A série mais importante do ano e que certamente fecha a década de 2020 abordando a sua problemática mais urgente. Tendo o Jordan Peele envolvido, antes do aspecto terror da coisa, fiquei já atraído pela abordagem social e racial que ele traz em suas obras, e me surpreendi com o impacto da obra construída pela genial Misha Green. Uma série com protagonismo negro que se faz necessária ao trazer o horror cósmico como pano de fundo para uma história sobre o terror histórico e cotidiano do racismo. Além do mais, coloca os holofotes sobre personagens femininas e homossexuais, de forma que traz uma abordagem que empodera as minorias. Usar da obra de Matt Ruff, que utiliza da mitologia criada por Lovecraft para denunciar o racismo característico do autor, foi uma escolha acertadíssima, que caiu como uma luva no ano das lutas antirracistas ao redor do mundo. Junto com Watchmen, o debate é aprofundado e a história é trazida às telas para falar sobre o presente (finalmente o Massacre de Tulsa sendo mostrado ao mundo). O etnocentrismo branco, tão típico dos contos pulp, da aventura, da ficção científica e do horror é posto totalmente de lado: aqui, negros são os heróis, em episódios que remontam aos moldes mais clássicos das histórias de terror que tanto conhecemos, mas que sofriam de pouco representatividade. E nenhum personagem entra como simples arquétipo ou "cota", tá ali com objetivo, profundidade, background e importância na trama. O que dizer dos dilemas da idade, maternidade, perda e sonhos barrados da fantástica Hippolyta Black (que protagonizou o episódio mais magnífico da temporada)? Ou das dúvidas quanto à monstruosidade ou humanidade da feminilidade mortal de Ji-Ah (num dos melhores "fillers" da história)? A profundidade, coragem e força de Letitia fucking Lewis, a erudição militante de George Freeman, as camadas de sacrifícios de Montrose, a frustração e revolta da ambiciosa Ruby, a criatividade da infância em risco da Dee? O herói, inclusive, não é um pilar da moralidade. Atticus é falho, matou inocentes, cometeu erros e preconceitos, mas também foi vítima de opressão familiar e social, sendo tão humano quanto qualquer um. São pessoas com histórias reais, profundas, dolorosas e cheias de desvios, pois são vítimas de uma sociedade cruel pela cor de sua pele, seu gênero, sua orientação sexual. E é isso que faz Lovecraft Country ser fantástica, mais até do que a narrativa fantástica tão grandiosa trazida pela série. O elenco é formidável, e a produção é de cair o queixo, com cenários e efeitos visuais que só uma produtora do porte da HBO poderia entregar. A direção dos episódios é sempre muito bem escolhida, sempre focalizando o mais importante, que é o drama profundo de cada personagem. Não é uma série perfeita, pois sofre com algumas elipses incômodas na trama, algumas coisas ficam um tanto soltas no ar e a season finale em especial foi muito corrida, mas é quase perfeita. Terror de qualidade, com muita cena grotesca daquele jeito, personagens fascinantes, magia nas mãos dos pretos, racista se f*dendo, força feminina, sacrifícios das mais diversas formas, traição, exorcismo, aventura tipo Indiana Jones, mitologia lovecraftiana (óbvio), sanguinolência, mais racista se f*dendo (melhor coisa da série, pô!), choro, drama, momentos de alegria, romance, ficção científica e um diálogo essencial para a nossa sociedade. Pretos no topo e fogo nos racistas. Que a última cena da série deixe essa mensagem ainda mais clara.
Tinha tudo para ser favoritada, mas infelizmente vacilou na season finale. A série tem cara própria, com uma paleta de cores nitidamente embasada nos verdes e vermelhos, remetendo a violência, prisão, obsessão e terror. Há um quê bem americanizado na série, mas acho que ela abraça muito bem seu lado brasileiro, e temos aqui uma produção de qualidade, com um elenco afiado (Du Moscovis e Camila Morgado estão simplesmente fenomenais, e Tainá Müller, ainda que ofuscada, não faz nem um pouco feio) e um ritmo ágil, que prende o espectador - afinal, a história começa com o nível de ansiedade lá em cima, visto que o impacto da violência é mostrado logo de cara. Apesar de ter violência explícita até certo ponto, não é apelativa em momento algum, e sabe trabalhar muito bem com a edição para sugestão de conclusão e quebra de expectativa. Entretanto, a direção, apesar de se sair muito bem a maior parte do tempo, escorrega às vezes, com tomadas muito "novelescas" e uns closes trêmulos estilo Adam McKay que parecem fugir da proposta da série. A temática é o ponto mais alto, pois Bom Dia, Verônica é uma daquelas séries imprescindíveis para os tempos em que vivemos. A abordagem sobre violência contra a mulher, mostrada aqui em suas diversas formas, é riquíssima e empoderadora, e ver uma personagem corajosa como Verônica à frente de tudo deixa tudo muito mais legal e gratificante. Mas é uma série que vem de um livro do Raphael Montes, e o medo que eu tinha de os furos ficarem impossíveis de engolir à medida que se aproximasse do final foi materializado. Mesmo com alguns exageros, a série se firma bem e ocorre com uma narrativa ótima, mas a season finale tem muito furo para deixar passar, e isso é o que mais incomoda com a obra de Montes. Além disso, os aspectos americanizados da narrativa vão se acentuando muito, até que nos últimos episódios a história perde a identidade legal que tinha, e a trama se amplia de um jeito que se perde um pouco do foco inicial e dá um destino final à protagonista um tanto óbvio demais. Mesmo com esses problemas, acredito que é uma série que vale a pena ser vista e divulgada. A discussão aqui levantada é muito mais importante que qualquer furo de roteiro que a série tenha, e retrata perfeitamente a realidade de muitas mulheres nesse país (inclusive me remetendo a casos de pessoas conhecidas por mim ou por amigos). A possibilidade de acordar o diálogo e o debate sobre a violência contra a mulher e o feminicídio, além de dar força a mulheres violentadas para que contem suas histórias e saibam que tem apoio, é algo importantíssimo trazido pela obra. A ficção está num universo à parte, mas precisa ter impacto no mundo real, preferencialmente positivo, e é isso que, felizmente, Bom Dia, Verônica tem o potencial de fazer.
