionante, a mais inesperada e que fecha magistralmente essa passagem trágica que o povo nipônico sofreu durante a guerra com o monstro aquático. Isso sim é cinema em sua mais pura essência que conecta o espectador com as demais pessoas na sala de cinema, e entrega um entretenimento emocionante e humano.
Não vou citar todos do elenco, mas estão todos IMPECÁVEIS.
Uma ótima cinematografia, muito bem filmada, enquadrada, captada, e uma cenografia perfeita, uma construção de cenário devastado pela guerra convincente, e uma destruição de cidade entregue de uma forma surreal.
E o que falar da trilha sonora composta por Naoki Sato? Não há um momento no filme que a trilha não seja uma extensão da cena em si, ela envolve os acontecimentos de momento, evidencia a personagem na cena em questão, e se torna uma extensão daquilo que estamos presenciando, enriquecendo demais a experiência de acompanhar o longa. É grandiosa, esplêndida, e pontua toda a fúria do monstro gigante, ao mesmo tempo que contextualiza o medo e o pavor ao percebermos (espectador e personagens/figurantes) a chegada do monstro.
Não tem como não torcer para ops personagens do longa, e ficar na expectativa para o gigante ser derrotado, ao mesmo tempo que ficamos aflitos para vermos qual será o destino de Shikshima, e também como se sairá o plano que elaboraram para derrotar o lagarto aquático... terão sucesso? Quantas baixas teremos? quem iremos lamentar a perda ao final do longa?
Infelizmente, o longa foi pouco lembrado nas premiações americanas nesta temporada, tendo conseguido apenas 1 indicação ao Critics Choice Awards de Melhor Filme Estrangeiro, perdendo para o arrasa quarteirão da temporada 'Anatomia de Uma Queda'.
Já na premiação local, o Asian Film Awards, levou as indicações técnicas de Efeitos Visuais e Melhor Som, além da indicação para Minami Hamabe em Atriz Coadjuvante.
Pelo menos em minha opinião, considero 'Godzilla Minus One' uma obra-prima do cinema moderno nipônico, um trabalho esplêndido de Takashi Yamazaki, um diretor genial, a frente do tempo, visionário, e uma lenda no Japão. Como não sou grande conhecedor de seu trabalho e dos demais longas japoneses ao redor das décadas, não posso avaliar se é seu melhor trabalho. Mas eu considero um dos melhores Dramas que o Japão já produziu, sob as mãos geniais de Takashi Yamazaki.
(Assistido em 09/01/2024 - Espaço Itaú Cinema Frei Caneca)
Que Horas Eu Te Pego?
3.3 494Dirigido e Roteirizado por Gene Stupnitsky, 'No Hard Feelings' (não gosto do nome em português) é o seu segundo filme, e teve produção de muitos nomes, incluindo a protagonista Jennifer Lawrence. Foi a comédia pastel do verão americano ano passado, e eu lembro que quando estava em cartaz eu estava muito querendo conferir o filme, fiquei bem curioso para ver um filme totalmente comédia com a Jennifer Lawrence protagonizando.
Gosto muito da Jennifer, acho ela uma ótima atriz, completíssima, dramática e cômica na medida certa, sem falar que é um carisma imenso como pessoa. Mas eu confesso que fiquei sem entender a premissa desse filme, em ser a produtora de um projeto que pouco entregou. Nem parecia ser um filme feito para cinemas, parecia mais um filme feito para TV.
O roteiro de Gene Stupnitsky é bem básico, bem clichê, é o cinema cômico em sua essência (odeio essa palavra), aquilo que já conhecemos de inúmeros e diversos filmes, como 'Sim Senhor', 'Click', 'Quem Vai Ficar Com Mary?' e por aí vai.
Acho que o problema aqui nem é o roteiro, mas a forma como foi transplantado para as telas, e algumas decisões de cenas que achei bem desnecessárias.
