Crítico, incisivo, e ainda assim poético e extremamente respeitoso com a classe que busca retratar, John Ford realizou com Vinhas da Ira um retrato de uma parcela da humanidade diante do qual somos incapazes de ficar indiferentes. Acima de qualquer técnica e estilismo empregado, merece elogios a abordagem mais direta e realista, o drama bem dosado, e as atuações sem floreios e exageros. [...] É na simplicidade dos personagens, e na objetividade da direção, que se esconde a beleza de Vinhas da Ira, uma obra-prima sem pretensões de sê-la.
Contando ainda com a brilhante, climática e multicultural trilha sonora de Vangelis, e figurinos que ilustram a verdadeira salada de culturas resultante de um futuro onde a humanidade tenta desesperadamente reunir o pouco que sobrou de si mesma, numa última tentativa de preservar sua memória coletiva, Ridley Scott e sua equipe criaram um futuro verossímil, e uma das experiências audio-visuais mais imersivas da 7ª arte. Uma obra-prima do gênero que merece ser revisitada de tempos em tempos.
Talvez por ser um filme menos passional e visceral que Seven, e menos estiloso que Clube da Luta ou O Quarto do Pânico, Zodíaco não logrou o mesmo sucesso que os filmes anteriores do diretor. Aqui vemos um Fincher que soube domar seu estilo à favor da história, num dos maiores acertos de sua carreira, e um indicativo de seu amadurecimento, que comprovou-se ano passado com Rede Social.
Sangue Negro é um verdadeiro êxtase cinematográfico proporcionado por um dos diretores mais promissores da atualidade. Paul Thomas Anderson é um gênio em formação que aqui reinventa-se uma vez mais, mostrando um cinema em estado bruto que, ainda assim, permanece como arte da mais elevada grandeza.
Com um elenco bem entrosado, direção virtuosa, fotografia magnífica, figurinos e direção de arte caprichadas, Desejo e Reparação surpreende pela forma com que trabalha temas como culpa, remorso, arrependimento e perdão, e talvez o maior dos erros cometidos por seus personagens: a falta de um diálogo sincero e honesto.
Operação França merece um lugar em qualquer lista dos melhores filmes de ação de todos os tempos. Com um roteiro inteligente, que prende a atenção do expectador, um diretor que entende a fundo os mecanismos e artifícios do gênero, excelente montagem, fotografia e atuações, é um filme completo e indispensável para quem gosta de uma boa dose de adrenalina cinematográfica.
Quando um filme é quase inteiramente focado num personagem real, o mínimo que esperamos é que o protagonista seja uma figura interessante, que faça por merecer o tempo investido em sua história. Felizmente Patton não decepciona como cinebiografia.
Com um elenco equilibrado, roteiro muito bem estruturado, e uma direção inspirada, Meu Ódio Será Sua Herança muda as regras do gênero, e explora um lado pouco abordado em outros faroestes da época, no qual os “bons” cedem lugar aos “maus e os feios”. Merece seu lugar na história do gênero e na lista dos melhores faroestes já produzidos.
Quase 30 anos depois continua sendo uma das direções de arte mais impressionantes da história do cinema. Obra-prima incontestável do gênero. Eu, no lugar do Philip K. Dick, ficaria orgulho com o que Ridley Scott e sua equipe fizeram com seu conto. Supera o original, na minha opinião. Só a poesia final Roy Batty (Hudger Hauer, brilhante!) alcança um nível de profundidade maior que toda a história concebida por K. Dick.
Filme mais do que obrigatório para qualquer um que se diz apreciador de ficção científica.
Ainda que não seja perfeito, é inegável o valor de O Planeta dos Macacos no universo da ficção científica. Partindo de uma premissa que poderia facilmente render uma produção trash, seu roteiro é inteligente e bem construído, explorando os conceitos e idéias que sustentam aquele mundo de maneira séria, além de gerar discussões sobre uso e abuso da ciência, o tratamento que reservamos aos animais, e a arrogância do ser humano em pensar que é uma espécie insubstituível num planeta regido por leis naturais que incentivam a adaptação e evolução de todos os seres vivos que o habitam. Este é o papel da boa ficção científica, e Franklin J. Schaffner e sua equipe o cumprem com louvor.
Impecavelmente dirigido e fotografado, e trazendo mais uma ótima parceria entre Kurosawa e Mifune, Sanjuro merece a atenção de quem admira ver arte e entretenimento caminhando juntos.
O Planeta Proibido é daqueles clássicos da ficção científica que envelheceram bem. Apesar do uso de idéias embasadas no conhecimento científico da época tornar algumas delas antiquadas e até absurdas (a corrida espacial entre os EUA e a União Soviética começaria pra valer apenas no ano seguinte, com o lançamento do satélite artificial Sputnik pelos russos), a qualidade da produção, e a engenhosidade do roteiro, conferem ao filme aquele charme dos bons exemplares do gênero, que dão ao espectador a chance de se divertir vendo como imaginavam o futuro na década de 1950, em que a exploração espacial estava mais ligada à fantasia do que à ciência.
Super 8, segundo o próprio J. J. Abrams definiu numa entrevista, é como aquelas brincadeiras que fazemos quando criança, em que imaginamos nossa cidade sendo invadida por alienígenas ou zumbis, e tudo acaba sendo uma desculpa pra impressionarmos a menina por quem somos apaixonados com algum ato heróico. Não é à toa que a idade dos garotos bate com a que Abrams tinha na época em que a história se passa (1979). Joe (Joel Courtney) é a versão alternativa de Abrams num passado que jamais existiu, mas que ele desejou muito que tivesse acontecido.
A Árvore da Vida é dotado de uma hábil fluidez com a qual Malick encadeia seus questionamentos e reflexões por intermédio de seus personagens, e de imagens plasticamente belas e sutis, que compõem ricas metáforas visuais, as quais cobrem um período da história da vida na Terra, partindo da formação de sua estrutura geológica, sua biogênese, até alcançar o ponto desta macroestrutura narrativa onde está inserida a história da família O’Brien, e de seu primogênito, Jack.
O título diz muito sobre o filme. A Árvore da Vida é mais do que a árvore genealógica dos O’Brien, e está além da correspondente bíblica, cujo fruto era permitido a Adão e Eva. Simbolicamente, no contexto elaborado por Malick, a árvore representa a complexa cadeia de eventos que, partindo de um só ponto, ramificaram-se, gerando uns aos outros, da origem do universo ao nascimento de Jack.
