É claro que o roteiro dá muito mais voltas que o necessário, e a trama poderia ser facilmente simplificada, mas o charme duradouro de The Big Sleep se encontra justamente no roteiro intrincado. É extremamente prazeroso, para aqueles que estiverem dispostos, mergulhar nesse enredo quase surreal que mistura crimes, intrigas familiares e muita tensão sexual em uma velocidade inacreditável. Os diálogos inteligentíssimos, e muito modernos para a época, não escondem a genialidade de seus autores, entre eles o medalhão da literatura inglesa, William Faulkner. Eu nunca imaginei que assistir a Humphrey Bogart em seu modus operandi, seduzindo todas as mulheres que passam por seu caminho e solucionando mistérios complicadíssimos sem o mínimo de esforço, pudesse ser tão divertido.
É impressionante a forma como Terence Davies consegue traduzir para o roteiro toda a poeticidade de Dickinson, criando uma atmosfera que flerta com o teatral, mas em momento algum deixa de respeitar a forma cinematográfica a que pertence. É gratificante ver este filme sendo feito por alguém com uma compreensão tão profunda do fazer poético da biografada, sem a pretensão de fazer algo "mais formulaico" para tentar agradar ao público e às premiações estadunidenses.
Miséria, drogas e criminalidade ditam a realidade daqueles que vivem do outro lado do sonho americano. Esta parcela da população estadunidense, a qual é chamada pejorativamente de "white trash", revela muito mais sobre a realidade da vida na América, do que qualquer outra, e Roberto Minervini, ciente disso, faz um retrato devastador sobre esses indivíduos, adentrando em suas vidas de tal maneira que chega a ser difícil acreditar de que trata de um documentário. Este é o filme que Trump não quer que você veja.
Amat Escalante merece aplausos pela ousadia em contar essa história que se difere tanto de suas tramas ultrarrealistas anteriores, mas que, felizmente, preserve a maestria e olhar apurado do cineasta para os "lugares sombrios" da mente humana.
Tenho alguns problemas com a construção dos personagens centrais, a qual muitas vezes acaba por ser superficial demais, mesmo que o cineasta lance um olhar crítico para esses personagens, produto de uma sociedade imbuída em valores hedonistas. Além disso, a sutileza com que Zvyagintsev costuma trabalhar não se faz tão presente como em seus filmes anteriores, partindo para uma obviedade que parece duvidar da inteligência do espectador, como por exemplo, através da recorrência de cenas em que os personagens "interrompem o momento" para fazer selfies. O saldo final, no entanto, não deixa ser positivo, até porque é uma obra com algo importante a dizer a respeito dos tempos sombrios e de individualismo em que vivemos. O único amor que parece existir nesta trama é o amor próprio.
"Baby, you made a promise to me, okay? You said, "for better or worse." You said that. You said it. It was a promise. Now this is my worst, okay? This is my worst. But I'm gonna get better. You just gotta give me a chance to get better."
Uma das obras mais originais e frenéticas que eu já tive oportunidade de conferir, Love Exposure é a expressão máxima daquilo que faz o cinema de Sion Sono: sexo, violência, melodrama, um (divertidíssimo) senso de humor bizarro e outras profanidades.
"Jesus, I approve of you as the only cool man besides Kurt Cobain"
Um filme sobre a agonia de toda uma geração, os sentimentos e desejos reprimidos pela dureza da vida real e o tédio da vida numa cidadezinha do interior. "Só" por falar sobre todos estes assuntos logo no começo dos anos 70, quando o cinema americano vislumbrava novos rumos estéticos e morais, Bogdanovich já teria o meu respeito, mas o que ele faz, é muito mais do que isso. Com "A Última Sessão de Cinema", ele revolucionou o cinema norte-americano de uma forma tão grande, que eu não consigo entender como esse filme não é tão falado como tantos outros parecidos, como "Quem Tem Medo de Virginia Woolf?" e "A Primeira Noite de um Homem". O que o Bogdanovich faz aqui é desconstruir o sonho americano vendido pela indústria cultural estadunidense para o seu próprio povo e para o resto do mundo. Tudo isso através da representação do cidadão americano comum dos anos 50, o qual muitas vezes nós relacionamos, até os dias de hoje, com o rock 'n' roll e comerciais de famílias felizes. Acontece que a "família feliz" das propagandas é vista aqui como o que ela realmente é, repleta de mentiras, tristezas e frustrações.
