A estupidez e persistência do protagonista em querer continuar na casa, mesmo depois de tudo que aconteceu, foram um tanto inverossímeis e prejudicaram muito a trama.
Eu já tinha gostado bastante dos trabalhos anteriores de Chukiat Sakveerakul (The Love of Siam e Home: Love, Happiness, Remembrance) e não foi surpresa gostar desse filme aqui também. Sakveerakul tem o hábito de produzir filmes que não possuem finais felizes no padrão Hollywood do famoso "e foram felizes para sempre". "Grean Fictions" não foge à regra. A grande surpresa do filme foi que ele começou de forma atípica para um trabalho do diretor. Parecia mais um filme normal de comédia adolescente ambientado numa escola. Entretanto, a trama possui dois pontos de giro que mudam drasticamente o que vinha acontecendo.
O primeiro ponto de giro é quando Tee acidentalmente deixa Ploydao nua no palco na frente de todo mundo. Temos então o início de todo o drama, pois o protagonista é apaixonado pela garota, mas ela passa a odiá-lo por isso, o que deixa o rapaz com complexo de culpa. O fantasma dessa culpa carrega o personagem a partir de então, sem que ele consiga superar o acontecido. O segundo ponto de giro e o mais importante, é quando Tee é expulso de casa e vai parar em Pattaya. Lá conhece outro rapaz chamado Mone com quem faz bela amizade. Os dois se metem em confusões, primeiro trabalhando em uma boate gay e depois como artistas de comédia. O fato desse novo amigo abandoná-lo repentinamente é um dos traços do cinema do diretor. Ele sempre quebra estereótipos. Num filme que segue uma linha mais tradicional, Mone teria se tornado amigo de Tee para todo sempre, ajudando-o a superar seus problemas, fazendo com que a amizade dos dois tivesse um sentido metafísico de moralizar a vida de Tee. Mas nos filmes de Sakveerakul, ninguém é totalmente bonzinho e não há o destino traçando a vida de ninguém. Coisas ruins acontecem e nem tudo precisa de um significado profundo e metafísico por trás. Afinal, no mundo real, nem sempre as coisas terminam tão bem e não há por que os filmes reproduzirem finais grandiosos e felizes se a vida real nem sempre é assim. Por isso o final aqui é tão aberto e indefinido, como a vida. Isso não quer dizer que não possamos sonhar com um grande futuro e com coisas melhores. O próprio protagonista aprendeu isso e não deixa de "inventar" finais felizes para todos os seus amigos. Não há problemas em construir sentidos para a vida, apenas temos que entender que a vida é como uma ficção, um roteiro que escrevemos, produzimos e atuamos. Ou seja, a vida não é algo dado a priori, é necessário construir esses sentimentos, mas sabendo que são criações nossas. E quando o roteiro que construirmos apresentar furos, temos que seguir em frente sem nos frustramos por essas decepções, pois a vida é instável e aberta mesmo, cheia de imprevistos. Ou seja, a vida é como um filme de Sakveerakul, não como um livro do Nicolas Spark, onde tudo tem um sentido e um final feliz.
Galera, para quem não sabe, esse filme tem continuação. É dividido em várias partes. Aqui no wikipédia explica: http://en.wikipedia.org/wiki/King_Naresuan_(film) Muita gente não gosta do filme por que não sabe que ele é só a primeira parte de uma saga que já tem 6 filmes! A parte 6 está sendo lançada na Tailândia apenas agora.
Se alguém chegasse para mim e me perguntasse sobre o que é Jan Dara, eu responderia que é um filme sobre como o patriarcado se constitui e se reproduz numa determinada sociedade. Através de um ciclo de estupro, violência, falocentrismo, vemos homens oprimindo homens, mulheres e até mulheres usando o machismo para ferir outros homens. Numa teia complexa em que poucos são vítimas unilaterais, todos saem despedaçados num jogo doentio de vingança perpétua.
Jan Dara sofreu a vida toda por ter sido rejeitado pelo pai machista que o relegara ao segundo plano por ele ser resultado de um estupro sofrido por sua mãe. Ele só encontra alívio no amor da tia e da bela Boonlueang. A irmã de Jan Dara, Khun Kaew, é uma menina elitista e egoísta que desdenha do irmão e que também reproduz o machismo, condenando sua criada por ela ter uma vida sexual livre e a humilhando por essa escolha. Paradoxalmente, ela acaba na mesma situação de sua criada ao engravidar (provavelmente uma gravidez resultante do abuso sexual do próprio pai) e se vê obrigada a se casar com Jan Dara, que não era seu irmão biológico. O ciclo de violência que coloca as mulheres como escravas sexuais dos desejos violentos de uma sociedade sexista e que exige dos homens uma posição sempre falocêntrica e autoritária que alguns não são capazes de alcançar, continua se perpetuando. Khun Kaew é a nova vítima de estupro e violência e Jan Dara se torna o homem que seu pai fora, ou seja, se torna tudo aquilo que ele odiou. O oprimido se torna o opressor. No final, os dois se tornam impotentes, mostrando a fragilidade da masculinidade heteronormativa.
Se eu disser que escrevi essa música pra você, você acreditaria?
Pode não ser tão bem escrita ou bela como as outras músicas, mas... Eu quero que você saiba que uma música de amor não pode ser escrita quando não estamos apaixonados.
Mas por você eu posso escrever essa música tão facilmente.
Você deve ter ouvido centenas ou milhares de canções de amor. Elas podem ser significativas, mas seus significados são para qualquer um.
Se você ouvir essa música que foi escrita apenas pra você... Se você compreender o significado, nossos corações ficarão juntos.
Existem muitas verdades no amor. No passado, eu perdi muito tempo procurando pelo significado disso.
Mas agora eu descobri, em todos os momentos em que você está perto de mim.
Eu apenas descobri que se a vida é uma melodia, você é a letra que a torna significativa e a transforma em uma linda música.
Deixe a música tocar pelo caminho, juntamente com a sua e a minha voz... Que estaremos juntos por muito tempo.
Assim como a frase de uma poesia: "Enquanto você amar, você ainda tem esperança".
Todas as vezes que eu vejo seu amor brilhando em meu coração, eu posso ver o meu destino.
