Enquanto assistia o filme fiquei com a impressão de que, se Tarkovsky tivesse nascido japonês, ele dirigiria um filme de samurai mais ou menos assim. Pode ser atmosfera de sonho acordado que impregna todo o filme, as tomadas contemplativas da natureza, cenários deteriorados e devastados, ou mesmo as pontuais intervenções musicais, que seriam o correspondente aos trechos de poesias lidos em alguns dos filmes do diretor russo. E, claro, vários personagens discutindo questões filosóficas entre um respiro e outro de violência sanguinolenta, e imagens de arquivo que remetem a momentos dramáticos e traumáticos da história do Japão.
Não conheço tão a fundo a obra de Takashi Miike, mas até aqui é o filme mais maduro que assisti do diretor. Uma ousada viagem pelo monstro sanguinário que habita a alma humana, atiça sua fome por sangue e violência, e caça suas vítimas através do tempo, se perguntando até quando continuará faminto.
As atuações são tão exageradas e ruins, as maquiagens e efeitos especiais são tão mal feitos, e as situações tão absurdas e toscas, que chega a divertir na maior parte do tempo (nas outras você só de pergunta se está mesmo assistindo aquilo).
É aquela velha história de que os japoneses têm um senso de humor estranho (o mesmo valendo para os ingleses), que pode beirar o doentio. Mas, como eu gosto das bizarrices japoneses (e também do senso de humor inglês), tá valendo.
Uma comédia romântica trash surrealista que só os japoneses poderiam realizar.
Não conheço a história da produção deste filme. Sei apenas que ele foi uma produção norte americana e japonesa, com direito a efeitos especiais da famosa Industrial Light & Magic, e que Kurosawa já estava quase cego quando dirigiu Ran 5 anos antes. Não sei qual era a condição de sua visão na altura em que dirigiu Sonhos, mas se o diretor conseguiu produzir um filme de tamanha beleza visual e temática como este mesmo incapaz de enxergar, ele só reforçou sua própria genialidade.
Sonhos é um filme que, acredito, só pode ser plenamente apreciado por aqueles que já estão acostumados com o ritmo dos filmes de Kurosawa, e com o cinema japonês de um modo geral (do contrário, muitos vão achá-lo monótono demais). Há muitas longas pausas dramáticas e contemplativas, e diversos seguimentos quase sem nenhum diálogo.
Até a metade do filme encontrei dificuldade para enxergar um fio condutor ao longo dele que não fosse apenas uma sucessão de episódios narrando os sonhos do diretor (como o roteiro é dele, suponho que sejam dele também). Foi no episódio em que o pintor japonês começa a explorar as obras de Van Gogh que o filme revelou pra mim sua forte carga autobiográfica.
Notem como ele começa com dois sonhos focados em crianças, e suas relações com seres da mitologia japonesa. Uma sobre disciplina, outra sobre as tradições. O terceiro é o da nevasca, em que um homem lidera um grupo que tenta voltar para onde partiram. Mais tarde, no quarto, é abordado o horror da guerra, seguido pelo quinto, o do pintor e Van Gogh. Os dois sonhos seguintes refletem os pesadelos gerados pelo temor de catástrofes nucleares, e o filme encerra-se com uma nota otimista, em que um homem, o mesmo dos três sonhos anteriores (se não é o mesmo ator, são muito parecidos), reforça seus vínculos com a sabedoria presente na cultura ancestral de seu país.
Detalhe: todos os contos são protagonizados por personagens masculinos. Todos estão ali como alter egos do próprio Kurosawa. Sonhos pode ser perfeitamente interpretado como um apanhado geral de todas as principais reflexões que acometem a mente de um homem ao longo de sua vida, dentro de uma cultura que já experimentou tantas mudanças.
Vemos o menino que ainda acredita em seres fantásticos apresentados a ele na infância, provavelmente pelos pais, para que respeite-os e obedeça-os. Vemos o homem que, buscando liberdade, acaba se perdendo no turbilhão de pensamentos sem foco e objetivo, e acaba se salvando quando recua para o ponto de partida (e dá pra traçar perfeitamente um paralelo entre a nevasca e a adolescência, em que nos tornamos mais rebeldes, mas acabamos chegando ao seu fim dando mais valor ao que tentamos deixar pra trás). O homem que começa a entender os horrores que o mundo pode nos reserva quando a violência extrema e massiva é o único caminho que enxergamos. E, claro, o homem que busca uma salvação para si mesmo através da arte, mas que ainda assim não ignora os perigos em potencial que existem no mundo onde vive, e salienta-os por meio de alegorias e extrapolações para quem ainda está disposto a ouvi-lo.
Kurosawa fez de Sonhos o testemunho de uma vida intensamente vivida e realizada. Através da arte expôs suas experiências, aspirações, temores e esperanças, buscando nos tocar, nos alertar, e apontar um dos caminhos que a humanidade ainda pode escolher para que alguns dos pesadelos por ele apresentados aqui não se realizem. Cabe a nós não apenas sonhar, mas trazer para a realidade alguns de nossos sonhos, como Kurosawa fez ao longo de toda a sua carreira, num facho de luz em uma sala escura.
Alguns dos episódios paralelos chegam a ser melhores e mais divertidos que a trama principal. Gostei muito daqueles protagonizados pelo casal de amantes, e aquele da senhora no mercadinho. Mas felizmente o diretor soube distribuí-los muito bem ao longo do filme, sem afetassem o ritmo da narrativa.
A história funciona como um ótimo convite para conhecermos um pouco mais sobre a culinária japonesa, seus rituais de preparação de alimentos e degustação, além de dar vontade de jogar fora todos os pacotes de miojo que você tem em casa, e correr para um restaurante japonês legítimo pra comer um lamen de verdade.
Agradeço ao Francisco por ter me apresentado essa preciosidade, uma das melhores surpresas cinematográficas que tive nos últimos meses. Pretendo ir atrás de mais filmes do diretor.
Existe algo nos filmes do Chaplin que sempre me emociona. Talvez seja a energia de uma arte ainda em formação, que foi explorada de maneira tão intensa e doce ao mesmo tempo. Talvez seja a economia de palavras, e o poder da expressão corporal.