A maioria dos cineastas atuais deveriam assistir a Desencanto para aprender como é que se usa realmente a narração em off. David Lean faz aqui um uso primoroso deste recurso, dotando da melancolia necessária a trama, a qual, por sua vez, é imbuída da subjetividade da protagonista, interpretada com delicadeza e expressividade por Celia Johnson.
Mais sútil do que em seus outros filmes, Buñuel ataca mais uma vez a burguesia europeia, retratando-a como uma classe de parafílicos e pessoas moralmente deturpadas. O diferencial de "O Diário de uma Camareira" em sua carreira, é a busca pelas origens do fascismo na sociedade espanhola. Buñuel assistiu o surgimento e ascensão do franquismo em seu país, e talvez por isto, resolveu mostrar aqui o início deste processo que mergulharia a Espanha em um momento sombrio, tal como Michael Haneke viria a fazer mais tarde em "A Fita Branca" com o nazismo.
Uma grandíssima surpresa, "Chamas de Verão" é um estudo freudiano do comportamento humano que em momento algum soa como uma fita apelativa ou previsível, apesar de ter sido sucedido por diversas outras obras com temática similar. Haneke bebeu muito dessa fonte. É difícil para alguém que conhece seu cinema, principalmente "A Fita Branca" e "A Professora de Piano", não fazer essa relação óbvia entre o filme de Richardson e o seu cinema.
A última fase do cinema de Orson Welles revelou sua faceta mais metalinguística e literária. "História Imortal", como fruto desse período, é um ensaio provocante e narrativamente ousado a respeito da importância de uma história e o efeito que esta pode causar aqueles que a escutam. Todo relato oral que é passado adiante, como por exemplo, uma história de marinheiros, é portanto, uma história imortal.
Um filme feito todo somente para Moreau exercitar seu "star power". Parece que a atriz colecionava papéis de femme fatale nessa fase de sua carreira, de maneira que sua atuação aqui soe mais como uma reprise de seu papel em outros filmes, e a personagem título deixe de ser assim tão singular quanto o título propõe. A atmosfera melancólica e decadente(com direito à Billie Holiday na trilha sonora), no entanto, é um grande acerto da direção de Joseph Losey, um dos mais talentosos cineastas da New Wave Britânica.
Por mais que o uso da trilha incidental seja insistente e manipulatório, toda vez que eu escutava a música-tema um sentimento estarrecedor me assaltava e me fazia refém desse mundo sombrio e confuso criado por Béla Tarr. Daquelas obras que não devem ser racionalizadas, mas sim, sentidas.
Talvez o melhor filme da diretora até o momento, "O Atalho" é uma obra que subverte todos os clichês do faroeste estadunidense. Tudo isto através de uma obra que é uma verdadeira gema da sutileza e inteligência, criando uma espécie de antítese do clássico fordiano "Rastros de Ódio".
Um filme que precisa ser visto com total afastamento dos dias de hoje, uma vez que a trama soa muitíssimo ultrapassada e novelesca quando olhada pelo prisma da contemporaneidade, algo que, aliás, também serve para a maior parte das obras de Griffith. Assim como os outros filmes que consagraram o cineasta, "Inocente Pecadora" é um filme movido pela grandiloquência do discurso ufanista norte-americano. Apesar de aqui ser menos evidente o caráter nacionalista do diretor, este épico é nada mais que um conto do sonho americano, uma história moralizante para o povo da nação estadunidense, o que não é necessariamente ruim, uma vez que a trama preserva ainda muito de seu charme e potencial como entretenimento(em grande parte por conta da sempre excelente Lilian Gish).