O filme tem belas imagens e tem o valor de resgatar grande parte da História. Por outro lado, acho que tem uma visão muito sombria e pessimista do século XX, além de ser um tanto "ocidentocêntrico".
Gosto muito do cinema tailandês e me considero um fã do cineasta Sopon Sukdapisit (diretor de Espíritos e The Swimmers, que eu gosto bastante), mas achei que Phobia 2 foi um tanto irregular. A primeira história é maravilhosa e a terceira é muito boa também. Apesar de adorar o Sopon Sukdapisit, achei o desfecho de sua trama muito sem graça e previsível. A quarta história tem uma boa premissa, mas foi desenvolvida de maneira muito convencional e pouco criativa. Se eu fosse separar individualmente, daria as seguintes notas: Novice: 4,5 estrelas Ward: 3,5 estrelas Backpapers: 4 estrelas Salvage: 3 estrelas In the end: 3,5 estrelas (daria uma nota maior não fosse o final).
Gostei da coisa dele ter gostado dela desde o começo. Não havia necessidade dela ter mudado. Caso ele só tivesse gostado dela por ela ter mudado tanto, acho que a mensagem seria que mulher feia não merece ser feliz. Teria sido uma mensagem terrível. Apesar de que seria mais ousado se ela tivesse voltado a ser feia e ele ainda assim tivesse ficado com ela.
O documentário é interessante e levanta várias perguntas relevantes. Entretanto, acho que ele peca por se prender ao chavão de esquerda de que não se pode fazer piadas com o oprimido, apenas com o opressor. Essa premissa tem o seu valor, devido ao fato de que as piadas nunca são politicamente neutras e possuem grande poder social, como o próprio filme demonstra. Entretanto, a forma esquemática como tradicionalmente se enxergam os pólos entre quem sofre e quem comete opressão tem levado o debate a um certo maniqueísmo. Na sociedade "real", digamos, no mundo empírico, os papéis de quem agride e de quem é agredido são mais maleáveis e intercabiáveis do que certa esquerda faz parecer. É verdade que há um sistema normativo que desprivilegia determinados gruupos em relação aos outros, mas as práticas cotidianas em que essas relações se exercem são bastante complexas. Vejamos o caso dos muçulmanos. Depois do atentado contra a Charlie Hebdo se falou muito sobre o quanto os islâmicos são um povo oprimido na Europa (o que é verdade) e o quanto a Charlie Hebdo fazia piadas opressoras que aumentavam a discriminação contra os islâmicos. Ora, esses mesmos oprimidos são responsáveis por várias discriminações. Líderes islâmicos da Europa fazem campanha contra mulheres que andam de saia curta. No protesto contra o casamento gay na França, esses mesmos líderes chegaram a se aliar à extrema direita francesa que os odeia. Ou seja, não são vítimas unilaterais. É correto ou não fazer piadas com eles? Se não, então quem curte e compartilha vídeos do Portas dos Fundos zoando o cristianismo pelos mesmos motivos (homofobia, machismo, etc) está sendo hipócrita. Ora, podemos zoar os cristãos malas preconceituosos, mas não podemos zoar os islâmicos malas preconceituosos? Alguém pode dizer: "Ah, mas não se pode generalizar o islamismo". Ok, mas qual piada zoando evangélico fundamentalista se preocupa em separar os "bons" evangélicos dos "maus" evangélicos? Eu conheço muitos crentes que são super progressistas em questões como casamento gay e feminismo, mas que se sentem ofendidos com os vídeos do Portas dos Fundos. O que fazer? Mandar o Porta dos Fundos parar? Processá-los como tentou fazer Marcos Feliciano? Não o chamamos de fascista e autoritário quando ele quis fazer isso? Então não fica complicado tentar ditar o que é o humor correto? Pra mim esse é o grande x da questão. As esquerdas tem se esforçado em tentar dizer qual humor pode e não pode ser produzido. Não nego que seja válida a crítica a determinados tipos de humor. Eu mesmo não gosto de muitos deles. Mas tentar pautar o que pode ou não ser produzido me parece perigoso. Diferente do que Jean Wyllys diz no documentário, há sim uma excessiva judicialização da vida. Tudo virou motivo para processos judiciais. Isso não é nada saudável. Acho que ao invés de fomentar a indústria dos processos judiciais, a esquerda deveria se focar mais em combater esse tipo de piada de outras formas, até mesmo com outras piadas como contra-ataque. Não estou dizendo que sou contra processos judiciais em todos os casos, mas sim que cair nessa de tentar traçar uma linha divisória sobre o que pode ou não ser satirizado em termos legais é perigoso. Ora, quem seria o órgão responsável por ditar qual a boa piada e qual a ruim? Quem seria responsável por averiguar quem é o oprimido e quem é o opressor? Já imaginou se um dispositivo desses cai na mão de um governo de direita? Correríamos o risco de ver qualquer piada contra religião ser censurada. Essa coisa da judicialização como solução para conflitos é um problema grave que as esquerdas não estão se dando conta da gravidade. Acho que precisamos de menor judicialização e menor maniqueísmo para lidar com esse problema.
Dá pra passar o tempo, mas não achei um grande filme. A história é interessante, mas não foi muito bem aproveitada. Os cortes de uma cena pra outra ficaram estranhos, abruptos! Ficou parecendo filme amador em alguns momentos. Divertido, mas não é um filme marcante como "Pão da Felicidade", por exemplo, que tem uma premissa similar. Achei meio forçado aquele cara ser o "gay sedutor", pois de sedutor não tinha nada, prefiro o boxeador, mas beleza, rs.
Eu gostei demais do filme, apesar do enorme sentimento de revolta e injustiça que fica engasgado quando os créditos aparecem! O filme trabalha muito bem as tensões psicológicas em consonância com o suspense e o terror! As atuações do trio estão ótimas, o que não é nenhuma surpresa pra quem conhece o trabalho deles na série Hormones. O ritmo da trama é alucinante, frenético, você sempre quer saber o que vai acontecer à seguir e mal dá tempo de respirar! A mistura de elementos psicológicos com um thriller fazem o filme lembrar vagamente Cisne Negro, o que contribui para que eu goste ainda mais da história. E o final...
