Atlantis sempre foi uma animação que eu tinha muita expectativa, seja porque tem muitos fãs e admiradores, seja porque era um dos poucos da Walt Disney Animation Studios (dos considerados principais) que eu ainda não havia visto. Parece até que guardei este filme para ter ainda uma experiência estreante...
Não sei se foram essas altas expectativas, mas me decepcionei um pouco com a história. Achei sim a animação bem feita, com características singulares que dão ao filme uma personalidade própria, além das personagens carismáticas (como o protagonista e seus amigos). Porém, sinto que faltou algo... O filme peca na verossimilhança (também necessária mesmo nas animações), peca no estabelecimento do vilão e do perigo apresentado e cai em um grande clichê, sem nenhuma surpresa no roteiro.
No entanto, é fácil ver o porquê existe uma comunidade que o adora. A animação traz consigo uma sensação de novidade, um respiro de novos ares e um tempero de ficção científica, dando um sabor diferente aos velhos métodos e temas desenvolvidos pela Disney até então.
Uma sequência de episódios amarrados de forma mais ou menos em uma história central (outro exemplo de um filme especial de uma série animada da companhia). Repito o que disse no anterior: creio que eu teria apreciado muito mais se tivesse tido contato com a série de TV... (assisti porque estou maratonando os filmes animados da Disney/Pixar.)
Filme sutil, delicado e poderoso, com um roteiro caprichado que trata principalmente do isolamento pessoal que uma rejeição (ou algumas) pode alimentar. A atuação magistral de Paul Giamatti me surpreendeu muito, ele está ótimo no papel e realizou um trabalho fenomenal, se tornou com toda a certeza o meu favorito dentre os indicados ao Oscar de Melhor Ator. Sua personagem é um homem desagradável em vários níveis, e adorei como Giamatti monta os trejeitos e dá vida ao papel, evidenciando com detalhismo suas diversas e profundas camadas. Já Da'Vine Randolph não fica para trás e entrega uma interpretação verdadeira e tênue, que também se tornou minha favorita nas premiações. Além disso, curti muito também a montagem e a direção, achei tudo muito bem contado e muito bem filmado. =)
Gostaria de finalizar registrando um pouquinho do Oscar, que será hoje mais tarde. Nas categorias "principais" (e levando em conta que não vi The Color Purple, indicado para atriz coadjuvante) os melhores foram, na minha opinião:
- Atriz Coadjuvante: Da'vine Joy Randolph. - Ator Coadjuvante: Ryan Gosling. - Atriz: Emma Stone (e Sandra Hüller quase empatada, rs). - Ator: Paul Giamatti - Roteiro Original: Anatomia de uma Queda. - Roteiro Adaptado: Oppenheimer (e A Zona de Interesse quase empatado). - Direção: Christopher Nolan. - Melhor Filme: Oppenheimer.
Sei que Cillian Murphy e Robert Downey Jr. muito provavelmente ganharão, e realmente acho que foram atuações maravilhosas, mas a lista acima é pessoal e tem as minhas preferências. Acho Oppenheimer o longa da temporada, a melhor execução e o melhor filme como produto final, no entanto se tratando de atuações, fico com outros. Tentei ao máximo assistir aos filmes indicados às principais categorias porque gosto de acompanhar o Oscar, e acho que esse ano foi um dos que eu mais consegui assistir aos longas antes da premiação. Feliz =D
Roteiro interessante, inteligente e com um timing de comédia irônica incrível, mereceu a indicação ao Oscar. Apesar da ideia do argumento ser realmente muito boa, o desenvolvimento precisava de um pouco mais de atenção, ao meu ver. A resolução parece perdida e sem saber onde quer chegar, mesmo utilizando a metalinguagem para justificar tais defeitos. Esse recurso é usado aqui de forma avulsa e mal-ajambrada, porém honestamente não interferiu de forma negativa na minha experiência (sou muito fã de meta)!
Já as atuações são boas e os atores, muito bem escalados, mas sinceramente não vi nada que justificasse as indicações aos prêmios... fiquei esperando a "grande cena" do Sterling K. Brown e do Jeffrey Wright, no entanto elas não vieram, na minha opinião.
Um ótimo texto; uma regular execução... esperava mais!
Apesar de ter achado as atuações da Annette Bening e da Jodie Foster incríveis e com uma química impagável, não sei se minhas quintas indicações para o Oscar seriam para elas. O filme tem um roteiro interessante sobre uma figura e um feito controversos, e confesso que fiquei imerso o tempo todo, torcendo pela Nyad.
Dito isso, é inegável o bando de clichês não só no desenvolvimento do longa, como também nos diálogos, nos flashbacks e na montagem. Achei também que as cenas submersas e as do passado poderiam ter sido melhor exploradas… a obra peca na execução.
Grande atuação de Colman Domingo em um filme que objetifica o resgaste de um herói que ficou nas sombras. O longa apresenta de forma satisfatória a biografia de Rustin, curti bastante o roteiro na exposição das questões sexuais e políticas, e na organização da Marcha em si; há a construção emocional e narrativa para o grande dia... mas essa expectativa criada não se concretiza.
Sinto que a produção não queria o enfoque na marcha ou em King, mas isso se torna inevitável devido o desenvolvimento proposto, nos empolgamos com o sentimento de clímax que o movimento deveria trazer. Porém, é ali que o longa perde força, tudo pareceu rápido, sem grandes tomadas ou grandes momentos. O final, que exemplifica a humildade do homem, deixa um sentimento quase de insatisfação como um todo. =/
Apesar de não ter crescido vendo a série de TV nem ter memórias afetivas com este universo, eu lembrava vagamente das personagens e de algumas cenas deste filme (acho que assisti com o meu primo anos atrás?). O filme não tem nada de memorável, a animação não tem grande qualidade e o roteiro tropeça para caramba. Ainda assim, é um bom longa do gênero porque diverte e realmente parece capturar os sentimentos das crianças que fomos…
A continuação segue com o bom uso da metalinguagem (aqui menos orgânica, mas não menos interessante) e principalmente com o relevante timing de comédia, o qual dá uma personalidade única a toda a franquia.
