O que eu mais gostei nesse filme foi a forma como a história foi contada. No começo, parece que se trata de um suspense paranormal. Ligações telefônicas sem resposta. Um menino assustador (um fantasma?) aparecendo toda hora. Pedras sendo atiradas pela janela. Um passado sombrio que espreita. O desenrolar da trama nos joga pra dentro do sanguinário passado recente da história chinesa. É quando descobrimos o verdadeiro fantasma que persegue a protagonista: uma escolha eticamente questionável que ela tomou e que a tem assombrado desde então. O filme é um ótimo retrato da China moderna, essa que substituiu a foto de Mao Tse Tung numa cédula por uma do estádio Ninho do pássaro; essa que finge esquecer o passado, talvez ignorando que isso não seja possível. Se não enfrentarmos o passado para acertar as contas com ele, ele volta pra puxar nosso pé à noite.
Achei as situações bastante forçadas! Todas as perguntas eram surpreendentemente relacionadas com alguma coisa da vida dele! E tudo se explica por que simplesmente "estava escrito". Não gosto desse tipo de mensagem que atribui ao destino o sucesso de uma pessoa. Por que tipo, ele ficou rico, ok. Mas e os outros milhões de indianos que continuam pobres? Claro que o filme não deixa de ser muito divertido, as músicas são maravilhosas e a gente torce muito pelo protagonista, mas ganhar o oscar foi bem exagerado.
Acho que por culpa de Hollywood e de bobagens como Nicholas Spark, as pessoas acreditam em baboseiras do tipo "O amor vence tudo" ou "quem ama de verdade fica ao lado do seu amor pra todo sempre", etc. Romance de propaganda de margarina tipo "A culpa é das estrelas" faz um mal danado às pessoas. Elas veem aquilo e acreditam que suas vidas um dia vão encontrar um amor que é um príncipe encantado que vai ser tão bom a ponto de te dar um rim depois de duas semanas de namoro! Pera lá, gente! O final desse filme é muito mais realista do que 90% dos filmes de romance. Eu conheço um trilhão de pessoas que tem famílias razoáveis e mesmo assim preferem ficar no armário. O Tong ainda tem problemas em relação à sexualidade dele, não importa se a mãe tentou ser compreensiva no final. Isso é algo que ele tem que resolver consigo mesmo. As pessoas são muito complicadas na vida real. Estou falando de pessoas de carne e osso e não dos personagens "príncipe e princesa" dos contos de fadas. As pessoas de carne e osso tomam atitudes precipitadas, erradas, às vezes dá tempo de se arrepender, às vezes, não. Entendo muita gente não gostar do final, mas dizer que é non-sense eu não entendo! O final é bastante verossímil e factível com o mundo real. Em geral, nos filmes românticos, ou alguém morre no final, ou os dois são felizes para sempre. Esse tem um final alternativo, a separação (que não sabemos se é definitiva). E, pasmem, esse é o final mais comum na vida real.
O que eu me pergunto é: por que não gostamos da vida real e precisamos acreditar em amores impossíveis para nos iludirmos? Tem um filme que faz uma sátira dos romances hollywoodianos que se chama "Como não perder essa mulher". Recomendo pra pensarem sobre essa questão.
Diferente da maioria eu não achei o filme nem arrastado e nem cansativo. Assisti tudo com bastante apreensão e nervosismo. O diretor soube trabalhar muito bem a atmosfera da casa dos du Pont, principalmente pelo mobiliário, pela decoração e pela solidão e psicopatia que pairam pelos corredores da mansão. O que segura o filme muito bem é a excelente interpretação do trio protagonista. Mark Ruffalo não é nenhuma surpresa, visto que ele sempre arrasa, mas confesso que me surpreendi positivamente com Channing Tatum e Steve Carell. Ambos não são conhecidos por fazerem filmes muito "sérios", principalmente Carell, que despontou estrelando comédias (algumas muito ruins, como "A volta do Todo-Poderoso"). Sua interpretação está perfeita, na medida, sem excessos. Tatum também está bastante consistente. O filme começa de modo muito lento, quase parando, e a narrativa vai tomando fôlego e acelerando aos poucos, à medida que John du Pont progressivamente descortina sua loucura, levando consigo os irmãos Schultz. Eu achei fantástica a construção psicológica da trama e, como a maioria, me surpreendi com o final. Vale muito a pena conferir!
Pelos comentários positivos que eu ouvi sobre o filme, confesso que esperava bem mais. A começar pela indicação de Bullock ao Oscar. Sinceramente não vi nada nela que merecesse a indicação. Acho-a uma atriz mediana e não foi diferente aqui. Tecnicamente o filme é muito bem feito, mas falta roteiro. Achei todo o drama muito raso e pouco aprofundado, mas creio que o objetivo do filme foi fazer as pessoas sentirem o drama através de uma experiência sensorial com as câmeras girando e o 3D. Bom, funcionou pra muita gente, mas não comigo. Raramente um filme consegue me ganhar apenas com a parte técnica. Não digo que não gosto do 3D, mas dificilmente isso faz diferença substancial pra mim. Prefiro quando o 3D e a técnica são bem aproveitadas ao lado de um bom roteiro. Um exemplo, pra mim, é "Hugo Cabret". Se "Gravidade" tivesse feito no espaço o que Cabret fez na Paris de muitos anos atrás, eu bateria palmas. Mas ficou só na inovação técnica, na tentativa de nos fazer sentir o mesmo que a protagonista estava sentindo. Não é um filme ruim, mas faltou ousadia.
Eu achei o melhor filme do Christopher Nolan e o melhor filme de ficção científica desde "2001 - Uma odisseia no espaço". Gostei da coragem em apostar mais no roteiro do que em grandes cenas de ação e explosão (na minha opinião é o oposto do que acontece em "Gravidade"). Não vá ao cinema esperando ver um "Transformer", pois o filme de Nolan é um drama. Infelizmente isso pode afastar o grande público que só paga um ingresso caro para ver pancadaria. Isso não quer dizer que o roteiro seja parado, pelo contrário, a trama prende bastante a atenção e eu mal vi as horas passarem.
Acho que o foco do longa são as relações humanas e como a interação entre as pessoas é mais importante do que a mera sobrevivência em si, coisa que o personagem de Matt Damon não compreende. Essa afetividade, esse calor humano que o filme tenta expressar como uma dimensão física da realidade se expressa a todo momento. Os robôs, por exemplo, são tão humanos que Brand sente pena de TARS quando acha que ele será descartado. Até Dr. Mann, o vilão do filme, ao acordar da hibernação, abraça o protagonista e chora. Sente falta do calor humano, de ver um rosto humano. A presença humana afasta a solidão. Mesmo ele, sendo tão mesquinho, reconhece esse fato ao despertar, ainda que depois ele siga em sua missão anti-ética.
Pra ser sincero, preciso ainda pensar e digerir o filme. O único defeito que me incomodou foi a patriotada de sempre (estadunidenses salvando o mundo de novo. Poderia ser uma missão internacional, por exemplo). Mas, no geral, saí muito impactado e feliz. Recomendo que vão para o cinema e vejam por vocês mesmos.
Lembrar desse filme é algo especial para mim por vários motivos. Primeiro por que foi o primeiro filme indiano que eu vi. Meu primeiro contato com Bollywood, portanto. Segundo que assisti-o numa sessão no Espaço de Cinema (atual Estação Botafogo, no Rio), sendo a primeira vez que fui nesse cinema que se tornaria meu favorito posteriormente. E também foi a primeira vez que fui ao Festival de Cinema do Rio, isso em 2009. Não quero ficar me demorando em elogios ao longa por que muito já foi dito nos comentários anteriores, mas queria destacar uma cena que me impactou muito e que jamais esqueci. Num prova de matemática o pequeno Ishaan, ao invés de resolver o problema proposto, simplesmente "viaja" e desenha uma nave espacial. Para a professora poderia parecer apenas um erro bobo ou uma recusa em fazer o dever, mas pra quem assistiu ao show de criatividade do garoto ao desenhar um foguete na prova, quem fica parecendo medíocre é a professora e o sistema escolar, que poda, castra, diminui a potencialidade das pessoas. Essa cena foi tão forte pra mim que toda vez que eu ouço a palavra "dislexia" me vem à cabeça aquele foguete desenhado por Ishaan, desafiando as normas caretas das nossas sociedades sem graça.