Em Disque M para Matar, Hitchcock exibe seu domínio pleno do cenário, dos objetos cênicos, e da dinâmica interna dos atores, num trabalho mais racional do que esteticamente belo e rico em simbolismos (embora eles existam). O diretor pouco interfere na narrativa, fugindo sabiamente de estilismos que chamem muita atenção para si, consciente da importância dos detalhes presentes na história, os quais têm papel fundamental em seu desenrolar.
O primeiro grande acerto do filme é a maneira enxuta com que o roteiro de Frederick Knott resolve a apresentação de seus personagens. Em duas breves cenas conhecemos a relação de Tony com Margot, e o caso desta com Mark.
Um expectador mais desatento pode perder a sutileza com que Hitchcock ilustra as relações do triângulo amoroso. Quando Margot está com Tony na primeira cena, sua roupa é rosa, uma cor que conota graça e ternura, longe da paixão representada pelo vermelho do vestido que usa ao encontrar-se com Mark na cena seguinte, num indicativo do estado de seu relacionamento com Tony.
Este jogo envolvendo Margot e as cores prossegue no decorrer do filme, em que vemos a personagem usar roupas cada vez mais escuras, as quais passam a refletir seu estado emocional em face dos eventos, algo que o próprio Hitchcock admitiu fazer intencionalmente.
O roteiro e a direção também acertam ao incluir um longo diálogo entre Tony e Charles, que em pouco mais de 20 minutos introduz a premissa, explica o título do filme, destaca os principais traços da personalidade do protagonista, desperta o interesse do expectador pelo desenrolar da trama, e o deixa fascinado com a inteligência do criminoso, cujo plano é meticulosamente exposto, assim como todo o cenário no qual será executado.
Mas o melhor do filme vem após o crime, quando a história acompanha o conflito entre Tony e o Inspetor Hubbard. É o clássico embate entre um adversário que se julga intelectualmente superior, e confia excessivamente em suas habilidades de contornar imprevistos e amarrar pontas soltas; e outro, que pouco revela de suas capacidades, investindo em seu dom de observar e ouvir, e sendo cauteloso ao analisar os fatos para tirar suas conclusões. Ray Milland e John Williams (não confundir com o famoso compositor de trilhas sonoras) elevam a qualidade dos diálogos com atuações tão precisas quanto as atitudes e posturas que assumem diante dos desafios que um representa para o outro.
E não há como falar sobre “Disque M” sem comentar seu final. A enorme confiança e cuidado empregados por Tony para encobrir seus rastros, que acabam se convertendo na causa de seu fracasso, é um clássico ato falho descrito por Freud.
O erro cometido por Tony ao trocar as chaves seria o indício de uma culpa que ele passa a sentir desde o instante em que chega em casa e vê o estado de Margot após escapar da morte que ele encomendou? Sua postura e seu ar de superioridade seriam débeis tentativas compensatórias, por sentir-se inferior a Mark, um “mero” escritor de suspense, cuja inteligência quase desvenda todo o seu plano? O crime seria sua forma de expôr seus sentimentos, ao mesmo tempo em que oferece um meio de ser punido por sua inferioridade de caráter, e a inveja e ciúmes decorrentes dela?
Quando um filme termina com a deliciosa ironia de que a chave do mistério é, de fato, uma chave, não resta dúvidas de que trata-se de mais um daqueles suspenses que garantiu sua presença eterna na lista dos melhores de todos os tempos.
O maior mérito de Cantando na Chuva é reforçar o valor do musical como forma de contar uma história. O primeiro grande acerto do roteiro e da direção foi apresentar Don Lockwood (Gene Kelly), logo na introdução, contando um resumo da ascensão de sua carreira, partindo da época em que era um mero palhaço de pantomimas, até chegar a astro de filmes mudos, por meio de uma narrativa convencional. Com isto criou-se um contraste essencial entre esta e a versão musicada da mesma história, vista mais adiante no filme, ilustrando muito bem as diferenças de formato, e o modo como cada um lida com fatos e elementos dramáticos e cômicos de maneiras distintas.
É importante, para que um musical nos ajude a aceitar sua lógica interna, que seus personagens e situações que se adequem a ela, algo que o filme faz de maneira exemplar. Don, Cosmo, Kathy e Lina, cada um à sua maneira, são caricatos na medida certa. Isto, aliado às constantes (e ótimas) tiradas de humor, contribui para estabelecer um universo próprio, em que aceitamos, por exemplo, que um amigo comece um número musical no meio de uma conversa com outro, dançando e fazendo malabarismos, sem que isto incomode outras pessoas presentes no cenário, algumas delas, inclusive, participando do número.
Cantando na Chuva é divertido, leve, consegue mostrar a que veio, tirando ótimo proveito no formato para satirizar episódios curiosos dos bastidores de Hollywood, e prestando um louvável serviço a jovens amantes do cinema, ao pô-los a par das dificuldades enfrentadas num dos momentos de maior importância da história do cinema, retirando dele uma comédia de primeira qualidade com base em situações que, vistas atualmente, beiram o absurdo.
Além disto, é extasiante assistir um filme em que temos um Gene Kelly transbordando simpatia em elaborados e belos números musicais. A seqüência que dá nome ao filme entra no momento certo, ilustrando com perfeição o estado de espírito de Don após seu surto criativo. E quando passamos a temer que o auge do filme já se foi, ganhamos de brinde a belíssima dança de Gene Kelly com Cyd Charisse, numa atmosfera de sonho, envoltos num véu esvoaçante, que é plasticamente uma das idéias mais inspiradas da direção, pela simplicidade de sua execução.
Um clássico cuja maior realização é eliminar parte do preconceito que existe por musicais. Se você não começar a ver outros filmes do gênero sob um novo olhar, dificilmente passará a apreciá-los.
Uma Aventura na África proporciona uma experiência cinematográfica prazerosa. Sua narrativa não cansa, e seus personagens ganham muito pela qualidade de seus atores.
Humphrey Bogart conquista o público desde sua primeira aparição como Charlie. Sua simplicidade e humildade, muito bem dosados pelo ator, torna-o carismático pela expontaneidade e autentidade com que reage a cada situação. Jamais deixamos de acredita na sinceridade de cada palavra e gesto que dirige a Rose.
