A premissa, apesar de não totalmente original, é boa, pois tornar um alienígena o protagonista de uma mistura de falso documentário com ficção científica experimental é o tipo de idéia que dá pra render situações originais e divertidas.
Herzog ainda consegue encontrar soluções criativas para contornar as limitações autoimpostas de não fazer uso de efeitos especiais, trabalhando apenas com imagens de explorações submarinas e espaciais verdadeiras, tornando-as poéticas e ficcionais através da narração de seu porta-voz no filme, interpretado por Brad Dourif com sua excentricidade costumeira.
O principal problema de Além do Azul é no que diz respeito ao tom. Tem horas que ele soa como sátira, em outras como ficção científica que quer se levar a sério, através dos dados concretos que apresenta ao espectador visando levá-lo à reflexão, e em outras tenta abordar as situações com um humor que acaba não funcionando tão bem quanto deveria.
É um trabalho estranho, que luta pra ser mais original do que realmente é. Termina como um exercício imaginativo razoável, mas a impressão que passa é que Herzog não foi bem sucedido ao entrar num território no qual não estava muito habituado. Ele é terráqueo demais pra bancar o alienígena, claramente uma projeção de si mesmo.
Quem precisa de filmes de ficção pós-apocalípticos, com seus cenários que tentam imaginar as conseqüências mais cataclísmicas das ações do homem neste planeta, quando temos um diretor como Herzog, capaz de buscar neste mundo mesmo onde vivemos imagens dantescas de proporções colossais que impressionam mais que qualquer criação ficcional, justamente por tratar-se de algo que realmente aconteceu?
Não há como não se impressionar com a beleza aterrorizante do que se vê neste documentário. Cinema puro, de poucas palavras, que fulmina o espectador pela extensão do que registrou na tela.
É sempre um prazer ouvir Herzog falando de seu ofício/paixão/amor, especialmente quando isto expande nossa compreensão e interpretação de seus filmes. O diretor Peter Buchka, muito acertadamente, permite que Herzog fale sem qualquer interferência direta. Ouvimos apenas sua voz, seguida de trechos significativos de seus filmes, os quais, graças ao ótimo trabalho de montagem, acabam mais enriquecidos pelo novo nível de compreensão que conquistamos depois de ouvir os relatos do cineasta. Cogitei seriamente reavaliar alguns filmes de Herzog depois de assistir este documentário, que considero essencial para os admiradores do diretor. Mas recomendo assisti-lo apenas depois de conferir toda a produção do período abordado (1967-1987), pois ele revela os finais de vários filmes.
Herzog muito louco em início de carreira, acreditando que reunir um elenco todo composto por atores anões [aparentemente] amadores em sua maioria, e botá-los tocando o terror durante o filme inteiro, era uma boa idéia. Realmente é, e diverte em boa parte do tempo, mas lá pelo meio o caos, que faz bem ao início da história, pois é ele que torna o espectador curioso pra saber o que está acontecendo, acaba se estendendo além do ideal. Tudo acaba se tornando repetitivo, forçado e um tanto degradante, como se a mórbida curiosidade de vermos aquilo tudo ser causado por anões fosse o suficiente para garantir que a trama se sustentasse por mais de uma hora e meia.
Não é um filme ruim, mas dava pra ter uma duração menor, e se beneficiaria muito com um pouco mais de clareza no que diz respeito às circunstâncias do ocorrido, e à mensagem que ele pretendia passar.
O diretor merece um desconto aqui, pois com o passar dos anos ele conseguiu atingir um equilíbrio ideal em que, por mais insanas que fossem as situações apresentadas, havia uma trama que se desenvolvia e, se não chegava a uma conclusão bem definida, ao menos dava indícios de caminhar para alguma direção. Aqui não há direção alguma, o caos reina, os anões se divertem, e a risadinha diabólica do Hombré parece dizer que tudo foi apenas uma grande travessura de Herzog.
É impossível não concordar com o Francisco. E digo mais, a direção de arte promove um espetáculo à parte, pois, somada aos complexos, mas sempre elegantes, movimentos de câmera do Fassbinder, cria composições que fazem com que os atores por vezes se percam naqueles ambientes cheios de superfícies reflexivas, espelhos e cores artificiais, como se estivessem envolvidos por um mundo de circuitos de computador, o que, na primeira parte do filme, é usado o tempo todo, dando pistas da revelação que a encerra, permitindo, com elas, que o espectador participe da investigação do protagonista, e até antecipe sua descoberta se atentar para os vários indícios.
Trabalho de direção brilhante, que dá gosto de ver, tanto pelo deleite visual que proporciona, como pelo jogo que oferece ao espectador que se deixa envolver por aquela rede de intrigas e mistérios.
O filme mais inebriante, entorpecedor, e um dos mais contemplativos da filmografia de Herzog. Pra deixar-se arrebatar por toda aquela loucura e misticismo medieval, e tentar decifrar parte desse mistério que envolve a eterna relação de amor e ódio entre o homem e a natureza.
Impressionante como, por mais difícil que seja compreender algumas passagens e a relação entre elas, há uma fluidez na narrativa que passa a sensação de se estar deitado sobre o oceano, se deixando levar pela maré.
São muitos os filmes que levam o espectador a se compadecer do que ocorre aos personagens que desfilam pela tela, mas poucos tocam tão profundamente quem assisti de forma a ampliar sua visão do mundo ao apresentar uma parte dele que desconhecíamos, ou que, mesmo conhecendo-o, não era o suficiente pra nos importar com ele a ponto de nos envolver com seus habitantes.
"Terra de Silêncio e Escuridão" é talvez um dos documentários com maior poder de despertar a compaixão humana já produzidos, e digo isto sem exageros. É impossível que qualquer pessoa que tenha um mínimo de sensibilidade termine de assisti-lo sem que sinta em algum momento a garganta embargada, uma lágrima teimando pra sair dos olhos, ou uma vontade de ser mais humanos do que normalmente somos.