O filme cumpre muito bem o papel de entreter, não posso negar. É um thriler de tirar o fôlego, mas eu me pergunto se, assim como em "Quem quer ser um milionário?", Daldry não tenha caído na velha armadilha colonialista de vir ao "terceiro mundo" denunciar as mazelas sociais, num empoeirado mas sempre reiterado esforço "civilizatório". Assim como o discurso colonial, o roteiro peca por ser maniqueísta. De um lado temos uma polícia opressora e políticos inescrupulosos e do outro três crianças inexplicavelmente dotadas de fibra moral inabalável e incorruptíveis. Daldry parece usar os missionários cristãos estrangeiros como seu alter-ego. São pessoas boas e altruístas que se sentem de mãos atadas diante de tanta miséria, corrupção e violência. Cabe a eles o papel final de expor e denunciar a história ao mundo, como se os próprios brasileiros, cegos talvez, não tivessem a capacidade de ver o que estava acontecendo. Apesar dos três meninos serem os heróis, quem expõe a história ao público e torna possível a explosão dos protestos populares são os missionários e não os garotos. Os rapazes realizam vários feitos dignos de um Odisseu, mas terminam ingenuamente vivendo em reclusão, sem contar a ninguém o que fizeram, sem denúncia, sem vingança, mas também sem justiça. Isso me incomodou bastante, pois parece-me que os brasileiros acabam sendo retratados como se fossem ou ingênuos e puros (reedição do "bom selvagem") ou como meros manipulados pelo poder. A racionalidade e o espírito crítico permanecem nos missionários, que enxergam tudo "de fora" e são capazes de articular os dois pólos (os meninos puros e o povo "alienado" que sai às ruas para protestar) ao divulgar o vídeo com a história na internet.
Assim como "Quem quer ser um milionário?" fez sucesso, é provável que esse filme também faça, mas não deixa de ser uma pena que um diretor de filmes extraordinários como "Billy Elliot" e "O Leitor" tenha pecado tanto em "Trash". É sem dúvida seu trabalho mais fraco. Uma oportunidade perdida! Se ainda dei tantas estrelas é por que os atores merecem destaque. O trio de garotos está sensacional e cada um deles merece pelo menos uma estrela. Selton Melo e Wagner Moura também arrasaram, mesmo com personagens caricatos. Ainda assim creio que o filme seja uma ótima oportunidade para se trabalhar o tema do pós-colonialismo na sala de aula, pois demonstra que o eurocentrismo está presente até mesmo onde menos se espera.
Vendo o filme e depois vindo aqui ler os comentários eu admito que ri a ponto de minha barriga doer. Ver a revolta das pessoas com a pavorosa aparição do Máscara da Morte é cômico e trágico ao mesmo tempo! A cena inteira ficou tão ruim, mas tão ruim que eu ri a ponto de ficar sem ar! Sou do tipo que não lamenta esse tipo de tragédia. Já que fizeram uma merda mesmo, eu aproveitei pra gargalhar com os defeitos bizonhos do filme que superam em muito as poucas qualidades. Por ser muito curto, o filme não tem profundidade nenhuma. Os personagens são rasos e planos e não há explicação clara do que está acontecendo. Quem não conhece o anime deve ficar boiando, horrorizado. Se bem que quem conhece, como eu, fica horrorizado também.
Shun não lutou sozinho nenhuma vez, coitado. Ikki mal aparece. Seya faz tudo, mas é pastelão mala sem alça (nisso não mudou muito do anime, rs) e Saori é outra chata com síndrome de Madre Teresa de Calcutá. Saga de gêmeos se transformando numa espécie de Exu Tranca Rua Maligno (no sentido pejorativo da coisa) ao final do filme também foi bem constrangedor.
Pra quem é fã do anime, não adianta eu dizer pra não assistir pq não vão conseguir fazê-lo, apesar das críticas negativas. Mas pra quem não é fã, nem vejam. Vão ficar com uma impressão ruim. Assistam logo o anime que é melhor! Resumindo: o filme ficou ó, uma bosta!
O filme é bem grande e mal vi a hora passar. Minhas atenções foram totalmente absorvidas pela história. Vale aqui muito mais o trabalho de direção do que o roteiro em si. O filme quebra a tradicional divisão de um roteiro básico com apresentação e dois pontos de giro antes do clímax e o final. Como se trata de um filme que tenta mostrar uma vida cotidiana e o crescimento de um garoto, não faria sentido estruturar a trama como se fosse um roteiro "tradicional" de cinema, pois a vida não é como nos filmes em que acontecem coisas fantásticas, emocionantes a todo momento. Ou será que é? Linklater demonstra nesse filme como a vida simples que cada um de nós vive pode ser mais emocionante e espetacular do que parece. Vendo o filme eu passei em revista toda a minha vida e pude perceber que ela é bem mais interessante do que eu tinha pensando. Eu não sou nenhum super herói e nem nunca salvei crianças da fome na África, mas eu também já discuti com meus pais, já tive desilusões amorosas, já deletei meu Facebook, já mudei de opinião várias vezes, já tive uma irmã mais velha com quem eu brigava, já entrei na faculdade, já tive o cabelo cortado contra minha vontade, já senti ódio por uma figura de autoridade, já me mudei várias vezes por causa dos meus pais e também por minha vontade, dentre outras. Todas pequenas coisas que me pareciam banais na hora, mas que olhando retrospectivamente, penso: "Caralho, que viagem! Minha vida é foda, olha quantas coisas construí! E quantas coisas ainda posso fazer?".
Foi muito marcante pra mim as duas conversas que Maison tem com a mãe e o pai antes do final do filme. Por que são conversas em que está em questão o próprio sentido da vida. Nós meio que seguimos um protocolo: estudar, namorar, fazer faculdade, casar, ter filhos, etc... Viver é isso? É o que a mãe questiona ao final do filme: Depois que cumprimos esse ritual compulsório o que resta? Morrer? O pai dá uma resposta mais despojada ao dizer que não sabe o sentido da vida, apenas está tentando se virar. Não é isso que todos fazemos? Eu mesmo me pego pensando nisso. Me mudei de estado pra estudar, fiz mestrado, hoje faço doutorado, em breve estarei na África fazendo pesquisas. Talvez seja professor de universidade no futuro (acho que esse é o projeto) e fico me perguntando se é isso mesmo. Acho que o grande problema das nossas vidas hoje em dia é que, influenciados pelo cinema, pelos livros, etc, nós esperamos que a vida tenha um clímax, como quando Darth Vader se redime e salva Luke Skywalker em Star Wars VI; ou quando Harry Potter derrota Lord Voldemort com um feitiço "Expelliarmus". As referências da cultura pop ao longo desse filme não são gratuitas, pois elas são experiências que nos constituem como sujeitos. E nós ansiamos loucamente para sermos os heróis dessas histórias, mesmo que inconscientemente. Por isso a decepção da mãe na conversa com o filho. Ela conseguiu tudo o que queria: criou os filhos, conseguiu terminar os estudos, conseguiu o emprego dos sonhos, mas mesmo assim ainda estava esperando esse clímax, como num filme, ou como um clipe super produzido da Lady Gaga.