Desde que Abbas Kiarostami nos deixou, há mais ou menos um ano, ninguém foi capaz de apontar um cineasta para preencher o vazio deixado por este mestre no cinema mundial. E aqui, todas as qualidades deste poeta iraniano estão presentes, o uso inteligente da metalinguagem como forma de tornar mais tênues os limites entre ficção e realidade; a consciência política e social enquanto cidadão de um país repleto de fundamentalismo religioso, e sobretudo, o seu olhar aguçado para o lirismo presente nas banalidades da vida cotidiana. Para os fãs do cineasta, assim como eu, "Através das Oliveiras" é um presente de Apolo aos mortais. Arte em sua forma mais pura e sincera.
Talvez o filme mais ousado e importante no plano político-social de Abbas Kiarostami, "Dez" é a expressão máxima da paixão do cineasta por cenas de diálogos ocorridas dentro de carros. Este exercício de minimalismo cinematográfico, no entanto, transgride o plano do experimentalismo estético e narrativo, e se transforma em um verdadeiro manifesto da condição da mulher numa sociedade patriarcal religiosa.
É um filme que, infelizmente, é de difícil apreensão para o público ocidental, não pela história em si, mas por se tratar de uma situação que pertence a um contexto cultural muito específico e que não consegue ser retratado com sucesso suficiente para tornar a trama compreensível ou até mesmo crível para um "olhar estrangeiro".
Magnânimo, denso e obrigatório, "Martírio" é um daqueles filmes que corroboram a singularidade dos documentaristas brasileiros e a importância do gênero no país. Cada segundo de exibição pesa, machuca e revolta, como não poderia deixar de ser. Uma obra-prima que merece ser discutida e divulgada!
Edward Yang mais do que nunca se volta aqui para uma crítica à deterioração das relações humanas pela dinâmica capitalista. A luta dos personagens por um lugar neste novo mundo onde tudo se dá de forma tão rápida e global, explicita a intenção do cineasta em analisar a vida de um indivíduo dentro de uma sociedade moderna. O diretor ainda estava estudando os temas que culminariam em suas duas obras-primas, "A Brighter Summer Day" e "As Coisas Simples da Vida", mas já demonstra grande talento e um olhar sensível para o ser humano e a modernidade.
Como o Phelipe já apontou abaixo, a estética televisiva incomoda pela falta de originalidade dentro do contexto em que a obra está inserida e por fazer o filme soar várias vezes quase como uma montagem de esquetes, por mais que algumas dessas "esquetes" sejam incisivas e muitíssimo bem interpretadas. A decepção de um modo geral vem mais por conta da abordagem um tanto canhestra do tema. No entanto, é uma das raras vezes em que vejo um filme nacional abordando a temática da mídia e sua influência no plano político, o que já faz com que ele mereça algum mérito e reconhecimento.
A proposta de fazer um filme intimista, sem grandes conflitos, focado exclusivamente no desenrolar de diálogos e situações corriqueira não é nova. Na verdade, essa premissa parece ser cada vez mais comum dentro do cinema independente. No entanto, são raras as vezes em que esse tipo de exercício cinematográfico funciona de verdade, e para a minha surpresa, Marília Rocha se encontra dentro deste grupo restrito. A trama(se é que se pode chamar assim) desenvolve-se de maneira natural e envolvente, tornando o espectador em um voyeur da vida íntima dessas personagens que não possuem absolutamente nada de extraordinário. E o bacana é isso, perceber como essa gente comum se torna interessante com o tempo, e como nós vamos adquirindo uma proximidade com o seu universo.
À Beira do Abismo
3.8 106 Assista AgoraÉ claro que o roteiro dá muito mais voltas que o necessário, e a trama poderia ser facilmente simplificada, mas o charme duradouro de The Big Sleep se encontra justamente no roteiro intrincado. É extremamente prazeroso, para aqueles que estiverem dispostos, mergulhar nesse enredo quase surreal que mistura crimes, intrigas familiares e muita tensão sexual em uma velocidade inacreditável.