Poética, encantadora e profunda, mas por se vender como terror e sendo da mesma proposta que a excelente A Maldição da Residência Hill, acaba deixando uma bela ponta de decepção. Entretanto, são histórias, abordagens e objetivos completamente diferentes. O que menos senti (ou realmente não senti nem um pouco) foi medo ou tensão, pois nesse sentido a história apela muito pouco. É mais uma série dramática e romântica do que propriamente terror ou suspense. É um leve terror psicológico fantasmagórico que remete aos clássicos góticos da literatura anglo-americana e do cinema de terror das primeiras décadas. Além disso, o ritmo é realmente um desafio, pois por mais que a história tenha uma construção diferenciada e os personagens se mostrem bastante interessantes, algumas abordagens da narrativa são demasiadamente longas, como nos três episódios iniciais e nos episódios 7 e 8. O elenco está formidável, principalmente a fantástica dupla infantil, e Pedretti, Thomas e Jackson-Cohen provam que sabem construir personagens ao não parecerem nada com seus papéis da temporada anterior, e toda a produção tá excelente como já era de se esperar. A direção dos episódios é ótima, mas por não se concentrar somente na mão do Flanagan, não apresenta tantos momentos memoráveis como antes. Gostei do roteiro brincar com a linearidade e da mensagem sobre amor, obsessão, responsabilidade e traumas, assim como adorei o desenvolvimento de cada personagem, porém senti que as coisas acabaram se arrastando demais (talvez para passar a sensação de "viver" como um fantasma). Boa temporada, belíssima, mas não espere terror ou suspense. Mas se quiser uma boa história de amor que foge de clichês e com doses funcionais de drama, vá com vontade e paciência.
Esqueci de avaliar e comentar a temporada na época que assisti, mas lembro que todo o plot relativo ao Chet e sua relação com Frank, assim como o relacionamento de Bill e Bridget e o episódio da viagem de férias são as melhores coisas dessa temporada excelente, que vai expandindo as questões familiares de Sue e Frank para além do círculo da casa e trazendo questões mais fortes para os personagens. Temporada excelente.
Tão boa quanto as outras temporadas, mas com mais impacto, porque a história cresce bastante, os conflitos aumentam e até os casos estão bem mais interessantes. Tem sua boa parte de clichês e de falta de ritmo, como sempre, mas no geral a direção, as cenas de ação e as novidades foram bem melhores, com destaque para o excelente episódio noir (com inúmeras referências perfeitas do gênero) e os dois últimos episódios da primeira parte. A mid-season finale foi particularmente ótima, com uma bela surpresa no final pra deixar a ansiedade no talo. Tomara que esse nível se mantenha.
Temporada excelente, que consegue prender o interesse do espectador ainda mais do que a temporada anterior. Resgatou mais coisas do passado da saga, não apagou a história dos filmes 2 e 3 e ainda ressuscitou algumas belas surpresas. As lutas, por um lado, estão menos orgânicas, com muitos cortes, mas em compensação ficaram visualmente mais atrativas e empolgantes, principalmente a luta fantástica da season finale. O roteiro tá indo bem, com progressões e surpresas - e uma ou outra regressão meio desnecessária -, e o gancho deixado pra terceira temporada promete demais, ansiedade a mil. Essa parte foi meio cruel demais com o Johnny, mas vamos ver o que vem pela frente. Daniel e Sam estão detestáveis, enquanto Miguel voltou a ser um personagem bastante carismático. Quais serão as novas dinâmicas entabuladas pela presença do Kresse? O que os futuros do Myiagi-Do e do Cobra Kai reservam?