Já a Rose de Katharine Hepburn é esnobe e aristocrática, e demora um pouco mais para entrar nas graças do público. Enfrentando situações extremas para seu padrão de vida, de início ela se mostra fresca demais, e desdenha dos valores do barqueiro. Mas a atuação de Hepburn é tão boa quanto a de seu Bogart, pois nota-se desde o primeiro encontro de Rose com Charlie que há certa atração ali, disfarçada de uma curiosidade pelo exotismo que enxerga nele.
Portanto, quando passam a envolver-se romanticamente, compramos seu relacionamento amoroso, pois o roteiro e os atores são hábeis em plantar indícios; a química entre eles surge e desenvolve-se naturalmente; e as circunstâncias nas quais se encontram contribuem para que seus sentimentos aflorem de maneira lógica.
Claro que grande parte da diversão proporcionada pelo filme se deve à direção muito acertada de John Huston, que faz bom uso das locações, captando belas imagens das florestas da África, e renovando o interesse do expectador pelo que ocorre em torno do casal, evitando, assim, que a história torne-se monótona, caso foca-se apenas em seu romance.
Há ainda um ótimo equilíbrio entre passagens mais lentas, focadas nas conversas mais intimistas entre Charlie e Rose, e seus momentos mais românticos; e seqüências mais movimentados, em que o casal enfrenta correntezas perigosas, tiroteios, entre outros obstáculos que encontram pelo caminho.
Outro grande acerto do roteiro e da direção foi expôr a fragilidade física e emocional dos personagens, destacando-se o ponto da história em que o barco fica encalhado, e eles começam a perder as esperanças de seguir em frente, e a parte em que Charlie é atacado por sanguessugas.
Os maiores problemas do filme envolvem o uso excessivo de cromaqui, revelando diversas vezes a artificialidade de algumas cenas, e impedindo que acreditemos em alguns dos perigos enfrentados por Charlie e Rose. O mesmo valendo para o efeito usado no ataque de mosquitos, que é muito precário.
O final também exige um pouco mais de suspensão de descrença do que o restante da trama. Não chega a comprometer a obra como um todo, mas justamente por ela apresentar um roteiro tão bem resolvido até aquele ponto, merecia uma conclusão melhor estruturada.
Ainda assim, trata-se daqueles romances deliciosos de assistir, que só a década de 50 foi capaz de produzir.
Filme atemporal pela aura de encanto que carrega consigo, O Mágico de Oz é um produto cinematográfico que, após mais de 70 décadas, foi alçado à condição de patrimônio cultural da humanidade. Difícil existir neste mundo quem não tenha, ao menos, visto alguma cena, ouvido uma canção, ou uma frase retirada dele.
Podemos falar da direção de arte esplendorosa, dos vibrantes números musicais, das falas que eternizaram-se, mas neste ponto o que quer que seja dito a seu respeito soaria redundante.
Sim, os efeitos especiais impressionam pela época em que foram realizados, sendo o mais impressionante deles, na minha opinião, o tornado no início do filme, que até hoje é convincente. Ou aquela truque sutil, quando Dorothy abre a porta de sua casa, toda em sépia, e vê pela primeira vez a explosão de cores do Mundo de Oz do outro lado. Hoje é um truque muito simples de ser feito com o uso de um computador, enquanto na época tiveram que bolar um verdadeiro truque de mágica para enganar os olhos dos espectadores, que saiu tão bem a ponto de funcionar até hoje.
Não sou um apreciador de musicais, mas foi difícil conter a emoção ao ouvir Somewhere Over The Rainbow pela primeira vez no contexto. Não faz a menor diferença já conhecer a música, e tê-la ouvido diversas vezes, pois quando você a escuta pela primeira vez no filme o efeito é totalmente outro. Pelo menos foi assim que aconteceu comigo. E o mesmo vale para vários dos trechos musicais e frases clássicas.
De uma época em que a magia do cinema estava mais poderosa do que nunca, O Mágico de Oz faz parte daquela seleta lista de filmes capazes de transportar seu público para um mundo fantástico, onde não é nem um pouco absurdo acreditar que personagens cantam toda vez que se conhecem, ou uma cidade inteira se mobiliza para receber uma visitante vinda de muito longe, e o maior dos problemas é resolvido batendo os calcanhares três vezes enquanto deseja ardorosamente voltar pra casa.
Não é a toa que Sem Novidade no Front ocupa merecidamente o 7º lugar na lista dos 10 maiores épicos do cinema. Além de ser tecnicamente impressionante, o filme é um feito de direção, roteiro, e apresenta uma das melhores reconstituições de época já realizadas, em parte pelo fato de ser produzido numa época tão próxima dos eventos retratados (a Primeira Guerra durou até 1918, apenas 12 anos antes das filmagens começarem).
Seus personagens são bem trabalhados, carismáticos, e não estão lá só para morrer e causa choque, ou uma comoção artificialmente provocada. As cenas de combates são bem montadas, a câmera acompanha os soldados através de travelings bem empregados, e a montagem é dinâmica (foca no soldado disparando a metralhadora de um lado pro outro, corta pros soldados caindo um a um acompanhando o movimento do take anterior, volta pro cara metralhando, pros soldados, e assim vai).
O roteiro é ótimo, e mantém-se coeso mesmo quando se permite retratar pequenos contos relacionados à guerra, sem que soem episódicos. A história do par de botas que passa de um dono a outro; o soldado que fica preso com um inimigo moribundo dentro de uma trincheira; o jovem que volta do campo de batalha para casa, e chega à conclusão de que não serve mais para ter uma vida normal, todos funcionam, ao mesmo tempo, de maneira independente e como parte da trama principal.
Não é um filme para aqueles que preferem uma história mais focada em grandes e violentas batalhas, embora exista sua parcela delas. Sem Novidade no Front é para quem gosta da 7ª arte como meio de refletir sobre os efeitos da guerra em soldados, e naqueles que estão do lado de fora, enxergando apenas a parte gloriosa vendida para jovens ainda em busca de sua identidade, e de seu lugar num mundo que exige mais do que realmente pode pagar a eles em retribuição.
A cena final, bela, poética, e dolorosamente triste, é a perfeita síntese da mensagem que Lewis Milestone tenta passar adiante, e a prova de que acabamos de assistir um dos grandes libelos anti-belicistas que o cinema já produziu. Um clássico completo.