Aqui ele fez um de seus trabalhos mais sublimes. Desnecessário dizer que ele extrai de todos os atores atuações memoráveis, e é impossível não destacar a atuação brilhante de Jackie Koogan, sem dúvida um dos atores mirins mais cativantes e talentosos que o cinema já apresentou ao mundo.
Mais uma obra profundamente humana de um dos maiores humanistas de todos os tempos.
De longe um dos filmes mais divertidos dos estúdios Disney, que aqui no Brasil teve a felicidade de passar por um dos melhores trabalhos de dublagem que já tive a oportunidade de conferir, com talentos como os de Selton Mello, Guilherme Briggs e Humberto Martins completamente à vontade em seus papéis, e transmitindo para o público toda a descontração que certamente imperou durantes os dias que gravaram suas participações.
O ritmo da história é excelente, sempre muito cinético, e lotado de gags visuais que jamais deixam de funcionar. O traço muito caricato e estilizado de todos os personagens contribui para que o humor da trama ganhe intensidade.
O roteiro é um achado, especialmente em seu uso muito acertado e bem humorado de metalinguagem na narrativa.
Animação pra terminar a sessão com um sorriso de satisfação no rosto.
O filme tem números musicais tão variados em tom e estilo de animação quanto o primeiro, talvez até mais no segundo quesito. A primeira e a última história são verdadeiras obras-primas que encantam e impressionam pelo deslumbramento visual proporcionado (a seqüência da renovação da vida do último na floresta é arrebatadora).
Os únicos pontos negativos são as apresentações "engraçadinhas" entre um número e outro, que tiram parte da magia que o filme teria se ficasse só por conta das seqüências animadas. E a reapresentação de "Aprendiz de Feiticeiro", mesmo que ainda seja uma obra-prima dos estúdios Disney, tomou um tempo que poderia ter sido ocupado por outra história nova, como uma daquelas propostas descartadas que o próprio filme cita em entre uma apresentação e outra.
Ainda assim, é a Disney fazendo o seu melhor. Tecnicamente está entre os melhores trabalhos do estúdio.
Tinha potencial para ser um filme bem melhor com a trama de preconceito, aceitação, autoconfiança. Tecnicamente deixa a desejar com relação ao que veio antes (Branca de Neve e Pinóquio). Já a história passa a impressão de que foi resolvida às pressas.
Dumbo mal descobre que sabe voar, tem uma aula rápida de vôo, e já parte para o clímax do filme.
Ao contrário de alguns, gosto da cena do sonho psicodélico, mas dentro do contexto parece gratuita, sem qualquer influência na história, a não ser criar uma desculpa para ele ter parado naquela árvore sem tomar ciência disto.
Além de não apresentar nenhuma melhoria na qualidade da animação, o longa ainda sofre com a perda de dois nomes do elenco de vozes do original, Anne Hattaway e James Belushi, o que por si só já indica a queda de qualidade do roteiro. Glenn Close deve ser muito amigo dos produtores do primeiro filme pra ter topado participar dessa bomba.
As piadas são repetitivas, uma mais sem graça que a outra. O uso de coadjuvantes do original é pouco inspirado, e as referências a Silêncio dos Inocentes, Scarface, Exterminador do Futuro, Bons Companheiros e Stars Wars soam artificiais, gratuitas e vergonhosas.
O "mistério" da história é "revelado" cedo demais, além de ser fácil resolvê-lo praticamente desde o início do filme.
A animação deixa um pouco a desejar na movimentação dos personagens. Achei alguns combates um tanto "lentos" quando exigiam um pouco mais de dinamismo.
É uma boa adaptação. Apesar de sacrificar diversas subtramas da HQ original, funciona como compilação da trama principal, mas pouco faz para que Hulk ganhe alguma profundidade e carisma ao longo das histórias. Os coadjuvantes acabam chamando mais atenção, especialmente Caiera, com seu passado trágico.
O vilão é a velha combinação de sujeito mesquinho, mimado e manipulador, mas que dentro da proposta de um longa animado de 80 minutos cumpre sua função.
Mesmo sem explorar as questões que levanta o tanto que mereciam, é elogiável a fidelidade com que a animação retrata a violência, não poupando o espectador de todo sangue, desmembramento e até mesmo de descobrir o destino de uma criança vítima de uma infecção desfigurante.
Faltou um roteiro que tirasse maior proveito da premissa que tinha em mãos, e um pouco mais de tempo para desenvolvê-la.
Ótima introdução ao universo dos personagens, com contos muito variados pra todos os gostos de quem curte não apenas super-heróis mas boas histórias de ficção científica e fantasia. Dentre eles se destacam o do primeiro Lanterna Verde e o de Mogo.
A idéia de usar estilos de traço e animação diferentes para cada conto casa muito bem. A trama central, mesmo ficando relegada a segundo plano durante a maior parte do tempo, consegue empolgar quando é finalmente abordada.
Causa estranheza apenas a falta de uma continuidade do que foi visto no longa O Primeiro Vôo, especialmente pela presença de Sinestro aqui. Logo acaba sendo mais uma história alternativa. Um pouco mais de unidade entre os longas faria bem.
Concordo com quem disse que está entre as melhores animações do Universo DC.
Uma das melhores qualidades de Boogie Nights é a forma como o roteiro faz com que simpatizemos por todos os personagens, muito transparentes na expressão ingênua de suas carências, e na maneira imprudente com que perseguem seus sonhos. Acabamos perdoando todos por seus atos imorais justamente porque entendemos que eles acreditam que estão fazendo a coisa certa dentro das possibilidades.
A direção de Anderson é impecável, em especial na fluência que consegue dar à passagem de tempo, e na forma como dosa atmosfera e tensão, sendo os melhores exemplos disto toda a seqüência que ilustra a decadência de Eric e Jack, e o encontro na casa do traficante.
Adoro a ironia de um filme que trata da indústria pornô ter somente uma cena de nudez explícita.