Acho que a ideia seria parar de procurar um clímax e um grande objetivo final que vai dar sentido à tudo. Não que não tenhamos que ter objetivos na vida, mas sim que esses objetivos não podem ser vistos como aquilo que vai completar e dar sentido à vida, pois uma vez alcançados, não teríamos mais pelo que viver; ou, pior, uma vez alcançados, poderíamos nos dar conta de que eles não nos satisfazem como pensávamos. O mais legal de "Boyhood" é justamente que o diretor demonstra que a vida não precisa de clímax e fatos excepcionais pra ser plena. Nunca paramos de crescer e de mudar. Não há tanta diferença entre uma pessoa de 40 e uma de 18. Claro que a de 18 tem mais tempo (em tese) pra fazer escolhas e mudanças radicais, mas a de 40 também pode fazer isso. Mesmo que a pele fique mais grossa e o sentidos fiquem mais fracos, como diz o pai, as possibilidades estão abertas. Liklater demonstra como essa cotidianidade que pode parecer chata (e às vezes é chata mesmo) é a bela aventura de viver e que isso é maravilhoso! Fico me perguntando no que a vida de Maison é menos emocionante do que a de muitos super heróis que vi no cinema. Posso garantir que nunca uma história de super herói me impactou tanto ou me deu tanta vontade de viver justamente por que ela é real, de carne e osso. Precisamos redescobrir o cotidiano e reaprender a viver. Creio que essa é uma mensagem essencial e muito forte que "Boyhood" imprimiu em minha vida. Agora esse filme faz parte dela, é uma referência do Tiago de 29 anos que faz doutorado em Niterói. Assim como Star Wars III é referência para o Tiago de 20 anos que estava no primeiro ano da faculdade em Campinas e viu o filme na pré-estreia com os novos amigos da graduação. Assim como a música "Eduardo e Mônica" é referência para o Tiago de 14 anos, pois seu primeiro beijo foi com um menino chamado Eduardo e ele associou o garoto à música que sempre escutou em casa com o irmão mais velho. Assim como muitas outras coisas. Se eu ficar nessa de ficar lembrando, não vou parar mais... rs. Enfim, só tenho a agradecer por ter visto o filme no Festival do Rio e dizer que é o melhor filme que vi no Festival até agora. Vão aos cinemas e se apaixonem também. Viver é bom demais, né, gente?
Um filme gracioso! O personagem "Dany" é simplesmente maravilhoso! Tão humano, tão cheio de defeitos, de sonhos, qualidades, energia e vigor! Eu queria ter um amigo como ele, pra abraçar, dançar, dar umas porradas em uns homofóbicos na rua (não apoio a violência, mas admito que o Dany me dá vontade de fazer isso) e brincar com o Dido. Ele é tão apaixonante que dá vontade de entrar na tela e pegar ele nos braços pra pôr no colo. Não bastasse os personagens serem bons (o Ody também é um cara muito simpático que torcemos ao longo do filme) a história é conduzida de forma muito interessante. O velho tema da busca pelo reconhecimento paterno, entremeada por uma Grécia que é considerada a ralé da União Europeia, mas que esconde dentro dela forte xenofobia contra imigrantes, especialmente albaneses. Pois é, oprimidos também podem ser opressores. Acho que fica até difícil realizar tal separação de forma muito nítida. Dany sofre discriminação dos gregos "legítimos", mas os próprios albaneses "compatriotas" são homofóbicos em relação a ele. Alemães oprimindo gregos, gregos oprimindo albaneses, albaneses oprimindo gays, etc. A coisa não tem fim. O fascismo nos espreita.Contra ele, "Dany" dispara sua pinta, seu cabelo glamouroso, suas roupas apertadas. O próprio corpo como arma. Ele sonha, delira, grita. Seu irmão, mais racional, tenta podar seus excessos, mas sem cortar-lhe as asas. Ody também quer voar. E o filme é a história de um voo. O final, feliz, sem ser piegas.
O pai? Bom, encontrá-lo não era bem a grande questão. Eles queriam encontrar a si mesmos. E conseguiram. Adorei o fato da paternidade ficar em suspenso. Não fica claro se o homem que conheceram no final era mesmo o pai. É verdade que ele "confessou" sob pressão, mas o olhar que sua mulher lhe endereçou depois que os meninos saíram, deixa dúvidas. O pai poderia ser qualquer outro. Poderia ser o próprio Tassos (o homem que Dany lembra com carinho de dormir em seu peito cabeludo), ou já ter morrido. O importante, na verdade, é que o pai já havia sido encontrado quando encontraram Tassos, pois sendo ele o pai biológico ou não, seria a partir de então, o pai de fato. Então por que eles continuaram a jornada mesmo depois disso? A viagem pra Tessalônica, nesse sentido, é uma viagem de auto-descoberta, de aventuras, de descobertas de novos amores (bela cena no banheiro entre Dany e o rapaz de cabelos vermelhos; e entre Ody e Maria em frente ao mar), de vencer medos e desafios. Talvez não estivesse totalmente claro para os dois que a jornada pelo pai já terminara bem antes, mas ficou claro depois, quando se defrontam com o suposto pai biológico e saem totalmente satisfeitos, mesmo que a dúvida permaneça.
A grande questão que permeia o filme, pra mim, é: "A qual lugar pertenço?" ou "Devo pertencer a algum lugar"? Maria diz: "Nós, imigrantes, somos estrangeiros em qualquer lugar". Ody responde: "Mas nos sentimos em casa em qualquer lugar também". E não é verdade? Eu me senti o terceiro irmão da família, me senti grego e albanês, me senti pintosa no meio de uma roda de homofóbicos, me senti uma mulher albanesa atacada por um bando de fascistas. Agradeço por esse sentimento.
Xavier Dolan amadureceu. E se tornou mais "dark". Quando terminei de ver o filme, meu amigo ao meu lado me olhou e disse: "Esse filme é bom, mas torturante". De fato, a história do rapaz problemático e sua relação com a mãe e a nova vizinha é um soco no estômago. Eu diria, na verdade, uma sequencia de socos no estômago. E um atrás do outro, sem tempo de respirar ou se recompor. O filme é muito intenso, com emoções aflorando a todo momento. Há muita raiva, desejo, frustração, brigas a cada instante. Não dá tempo de conseguir pensar, de tantos sentimentos explodindo pela tela a cada momento. A fotografia é lindíssima e a jogada com a tela (imagem curta umas horas e widescreen amplo em outras) foi uma boa sacada. Apesar da censura ser de 14 anos, não pense que é uma história leve. Vá preparado. É uma trama tensa, dura, triste, desesperadora. O filme é gritado, berrado, me lembrou Almodóvar, mas muito mais "dark" e "sério". O grande dilema é: como lidar com as tentativas de Steve de destruir a todos e a si mesmo?
No começo do longa, Die vai ao internato onde está seu filho e ouve que o amor não é capaz de lidar com a situação do garoto e que ela teria que lidar com aquilo de outra forma, que deveria descobrir um caminho. Ou simplesmente desistir da guarda do filho e entregá-lo ao Estado. Die fica revoltada com a sugestão e fala que jamais irá abandonar o filho. A partir daí, ela terá de levá-lo de volta pra casa e tenta ajudá-lo com o auxílio de uma nova amiga, uma vizinha traumatizada pela perda de um filho. Muitas desgraças se sucedem, com Steve agredindo os outros e a si mesmo o tempo todo. Há altos e baixos no processo de tentativa de reabilitação do rapaz e em alguns momentos pensamos que o filme poderá ter um final feliz. No fundo não é com isso que todos sonhamos? Dolan brinca com essas nossas expectativas ao ironizar os finais felizes de filmes mais comerciais numa sequencia bem interessante, para logo em seguida nos catapultar para uma das cenas mais duras e tristes que já vi na história do cinema, quando Die entrega o filho para uma instituição psiquiátrica. Estava desistindo? Para ela não, era uma esperança. Esperança de que? Nem ela sabe, nem nós. Kyla, a vizinha, sofre como nós, expectadores. "Eu perdi um filho, ela tem um e não quis ficar com ele", é o que ela parece nos dizer com seu olhar triste e desesperado nas cenas finais. No fim, todos terminam despedaçados. Ninguém sai melhor do que entrou e nós, espectadores, nos perguntamos qual a placa do caminhão que nos atropelou. A placa eu não sei, mas quem dirigia foi Xavier Dolan. Obrigado pelo atropelamento, Dolan. Precisamos de mais filmes assim. E o dilema moral fica: Você faria o mesmo que ela fez? Se não, consegue apedrejá-la?
Nota 10 para o trio protagonista! Obrigado pela mais bela e contagiante cena de dança que vi nos últimos anos. Obrigado pela trilha sonora, pela lindíssima fotografia, pelo desespero, pelas emoções, pelos dilemas morais. Mais um grande filme do menino prodígio do Canadá.