Por mais que seja REVOLTANTE ver o Perth matar Ice e Tan e não ser descoberto, é esse desfecho cruel e ácido que faz o filme ser memorável. Eu nunca vou me esquecer de The Swimmers justamente por que o final tornou toda a trama mais fascinante e marcante! Foi muita coragem e ousadia terem feito um final assim e eu bato palmas de pé! Esse filme é a prova de que é possível fazer boas histórias em qualquer gênero.
Preferi os outros indicados ao Oscar. Não vi nada de mais! "O jogo da imitação", "Boyhood", "Whiplash", "A teoria de tudo" e "O grande hotel budapeste" foram bem melhores do que esse filme.
Todo ano tem que ter um filme de judeus sofredores pra Hollywood mandar seu recado sionista e pro-Israel para o mundo. "Ida" veio para cumprir esse papel. Apesar de tecnicamente bem feito, tem o roteiro mais batido de todos e nada a acrescentar. Disparado o pior filme indicado ao oscar de melhor filme estrangeiro. Venceu apenas pra agradar a turma do Netanyahu.
Geralmente não sou fã de médias metragens, pois fica a sensação de que está no meio do caminho da leveza de um curta e da maior complexidade de um longa, mas esse aqui me surpreendeu positivamente. É belíssimo! Tudo foi feito na medida, tudo bem redondinho, sem arestas ou buracos. A atriz que faz a UK está muito bem no papel, é raro ver interpretações infantis tão convincentes. Fiquei bastante emocionado e confesso que chorei.
Creio que esse filme tem uma mensagem bem clara: não se enganem com a falsa ideia de que a homossexualidade foi aceita e está tudo bem! Não é bem assim! A homofobia acontece de outras formas menos explícitas. A crítica, portanto, é contra a fala do cineasta que aparece no começo da película dizendo que "essa coisa de gay já foi aceita, já está tudo bem, já aceitamos e seguimos em frente"! Para desconstruir essa fala, o diretor e roteirista relatam vários casos em que a homofobia continua acontecendo, mas de uma forma um pouco diferente de como as coisas eram no século passado. Hoje em dia não há leis contra os gays e eles já podem se casar (o filme é inglês e está usando o caso da Inglaterra como exemplo), mas isso não quer dizer que tudo sejam flores.
Quando um dos personagens gays é espancado, vozes aparecem pra dizer que "também, olha lá, estava fazendo sexo em local público, quem mandou?", que é um argumento que culpabiliza a vítima e não o agressor. Outro personagem complexado ataca gays e os espanca, sendo uma pessoa normal no dia a dia. Não é o homofóbico típico e estereotipado que se comporta como um ogro. Pelo contrário, ele parece um doce rapaz que cozinha para sua avó. Portanto o filme desmistifica a ideia do homofóbico típico, demonstrando que a coisa é bem mais complexa na realidade. Já com a trama de Theo e Tim, o filme foi corajoso em demonstrar como a homofobia é potencializada quando a relação se dá entre um menor e um maior de idade e como a homossexualidade ainda não se livrou do estigma da pedofilia e da ideia de abuso. A cena de sexo foi poderosa e ousada, principalmente por terem colocado o menor como o sedutor e como o ativo e o maior de idade como o seduzido e o passivo. É uma crítica à sociedade por enxergar qualquer relação desse tipo como um abuso por parte do mais velho sobre o mais novo. O problema dos enrustidos que agem como se fossem imunes à homofobia também é abordado por outro personagem, que mesmo sendo uma potencial vítima de agressão, finge que nada aconteceu e que aquilo não tem nada a ver com ele, um homem casado e de vida "respeitável". Simples, mas muito direto, é a trama do jovem violinista. Aparentemente ele sofre bullying por tocar violino e não por ser gay. Não fica claro se ele era gay ou não, mas não importa, pois o simples fato dele realizar uma atividade que os outros não consideravam masculina o suficiente, já foi motivo para a perseguição. O interessante nessa história é que mostra que a homofobia pode atingir até pessoas que não sejam gays. Basta ser identificado como alguém que faz uma tarefa dita como feminina que você será perseguido e tratado como se fosse gay. Sendo ou não. Em suma: não vamos cair nessa de que a aprovação do casamento gay seja o ápice das conquistas contra a homofobia. O filme começa com um casamento justamente por isso, pra demonstrar que, mesmo depois de casados, os gays continuam vivendo numa sociedade que os estranha e rejeita, não da mesma forma que antes, mas de modos mais sutis, porém não menos violentos e cruéis.
O filme não é ruim. Pra quem cresceu em família religiosa, como eu, é interessante ver na tela seus sentimentos bem representados. Eu fui uma mistura dos três personagens principais, pois tinha muitas certezas religiosas que me faziam um militante agressivo, ao mesmo tempo que tinha muitas dúvidas me corroendo; e, por fim, ainda sou gay. Então eu gostei de ver como o filme demonstrou esses "pecados" que brotam de dentro. Só acho que deveriam ter aprofundado mais a coisa. O filme deveria ser um pouco maior, pois deu a impressão de ser uma coisa meio corrida.
Eu achei o filme bem legal! Tem boas atuações e serviu para tirar das sombras a história do Turing que o grande público não conhece. Não achei espetacular ou brilhante, mas é muito bom sim!
PS: achei o cúmulo a rainha dar o "perdão real" pro cara! Perdão? O Estado inglês que tinha que pedir perdão público pelo que fez contra ele! Ficou parecendo que ele ainda tinha feito alguma coisa de errado, pois quem recebe perdão é quem fez alguma coisa ruim. E eu pergunto: o que ele fez de ruim pra receber perdão real? Tudo bem que monarquias são cheias de pompas e que "perdão real" deve ser o nome oficial da coisa., mas ainda assim é ridículo e revoltante! O Estado inglês concede perdão a um cara que eles forçaram a fazer castração química que culminou no seu suicídio? É como se o Estado brasileiro concedesse perdão presidencial às vítimas inocentes de PMs: "Dilma está te perdoando por nós temos te baleado", só que é a rainha da Inglaterra que está perdoando o cara depois de tudo que fizeram! Enfia esse perdão no c*, dona Elizabeth!!! Até por que homossexualidade não precisa de perdão!!!