Psicose é outro daqueles grandes clássicos do cinema que intimida qualquer pessoa que o respeita como tal, e ainda assim deseja escrever uma opinião mais crítica a seu respeito.
Hithcock já não precisava provar mais nada na época que o dirigiu, tendo produzido alguns dos melhores suspenses já realizados, mas o fez, e novamente inovou com uma história conduzida com sua genialidade habitual.
Pequenos detalhes, como as cenas em que Marion imagina supostas conversas entre seus conhecidos em reação ao seu desaparecimento, que servem tanto para ilustrar seu estado psicológico, como para preencher lacunas da história. Ou a fixação de Norman Bates por pássaros, sugerindo seu desejo oculto por libertar-se de sua condição (além de ser um easter-egg não-intencional para o filme seguinte de Hitchcock). Todo esse cuidado no desenvolvimento dos personagens e na composição dos cenários é o que diferencia um bom diretor de um prodígio.
E não é a toa que o diretor nutria tanto respeito por Anthony Perkins durante as filmagens. Seu trabalho em Psicose é excepcional. Simpático e bom moço no início, Norman Bates não desperta suspeitas, até que o ator começa oferecer insights sobre os recessos mais ocultos da personalidade de Bates, durante seu jantar com Marion em sua sala reservada, cercado por pássaros empalhados. Não é a toa que o roteiro se permite uma das viradas mais ousadas já realizadas num suspense, para dar mais espaço ao seu desenvolvimento e nos permitir investigar mais a fundo este personagem tão fascinante.
A famosa cena do banho, por mais que você tenha visto inúmeras vezes antes de assistir o filme em si, continua impactante até hoje. Tensa, fragmentada, cheia de cortes precisos que fazem uma perfeita rima visual ao que ela própria exibe ao espectador, serve tanto para pontuar os golpes desferidos pelo criminoso, como o estado de surpresa, confusão e pânico da vítima, que em seus últimos segundos de vida, paralelamente à sua luta para sobreviver ao ataque, parece travar também uma luta interna, numa última tentativa de juntar as peças que a levaram àquele momento, na esperança de entender porque aquilo estava acontecendo com ela. Estaria sendo punida pelo crime que ela própria cometeu, e pelo qual vinha sentindo-se culpada desde o primeiro instante em que decidiu cometê-lo? É arrependimento o que vemos em seu olhar derradeiro?
Com um roteiro excelente, capaz tanto de instigar o espectador a desvendar seu mistério, como ainda promover um brilhante estudo de personagem, e um Hitchcock com total confiança em sua capacidade de potencializar o mistério da trama, Psicose ainda conta com uma das trilhas sonoras mais brilhantes e icônicas do cinema, composta por Bernard Herrmann, outro gênio.
O filme se sai relativamente bem na tentativa de criar um documentário falso. Neste ponto chega a ser melhor que A Bruxa de Blair, por exemplo. Em algumas cenas faz lembrar um Globo Repórter, com a câmera dentro do carro, filmando as estradas pelas quais passam, enquanto Hans (Otto Jespersen) desfia todo seu conhecimento a respeito das criaturas que caça.
Além do atrativo de proporcionar ao espectador o contato com uma cultura tão rica e curiosa como a norueguesa, o diretor André Ovredal ainda nos brinda com belas imagens das paisagens bucólicas e rupestres da região, enquanto ao roteiro cabe a tarefa de desmistificar os trolls, por meio de uma pseudo-ciência que encontra formas criativas de explicar os estranhos poderes e peculiaridades das fabulosas criaturas.
Otto Jespersen é muito convincente no papel do caçador de trolls. Sua postura arisca no início, e a forma como vai se abrindo aos poucos para os repórteres, revelando cada vez mais informações sobre seu trabalho, e sobre as criaturas que mata, como forma de se justificar, além da seriedade com que revela curiosidades sobre os trolls, faz com que acreditemos que aquele homem já se encontra tão acostumado e calejado por seu trabalho que, todo o encantamento se perdeu.
Infelizmente o filme tem alguns problemas de coerência. A montagem é muito fragmentada e truncada. Por um lado isto condiz com a idéia de a "trama" ser composta de uma série de trechos montados a partir de um suposto material mais extenso, conforme é explicado no texto que introduz a história, mas isto acaba atrapalhando o ritmo, que torna-se arrastado em diversos momentos, e apresenta cenas irrelevantes para o desenvolvimento da trama.
Outro problema surge quando um dos personagens morre, e os demais mal esboçam uma reação, para logo em seguida praticamente ignorarem o fato e seguirem em frente como se aquele incidente não houvesse ocorrido.
E algumas questões importantes ficam sem resposta: por que Hans é o único responsável pelo controle das criaturas? Não seria mais prudente treinar outras pessoas para abrangerem uma área maior? E como conseguem esconder a existência de um bicho de 100 metro de altura?
Ainda que tenha suas falhas, o filme diverte, fazendo uso de um formato já existente para abordar um elemento da mitologia local, e atualizá-lo para um mundo extremamente racional como é o nosso.
Vinhas da Ira
4.4 206Crítico, incisivo, e ainda assim poético e extremamente respeitoso com a classe que busca retratar, John Ford realizou com Vinhas da Ira um retrato de uma parcela da humanidade diante do qual somos incapazes de ficar indiferentes. Acima de qualquer técnica e estilismo empregado, merece elogios a abordagem mais direta e realista, o drama bem dosado, e as atuações sem floreios e exageros. [...] É na simplicidade dos personagens, e na objetividade da direção, que se esconde a beleza de Vinhas da Ira, uma obra-prima sem pretensões de sê-la.
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Crítica completa no Curtindo Cinema:
Blade Runner: O Caçador de Andróides
4.1 1,6K Assista AgoraContando ainda com a brilhante, climática e multicultural trilha sonora de Vangelis, e figurinos que ilustram a verdadeira salada de culturas resultante de um futuro onde a humanidade tenta desesperadamente reunir o pouco que sobrou de si mesma, numa última tentativa de preservar sua memória coletiva, Ridley Scott e sua equipe criaram um futuro verossímil, e uma das experiências audio-visuais mais imersivas da 7ª arte. Uma obra-prima do gênero que merece ser revisitada de tempos em tempos.