Muitos acusam Herzog de ser frio com seus "objetos de estudo", mas aqui eu vi um diretor extremamente engajado na tentativa de captar pequenos sinais exteriores do mundo que aqueles homens, mulheres e crianças carregam dentro de si. A câmera sempre curiosa de Herzog não hesita em mudar o foco de interesse no meio de um depoimento para ir atrás de quem realmente tem algo a dizer através de seus gestos e reações.
Num filme em que descobrimos com o jovem Vladimir o conceito de surdo-cego "despertado" através de seu "sono eterno" para a realidade que o cerca, é ele, acima de todos os demais, que nos leva a acordar para um universo vasto, cheio de mistério e assombro, em que o silêncio e a escuridão imperam, e transformam em incógnitas indivíduos cuja superfície nem sequer aprendemos a arranhar.
Fascinante, tocante, e uma das obras mais humanas da filmografia do mestre Herzog.
Por mais que eu goste de filmes abertos a interpretação, neste Herzog mais passou a impressão de que precisava de uma desculpa pra reunir várias filmagens que ele fez em regiões desérticas e miseráveis, do que me convenceu de que havia ali um fio condutor ligando-as entre si.
O filme até começa bem, com a ironia gerada pelo contraste entre o mito da criação do mundo e as paisagens áridas, onde a vida se agarra aos dejetos da civilização para sobreviver ao tempo. Mas na maior parte do tempo tudo soa muito desconexo, muito aleatório.
Vale pela viagem sensorial, as imagens exóticas, e a ótima seleção musical. Se fosse um pouco menos disperso funcionaria bem melhor dentro do que se propôs.
Ao contrário do Daniel, eu gosto do aspecto enfadonho de Sinais de Vida, até porque todo tédio e rotina que dominam boa parte do filme é importante para o que ocorre ao protagonista no terço final, e também para que participemos do processo ao seu lado.
Além disto, o filme tem uma fotografia que valoriza muito a textura dos cenários. As luzes e sombras são tão bem captadas, que é possível sentir o frescor debaixo de uma árvore num dia muito ensolarado, ou o abafamento de uma caminhada debaixo de um sol implacável enquanto carregamos um galão de gasolina junto com um dos personagens.
Outra decisão acertada é a trilha sonora pouco intrusiva, que sede lugar a sons ambientes que tornam aquela cidade familiar, e projeta o espectador dentro dela e entre os personagens. E mesmo quando a música se destaca, ela é bem encaixada, pois sua beleza melancólica combina perfeitamente com o tom da história.
Sinais de Vida funciona tanto como uma série de recortes de episódios cotidianos de uma cidade pacata intocada por uma guerra que parece ocorrer em um mundo paralelo a ela, como um relato de quão perigosas podem se tornar a paz e a ociosidade para um soldado desacostumado de ambas, e desregulado após um acidente que o transforma numa peça que não se encaixa em lugar nenhum, por mais que tente.
Apesar de ser bem abrangente na documentação das filmagens de Fitzcarraldo, eu vou concordar com o Daniel, pois é mesmo um verdadeiro pecado cinematográfico ignorar os conflitos entre Herzog e Kinski. Felizmente temos Meu Melhor Inimigo, um tributo do primeiro ao segundo, que não só complementou este, como utilizou diversas cenas retiradas dele.
De qualquer forma, é sempre fascinante conhecer um pouco mais da história por trás de um filme do Herzog, revisitar alguns cenários e personagens, e ver as reações, reflexões e desabafos de alguns deles diante dos contratempos e descrenças que cercaram sua produção.
Se fosse menos burocrático em seu registros e relatos, e se deixasse contaminar mais pelo tom épico de uma das obras-primas do diretor alemão, certamente seria um documentário ainda mais valioso, tanto histórica quanto artisticamente.
Muita gente não gosta do redesign dos personagens nestes últimos filmes da Liga da Justiça, o que não é o meu caso. Pra quem leu as histórias nas quais foram baseados (neste caso eu não li), é uma novidade a mais (além das óbvias adaptações que a trama sofre ao ser transposta pra animação), e eu gostei muito do "guarda-roupa" renovado dos vilões (com exceção do Vandal Savage, que ficou parecendo plágio do Sebastian Shaw).
Como não sei até que ponto a história original desenvolveu sua premissa, achei satisfatória para a duração estipulada. Este sempre foi o maior problema das animações da DC. Espero que alguma hora eles reconsiderem esse formato, e pensem em conceber filmes com uma duração maior, para que a adaptação fique mais satisfatória, e os personagens ganhem um tratamento melhor.
Problemas à parte, o nome de Lauren Montgomery na direção sempre me anima, pois é garantia de cenas de ação altamente empolgantes. Essa garota merecia a chance de dirigir um longa animado para o cinema, com orçamento maior e mais recursos, aposto que ela desbancaria muito live action baseado em histórias em quadrinhos, especialmente se tiver uma equipe de roteiristas competentes.
Herzog conseguiu aqui ser tanto fiel ao filme original, como enriquecê-lo. A atmosfera lúgubre e desoladora, construída com auxílio da ótima trilha sonora, fotografia excepcional e uma direção de arte que tirou enorme proveito de locações reais, é mais rica que a da versão de Murnau.
Ótima também é a idéia de focar a metade final da trama em Lucy, tornando sua personagem ainda mais importante e trágica que a versão interpretada por Greta Schröder, além de, claro, satisfazer o espectador com a bela presença em tela de Isabelle Adjani (que parece tanto uma versão mais bonita da Shelley Duvall, e uma Monica Bellucci menos voluptuosa, mas igualmente linda).