Gostei bastante do filme. O título já diz bem sobre o enredo: um garoto, Serginho, que está na adolescência e sofre uma série de perdas emocionais em sequência, tornando-se sozinho e desamparado. O restante dos comentários é spoiler:
Primeiro perde o pai, depois, perde Mudinho e Silvinha (amigo e "namorada"), logo a seguir, perde a mãe e o irmão. Entretanto, o professor Ney oferece a Serginho tudo o que ele busca e o que sente falta nessas relações interrompidas e frustradas. Diferente do que outras pessoas possam pensar, eu creio que ele tinha consciência de que queria algo a mais com o professor. Sem dúvidas é uma relação confusa, mas Serginho parece apreciar tal confusão, ele gosta da multiplicidade que Ney desperta nele, pois nessa amizade ele encontra tudo o que há de bom em suas relações com a família, o amigo e a "namorada" de uma só vez. Há afeto, carinho, amizade paternal... e há desejo, tesão. Acho que isso fica claro quando, após ser "rejeitado" pelo professor, ele vai à delegacia denunciá-lo por abuso sexual. Ora, Serginho sabe muito bem o teor sexual edipiano que tem com Ney e pensa em usar isso como vingança. Desconfio que o professor também sentisse atração pelo rapaz, pelo modo como o olha sem camisa, mas que não cede por dois motivos: primeiro por que sofre com uma auto-censura moral; segundo por que percebe que Serginho mistura tesão com carência paternal, o que o incomoda. Acho também que a amizade colorida com o professor não se explica apenas pela ausência de afeto e compreensão que encontra na família e nos amigos. Obviamente o carinho do professor ajuda a intensificar tal condição, mas me parece ser um sentimento construído há mais tempo. Quando ele pede um abraço no dia do seu aniversário, o enlace tem um forte caráter de carinho e desejo misturados. Ney percebe isso e usa a cadela Kenga como desculpa para se livrar da situação.
O final do filme foi exatamente o que eu mais esperava. Serginho foi atrás de sua vida. Foi atrás dos desejos . Decidiu que não há por que continuar vendo o desejo como ausência, mas como potência. Foi buscar suas potencialidades e abandonou o desejo destrutivo de vingança. Belo roteiro, belas interpretações (parabéns ao protagonista), ótima direção e mais um ponto positivo para o cinema nacional.
Achei bem melhor do que Latter Days. Gostei mais por ter focado na religião primeiro para depois abordar a sexualidade. Para quem nasceu em família muito religiosa, como a minha, é importante essa relação, pois nossa criação a respeito da sexualidade é permeada pelo estilo castrador do cristianismo em relação ao corpo. Gostei do filme ter colocado o uso do corpo como uma quebra de paradigma, apesar do filme não ter explorado tanto a corporealidade da relação dos dois, o que faltou em certa medida. Também achei estranho o fato do Elder Merrill dar uma "sumida" no final. Ficou estranho. De resto, gostei de tudo e ouvi falar de uma continuação. Seria ótimo, uma vez que o filme não resolveu muito bem a história de Merrill como fez com o RJ.
Apesar do pioneirismo do cinema francês em relação ao bullying homofóbico na escola e na família (há também os filmes ingleses "Get Real" e "Beautifull thing"), a França só foi legalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo muito recentemente. Basta lembrar que a aprovação da lei contou com forte oposição de largos setores sociais conservadores. Isso na França de hoje, imaginem há 14 anos atrás, quando esse filme foi lançado! Acho que obras como "Apenas uma questão de amor" são tão icônicas que os outros filmes que vem depois acabam se repetindo por copiá-los. Mas há um mérito que essa obra tem que não é aproveitada em filmes mais recentes. Em geral, películas de temática LGBT terminam ou em tragédias ou como propaganda de margarina, com todos felizes e sorridentes. O bom desse filme é que o final é realista, não apelando para nenhuma das duas saídas citadas anteriormente. O cinema francês de temática LGBT é um dos mais sóbrios e bem feitos. Não apela a tantos clichês e geralmente tem boas atuações. Esse filme, ao lado de outro francês de 2002 ("Devido a um rapaz"), marcam uma nova fase da história LGBT. A fase pós-Aids, quando o movimento precisa se reinventar e quando começa a colher as vitórias, com as primeiras legalizações de casamento igualitário na Europa. O foco desses filmes é a aceitação de si mesmo, como a máxima nietzscheana: "Torna-te quem tu és!". Sem fazer isso, não é possível enfrentar a sociedade e suas normas. É uma espécie de individualismo (Não num sentido pejorativo) militante que é a base pra qualquer reivindicação. Uma pequena pérola que nem é tão conhecida no Brasil. Vale muito a pena assistir.
Não dá pra negar que o filme é interessante por abordar de frente a questão da homossexualidade numa família religiosa. Nesse sentido, é quase uma obra de utilidade pública. Entretanto, para quem não é religioso ou não acredita na Bíblia (como eu), o filme não tem o mesmo impacto. Algumas partes são irritantemente didáticas (típico defeito dos filmes estadunidenses) em sua tentativa de explicar interpretações bíblicas sobre a homossexualidade. Nesses momentos o filme é quase proselitista. Pra quem não se importa com o que a Bíblia diz ou deixa de dizer sobre o tema, é chato ficar perdendo tempo com discussões sobre versículos, mas uma era em que há tantos "felicianos" por aí, é um filme obrigatório.
Diferente de alguns, não vi falta de desenvolvimento de relacionamento nenhum. O foco do filme não são os relacionamentos em si, mas o personagem central em sua busca por espaço. Gostei da forma como o filme abordou a homofobia na escola. É um filme de 2002, lá se vão 12 anos! Muita coisa que vemos e parece batida, na verdade, se deve ao fato desse estilo de contar histórias gays no cinema ter sido copiado posteriormente por vários filmes dessa temática. "Devido a um rapaz" é um filme precursor. Abriu portas, definiu uma época. Eu tinha 17 anos quando esse filme foi lançado, a mesma idade do personagem e creio que a obra retrata muito bem o início dos anos 2000, quando os LGBT voltaram a ganhar força depois do estrago que foi a pandemia de HIV nos anos 80 e 90. Naqueles anos, retomamos o fio da meada que se partira depois de uma militância ativa nos anos 70. E esse filme retrata isso muito bem: o novo fôlego que vivemos naqueles anos e que começou no fim da minha adolescência. Passados 12 anos, apesar de saber que a homofobia continua, a questão da homossexualidade é tratada de forma muito mais aberta pela sociedade. Sei que me repito muito fazendo esse comentário, mas acho que as pessoas querem muito historinhas muito explicadinhas, muito didáticas. Efeito Hollywood.
Há clichês como foi comentado, mas acho que o ponto válido do filme é a questão da depressão, do "bullying" e do uso negativo da internet. Mas eu achei tudo meio "dark" e depressivo demais. Talvez tenha sido a forma como o diretor encontrou de passar uma mensagem.
Eu achei, a cena do vídeo do menino morrendo sendo compartilhada na internet uma coisa chocante. Vejo sempre pelo Facebook gente compartilhando vídeo de mortes e não vejo graça nenhuma nisso. Essa cena final é impactante por isso: mostra a crueldade das pessoas, a espetacularização do sofrimento alheio. Gente compartilhando morte e sofrimento e rindo de tudo isso. Sério, essas coisas me fazem muito mal.
A ideia de que filme bom tem que ter muitos diálogos é algo hollywoodiano e uma obra que vai contra esse princípio será difícil para quem não está acostumado. O filme é um belo e singelo conto anarquista sobre liberdade e solidão. O filme trabalha com a questão da liberdade fomo forma de vida. Ser livre não é apenas ofender a polícia, mas ter a coragem de assumir seus desejos e não ter a vergonha de vivê-los. Enquanto Nick entende isso muito bem, não tendo medo de viver suas descobertas sexuais, Jesse segue o caminho oposto, numa falsa rebeldia contra "o sistema", mas que já está cooptada por ele. Uma rebeldia pudica que tem vergonha do inesperado prazer sexual homossexual que encontra no parceiro. Que tipo de rebelde é essa que supostamente enfrenta a polícia, mas que se curva diante da heteronormatividade? Esse é a pergunta que paira no ar. Ser livre não é apenas um ato isolado de pintar as paredes das cidades (isso qualquer pichador por aí pode fazer), mas um ato performático que envolve toda nossa vida: da rua à cama. Nick vê sua vida como uma obra de arte que contesta toda forma de coerção. Ele busca ser livre na sua vida como um todo: sem tabus sexuais, sem emprego, sem família, sem receio da polícia. E, por causa disso tudo, seu apelo final é por uma arte livre. Bela mensagem.