O filme não é de todo ruim, tem bastante coisa ali que dá para elogiar, exaltar, como a relação de Maddie e Percy, as confusões que a Maddie passa no filme para tentar arrancar um coito com Percy, as questões emocionais de Percy, que ainda é um garoto e está começando a descobrir o mundo adulto do flerte/pegação/primeira vez com uma pessoa mais velha... enfim.
Mas eu fico me perguntando o quanto Jennifer ficou a vontade em dar o ok para algumas cenas que eu, pessoalmente, achei bem desnecessárias:
- A principal foi a cena da luta nua na praia com os adolescentes que estavam roubando as roupas deles, eu achei uma cena bem apelativa, mais pelo fato de terem usado a nudez gratuita de Jennifer. Durante toda a cena e o desenrolar dela, depois da luta, com o Percy já no capô do carro, em nenhum momento vemos o Percy completamente nu, mas a Maddie está mostrando tudo na luta na praia, seios, vagina, bunda, tudo... aonde está coerência, porque o Percy também não apareceu com a Rola de fora, ele cobre com as mãos... então uma priquitinha é menos ofensivo na tela que uma Rola balançando?
Pra mim a coerência foi zero, e a cena poderia muito ter sido enquadrada com a Jennifer lutando e aparecendo no máximo os seios, e nos takes, se evitava mostrar suas partes íntimas que mesmo assim teria ficado engraçado em cena.
Não gosto muito de nudez gratuita, se for uma nudez que sirva o personagem, o roteiro, que diga alguma coisa para o filme, para o que estamos assistindo, é mais do que valido e nada ofensivo. Mas quando é gratuito, quando é com uma atriz que é atraente de corpo, bonita, claramente gostosa, dentro de um filme cômico que quer arrancar risadas do público à força, aí eu realmente não curto e pra mim foi um problema muito grande.
Por isso me pergunto o quanto Jennifer ficou a vontade em dar o ok para algo assim, ela ficou 100% de boa, apostou no projeto? Ficou meio assim mas aceitou por ser uma Atriz e encara o que vier? Foi ideia dela? Enfim...
- Outra cena foi a do quarto onde eles finalmente foram transar, mas não rolou, quando Percy subiu encima dela ele acabou ejaculando antes de qualquer coisa. Nada foi mostrado, mas Maddie faz o movimento debaixo do cobertor e fala em cena, limpando a perna dela que ficou melada com a queima de largada do rapaz (quem nunca...).
Mais uma cena, na verdade um diálogo, que eu também não curti, afinal a veia do filme é um cômico de idas e vindas e confusões para a protagonista conseguir o que quer, até cair a ficha e perceber que está agindo com falta de caráter... e não uma pegada 'American Pie', de cenas gratuitas de tesão que era a premissa central da franquia... aqui não é assim, teria que ser mais setorizado, as situações tem que servir ao filme, não o filme se sustentar nas situações, que caem na chanchada.
Mas isso, pessoal, é apenas a minha visão do que o filme poderia ser e como poderia ter se construído, afinal, o que não foi bom para mim, pode ter sido bom para os outros,
Da Jennifer eu não vou falar muita coisa, porque eu já comentei no início e sua carreira já diz por si só, foi divertido demais vê-la em cena e o mais bacana é ver como ela se entregou mesmo ao projeto.
Andrew Barth Feldman que fez Percy, é um ator bom, sem dúvidas, mas eu não sei, não curti muito ele em sua parceria com Jennifer, ao meu ver ficou devendo ali e acolá. Acho que para entreter o público ficou dentro do esperado, mas para mim, ficou desbalanceado. Tem muitas cenas que ele está muito bem, no restaurante, no sofá quando passa o creme de irritação de pele, no "sequestro" que não era sequestro... mas foram momentos esporádicos.