Mais do que um exercício de estilo, aqui vemos as características principais do diretor cada vez mais próximas da excelência que alcançaria naquela que ainda considero sua obra maior: Magnólia.
Só a trilha sonora de Jon Brion já faz por merecer um cuidado a maior na hora de assistir este filme. É tão estranha, e tão brilhante, que por vezes se destaca, mas sem jamais perder a sintonia com o que se vê.
Paul Thomas Anderson fez milagre com Adam Sandler, que poucas vezes teve sua persona cinematográfica tão bem aproveitada como aqui.
O roteiro é um achado, que consegue casar muito bem cada um dos absurdos que compõem a trama, transformando a estranheza inicial em interesse por parte do espectador em compreender se há algum sentido em tudo aquilo. Acaba que nos tornamos tão obsessivos pelo desenrolar da história quanto Barry por pudins, seu terno azul e seu "piano".
Se ainda não for motivo o bastante pra assisti-lo, tem a Emily Watson, que mais uma vez dá vontade de levar pra casa.
Vale apenas pela porradaria entre os superpoderosos, que simplesmente não pára, e pela fidelidade ao traço do McGuinness. A história é só uma desculpa pra tudo isto. É o filme mais fraco da safra atual, mas funciona como passatempo.
A ingenuidade do protagonista, somada ao tom de fábula e à recriação estilizada de época, são os principais atrativos esta ótima comédia, em que a maioria dos exageros e caricaturas são bem dosados. A única exceção é a repórter interpretada por Jennifer Jason Leigh, cuja verborragia irrita e começa a cansar e atordoar depois de um tempo.
Direção de arte e fotografia excepcionais, e uma bela e grandiosa trilha sonora de Carter Burwell.
Por mais estranho que isto possa soar, achei que faltou mais química no casal principal. Não vejo isto como culpa dos atores, mas do roteiro, que é tão cínico em seu desenrolar que acaba não abrindo espaço para que realmente "compremos" o arremedo de romance entre Miles e Marilyn.
Ainda assim, o filme consegue divertir em vários momentos, pelo histerismo de vários personagens que surgem no momento certo. George Clooney tem uma veia para o humor que raramente falha, e acaba sendo ele a salvar a maior parte do filme.
Zeta-Jones, que já é naturalmente um colírio para os olhos, fotografada por Roger Deakins é um verdadeiro pecado, especialmente neste filme, onde cada cor e foco de luz parece gritar luxo e superficialidade, tanto que em diversos momentos fiquei mais interessado em seu trabalho do que na direção dos irmãos Coen, e na atuação do elenco.
Boa comédia, mas bem distante das melhores dos Coen.
Filme excessivamente tolo, com piadas que se repetem além da conta, tornando a trama tediosa em seu ato final. As caricaturas, muito bem dosadas em trabalhos anteriores dos diretores, aqui parecem pesar mais do que o necessário.
O único detalhe que faz compensar assisti-lo é a fotografia de Roger Deakins, sempre uma atração à parte. Fora isto é um filme dispensável.
É uma boa aventura da Liga da Justiça, com bons combates, mas que explora muito pouco a premissa, que oferecia muitas possibilidades para gerar debates ideológicos, e estabelecer contrastes sociopolíticos.
Entendo que é voltado para um público mais jovem, mas mesmo na série pra TV conseguiram explorar premissas semelhantes dentro das limitações etárias.
Outro detalhe que incomoda nestes filmes é a falta de uma cronologia, mesmo que insinuada sutilmente. Se houvesse algum indício de continuidade entre um filme e outro, mesmo que sejam independentes da série, poderia tornar a experiência mais interessante, e oferecer um pouco mais de desenvolvimento para os personagens entre um lançamento e outro.
Vou concordar com quem já disse que há uma influência notável de Scorsese neste primeiro trabalho de P.T.Anderson. Notei até uma quase homenagem ao filme A Cor do Dinheiro, mudando apenas o jogo que o "velho sábio" ensina ao aprendiz. Mas, apesar de contar com temas semelhantes, e até estilos de direção e fotografia parecidos, as pretensões são diferentes.
A grande sacada de Anderson é nos fazer acreditar que o filme tratará do mundo da jogatina e dos riscos que se corre ao se envolver nesta vida, e, no final, nos entregar um estudo de personagem que aborda com sutileza o passado de seu protagonista e suas motivações.
Diferentes dos demais filmes do diretor, aqui ele lida com um elenco menor, o que lhe confere maior segurança ao lidar com suas relações e conflitos. É um longa muito econômico no que diz respeito à dinâmica do elenco, mas bastante eficiente em tornar suas histórias envolventes.
Philip Baker Hall é um ator de estatura, e em nenhum momento duvidamos de sua capacidade de lidar com os problemas que surgem. Algo em seu olhar, em sua postura e na maneira de falar diz muito sobre Sydney ao espectador, sem que ele precise saber de onde este senhor tão misterioso surgiu, e quando finalmente descobrimos um pouco dele não chega a surpreender, dando a seus atos maior peso, e sentimos maior respeito por ele e seus esforços para preservar seus segredos.
Adorei a forma como o Von Trier já satisfaz as expectativas da maioria logo na abertura, entregando toda a pirotecnia que esperamos ver no clímax, transformando-a em poesia visual, e deixando todo o restante do filme pra tratar dos conflitos humanos e dos efeitos psicológicos que sobrevém diante de um evento de tamanha proporção como o da "ameaça cósmica" apresentada pela trama.
Quem conhece pelo menos parte da obra do diretor já está cansado de saber do prazer que ele tem de acabar com o dia de qualquer um que se sujeito a assistir um filme dele. Foi assim com Dogville e O Anticristo, ao menos pra mim.
Talvez até por já estar acostumado com esse clima de desesperança, Melancolia desceu mais "suave" em mim, mas nem por isto foi menos impactante (perdoem o trocadilho, não resisti).
Sim, eu concordo com o punhado de gente que já falou da influência da filmografia de Tarkovsky nas produções de Von Trier. Quem viu especialmente O Sacrifício vai enxergar não apenas muitas semelhanças estéticas mas também temáticas.