Amnésia Vermelha
4.1 6O que eu mais gostei nesse filme foi a forma como a história foi contada. No começo, parece que se trata de um suspense paranormal. Ligações telefônicas sem resposta. Um menino assustador (um fantasma?) aparecendo toda hora. Pedras sendo atiradas pela janela. Um passado sombrio que espreita.
O desenrolar da trama nos joga pra dentro do sanguinário passado recente da história chinesa. É quando descobrimos o verdadeiro fantasma que persegue a protagonista: uma escolha eticamente questionável que ela tomou e que a tem assombrado desde então. O filme é um ótimo retrato da China moderna, essa que substituiu a foto de Mao Tse Tung numa cédula por uma do estádio Ninho do pássaro; essa que finge esquecer o passado, talvez ignorando que isso não seja possível. Se não enfrentarmos o passado para acertar as contas com ele, ele volta pra puxar nosso pé à noite.
Quem Quer Ser um Milionário?
4.0 2,4K Assista AgoraAchei as situações bastante forçadas! Todas as perguntas eram surpreendentemente relacionadas com alguma coisa da vida dele! E tudo se explica por que simplesmente "estava escrito". Não gosto desse tipo de mensagem que atribui ao destino o sucesso de uma pessoa. Por que tipo, ele ficou rico, ok. Mas e os outros milhões de indianos que continuam pobres?
Claro que o filme não deixa de ser muito divertido, as músicas são maravilhosas e a gente torce muito pelo protagonista, mas ganhar o oscar foi bem exagerado.
The Love of Siam
4.2 75Eu já tinha comentado sobre esse filme, mas vou comentar de novo por causa do que as pessoas falam sobre o final dele
Acho que por culpa de Hollywood e de bobagens como Nicholas Spark, as pessoas acreditam em baboseiras do tipo "O amor vence tudo" ou "quem ama de verdade fica ao lado do seu amor pra todo sempre", etc.
Romance de propaganda de margarina tipo "A culpa é das estrelas" faz um mal danado às pessoas. Elas veem aquilo e acreditam que suas vidas um dia vão encontrar um amor que é um príncipe encantado que vai ser tão bom a ponto de te dar um rim depois de duas semanas de namoro! Pera lá, gente! O final desse filme é muito mais realista do que 90% dos filmes de romance. Eu conheço um trilhão de pessoas que tem famílias razoáveis e mesmo assim preferem ficar no armário. O Tong ainda tem problemas em relação à sexualidade dele, não importa se a mãe tentou ser compreensiva no final. Isso é algo que ele tem que resolver consigo mesmo. As pessoas são muito complicadas na vida real. Estou falando de pessoas de carne e osso e não dos personagens "príncipe e princesa" dos contos de fadas. As pessoas de carne e osso tomam atitudes precipitadas, erradas, às vezes dá tempo de se arrepender, às vezes, não. Entendo muita gente não gostar do final, mas dizer que é non-sense eu não entendo! O final é bastante verossímil e factível com o mundo real. Em geral, nos filmes românticos, ou alguém morre no final, ou os dois são felizes para sempre. Esse tem um final alternativo, a separação (que não sabemos se é definitiva). E, pasmem, esse é o final mais comum na vida real.
O que eu me pergunto é: por que não gostamos da vida real e precisamos acreditar em amores impossíveis para nos iludirmos? Tem um filme que faz uma sátira dos romances hollywoodianos que se chama "Como não perder essa mulher". Recomendo pra pensarem sobre essa questão.
Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo
3.3 809 Assista AgoraDiferente da maioria eu não achei o filme nem arrastado e nem cansativo. Assisti tudo com bastante apreensão e nervosismo. O diretor soube trabalhar muito bem a atmosfera da casa dos du Pont, principalmente pelo mobiliário, pela decoração e pela solidão e psicopatia que pairam pelos corredores da mansão. O que segura o filme muito bem é a excelente interpretação do trio protagonista. Mark Ruffalo não é nenhuma surpresa, visto que ele sempre arrasa, mas confesso que me surpreendi positivamente com Channing Tatum e Steve Carell. Ambos não são conhecidos por fazerem filmes muito "sérios", principalmente Carell, que despontou estrelando comédias (algumas muito ruins, como "A volta do Todo-Poderoso"). Sua interpretação está perfeita, na medida, sem excessos. Tatum também está bastante consistente.
O filme começa de modo muito lento, quase parando, e a narrativa vai tomando fôlego e acelerando aos poucos, à medida que John du Pont progressivamente descortina sua loucura, levando consigo os irmãos Schultz. Eu achei fantástica a construção psicológica da trama e, como a maioria, me surpreendi com o final.
Vale muito a pena conferir!
Gravidade
3.9 5,1K Assista AgoraPelos comentários positivos que eu ouvi sobre o filme, confesso que esperava bem mais. A começar pela indicação de Bullock ao Oscar. Sinceramente não vi nada nela que merecesse a indicação. Acho-a uma atriz mediana e não foi diferente aqui.
Tecnicamente o filme é muito bem feito, mas falta roteiro. Achei todo o drama muito raso e pouco aprofundado, mas creio que o objetivo do filme foi fazer as pessoas sentirem o drama através de uma experiência sensorial com as câmeras girando e o 3D. Bom, funcionou pra muita gente, mas não comigo. Raramente um filme consegue me ganhar apenas com a parte técnica. Não digo que não gosto do 3D, mas dificilmente isso faz diferença substancial pra mim. Prefiro quando o 3D e a técnica são bem aproveitadas ao lado de um bom roteiro. Um exemplo, pra mim, é "Hugo Cabret". Se "Gravidade" tivesse feito no espaço o que Cabret fez na Paris de muitos anos atrás, eu bateria palmas. Mas ficou só na inovação técnica, na tentativa de nos fazer sentir o mesmo que a protagonista estava sentindo. Não é um filme ruim, mas faltou ousadia.
Kramer vs. Kramer
4.1 546 Assista AgoraSou uma das poucas pessoas que acha que esse filme mereceu mais o oscar do que Apocalipse Now!
Interestelar
4.3 5,7K Assista AgoraEu achei o melhor filme do Christopher Nolan e o melhor filme de ficção científica desde "2001 - Uma odisseia no espaço". Gostei da coragem em apostar mais no roteiro do que em grandes cenas de ação e explosão (na minha opinião é o oposto do que acontece em "Gravidade"). Não vá ao cinema esperando ver um "Transformer", pois o filme de Nolan é um drama. Infelizmente isso pode afastar o grande público que só paga um ingresso caro para ver pancadaria. Isso não quer dizer que o roteiro seja parado, pelo contrário, a trama prende bastante a atenção e eu mal vi as horas passarem.
Acho que o foco do longa são as relações humanas e como a interação entre as pessoas é mais importante do que a mera sobrevivência em si, coisa que o personagem de Matt Damon não compreende. Essa afetividade, esse calor humano que o filme tenta expressar como uma dimensão física da realidade se expressa a todo momento. Os robôs, por exemplo, são tão humanos que Brand sente pena de TARS quando acha que ele será descartado. Até Dr. Mann, o vilão do filme, ao acordar da hibernação, abraça o protagonista e chora. Sente falta do calor humano, de ver um rosto humano. A presença humana afasta a solidão. Mesmo ele, sendo tão mesquinho, reconhece esse fato ao despertar, ainda que depois ele siga em sua missão anti-ética.
Pra ser sincero, preciso ainda pensar e digerir o filme. O único defeito que me incomodou foi a patriotada de sempre (estadunidenses salvando o mundo de novo. Poderia ser uma missão internacional, por exemplo). Mas, no geral, saí muito impactado e feliz. Recomendo que vão para o cinema e vejam por vocês mesmos.
Como Estrelas na Terra
4.4 794Lembrar desse filme é algo especial para mim por vários motivos. Primeiro por que foi o primeiro filme indiano que eu vi. Meu primeiro contato com Bollywood, portanto. Segundo que assisti-o numa sessão no Espaço de Cinema (atual Estação Botafogo, no Rio), sendo a primeira vez que fui nesse cinema que se tornaria meu favorito posteriormente. E também foi a primeira vez que fui ao Festival de Cinema do Rio, isso em 2009.