O meu único ponto negativo é o desenvolvimento do roteiro; a qualidade do texto do anterior me agradou muito mais.
Esta continuação conta com duas histórias que parecem quase distintas: a de como Kronk conquistou e perdeu a casa dos sonhos, e a de como ele conquistou e perdeu a mulher dos sonhos… No final temos uma costura de todos os pontos que deixa o resultado final fragmentado, na minha opinião. Por exemplo: a vilã Yzma, personagem central na primeira parte, é esquecida totalmente na metade final do filme.
Entretanto, o longa tem grandes momentos! “Don’t cry for me Marge and Tina” é uma das melhores falas da Disney. Ponto Final. Além dessa, a sequência conta com diversas outras referências, algumas sutis e outras escancaradas, como O Senhor dos Anéis, Titanic, Michael Jackson, etc… :)
Não sei o porquê demorei tanto para ver esse filme, creio que nunca o havia assistido inteiro. Tem um trabalho de voz incrível, um protagonista carismático de caráter dúbio que aprende uma lição valiosa (sem forçar a barra na moral final), uma vilã e seu capanga fascinantes, um uso da metalinguagem de uma forma bem interessante e, principalmente, um texto de comédia sensacional... um dos melhores do estúdio, sem tirar nem por! =D
O filme é uma antologia de curtas que já existiam, e destaco dois: a adaptação do Quebra-Nozes, que tem temperos de metalinguagem, e a adaptação do livro Um Conto de Natal, de Charles Dickens, publicado originalmente em 1843. Li esse livro no ano passado em uma edição que continha um texto de apoio que discorria justamente sobre as diversas adaptações da história, incluindo essa versão clássica da Disney. O Tio Patinhas em inglês se chama Uncle Scrooge, batizado precisamente em homenagem ao livro do Dickens. É inegável que a genialidade do curta animado deve muito ao texto de base.
Além disso, sempre há uma espécie de catarse em ver personagens clássicos da Disney reunidos em uma só cena... onde mais veríamos o Leitão e a Malévola juntos em um mesmo ambiente?
Animação 2D lindona (MUITO melhor do que aquele 3D horrível do Aconteceu de Novo no Natal do Mickey), personagens carismáticas, roteiro excelente e que cumpre seu papel (levando em conta o público mais jovem que o usual da Disney, talvez)… mas, o que mais me surpreendeu positivamente foram as versões cantadas de músicas clássicas, que funcionam muito bem… o que mais posso pedir?
Filme incrível em diversos aspectos: roteiro interessante, tecnicamente bem executado, tomadas criativas "scorsesianas", fotografia bonita e, por fim, atuações que roubam o filme todo, ao meu ver.
DiCaprio e De Niro estão ótimos, entretanto o destaque é para Gladstone, a qual tem em mãos um papel trágico que poderia ser interpretado de diversas maneiras. A escolha, acertadamente, foi de ir na contramão do overacting (que eu costumo gostar, quando bem indicado). Com muito dedo da direção, creio eu, a atriz entrega uma atuação aparentemente paradoxal: comedida e expressiva, delicada e intensa, com poucas palavras e muitos olhares... fenomenal! (Falando em Oscar, ainda que eu torça para Emma/Sandra, não acharia incoerente o prêmio para Lily.)
Apesar de um filme espetacular, é inegável que ele não só poderia como deveria ter 1 hora a menos. O ritmo desliza (como na maioria dos filmes do diretor), subtraindo uma parcela importante do resultado final, e deixando em mim uma sensação de "quase lá" ou de "quase foi dessa vez"... =/
Achei o filme bem inferior ao primeiro, tanto em técnica quanto em qualidade do texto. Não sou hater das animações 3D, mas é inegável que aqui perdemos muito em beleza e magia, se compararmos com o anterior… a animação aqui é 100% sem graça.
Talvez a história que mais marca é a primeira, em que vemos uma competição entre Minnie e Margarida pelo destaque da patinação no gelo, com a pata sendo quase uma vilã; ou a que o Max leva uma namorada para passar o Natal com a família; ou a que o Donald tem um ataque de pânico com a sobrecarga imensa do espírito natalino, o que pode acontecer com qualquer um de nós, às vezes… =/
“You dream in a language I can’t understand.” “I liked you for who you are; and who you are is a person who leaves. But for him, you’re the person who stays.” “What if this is a past life as well, and we are already something else to each other in our next life? Who do you think we are then?”
Intimista e com diálogos lindos, Vidas Passadas traz o já batido triângulo amoroso, dessa vez mais realista e profundo. A cena chave na minha opinião é o pillowtalk entre Nora e Arthur, dando uma dimensão importante e bem mais tridimensional para toda a questão.
Apesar de eu achar que o filme sofre um pouco com o ritmo, ele questiona delicadamente sobre o famoso “e se”, de uma forma muito mais palatável e com desfechos mais concretos do que vemos por aí. É sobre entender que às vezes as possibilidades que ontem se apresentavam, hoje não nos pertencem e/ou não nos representam mais…
Três histórias separadas que conseguem criar muito bem um clima natalino infantil. Apesar de destinado a um público até mais jovem do que o usual da Disney, o texto não os subestima.