Não acho um filme tão enigmático como muitos acharam. Há algumas possíveis leituras, mas é mil vezes mais direto do que O Anticristo na mensagem que quer passar. Só o fato da trama do fim do mundo ser toda abordada sob um ponto de vista mais intimista já diz muito sobre o significado real do evento que afeta a vida de todos.
A verdade é que tantos meses depois do lançamento não sobra muito pra de dizer a respeito. Só mesmo apreciar mais uma daquelas obras que mexem profundamente com quem é minimamente sensível aos temores e angústias que acometem qualquer ser humano.
Um dos maiores acertos de Kundun foi a escolha de retratar a trama do ponto de vista da criança escolhida para assumir responsabilidades sobre as quais nem ela entender muito bem o que implicam. Scorsese faz um uso bem dosado de câmeras subjetivas na primeira metade para nos apresentar àquela cultura tão exótica pelo olhar do menino que, assim como nós, também está tentando entender o significado de todos aqueles rituais que, para ele, são tão engraçados quanto o ratinho que chama sua atenção no meio de uma sessão de meditação coletiva.
O que impede Kundun de passar de uma mera curiosidade infantil é que essa subjetividade persiste por todo o filme, quando o melhor seria se parte daquela cultura pudesse ser melhor compreendida para, assim, nos envolvermos mais com as questões e conflitos enfrentados pelo protagonista.
Outro ponto que incomoda é a trilha sonora de Philip Glass, que em diversos momentos chama atenção demais para si, criando um "ruído" quando sobreposta às imagens que não diz muito a respeito delas, soando inconveniente e gratuita.
É um filme que claramente tem pretensões épicas, além de tentar despertar no espectador o mesmo encantamento pelo desconhecido que sente a criança que adentra aquele mundo tão cheio de mistérios, e por um tempo realmente consegue. Mas quanto toda a politicagem entra na trama, a montagem passa a ser apenas monótona, e os atores deixam muito a desejar em suas atuações, Kundun perde grande parte de seu encanto.
É uma pena que um filme que tinha tanto pra ser memorável, pela ousadia de um diretor norte-americano em decifrar parte de uma cultura tão distante de seu país de origem, que acerta, de início, na abordagem semi-documental e poética, mas erra na escalação do elenco e no equilíbrio dos elementos cinematográficos.
Quem conhece a produção de suspense das décadas de 50 e 60 nota logo na abertura que Cabo do Medo é a homenagem de Scorsese aos filmes do gênero daquela época tão prolífica. Como se ela não bastasse ainda há a trilha original de Bernard Herrmann, responsável por alguns dos maiores sucessos de Hitchcock, e as atuações levemente "afetadas", tão comuns às produções daquele período.
O problema de Cabo do Medo é o quanto esta "afetação" acaba gerando um filme que não deixa claro o tom que visa adotar. Cenas como a do ataque na cozinha e a do destino final de Max dão a entender que trata-se mais de uma paródia, pelo efeito cômico que elas possuem. Enquanto isto as estilizações da montagem, e os efeitos propositalmente datados, como o céu da casa da família, cuja artificialidade nem é disfarçada, apontam para o caminho da homenagem.
Não me interpretem mal, Robert De Niro é, de longe, o ator que mais tira proveito da chance que ganhou. Claramente interpretando um personagem que lhe deu muita liberdade para atuar, é ele o principal responsável por tornar a trama imprevisível, e as estratégias de Max, em contraste com a maneira com que Sam lida com o inimigo, acabam contribuindo para que passemos a torcer pelo "vilão".
Acredito que o que faltou para Cabo do Medo ser um suspense de primeira foi um pouco mais de foco em seu objetivo como filme do gênero. Está mais para um exercício estilístico de Scorsese. Curioso e aprazível, mas não totalmente satisfatório.
O filme cumpre bem a tarefa de criar um ponto de partida para a realidade vista no clássico de 1968, tomando algumas liberdades para atualizar conceitos e algumas questões éticas abordadas naquele.
O maior problema do filme é a fragilidade da estrutura dramática no que diz respeito aos personagens "humanos". O relacionamento entre o cientista e a veterinária é introduzido muito abruptamente, e pouco acrescenta à trama. O drama do pai com Alzheimer, embora funcione como motivação para o filho prosseguir com suas pesquisas, torna-se desinteressante quando a história passa a focar-se mais no Cesar.
Assim, perde-se o equilíbrio, e começamos a torcer para que as cenas envolvendo os humanos passem logo para voltarmos ao protagonista, o que não é bom, pois torna a trama parcial demais.
Os efeitos são ótimos, embora deixem a desejar no início do filme, quando Cesar parece deslocado e sem peso em algumas cenas. Mais adiante melhora muito, e logo nos esquecemos que trata-se de computação gráfica de primeira qualidade.
As pequenas homenagens e referências à série clássica são bem vindas (confesso que não "pesquei" todas porque só assisti o primeiro filme).
Também me incomodou a subtrama do vírus que afeta humanos, que não tem muita função dentro da história, servindo apenas como gancho para uma continuação.
Bom filme, com excelente atuação de Andy Serkis. Desperta o interesse de conferir uma continuação que aproxime esta realidade ainda mais daquela apresentada há mais de quatro décadas.
Izo
3.7 18Enquanto assistia o filme fiquei com a impressão de que, se Tarkovsky tivesse nascido japonês, ele dirigiria um filme de samurai mais ou menos assim. Pode ser atmosfera de sonho acordado que impregna todo o filme, as tomadas contemplativas da natureza, cenários deteriorados e devastados, ou mesmo as pontuais intervenções musicais, que seriam o correspondente aos trechos de poesias lidos em alguns dos filmes do diretor russo. E, claro, vários personagens discutindo questões filosóficas entre um respiro e outro de violência sanguinolenta, e imagens de arquivo que remetem a momentos dramáticos e traumáticos da história do Japão.