Não quero ficar me demorando em elogios ao longa por que muito já foi dito nos comentários anteriores, mas queria destacar uma cena que me impactou muito e que jamais esqueci. Num prova de matemática o pequeno Ishaan, ao invés de resolver o problema proposto, simplesmente "viaja" e desenha uma nave espacial. Para a professora poderia parecer apenas um erro bobo ou uma recusa em fazer o dever, mas pra quem assistiu ao show de criatividade do garoto ao desenhar um foguete na prova, quem fica parecendo medíocre é a professora e o sistema escolar, que poda, castra, diminui a potencialidade das pessoas. Essa cena foi tão forte pra mim que toda vez que eu ouço a palavra "dislexia" me vem à cabeça aquele foguete desenhado por Ishaan, desafiando as normas caretas das nossas sociedades sem graça.
Casa Grande
3.5 576 Assista AgoraAlguém sabe quando o filme estreia em circuito comercial?
Trash: A Esperança Vem do Lixo
3.7 556 Assista AgoraO filme cumpre muito bem o papel de entreter, não posso negar. É um thriler de tirar o fôlego, mas eu me pergunto se, assim como em "Quem quer ser um milionário?", Daldry não tenha caído na velha armadilha colonialista de vir ao "terceiro mundo" denunciar as mazelas sociais, num empoeirado mas sempre reiterado esforço "civilizatório". Assim como o discurso colonial, o roteiro peca por ser maniqueísta. De um lado temos uma polícia opressora e políticos inescrupulosos e do outro três crianças inexplicavelmente dotadas de fibra moral inabalável e incorruptíveis. Daldry parece usar os missionários cristãos estrangeiros como seu alter-ego. São pessoas boas e altruístas que se sentem de mãos atadas diante de tanta miséria, corrupção e violência. Cabe a eles o papel final de expor e denunciar a história ao mundo, como se os próprios brasileiros, cegos talvez, não tivessem a capacidade de ver o que estava acontecendo. Apesar dos três meninos serem os heróis, quem expõe a história ao público e torna possível a explosão dos protestos populares são os missionários e não os garotos. Os rapazes realizam vários feitos dignos de um Odisseu, mas terminam ingenuamente vivendo em reclusão, sem contar a ninguém o que fizeram, sem denúncia, sem vingança, mas também sem justiça. Isso me incomodou bastante, pois parece-me que os brasileiros acabam sendo retratados como se fossem ou ingênuos e puros (reedição do "bom selvagem") ou como meros manipulados pelo poder. A racionalidade e o espírito crítico permanecem nos missionários, que enxergam tudo "de fora" e são capazes de articular os dois pólos (os meninos puros e o povo "alienado" que sai às ruas para protestar) ao divulgar o vídeo com a história na internet.
Assim como "Quem quer ser um milionário?" fez sucesso, é provável que esse filme também faça, mas não deixa de ser uma pena que um diretor de filmes extraordinários como "Billy Elliot" e "O Leitor" tenha pecado tanto em "Trash". É sem dúvida seu trabalho mais fraco. Uma oportunidade perdida! Se ainda dei tantas estrelas é por que os atores merecem destaque. O trio de garotos está sensacional e cada um deles merece pelo menos uma estrela. Selton Melo e Wagner Moura também arrasaram, mesmo com personagens caricatos. Ainda assim creio que o filme seja uma ótima oportunidade para se trabalhar o tema do pós-colonialismo na sala de aula, pois demonstra que o eurocentrismo está presente até mesmo onde menos se espera.
Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda do Santuário
2.5 810 Assista AgoraVendo o filme e depois vindo aqui ler os comentários eu admito que ri a ponto de minha barriga doer. Ver a revolta das pessoas com a pavorosa aparição do Máscara da Morte é cômico e trágico ao mesmo tempo! A cena inteira ficou tão ruim, mas tão ruim que eu ri a ponto de ficar sem ar! Sou do tipo que não lamenta esse tipo de tragédia. Já que fizeram uma merda mesmo, eu aproveitei pra gargalhar com os defeitos bizonhos do filme que superam em muito as poucas qualidades.
Por ser muito curto, o filme não tem profundidade nenhuma. Os personagens são rasos e planos e não há explicação clara do que está acontecendo. Quem não conhece o anime deve ficar boiando, horrorizado. Se bem que quem conhece, como eu, fica horrorizado também.
Shun não lutou sozinho nenhuma vez, coitado. Ikki mal aparece. Seya faz tudo, mas é pastelão mala sem alça (nisso não mudou muito do anime, rs) e Saori é outra chata com síndrome de Madre Teresa de Calcutá.
Saga de gêmeos se transformando numa espécie de Exu Tranca Rua Maligno (no sentido pejorativo da coisa) ao final do filme também foi bem constrangedor.
Pra quem é fã do anime, não adianta eu dizer pra não assistir pq não vão conseguir fazê-lo, apesar das críticas negativas. Mas pra quem não é fã, nem vejam. Vão ficar com uma impressão ruim. Assistam logo o anime que é melhor!
Resumindo: o filme ficou ó, uma bosta!
Boyhood: Da Infância à Juventude
4.0 3,7K Assista AgoraO filme é bem grande e mal vi a hora passar. Minhas atenções foram totalmente absorvidas pela história. Vale aqui muito mais o trabalho de direção do que o roteiro em si. O filme quebra a tradicional divisão de um roteiro básico com apresentação e dois pontos de giro antes do clímax e o final. Como se trata de um filme que tenta mostrar uma vida cotidiana e o crescimento de um garoto, não faria sentido estruturar a trama como se fosse um roteiro "tradicional" de cinema, pois a vida não é como nos filmes em que acontecem coisas fantásticas, emocionantes a todo momento. Ou será que é? Linklater demonstra nesse filme como a vida simples que cada um de nós vive pode ser mais emocionante e espetacular do que parece. Vendo o filme eu passei em revista toda a minha vida e pude perceber que ela é bem mais interessante do que eu tinha pensando. Eu não sou nenhum super herói e nem nunca salvei crianças da fome na África, mas eu também já discuti com meus pais, já tive desilusões amorosas, já deletei meu Facebook, já mudei de opinião várias vezes, já tive uma irmã mais velha com quem eu brigava, já entrei na faculdade, já tive o cabelo cortado contra minha vontade, já senti ódio por uma figura de autoridade, já me mudei várias vezes por causa dos meus pais e também por minha vontade, dentre outras. Todas pequenas coisas que me pareciam banais na hora, mas que olhando retrospectivamente, penso: "Caralho, que viagem! Minha vida é foda, olha quantas coisas construí! E quantas coisas ainda posso fazer?".
Foi muito marcante pra mim as duas conversas que Maison tem com a mãe e o pai antes do final do filme. Por que são conversas em que está em questão o próprio sentido da vida. Nós meio que seguimos um protocolo: estudar, namorar, fazer faculdade, casar, ter filhos, etc... Viver é isso? É o que a mãe questiona ao final do filme: Depois que cumprimos esse ritual compulsório o que resta? Morrer? O pai dá uma resposta mais despojada ao dizer que não sabe o sentido da vida, apenas está tentando se virar. Não é isso que todos fazemos? Eu mesmo me pego pensando nisso. Me mudei de estado pra estudar, fiz mestrado, hoje faço doutorado, em breve estarei na África fazendo pesquisas. Talvez seja professor de universidade no futuro (acho que esse é o projeto) e fico me perguntando se é isso mesmo. Acho que o grande problema das nossas vidas hoje em dia é que, influenciados pelo cinema, pelos livros, etc, nós esperamos que a vida tenha um clímax, como quando Darth Vader se redime e salva Luke Skywalker em Star Wars VI; ou quando Harry Potter derrota Lord Voldemort com um feitiço "Expelliarmus". As referências da cultura pop ao longo desse filme não são gratuitas, pois elas são experiências que nos constituem como sujeitos. E nós ansiamos loucamente para sermos os heróis dessas histórias, mesmo que inconscientemente. Por isso a decepção da mãe na conversa com o filho. Ela conseguiu tudo o que queria: criou os filhos, conseguiu terminar os estudos, conseguiu o emprego dos sonhos, mas mesmo assim ainda estava esperando esse clímax, como num filme, ou como um clipe super produzido da Lady Gaga.