Do elenco coadjuvante, tem muitos rostos conhecidos de minha parte, fiquei feliz em vê-los, mas eles pouco têm a acrescentar no roteiro e apenas aparecem para dar aquela mudada no caráter de Maddie, fazê-la evoluir dentro do roteiro, e o casal de amigos dela, está completamente perdido no filme, não os atores, mas as personagens, não servem para nada, absolutamente nada.
O casal de amigos de Maddie são interpretados por Scott MacArhur e Natalie Morales, ela que conheço da série 'Disque Amiga pra Matar' da Netflix. Não sei se ela estava grávida de verdade, não cheguei a pesquisar.
Ainda tivemos Ebon Moss-Bachrach como Gary, da fenomenal série da qual sou fã de carteirinha 'The Bear'.
Os pais de Percy são interpretados pelo já consagrado Matthew Broderick do clássico 'Curtindo a Vida Adoidado' e 'O Pentelho'... e Laura Benanti, que foi a mãe de Kara Danvers na série 'Supergirl' da CW (eu me surpreendi com o quanto o Matthew deu uma engordada, fazia tempo que eu não o via).
Mal dirigido não foi, mas não teve aquela inspiração para entregar um filme mais redondo, atuações mais aceitáveis, cenas mais bacanas... pra mim não teve nada demais, não foi um trabalho ruim, mas não foi nem um pouco digno de elogios.
A impressão que ficou para mim, é que as indicações que o filme teve na temporada de premiações foi mais para trazer o filme de volta aos olhos do público do que merecimento. Também acho que foi aquele famoso tapinha nas costas que a indústria tem, para agradar/ajudar Executivo de distribuidora, ou algum produtor, algum parceiro da indústria, talvez até a própria Jennifer... porque nenhuma das indicações que o filme teve eu achei válido.
No Globo de Ouro foi indicado a Melhor Atriz em Filme Comédia/Musical para Jennifer Lawrence;
No Critics Choice Awards foi indicado a Melhor Comédia;
No People's Choice Awards foi indicado a Comédia do Ano, Atriz de Comédia Favorito e Estrela de Filme Comédia do Ano, ambos para Jennifer Lawrence.
No People's Cjoice Awards eu até compro, não falo, a premisaa da premiação é ser mais popular mesmo, mais pipoca. Mas no Globo e no Critics Awards, ao meu ver, foi forçado, indicações que para mim não condizem, e serviram mais para re-promover o filme do que qualquer merecimento que ele possa ter.
É o típico besteirol americano, aqui pessoalmente, muito forçado, muito gratuito, pouco inspirado, mas confesso possui muitas cenas de fazer você fiar boquiaberto e rir em bons momentos. Não é de se jogar completamente fora, mas também entrega pouco e de forma bem superficial.
Por ter essas cena sgratuitas de nudez e situações forçadas de ejaculação precoce com falas descaracterizadas com a proposta real do longa, não chega nem ser filme de Sessão da Tarde... fica mais para Corujão;
(Assistido em 06/01/2024 - HBO MAX)
Saltburn
3.5 857Como não amar Emerald Fennell, se havia virado fã dela em seu primeiro filme (Promising Young Woman), neste segundo filme ela virou uma de minhas cineastas/roteiristas favoritas.
Essa mulher consegue entregar entretenimento puro, e sádico, que lhe faz se desconectar do mundo à sua volta por cerca de 2 horas.
Muito se anda falando de 'Saltburn' ser o filme mais polêmico do ano passado, de ter muito conteúdo erótico, de ter cenas eróticas desconfortáveis, como a cena da banheira ou a do cemitério, quando na verdade estes pontos sequer entram em debate sobre o filme. O que deve se exaltado aqui é a construção de um roteiro que lhe faz entrar em dois mundos distintos, mas que se conectam... primeiro a universidade de Oxford que Oliver Quick acaba de ingressar, mesmo que seja superficialmente aprofundado no longa, e a outra é a escandalosa mansão Saltburn.