E por falar em semelhanças física entre atores, é impressionante como o Bruno Ganz mais jovem era a cara do Javier Bardem!
Além de tecnicamente superior ao filme de 1922, algo compreensível, a conclusão irônica da trama é a cereja no bolo pra quem já havia passado pela grata surpresa de assistir um filme que abraça mais explicicamente sua fonte de inspiração (é sabido que Murnau não pôde usar alguns elementos do livro de Bram Stoker por questões legais).
Um dos melhores filmes de vampiros já produzidos, sem sombra de dúvidas.
Achei a história um tanto desconexa e sem muito foco em alguns momentos, e o fato de praticamente todos os personagens terem monólogos filosóficos contribui para isto, mas não chega a comprometer o filme, tornando-o uma experiência cinematográfica curiosa.
A atuação de Kinski, arrisco dizer, mesmo sem ter visto o ator em Nosferatu, é a melhor dele em sua longa parceria com Herzog. Ao contrário dos papéis que interpretou em Aguirre, Fitzcarraldo e Cobra Verde, aqui ele ganha a oportunidade de investir mais nas sutilezas, explorar seu personagem com mais intimidade, e conduzi-lo gradualmente a uma transformação que, quando ocorre, rende um de seus grandes momentos como o ator intenso que é. Não é qualquer um que consegue se sair tão bem numa longa seqüência em câmera lenta como aquela.
Se contasse com um roteiro mais coeso, seria um grande filme, mas não deixa de ser muito bom.
O que Paul Dini fez com o Sr. Frio na série animada é inestimável. Sua reinvenção do personagem está entre os pontos mais altos dela, e apesar de aparecer apenas 2 vezes ao longo de suas 3 temporadas, jamais deixou de ser um vilão digno de atenção.
Este filme não conta com a colaboração de Dini no roteiro, mas é graças ao que já havia feito antes que o Sr. Frio se sustenta como figura trágica por quem nutrimos sentimentos conflitantes. Ao mesmo tempo que torcemos para que ele salve a esposa, é difícil não desaprovar os meios que ele usa para chegar ao fim.
Longe de ser tão marcante quanto sua estréia na série de TV, este longa animado ganha daquele na qualidade da animação, bem mais caprichada tanto na fluidez dos movimentos, ângulos e movimentação de câmera, como no uso cores e sombras.
Diferente de uma visão mais intimista dos personagens, este se concentra mais na ação, que poucas vezes é interrompida no decorrer da trama, o que infelizmente a impede de ter um peso dramático maior, e oferecer um melhor desenvolvimento dos personagens.
Quem espera ver Batman em ação pode se decepcionar, porque boa parte do filme se concentra mais em Barbara Gordon e o Sr. Frio, além de Robin, que protagoniza uma muito bem dirigida e eletrizante seqüência de perseguição, que faz valer por todo o longa.
O que impressiona neste longa de animação é o quanto ele envelheceu bem. A qualidade gráfica não chega a superar a vista nos melhores episódios da série animada, mas a história, uma releitura da origem do personagem recriada por Frank Miller e David Mazzucchelli em Batman Ano Um, misturada com uma reformulação de Batman Ano Dois, da dupla Mike W. Barr e Alan Davis, chega a superar a recente adaptação de "Ano Um" em sua investigação das motivações de Bruce Wayne, e na abordagem das inseguranças que marcaram o início de sua vida como vigilante de Gotham.
"Máscara do Fantasma" possui um equilíbrio impecável entre cenas dramáticas, românticas e de ação, como poucas vezes se viu numa animação voltada tanto para o público infanto-juvenil como para o adulto (reparem como as cenas violentas nunca são explícitas, e ainda assim soam impactantes).
E como fizeram render os 76 minutos de duração! É tanto acontecendo e sendo revelado a todo momento que você termina o filme com a impressão de que ele durou mais, o que é ótimo neste caso.
Gosto muito de vários longas animados mais recentes baseados nos heróis da DC, especialmente os estrelados pelo Batman (sendo "Batman Contra o Capuz Vermelho" o melhor deles), mas nenhum alcançou a pegada clássica e o visual icônico deste, fruto do competentíssimo trabalho de Bruce Timm e Paul Dini, e toda a equipe responsável pela série de TV, que se saíram muito bem ao transpô-la pra telona.
Eu lamento muito não ter assistido este documentário em 3D, porque nota-se claramente a intenção de Herzog em captar com máximo de nitidez cada textura e relevo das pinturas nas cavernas, e toda a exuberância da beleza natural da região que as cerca, através de tomadas aéreas panorâmicas.
Infelizmente tive que me contentar com uma versão em HD, que não chega a tirar o brilho das belíssimas imagens, e a profundidade filosófica e espiritual que as mesmas despertam no espectador, mas perde pela falta da dimensão a mais que o diretor usou originalmente.
É um dos documentários mais "econômicos" de Herzog no que diz respeito à quantidade de entrevistas, depoimentos e monólogos reflexivos, uma decisão muito acertada da parte dele, que, aliada a uma trilha sonora que remete à religião, não como uma série de crenças, mas como uma religação da humanidade atual com a pré-histórica responsável por aquelas pinturas, consegue transmitir parte do deslumbramento e reverência sentido por aqueles que estiveram naquelas cavernas registrando e testemunhando por nós uma parte do que um dia todos fomos.
Além da qualidade questionável da maioria das atuações, o filme se arrasta em vários momentos. A protagonista demora pra atrair o mínimo de interesse do espectador, soando até a metade do filme muito apática.
Faltou um roteiro mais enxuto, um casal de atores com mais química (algo que em nenhum momento dá pra sentir entre eles), e um pouco mais de ação.
Direção e montagem exemplares, lutas muito bem coreografadas e empolgantes, ótimas atuações tanto do elenco principal quanto dos coadjuvantes, e uma história que te prende e aumenta suas espectativas conforme se aproxima do final, e o que já fora antecipado desde o início finalmente acontece.