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Crítica completa no Curtindo Cinema:
Zodíaco
3.7 1,3K Assista AgoraTalvez por ser um filme menos passional e visceral que Seven, e menos estiloso que Clube da Luta ou O Quarto do Pânico, Zodíaco não logrou o mesmo sucesso que os filmes anteriores do diretor. Aqui vemos um Fincher que soube domar seu estilo à favor da história, num dos maiores acertos de sua carreira, e um indicativo de seu amadurecimento, que comprovou-se ano passado com Rede Social.
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Crítica completa no Curtindo Cinema:
Sangue Negro
4.3 1,2K Assista AgoraSangue Negro é um verdadeiro êxtase cinematográfico proporcionado por um dos diretores mais promissores da atualidade. Paul Thomas Anderson é um gênio em formação que aqui reinventa-se uma vez mais, mostrando um cinema em estado bruto que, ainda assim, permanece como arte da mais elevada grandeza.
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Crítica completa no Curtindo Cinema:
Desejo e Reparação
4.1 1,5K Assista AgoraCom um elenco bem entrosado, direção virtuosa, fotografia magnífica, figurinos e direção de arte caprichadas, Desejo e Reparação surpreende pela forma com que trabalha temas como culpa, remorso, arrependimento e perdão, e talvez o maior dos erros cometidos por seus personagens: a falta de um diálogo sincero e honesto.
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Crítica completa no Curtindo Cinema:
Operação França
3.9 254 Assista AgoraOperação França merece um lugar em qualquer lista dos melhores filmes de ação de todos os tempos. Com um roteiro inteligente, que prende a atenção do expectador, um diretor que entende a fundo os mecanismos e artifícios do gênero, excelente montagem, fotografia e atuações, é um filme completo e indispensável para quem gosta de uma boa dose de adrenalina cinematográfica.
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Crítica completa no Curtindo Cinema:
Patton, Rebelde ou Herói?
3.9 133 Assista AgoraQuando um filme é quase inteiramente focado num personagem real, o mínimo que esperamos é que o protagonista seja uma figura interessante, que faça por merecer o tempo investido em sua história. Felizmente Patton não decepciona como cinebiografia.
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Crítica completa no Curtindo Cinema:
Meu Ódio Será Sua Herança
4.2 204 Assista AgoraCom um elenco equilibrado, roteiro muito bem estruturado, e uma direção inspirada, Meu Ódio Será Sua Herança muda as regras do gênero, e explora um lado pouco abordado em outros faroestes da época, no qual os “bons” cedem lugar aos “maus e os feios”. Merece seu lugar na história do gênero e na lista dos melhores faroestes já produzidos.
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Crítica completa no Curtindo Cinema:
Blade Runner: O Caçador de Andróides
4.1 1,6K Assista AgoraQuase 30 anos depois continua sendo uma das direções de arte mais impressionantes da história do cinema. Obra-prima incontestável do gênero. Eu, no lugar do Philip K. Dick, ficaria orgulho com o que Ridley Scott e sua equipe fizeram com seu conto. Supera o original, na minha opinião. Só a poesia final Roy Batty (Hudger Hauer, brilhante!) alcança um nível de profundidade maior que toda a história concebida por K. Dick.
Filme mais do que obrigatório para qualquer um que se diz apreciador de ficção científica.
Planeta dos Macacos: A Origem
3.8 3,2K Assista AgoraPra quem ainda vai assistir o filme neste final de semana, relembre aqui o clássico de 1968:
O Planeta dos Macacos
4.0 684 Assista AgoraAinda que não seja perfeito, é inegável o valor de O Planeta dos Macacos no universo da ficção científica. Partindo de uma premissa que poderia facilmente render uma produção trash, seu roteiro é inteligente e bem construído, explorando os conceitos e idéias que sustentam aquele mundo de maneira séria, além de gerar discussões sobre uso e abuso da ciência, o tratamento que reservamos aos animais, e a arrogância do ser humano em pensar que é uma espécie insubstituível num planeta regido por leis naturais que incentivam a adaptação e evolução de todos os seres vivos que o habitam. Este é o papel da boa ficção científica, e Franklin J. Schaffner e sua equipe o cumprem com louvor.
[...]
Crítica completa no Curtindo Cinema:
Sanjuro
4.2 51Impecavelmente dirigido e fotografado, e trazendo mais uma ótima parceria entre Kurosawa e Mifune, Sanjuro merece a atenção de quem admira ver arte e entretenimento caminhando juntos.
[...]
Crítica completa em Curtindo Cinema:
Planeta Proibido
3.7 113 Assista AgoraO Planeta Proibido é daqueles clássicos da ficção científica que envelheceram bem. Apesar do uso de idéias embasadas no conhecimento científico da época tornar algumas delas antiquadas e até absurdas (a corrida espacial entre os EUA e a União Soviética começaria pra valer apenas no ano seguinte, com o lançamento do satélite artificial Sputnik pelos russos), a qualidade da produção, e a engenhosidade do roteiro, conferem ao filme aquele charme dos bons exemplares do gênero, que dão ao espectador a chance de se divertir vendo como imaginavam o futuro na década de 1950, em que a exploração espacial estava mais ligada à fantasia do que à ciência.
[...]
Crítica completa no Curtindo Cinema:
Super 8
3.6 2,5K Assista AgoraSuper 8, segundo o próprio J. J. Abrams definiu numa entrevista, é como aquelas brincadeiras que fazemos quando criança, em que imaginamos nossa cidade sendo invadida por alienígenas ou zumbis, e tudo acaba sendo uma desculpa pra impressionarmos a menina por quem somos apaixonados com algum ato heróico. Não é à toa que a idade dos garotos bate com a que Abrams tinha na época em que a história se passa (1979). Joe (Joel Courtney) é a versão alternativa de Abrams num passado que jamais existiu, mas que ele desejou muito que tivesse acontecido.
[...]
Crítica completa em Curtindo Cinema:
A Árvore da Vida
3.4 3,1K Assista AgoraA Árvore da Vida é dotado de uma hábil fluidez com a qual Malick encadeia seus questionamentos e reflexões por intermédio de seus personagens, e de imagens plasticamente belas e sutis, que compõem ricas metáforas visuais, as quais cobrem um período da história da vida na Terra, partindo da formação de sua estrutura geológica, sua biogênese, até alcançar o ponto desta macroestrutura narrativa onde está inserida a história da família O’Brien, e de seu primogênito, Jack.