O fã começa a ver pela nostalgia, e continua pela qualidade. Que ideia maravilhosa, e que série muito bem pensada. Trazer de volta os personagens amados e odiados do clássico Karate Kid 30 anos depois deu mais certo do que eu imaginava. Muito bem ver o Ralph Macchio e o William Zabka de volta aos seus personagens mais memoráveis, numa história que se aprofunda muito mais em suas histórias e muda toda a perspectiva da coisa, sem deixar de mostrar sempre o outro lado. As referências e homenagens são fascinantes, e os novos personagens foram muito bem inseridos, como Miguel, Robby, Sam, Hawk e Aisha. As novas dinâmicas entre Johnny e Daniel, assim como a forma como cada um age e os embates entre as gerações são as melhores coisas da série. Isso e as excelentes lutas de caratê de verdade, sem todo aquele exagero dos filmes de ação. É um sopro dos anos 80 muito bem vindo, com músicas da época e um dos filmes mais marcantes da década voltando para ser devorado pelos fãs e apresentado a uma nova geração. Também é um debate muito legal sobre as formas de se lidar com o bullying físico e virtual, com o peso do passado, família, legado e responsabilidade com os mais novos (e mais velhos). O final da temporada me deixou simplesmente em êxtase. Fácil fácil entre as séries preferidas.
Desde o lançamento que vejo o tanto de elogios a essa série, e mesmo com muita vontade de ver, só assisti agora, e todos os elogios que já vi são merecidíssimos. Primeiramente, porque Mike Flanagan faz um trabalho fantástico à frente da série, trazendo um roteiro muito bem escrito, fechadinho e que liga todos os pontos aparentemente soltos jogados durante a trama, que é executado com uma técnica primorosa em cada um dos episódios - o episódio 6 com seus magníficos planos-sequência é uma obra-prima -, unidos aos cenários aterrorizantes sem serem apelativos, à fotografia sombria esverdeada muito particular, a uma trilha sonora muito bem pensada e que constrói muito bem a tensão, e às maquiagens e efeitos especiais perfeitos que trazem todo o peso do bizarro e do sobrenatural quando a narrativa pede. Segundo, o elenco funciona tão bem que você se apega profundamente aos personagens e teme pelo destino de cada um, com um elenco infantil maravilhoso e o adulto melhor ainda, e cada ator pega muito bem as personalidades complexas e únicas de cada um. Por último, é um enredo exemplar no terror porque é exatamente o que o gênero deve ser: um conto que usa o medo como elemento narrativo para tratar de temas mais importantes e profundos, trazendo no final uma resolução (positiva ou não). Gostei da forma como tudo funciona literalmente e figurativamente, como os fantasmas são tratados como reais ou imaginados, como a ilusão faz parte de uma vida minimamente sã. É uma série que consegue construir o terror pelo sobrenatural, pela tensão, pelo uso de ótimos e muito bem encaixados jumpscares, pela importância dos personagens para o público, que teme pelo futuro de cada um. Nell, Luke, Theo, Shirley e Steven fogem da dicotomia bom/ruim, pois todos tem suas nuances, como qualquer pessoa, com erros, sacrifícios e atos de amor. A forma como a série lida com a negação, o controle, a solidão, o medo, a proteção, o vício, a depressão e o amor é algo que se encaixa muito bem, e no final a Residência Hill é somente um meio de adentrarmos a história dos Crain, seus traumas, suas perdas, suas dores, mas também sua redenção, sua recuperação, seus momentos felizes e de amor. É um terror sobre família, amor, vida e tempo, que foge do final pessimista. Traz uma resolução que, no fim, é uma luz em meio à escuridão. E isso é o que torna tudo mais belo. Quem assiste procurando sentir medo, tem, mas se surpreende com o quanto pode se emocionar com essa série linda.
Obra-prima. Representação perfeita e exata de uma década onde parece que tudo e nada mudou. Holofote imprescindível para as minorias e as violências por elas sofridas. É como se todo e qualquer detalhe da vida do jovem do século XXI tivesse sido retratado, em maior ou menor grau, nessa série. Mesmo sendo um grande conto sobre libertação, consentimento e superação de traumas profundos, pondo em perspectiva o peso do estupro e das violências direcionadas em todas as suas formas, é sobre relacionamentos, sexo, drogas, futuro, dinheiro, racismo, problemas familiares, redes sociais, vícios, psicologia, ilusão, solidão, amizade, empatia, liberdade, realização, sonhos, egoísmo, etc, etc, etc, até não acabar mais. Michaela Coel é uma das maiores roteiristas, atrizes e realizadoras que pude ver no universo cinematográfico, pois I May Destroy You consegue ir do riso ao desespero sem perder nunca a mão, sendo exagerado sem ser excessivo, sendo sutil sem ser imperceptível. Arabella, Kwame e Terry são personagens profundos, complexos e cativantes que ficam gravados na mente e no coração de quem assiste, e cada coadjuvante é igualmente profundo, complexo, quebrado. As pessoas são cruéis, abusivas, preconceituosas, indiferentes, ao mesmo tempo em que são generosas, empáticas, inspiradoras. E o melhor de tudo é que é igualzinho à vida real: na maior parte do tempo não faz sentido, algo que é inaceitável no mundo da ficção. Quebra todos os estereótipos, humaniza todo e qualquer personagem, cria monstros e heróis dentro de cada um, escancara os momentos de fraqueza e força, mexe nas feridas das máscaras e convenções sociais, tudo isso com perfeição técnica, beleza, trilha sonora fantástica, atuações apaixonantes e muita surpresa. A season finale é uma das mais lindas e marcantes que já vi, e mostra que nem tudo está perdido, pois nós ainda podemos escolher os caminhos a serem tomados. Está em nossas mãos. A dureza convive ao lado da leveza, e tudo e nada está certo e errado. Essa é a beleza da incerteza que Michaela nos dá como o melhor dos presentes desse sombrio fim de década. E eu só tenho a agradecer a transformação que isso tudo provoca.