Diferente de muitos aqui, eu não achei o filme lento, demorado ou cansativo. Para mim, as horas passaram normalmente, nem rápido e nem devagar. Eu não tenho problemas com filmes cuja linguagem é mais pausada, especialmente no caso desse filme em que o tempo é tão bem aproveitado. Uma das coisas que gostei foi o fato da narrativa mudar toda hora de foca. Há horas em que o filme se centra nas relações íntimas da família, outras horas em que o tema é a desapropriação da casa ou as relações promíscuas entre o poder secular e o religioso. Gostei da forma como cada capítulo muda de foco, sem que se perca o fio da meada. Muitos já falaram aqui sobre alguns aspectos do filme, então vou me centrar na questão da Igreja.
Leviatã faz uma crítica muito dura e ácida a Rússia contemporânea. Como herança negativa do Império Soviético, as instituições russas mantém a pompa da Guerra Fria. Os órgãos públicos são sempre gigantes, espaçosos e faraônicos! A eficiência, entretanto, é inexistente. E, pior: há ainda o fator religioso. Acusada, com justiça, de ser aliada e cúmplice do regime injusto e cruel do tzarismo, a Igreja Ortodoxa foi perseguida e reprimida pelo comunismo. Após a dissolução da URSS, entretanto, a Igreja vem recuperando de forma sistemática boa parte de sua antiga influência. A Rússia de Putin, essa que vemos emergir como potência, é uma Rússia cada dia mais religiosa e cristã. A polêmica lei anti-gay que foi aprovada recentemente tem o dedo do clero ortodoxo. A crítica à igreja e à religião perpassa todo o filme, mesmo quando não percebemos. Roma, por exemplo, gosta de beber com os amigos ao redor de uma fogueira. Sarcasticamente, esse ato que parece tão profano, acontece dentro de uma velha igreja demolida (talvez pelo antigo governo comunista?). Kolya, quando vai procurar o filho e não o encontra, percebe os afrescos religiosos que ainda adornam uma das paredes da igreja que permaneceram de pé. Os afrescos estão como a vigiar os meninos bêbados em frente a fogueira. É como se os símbolos religiosos estivessem sempre censurando os personagens do filme, com um olhar de vigilância, controle e também reprovação. O mesmo olhar que o quadro de Putin na parede da sala do prefeito corrupto lança aos desavisados que entram no recinto. Talvez a crítica que apareça aqui é como a "nova Rússia" se parece tanto com a antiga Rússia tzarista, como seu jogo de poder ainda remete ao mesmo passado imperial. O comunismo, longe de ter sido uma ruptura com esse passado, apenas foi uma nova forma de exercer o mesmo poder. O fracasso do socialismo real, pior, ainda deu a chance para que antigas forças como a Igreja pudessem dar a volta por cima com um discurso recauchutado. O sermão do padre dentro da nova igreja ao final do filme é o exemplo disso. O tempo todo se fala em "restaurar o povo russo" ou "nova Rússia" ou "restauração da fé ortodoxa", quando, de fato, de novo mesmo não há nada! O clímax do filme é quando entendemos qual era o propósito de tudo aquilo. O tempo todos nos perguntamos o que o prefeito deseja construir no local da casa de Kolya. A princípio, podemos pensar que se trata de algum estabelecimento comercial ou privado, mas é uma surpresa descobrirmos que se trata de uma nova igreja. A pista já tinha sido dada, pois havia a igreja velha, destruída, aquela cujos santos olhavam com censura para os meninos embriagados. A nova Rússia precisa mesmo de novas igrejas, mas sem ter que destruir as ruínas da antiga, símbolo de sua resistência contra o comunismo. É melhor que as ruínas fiquem lá, pra servir de prova de que a vontade de Deus não pode ser derrotada pela ação humana. Por que não escolher, então, o melhor lugar, com a melhor vista da cidade, cujo único infortúnio seria desapropriar a casa de uma família para construir um novo templo? Emblemático é o olhar de Jesus Cristo ao final do discurso do padre, no finalzinho do filme. A câmera congela na imagem do Messias e olha pra nós, espectadores, como se estivesse nos censurando e vigiando. Tal qual as imagens de santos e de políticos que aparecem ao longo do filme. Um olhar assustador e assombrado!
Nunca em toda minha vida eu tinha sentido tanta pena de uma pessoa (real ou fictícia) quanto eu senti do Yngve quando o Jerle o humilha na frente de todo mundo. Até aquele momento ele tinha um olhar sempre doce e inocente, muito frágil. Ele parecia um menino de porcelana. Bonito e delicado. O olhar de tristeza, de medo, de vergonha que ele demonstra ao ser humilhado daquela forma é de cortar o coração. Ele é tão frágil e indefeso que vê-lo passar por aquilo cortou meu coração. Eu fiquei realmente muito triste e desconsolado. Foi uma covardia tão grande, tão gratuita, tão baixa e vil que fico com os olhos marejados só de lembrar. Gente, que cena forte e que interpretação de Ole Christoffer Ertvaag. Que vontade de entrar na tela, pegar o Yngve pelos braços, pôr no colo, dizer pra ele que está tudo bem, que nada de mau vai acontecer e que eu posso protegê-lo de toda aquela injustiça! Eu já vi muitos filmes sobre injustiças sociais e discriminação, mas nenhuma cena conseguiu antes demonstrar pra mim de modo tão forte o que é um inocente ser vítima da estupidez humana. E tudo por causa daquele olhar tão poderoso, mas tão indefeso, que Yngve expressa ao ser atacado. Impressionante como um filme pode tocar tanto com uma única cena, com um único gesto, um olhar que espelha uma alma quebrada.
The Lost Home
3.2 15A estupidez e persistência do protagonista em querer continuar na casa, mesmo depois de tudo que aconteceu, foram um tanto inverossímeis e prejudicaram muito a trama.
Grean Fictions
4.5 4Eu já tinha gostado bastante dos trabalhos anteriores de Chukiat Sakveerakul (The Love of Siam e Home: Love, Happiness, Remembrance) e não foi surpresa gostar desse filme aqui também. Sakveerakul tem o hábito de produzir filmes que não possuem finais felizes no padrão Hollywood do famoso "e foram felizes para sempre". "Grean Fictions" não foge à regra. A grande surpresa do filme foi que ele começou de forma atípica para um trabalho do diretor. Parecia mais um filme normal de comédia adolescente ambientado numa escola. Entretanto, a trama possui dois pontos de giro que mudam drasticamente o que vinha acontecendo.