Não conheço tão a fundo a obra de Takashi Miike, mas até aqui é o filme mais maduro que assisti do diretor. Uma ousada viagem pelo monstro sanguinário que habita a alma humana, atiça sua fome por sangue e violência, e caça suas vítimas através do tempo, se perguntando até quando continuará faminto.
Vampire Girl VS Frankenstein Girl
3.0 63As atuações são tão exageradas e ruins, as maquiagens e efeitos especiais são tão mal feitos, e as situações tão absurdas e toscas, que chega a divertir na maior parte do tempo (nas outras você só de pergunta se está mesmo assistindo aquilo).
É aquela velha história de que os japoneses têm um senso de humor estranho (o mesmo valendo para os ingleses), que pode beirar o doentio. Mas, como eu gosto das bizarrices japoneses (e também do senso de humor inglês), tá valendo.
Uma comédia romântica trash surrealista que só os japoneses poderiam realizar.
Sonhos
4.4 381 Assista AgoraNão conheço a história da produção deste filme. Sei apenas que ele foi uma produção norte americana e japonesa, com direito a efeitos especiais da famosa Industrial Light & Magic, e que Kurosawa já estava quase cego quando dirigiu Ran 5 anos antes. Não sei qual era a condição de sua visão na altura em que dirigiu Sonhos, mas se o diretor conseguiu produzir um filme de tamanha beleza visual e temática como este mesmo incapaz de enxergar, ele só reforçou sua própria genialidade.
Sonhos é um filme que, acredito, só pode ser plenamente apreciado por aqueles que já estão acostumados com o ritmo dos filmes de Kurosawa, e com o cinema japonês de um modo geral (do contrário, muitos vão achá-lo monótono demais). Há muitas longas pausas dramáticas e contemplativas, e diversos seguimentos quase sem nenhum diálogo.
Até a metade do filme encontrei dificuldade para enxergar um fio condutor ao longo dele que não fosse apenas uma sucessão de episódios narrando os sonhos do diretor (como o roteiro é dele, suponho que sejam dele também). Foi no episódio em que o pintor japonês começa a explorar as obras de Van Gogh que o filme revelou pra mim sua forte carga autobiográfica.
Notem como ele começa com dois sonhos focados em crianças, e suas relações com seres da mitologia japonesa. Uma sobre disciplina, outra sobre as tradições. O terceiro é o da nevasca, em que um homem lidera um grupo que tenta voltar para onde partiram. Mais tarde, no quarto, é abordado o horror da guerra, seguido pelo quinto, o do pintor e Van Gogh. Os dois sonhos seguintes refletem os pesadelos gerados pelo temor de catástrofes nucleares, e o filme encerra-se com uma nota otimista, em que um homem, o mesmo dos três sonhos anteriores (se não é o mesmo ator, são muito parecidos), reforça seus vínculos com a sabedoria presente na cultura ancestral de seu país.
Detalhe: todos os contos são protagonizados por personagens masculinos. Todos estão ali como alter egos do próprio Kurosawa. Sonhos pode ser perfeitamente interpretado como um apanhado geral de todas as principais reflexões que acometem a mente de um homem ao longo de sua vida, dentro de uma cultura que já experimentou tantas mudanças.
Vemos o menino que ainda acredita em seres fantásticos apresentados a ele na infância, provavelmente pelos pais, para que respeite-os e obedeça-os. Vemos o homem que, buscando liberdade, acaba se perdendo no turbilhão de pensamentos sem foco e objetivo, e acaba se salvando quando recua para o ponto de partida (e dá pra traçar perfeitamente um paralelo entre a nevasca e a adolescência, em que nos tornamos mais rebeldes, mas acabamos chegando ao seu fim dando mais valor ao que tentamos deixar pra trás). O homem que começa a entender os horrores que o mundo pode nos reserva quando a violência extrema e massiva é o único caminho que enxergamos. E, claro, o homem que busca uma salvação para si mesmo através da arte, mas que ainda assim não ignora os perigos em potencial que existem no mundo onde vive, e salienta-os por meio de alegorias e extrapolações para quem ainda está disposto a ouvi-lo.
Kurosawa fez de Sonhos o testemunho de uma vida intensamente vivida e realizada. Através da arte expôs suas experiências, aspirações, temores e esperanças, buscando nos tocar, nos alertar, e apontar um dos caminhos que a humanidade ainda pode escolher para que alguns dos pesadelos por ele apresentados aqui não se realizem. Cabe a nós não apenas sonhar, mas trazer para a realidade alguns de nossos sonhos, como Kurosawa fez ao longo de toda a sua carreira, num facho de luz em uma sala escura.
Tampopo: Os Brutos Também Comem Spaghetti
4.0 67Alguns dos episódios paralelos chegam a ser melhores e mais divertidos que a trama principal. Gostei muito daqueles protagonizados pelo casal de amantes, e aquele da senhora no mercadinho. Mas felizmente o diretor soube distribuí-los muito bem ao longo do filme, sem afetassem o ritmo da narrativa.
A história funciona como um ótimo convite para conhecermos um pouco mais sobre a culinária japonesa, seus rituais de preparação de alimentos e degustação, além de dar vontade de jogar fora todos os pacotes de miojo que você tem em casa, e correr para um restaurante japonês legítimo pra comer um lamen de verdade.
Agradeço ao Francisco por ter me apresentado essa preciosidade, uma das melhores surpresas cinematográficas que tive nos últimos meses. Pretendo ir atrás de mais filmes do diretor.
O Garoto
4.5 584 Assista AgoraExiste algo nos filmes do Chaplin que sempre me emociona. Talvez seja a energia de uma arte ainda em formação, que foi explorada de maneira tão intensa e doce ao mesmo tempo. Talvez seja a economia de palavras, e o poder da expressão corporal.
Aqui ele fez um de seus trabalhos mais sublimes. Desnecessário dizer que ele extrai de todos os atores atuações memoráveis, e é impossível não destacar a atuação brilhante de Jackie Koogan, sem dúvida um dos atores mirins mais cativantes e talentosos que o cinema já apresentou ao mundo.
Mais uma obra profundamente humana de um dos maiores humanistas de todos os tempos.