O título diz muito sobre o filme. A Árvore da Vida é mais do que a árvore genealógica dos O’Brien, e está além da correspondente bíblica, cujo fruto era permitido a Adão e Eva. Simbolicamente, no contexto elaborado por Malick, a árvore representa a complexa cadeia de eventos que, partindo de um só ponto, ramificaram-se, gerando uns aos outros, da origem do universo ao nascimento de Jack.
[...]
Texto completo em Curtindo Cinema:
A Árvore da Vida
3.4 3,1K Assista AgoraEntrou no meu Top 5 da vida. É só o que tenho a dizer por hora.
Disque M Para Matar
4.4 681 Assista AgoraEm Disque M para Matar, Hitchcock exibe seu domínio pleno do cenário, dos objetos cênicos, e da dinâmica interna dos atores, num trabalho mais racional do que esteticamente belo e rico em simbolismos (embora eles existam). O diretor pouco interfere na narrativa, fugindo sabiamente de estilismos que chamem muita atenção para si, consciente da importância dos detalhes presentes na história, os quais têm papel fundamental em seu desenrolar.
O primeiro grande acerto do filme é a maneira enxuta com que o roteiro de Frederick Knott resolve a apresentação de seus personagens. Em duas breves cenas conhecemos a relação de Tony com Margot, e o caso desta com Mark.
Um expectador mais desatento pode perder a sutileza com que Hitchcock ilustra as relações do triângulo amoroso. Quando Margot está com Tony na primeira cena, sua roupa é rosa, uma cor que conota graça e ternura, longe da paixão representada pelo vermelho do vestido que usa ao encontrar-se com Mark na cena seguinte, num indicativo do estado de seu relacionamento com Tony.
Este jogo envolvendo Margot e as cores prossegue no decorrer do filme, em que vemos a personagem usar roupas cada vez mais escuras, as quais passam a refletir seu estado emocional em face dos eventos, algo que o próprio Hitchcock admitiu fazer intencionalmente.
O roteiro e a direção também acertam ao incluir um longo diálogo entre Tony e Charles, que em pouco mais de 20 minutos introduz a premissa, explica o título do filme, destaca os principais traços da personalidade do protagonista, desperta o interesse do expectador pelo desenrolar da trama, e o deixa fascinado com a inteligência do criminoso, cujo plano é meticulosamente exposto, assim como todo o cenário no qual será executado.
Mas o melhor do filme vem após o crime, quando a história acompanha o conflito entre Tony e o Inspetor Hubbard. É o clássico embate entre um adversário que se julga intelectualmente superior, e confia excessivamente em suas habilidades de contornar imprevistos e amarrar pontas soltas; e outro, que pouco revela de suas capacidades, investindo em seu dom de observar e ouvir, e sendo cauteloso ao analisar os fatos para tirar suas conclusões. Ray Milland e John Williams (não confundir com o famoso compositor de trilhas sonoras) elevam a qualidade dos diálogos com atuações tão precisas quanto as atitudes e posturas que assumem diante dos desafios que um representa para o outro.
E não há como falar sobre “Disque M” sem comentar seu final. A enorme confiança e cuidado empregados por Tony para encobrir seus rastros, que acabam se convertendo na causa de seu fracasso, é um clássico ato falho descrito por Freud.
O erro cometido por Tony ao trocar as chaves seria o indício de uma culpa que ele passa a sentir desde o instante em que chega em casa e vê o estado de Margot após escapar da morte que ele encomendou? Sua postura e seu ar de superioridade seriam débeis tentativas compensatórias, por sentir-se inferior a Mark, um “mero” escritor de suspense, cuja inteligência quase desvenda todo o seu plano? O crime seria sua forma de expôr seus sentimentos, ao mesmo tempo em que oferece um meio de ser punido por sua inferioridade de caráter, e a inveja e ciúmes decorrentes dela?
Quando um filme termina com a deliciosa ironia de que a chave do mistério é, de fato, uma chave, não resta dúvidas de que trata-se de mais um daqueles suspenses que garantiu sua presença eterna na lista dos melhores de todos os tempos.
Cantando na Chuva
4.4 1,1K Assista AgoraO maior mérito de Cantando na Chuva é reforçar o valor do musical como forma de contar uma história. O primeiro grande acerto do roteiro e da direção foi apresentar Don Lockwood (Gene Kelly), logo na introdução, contando um resumo da ascensão de sua carreira, partindo da época em que era um mero palhaço de pantomimas, até chegar a astro de filmes mudos, por meio de uma narrativa convencional. Com isto criou-se um contraste essencial entre esta e a versão musicada da mesma história, vista mais adiante no filme, ilustrando muito bem as diferenças de formato, e o modo como cada um lida com fatos e elementos dramáticos e cômicos de maneiras distintas.
É importante, para que um musical nos ajude a aceitar sua lógica interna, que seus personagens e situações que se adequem a ela, algo que o filme faz de maneira exemplar. Don, Cosmo, Kathy e Lina, cada um à sua maneira, são caricatos na medida certa. Isto, aliado às constantes (e ótimas) tiradas de humor, contribui para estabelecer um universo próprio, em que aceitamos, por exemplo, que um amigo comece um número musical no meio de uma conversa com outro, dançando e fazendo malabarismos, sem que isto incomode outras pessoas presentes no cenário, algumas delas, inclusive, participando do número.
Cantando na Chuva é divertido, leve, consegue mostrar a que veio, tirando ótimo proveito no formato para satirizar episódios curiosos dos bastidores de Hollywood, e prestando um louvável serviço a jovens amantes do cinema, ao pô-los a par das dificuldades enfrentadas num dos momentos de maior importância da história do cinema, retirando dele uma comédia de primeira qualidade com base em situações que, vistas atualmente, beiram o absurdo.
Além disto, é extasiante assistir um filme em que temos um Gene Kelly transbordando simpatia em elaborados e belos números musicais. A seqüência que dá nome ao filme entra no momento certo, ilustrando com perfeição o estado de espírito de Don após seu surto criativo. E quando passamos a temer que o auge do filme já se foi, ganhamos de brinde a belíssima dança de Gene Kelly com Cyd Charisse, numa atmosfera de sonho, envoltos num véu esvoaçante, que é plasticamente uma das idéias mais inspiradas da direção, pela simplicidade de sua execução.