O primeiro ponto de giro é quando Tee acidentalmente deixa Ploydao nua no palco na frente de todo mundo. Temos então o início de todo o drama, pois o protagonista é apaixonado pela garota, mas ela passa a odiá-lo por isso, o que deixa o rapaz com complexo de culpa. O fantasma dessa culpa carrega o personagem a partir de então, sem que ele consiga superar o acontecido. O segundo ponto de giro e o mais importante, é quando Tee é expulso de casa e vai parar em Pattaya. Lá conhece outro rapaz chamado Mone com quem faz bela amizade. Os dois se metem em confusões, primeiro trabalhando em uma boate gay e depois como artistas de comédia. O fato desse novo amigo abandoná-lo repentinamente é um dos traços do cinema do diretor. Ele sempre quebra estereótipos. Num filme que segue uma linha mais tradicional, Mone teria se tornado amigo de Tee para todo sempre, ajudando-o a superar seus problemas, fazendo com que a amizade dos dois tivesse um sentido metafísico de moralizar a vida de Tee. Mas nos filmes de Sakveerakul, ninguém é totalmente bonzinho e não há o destino traçando a vida de ninguém. Coisas ruins acontecem e nem tudo precisa de um significado profundo e metafísico por trás. Afinal, no mundo real, nem sempre as coisas terminam tão bem e não há por que os filmes reproduzirem finais grandiosos e felizes se a vida real nem sempre é assim. Por isso o final aqui é tão aberto e indefinido, como a vida. Isso não quer dizer que não possamos sonhar com um grande futuro e com coisas melhores. O próprio protagonista aprendeu isso e não deixa de "inventar" finais felizes para todos os seus amigos. Não há problemas em construir sentidos para a vida, apenas temos que entender que a vida é como uma ficção, um roteiro que escrevemos, produzimos e atuamos. Ou seja, a vida não é algo dado a priori, é necessário construir esses sentimentos, mas sabendo que são criações nossas. E quando o roteiro que construirmos apresentar furos, temos que seguir em frente sem nos frustramos por essas decepções, pois a vida é instável e aberta mesmo, cheia de imprevistos. Ou seja, a vida é como um filme de Sakveerakul, não como um livro do Nicolas Spark, onde tudo tem um sentido e um final feliz.
A Lenda Do Guerreiro Do Fogo
2.5 11Galera, para quem não sabe, esse filme tem continuação. É dividido em várias partes. Aqui no wikipédia explica: http://en.wikipedia.org/wiki/King_Naresuan_(film)
Muita gente não gosta do filme por que não sabe que ele é só a primeira parte de uma saga que já tem 6 filmes! A parte 6 está sendo lançada na Tailândia apenas agora.
Jan Dara
3.2 2Se alguém chegasse para mim e me perguntasse sobre o que é Jan Dara, eu responderia que é um filme sobre como o patriarcado se constitui e se reproduz numa determinada sociedade.
Através de um ciclo de estupro, violência, falocentrismo, vemos homens oprimindo homens, mulheres e até mulheres usando o machismo para ferir outros homens. Numa teia complexa em que poucos são vítimas unilaterais, todos saem despedaçados num jogo doentio de vingança perpétua.
Jan Dara sofreu a vida toda por ter sido rejeitado pelo pai machista que o relegara ao segundo plano por ele ser resultado de um estupro sofrido por sua mãe. Ele só encontra alívio no amor da tia e da bela Boonlueang. A irmã de Jan Dara, Khun Kaew, é uma menina elitista e egoísta que desdenha do irmão e que também reproduz o machismo, condenando sua criada por ela ter uma vida sexual livre e a humilhando por essa escolha. Paradoxalmente, ela acaba na mesma situação de sua criada ao engravidar (provavelmente uma gravidez resultante do abuso sexual do próprio pai) e se vê obrigada a se casar com Jan Dara, que não era seu irmão biológico. O ciclo de violência que coloca as mulheres como escravas sexuais dos desejos violentos de uma sociedade sexista e que exige dos homens uma posição sempre falocêntrica e autoritária que alguns não são capazes de alcançar, continua se perpetuando. Khun Kaew é a nova vítima de estupro e violência e Jan Dara se torna o homem que seu pai fora, ou seja, se torna tudo aquilo que ele odiou. O oprimido se torna o opressor. No final, os dois se tornam impotentes, mostrando a fragilidade da masculinidade heteronormativa.
The Love of Siam
4.2 75Tradução da música do Filme:
Gun Lae Gun (Juntos)
Se eu disser
que escrevi essa música pra você,
você acreditaria?
Pode não ser tão bem escrita ou bela
como as outras músicas, mas...
Eu quero que você saiba
que uma música de amor
não pode ser escrita
quando não estamos apaixonados.
Mas por você eu posso escrever
essa música tão facilmente.
Você deve ter ouvido centenas
ou milhares de canções de amor.
Elas podem ser significativas,
mas seus significados
são para qualquer um.
Se você ouvir essa música
que foi escrita apenas pra você...
Se você compreender o significado,
nossos corações ficarão juntos.
Existem muitas verdades no amor.
No passado, eu perdi muito tempo
procurando pelo significado disso.
Mas agora eu descobri,
em todos os momentos
em que você está perto de mim.
Eu apenas descobri
que se a vida é uma melodia,
você é a letra que a torna significativa
e a transforma em uma linda música.
Deixe a música tocar pelo caminho,
juntamente com a sua e a minha voz...
Que estaremos juntos por muito tempo.
Assim como a frase de uma poesia:
"Enquanto você amar, você ainda tem esperança".
Todas as vezes que eu vejo seu amor
brilhando em meu coração,
eu posso ver o meu destino.
Nós que Aqui Estamos Por Vós Esperamos
4.3 416O filme tem belas imagens e tem o valor de resgatar grande parte da História. Por outro lado, acho que tem uma visão muito sombria e pessimista do século XX, além de ser um tanto "ocidentocêntrico".
Phobia 2
3.7 32Gosto muito do cinema tailandês e me considero um fã do cineasta Sopon Sukdapisit (diretor de Espíritos e The Swimmers, que eu gosto bastante), mas achei que Phobia 2 foi um tanto irregular. A primeira história é maravilhosa e a terceira é muito boa também. Apesar de adorar o Sopon Sukdapisit, achei o desfecho de sua trama muito sem graça e previsível. A quarta história tem uma boa premissa, mas foi desenvolvida de maneira muito convencional e pouco criativa.