A segunda história foi a que eu menos gostei, não consigo comprar muito o quão pateta o Pateta realmente é (rs), mas serve ao seu propósito. Já as outras surpreenderam muito pelas inspirações: a primeira é uma representação do inferno da repetição; a terceira é uma inspiração livre do conto O Presente dos Magos, do O. Henry, o que foi uma surpresa agradável.
Todos têm aquela mensagem bonita sobre o "verdadeiro Natal", tão bem proveitosa para os pequenos - e para os não tão pequenos assim - se tornando facilmente aquele filme-referência para as crianças nas manhãs de Natal. :)
Justine Triet argumenta, ao meu ver, quanta subjetividade cabe na objetividade (e vice-versa). Para atingir tal efeito, ela lança mão de diversos artifícios, que resumi em três pilares.
O primeiro é a cinematografia, com destaques para as locações, as tomadas quase estéreis, o trabalho de câmera e o uso da iluminação (valorizando demais o claro/escuro).
O segundo é o trabalho fenomenal da Sandra Hüler, a qual compreende a importância em se provar não somente para o tribunal, mas principalmente para o expectador, em um filme cuja discussão basal é justamente a subjetividade do discurso. Eu iniciei o longa já teimando que seria muito difícil ela ganhar meu favoritismo para o Oscar, que até então era da Emma Stone em Pobres Criaturas. Entretanto, quebrei a cara e me peguei dividido já no meio do filme... que aula de interpretação!
(Apesar das categorias de atuação serem as que eu mais gosto de acompanhar, realmente estou encantado com as duas interpretações, e acho que vai levar bastante tempo até ambas se solidificarem em mim e eu decidir minha preferência.)
O terceiro pilar (o principal) é a combinação de um roteiro poderoso e uma direção afiada, os quais coadunam e conversam constantemente com o mesmo argumento, dando a obra uma coerência inabalável e uma linha narrativa sólida. O que mais me chama a atenção no texto é a fragilidade do discurso, é a busca de uma racionalidade em situações onde o abstrato mora (o desafio de todos os dias do sistema judiciário, talvez). Ao mesmo tempo que o filme relativiza o que tenta ser absoluto, não há a exclusão da necessidade desse absoluto, há também a busca pela Verdade e pela Justiça.
Me peguei torcendo e convencido pela personagem da Sandra, agoniado pela tentativa, aos meus olhos, de distorção de seu discurso para os moldes da promotoria. O porquê fui convencido é evidente, acompanhamos o filme sob a perspectiva da protagonista. Porém, ao refletir sobre, tudo o que é opinião, tudo o que é subjetivo, tudo o que é questionável dentro do caso não é mostrado ao expectador, o que alimenta demais o mote do roteiro e enriquece a discussão. Na cena durante o julgamento, por exemplo, em que ouvimos a última briga do casal, entramos na cena e temos um relato visual objetivo do que todos estavam escutando; a partir do momento em que o som torna-se subjetivo, há um corte e estamos de volta ao tribunal, com apenas nossa audição como júri...
Talvez o único deslize seja as poucas quebras para a construção de um impacto, quem sabe alguns minutos a menos beneficiaria o resultado final. Todavia, em minha análise nada concreta, quase todos os possíveis defeitos são eclipsados pelo brilhantismo e impecabilidade na composição roteiro-direção. =)
Apesar de Phil Collins participar desta continuação, o impacto e efeito das músicas não satisfaz devido a um roteiro perdido, com um desenvolvimento sem graça e coadjuvantes que não agradam.
Além disso, esta é uma sequência que não acrescenta nada à história. O drama sobre identidade e pertencimento já é bem desenvolvido em Tarzan, e se a ideia aqui era explorar melhor essa fase de sua vida quando criança, o resultado não funciona, tudo parece muito aquém do material original.
O ponto positivo é somente a qualidade técnica da animação, que é bem melhor do que Tarzan & Jane, por exemplo.
Foi difícil chegar ao final, só consegui porque estou seguindo um projeto de assistir todos. Animação muito mal feita, roteiro constrangedor, personagens planas, sem nenhuma das qualidades do primeiro... É tão ruim que chega a dar pena... =/
Todo o primeiro ato da animação é esplêndido. O contraponto das famílias humana e gorila, a Kala perdendo seu filhote e posteriormente adotando Tarzan, a luta dela com a onça, a música ganhadora do Oscar You'll Be in My Heart... tudo aqui é incrível, uma das melhores introduções da Disney. De pronto contemplamos uma animação muito bem feita e com traços marcantes, sinto que aqui a Disney deu um passo a mais em sua técnica.
Pertencimento é um dos desejos clichês de muitos protagonistas que vemos por aí, mas aqui é feito com tantas nuances e executado de uma forma tão especial, que a obviedade do desfecho da narrativa não incomoda.
Desde o começo sabemos que Tarzan irá tentar se provar a todo custo, sabemos que a discussão de identidade será o ponto chave do filme, sabemos também que ele conquistará o respeito de todos e que no final haverá uma cena dele sendo aceito pelo pai. No entanto, saber os traços do desenvolvimento e resolução não apaga de maneira nenhuma o brilho do filme. A cena dele passando lama no rosto e Kala apontando suas semelhanças, não diferenças, emociona; a cena dele finalmente sendo aceito (inclusive por Kerchak) quando mata o leopardo e solta o grito pela primeira vez, arrepia.
Um dos pilares deste filme é, com toda a certeza, a relação Tarzan-Kala e o tema da adoção, muito bem realizado pelo roteiro. Outro pilar importante é o romance entre Tarzan e Jane, sendo inegável a química maravilhosa do casal desde a primeira cena (em se tratando de animação, acredito que ela é construída pela dublagem, desenho e, principalmente, pelo roteiro). E o último pilar que eu queria destacar são as músicas, que funcionam, marcam o expectador e dão ao filme a personalidade tão distinta que tem.