Um clássico cuja maior realização é eliminar parte do preconceito que existe por musicais. Se você não começar a ver outros filmes do gênero sob um novo olhar, dificilmente passará a apreciá-los.
Uma Aventura na África
3.7 99Uma Aventura na África proporciona uma experiência cinematográfica prazerosa. Sua narrativa não cansa, e seus personagens ganham muito pela qualidade de seus atores.
Humphrey Bogart conquista o público desde sua primeira aparição como Charlie. Sua simplicidade e humildade, muito bem dosados pelo ator, torna-o carismático pela expontaneidade e autentidade com que reage a cada situação. Jamais deixamos de acredita na sinceridade de cada palavra e gesto que dirige a Rose.
Já a Rose de Katharine Hepburn é esnobe e aristocrática, e demora um pouco mais para entrar nas graças do público. Enfrentando situações extremas para seu padrão de vida, de início ela se mostra fresca demais, e desdenha dos valores do barqueiro. Mas a atuação de Hepburn é tão boa quanto a de seu Bogart, pois nota-se desde o primeiro encontro de Rose com Charlie que há certa atração ali, disfarçada de uma curiosidade pelo exotismo que enxerga nele.
Portanto, quando passam a envolver-se romanticamente, compramos seu relacionamento amoroso, pois o roteiro e os atores são hábeis em plantar indícios; a química entre eles surge e desenvolve-se naturalmente; e as circunstâncias nas quais se encontram contribuem para que seus sentimentos aflorem de maneira lógica.
Claro que grande parte da diversão proporcionada pelo filme se deve à direção muito acertada de John Huston, que faz bom uso das locações, captando belas imagens das florestas da África, e renovando o interesse do expectador pelo que ocorre em torno do casal, evitando, assim, que a história torne-se monótona, caso foca-se apenas em seu romance.
Há ainda um ótimo equilíbrio entre passagens mais lentas, focadas nas conversas mais intimistas entre Charlie e Rose, e seus momentos mais românticos; e seqüências mais movimentados, em que o casal enfrenta correntezas perigosas, tiroteios, entre outros obstáculos que encontram pelo caminho.
Outro grande acerto do roteiro e da direção foi expôr a fragilidade física e emocional dos personagens, destacando-se o ponto da história em que o barco fica encalhado, e eles começam a perder as esperanças de seguir em frente, e a parte em que Charlie é atacado por sanguessugas.
Os maiores problemas do filme envolvem o uso excessivo de cromaqui, revelando diversas vezes a artificialidade de algumas cenas, e impedindo que acreditemos em alguns dos perigos enfrentados por Charlie e Rose. O mesmo valendo para o efeito usado no ataque de mosquitos, que é muito precário.
O final também exige um pouco mais de suspensão de descrença do que o restante da trama. Não chega a comprometer a obra como um todo, mas justamente por ela apresentar um roteiro tão bem resolvido até aquele ponto, merecia uma conclusão melhor estruturada.
Ainda assim, trata-se daqueles romances deliciosos de assistir, que só a década de 50 foi capaz de produzir.
O Mágico de Oz
4.2 1,3K Assista AgoraFilme atemporal pela aura de encanto que carrega consigo, O Mágico de Oz é um produto cinematográfico que, após mais de 70 décadas, foi alçado à condição de patrimônio cultural da humanidade. Difícil existir neste mundo quem não tenha, ao menos, visto alguma cena, ouvido uma canção, ou uma frase retirada dele.
Podemos falar da direção de arte esplendorosa, dos vibrantes números musicais, das falas que eternizaram-se, mas neste ponto o que quer que seja dito a seu respeito soaria redundante.
Sim, os efeitos especiais impressionam pela época em que foram realizados, sendo o mais impressionante deles, na minha opinião, o tornado no início do filme, que até hoje é convincente. Ou aquela truque sutil, quando Dorothy abre a porta de sua casa, toda em sépia, e vê pela primeira vez a explosão de cores do Mundo de Oz do outro lado. Hoje é um truque muito simples de ser feito com o uso de um computador, enquanto na época tiveram que bolar um verdadeiro truque de mágica para enganar os olhos dos espectadores, que saiu tão bem a ponto de funcionar até hoje.
Não sou um apreciador de musicais, mas foi difícil conter a emoção ao ouvir Somewhere Over The Rainbow pela primeira vez no contexto. Não faz a menor diferença já conhecer a música, e tê-la ouvido diversas vezes, pois quando você a escuta pela primeira vez no filme o efeito é totalmente outro. Pelo menos foi assim que aconteceu comigo. E o mesmo vale para vários dos trechos musicais e frases clássicas.
De uma época em que a magia do cinema estava mais poderosa do que nunca, O Mágico de Oz faz parte daquela seleta lista de filmes capazes de transportar seu público para um mundo fantástico, onde não é nem um pouco absurdo acreditar que personagens cantam toda vez que se conhecem, ou uma cidade inteira se mobiliza para receber uma visitante vinda de muito longe, e o maior dos problemas é resolvido batendo os calcanhares três vezes enquanto deseja ardorosamente voltar pra casa.
Sem Novidade no Front
4.3 140 Assista AgoraNão é a toa que Sem Novidade no Front ocupa merecidamente o 7º lugar na lista dos 10 maiores épicos do cinema. Além de ser tecnicamente impressionante, o filme é um feito de direção, roteiro, e apresenta uma das melhores reconstituições de época já realizadas, em parte pelo fato de ser produzido numa época tão próxima dos eventos retratados (a Primeira Guerra durou até 1918, apenas 12 anos antes das filmagens começarem).
Seus personagens são bem trabalhados, carismáticos, e não estão lá só para morrer e causa choque, ou uma comoção artificialmente provocada. As cenas de combates são bem montadas, a câmera acompanha os soldados através de travelings bem empregados, e a montagem é dinâmica (foca no soldado disparando a metralhadora de um lado pro outro, corta pros soldados caindo um a um acompanhando o movimento do take anterior, volta pro cara metralhando, pros soldados, e assim vai).