Se eu fosse separar individualmente, daria as seguintes notas:
Novice: 4,5 estrelas
Ward: 3,5 estrelas
Backpapers: 4 estrelas
Salvage: 3 estrelas
In the end: 3,5 estrelas (daria uma nota maior não fosse o final).
A Little Thing Called Love
4.1 60O começo do filme, quando ela ainda tem cabelos curtos e óculos é bem chatinho. Depois melhora.
Gostei da coisa dele ter gostado dela desde o começo. Não havia necessidade dela ter mudado. Caso ele só tivesse gostado dela por ela ter mudado tanto, acho que a mensagem seria que mulher feia não merece ser feliz. Teria sido uma mensagem terrível. Apesar de que seria mais ousado se ela tivesse voltado a ser feia e ele ainda assim tivesse ficado com ela.
O Riso dos Outros
4.2 152O documentário é interessante e levanta várias perguntas relevantes. Entretanto, acho que ele peca por se prender ao chavão de esquerda de que não se pode fazer piadas com o oprimido, apenas com o opressor. Essa premissa tem o seu valor, devido ao fato de que as piadas nunca são politicamente neutras e possuem grande poder social, como o próprio filme demonstra. Entretanto, a forma esquemática como tradicionalmente se enxergam os pólos entre quem sofre e quem comete opressão tem levado o debate a um certo maniqueísmo. Na sociedade "real", digamos, no mundo empírico, os papéis de quem agride e de quem é agredido são mais maleáveis e intercabiáveis do que certa esquerda faz parecer. É verdade que há um sistema normativo que desprivilegia determinados gruupos em relação aos outros, mas as práticas cotidianas em que essas relações se exercem são bastante complexas. Vejamos o caso dos muçulmanos. Depois do atentado contra a Charlie Hebdo se falou muito sobre o quanto os islâmicos são um povo oprimido na Europa (o que é verdade) e o quanto a Charlie Hebdo fazia piadas opressoras que aumentavam a discriminação contra os islâmicos. Ora, esses mesmos oprimidos são responsáveis por várias discriminações. Líderes islâmicos da Europa fazem campanha contra mulheres que andam de saia curta. No protesto contra o casamento gay na França, esses mesmos líderes chegaram a se aliar à extrema direita francesa que os odeia. Ou seja, não são vítimas unilaterais. É correto ou não fazer piadas com eles? Se não, então quem curte e compartilha vídeos do Portas dos Fundos zoando o cristianismo pelos mesmos motivos (homofobia, machismo, etc) está sendo hipócrita. Ora, podemos zoar os cristãos malas preconceituosos, mas não podemos zoar os islâmicos malas preconceituosos? Alguém pode dizer: "Ah, mas não se pode generalizar o islamismo". Ok, mas qual piada zoando evangélico fundamentalista se preocupa em separar os "bons" evangélicos dos "maus" evangélicos? Eu conheço muitos crentes que são super progressistas em questões como casamento gay e feminismo, mas que se sentem ofendidos com os vídeos do Portas dos Fundos. O que fazer? Mandar o Porta dos Fundos parar? Processá-los como tentou fazer Marcos Feliciano? Não o chamamos de fascista e autoritário quando ele quis fazer isso? Então não fica complicado tentar ditar o que é o humor correto?
Pra mim esse é o grande x da questão. As esquerdas tem se esforçado em tentar dizer qual humor pode e não pode ser produzido. Não nego que seja válida a crítica a determinados tipos de humor. Eu mesmo não gosto de muitos deles. Mas tentar pautar o que pode ou não ser produzido me parece perigoso. Diferente do que Jean Wyllys diz no documentário, há sim uma excessiva judicialização da vida. Tudo virou motivo para processos judiciais. Isso não é nada saudável. Acho que ao invés de fomentar a indústria dos processos judiciais, a esquerda deveria se focar mais em combater esse tipo de piada de outras formas, até mesmo com outras piadas como contra-ataque. Não estou dizendo que sou contra processos judiciais em todos os casos, mas sim que cair nessa de tentar traçar uma linha divisória sobre o que pode ou não ser satirizado em termos legais é perigoso. Ora, quem seria o órgão responsável por ditar qual a boa piada e qual a ruim? Quem seria responsável por averiguar quem é o oprimido e quem é o opressor? Já imaginou se um dispositivo desses cai na mão de um governo de direita? Correríamos o risco de ver qualquer piada contra religião ser censurada.
Essa coisa da judicialização como solução para conflitos é um problema grave que as esquerdas não estão se dando conta da gravidade. Acho que precisamos de menor judicialização e menor maniqueísmo para lidar com esse problema.
As Damas de Ferro
3.4 24A história do filme é muito interessante, principalmente por ser baseada em fatos reais. Mas a produção ruim prejudica muito!
Antique
4.0 42Dá pra passar o tempo, mas não achei um grande filme. A história é interessante, mas não foi muito bem aproveitada. Os cortes de uma cena pra outra ficaram estranhos, abruptos! Ficou parecendo filme amador em alguns momentos.
Divertido, mas não é um filme marcante como "Pão da Felicidade", por exemplo, que tem uma premissa similar.
Achei meio forçado aquele cara ser o "gay sedutor", pois de sedutor não tinha nada, prefiro o boxeador, mas beleza, rs.
Timeline
3.3 7A história do meio prejudica bastante o filme, destoando das outras duas, que são muito belas.
Os Nadadores
3.4 26Eu gostei demais do filme, apesar do enorme sentimento de revolta e injustiça que fica engasgado quando os créditos aparecem! O filme trabalha muito bem as tensões psicológicas em consonância com o suspense e o terror! As atuações do trio estão ótimas, o que não é nenhuma surpresa pra quem conhece o trabalho deles na série Hormones. O ritmo da trama é alucinante, frenético, você sempre quer saber o que vai acontecer à seguir e mal dá tempo de respirar! A mistura de elementos psicológicos com um thriller fazem o filme lembrar vagamente Cisne Negro, o que contribui para que eu goste ainda mais da história.
E o final...