Como dito no meu comentário da animação que embasa este filme, os seus pontos mais fortes são a beleza de alguns cenários, as músicas, e principalmente a relação de Mulan com os coadjuvantes (especialmente Mushu). Neste live action, não temos o musical, temos uma cinematografia estranha (para falar o mínimo), não temos o carisma dos coadjuvantes e, talvez a pior perda, não temos Mushu (nem Eddie Murphy).
Se, para justificarmos a ausência da personagem, usarmos como argumento o objetivo mais realista do filme, o que alegadamente não sustentaria a presença do Mushu, estaríamos sendo incoerentes, porque a existência de uma vilã metamorfa, a qual usa e abusa da fantasia, entra diretamente em conflito com essa ideia. Ademais, uma mulher guerreira naquela sociedade patriarcal era chamada de bruxa, como Mulan foi acusada de ser, então sinto que colocar a única outra mulher guerreira com poderes sobrenaturais foi uma decisão que enfraquece demais o argumento.
Também comentei acima que a cinematografia não me agradou. Os cortes são abruptos, a montagem é toda fragmentada e nada encaixa muito bem, a coreografia das cenas de ação deixa muito a desejar, as transições da shapeshifter são constrangedoras, etc. (Sem falar naquela lace horrível do pai da Mulan…)
Um ponto positivo do live-action, e que eu pontuei como negativo na animação, foi que aqui somos muito mais convencidos do poder físico da protagonista. É sinalizado que ela já treinava antes, o que torna mais crível a sua evolução junto com a guarda imperial. Já o romance, por outro lado, não convence. A atuação da Liu Yifei é irregular, mas sinto que muito mais pelo roteiro do que pela atriz.
Uma das discussões mais antigas sobre esses novos live-actions da Disney é a proposta criativa, se uma mais fiel a animação, uma realista ou uma mista. Sinto que aqui essa escolha mista foi acertada, porém invertida. De onde veio a decisão de retirar Mushu, por exemplo, e de criar uma vilã-feiticeira? Este é mais um live-action perdido em seu argumento e desequilibrado quanto ao que contar, o que manter do original, o que criar de novo, perdido em decidir qual a identidade da história original. No final das contas, quem perde é o expectador.
As luzes do cinema se acenderam e o meu queixo caiu. O silêncio sepulcral já dizia tudo. A sensação foi termos sido coniventes com a barbárie apresentada. Isto aqui é cinema com primor.
O expectador acompanha com intimidade o status-quo da vida tradicional-nazista de uma "família feliz", que divide um muro com o campo de Auschwitz. O primeiro choque, dentre muitos, foi perceber que eles não eram alienados nem ignorantes quanto a realidade. Aqui temos um paradoxo importante, mesmo não tendo grandes cenas explícitas, fica evidente o que está acontecendo. Os contrapontos montados em uma mesma cena foram muito bem executados, sempre pontuando ao fundo sons de tiros e gritos ao longe, o barulho das câmaras de gás, a fumaça nas chaminés... nos lembrando a todo momento que aquela vida era sustentada e embasada por um genocídio.
A pegada do filme todo é com um ritmo mais lento, o que costuma me agradar quando bem executado. Infelizmente, aqui me senti um pouco incomodado lá pelas tantas. A despeito disso, manteve o interesse o filme todo, com uma fotografia, som e atuações incríveis. Christian Friedel está muito bem como comandante, mas o destaque é para o trabalho impecável da Sandra Hüller (ainda não vi Anatomia de uma Queda para poder comparar).
Entretanto, foi no final que a história ganhou MUITO mais peso cinematográfico para mim.
Durante o filme todo o comandante tenta lidar com o claro/escuro, com diversas cenas dele apagando as luzes e evitando a escuridão, até mesmo em seu quarto com a esposa. Nas cenas finais, enquanto ele desce por um corredor cada vez mais sombrio, passando mal e lidando com seus fantasmas, a personagem tem um vislumbre do que o seu legado vergonhoso e criminoso seria. A volta para a realidade seguida do corte seco final me arrepiaram, e só essa montagem já valeu toda a experiência.
Esta é uma das sequências Disney mais bem produzidas que assisti até aqui. A qualidade da animação ainda sustenta o filme e, ao contrário de várias outras continuações como esta, as personagens aqui não se tornam irreconhecíveis. Um ponto acertado é a presença dos bons coadjuvantes, que dão mais peso e poder ao filme.
Porém, achei a história em si bem inferior a primeira (é impossível não compararmos porque é uma continuação), além de que fica um gosto amargo assistirmos a personagem mais lembrada do primeiro - Mushu - como o real vilão aqui. Apesar disso, e de sentir falta de Murphy, achei a substituição do ator que o dublou bem decente. :)
Atlantis: O Reino Perdido
3.5 252 Assista AgoraAtlantis sempre foi uma animação que eu tinha muita expectativa, seja porque tem muitos fãs e admiradores, seja porque era um dos poucos da Walt Disney Animation Studios (dos considerados principais) que eu ainda não havia visto. Parece até que guardei este filme para ter ainda uma experiência estreante...
Não sei se foram essas altas expectativas, mas me decepcionei um pouco com a história. Achei sim a animação bem feita, com características singulares que dão ao filme uma personalidade própria, além das personagens carismáticas (como o protagonista e seus amigos). Porém, sinto que faltou algo... O filme peca na verossimilhança (também necessária mesmo nas animações), peca no estabelecimento do vilão e do perigo apresentado e cai em um grande clichê, sem nenhuma surpresa no roteiro.
No entanto, é fácil ver o porquê existe uma comunidade que o adora. A animação traz consigo uma sensação de novidade, um respiro de novos ares e um tempero de ficção científica, dando um sabor diferente aos velhos métodos e temas desenvolvidos pela Disney até então.