Fennell lhe faz ingressar em mundo fora de qualquer contexto conhecido, seguindo suas próprias regras, sustentados por velhos e ultrapassados costumes, um mundo à parte que pode consumir a personalidade de pessoas que buscam algo sólido na vida... no caso de Oliver, isso engloba muito coisa.
Para mim, grande parte de 'Saltburn' se um grande filme, vem de seus personagens totalmente carismáticos, e por mais que o espectador não goste de um ou de outro, que tenha raiva de um personagem ou de outro, e que se assemelhe mais à um ou à outro... todos eles te prendem à primeira aparição na tela, e o carisma que cada um carrega faz você ficar cada vez mais envolvido com os breves momentos na universidade, ou nos acontecimentos estrondosos na Mansão Saltburn.
Não há grandes apresentações por parte de Fennell dos personagens, são inseridos de cara e conforme eles vão se performando em tela nós os conhecemos mais e mais. Óbvio que o foco do filme se dá na mansão que leva o nome do filme, mas a introdução de Fennell em Oxford, mesmo que não seje tão aprofundada em si, é o suficiente para já prender a atenção do espectador.
Não temos algo focado em aulas, professores, ou em como os acadêmicos se relacionam na universidade, sua inserção no longa cabe mais para nos dar um ponto de partida no começo de amizade entre Oliver e Felix, nos apresentar alguns coadjuvantes, em como eles se relacionam fora das horas de estudo. Como vai se criando esse laço de camaradagem entre os dois, que leva a confidências pessoais, inseguranças compartilhadas, gostos em comum e uma profunda admiração um pelo outro.
Só então temos uma transição para mansão, onde o filme praticamente muda, não da água para o vinho, mas nota-se em como o novo núcleo, que é a família excêntrica de Felix, faz o longa ter um rumo distinto do que vinha sendo construído até então.
É na família de Felix que temos boa parte do carisma dos personagens, cada um é o reflexo de uma faceta da alta sociedade moderna, ainda com adornos de costumes aristocratas que permeiam ainda no século atual.
A Mãe carente de atenção, com costumes e trejeitos superficiais que é facilmente manipulada por terceiros, dada a sua desesperada vontade de falar sobre tudo e todos a sua volta. O pai fantasioso que não enxerga o mundo a sua volta. A filha que se coloca no centro do universo, como se tudo girasse ao seu redor. O mordomo preso a etiquetas que adora essa prisão. O primo/parente parasita. E, claro Felix, o 'Bon-vivant'.
A conversa do filme é tão rica, o que se propõe a mostrar, a dizer, a moldagem de seus personagens, como se relacionam, a faceta mostrada de uma pseudo-sociedade que acha que faz mais bem do que mal, sem saber o quão age fora da realidade atual.
Tudo isso são os pilares centrais que fazem o filme de Fennell funcionar, e o erotismo incrustido nele, como o próprio adjetivo diz é só a pele que cobre o filme.
Não enxerguei nada polêmico, fora do normal, que insulte o espectador ou que cause repulsa ou nojo (a não ser os mais puritanos que vão se incomodar, ou os que não se sentem a vontade com o tema sexo).
O sexo é sujo, é safado, é picante, os atos de Oliver no filme, nas duas cenas mais 'polêmicas' não são nada demais... a primeira no meio do filme não chega a ser nada que homens e mulheres não façam durante o coito (que é mais 'sujo' que o mostrado em tela). Já no fim do filme, o ato cometido por Oliver diz muito sobre o personagem, aquele fogo preso dentro de seu corpo que nunca foi posto pra fora, sempre ficou ali, enjaulado, louco para ser colocado para fora e nunca alcançado... um ato de desespero que diz muito sobre Oliver e a forma como ele enxerga o mundo e as pessoas. Um ato que em situações trazidas pro mundo real, dentro desse desespero, seria muito bem cometido a quatro paredes em um ato solitário bem trabalhado... percebem, o quão comum são essas ações? Mas dentro desta ficção, elas são colocadas em um contexto que serve ao personagem... se elas chocam a maioria das pessoas, é porque o personagem é excêntrico, suas ações são excêntricas, seus modos são excêntricos.