O roteiro é ótimo, e mantém-se coeso mesmo quando se permite retratar pequenos contos relacionados à guerra, sem que soem episódicos. A história do par de botas que passa de um dono a outro; o soldado que fica preso com um inimigo moribundo dentro de uma trincheira; o jovem que volta do campo de batalha para casa, e chega à conclusão de que não serve mais para ter uma vida normal, todos funcionam, ao mesmo tempo, de maneira independente e como parte da trama principal.
Não é um filme para aqueles que preferem uma história mais focada em grandes e violentas batalhas, embora exista sua parcela delas. Sem Novidade no Front é para quem gosta da 7ª arte como meio de refletir sobre os efeitos da guerra em soldados, e naqueles que estão do lado de fora, enxergando apenas a parte gloriosa vendida para jovens ainda em busca de sua identidade, e de seu lugar num mundo que exige mais do que realmente pode pagar a eles em retribuição.
A cena final, bela, poética, e dolorosamente triste, é a perfeita síntese da mensagem que Lewis Milestone tenta passar adiante, e a prova de que acabamos de assistir um dos grandes libelos anti-belicistas que o cinema já produziu. Um clássico completo.
Psicose
4.4 2,5K Assista AgoraPsicose é outro daqueles grandes clássicos do cinema que intimida qualquer pessoa que o respeita como tal, e ainda assim deseja escrever uma opinião mais crítica a seu respeito.
Hithcock já não precisava provar mais nada na época que o dirigiu, tendo produzido alguns dos melhores suspenses já realizados, mas o fez, e novamente inovou com uma história conduzida com sua genialidade habitual.
Pequenos detalhes, como as cenas em que Marion imagina supostas conversas entre seus conhecidos em reação ao seu desaparecimento, que servem tanto para ilustrar seu estado psicológico, como para preencher lacunas da história. Ou a fixação de Norman Bates por pássaros, sugerindo seu desejo oculto por libertar-se de sua condição (além de ser um easter-egg não-intencional para o filme seguinte de Hitchcock). Todo esse cuidado no desenvolvimento dos personagens e na composição dos cenários é o que diferencia um bom diretor de um prodígio.
E não é a toa que o diretor nutria tanto respeito por Anthony Perkins durante as filmagens. Seu trabalho em Psicose é excepcional. Simpático e bom moço no início, Norman Bates não desperta suspeitas, até que o ator começa oferecer insights sobre os recessos mais ocultos da personalidade de Bates, durante seu jantar com Marion em sua sala reservada, cercado por pássaros empalhados. Não é a toa que o roteiro se permite uma das viradas mais ousadas já realizadas num suspense, para dar mais espaço ao seu desenvolvimento e nos permitir investigar mais a fundo este personagem tão fascinante.
A famosa cena do banho, por mais que você tenha visto inúmeras vezes antes de assistir o filme em si, continua impactante até hoje. Tensa, fragmentada, cheia de cortes precisos que fazem uma perfeita rima visual ao que ela própria exibe ao espectador, serve tanto para pontuar os golpes desferidos pelo criminoso, como o estado de surpresa, confusão e pânico da vítima, que em seus últimos segundos de vida, paralelamente à sua luta para sobreviver ao ataque, parece travar também uma luta interna, numa última tentativa de juntar as peças que a levaram àquele momento, na esperança de entender porque aquilo estava acontecendo com ela. Estaria sendo punida pelo crime que ela própria cometeu, e pelo qual vinha sentindo-se culpada desde o primeiro instante em que decidiu cometê-lo? É arrependimento o que vemos em seu olhar derradeiro?
Com um roteiro excelente, capaz tanto de instigar o espectador a desvendar seu mistério, como ainda promover um brilhante estudo de personagem, e um Hitchcock com total confiança em sua capacidade de potencializar o mistério da trama, Psicose ainda conta com uma das trilhas sonoras mais brilhantes e icônicas do cinema, composta por Bernard Herrmann, outro gênio.
Obrigatório para qualquer cinéfilo que se preze.
O Caçador de Troll
3.1 378 Assista AgoraO filme se sai relativamente bem na tentativa de criar um documentário falso. Neste ponto chega a ser melhor que A Bruxa de Blair, por exemplo. Em algumas cenas faz lembrar um Globo Repórter, com a câmera dentro do carro, filmando as estradas pelas quais passam, enquanto Hans (Otto Jespersen) desfia todo seu conhecimento a respeito das criaturas que caça.
Além do atrativo de proporcionar ao espectador o contato com uma cultura tão rica e curiosa como a norueguesa, o diretor André Ovredal ainda nos brinda com belas imagens das paisagens bucólicas e rupestres da região, enquanto ao roteiro cabe a tarefa de desmistificar os trolls, por meio de uma pseudo-ciência que encontra formas criativas de explicar os estranhos poderes e peculiaridades das fabulosas criaturas.
Otto Jespersen é muito convincente no papel do caçador de trolls. Sua postura arisca no início, e a forma como vai se abrindo aos poucos para os repórteres, revelando cada vez mais informações sobre seu trabalho, e sobre as criaturas que mata, como forma de se justificar, além da seriedade com que revela curiosidades sobre os trolls, faz com que acreditemos que aquele homem já se encontra tão acostumado e calejado por seu trabalho que, todo o encantamento se perdeu.
Infelizmente o filme tem alguns problemas de coerência. A montagem é muito fragmentada e truncada. Por um lado isto condiz com a idéia de a "trama" ser composta de uma série de trechos montados a partir de um suposto material mais extenso, conforme é explicado no texto que introduz a história, mas isto acaba atrapalhando o ritmo, que torna-se arrastado em diversos momentos, e apresenta cenas irrelevantes para o desenvolvimento da trama.
Outro problema surge quando um dos personagens morre, e os demais mal esboçam uma reação, para logo em seguida praticamente ignorarem o fato e seguirem em frente como se aquele incidente não houvesse ocorrido.
E algumas questões importantes ficam sem resposta: por que Hans é o único responsável pelo controle das criaturas? Não seria mais prudente treinar outras pessoas para abrangerem uma área maior? E como conseguem esconder a existência de um bicho de 100 metro de altura?
Ainda que tenha suas falhas, o filme diverte, fazendo uso de um formato já existente para abordar um elemento da mitologia local, e atualizá-lo para um mundo extremamente racional como é o nosso.
A Hora da Escuridão
2.4 842 Assista AgoraGostei do conceito da ameaça. Despertou minha curiosidade.