A Hora do Recreio: Novas Aventuras na Quinta Série
3.5 6Uma sequência de episódios amarrados de forma mais ou menos em uma história central (outro exemplo de um filme especial de uma série animada da companhia). Repito o que disse no anterior: creio que eu teria apreciado muito mais se tivesse tido contato com a série de TV... (assisti porque estou maratonando os filmes animados da Disney/Pixar.)
O Mundo Depois de Nós
3.2 899 Assista AgoraTema interessante... e só. Com um péssimo roteiro, desenvolvimento e montagem, o filme tenta se sustentar nos ótimos atores, mas não consegue...
... pelo menos ela viu o final de Friends, ne?
Os Rejeitados
4.0 321 Assista AgoraFilme sutil, delicado e poderoso, com um roteiro caprichado que trata principalmente do isolamento pessoal que uma rejeição (ou algumas) pode alimentar. A atuação magistral de Paul Giamatti me surpreendeu muito, ele está ótimo no papel e realizou um trabalho fenomenal, se tornou com toda a certeza o meu favorito dentre os indicados ao Oscar de Melhor Ator. Sua personagem é um homem desagradável em vários níveis, e adorei como Giamatti monta os trejeitos e dá vida ao papel, evidenciando com detalhismo suas diversas e profundas camadas. Já Da'Vine Randolph não fica para trás e entrega uma interpretação verdadeira e tênue, que também se tornou minha favorita nas premiações. Além disso, curti muito também a montagem e a direção, achei tudo muito bem contado e muito bem filmado. =)
----------------------------------------------------------------------------
Gostaria de finalizar registrando um pouquinho do Oscar, que será hoje mais tarde. Nas categorias "principais" (e levando em conta que não vi The Color Purple, indicado para atriz coadjuvante) os melhores foram, na minha opinião:
- Atriz Coadjuvante: Da'vine Joy Randolph.
- Ator Coadjuvante: Ryan Gosling.
- Atriz: Emma Stone (e Sandra Hüller quase empatada, rs).
- Ator: Paul Giamatti
- Roteiro Original: Anatomia de uma Queda.
- Roteiro Adaptado: Oppenheimer (e A Zona de Interesse quase empatado).
- Direção: Christopher Nolan.
- Melhor Filme: Oppenheimer.
Sei que Cillian Murphy e Robert Downey Jr. muito provavelmente ganharão, e realmente acho que foram atuações maravilhosas, mas a lista acima é pessoal e tem as minhas preferências. Acho Oppenheimer o longa da temporada, a melhor execução e o melhor filme como produto final, no entanto se tratando de atuações, fico com outros. Tentei ao máximo assistir aos filmes indicados às principais categorias porque gosto de acompanhar o Oscar, e acho que esse ano foi um dos que eu mais consegui assistir aos longas antes da premiação. Feliz =D
Ficção Americana
3.8 383 Assista AgoraRoteiro interessante, inteligente e com um timing de comédia irônica incrível, mereceu a indicação ao Oscar. Apesar da ideia do argumento ser realmente muito boa, o desenvolvimento precisava de um pouco mais de atenção, ao meu ver. A resolução parece perdida e sem saber onde quer chegar, mesmo utilizando a metalinguagem para justificar tais defeitos. Esse recurso é usado aqui de forma avulsa e mal-ajambrada, porém honestamente não interferiu de forma negativa na minha experiência (sou muito fã de meta)!
Já as atuações são boas e os atores, muito bem escalados, mas sinceramente não vi nada que justificasse as indicações aos prêmios... fiquei esperando a "grande cena" do Sterling K. Brown e do Jeffrey Wright, no entanto elas não vieram, na minha opinião.
Um ótimo texto; uma regular execução... esperava mais!
Hora do Recreio: O Inicio de Tudo
3.5 5Creio que eu teria apreciado muito mais se tivesse tido contato com a série de TV... achei bem meia boca. =/
NYAD
3.7 156Apesar de ter achado as atuações da Annette Bening e da Jodie Foster incríveis e com uma química impagável, não sei se minhas quintas indicações para o Oscar seriam para elas. O filme tem um roteiro interessante sobre uma figura e um feito controversos, e confesso que fiquei imerso o tempo todo, torcendo pela Nyad.
Dito isso, é inegável o bando de clichês não só no desenvolvimento do longa, como também nos diálogos, nos flashbacks e na montagem. Achei também que as cenas submersas e as do passado poderiam ter sido melhor exploradas… a obra peca na execução.
Rustin
3.3 81 Assista AgoraGrande atuação de Colman Domingo em um filme que objetifica o resgaste de um herói que ficou nas sombras. O longa apresenta de forma satisfatória a biografia de Rustin, curti bastante o roteiro na exposição das questões sexuais e políticas, e na organização da Marcha em si; há a construção emocional e narrativa para o grande dia... mas essa expectativa criada não se concretiza.
Sinto que a produção não queria o enfoque na marcha ou em King, mas isso se torna inevitável devido o desenvolvimento proposto, nos empolgamos com o sentimento de clímax que o movimento deveria trazer. Porém, é ali que o longa perde força, tudo pareceu rápido, sem grandes tomadas ou grandes momentos. O final, que exemplifica a humildade do homem, deixa um sentimento quase de insatisfação como um todo. =/
A Hora do Recreio: Salvando O Mundo
3.4 96 Assista AgoraApesar de não ter crescido vendo a série de TV nem ter memórias afetivas com este universo, eu lembrava vagamente das personagens e de algumas cenas deste filme (acho que assisti com o meu primo anos atrás?). O filme não tem nada de memorável, a animação não tem grande qualidade e o roteiro tropeça para caramba. Ainda assim, é um bom longa do gênero porque diverte e realmente parece capturar os sentimentos das crianças que fomos…
A Nova Onda do Kronk
3.3 98 Assista AgoraA continuação segue com o bom uso da metalinguagem (aqui menos orgânica, mas não menos interessante) e principalmente com o relevante timing de comédia, o qual dá uma personalidade única a toda a franquia.