Consegue ser grandiosa com um plot semelhante ao da primeira temporada, algo que ironiza o hábito dos heróis de quadrinhos sempre estarem lidando com algum vilão que quer acabar com o universo - mas, nesse caso, a culpa é dos próprios "heróis". Por mais que a história "se repita", tudo é diferente, pois o ambiente se expande, os personagens evoluem muito, novos paradigmas são colocados, novos elementos são introduzidos na trama e há muitas tiradas visuais sarcásticas com o universo dos heróis e da própria série, sendo uma produção que faz questão de não se levar a sério. Dá pra pegar ainda melhor a veia de Way e Bá aqui, com episódios belíssimos e muito bem dirigidos, além de uma trilha sonora impecável. As atuações estão show, Luther e Diego amadureceram muito nessa temporada, Vanya deixou de ser tão irritante e também cresceu horrores, Cinco continua sendo o dono da série, Allisson agora tem muito mais peso e Klaus continua sendo o alívio cômico fácil, que não cresceu como os outros, mas sofreu consequências que certamente serão sentidas na próxima temporada. Mas definitivamente o melhor de todos foi o Ben, que é simplesmente o personagem mais fascinante. De resto, tudo sobre Hargreeves, A Gestora, Lila e os suecos foi muito divertido, e a season finale abre possibilidades imensas para novos problemas pra essa família tão (ou mais) disfuncional quanto poderosa. Ansiosíssimo como não esperava estar e muito surpreso com o resultado dessa segunda parte.
Não investe no mistério do Evil Morty, mas achei tão divertida quanto as outras temporadas, justamente porque pareceu investir num humor mais referencial e escatológico. A season finale é ótima e se encerra de uma forma muito triste, e a evolução dos personagens aqui é muito notável, com uma mudança sutil no status de Rick e uma postura um pouco mais firme do Morty. Da primeira parte, os episódios 1 e 4 são os mais divertidos, mas da segunda parte é difícil escolher, sendo todos muito bons. Consegue engatar novas ideias e tirar sarro de tudo sem perder muita qualidade.
Atingiu o potencial que prometia desde o início, pena que demorou demais para isso. Fiquei surpreso em como o texto e a direção melhoraram exponencialmente como um todo, sendo a temporada com as cenas mais belas. Além disso, a fotografia finalmente perde um pouco das cores vivas, demonstrando o perigo e o desespero de todas aquelas tensões. As atuações de Vaneza Oliveira, Bruno Fagundes e Rafael Lozano sustentaram a temporada, mas Fernando Rubro especialmente me deixou boquiaberto com seu nível de atuação como o Xavier, personagem que ficou gigante nessa temporada. O desenvolvimento do enredo foi bem legal e levou a um desfecho um tanto que óbvio, honrando as intenções iniciais da história. Essa coisa de que, no final, todo mundo perde e ganha é até que bem igualitária. Há furos, facilitações, momentos vergonha alheia como em todas as temporadas, mas muito menos. É notável o amadurecimento de toda a equipe, assim como o fato da série finalmente abraçar seu lado brasileiro, buscando deixar de ser uma série pseudo-americana e expondo o que os problemas políticos e sociais que nós brasileiros conhecemos e convivemos no dia-a-dia. A coisa toda com o Casal Fundador e a Causa foi bem forçada, mas a mensagem de esperança no final conseguiu ser mais convincente do que se tudo tivesse dado certo para um dos lados. Apesar da possibilidade de ter sido melhor, estou muito satisfeito com o resultado final, e espero que 3% seja a porta de entrada para mais distopias brasileiras no mercado de entretenimento internacional.
Disparada a melhor temporada. Crescimento dos personagens é gigantesco, foi muito legal ver as mudanças em Bill, Kevin e Maureen, mas principalmente toda a relação entre Frank e seu pai. A temática da liberdade feminina ganha muita força com a Sue, e tem as críticas aos hippies, aos políticos, ao soft rock setentista, ao consumismo, ao racismo, à TV americana e muito mais. O mais legal foi trazer a questão de como a criação dos pais afeta o comportamento e personalidade dos filhos no futuro. Melhor gancho para a próxima temporada.
Simplesmente formidável. Série muitíssimo bem produzida e tão boa que não dá pra parar de ver até o fim. Os depoimentos dos personagens são riquíssimos, assim como o uso excelente dos álbuns e das imagens de arquivos. Os momentos com Iggy Pop, Johnny Rotten, Henry Rollins, Ian McKaye, Derryl Jenifer, Jello Biafra, Kathleen Hanna e Legs McNeil são especialmente enriquecedores. Senti falta de mais DK, de mais sobre o grunge, de algo mais sobre as bandas do Ian McKaye, do pop-punk, post-punk e no wave, dos envolvimentos com o movimento skinhead, mas isso demandaria mais episódios e muito mais trabalho da equipe de produção. Sendo uma produção americana, não é de se estranhar que o foco fora de lá seja somente na onda britânica, que era impossível de deixar de lado, e o D.O.A., que criou o circuito de shows punks norte-americanos com o Black Flag nos anos 80. Gostei do foco as múltiplas visões dentro do movimento, da falta de uma conceituação do que é ou não é punk, das críticas feitas à presença reduzida de minorias e do destaque dado ao som das mulheres, com The Slits, The Bags, L7 e Bikini Kill. O segundo episódio é especialmente brilhante, e o último é daqueles pra colocar alguns questionamentos na cabeça do espectador. Para quem é punk, venha com todo o gosto se deliciar com a presença de tanta gente foda. Para quem não é punk, venha conhecer essa cultura fantástica e junte-se à gangue. O punk é, agora, mais necessário do que nunca.