Enfim, só tenho a agradecer por ter visto o filme no Festival do Rio e dizer que é o melhor filme que vi no Festival até agora. Vão aos cinemas e se apaixonem também. Viver é bom demais, né, gente?
Xenia
3.0 19Um filme gracioso! O personagem "Dany" é simplesmente maravilhoso! Tão humano, tão cheio de defeitos, de sonhos, qualidades, energia e vigor! Eu queria ter um amigo como ele, pra abraçar, dançar, dar umas porradas em uns homofóbicos na rua (não apoio a violência, mas admito que o Dany me dá vontade de fazer isso) e brincar com o Dido. Ele é tão apaixonante que dá vontade de entrar na tela e pegar ele nos braços pra pôr no colo.
Não bastasse os personagens serem bons (o Ody também é um cara muito simpático que torcemos ao longo do filme) a história é conduzida de forma muito interessante. O velho tema da busca pelo reconhecimento paterno, entremeada por uma Grécia que é considerada a ralé da União Europeia, mas que esconde dentro dela forte xenofobia contra imigrantes, especialmente albaneses. Pois é, oprimidos também podem ser opressores. Acho que fica até difícil realizar tal separação de forma muito nítida. Dany sofre discriminação dos gregos "legítimos", mas os próprios albaneses "compatriotas" são homofóbicos em relação a ele. Alemães oprimindo gregos, gregos oprimindo albaneses, albaneses oprimindo gays, etc. A coisa não tem fim. O fascismo nos espreita.Contra ele, "Dany" dispara sua pinta, seu cabelo glamouroso, suas roupas apertadas. O próprio corpo como arma. Ele sonha, delira, grita. Seu irmão, mais racional, tenta podar seus excessos, mas sem cortar-lhe as asas. Ody também quer voar. E o filme é a história de um voo. O final, feliz, sem ser piegas.
O pai? Bom, encontrá-lo não era bem a grande questão. Eles queriam encontrar a si mesmos. E conseguiram. Adorei o fato da paternidade ficar em suspenso. Não fica claro se o homem que conheceram no final era mesmo o pai. É verdade que ele "confessou" sob pressão, mas o olhar que sua mulher lhe endereçou depois que os meninos saíram, deixa dúvidas. O pai poderia ser qualquer outro. Poderia ser o próprio Tassos (o homem que Dany lembra com carinho de dormir em seu peito cabeludo), ou já ter morrido. O importante, na verdade, é que o pai já havia sido encontrado quando encontraram Tassos, pois sendo ele o pai biológico ou não, seria a partir de então, o pai de fato. Então por que eles continuaram a jornada mesmo depois disso? A viagem pra Tessalônica, nesse sentido, é uma viagem de auto-descoberta, de aventuras, de descobertas de novos amores (bela cena no banheiro entre Dany e o rapaz de cabelos vermelhos; e entre Ody e Maria em frente ao mar), de vencer medos e desafios. Talvez não estivesse totalmente claro para os dois que a jornada pelo pai já terminara bem antes, mas ficou claro depois, quando se defrontam com o suposto pai biológico e saem totalmente satisfeitos, mesmo que a dúvida permaneça.
A grande questão que permeia o filme, pra mim, é: "A qual lugar pertenço?" ou "Devo pertencer a algum lugar"? Maria diz: "Nós, imigrantes, somos estrangeiros em qualquer lugar". Ody responde: "Mas nos sentimos em casa em qualquer lugar também". E não é verdade? Eu me senti o terceiro irmão da família, me senti grego e albanês, me senti pintosa no meio de uma roda de homofóbicos, me senti uma mulher albanesa atacada por um bando de fascistas. Agradeço por esse sentimento.
Mommy
4.3 1,2K Assista AgoraXavier Dolan amadureceu. E se tornou mais "dark". Quando terminei de ver o filme, meu amigo ao meu lado me olhou e disse: "Esse filme é bom, mas torturante". De fato, a história do rapaz problemático e sua relação com a mãe e a nova vizinha é um soco no estômago. Eu diria, na verdade, uma sequencia de socos no estômago. E um atrás do outro, sem tempo de respirar ou se recompor. O filme é muito intenso, com emoções aflorando a todo momento. Há muita raiva, desejo, frustração, brigas a cada instante. Não dá tempo de conseguir pensar, de tantos sentimentos explodindo pela tela a cada momento. A fotografia é lindíssima e a jogada com a tela (imagem curta umas horas e widescreen amplo em outras) foi uma boa sacada.
Apesar da censura ser de 14 anos, não pense que é uma história leve. Vá preparado. É uma trama tensa, dura, triste, desesperadora. O filme é gritado, berrado, me lembrou Almodóvar, mas muito mais "dark" e "sério". O grande dilema é: como lidar com as tentativas de Steve de destruir a todos e a si mesmo?
No começo do longa, Die vai ao internato onde está seu filho e ouve que o amor não é capaz de lidar com a situação do garoto e que ela teria que lidar com aquilo de outra forma, que deveria descobrir um caminho. Ou simplesmente desistir da guarda do filho e entregá-lo ao Estado. Die fica revoltada com a sugestão e fala que jamais irá abandonar o filho. A partir daí, ela terá de levá-lo de volta pra casa e tenta ajudá-lo com o auxílio de uma nova amiga, uma vizinha traumatizada pela perda de um filho. Muitas desgraças se sucedem, com Steve agredindo os outros e a si mesmo o tempo todo. Há altos e baixos no processo de tentativa de reabilitação do rapaz e em alguns momentos pensamos que o filme poderá ter um final feliz. No fundo não é com isso que todos sonhamos? Dolan brinca com essas nossas expectativas ao ironizar os finais felizes de filmes mais comerciais numa sequencia bem interessante, para logo em seguida nos catapultar para uma das cenas mais duras e tristes que já vi na história do cinema, quando Die entrega o filho para uma instituição psiquiátrica. Estava desistindo? Para ela não, era uma esperança. Esperança de que? Nem ela sabe, nem nós. Kyla, a vizinha, sofre como nós, expectadores. "Eu perdi um filho, ela tem um e não quis ficar com ele", é o que ela parece nos dizer com seu olhar triste e desesperado nas cenas finais. No fim, todos terminam despedaçados. Ninguém sai melhor do que entrou e nós, espectadores, nos perguntamos qual a placa do caminhão que nos atropelou. A placa eu não sei, mas quem dirigia foi Xavier Dolan. Obrigado pelo atropelamento, Dolan. Precisamos de mais filmes assim. E o dilema moral fica: Você faria o mesmo que ela fez? Se não, consegue apedrejá-la?
Nota 10 para o trio protagonista! Obrigado pela mais bela e contagiante cena de dança que vi nos últimos anos. Obrigado pela trilha sonora, pela lindíssima fotografia, pelo desespero, pelas emoções, pelos dilemas morais. Mais um grande filme do menino prodígio do Canadá.
Ausência
3.4 71Gostei bastante do filme. O título já diz bem sobre o enredo: um garoto, Serginho, que está na adolescência e sofre uma série de perdas emocionais em sequência, tornando-se sozinho e desamparado. O restante dos comentários é spoiler:
Primeiro perde o pai, depois, perde Mudinho e Silvinha (amigo e "namorada"), logo a seguir, perde a mãe e o irmão. Entretanto, o professor Ney oferece a Serginho tudo o que ele busca e o que sente falta nessas relações interrompidas e frustradas. Diferente do que outras pessoas possam pensar, eu creio que ele tinha consciência de que queria algo a mais com o professor. Sem dúvidas é uma relação confusa, mas Serginho parece apreciar tal confusão, ele gosta da multiplicidade que Ney desperta nele, pois nessa amizade ele encontra tudo o que há de bom em suas relações com a família, o amigo e a "namorada" de uma só vez. Há afeto, carinho, amizade paternal... e há desejo, tesão. Acho que isso fica claro quando, após ser "rejeitado" pelo professor, ele vai à delegacia denunciá-lo por abuso sexual. Ora, Serginho sabe muito bem o teor sexual edipiano que tem com Ney e pensa em usar isso como vingança. Desconfio que o professor também sentisse atração pelo rapaz, pelo modo como o olha sem camisa, mas que não cede por dois motivos: primeiro por que sofre com uma auto-censura moral; segundo por que percebe que Serginho mistura tesão com carência paternal, o que o incomoda. Acho também que a amizade colorida com o professor não se explica apenas pela ausência de afeto e compreensão que encontra na família e nos amigos. Obviamente o carinho do professor ajuda a intensificar tal condição, mas me parece ser um sentimento construído há mais tempo. Quando ele pede um abraço no dia do seu aniversário, o enlace tem um forte caráter de carinho e desejo misturados. Ney percebe isso e usa a cadela Kenga como desculpa para se livrar da situação.