Os diálogos inteligentíssimos, e muito modernos para a época, não escondem a genialidade de seus autores, entre eles o medalhão da literatura inglesa, William Faulkner. Eu nunca imaginei que assistir a Humphrey Bogart em seu modus operandi, seduzindo todas as mulheres que passam por seu caminho e solucionando mistérios complicadíssimos sem o mínimo de esforço, pudesse ser tão divertido.
Além das Palavras
3.5 44 Assista AgoraÉ impressionante a forma como Terence Davies consegue traduzir para o roteiro toda a poeticidade de Dickinson, criando uma atmosfera que flerta com o teatral, mas em momento algum deixa de respeitar a forma cinematográfica a que pertence.
É gratificante ver este filme sendo feito por alguém com uma compreensão tão profunda do fazer poético da biografada, sem a pretensão de fazer algo "mais formulaico" para tentar agradar ao público e às premiações estadunidenses.
Sombras do Pavor
4.0 34 Assista Agora"-Eu tenho dó de você. Você sempre representará o mais triste e estranho na vida.
- Um idiota?
-Não, um burguês."
O Outro Lado
3.5 3Miséria, drogas e criminalidade ditam a realidade daqueles que vivem do outro lado do sonho americano. Esta parcela da população estadunidense, a qual é chamada pejorativamente de "white trash", revela muito mais sobre a realidade da vida na América, do que qualquer outra, e Roberto Minervini, ciente disso, faz um retrato devastador sobre esses indivíduos, adentrando em suas vidas de tal maneira que chega a ser difícil acreditar de que trata de um documentário.
Este é o filme que Trump não quer que você veja.
A Região Selvagem
3.2 49 Assista AgoraAmat Escalante merece aplausos pela ousadia em contar essa história que se difere tanto de suas tramas ultrarrealistas anteriores, mas que, felizmente, preserve a maestria e olhar apurado do cineasta para os "lugares sombrios" da mente humana.
Sem Amor
3.8 319 Assista AgoraTenho alguns problemas com a construção dos personagens centrais, a qual muitas vezes acaba por ser superficial demais, mesmo que o cineasta lance um olhar crítico para esses personagens, produto de uma sociedade imbuída em valores hedonistas. Além disso, a sutileza com que Zvyagintsev costuma trabalhar não se faz tão presente como em seus filmes anteriores, partindo para uma obviedade que parece duvidar da inteligência do espectador, como por exemplo, através da recorrência de cenas em que os personagens "interrompem o momento" para fazer selfies.
O saldo final, no entanto, não deixa ser positivo, até porque é uma obra com algo importante a dizer a respeito dos tempos sombrios e de individualismo em que vivemos. O único amor que parece existir nesta trama é o amor próprio.
Namorados para Sempre
3.6 2,5K Assista Agora"Baby, you made a promise to me, okay? You said, "for better or worse." You said that. You said it. It was a promise. Now this is my worst, okay? This is my worst. But I'm gonna get better. You just gotta give me a chance to get better."
Love Exposure
4.2 93Uma das obras mais originais e frenéticas que eu já tive oportunidade de conferir, Love Exposure é a expressão máxima daquilo que faz o cinema de Sion Sono: sexo, violência, melodrama, um (divertidíssimo) senso de humor bizarro e outras profanidades.
"Jesus, I approve of you as the only cool man besides Kurt Cobain"
A Última Sessão de Cinema
4.1 123 Assista AgoraUm filme sobre a agonia de toda uma geração, os sentimentos e desejos reprimidos pela dureza da vida real e o tédio da vida numa cidadezinha do interior.
"Só" por falar sobre todos estes assuntos logo no começo dos anos 70, quando o cinema americano vislumbrava novos rumos estéticos e morais, Bogdanovich já teria o meu respeito, mas o que ele faz, é muito mais do que isso. Com "A Última Sessão de Cinema", ele revolucionou o cinema norte-americano de uma forma tão grande, que eu não consigo entender como esse filme não é tão falado como tantos outros parecidos, como "Quem Tem Medo de Virginia Woolf?" e "A Primeira Noite de um Homem".