Cá entre nós, só não concorreu ao Oscar de melhor filme este ano porque a Academia não queria ser acusada de se repetir, e botar mais um filme de boxe na categoria, como fez com O Vencedor ano passado. Merecia tanto quanto ele. Achei até melhor.
Me surpreendeu. Esperava um filme mediano, e acabou sendo uma comédia dramática leve, simpática, e muito agradável de se assistir.
Os atores estão todos à vontade em seus papéis, e a interação entre o pai, as duas filhas e o namorado de uma delas funciona muito bem, com destaque para o último, que rende algumas das passagens mais engraçadas da história.
Em suma, um filme que não ofende ninguém. Não há grandes momentos catárticos, nada que vá levar qualquer espectador às lágrimas, mas é o suficiente para entreter. Um filme para relaxar, e aproveitar a jornada com os personagens.
Surpreende pelo fato do personagem de Takeshi Kitano aparecer menos do que o esperado, o que é uma pena, pois é o único que desperta alguma simpatia do espectador.
Apesar da falta de carisma da maioria do elenco, o filme tem um ritmo ótimo, não se torna monótono em nenhum momento, e apesar da violência constante esta não chega a incomodar, pois é mais do que justificada pelo universo retratado, e, como já disseram abaixo, acaba se tornando cômica em alguns momentos, o que ajuda a quebrar a tensão da narrativa.
Lembra muito os melhores filmes do Guy Ritchie, especialmente na quantidade de personagens apresentados, e na confusão inicial que gera no espectador, mas com o desenrolar da trama é possível entender toda a complexa organização, pois a história é bem conduzida, e se benefícia de uma edição muito precisa e econômica.
Kitano mais uma vez mostrando que é um diretor de primeira categoria, capaz de adaptar-se muito bem a gêneros variados, e ainda assim deixar sua marca em cada um deles.
É sem dúvida um dos melhores retratos cinematográficos dos limites da paixão de um artista por sua arte. Sensível na medida certa, cheio de um humor que não apela para excessos, e uma "secura" sentimental que combina perfeitamente com o tema central do filme.
Além disto, o artista incapaz de expressar plenamente seus sentimentos, ansiedades e paixões de maneira verbal e gestual, só conseguindo isto através de sua arte, é uma metáfora perfeita para todo o povo japonês, tão conhecido por ser socialmente reprimido, e pelo exagero de suas expressões artísticas, em especial o mangá, o anime, e o overacting de seus atores no cinema.
É apenas o terceiro filme de Takeshi Kitano que assisto (os anteriores foram Zatoichi e Dolls), e o diretor já se encontra entre aqueles cuja filmografia mais desperta minha curiosidade, pela variedade de temas e abordagens que pude encontrar numa amostra tão pequena de trabalhos.
Vou concordar com o Felipe abaixo, e acrescentar que é um filme pra assistir com atenção redobrada e de preferência duas vezes para entender pequenos detalhes que são essenciais para a compreensão da história, muitos deles apresentados sutilmente nos diálogos.
Achei a narrativa deste um tanto confusa em alguns momentos, não apenas pelos constantes flashbacks que são inseridos na trama, alguns sem aviso, mas por algumas cenas de sonhos e delírios que tornam a história mais intrincada do que já é, aumentando, com isto, o grau de dificuldade para acompanhar o desenrolar de cada subtrama, e não se perder nas muitas reviravoltas que ela reserva.
É um ótimo desfecho para a trilogia, que a enriquece a ponto de dar vontade de rever os filmes anteriores para montar todo o quebra-cabeças concebido pela dupla Alan Mak e Wai-keung Lau. Filme policial inteligente como poucas vezes se vê hoje em dia.
No que poderia tornar-se puro caça níquel, a dupla Alan Mak e Wai Lau se sai muito bem neste prequel criando um filme tão consistente e envolvente quanto o primeiro, perdendo para este apenas pela falta do fator "novidade", e pelo fato de já conhecermos o destino dos protagonistas.
Descontadas as devidas proporções, ficou claro neste segundo filme a intenção da dupla de cineastas em criar um correspondente chinês à trilogia O Poderoso Chefão, retirando desta, e de outros filmes de máfia ocidentais, especialmente Os Bons Companheiros e Cassino, referências usadas de maneira orgânica na trama, sem soar como mero plágio, e mais como homenagens às suas fontes de inspiração.
Por ter uma duração mais longa que o capítulo anterior, neste há mais espaço para explorar mais a fundo o relacionamento dos personagens, o que torna a história menos enxuta que a do primeiro, mas não menos intensa e cheia de intrigas, reviravoltas e traições.
Confesso que comecei a assisti-lo temendo uma decepção e terminei surpreso por todo esmero com que se entregaram à tarefa de produzir um novo capítulo que fizesse juz a uma trilogia que já começou de maneira excepcional. Sempre bom encontrar cineastas que respeitam suas próprias criações, e não se preocupam apenas em capitalizar um pouco mais em cima de um sucesso anterior.
Além do Azul
3.4 12A premissa, apesar de não totalmente original, é boa, pois tornar um alienígena o protagonista de uma mistura de falso documentário com ficção científica experimental é o tipo de idéia que dá pra render situações originais e divertidas.
Herzog ainda consegue encontrar soluções criativas para contornar as limitações autoimpostas de não fazer uso de efeitos especiais, trabalhando apenas com imagens de explorações submarinas e espaciais verdadeiras, tornando-as poéticas e ficcionais através da narração de seu porta-voz no filme, interpretado por Brad Dourif com sua excentricidade costumeira.