O final do filme foi exatamente o que eu mais esperava. Serginho foi atrás de sua vida. Foi atrás dos desejos . Decidiu que não há por que continuar vendo o desejo como ausência, mas como potência. Foi buscar suas potencialidades e abandonou o desejo destrutivo de vingança. Belo roteiro, belas interpretações (parabéns ao protagonista), ótima direção e mais um ponto positivo para o cinema nacional.
The Falls: O Amor Não É Pecado
3.6 30 Assista AgoraAchei bem melhor do que Latter Days. Gostei mais por ter focado na religião primeiro para depois abordar a sexualidade. Para quem nasceu em família muito religiosa, como a minha, é importante essa relação, pois nossa criação a respeito da sexualidade é permeada pelo estilo castrador do cristianismo em relação ao corpo. Gostei do filme ter colocado o uso do corpo como uma quebra de paradigma, apesar do filme não ter explorado tanto a corporealidade da relação dos dois, o que faltou em certa medida.
Também achei estranho o fato do Elder Merrill dar uma "sumida" no final. Ficou estranho. De resto, gostei de tudo e ouvi falar de uma continuação. Seria ótimo, uma vez que o filme não resolveu muito bem a história de Merrill como fez com o RJ.
Apenas uma Questão de Amor
4.0 150Apesar do pioneirismo do cinema francês em relação ao bullying homofóbico na escola e na família (há também os filmes ingleses "Get Real" e "Beautifull thing"), a França só foi legalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo muito recentemente. Basta lembrar que a aprovação da lei contou com forte oposição de largos setores sociais conservadores. Isso na França de hoje, imaginem há 14 anos atrás, quando esse filme foi lançado!
Acho que obras como "Apenas uma questão de amor" são tão icônicas que os outros filmes que vem depois acabam se repetindo por copiá-los. Mas há um mérito que essa obra tem que não é aproveitada em filmes mais recentes. Em geral, películas de temática LGBT terminam ou em tragédias ou como propaganda de margarina, com todos felizes e sorridentes. O bom desse filme é que o final é realista, não apelando para nenhuma das duas saídas citadas anteriormente.
O cinema francês de temática LGBT é um dos mais sóbrios e bem feitos. Não apela a tantos clichês e geralmente tem boas atuações. Esse filme, ao lado de outro francês de 2002 ("Devido a um rapaz"), marcam uma nova fase da história LGBT. A fase pós-Aids, quando o movimento precisa se reinventar e quando começa a colher as vitórias, com as primeiras legalizações de casamento igualitário na Europa. O foco desses filmes é a aceitação de si mesmo, como a máxima nietzscheana: "Torna-te quem tu és!". Sem fazer isso, não é possível enfrentar a sociedade e suas normas. É uma espécie de individualismo (Não num sentido pejorativo) militante que é a base pra qualquer reivindicação. Uma pequena pérola que nem é tão conhecida no Brasil. Vale muito a pena assistir.
Orações para Bobby
4.4 1,4KNão dá pra negar que o filme é interessante por abordar de frente a questão da homossexualidade numa família religiosa. Nesse sentido, é quase uma obra de utilidade pública.
Entretanto, para quem não é religioso ou não acredita na Bíblia (como eu), o filme não tem o mesmo impacto. Algumas partes são irritantemente didáticas (típico defeito dos filmes estadunidenses) em sua tentativa de explicar interpretações bíblicas sobre a homossexualidade. Nesses momentos o filme é quase proselitista. Pra quem não se importa com o que a Bíblia diz ou deixa de dizer sobre o tema, é chato ficar perdendo tempo com discussões sobre versículos, mas uma era em que há tantos "felicianos" por aí, é um filme obrigatório.
Devido a um Rapaz
3.3 40Diferente de alguns, não vi falta de desenvolvimento de relacionamento nenhum. O foco do filme não são os relacionamentos em si, mas o personagem central em sua busca por espaço. Gostei da forma como o filme abordou a homofobia na escola. É um filme de 2002, lá se vão 12 anos! Muita coisa que vemos e parece batida, na verdade, se deve ao fato desse estilo de contar histórias gays no cinema ter sido copiado posteriormente por vários filmes dessa temática. "Devido a um rapaz" é um filme precursor. Abriu portas, definiu uma época. Eu tinha 17 anos quando esse filme foi lançado, a mesma idade do personagem e creio que a obra retrata muito bem o início dos anos 2000, quando os LGBT voltaram a ganhar força depois do estrago que foi a pandemia de HIV nos anos 80 e 90. Naqueles anos, retomamos o fio da meada que se partira depois de uma militância ativa nos anos 70. E esse filme retrata isso muito bem: o novo fôlego que vivemos naqueles anos e que começou no fim da minha adolescência. Passados 12 anos, apesar de saber que a homofobia continua, a questão da homossexualidade é tratada de forma muito mais aberta pela sociedade.
Sei que me repito muito fazendo esse comentário, mas acho que as pessoas querem muito historinhas muito explicadinhas, muito didáticas. Efeito Hollywood.
Sala do Suicídio
3.8 275Há clichês como foi comentado, mas acho que o ponto válido do filme é a questão da depressão, do "bullying" e do uso negativo da internet. Mas eu achei tudo meio "dark" e depressivo demais. Talvez tenha sido a forma como o diretor encontrou de passar uma mensagem.
Eu achei, a cena do vídeo do menino morrendo sendo compartilhada na internet uma coisa chocante. Vejo sempre pelo Facebook gente compartilhando vídeo de mortes e não vejo graça nenhuma nisso. Essa cena final é impactante por isso: mostra a crueldade das pessoas, a espetacularização do sofrimento alheio. Gente compartilhando morte e sofrimento e rindo de tudo isso. Sério, essas coisas me fazem muito mal.
Os Garotos do Grafite
2.5 16A ideia de que filme bom tem que ter muitos diálogos é algo hollywoodiano e uma obra que vai contra esse princípio será difícil para quem não está acostumado.
O filme é um belo e singelo conto anarquista sobre liberdade e solidão. O filme trabalha com a questão da liberdade fomo forma de vida. Ser livre não é apenas ofender a polícia, mas ter a coragem de assumir seus desejos e não ter a vergonha de vivê-los. Enquanto Nick entende isso muito bem, não tendo medo de viver suas descobertas sexuais, Jesse segue o caminho oposto, numa falsa rebeldia contra "o sistema", mas que já está cooptada por ele. Uma rebeldia pudica que tem vergonha do inesperado prazer sexual homossexual que encontra no parceiro. Que tipo de rebelde é essa que supostamente enfrenta a polícia, mas que se curva diante da heteronormatividade? Esse é a pergunta que paira no ar. Ser livre não é apenas um ato isolado de pintar as paredes das cidades (isso qualquer pichador por aí pode fazer), mas um ato performático que envolve toda nossa vida: da rua à cama. Nick vê sua vida como uma obra de arte que contesta toda forma de coerção. Ele busca ser livre na sua vida como um todo: sem tabus sexuais, sem emprego, sem família, sem receio da polícia. E, por causa disso tudo, seu apelo final é por uma arte livre.
Bela mensagem.
O Último Mestre do Ar
2.7 2,1K Assista AgoraUm dos desenhos mais fodas já feitos e conseguem destruir a história no cinema. Que desperdício.
Delicada Atração
4.0 374 Assista AgoraAlguém sabe o nome da música que toca quando os dois se beijam na floresta?
Speechless
3.1 7Uma pena que esse interessante filme tenha nota tão baixa. Merecia bem mais.