O Babá(Ca)
2.8 280 Assista AgoraIsto soa tãaao cópia fajuta de Uma Noite de Aventuras. Pelo menos lá tínhamos a delícia da Elisabeth Shue detonando no blues.
A Nova Onda do Imperador
3.7 686 Assista AgoraDe longe um dos filmes mais divertidos dos estúdios Disney, que aqui no Brasil teve a felicidade de passar por um dos melhores trabalhos de dublagem que já tive a oportunidade de conferir, com talentos como os de Selton Mello, Guilherme Briggs e Humberto Martins completamente à vontade em seus papéis, e transmitindo para o público toda a descontração que certamente imperou durantes os dias que gravaram suas participações.
O ritmo da história é excelente, sempre muito cinético, e lotado de gags visuais que jamais deixam de funcionar. O traço muito caricato e estilizado de todos os personagens contribui para que o humor da trama ganhe intensidade.
O roteiro é um achado, especialmente em seu uso muito acertado e bem humorado de metalinguagem na narrativa.
Animação pra terminar a sessão com um sorriso de satisfação no rosto.
Fantasia 2000
3.9 154 Assista AgoraO filme tem números musicais tão variados em tom e estilo de animação quanto o primeiro, talvez até mais no segundo quesito. A primeira e a última história são verdadeiras obras-primas que encantam e impressionam pelo deslumbramento visual proporcionado (a seqüência da renovação da vida do último na floresta é arrebatadora).
Os únicos pontos negativos são as apresentações "engraçadinhas" entre um número e outro, que tiram parte da magia que o filme teria se ficasse só por conta das seqüências animadas. E a reapresentação de "Aprendiz de Feiticeiro", mesmo que ainda seja uma obra-prima dos estúdios Disney, tomou um tempo que poderia ter sido ocupado por outra história nova, como uma daquelas propostas descartadas que o próprio filme cita em entre uma apresentação e outra.
Ainda assim, é a Disney fazendo o seu melhor. Tecnicamente está entre os melhores trabalhos do estúdio.
Dumbo
3.6 412 Assista AgoraTinha potencial para ser um filme bem melhor com a trama de preconceito, aceitação, autoconfiança. Tecnicamente deixa a desejar com relação ao que veio antes (Branca de Neve e Pinóquio). Já a história passa a impressão de que foi resolvida às pressas.
Dumbo mal descobre que sabe voar, tem uma aula rápida de vôo, e já parte para o clímax do filme.
Ao contrário de alguns, gosto da cena do sonho psicodélico, mas dentro do contexto parece gratuita, sem qualquer influência na história, a não ser criar uma desculpa para ele ter parado naquela árvore sem tomar ciência disto.
Superestimado, na minha opinião.
Deu a Louca na Chapeuzinho 2
2.7 314Além de não apresentar nenhuma melhoria na qualidade da animação, o longa ainda sofre com a perda de dois nomes do elenco de vozes do original, Anne Hattaway e James Belushi, o que por si só já indica a queda de qualidade do roteiro. Glenn Close deve ser muito amigo dos produtores do primeiro filme pra ter topado participar dessa bomba.
As piadas são repetitivas, uma mais sem graça que a outra. O uso de coadjuvantes do original é pouco inspirado, e as referências a Silêncio dos Inocentes, Scarface, Exterminador do Futuro, Bons Companheiros e Stars Wars soam artificiais, gratuitas e vergonhosas.
O "mistério" da história é "revelado" cedo demais, além de ser fácil resolvê-lo praticamente desde o início do filme.
Um desperdício de tempo.
Planeta Hulk
3.4 105A animação deixa um pouco a desejar na movimentação dos personagens. Achei alguns combates um tanto "lentos" quando exigiam um pouco mais de dinamismo.
É uma boa adaptação. Apesar de sacrificar diversas subtramas da HQ original, funciona como compilação da trama principal, mas pouco faz para que Hulk ganhe alguma profundidade e carisma ao longo das histórias. Os coadjuvantes acabam chamando mais atenção, especialmente Caiera, com seu passado trágico.
O vilão é a velha combinação de sujeito mesquinho, mimado e manipulador, mas que dentro da proposta de um longa animado de 80 minutos cumpre sua função.
Mesmo sem explorar as questões que levanta o tanto que mereciam, é elogiável a fidelidade com que a animação retrata a violência, não poupando o espectador de todo sangue, desmembramento e até mesmo de descobrir o destino de uma criança vítima de uma infecção desfigurante.
Faltou um roteiro que tirasse maior proveito da premissa que tinha em mãos, e um pouco mais de tempo para desenvolvê-la.
Lanterna Verde: Cavaleiros Esmeralda
3.6 111 Assista AgoraÓtima introdução ao universo dos personagens, com contos muito variados pra todos os gostos de quem curte não apenas super-heróis mas boas histórias de ficção científica e fantasia. Dentre eles se destacam o do primeiro Lanterna Verde e o de Mogo.
A idéia de usar estilos de traço e animação diferentes para cada conto casa muito bem. A trama central, mesmo ficando relegada a segundo plano durante a maior parte do tempo, consegue empolgar quando é finalmente abordada.
Causa estranheza apenas a falta de uma continuidade do que foi visto no longa O Primeiro Vôo, especialmente pela presença de Sinestro aqui. Logo acaba sendo mais uma história alternativa. Um pouco mais de unidade entre os longas faria bem.
Concordo com quem disse que está entre as melhores animações do Universo DC.
Boogie Nights: Prazer Sem Limites
4.0 551 Assista AgoraUma das melhores qualidades de Boogie Nights é a forma como o roteiro faz com que simpatizemos por todos os personagens, muito transparentes na expressão ingênua de suas carências, e na maneira imprudente com que perseguem seus sonhos. Acabamos perdoando todos por seus atos imorais justamente porque entendemos que eles acreditam que estão fazendo a coisa certa dentro das possibilidades.
A direção de Anderson é impecável, em especial na fluência que consegue dar à passagem de tempo, e na forma como dosa atmosfera e tensão, sendo os melhores exemplos disto toda a seqüência que ilustra a decadência de Eric e Jack, e o encontro na casa do traficante.