Por mais que seja REVOLTANTE ver o Perth matar Ice e Tan e não ser descoberto, é esse desfecho cruel e ácido que faz o filme ser memorável. Eu nunca vou me esquecer de The Swimmers justamente por que o final tornou toda a trama mais fascinante e marcante! Foi muita coragem e ousadia terem feito um final assim e eu bato palmas de pé! Esse filme é a prova de que é possível fazer boas histórias em qualquer gênero.
Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)
3.8 3,4K Assista AgoraPreferi os outros indicados ao Oscar. Não vi nada de mais! "O jogo da imitação", "Boyhood", "Whiplash", "A teoria de tudo" e "O grande hotel budapeste" foram bem melhores do que esse filme.
Odete
3.0 42Que cena final fodástica!
Ida
3.7 439Todo ano tem que ter um filme de judeus sofredores pra Hollywood mandar seu recado sionista e pro-Israel para o mundo. "Ida" veio para cumprir esse papel. Apesar de tecnicamente bem feito, tem o roteiro mais batido de todos e nada a acrescentar. Disparado o pior filme indicado ao oscar de melhor filme estrangeiro. Venceu apenas pra agradar a turma do Netanyahu.
Present Perfect
4.0 11Geralmente não sou fã de médias metragens, pois fica a sensação de que está no meio do caminho da leveza de um curta e da maior complexidade de um longa, mas esse aqui me surpreendeu positivamente. É belíssimo! Tudo foi feito na medida, tudo bem redondinho, sem arestas ou buracos. A atriz que faz a UK está muito bem no papel, é raro ver interpretações infantis tão convincentes. Fiquei bastante emocionado e confesso que chorei.
Clapham Junction
3.6 59Creio que esse filme tem uma mensagem bem clara: não se enganem com a falsa ideia de que a homossexualidade foi aceita e está tudo bem! Não é bem assim! A homofobia acontece de outras formas menos explícitas. A crítica, portanto, é contra a fala do cineasta que aparece no começo da película dizendo que "essa coisa de gay já foi aceita, já está tudo bem, já aceitamos e seguimos em frente"!
Para desconstruir essa fala, o diretor e roteirista relatam vários casos em que a homofobia continua acontecendo, mas de uma forma um pouco diferente de como as coisas eram no século passado. Hoje em dia não há leis contra os gays e eles já podem se casar (o filme é inglês e está usando o caso da Inglaterra como exemplo), mas isso não quer dizer que tudo sejam flores.
Quando um dos personagens gays é espancado, vozes aparecem pra dizer que "também, olha lá, estava fazendo sexo em local público, quem mandou?", que é um argumento que culpabiliza a vítima e não o agressor. Outro personagem complexado ataca gays e os espanca, sendo uma pessoa normal no dia a dia. Não é o homofóbico típico e estereotipado que se comporta como um ogro. Pelo contrário, ele parece um doce rapaz que cozinha para sua avó. Portanto o filme desmistifica a ideia do homofóbico típico, demonstrando que a coisa é bem mais complexa na realidade.
Já com a trama de Theo e Tim, o filme foi corajoso em demonstrar como a homofobia é potencializada quando a relação se dá entre um menor e um maior de idade e como a homossexualidade ainda não se livrou do estigma da pedofilia e da ideia de abuso. A cena de sexo foi poderosa e ousada, principalmente por terem colocado o menor como o sedutor e como o ativo e o maior de idade como o seduzido e o passivo. É uma crítica à sociedade por enxergar qualquer relação desse tipo como um abuso por parte do mais velho sobre o mais novo.
O problema dos enrustidos que agem como se fossem imunes à homofobia também é abordado por outro personagem, que mesmo sendo uma potencial vítima de agressão, finge que nada aconteceu e que aquilo não tem nada a ver com ele, um homem casado e de vida "respeitável".
Simples, mas muito direto, é a trama do jovem violinista. Aparentemente ele sofre bullying por tocar violino e não por ser gay. Não fica claro se ele era gay ou não, mas não importa, pois o simples fato dele realizar uma atividade que os outros não consideravam masculina o suficiente, já foi motivo para a perseguição. O interessante nessa história é que mostra que a homofobia pode atingir até pessoas que não sejam gays. Basta ser identificado como alguém que faz uma tarefa dita como feminina que você será perseguido e tratado como se fosse gay. Sendo ou não.
Em suma: não vamos cair nessa de que a aprovação do casamento gay seja o ápice das conquistas contra a homofobia. O filme começa com um casamento justamente por isso, pra demonstrar que, mesmo depois de casados, os gays continuam vivendo numa sociedade que os estranha e rejeita, não da mesma forma que antes, mas de modos mais sutis, porém não menos violentos e cruéis.
The Wise Kids
2.9 10O filme não é ruim. Pra quem cresceu em família religiosa, como eu, é interessante ver na tela seus sentimentos bem representados. Eu fui uma mistura dos três personagens principais, pois tinha muitas certezas religiosas que me faziam um militante agressivo, ao mesmo tempo que tinha muitas dúvidas me corroendo; e, por fim, ainda sou gay. Então eu gostei de ver como o filme demonstrou esses "pecados" que brotam de dentro. Só acho que deveriam ter aprofundado mais a coisa. O filme deveria ser um pouco maior, pois deu a impressão de ser uma coisa meio corrida.
Perdido no Paraíso
3.2 10Interessante! Faltou uma melhor produção. Dá pra ver que o filme é bem pobre tecnicamente, mas a história é interessante!
Adorei a história do pato, do "louco" e da prostituta! Pelo menos tem um final feliz <3
O Jogo da Imitação
4.3 3,0K Assista AgoraEu achei o filme bem legal! Tem boas atuações e serviu para tirar das sombras a história do Turing que o grande público não conhece. Não achei espetacular ou brilhante, mas é muito bom sim!
PS: achei o cúmulo a rainha dar o "perdão real" pro cara! Perdão? O Estado inglês que tinha que pedir perdão público pelo que fez contra ele! Ficou parecendo que ele ainda tinha feito alguma coisa de errado, pois quem recebe perdão é quem fez alguma coisa ruim. E eu pergunto: o que ele fez de ruim pra receber perdão real? Tudo bem que monarquias são cheias de pompas e que "perdão real" deve ser o nome oficial da coisa., mas ainda assim é ridículo e revoltante! O Estado inglês concede perdão a um cara que eles forçaram a fazer castração química que culminou no seu suicídio? É como se o Estado brasileiro concedesse perdão presidencial às vítimas inocentes de PMs: "Dilma está te perdoando por nós temos te baleado", só que é a rainha da Inglaterra que está perdoando o cara depois de tudo que fizeram! Enfia esse perdão no c*, dona Elizabeth!!! Até por que homossexualidade não precisa de perdão!!!