O principal problema de Além do Azul é no que diz respeito ao tom. Tem horas que ele soa como sátira, em outras como ficção científica que quer se levar a sério, através dos dados concretos que apresenta ao espectador visando levá-lo à reflexão, e em outras tenta abordar as situações com um humor que acaba não funcionando tão bem quanto deveria.
É um trabalho estranho, que luta pra ser mais original do que realmente é. Termina como um exercício imaginativo razoável, mas a impressão que passa é que Herzog não foi bem sucedido ao entrar num território no qual não estava muito habituado. Ele é terráqueo demais pra bancar o alienígena, claramente uma projeção de si mesmo.
Lições da Escuridão
4.3 13Quem precisa de filmes de ficção pós-apocalípticos, com seus cenários que tentam imaginar as conseqüências mais cataclísmicas das ações do homem neste planeta, quando temos um diretor como Herzog, capaz de buscar neste mundo mesmo onde vivemos imagens dantescas de proporções colossais que impressionam mais que qualquer criação ficcional, justamente por tratar-se de algo que realmente aconteceu?
Não há como não se impressionar com a beleza aterrorizante do que se vê neste documentário. Cinema puro, de poucas palavras, que fulmina o espectador pela extensão do que registrou na tela.
O Mundo Contemplativo de Herzog
4.1 2É sempre um prazer ouvir Herzog falando de seu ofício/paixão/amor, especialmente quando isto expande nossa compreensão e interpretação de seus filmes.
O diretor Peter Buchka, muito acertadamente, permite que Herzog fale sem qualquer interferência direta. Ouvimos apenas sua voz, seguida de trechos significativos de seus filmes, os quais, graças ao ótimo trabalho de montagem, acabam mais enriquecidos pelo novo nível de compreensão que conquistamos depois de ouvir os relatos do cineasta.
Cogitei seriamente reavaliar alguns filmes de Herzog depois de assistir este documentário, que considero essencial para os admiradores do diretor. Mas recomendo assisti-lo apenas depois de conferir toda a produção do período abordado (1967-1987), pois ele revela os finais de vários filmes.
Os Anões Também Começaram Pequenos
3.5 38Herzog muito louco em início de carreira, acreditando que reunir um elenco todo composto por atores anões [aparentemente] amadores em sua maioria, e botá-los tocando o terror durante o filme inteiro, era uma boa idéia. Realmente é, e diverte em boa parte do tempo, mas lá pelo meio o caos, que faz bem ao início da história, pois é ele que torna o espectador curioso pra saber o que está acontecendo, acaba se estendendo além do ideal. Tudo acaba se tornando repetitivo, forçado e um tanto degradante, como se a mórbida curiosidade de vermos aquilo tudo ser causado por anões fosse o suficiente para garantir que a trama se sustentasse por mais de uma hora e meia.
Não é um filme ruim, mas dava pra ter uma duração menor, e se beneficiaria muito com um pouco mais de clareza no que diz respeito às circunstâncias do ocorrido, e à mensagem que ele pretendia passar.
O diretor merece um desconto aqui, pois com o passar dos anos ele conseguiu atingir um equilíbrio ideal em que, por mais insanas que fossem as situações apresentadas, havia uma trama que se desenvolvia e, se não chegava a uma conclusão bem definida, ao menos dava indícios de caminhar para alguma direção. Aqui não há direção alguma, o caos reina, os anões se divertem, e a risadinha diabólica do Hombré parece dizer que tudo foi apenas uma grande travessura de Herzog.
O Mundo Por Um Fio
4.2 35É impossível não concordar com o Francisco. E digo mais, a direção de arte promove um espetáculo à parte, pois, somada aos complexos, mas sempre elegantes, movimentos de câmera do Fassbinder, cria composições que fazem com que os atores por vezes se percam naqueles ambientes cheios de superfícies reflexivas, espelhos e cores artificiais, como se estivessem envolvidos por um mundo de circuitos de computador, o que, na primeira parte do filme, é usado o tempo todo, dando pistas da revelação que a encerra, permitindo, com elas, que o espectador participe da investigação do protagonista, e até antecipe sua descoberta se atentar para os vários indícios.
Trabalho de direção brilhante, que dá gosto de ver, tanto pelo deleite visual que proporciona, como pelo jogo que oferece ao espectador que se deixa envolver por aquela rede de intrigas e mistérios.
Coração de Cristal
3.8 18O filme mais inebriante, entorpecedor, e um dos mais contemplativos da filmografia de Herzog. Pra deixar-se arrebatar por toda aquela loucura e misticismo medieval, e tentar decifrar parte desse mistério que envolve a eterna relação de amor e ódio entre o homem e a natureza.
Impressionante como, por mais difícil que seja compreender algumas passagens e a relação entre elas, há uma fluidez na narrativa que passa a sensação de se estar deitado sobre o oceano, se deixando levar pela maré.
Numa palavra: relaxante.
Stroszek
4.1 77Acaba de entrar pra minha lista de filmes com falas finais memoráveis (na verdade não tenho nenhuma, mas Stroszek me parece um bom começo pra ela).
Werner Herzog, Bruno Schleinstein e Clemens Scheitz não tinha como dar errado.
Terra do Silêncio e da Escuridão
4.4 11São muitos os filmes que levam o espectador a se compadecer do que ocorre aos personagens que desfilam pela tela, mas poucos tocam tão profundamente quem assisti de forma a ampliar sua visão do mundo ao apresentar uma parte dele que desconhecíamos, ou que, mesmo conhecendo-o, não era o suficiente pra nos importar com ele a ponto de nos envolver com seus habitantes.
"Terra de Silêncio e Escuridão" é talvez um dos documentários com maior poder de despertar a compaixão humana já produzidos, e digo isto sem exageros. É impossível que qualquer pessoa que tenha um mínimo de sensibilidade termine de assisti-lo sem que sinta em algum momento a garganta embargada, uma lágrima teimando pra sair dos olhos, ou uma vontade de ser mais humanos do que normalmente somos.