O que o Bogdanovich faz aqui é desconstruir o sonho americano vendido pela indústria cultural estadunidense para o seu próprio povo e para o resto do mundo. Tudo isso através da representação do cidadão americano comum dos anos 50, o qual muitas vezes nós relacionamos, até os dias de hoje, com o rock 'n' roll e comerciais de famílias felizes. Acontece que a "família feliz" das propagandas é vista aqui como o que ela realmente é, repleta de mentiras, tristezas e frustrações.
Desencanto
4.4 171 Assista AgoraA maioria dos cineastas atuais deveriam assistir a Desencanto para aprender como é que se usa realmente a narração em off. David Lean faz aqui um uso primoroso deste recurso, dotando da melancolia necessária a trama, a qual, por sua vez, é imbuída da subjetividade da protagonista, interpretada com delicadeza e expressividade por Celia Johnson.
O Diário de uma Camareira
3.7 27 Assista AgoraMais sútil do que em seus outros filmes, Buñuel ataca mais uma vez a burguesia europeia, retratando-a como uma classe de parafílicos e pessoas moralmente deturpadas.
O diferencial de "O Diário de uma Camareira" em sua carreira, é a busca pelas origens do fascismo na sociedade espanhola. Buñuel assistiu o surgimento e ascensão do franquismo em seu país, e talvez por isto, resolveu mostrar aqui o início deste processo que mergulharia a Espanha em um momento sombrio, tal como Michael Haneke viria a fazer mais tarde em "A Fita Branca" com o nazismo.
Chamas de Verão
4.0 8Uma grandíssima surpresa, "Chamas de Verão" é um estudo freudiano do comportamento humano que em momento algum soa como uma fita apelativa ou previsível, apesar de ter sido sucedido por diversas outras obras com temática similar.
Haneke bebeu muito dessa fonte. É difícil para alguém que conhece seu cinema, principalmente "A Fita Branca" e "A Professora de Piano", não fazer essa relação óbvia entre o filme de Richardson e o seu cinema.
História Imortal
3.7 9A última fase do cinema de Orson Welles revelou sua faceta mais metalinguística e literária. "História Imortal", como fruto desse período, é um ensaio provocante e narrativamente ousado a respeito da importância de uma história e o efeito que esta pode causar aqueles que a escutam.
Todo relato oral que é passado adiante, como por exemplo, uma história de marinheiros, é portanto, uma história imortal.
Eva
3.7 15 Assista AgoraUm filme feito todo somente para Moreau exercitar seu "star power". Parece que a atriz colecionava papéis de femme fatale nessa fase de sua carreira, de maneira que sua atuação aqui soe mais como uma reprise de seu papel em outros filmes, e a personagem título deixe de ser assim tão singular quanto o título propõe.
A atmosfera melancólica e decadente(com direito à Billie Holiday na trilha sonora), no entanto, é um grande acerto da direção de Joseph Losey, um dos mais talentosos cineastas da New Wave Britânica.
As Harmonias de Werckmeister
4.3 94Por mais que o uso da trilha incidental seja insistente e manipulatório, toda vez que eu escutava a música-tema um sentimento estarrecedor me assaltava e me fazia refém desse mundo sombrio e confuso criado por Béla Tarr.
Daquelas obras que não devem ser racionalizadas, mas sim, sentidas.
O Atalho
3.3 60 Assista AgoraTalvez o melhor filme da diretora até o momento, "O Atalho" é uma obra que subverte todos os clichês do faroeste estadunidense. Tudo isto através de uma obra que é uma verdadeira gema da sutileza e inteligência, criando uma espécie de antítese do clássico fordiano "Rastros de Ódio".
Inocente Pecadora
4.0 46 Assista AgoraUm filme que precisa ser visto com total afastamento dos dias de hoje, uma vez que a trama soa muitíssimo ultrapassada e novelesca quando olhada pelo prisma da contemporaneidade, algo que, aliás, também serve para a maior parte das obras de Griffith.
Assim como os outros filmes que consagraram o cineasta, "Inocente Pecadora" é um filme movido pela grandiloquência do discurso ufanista norte-americano. Apesar de aqui ser menos evidente o caráter nacionalista do diretor, este épico é nada mais que um conto do sonho americano, uma história moralizante para o povo da nação estadunidense, o que não é necessariamente ruim, uma vez que a trama preserva ainda muito de seu charme e potencial como entretenimento(em grande parte por conta da sempre excelente Lilian Gish).