Quanto mais a série vai envelhecendo, mais fica claro como Um Maluco do Pedaço é um excelente retrato do imaginário da comunidade negra americana da época. Com muitas piadas e momentos datados e não mais aceitáveis no século XXI, é como uma cápsula do tempo: você vê qual era o humor, o foco da crítica, a abordagem feita pelos atores de seus personagens, entre outros detalhes, mas principalmente os preconceitos comuns ao povo afro-americano, como o machismo e a homofobia. Will Smith só fica mais à vontade no papel, assim como todo o elenco. Pareceu mais focado no humor e em mensagens moralistas do que em críticas mais ferrenhas como nas outras temporadas. Porém, o fator nostalgia, o retrato de época, a química dos personagens e a garantia de risadas fazem dessa série um verdadeiro marco televisivo, e a terceira temporada mantém, no geral, o nível já estabelecido anteriormente.
Mais do que manter o nível, Noah Hawley voltar a segurar as rédeas e define um desfecho que só Legion poderia ter. Precisava ser um pouco menos complexo para poder concluir a trama e dar um destino ao nosso protagonista. É aqui também que vemos o ápice da vilania do personagem principal, além de finalmente termos um vislumbre do verdadeiro Legião, com Dan Stevens mantendo sua fantástica interpretação desse ser tão atormentado quanto poderoso. A introdução de Switch e todo a questão com o tempo fizeram muita diferença, deixando a temporada muito instigante, ao mesmo tempo em que as cenas musicais, mais presentes, foram todas simplesmente maravilhosas, especialmente a de season finale, talvez a cena mais bonita da série junto às cenas musicais do episódio 5 e da season finale da segunda temporada. Vemos menos de Plaza, mas ela continua um espetáculo, Rachel Keller entrega uma ótima performance e não tenho o que comentar sobre os aspectos técnicos e visuais, certamente um dos melhores e mais criativos das séries da atualidade, mantendo-se muito original até o fim. Da mesma forma, o modo de se contar a história também é único, graças ao Hawaley, e isso faz com Legion seja certamente uma das melhores séries baseadas em quadrinhos já feitas. Além de trazer o lado mais cruel de David (que cenas do episódio 5!), traz também um final gratificante e esperançoso.
Fico muito feliz quando séries se propõem a algo e cumprem, sem se prolongar mais do que deveriam devido ao sucesso. Dark, desde seu lançamento, foi alcançando mais e mais fãs ao redor do mundo, algo atípico para uma série alemã e de ficção científica. Apesar da excelência na abordagem da viagem no tempo, que consegue respeitar os cânones estabelecidos trazendo muita originalidade, o mérito vai para a abordagem dos dramas pessoais, das relações entre os personagens e das ótimas referências literárias e filosóficas. É uma série profundamente melancólica, recheada da melhor filosofia niilista, que retrata muito bem como as ações egoístas humanas constroem o caos. Dá pra notar todo o reflexo de uma geração de artistas que cresceu sob a sombra do holocausto nuclear após Chernobyl, ao mesmo tempo em que sentia o peso da opressão durante os últimos anos de Guerra Fria. Acaba sendo uma série sobre os fantasmas das novas gerações alemãs, que têm que carregar nas costas o peso das más escolhas e crimes cometidos por seus pais, avós e bisavós, ao mesmo tempo em que têm a obrigação de corrigir esses mesmos erros, sob a pena de repetirem os mesmos passos, numa lei de eterno retorno. É uma série que carrega todos os méritos: um enredo envolvente, denso, criativo e repleto de mensagens, um roteiro muito bem desenhado por Jantje Frisie, com poucos furos e falhas, um elenco ótimo, com escolhas cuidadosas de atores para interpretar os mesmos personagens em diferentes fases da vida, uma direção simplesmente fantástica de Baran Bo Odar, que brinca com espelhamento e simetria e ainda consegue engatar uns planos muito bem pensados, uma estética própria, que vai se tornando mais densa e sombria a cada temporada, com uma imagem que traz uma personalidade própria à serie, um trabalho de trilha sonora, maquiagem e figurino cuidadoso... Tudo que concerne à produção é feito com perfeição, e esse apuro é o que torna toda a experiência inesquecível. Quanto à terceira temporada, as expectativas estavam altíssimas, e a série traz respostas, informações inesperadas e um desfecho atípico, mas que encerra da melhor forma todo o ciclo construído pela série. Infelizmente há coisas que ficaram vagas ou mal resolvidas, como
o personagem sem nome, que mesmo que entregue cenas excelentes, não é nada desenvolvido, o plot relativo a Claudia e o terceiro mundo e alguns personagens que foram deixados de lado na história e no desenvolvimento, como Magnus e Franziska, só para citar os mais marcantes.