Muitos acusam Herzog de ser frio com seus "objetos de estudo", mas aqui eu vi um diretor extremamente engajado na tentativa de captar pequenos sinais exteriores do mundo que aqueles homens, mulheres e crianças carregam dentro de si. A câmera sempre curiosa de Herzog não hesita em mudar o foco de interesse no meio de um depoimento para ir atrás de quem realmente tem algo a dizer através de seus gestos e reações.
Num filme em que descobrimos com o jovem Vladimir o conceito de surdo-cego "despertado" através de seu "sono eterno" para a realidade que o cerca, é ele, acima de todos os demais, que nos leva a acordar para um universo vasto, cheio de mistério e assombro, em que o silêncio e a escuridão imperam, e transformam em incógnitas indivíduos cuja superfície nem sequer aprendemos a arranhar.
Fascinante, tocante, e uma das obras mais humanas da filmografia do mestre Herzog.
Fata Morgana
3.7 13Por mais que eu goste de filmes abertos a interpretação, neste Herzog mais passou a impressão de que precisava de uma desculpa pra reunir várias filmagens que ele fez em regiões desérticas e miseráveis, do que me convenceu de que havia ali um fio condutor ligando-as entre si.
O filme até começa bem, com a ironia gerada pelo contraste entre o mito da criação do mundo e as paisagens áridas, onde a vida se agarra aos dejetos da civilização para sobreviver ao tempo. Mas na maior parte do tempo tudo soa muito desconexo, muito aleatório.
Vale pela viagem sensorial, as imagens exóticas, e a ótima seleção musical. Se fosse um pouco menos disperso funcionaria bem melhor dentro do que se propôs.
Sinais de Vida
3.7 12Ao contrário do Daniel, eu gosto do aspecto enfadonho de Sinais de Vida, até porque todo tédio e rotina que dominam boa parte do filme é importante para o que ocorre ao protagonista no terço final, e também para que participemos do processo ao seu lado.
Além disto, o filme tem uma fotografia que valoriza muito a textura dos cenários. As luzes e sombras são tão bem captadas, que é possível sentir o frescor debaixo de uma árvore num dia muito ensolarado, ou o abafamento de uma caminhada debaixo de um sol implacável enquanto carregamos um galão de gasolina junto com um dos personagens.
Outra decisão acertada é a trilha sonora pouco intrusiva, que sede lugar a sons ambientes que tornam aquela cidade familiar, e projeta o espectador dentro dela e entre os personagens. E mesmo quando a música se destaca, ela é bem encaixada, pois sua beleza melancólica combina perfeitamente com o tom da história.
Sinais de Vida funciona tanto como uma série de recortes de episódios cotidianos de uma cidade pacata intocada por uma guerra que parece ocorrer em um mundo paralelo a ela, como um relato de quão perigosas podem se tornar a paz e a ociosidade para um soldado desacostumado de ambas, e desregulado após um acidente que o transforma numa peça que não se encaixa em lugar nenhum, por mais que tente.
Burden of Dreams
4.2 19Apesar de ser bem abrangente na documentação das filmagens de Fitzcarraldo, eu vou concordar com o Daniel, pois é mesmo um verdadeiro pecado cinematográfico ignorar os conflitos entre Herzog e Kinski. Felizmente temos Meu Melhor Inimigo, um tributo do primeiro ao segundo, que não só complementou este, como utilizou diversas cenas retiradas dele.
De qualquer forma, é sempre fascinante conhecer um pouco mais da história por trás de um filme do Herzog, revisitar alguns cenários e personagens, e ver as reações, reflexões e desabafos de alguns deles diante dos contratempos e descrenças que cercaram sua produção.
Se fosse menos burocrático em seu registros e relatos, e se deixasse contaminar mais pelo tom épico de uma das obras-primas do diretor alemão, certamente seria um documentário ainda mais valioso, tanto histórica quanto artisticamente.
Liga da Justiça: A Legião do Mal
3.8 156 Assista AgoraMuita gente não gosta do redesign dos personagens nestes últimos filmes da Liga da Justiça, o que não é o meu caso. Pra quem leu as histórias nas quais foram baseados (neste caso eu não li), é uma novidade a mais (além das óbvias adaptações que a trama sofre ao ser transposta pra animação), e eu gostei muito do "guarda-roupa" renovado dos vilões (com exceção do Vandal Savage, que ficou parecendo plágio do Sebastian Shaw).
Como não sei até que ponto a história original desenvolveu sua premissa, achei satisfatória para a duração estipulada. Este sempre foi o maior problema das animações da DC. Espero que alguma hora eles reconsiderem esse formato, e pensem em conceber filmes com uma duração maior, para que a adaptação fique mais satisfatória, e os personagens ganhem um tratamento melhor.
Problemas à parte, o nome de Lauren Montgomery na direção sempre me anima, pois é garantia de cenas de ação altamente empolgantes. Essa garota merecia a chance de dirigir um longa animado para o cinema, com orçamento maior e mais recursos, aposto que ela desbancaria muito live action baseado em histórias em quadrinhos, especialmente se tiver uma equipe de roteiristas competentes.
Nosferatu: O Vampiro da Noite
4.0 248Herzog conseguiu aqui ser tanto fiel ao filme original, como enriquecê-lo. A atmosfera lúgubre e desoladora, construída com auxílio da ótima trilha sonora, fotografia excepcional e uma direção de arte que tirou enorme proveito de locações reais, é mais rica que a da versão de Murnau.
Ótima também é a idéia de focar a metade final da trama em Lucy, tornando sua personagem ainda mais importante e trágica que a versão interpretada por Greta Schröder, além de, claro, satisfazer o espectador com a bela presença em tela de Isabelle Adjani (que parece tanto uma versão mais bonita da Shelley Duvall, e uma Monica Bellucci menos voluptuosa, mas igualmente linda).