Através das Oliveiras
4.0 55 Assista AgoraDesde que Abbas Kiarostami nos deixou, há mais ou menos um ano, ninguém foi capaz de apontar um cineasta para preencher o vazio deixado por este mestre no cinema mundial. E aqui, todas as qualidades deste poeta iraniano estão presentes, o uso inteligente da metalinguagem como forma de tornar mais tênues os limites entre ficção e realidade; a consciência política e social enquanto cidadão de um país repleto de fundamentalismo religioso, e sobretudo, o seu olhar aguçado para o lirismo presente nas banalidades da vida cotidiana.
Para os fãs do cineasta, assim como eu, "Através das Oliveiras" é um presente de Apolo aos mortais. Arte em sua forma mais pura e sincera.
Dez
4.1 54 Assista AgoraTalvez o filme mais ousado e importante no plano político-social de Abbas Kiarostami, "Dez" é a expressão máxima da paixão do cineasta por cenas de diálogos ocorridas dentro de carros. Este exercício de minimalismo cinematográfico, no entanto, transgride o plano do experimentalismo estético e narrativo, e se transforma em um verdadeiro manifesto da condição da mulher numa sociedade patriarcal religiosa.
Humilhação
3.1 3É um filme que, infelizmente, é de difícil apreensão para o público ocidental, não pela história em si, mas por se tratar de uma situação que pertence a um contexto cultural muito específico e que não consegue ser retratado com sucesso suficiente para tornar a trama compreensível ou até mesmo crível para um "olhar estrangeiro".
Martírio
4.6 59Magnânimo, denso e obrigatório, "Martírio" é um daqueles filmes que corroboram a singularidade dos documentaristas brasileiros e a importância do gênero no país.
Cada segundo de exibição pesa, machuca e revolta, como não poderia deixar de ser.
Uma obra-prima que merece ser discutida e divulgada!
História de Taipei
4.0 21 Assista AgoraEdward Yang mais do que nunca se volta aqui para uma crítica à deterioração das relações humanas pela dinâmica capitalista. A luta dos personagens por um lugar neste novo mundo onde tudo se dá de forma tão rápida e global, explicita a intenção do cineasta em analisar a vida de um indivíduo dentro de uma sociedade moderna.
O diretor ainda estava estudando os temas que culminariam em suas duas obras-primas, "A Brighter Summer Day" e "As Coisas Simples da Vida", mas já demonstra grande talento e um olhar sensível para o ser humano e a modernidade.
Doces Poderes
3.1 7Como o Phelipe já apontou abaixo, a estética televisiva incomoda pela falta de originalidade dentro do contexto em que a obra está inserida e por fazer o filme soar várias vezes quase como uma montagem de esquetes, por mais que algumas dessas "esquetes" sejam incisivas e muitíssimo bem interpretadas.
A decepção de um modo geral vem mais por conta da abordagem um tanto canhestra do tema. No entanto, é uma das raras vezes em que vejo um filme nacional abordando a temática da mídia e sua influência no plano político, o que já faz com que ele mereça algum mérito e reconhecimento.
A Cidade Onde Envelheço
3.6 130 Assista AgoraA proposta de fazer um filme intimista, sem grandes conflitos, focado exclusivamente no desenrolar de diálogos e situações corriqueira não é nova. Na verdade, essa premissa parece ser cada vez mais comum dentro do cinema independente. No entanto, são raras as vezes em que esse tipo de exercício cinematográfico funciona de verdade, e para a minha surpresa, Marília Rocha se encontra dentro deste grupo restrito.
A trama(se é que se pode chamar assim) desenvolve-se de maneira natural e envolvente, tornando o espectador em um voyeur da vida íntima dessas personagens que não possuem absolutamente nada de extraordinário. E o bacana é isso, perceber como essa gente comum se torna interessante com o tempo, e como nós vamos adquirindo uma proximidade com o seu universo.