Há perguntas sem resposta, mas acho que tem coisas que devem ficar em aberto mesmo, e a grande maioria não influenciaria diretamente no resultado final. E o desfecho da série,
trabalhando com a teoria de Schrödinger e a coexistência de realidades simultâneas, foi uma decisão que, no fim das contas, fez muito sentido. Após tanto sofrimento, tristeza, melancolia e perdas, a mensagem final que ressalta o amor incondicional (com o sacrifício de Claudia para que Regina pudesse viver) e a aceitação, do outro e das coisas que nos acontecem, é reconfortante. A viagem no tempo é uma forma do humano apagar seus erros, e não aprender com eles. É apagar seus traumas, e não superá-los. Especialmente aqui, a viagem no tempo é sobre fugir de parte do que nos faz humanos e do que nos define: da dor, da culpa e do arrependimento.
Mesmo com algumas falhas e esperando algo diferente, e mesmo sabendo que vou sentir falta da história e dos personagens, a série acabou no momento certo e da forma certa. Certamente uma das melhores séries de ficção científica já feitas.
Melhor exemplo de série que só piora a cada temporada, e conclui no degrau mais baixo. Enquanto a boa primeira temporada adaptava um best-seller da literatura juvenil (que trouxe uma temática polêmica, mas precisava ser debatida - um livro do qual gostei muito, e cuja estrutura é particularmente muito inteligente) de uma forma um tanto descuidada em relação a gatilhos que certas cenas e abordagens poderiam causar, as sequências foram notadamente caça-níqueis que somente pioraram a experiência no sentido de abordar temas polêmicos e fundamentais para os adolescentes de uma forma errada e, muitas vezes, absurda. A segunda temporada ainda teve seu impacto, pois continuava seguindo o caminho de Hannah Baker (meio que um "Por trás das fitas: a vida secreta de Hannah Baker"), apesar de trazer outra cena extremamente pesada, potencialmente traumatizante e, acima de tudo, desnecessária. Mas as duas seguintes foram totalmente dispensáveis. Primeiro, porque transformava uma série sobre as causas e as consequências do suicídio na adolescência em um suspense juvenil fraco e clichê. Segundo, porque no final você já não sabe mais qual é a mensagem que a série quer deixar. Terceiro, a abordagem das polêmicas foi totalmente errada. Contemporizar o ato do estupro, relativizar crimes, não saber abordar transtornos psicológicos de uma forma saudável ou verídica, destruir o personagem que mais se esforçou para melhorar ao longo de toda a série da forma mais triste e desnecessária possível, tornar a série em "Os Fantasmas se Divertem" por meio de um recurso narrativo totalmente ineficaz... Pelo menos, nessa temporada eles souberam mantem um bom ritmo, fazendo com que fosse mais fácil maratonar. Mas essa coisa dos mistérios (quem fez os vandalismos? quem morreu? o que vai acontecer aos garotos?) e a tentativa de ainda entabular uma mensagem positiva no final foi bastante mal pensado e mal realizado. Ainda teve o reaparecimento mágico de personagens que ninguém sequer lembrava e do nada são amigos, ou os lapsos de tempo entre um episódio e outro que serviam só como facilitação do enredo pros roteiristas... No final, o saldo foi uma série que, apesar de pregar e fazer de conta que dizia o contrário, traz uma carga extremamente fatalista, pessimista, negativa e deprimente à vida do jovem no século XXI, dando mais incertezas do que seguranças aos seus espectadores adolescentes.
P.S.: o elenco mandou bem, mas Brandon Flynn merece todo o sucesso, grande performance.
O episódio piloto é horrível, ainda mais por contar com a "atuação" de Sabrina Sato (Jesus Luz nem fede nem cheira). Depois, vai melhorando um pouco no decorrer da temporada, mas não quer dizer que fica necessariamente bom, você só se acostuma com a (falta de) qualidade da série. O gore é divertido, não tão bom quanto outras produções, mas muito legal para um thrashão desse tipo. As atuações são quase todas bem ruins (tem ator que nem zumbi consegue fazer direito!), mas um ou outro se salva, além de ter os veteranos Emilio de Mello e Carla Ribas que seguram bem as pontas. A direção de Rodrigo Monte é bem legal, mas Cláudio Torres não conduz bem e o uso exacerbado de câmera lenta sem motivo algum dá muita, muita raiva. A trilha sonora tem ótimas músicas, mas metade delas é muito mal escolhida, principalmente em toda a primeira metade da temporada. Quanto ao roteiro, maior dos problemas. Enquanto adapta (ou melhor, copia) Dead Set, falta personalidade e até mesmo manter a pegada crítica do roteiro original; já enquanto "produção própria" (uma cópia de The Walking Dead agora), tenta dar a cara da impunidade e terra sem lei típica do Brasil, mas cai em todo tipo de clichê e incoerência, com personagens que nunca seguem a lógica de suas personalidades. Apesar dos pesares, me diverti, pois a série é muito rápida de assistir e não decepciona em relação à violência e ao sangue escorrendo. Bem vergonhosa em vários momentos, mas vale pelo gore, pois consegue ir direto ao ponto várias vezes. Faltou direcionar melhor a crítica que queria fazer em vez de investir em interações engessadas e diálogos inúteis entre os personagens.