E o que falar do elenco que Fennell reuniu pro filme?
Barry Keoghan (de 'Eternos' e 'Os Banshees de Inisherin') e Jacob Elordi (da xarope 'Barraca do Beijo', e o Elvis de 'Priscilla') entregaram tudo como Oliver e Felix.
Barry já dispensa comentários, pois é um ator talentosíssimo que possui muitas camadas em suas atuações, entregando personas riquíssimas para seus personagens, como visto em 'Os Banshees de Inisherin' e seu Dominic, ou seu Druig em 'Eternos'... Barry construiu um Oliver que facilmente nos encantaria, que nos conquistaria sua delicadeza, sua generosidade e seu charme, que nos enganaria facilmente, sem desconfiarmos de sua verdadeira faceta.
Já Jacob Elordi, é seu primeiro trabalho que confiro, pois 'Barraca do Beijo' não é pra mim, e eu gostei de mais de vê-lo em cena, muita desenvoltura, muito carisma, trouxe charme e descontração para seu Felix, é um deleite vê-lo em cena desde que aparece e sempre esperava por mais, e felizmente o roteiro de Fennell foi generoso com Jacob, pois seu Felix tinha muitas camadas para trabalhar e muitos caminhos a seguir no longa.
Rosamund Pike (do ótimo 'I Care A Lot' original Netflix) faz a mãe de Felix, Eslpeth, e está ótima no papel, bem diferente do que costumo ver dela, onde interpreta personagens com uma construção aprofundada que gera uma mudança em sua interpretação que a deixa irreconhecível em seus papéis. Aqui ela faz a aquela pessoa que você facilmente vai moldar as opiniões para que ela concorde com tudo que você verbaliza. E sua atuação como Eslpeth vai de acordo à essa personalidade.
O grande Richard E. Grant (de 'Loki' e do ótimo 'Todos Estão Falando Sobre Jamie'0 faz o Pai de Felix, Sir James Catton, em uma atuação que, para mim, é o crachá de apresentação de Grant... bem fantasiosa... e nisto, ele é gigante, aquela atuação beirando a canastrice, e que ganha grandiosidade na cena em que as cortinas são fechadas, quando se dirige a Farleigh.
Falando em Farleigh, ele é interpretado por Archie Madekwe (de 'Espírito Jovem' e 'Beau is Afraid), e gostei demais dele no personagem. Excêntrico na medida certa, coeso quando preciso.
Alison Oliver que faz Venetia, a irmã de Oliver é um colírio em cena, que atriz sensacional, desenvolta, o que ela brincou com sua personagem em cena foi ótimo de ver. Possui uma camada dramática misturada ao cômico, que nem todos atores conseguem balancear em cena, uns perdem o tom, outros erram o tom, mas ela faz de uma maneira muito natural.
Já Paul Rhys, faz o mordomo Duncan, sempre ótimo quando aparece em cena, ao meu ver, dava para explorá-lo mais, principalmente em cenas entre ele e Oliver.
Não posso esquecer da pobre Pamela, interpretada por Carey Mulligan, protagonista do primeiro filme de Emerald Fennell, Atriz com A maiúsculo, de quem sou fã de carteirinha desde 'Inimigos Públicos' e 'Não Me Abandone Jamais'
O que gostei muito foi da cenografia do filme, muito bem trabalhada, milimetricamente construída, toda a construção cenográfica dentro da mansão é riquíssima em detalhes, os móveis, os livros, os demais adereços de época, o pequeno labirinto, os quartos de Ollie e Felix, o banheiro polêmico com a banheira no centro.
Exalto também a cinematografia do filme, com cenas primorosas com Barry Keoghan em destaque, sendo realçado pela fotografia de Linus Sandgren em volta. são várias as cenas, na universidade, no jardim da mansão, na ponte onde jogam a pedra, na varanda onde Oliver se encontra de manhã pós festa de aniversário, na segunda cena erótica no ato final do filme... são muitas as cenas e essa cinematografia é perfeitamente enquadrada por Linus, que tem em seu trabalho os filmes 'La La Land', 'Don't Look Up' e 'Babilônia'.