O meu único ponto negativo é o desenvolvimento do roteiro; a qualidade do texto do anterior me agradou muito mais.
Esta continuação conta com duas histórias que parecem quase distintas: a de como Kronk conquistou e perdeu a casa dos sonhos, e a de como ele conquistou e perdeu a mulher dos sonhos… No final temos uma costura de todos os pontos que deixa o resultado final fragmentado, na minha opinião. Por exemplo: a vilã Yzma, personagem central na primeira parte, é esquecida totalmente na metade final do filme.
Entretanto, o longa tem grandes momentos! “Don’t cry for me Marge and Tina” é uma das melhores falas da Disney. Ponto Final. Além dessa, a sequência conta com diversas outras referências, algumas sutis e outras escancaradas, como O Senhor dos Anéis, Titanic, Michael Jackson, etc… :)
A Nova Onda do Imperador
3.7 686 Assista AgoraNão sei o porquê demorei tanto para ver esse filme, creio que nunca o havia assistido inteiro. Tem um trabalho de voz incrível, um protagonista carismático de caráter dúbio que aprende uma lição valiosa (sem forçar a barra na moral final), uma vilã e seu capanga fascinantes, um uso da metalinguagem de uma forma bem interessante e, principalmente, um texto de comédia sensacional... um dos melhores do estúdio, sem tirar nem por! =D
O Natal Mágico do Mickey - Nevou na Casa do …
3.3 8O filme é uma antologia de curtas que já existiam, e destaco dois: a adaptação do Quebra-Nozes, que tem temperos de metalinguagem, e a adaptação do livro Um Conto de Natal, de Charles Dickens, publicado originalmente em 1843. Li esse livro no ano passado em uma edição que continha um texto de apoio que discorria justamente sobre as diversas adaptações da história, incluindo essa versão clássica da Disney. O Tio Patinhas em inglês se chama Uncle Scrooge, batizado precisamente em homenagem ao livro do Dickens. É inegável que a genialidade do curta animado deve muito ao texto de base.
Além disso, sempre há uma espécie de catarse em ver personagens clássicos da Disney reunidos em uma só cena... onde mais veríamos o Leitão e a Malévola juntos em um mesmo ambiente?
Mickey, Donald e Pateta: Os Três Mosqueteiros
3.2 45 Assista AgoraO melhor longa do Mickey desde Fantasia?
Animação 2D lindona (MUITO melhor do que aquele 3D horrível do Aconteceu de Novo no Natal do Mickey), personagens carismáticas, roteiro excelente e que cumpre seu papel (levando em conta o público mais jovem que o usual da Disney, talvez)… mas, o que mais me surpreendeu positivamente foram as versões cantadas de músicas clássicas, que funcionam muito bem… o que mais posso pedir?
Instantaneamente um clássico Disney. =)
Assassinos da Lua das Flores
4.1 615 Assista AgoraFilme incrível em diversos aspectos: roteiro interessante, tecnicamente bem executado, tomadas criativas "scorsesianas", fotografia bonita e, por fim, atuações que roubam o filme todo, ao meu ver.
DiCaprio e De Niro estão ótimos, entretanto o destaque é para Gladstone, a qual tem em mãos um papel trágico que poderia ser interpretado de diversas maneiras. A escolha, acertadamente, foi de ir na contramão do overacting (que eu costumo gostar, quando bem indicado). Com muito dedo da direção, creio eu, a atriz entrega uma atuação aparentemente paradoxal: comedida e expressiva, delicada e intensa, com poucas palavras e muitos olhares... fenomenal! (Falando em Oscar, ainda que eu torça para Emma/Sandra, não acharia incoerente o prêmio para Lily.)
Apesar de um filme espetacular, é inegável que ele não só poderia como deveria ter 1 hora a menos. O ritmo desliza (como na maioria dos filmes do diretor), subtraindo uma parcela importante do resultado final, e deixando em mim uma sensação de "quase lá" ou de "quase foi dessa vez"... =/
Aconteceu de Novo no Natal do Mickey
3.3 17Achei o filme bem inferior ao primeiro, tanto em técnica quanto em qualidade do texto. Não sou hater das animações 3D, mas é inegável que aqui perdemos muito em beleza e magia, se compararmos com o anterior… a animação aqui é 100% sem graça.
Talvez a história que mais marca é a primeira, em que vemos uma competição entre Minnie e Margarida pelo destaque da patinação no gelo, com a pata sendo quase uma vilã; ou a que o Max leva uma namorada para passar o Natal com a família; ou a que o Donald tem um ataque de pânico com a sobrecarga imensa do espírito natalino, o que pode acontecer com qualquer um de nós, às vezes… =/
Vidas Passadas
4.2 769 Assista Agora“You dream in a language I can’t understand.”
“I liked you for who you are; and who you are is a person who leaves. But for him, you’re the person who stays.”
“What if this is a past life as well, and we are already something else to each other in our next life? Who do you think we are then?”
Intimista e com diálogos lindos, Vidas Passadas traz o já batido triângulo amoroso, dessa vez mais realista e profundo. A cena chave na minha opinião é o pillowtalk entre Nora e Arthur, dando uma dimensão importante e bem mais tridimensional para toda a questão.