É aquele tipo de série que pode oscilar aqui e ali hora ou outra, mas que não perde a qualidade esperada. Continua tirando ótimas risadas, aposta no humor pastelão sem perder a postura quando trata de assuntos sérios (e aqui eles parecem mais presentes), conseguem dar novas informações sobre seus personagens (o passado de Hitchcock e Scully foi uma ótima surpresa) e, mesmo que mantenha sempre o mesmo formato e a mesma pegada, não cansa. Meio chato a saída daquele personagem, mas achei que foi bem legal a forma como fizeram. E foi um dos fins de temporada mais atípicos. Menos episódios, mas a mesma qualidade. Que bom que a NBC salvou a série.
Por um lado, finalmente nessa temporada entendi todas as escolhas estéticas e narrativas da série em comparação aos quadrinhos: não estamos mais nos anos 90, nem na linguagem das HQ. Ou seja, brutamontes sarados ou mulheres malhadas e torneadas não são parte dessa representação imagética cinematográfica do século XXI; e, se é para satirizar e ridicularizar, isso será feito até na imagem que temos dos personagens: os exemplos de Jody, TC e Deus são bem representativos disso. Pensando assim, as escolhas de representação da série foram impecáveis. Tudo é um tanto repugnante, ridículo, brega. Deus é um cosplay mal feito, Starr é um galã feio, os anjos não são nada divinos. Tudo isso foi perfeito até o fim. Porém, a última temporada tinha tudo para ser a melhor, mas falhou principalmente no seu episódio final. O episódio 9 certamente foi o de mais personalidade em toda a temporada, mas a series finale foi um tanto decepcionante. Tirando alguns momentos dos quadrinhos que queríamos ver na tela e a bela cena final, muita coisa foi ou desnecessária ou sub-utilizada. Todo o plot do fim do mundo terminou de forma pouco satisfatória, assim como as jornadas de Hitler, Eugene e Jesus. A participação de Jesus de Sade rendeu uma ótima cena de luta, mas foi pouquíssimo tempo do personagem em tela. Pelo menos, nessa reta final, Jesse retomou as rédeas da narrativa, e Cassidy continuou sendo um dos melhores personagens. Todas as desventuras de Herr Starr foram também bastante hilárias e fizeram valer a pena. Para um encerramento, ficou a desejar, mas, no final, não perdeu o espírito da coisa. Afinal, até o encerramento da série de HQ não é tão épica quanto se espera, então a série televisiva seguiu essa lógica. De qualquer forma, fez jus. Preacher é uma série que representa muito bem o século XXI.
Acaba dando empate com a primeira temporada porque, por um lado acerta em diminuir o número e a duração dos episódios, fazendo com que seja um tanto menos cansativo e dê pra engatar uns dois episódios e sequência. Também a chegada de Anthony Mackie e da Simone Missick ao elenco dá uma elevada na qualidade das atuações, assim como as cenas de ação continuam bastante empolgantes. Entretanto, a mudança de protagonista traz também uma grande mudança na personalidade do Kovacs, muito diferente do que foi entregue por Kinnaman na temporada anterior, e personagens cativantes não retornam. Além disso, o roteiro é um tanto confuso no mau sentido, introduzindo muitas coisas que acabam sendo um tanto mal trabalhadas, pois o lado detetivesco e noir que deu tão certo antes foi substituído pelas cenas de ação (não que tenham sido poucas na primeira temporada, mas aqui elas são mais utilizadas pelo roteiro para resolução dos problemas, ou o lado mais investigativo fica a cargo das IAs). O plot envolvendo Poe e Dig em certos momentos funciona, em outros beira à pieguice. E em relação ao fim de temporada, além da cena linda do Fogo do Anjo, não empolga tanto. O que ficou em aberto para dar sequência não tem tanta força assim, podendo funcionar ainda melhor como series finale. A questão é que para o tanto de coisas que poderiam ser trabalhadas, a série acaba se podando muito e entrega um roteiro que arrisca e indaga muito pouco, ficando presa a conspirações, abusos de poder, revoluções frustradas e ação genérica, sem partir pro lado mais crítico da ficção científica.
Impecável e impressionante. Vai a fundo no mais polêmico julgamento da história americana, sendo extremamente fiel aos fatos. A direção dos episódios, tal qual a fotografia, a reprodução de época e a trilha sonora, estão formidáveis. O roteiro sabe dosar o lado da promotoria e o da defesa, e deixa claro que não é imparcial, mas sobre a injustiça de um caso que foi redirecionado para uma discussão paralela a fim de inflamar os ânimos sociais e provocar a inocência do réu (impossível ele não ser o culpado, depois de tudo que aconteceu depois, principalmente). A frase de Darden para Cochran no último episódio resume tudo muito bem. Quanto aos atores, escolha de elenco impecável. Além de atuações grandiosas (difícil citar os nomes mais fortes, pois todos pegaram a essência, mas Cuba Gooding Jr., Sterling K. Brown, Courtney B. Vance e Sarah Paulson estão de cair o queixo), a maquiagem e penteados transformam completamente os atores, de forma que eles ficam muito semelhantes aos personagens reais. Ryan Murphy criou aqui algo ímpar, importante e necessário. Trazer às novas gerações o caso O.J. é colocar holofotes sobre o machismo e racismo da sociedade americana, os perigos do uso das bandeiras sociais no julgamento das ações individuais, os danos que a imprensa causa com a super-cobertura de casos famosos e a questão da diferença entre raça e classe, onde um negro bem-sucedido separa-se de sua comunidade para ser aceito entre os brancos de sua classe social.