Por ser fã de Oasis e do rock britânico, gostei muito da citação de Rosamund Pike ao Oasis, Blur e 'Commom People' do Pulp (hino do Britpop), música que ela atribui a composição de Jarvis Cocker a ela mesma.
Outra coisa que vou exaltar é o olhar certeiro de Emerald Fennell para a nudez artística presente no filme. É raríssimo você encontrar em filmes com teor erótico ou não, nudez masculina explícita que não seja gratuita. Algo que acontece aos montes com as mulheres, vide Margot Robbie, Jennifer Lawrence ou qualquer outra atriz onde em seus filmes temos uma nudez gratuita, que foi inserida apenas porque a atriz é atraente de corpo, até caberia no roteiro mas acaba ficando gratuito demais, e isso me incomoda muito, é como se explorassem o corpo dessas atrizes mais que famosas, sendo que o talento delas mais alto e por si só, para aparecerem de graça nuas em situações que poderiam ser melhores trabalhadas.
Fennell traz uma cena artisticamente relevante onde Barry Keoghan está completamente nu, sem pudor, com a Rola de fora, e cabe muito bem dentro do roteiro. Corajosa e visionária, está faltando muito isso dentro do mundo cinematográfico, pois está inserido socialmente que é mais bonito mostrar seios e, bunda e vagina, onde não é agressivo, visto a abundância de cenas femininas deste tipo... e as masculinas sempre são beeem dosadas, porque é feio mostrar Pinto balançando ou não... se cabe com a proposta do filme e veste o personagem, é válido, tanto para as mulheres, como para os homens. Dou meus parabéns a Emerald Fennell por enxergar isto e expressar de maneira genuína em seu filme e espero que sirva de exemplo para outros cineastas... nudez gratuita não tem graça, a artística é muito mais relevante e ovacionada.
Saltburn precisa muito ser lembrado nesta temporada de premiações, e por enquanto algumas delas fizeram suas menções:
O Globo de Ouro indicou Barry Keoghan e Rosamund Pike para Melhor Ator em filme Dramático e Melhor Atriz Coadjuvante respectivamente;
O Critics Choice Awards foi além, indicou a Melhor Filme (emoji de palmas), Fotografia e Direção de Arte;
O Satelitte Awards indicou Barry Keoghan e Rosamund Pike nas categorias já citadas e para Fotografia;
Por enquanto o BAFTA soltou seus Pré-indicados, e Emerald Fennell foi pré-indicada a Melhor Direção, Roteiro Original, Melhor Filme Britânico, Ator para Barry Keoghan, Atriz Coadjuvante para Rosamund Pike, Ator Coadjuvante para Jacob Elordi, Fotografia, Diretor de Elenco, Figurino, Edição e Trilha Sonora. Vou torcer para ganhar todas essas indicações.
Sem esquecer de mencionar a ótima trilha sonora do longa, que permeia todo o filme e principalmente os créditos finais, composto delicadamente por Anthony Willis, gosto como ele usa os violoncelos para dar uma identidade ao longa.
Fora as canções usadas no longa, como a boa cena que tem 'Time to Pretend' da dupla MGMT, e a cena final de Barry Keoghan ao som de 'Murder on The Dance Floor' que tocava exaustivamente na MTV da cantora Sophie Ellis Baxtor, que tocou no Primavera Sound em dezembro passado aqui em São Paulo. As canções do longa são todas da década de 2000, onde o filme se passa.
Pra mim, um dos grandes filmes desta temporada de premiações, está em pé de igualdade ao filme anterior de Fennell, o "Bela Vingança', no momento acho este um pouco melhor por ter saído recentemente do forno, mas os dois estão empatados no meu gosto.