E por falar em semelhanças física entre atores, é impressionante como o Bruno Ganz mais jovem era a cara do Javier Bardem!
Além de tecnicamente superior ao filme de 1922, algo compreensível, a conclusão irônica da trama é a cereja no bolo pra quem já havia passado pela grata surpresa de assistir um filme que abraça mais explicicamente sua fonte de inspiração (é sabido que Murnau não pôde usar alguns elementos do livro de Bram Stoker por questões legais).
Um dos melhores filmes de vampiros já produzidos, sem sombra de dúvidas.
Woyzeck
3.9 31Achei a história um tanto desconexa e sem muito foco em alguns momentos, e o fato de praticamente todos os personagens terem monólogos filosóficos contribui para isto, mas não chega a comprometer o filme, tornando-o uma experiência cinematográfica curiosa.
A atuação de Kinski, arrisco dizer, mesmo sem ter visto o ator em Nosferatu, é a melhor dele em sua longa parceria com Herzog. Ao contrário dos papéis que interpretou em Aguirre, Fitzcarraldo e Cobra Verde, aqui ele ganha a oportunidade de investir mais nas sutilezas, explorar seu personagem com mais intimidade, e conduzi-lo gradualmente a uma transformação que, quando ocorre, rende um de seus grandes momentos como o ator intenso que é. Não é qualquer um que consegue se sair tão bem numa longa seqüência em câmera lenta como aquela.
Se contasse com um roteiro mais coeso, seria um grande filme, mas não deixa de ser muito bom.
Batman & Mr. Freeze – Abaixo de Zero
3.4 48 Assista AgoraO que Paul Dini fez com o Sr. Frio na série animada é inestimável. Sua reinvenção do personagem está entre os pontos mais altos dela, e apesar de aparecer apenas 2 vezes ao longo de suas 3 temporadas, jamais deixou de ser um vilão digno de atenção.
Este filme não conta com a colaboração de Dini no roteiro, mas é graças ao que já havia feito antes que o Sr. Frio se sustenta como figura trágica por quem nutrimos sentimentos conflitantes. Ao mesmo tempo que torcemos para que ele salve a esposa, é difícil não desaprovar os meios que ele usa para chegar ao fim.
Longe de ser tão marcante quanto sua estréia na série de TV, este longa animado ganha daquele na qualidade da animação, bem mais caprichada tanto na fluidez dos movimentos, ângulos e movimentação de câmera, como no uso cores e sombras.
Diferente de uma visão mais intimista dos personagens, este se concentra mais na ação, que poucas vezes é interrompida no decorrer da trama, o que infelizmente a impede de ter um peso dramático maior, e oferecer um melhor desenvolvimento dos personagens.
Quem espera ver Batman em ação pode se decepcionar, porque boa parte do filme se concentra mais em Barbara Gordon e o Sr. Frio, além de Robin, que protagoniza uma muito bem dirigida e eletrizante seqüência de perseguição, que faz valer por todo o longa.
Batman: A Máscara do Fantasma
3.7 144 Assista AgoraO que impressiona neste longa de animação é o quanto ele envelheceu bem. A qualidade gráfica não chega a superar a vista nos melhores episódios da série animada, mas a história, uma releitura da origem do personagem recriada por Frank Miller e David Mazzucchelli em Batman Ano Um, misturada com uma reformulação de Batman Ano Dois, da dupla Mike W. Barr e Alan Davis, chega a superar a recente adaptação de "Ano Um" em sua investigação das motivações de Bruce Wayne, e na abordagem das inseguranças que marcaram o início de sua vida como vigilante de Gotham.
"Máscara do Fantasma" possui um equilíbrio impecável entre cenas dramáticas, românticas e de ação, como poucas vezes se viu numa animação voltada tanto para o público infanto-juvenil como para o adulto (reparem como as cenas violentas nunca são explícitas, e ainda assim soam impactantes).
E como fizeram render os 76 minutos de duração! É tanto acontecendo e sendo revelado a todo momento que você termina o filme com a impressão de que ele durou mais, o que é ótimo neste caso.
Gosto muito de vários longas animados mais recentes baseados nos heróis da DC, especialmente os estrelados pelo Batman (sendo "Batman Contra o Capuz Vermelho" o melhor deles), mas nenhum alcançou a pegada clássica e o visual icônico deste, fruto do competentíssimo trabalho de Bruce Timm e Paul Dini, e toda a equipe responsável pela série de TV, que se saíram muito bem ao transpô-la pra telona.
A Caverna dos Sonhos Esquecidos
4.2 141 Assista AgoraEu lamento muito não ter assistido este documentário em 3D, porque nota-se claramente a intenção de Herzog em captar com máximo de nitidez cada textura e relevo das pinturas nas cavernas, e toda a exuberância da beleza natural da região que as cerca, através de tomadas aéreas panorâmicas.
Infelizmente tive que me contentar com uma versão em HD, que não chega a tirar o brilho das belíssimas imagens, e a profundidade filosófica e espiritual que as mesmas despertam no espectador, mas perde pela falta da dimensão a mais que o diretor usou originalmente.
É um dos documentários mais "econômicos" de Herzog no que diz respeito à quantidade de entrevistas, depoimentos e monólogos reflexivos, uma decisão muito acertada da parte dele, que, aliada a uma trilha sonora que remete à religião, não como uma série de crenças, mas como uma religação da humanidade atual com a pré-histórica responsável por aquelas pinturas, consegue transmitir parte do deslumbramento e reverência sentido por aqueles que estiveram naquelas cavernas registrando e testemunhando por nós uma parte do que um dia todos fomos.