Adoro a ironia de um filme que trata da indústria pornô ter somente uma cena de nudez explícita.
Mais do que um exercício de estilo, aqui vemos as características principais do diretor cada vez mais próximas da excelência que alcançaria naquela que ainda considero sua obra maior: Magnólia.
Embriagado de Amor
3.6 479 Assista AgoraSó a trilha sonora de Jon Brion já faz por merecer um cuidado a maior na hora de assistir este filme. É tão estranha, e tão brilhante, que por vezes se destaca, mas sem jamais perder a sintonia com o que se vê.
Paul Thomas Anderson fez milagre com Adam Sandler, que poucas vezes teve sua persona cinematográfica tão bem aproveitada como aqui.
O roteiro é um achado, que consegue casar muito bem cada um dos absurdos que compõem a trama, transformando a estranheza inicial em interesse por parte do espectador em compreender se há algum sentido em tudo aquilo. Acaba que nos tornamos tão obsessivos pelo desenrolar da história quanto Barry por pudins, seu terno azul e seu "piano".
Se ainda não for motivo o bastante pra assisti-lo, tem a Emily Watson, que mais uma vez dá vontade de levar pra casa.
Superman & Batman: Inimigos Públicos
3.6 119 Assista AgoraVale apenas pela porradaria entre os superpoderosos, que simplesmente não pára, e pela fidelidade ao traço do McGuinness. A história é só uma desculpa pra tudo isto. É o filme mais fraco da safra atual, mas funciona como passatempo.
Na Roda da Fortuna
3.6 97A ingenuidade do protagonista, somada ao tom de fábula e à recriação estilizada de época, são os principais atrativos esta ótima comédia, em que a maioria dos exageros e caricaturas são bem dosados. A única exceção é a repórter interpretada por Jennifer Jason Leigh, cuja verborragia irrita e começa a cansar e atordoar depois de um tempo.
Direção de arte e fotografia excepcionais, e uma bela e grandiosa trilha sonora de Carter Burwell.
O Amor Custa Caro
2.8 204 Assista AgoraPor mais estranho que isto possa soar, achei que faltou mais química no casal principal. Não vejo isto como culpa dos atores, mas do roteiro, que é tão cínico em seu desenrolar que acaba não abrindo espaço para que realmente "compremos" o arremedo de romance entre Miles e Marilyn.
Ainda assim, o filme consegue divertir em vários momentos, pelo histerismo de vários personagens que surgem no momento certo. George Clooney tem uma veia para o humor que raramente falha, e acaba sendo ele a salvar a maior parte do filme.
Zeta-Jones, que já é naturalmente um colírio para os olhos, fotografada por Roger Deakins é um verdadeiro pecado, especialmente neste filme, onde cada cor e foco de luz parece gritar luxo e superficialidade, tanto que em diversos momentos fiquei mais interessado em seu trabalho do que na direção dos irmãos Coen, e na atuação do elenco.
Boa comédia, mas bem distante das melhores dos Coen.
Matadores de Velhinha
3.1 499 Assista AgoraFilme excessivamente tolo, com piadas que se repetem além da conta, tornando a trama tediosa em seu ato final. As caricaturas, muito bem dosadas em trabalhos anteriores dos diretores, aqui parecem pesar mais do que o necessário.
O único detalhe que faz compensar assisti-lo é a fotografia de Roger Deakins, sempre uma atração à parte. Fora isto é um filme dispensável.
Liga da Justiça: Crise em Duas Terras
3.7 185 Assista AgoraÉ uma boa aventura da Liga da Justiça, com bons combates, mas que explora muito pouco a premissa, que oferecia muitas possibilidades para gerar debates ideológicos, e estabelecer contrastes sociopolíticos.
Entendo que é voltado para um público mais jovem, mas mesmo na série pra TV conseguiram explorar premissas semelhantes dentro das limitações etárias.
Outro detalhe que incomoda nestes filmes é a falta de uma cronologia, mesmo que insinuada sutilmente. Se houvesse algum indício de continuidade entre um filme e outro, mesmo que sejam independentes da série, poderia tornar a experiência mais interessante, e oferecer um pouco mais de desenvolvimento para os personagens entre um lançamento e outro.
Jogada de Risco
3.6 102 Assista AgoraVou concordar com quem já disse que há uma influência notável de Scorsese neste primeiro trabalho de P.T.Anderson. Notei até uma quase homenagem ao filme A Cor do Dinheiro, mudando apenas o jogo que o "velho sábio" ensina ao aprendiz. Mas, apesar de contar com temas semelhantes, e até estilos de direção e fotografia parecidos, as pretensões são diferentes.
A grande sacada de Anderson é nos fazer acreditar que o filme tratará do mundo da jogatina e dos riscos que se corre ao se envolver nesta vida, e, no final, nos entregar um estudo de personagem que aborda com sutileza o passado de seu protagonista e suas motivações.
Diferentes dos demais filmes do diretor, aqui ele lida com um elenco menor, o que lhe confere maior segurança ao lidar com suas relações e conflitos. É um longa muito econômico no que diz respeito à dinâmica do elenco, mas bastante eficiente em tornar suas histórias envolventes.
Philip Baker Hall é um ator de estatura, e em nenhum momento duvidamos de sua capacidade de lidar com os problemas que surgem. Algo em seu olhar, em sua postura e na maneira de falar diz muito sobre Sydney ao espectador, sem que ele precise saber de onde este senhor tão misterioso surgiu, e quando finalmente descobrimos um pouco dele não chega a surpreender, dando a seus atos maior peso, e sentimos maior respeito por ele e seus esforços para preservar seus segredos.
Melancolia
3.8 3,1K Assista AgoraAdorei a forma como o Von Trier já satisfaz as expectativas da maioria logo na abertura, entregando toda a pirotecnia que esperamos ver no clímax, transformando-a em poesia visual, e deixando todo o restante do filme pra tratar dos conflitos humanos e dos efeitos psicológicos que sobrevém diante de um evento de tamanha proporção como o da "ameaça cósmica" apresentada pela trama.