Um dos melhores filmes britânicos do ano de 2023, um dos meus favoritos nesta época de premiações para levar prêmios... é aquele filme que é para ter guardado em casa em DVD ou BluRay.
(06/01/2024 - Amazon Prime)
Folhas de Outono
3.8 100Aki Kaurismäki é um diretor que já possui uma carreira longa dentro do mundo cinematográfico, e possui uma trilogia de filmes da classe trabalhadora chamado de "Protelariat", este seu novo filme, 'Folhas de Outono' é mais uma extensão destas histórias que Aki conta desde os anos 80.
Aqui ele faz a famosa trinca (que eu adoro), Dirige, Roteiriza e Produz, e traz Ansa e Holappa, duas almas solitárias da Helsinki atual, que por acaso se encontram em um Karaokê local, e surge uma aproximação entre os dois. Porém, o acaso do dia-a-dia põe em xeque o possível relacionamento dos dois, que ao mesmo tempo que não possuem nada em comum, têm muita coisa em comum.
Como nunca vi nada de Aki Kaurismäki na vida, não tinha como eu ter um vislumbre do que poderia esperar de uma experiência de acompanhar este longa, e se não me engano, é o primeiro filme finlandês que assisto. Mas é um filme gostoso, porém com um ritmo completamente diferente do que os espectadores brasileiros estão acostumados (nem vou citar espectadores de fora).
Dizer que Ansa e Holappa e seus coadjuvantes como, Huotari, Liisa, Tonja ou Raunio, possuem carisma é algo difícil de afirmar, pois os personagens são legais, nos enxergamos neles, retratam uma faceta de uma sociedade específica... mas você precisa ser um bom apreciador de filmes para gostar deles, caso contrário, não se afeiçoará aos protagonistas e dificilmente irá torcer por eles ou se relacionar com eles.
O mesmo digo sobre o ritmo do filme, ao mesmo tempo que é parado, dentro de sua limitação e de seus diálogos que são poucos, ele segue de uma forma natural, que lhe faz ficar preso à tela, para saber o que irá acontecer. Até quem não gostar do filme, vai acabar não largando-o no meio e continuará só para saber como ele acabará.
Os diálogos que citei, são poucos, os protagonistas têm uma dificuldade imensa de se expressar, a não ser quando está com pessoas próximas, as que eles vêem todos os dias (são muito parecidos comigo). Entre os dois, onde o filme é focado, o diálogo é quase nulo, pouco verbalizam. Os que esperam mais de um longa, ficaram incomodados com este andamento.
Aqui a falta de diálogo entre os protagonistas, é recompensada com os olhares, a atuação com olhos, trejeitos, cars e bocas, e os dois atores protagonistas neste quesito entregam muito bem, e para mim, é o charme do filme ver como eles se expressam com o olhar e como isso traz à tona facetas de suas personalidades... isso é um ponto alto do roteiro escrito por Kaurismäki, e também na forma como ele dirigiu seus atores para entregar isto em cena.
Os dois protagonistas atuam muito bem e possuem uma certa química em cena, o que é importante para o filme seguir um tom e um ritmo agradável. Alma Pöysti faz Ansa, e gostei demais dela no filme, ela traz uma leveza, uma inocência muito perceptível para Ansa, ao mesmo tempo que você vê uma vontade desesperadora de se entregar a vida quase explodindo dentro da personagem, querendo colocar pra fora o quanto antes.
Já Jussi Vatanen que faz Holappa é uma atuação bem distinta, mais performática, mais teatral, um bêbado que ao mesmo que não tá nem aí pra vida, tem essa sede por viver que está estampada nos seus olhos... nas palavras do próprio Holappa "Estou deprimido, por isso eu bebo, bebo porque estou deprimido, estou deprimido porque bebo", é um circulo infinito que só pode ser encerrado por um risco que penetre este circulo, e este circulo é Ansa, que muda completamente a persona de Holappa.