Apesar de eu achar que o filme sofre um pouco com o ritmo, ele questiona delicadamente sobre o famoso “e se”, de uma forma muito mais palatável e com desfechos mais concretos do que vemos por aí. É sobre entender que às vezes as possibilidades que ontem se apresentavam, hoje não nos pertencem e/ou não nos representam mais…
Aconteceu no Natal do Mickey
3.6 34 Assista AgoraTrês histórias separadas que conseguem criar muito bem um clima natalino infantil. Apesar de destinado a um público até mais jovem do que o usual da Disney, o texto não os subestima.
A segunda história foi a que eu menos gostei, não consigo comprar muito o quão pateta o Pateta realmente é (rs), mas serve ao seu propósito. Já as outras surpreenderam muito pelas inspirações: a primeira é uma representação do inferno da repetição; a terceira é uma inspiração livre do conto O Presente dos Magos, do O. Henry, o que foi uma surpresa agradável.
Todos têm aquela mensagem bonita sobre o "verdadeiro Natal", tão bem proveitosa para os pequenos - e para os não tão pequenos assim - se tornando facilmente aquele filme-referência para as crianças nas manhãs de Natal. :)
Anatomia de uma Queda
4.0 822 Assista AgoraJustine Triet argumenta, ao meu ver, quanta subjetividade cabe na objetividade (e vice-versa). Para atingir tal efeito, ela lança mão de diversos artifícios, que resumi em três pilares.
O primeiro é a cinematografia, com destaques para as locações, as tomadas quase estéreis, o trabalho de câmera e o uso da iluminação (valorizando demais o claro/escuro).
O segundo é o trabalho fenomenal da Sandra Hüler, a qual compreende a importância em se provar não somente para o tribunal, mas principalmente para o expectador, em um filme cuja discussão basal é justamente a subjetividade do discurso. Eu iniciei o longa já teimando que seria muito difícil ela ganhar meu favoritismo para o Oscar, que até então era da Emma Stone em Pobres Criaturas. Entretanto, quebrei a cara e me peguei dividido já no meio do filme... que aula de interpretação!
(Apesar das categorias de atuação serem as que eu mais gosto de acompanhar, realmente estou encantado com as duas interpretações, e acho que vai levar bastante tempo até ambas se solidificarem em mim e eu decidir minha preferência.)
O terceiro pilar (o principal) é a combinação de um roteiro poderoso e uma direção afiada, os quais coadunam e conversam constantemente com o mesmo argumento, dando a obra uma coerência inabalável e uma linha narrativa sólida. O que mais me chama a atenção no texto é a fragilidade do discurso, é a busca de uma racionalidade em situações onde o abstrato mora (o desafio de todos os dias do sistema judiciário, talvez). Ao mesmo tempo que o filme relativiza o que tenta ser absoluto, não há a exclusão da necessidade desse absoluto, há também a busca pela Verdade e pela Justiça.
Me peguei torcendo e convencido pela personagem da Sandra, agoniado pela tentativa, aos meus olhos, de distorção de seu discurso para os moldes da promotoria. O porquê fui convencido é evidente, acompanhamos o filme sob a perspectiva da protagonista. Porém, ao refletir sobre, tudo o que é opinião, tudo o que é subjetivo, tudo o que é questionável dentro do caso não é mostrado ao expectador, o que alimenta demais o mote do roteiro e enriquece a discussão. Na cena durante o julgamento, por exemplo, em que ouvimos a última briga do casal, entramos na cena e temos um relato visual objetivo do que todos estavam escutando; a partir do momento em que o som torna-se subjetivo, há um corte e estamos de volta ao tribunal, com apenas nossa audição como júri...
Talvez o único deslize seja as poucas quebras para a construção de um impacto, quem sabe alguns minutos a menos beneficiaria o resultado final. Todavia, em minha análise nada concreta, quase todos os possíveis defeitos são eclipsados pelo brilhantismo e impecabilidade na composição roteiro-direção. =)
Tarzan 2: A Lenda Continua
2.9 51 Assista AgoraApesar de Phil Collins participar desta continuação, o impacto e efeito das músicas não satisfaz devido a um roteiro perdido, com um desenvolvimento sem graça e coadjuvantes que não agradam.
Além disso, esta é uma sequência que não acrescenta nada à história. O drama sobre identidade e pertencimento já é bem desenvolvido em Tarzan, e se a ideia aqui era explorar melhor essa fase de sua vida quando criança, o resultado não funciona, tudo parece muito aquém do material original.
O ponto positivo é somente a qualidade técnica da animação, que é bem melhor do que Tarzan & Jane, por exemplo.
Tarzan & Jane
3.0 69 Assista AgoraFoi difícil chegar ao final, só consegui porque estou seguindo um projeto de assistir todos. Animação muito mal feita, roteiro constrangedor, personagens planas, sem nenhuma das qualidades do primeiro... É tão ruim que chega a dar pena... =/
Tarzan
3.8 725 Assista AgoraApós ver mais uma vez, apenas me foi confirmado o quanto este filme é um clássico fora da curva.
Todo o primeiro ato da animação é esplêndido. O contraponto das famílias humana e gorila, a Kala perdendo seu filhote e posteriormente adotando Tarzan, a luta dela com a onça, a música ganhadora do Oscar You'll Be in My Heart... tudo aqui é incrível, uma das melhores introduções da Disney. De pronto contemplamos uma animação muito bem feita e com traços marcantes, sinto que aqui a Disney deu um passo a mais em sua técnica.
Pertencimento é um dos desejos clichês de muitos protagonistas que vemos por aí, mas aqui é feito com tantas nuances e executado de uma forma tão especial, que a obviedade do desfecho da narrativa não incomoda.