Quem conhece pelo menos parte da obra do diretor já está cansado de saber do prazer que ele tem de acabar com o dia de qualquer um que se sujeito a assistir um filme dele. Foi assim com Dogville e O Anticristo, ao menos pra mim.
Talvez até por já estar acostumado com esse clima de desesperança, Melancolia desceu mais "suave" em mim, mas nem por isto foi menos impactante (perdoem o trocadilho, não resisti).
Sim, eu concordo com o punhado de gente que já falou da influência da filmografia de Tarkovsky nas produções de Von Trier. Quem viu especialmente O Sacrifício vai enxergar não apenas muitas semelhanças estéticas mas também temáticas.
Não acho um filme tão enigmático como muitos acharam. Há algumas possíveis leituras, mas é mil vezes mais direto do que O Anticristo na mensagem que quer passar. Só o fato da trama do fim do mundo ser toda abordada sob um ponto de vista mais intimista já diz muito sobre o significado real do evento que afeta a vida de todos.
A verdade é que tantos meses depois do lançamento não sobra muito pra de dizer a respeito. Só mesmo apreciar mais uma daquelas obras que mexem profundamente com quem é minimamente sensível aos temores e angústias que acometem qualquer ser humano.
Kundun
3.4 52Um dos maiores acertos de Kundun foi a escolha de retratar a trama do ponto de vista da criança escolhida para assumir responsabilidades sobre as quais nem ela entender muito bem o que implicam. Scorsese faz um uso bem dosado de câmeras subjetivas na primeira metade para nos apresentar àquela cultura tão exótica pelo olhar do menino que, assim como nós, também está tentando entender o significado de todos aqueles rituais que, para ele, são tão engraçados quanto o ratinho que chama sua atenção no meio de uma sessão de meditação coletiva.
O que impede Kundun de passar de uma mera curiosidade infantil é que essa subjetividade persiste por todo o filme, quando o melhor seria se parte daquela cultura pudesse ser melhor compreendida para, assim, nos envolvermos mais com as questões e conflitos enfrentados pelo protagonista.
Outro ponto que incomoda é a trilha sonora de Philip Glass, que em diversos momentos chama atenção demais para si, criando um "ruído" quando sobreposta às imagens que não diz muito a respeito delas, soando inconveniente e gratuita.
É um filme que claramente tem pretensões épicas, além de tentar despertar no espectador o mesmo encantamento pelo desconhecido que sente a criança que adentra aquele mundo tão cheio de mistérios, e por um tempo realmente consegue. Mas quanto toda a politicagem entra na trama, a montagem passa a ser apenas monótona, e os atores deixam muito a desejar em suas atuações, Kundun perde grande parte de seu encanto.
É uma pena que um filme que tinha tanto pra ser memorável, pela ousadia de um diretor norte-americano em decifrar parte de uma cultura tão distante de seu país de origem, que acerta, de início, na abordagem semi-documental e poética, mas erra na escalação do elenco e no equilíbrio dos elementos cinematográficos.
Cabo do Medo
3.8 906 Assista AgoraQuem conhece a produção de suspense das décadas de 50 e 60 nota logo na abertura que Cabo do Medo é a homenagem de Scorsese aos filmes do gênero daquela época tão prolífica. Como se ela não bastasse ainda há a trilha original de Bernard Herrmann, responsável por alguns dos maiores sucessos de Hitchcock, e as atuações levemente "afetadas", tão comuns às produções daquele período.
O problema de Cabo do Medo é o quanto esta "afetação" acaba gerando um filme que não deixa claro o tom que visa adotar. Cenas como a do ataque na cozinha e a do destino final de Max dão a entender que trata-se mais de uma paródia, pelo efeito cômico que elas possuem. Enquanto isto as estilizações da montagem, e os efeitos propositalmente datados, como o céu da casa da família, cuja artificialidade nem é disfarçada, apontam para o caminho da homenagem.
Não me interpretem mal, Robert De Niro é, de longe, o ator que mais tira proveito da chance que ganhou. Claramente interpretando um personagem que lhe deu muita liberdade para atuar, é ele o principal responsável por tornar a trama imprevisível, e as estratégias de Max, em contraste com a maneira com que Sam lida com o inimigo, acabam contribuindo para que passemos a torcer pelo "vilão".
Acredito que o que faltou para Cabo do Medo ser um suspense de primeira foi um pouco mais de foco em seu objetivo como filme do gênero. Está mais para um exercício estilístico de Scorsese. Curioso e aprazível, mas não totalmente satisfatório.
Planeta dos Macacos: A Origem
3.8 3,2K Assista AgoraO filme cumpre bem a tarefa de criar um ponto de partida para a realidade vista no clássico de 1968, tomando algumas liberdades para atualizar conceitos e algumas questões éticas abordadas naquele.
O maior problema do filme é a fragilidade da estrutura dramática no que diz respeito aos personagens "humanos". O relacionamento entre o cientista e a veterinária é introduzido muito abruptamente, e pouco acrescenta à trama. O drama do pai com Alzheimer, embora funcione como motivação para o filho prosseguir com suas pesquisas, torna-se desinteressante quando a história passa a focar-se mais no Cesar.
Assim, perde-se o equilíbrio, e começamos a torcer para que as cenas envolvendo os humanos passem logo para voltarmos ao protagonista, o que não é bom, pois torna a trama parcial demais.
Os efeitos são ótimos, embora deixem a desejar no início do filme, quando Cesar parece deslocado e sem peso em algumas cenas. Mais adiante melhora muito, e logo nos esquecemos que trata-se de computação gráfica de primeira qualidade.
As pequenas homenagens e referências à série clássica são bem vindas (confesso que não "pesquei" todas porque só assisti o primeiro filme).
Também me incomodou a subtrama do vírus que afeta humanos, que não tem muita função dentro da história, servindo apenas como gancho para uma continuação.
Bom filme, com excelente atuação de Andy Serkis. Desperta o interesse de conferir uma continuação que aproxime esta realidade ainda mais daquela apresentada há mais de quatro décadas.