Ichi
3.4 8Além da qualidade questionável da maioria das atuações, o filme se arrasta em vários momentos. A protagonista demora pra atrair o mínimo de interesse do espectador, soando até a metade do filme muito apática.
Faltou um roteiro mais enxuto, um casal de atores com mais química (algo que em nenhum momento dá pra sentir entre eles), e um pouco mais de ação.
Guerreiro
4.0 919 Assista AgoraDireção e montagem exemplares, lutas muito bem coreografadas e empolgantes, ótimas atuações tanto do elenco principal quanto dos coadjuvantes, e uma história que te prende e aumenta suas espectativas conforme se aproxima do final, e o que já fora antecipado desde o início finalmente acontece.
Cá entre nós, só não concorreu ao Oscar de melhor filme este ano porque a Academia não queria ser acusada de se repetir, e botar mais um filme de boxe na categoria, como fez com O Vencedor ano passado. Merecia tanto quanto ele. Achei até melhor.
Os Descendentes
3.5 1,3K Assista AgoraMe surpreendeu. Esperava um filme mediano, e acabou sendo uma comédia dramática leve, simpática, e muito agradável de se assistir.
Os atores estão todos à vontade em seus papéis, e a interação entre o pai, as duas filhas e o namorado de uma delas funciona muito bem, com destaque para o último, que rende algumas das passagens mais engraçadas da história.
Em suma, um filme que não ofende ninguém. Não há grandes momentos catárticos, nada que vá levar qualquer espectador às lágrimas, mas é o suficiente para entreter. Um filme para relaxar, e aproveitar a jornada com os personagens.
O Ultraje
3.6 45Surpreende pelo fato do personagem de Takeshi Kitano aparecer menos do que o esperado, o que é uma pena, pois é o único que desperta alguma simpatia do espectador.
Apesar da falta de carisma da maioria do elenco, o filme tem um ritmo ótimo, não se torna monótono em nenhum momento, e apesar da violência constante esta não chega a incomodar, pois é mais do que justificada pelo universo retratado, e, como já disseram abaixo, acaba se tornando cômica em alguns momentos, o que ajuda a quebrar a tensão da narrativa.
Lembra muito os melhores filmes do Guy Ritchie, especialmente na quantidade de personagens apresentados, e na confusão inicial que gera no espectador, mas com o desenrolar da trama é possível entender toda a complexa organização, pois a história é bem conduzida, e se benefícia de uma edição muito precisa e econômica.
Kitano mais uma vez mostrando que é um diretor de primeira categoria, capaz de adaptar-se muito bem a gêneros variados, e ainda assim deixar sua marca em cada um deles.
Aquiles e a Tartaruga
4.0 35É sem dúvida um dos melhores retratos cinematográficos dos limites da paixão de um artista por sua arte. Sensível na medida certa, cheio de um humor que não apela para excessos, e uma "secura" sentimental que combina perfeitamente com o tema central do filme.
Além disto, o artista incapaz de expressar plenamente seus sentimentos, ansiedades e paixões de maneira verbal e gestual, só conseguindo isto através de sua arte, é uma metáfora perfeita para todo o povo japonês, tão conhecido por ser socialmente reprimido, e pelo exagero de suas expressões artísticas, em especial o mangá, o anime, e o overacting de seus atores no cinema.
É apenas o terceiro filme de Takeshi Kitano que assisto (os anteriores foram Zatoichi e Dolls), e o diretor já se encontra entre aqueles cuja filmografia mais desperta minha curiosidade, pela variedade de temas e abordagens que pude encontrar numa amostra tão pequena de trabalhos.
Conflitos Internos 3
3.4 4Vou concordar com o Felipe abaixo, e acrescentar que é um filme pra assistir com atenção redobrada e de preferência duas vezes para entender pequenos detalhes que são essenciais para a compreensão da história, muitos deles apresentados sutilmente nos diálogos.
Achei a narrativa deste um tanto confusa em alguns momentos, não apenas pelos constantes flashbacks que são inseridos na trama, alguns sem aviso, mas por algumas cenas de sonhos e delírios que tornam a história mais intrincada do que já é, aumentando, com isto, o grau de dificuldade para acompanhar o desenrolar de cada subtrama, e não se perder nas muitas reviravoltas que ela reserva.
É um ótimo desfecho para a trilogia, que a enriquece a ponto de dar vontade de rever os filmes anteriores para montar todo o quebra-cabeças concebido pela dupla Alan Mak e Wai-keung Lau. Filme policial inteligente como poucas vezes se vê hoje em dia.
Conflitos Internos 2
3.6 5No que poderia tornar-se puro caça níquel, a dupla Alan Mak e Wai Lau se sai muito bem neste prequel criando um filme tão consistente e envolvente quanto o primeiro, perdendo para este apenas pela falta do fator "novidade", e pelo fato de já conhecermos o destino dos protagonistas.
Descontadas as devidas proporções, ficou claro neste segundo filme a intenção da dupla de cineastas em criar um correspondente chinês à trilogia O Poderoso Chefão, retirando desta, e de outros filmes de máfia ocidentais, especialmente Os Bons Companheiros e Cassino, referências usadas de maneira orgânica na trama, sem soar como mero plágio, e mais como homenagens às suas fontes de inspiração.
Por ter uma duração mais longa que o capítulo anterior, neste há mais espaço para explorar mais a fundo o relacionamento dos personagens, o que torna a história menos enxuta que a do primeiro, mas não menos intensa e cheia de intrigas, reviravoltas e traições.
Confesso que comecei a assisti-lo temendo uma decepção e terminei surpreso por todo esmero com que se entregaram à tarefa de produzir um novo capítulo que fizesse juz a uma trilogia que já começou de maneira excepcional. Sempre bom encontrar cineastas que respeitam suas próprias criações, e não se preocupam apenas em capitalizar um pouco mais em cima de um sucesso anterior.