Desde o começo sabemos que Tarzan irá tentar se provar a todo custo, sabemos que a discussão de identidade será o ponto chave do filme, sabemos também que ele conquistará o respeito de todos e que no final haverá uma cena dele sendo aceito pelo pai. No entanto, saber os traços do desenvolvimento e resolução não apaga de maneira nenhuma o brilho do filme. A cena dele passando lama no rosto e Kala apontando suas semelhanças, não diferenças, emociona; a cena dele finalmente sendo aceito (inclusive por Kerchak) quando mata o leopardo e solta o grito pela primeira vez, arrepia.
Um dos pilares deste filme é, com toda a certeza, a relação Tarzan-Kala e o tema da adoção, muito bem realizado pelo roteiro. Outro pilar importante é o romance entre Tarzan e Jane, sendo inegável a química maravilhosa do casal desde a primeira cena (em se tratando de animação, acredito que ela é construída pela dublagem, desenho e, principalmente, pelo roteiro). E o último pilar que eu queria destacar são as músicas, que funcionam, marcam o expectador e dão ao filme a personalidade tão distinta que tem.
Mulan
3.2 1,0K Assista AgoraComo dito no meu comentário da animação que embasa este filme, os seus pontos mais fortes são a beleza de alguns cenários, as músicas, e principalmente a relação de Mulan com os coadjuvantes (especialmente Mushu). Neste live action, não temos o musical, temos uma cinematografia estranha (para falar o mínimo), não temos o carisma dos coadjuvantes e, talvez a pior perda, não temos Mushu (nem Eddie Murphy).
Se, para justificarmos a ausência da personagem, usarmos como argumento o objetivo mais realista do filme, o que alegadamente não sustentaria a presença do Mushu, estaríamos sendo incoerentes, porque a existência de uma vilã metamorfa, a qual usa e abusa da fantasia, entra diretamente em conflito com essa ideia. Ademais, uma mulher guerreira naquela sociedade patriarcal era chamada de bruxa, como Mulan foi acusada de ser, então sinto que colocar a única outra mulher guerreira com poderes sobrenaturais foi uma decisão que enfraquece demais o argumento.
Também comentei acima que a cinematografia não me agradou. Os cortes são abruptos, a montagem é toda fragmentada e nada encaixa muito bem, a coreografia das cenas de ação deixa muito a desejar, as transições da shapeshifter são constrangedoras, etc. (Sem falar naquela lace horrível do pai da Mulan…)
Um ponto positivo do live-action, e que eu pontuei como negativo na animação, foi que aqui somos muito mais convencidos do poder físico da protagonista. É sinalizado que ela já treinava antes, o que torna mais crível a sua evolução junto com a guarda imperial. Já o romance, por outro lado, não convence. A atuação da Liu Yifei é irregular, mas sinto que muito mais pelo roteiro do que pela atriz.
Uma das discussões mais antigas sobre esses novos live-actions da Disney é a proposta criativa, se uma mais fiel a animação, uma realista ou uma mista. Sinto que aqui essa escolha mista foi acertada, porém invertida. De onde veio a decisão de retirar Mushu, por exemplo, e de criar uma vilã-feiticeira? Este é mais um live-action perdido em seu argumento e desequilibrado quanto ao que contar, o que manter do original, o que criar de novo, perdido em decidir qual a identidade da história original. No final das contas, quem perde é o expectador.
Zona de Interesse
3.6 603 Assista AgoraAs luzes do cinema se acenderam e o meu queixo caiu. O silêncio sepulcral já dizia tudo. A sensação foi termos sido coniventes com a barbárie apresentada. Isto aqui é cinema com primor.
O expectador acompanha com intimidade o status-quo da vida tradicional-nazista de uma "família feliz", que divide um muro com o campo de Auschwitz. O primeiro choque, dentre muitos, foi perceber que eles não eram alienados nem ignorantes quanto a realidade. Aqui temos um paradoxo importante, mesmo não tendo grandes cenas explícitas, fica evidente o que está acontecendo. Os contrapontos montados em uma mesma cena foram muito bem executados, sempre pontuando ao fundo sons de tiros e gritos ao longe, o barulho das câmaras de gás, a fumaça nas chaminés... nos lembrando a todo momento que aquela vida era sustentada e embasada por um genocídio.
A pegada do filme todo é com um ritmo mais lento, o que costuma me agradar quando bem executado. Infelizmente, aqui me senti um pouco incomodado lá pelas tantas. A despeito disso, manteve o interesse o filme todo, com uma fotografia, som e atuações incríveis. Christian Friedel está muito bem como comandante, mas o destaque é para o trabalho impecável da Sandra Hüller (ainda não vi Anatomia de uma Queda para poder comparar).
Entretanto, foi no final que a história ganhou MUITO mais peso cinematográfico para mim.
Durante o filme todo o comandante tenta lidar com o claro/escuro, com diversas cenas dele apagando as luzes e evitando a escuridão, até mesmo em seu quarto com a esposa. Nas cenas finais, enquanto ele desce por um corredor cada vez mais sombrio, passando mal e lidando com seus fantasmas, a personagem tem um vislumbre do que o seu legado vergonhoso e criminoso seria. A volta para a realidade seguida do corte seco final me arrepiaram, e só essa montagem já valeu toda a experiência.
Mulan 2: A Lenda Continua
3.2 250 Assista AgoraEsta é uma das sequências Disney mais bem produzidas que assisti até aqui. A qualidade da animação ainda sustenta o filme e, ao contrário de várias outras continuações como esta, as personagens aqui não se tornam irreconhecíveis. Um ponto acertado é a presença dos bons coadjuvantes, que dão mais peso e poder ao filme.
Porém, achei a história em si bem inferior a primeira (é impossível não compararmos porque é uma continuação), além de que fica um gosto amargo assistirmos a personagem mais lembrada do primeiro - Mushu - como o real vilão aqui. Apesar disso, e de sentir falta de Murphy, achei a substituição do ator que o dublou bem decente. :)