Leviatã
3.8 299Diferente de muitos aqui, eu não achei o filme lento, demorado ou cansativo. Para mim, as horas passaram normalmente, nem rápido e nem devagar. Eu não tenho problemas com filmes cuja linguagem é mais pausada, especialmente no caso desse filme em que o tempo é tão bem aproveitado. Uma das coisas que gostei foi o fato da narrativa mudar toda hora de foca. Há horas em que o filme se centra nas relações íntimas da família, outras horas em que o tema é a desapropriação da casa ou as relações promíscuas entre o poder secular e o religioso. Gostei da forma como cada capítulo muda de foco, sem que se perca o fio da meada.
Muitos já falaram aqui sobre alguns aspectos do filme, então vou me centrar na questão da Igreja.
Leviatã faz uma crítica muito dura e ácida a Rússia contemporânea. Como herança negativa do Império Soviético, as instituições russas mantém a pompa da Guerra Fria. Os órgãos públicos são sempre gigantes, espaçosos e faraônicos! A eficiência, entretanto, é inexistente. E, pior: há ainda o fator religioso. Acusada, com justiça, de ser aliada e cúmplice do regime injusto e cruel do tzarismo, a Igreja Ortodoxa foi perseguida e reprimida pelo comunismo. Após a dissolução da URSS, entretanto, a Igreja vem recuperando de forma sistemática boa parte de sua antiga influência. A Rússia de Putin, essa que vemos emergir como potência, é uma Rússia cada dia mais religiosa e cristã. A polêmica lei anti-gay que foi aprovada recentemente tem o dedo do clero ortodoxo.
A crítica à igreja e à religião perpassa todo o filme, mesmo quando não percebemos. Roma, por exemplo, gosta de beber com os amigos ao redor de uma fogueira. Sarcasticamente, esse ato que parece tão profano, acontece dentro de uma velha igreja demolida (talvez pelo antigo governo comunista?). Kolya, quando vai procurar o filho e não o encontra, percebe os afrescos religiosos que ainda adornam uma das paredes da igreja que permaneceram de pé. Os afrescos estão como a vigiar os meninos bêbados em frente a fogueira. É como se os símbolos religiosos estivessem sempre censurando os personagens do filme, com um olhar de vigilância, controle e também reprovação. O mesmo olhar que o quadro de Putin na parede da sala do prefeito corrupto lança aos desavisados que entram no recinto. Talvez a crítica que apareça aqui é como a "nova Rússia" se parece tanto com a antiga Rússia tzarista, como seu jogo de poder ainda remete ao mesmo passado imperial. O comunismo, longe de ter sido uma ruptura com esse passado, apenas foi uma nova forma de exercer o mesmo poder. O fracasso do socialismo real, pior, ainda deu a chance para que antigas forças como a Igreja pudessem dar a volta por cima com um discurso recauchutado. O sermão do padre dentro da nova igreja ao final do filme é o exemplo disso. O tempo todo se fala em "restaurar o povo russo" ou "nova Rússia" ou "restauração da fé ortodoxa", quando, de fato, de novo mesmo não há nada!
O clímax do filme é quando entendemos qual era o propósito de tudo aquilo. O tempo todos nos perguntamos o que o prefeito deseja construir no local da casa de Kolya. A princípio, podemos pensar que se trata de algum estabelecimento comercial ou privado, mas é uma surpresa descobrirmos que se trata de uma nova igreja. A pista já tinha sido dada, pois havia a igreja velha, destruída, aquela cujos santos olhavam com censura para os meninos embriagados. A nova Rússia precisa mesmo de novas igrejas, mas sem ter que destruir as ruínas da antiga, símbolo de sua resistência contra o comunismo. É melhor que as ruínas fiquem lá, pra servir de prova de que a vontade de Deus não pode ser derrotada pela ação humana. Por que não escolher, então, o melhor lugar, com a melhor vista da cidade, cujo único infortúnio seria desapropriar a casa de uma família para construir um novo templo?
Emblemático é o olhar de Jesus Cristo ao final do discurso do padre, no finalzinho do filme. A câmera congela na imagem do Messias e olha pra nós, espectadores, como se estivesse nos censurando e vigiando. Tal qual as imagens de santos e de políticos que aparecem ao longo do filme. Um olhar assustador e assombrado!
Esfera
3.1 152 Assista AgoraSó eu acho que teve inspiração em "Solaris" de Andrei Tarkovsky?
O Homem Que Amava Yngve
4.0 121Profundamente tocado por todo o filme, mas especialmente por um momento.
Nunca em toda minha vida eu tinha sentido tanta pena de uma pessoa (real ou fictícia) quanto eu senti do Yngve quando o Jerle o humilha na frente de todo mundo. Até aquele momento ele tinha um olhar sempre doce e inocente, muito frágil. Ele parecia um menino de porcelana. Bonito e delicado. O olhar de tristeza, de medo, de vergonha que ele demonstra ao ser humilhado daquela forma é de cortar o coração. Ele é tão frágil e indefeso que vê-lo passar por aquilo cortou meu coração. Eu fiquei realmente muito triste e desconsolado. Foi uma covardia tão grande, tão gratuita, tão baixa e vil que fico com os olhos marejados só de lembrar. Gente, que cena forte e que interpretação de Ole Christoffer Ertvaag. Que vontade de entrar na tela, pegar o Yngve pelos braços, pôr no colo, dizer pra ele que está tudo bem, que nada de mau vai acontecer e que eu posso protegê-lo de toda aquela injustiça! Eu já vi muitos filmes sobre injustiças sociais e discriminação, mas nenhuma cena conseguiu antes demonstrar pra mim de modo tão forte o que é um inocente ser vítima da estupidez humana. E tudo por causa daquele olhar tão poderoso, mas tão indefeso, que Yngve expressa ao ser atacado. Impressionante como um filme pode tocar tanto com uma única cena, com um único gesto, um olhar que espelha uma alma quebrada.