Os desencontros dos dois durante o filme deixa o mesmo mais charmoso, é gostoso acompanhar e se indagar se no final eles conseguiram superar essas adversidades para ver "o que rola". Porém, acho que deveríamos ter mais situações como esta, trabalhar de uma forma mais coesa, que servisse ás vontades dos protagonistas e não apenas ser um adereço do longa.
Ao mesmo tempo, temos no longa um discurso político forte, pois os acontecimentos se passam nos dias atuais, e o rádio no longa sempre está noticiando atualizações da guerra entre Rússia e Ucrânia, sem nenhuma intervenção dos protagonistas. Ou seja, não sabemos suas opiniões, suas posições, o que conversariam sobre... há apenas Ansa dizendo que "odeio a guerra". É um olhar interessante de Kaurismäki no roteiro para o filme como um todo e para os dois protagonistas, que em meio à guerra, tentam vencer suas questões internas de solidão e depressão.
Fora isso, eles vivem sendo demitidos dos empregos onde trabalham, sendo mais um olhar que Kaurismäki lança para o sistema empregatício Finlandês de baixa renda, sem direitos e sem apoio de sindicatos.
A direção de Kaurismäki é o ponto alto do longa, perfeito é a palavra que uso, não só em como ele quer que seus protagonistas e coadjuvantes transpareçam em cena, mas também em tomadas mais despretensiosas, da cidade, da rua, do horizonte, da noite, do cinema, das folhas, do parque, da chuva... é muita sensibilidade que permeia as personalidades deprimidas dos personagens, essas tomadas é como se fossem uma extensão de seus pensamentos e angústias... ou vontades.
Possui uma cinematografia bem construída e enquadrada principalmente nas cenas mais noturnas, tanto externas, como na frente do cinema, como internas dentro do Karaokê. Mas também se sobressai nas cenas ao entardecer, onde registra a cinzenta Helsinki e suas ruas e árvores que desenham a cidade. Trabalho competente do diretor de Fotografia Timo Salminen.
A trilha sonora é outro ponto forte do filme, pois no Karaokê, temos os personagens apresentando canções locais, que você nunca escutaria, afinal quem aqui vai procurar música Finlandesa para ouvir.
Seja uma canção cantada por Huotari da forma mais básica e chocha possível, ou a dupla de garotas que performam uma canção de uma forma totalmente Blasé, para um público incomum, quase blasé... é como se completassem umas as outras dentro daquele estabelecimento, preenchendo o vazio de suas vidas com bebida, música, e a companhia sem relação um dos outros.
Em Cannes, 'Folhas de Outono' foi indicado a muitos prêmios, como Interpretação Masculina e Feminina para Jussi Vatanen e Alma Pöysti, Melhor Diretor para Kaurismäki, Melhor Roteiro e os principais prêmios, Grand Prix, Prêmio do Júri e Palma de Ouro.
Sendo que levou o prêmio do Júri no Festival.
No Festival Cinema Europeu foi indicado a Melhor Filme, Melhor Diretos, Ator, Atriz e Roteiro.
No Globo de Ouro foi indicado a Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Atriz Comédia/Musical para Alma Pöysti.
No Satelitte Awards teve as mesmas indicações do Globo de Ouro.
'Folhas de Outono' é um bom filme, honesto, direto, de personalidade, que tem muito a dizer com o pouco de diálogo existente... é charmoso ao seu jeito e tem uma direção certeira de Aki Kaurismäki.
Tenho plena certeza que as pessoas que não são consumidoras de filmes aleatórios, não irão se afeiçoar com este longa, e talvez algumas delas podem gostar um pouco pelo fato de ele ser curto, pouco mais de 1h20 de duração, coisa que não fará esse espectador cansar.
Pra quem já está acostumado a acompanhar filmes estrangeiros, com outros tons e temas, encontrará uma película peculiar e sofisticada ao seu modo.
(02/01/2024 - Cine Sala)