Esperei ansioso pela nova temporada, e tudo indicava que as coisas iam definitivamente mudar. Felizmente, tudo mudou, dando novo fôlego à série e liberdade para expandir a narrativa, já que o mundo é o limite. A primeira temporada é ainda a mais memorável, por introduzir uma ficção científica tão intrincada e filosófica no formato de série, que brincava com as múltiplas linhas do tempo e confundia muito a mente do espectador. Na segunda, o mesmo formato se repete em escala reduzida, mas vemos a violência deixar de ser bel-prazer dos visitantes para se tornar a arma libertadora dos anfitriões, tendo no final uma promessa: não estaremos mais no parque. Nessa terceira temporada, o piloto dá o tom: Caleb é introduzido, o mundo do futuro é revelado e descobrimos que Dolores está atrás não só da Delos, mas de uma nova companhia, a Incite. Agora não é mais só sobre os anfitriões descobrindo a natureza de sua existência, mas sobre como não só eles, mas os humanos também são controlados, presos em loops e inseridos nas narrativas que alguns querem. Perde-se um pouco da beleza filosófica das duas temporadas iniciais, mas essa abordagem já tinha perdido o fôlego. Agora, era hora de expandir os horizontes e respirar um pouco a mente para ter mais ação. Disparada a temporada com mais cenas de ação (que muitos viram como desnecessária, mas achei bem sintomático da comparação entre o parque e o mundo real que era controlado), dando um tempo das confusões temporais para inserir novos personagens, novos conflitos, dar novas resoluções aos veteranos e estabelecer caminhos e reviravoltas, a grande maioria delas reservadas para o final. Gostei muito da temporada, e acho que a série manteve o nível, só mudou de cara. Não porque era difícil demais e precisava ficar mais palatável, mas porque precisava dar uma freada para tentar encontrar novos caminhos para a temporada 4. A troca de bastão da season finale honra a história dos personagens envolvidos, Aaron Paul como Caleb foi uma escolha acertadíssima, Serac foi um vilão bastante incômodo e difícil e o conflito entre Dolores e "Charlotte" dá um gás para que a coisa fique muito louca na sequência. Gostei de ter mais espaço pro Stubbs, do enredo de Bernard e da resolução dada ao Homem de Preto. Tem coisas que não sei se são furos ou se ficaram pendentes, como a questão da mãe do Caleb ou da própria Charlotte, mas agora estou muito ansioso para ver o que vem pela frente, pois nenhuma temporada anterior deixou tantas narrativas em aberto para serem resolvidas mais à frente. Westworld finalmente cresceu.
Lovecraft Country (1ª Temporada)
4.1 404A série mais importante do ano e que certamente fecha a década de 2020 abordando a sua problemática mais urgente. Tendo o Jordan Peele envolvido, antes do aspecto terror da coisa, fiquei já atraído pela abordagem social e racial que ele traz em suas obras, e me surpreendi com o impacto da obra construída pela genial Misha Green. Uma série com protagonismo negro que se faz necessária ao trazer o horror cósmico como pano de fundo para uma história sobre o terror histórico e cotidiano do racismo. Além do mais, coloca os holofotes sobre personagens femininas e homossexuais, de forma que traz uma abordagem que empodera as minorias. Usar da obra de Matt Ruff, que utiliza da mitologia criada por Lovecraft para denunciar o racismo característico do autor, foi uma escolha acertadíssima, que caiu como uma luva no ano das lutas antirracistas ao redor do mundo. Junto com Watchmen, o debate é aprofundado e a história é trazida às telas para falar sobre o presente (finalmente o Massacre de Tulsa sendo mostrado ao mundo). O etnocentrismo branco, tão típico dos contos pulp, da aventura, da ficção científica e do horror é posto totalmente de lado: aqui, negros são os heróis, em episódios que remontam aos moldes mais clássicos das histórias de terror que tanto conhecemos, mas que sofriam de pouco representatividade. E nenhum personagem entra como simples arquétipo ou "cota", tá ali com objetivo, profundidade, background e importância na trama. O que dizer dos dilemas da idade, maternidade, perda e sonhos barrados da fantástica Hippolyta Black (que protagonizou o episódio mais magnífico da temporada)? Ou das dúvidas quanto à monstruosidade ou humanidade da feminilidade mortal de Ji-Ah (num dos melhores "fillers" da história)? A profundidade, coragem e força de Letitia fucking Lewis, a erudição militante de George Freeman, as camadas de sacrifícios de Montrose, a frustração e revolta da ambiciosa Ruby, a criatividade da infância em risco da Dee? O herói, inclusive, não é um pilar da moralidade. Atticus é falho, matou inocentes, cometeu erros e preconceitos, mas também foi vítima de opressão familiar e social, sendo tão humano quanto qualquer um. São pessoas com histórias reais, profundas, dolorosas e cheias de desvios, pois são vítimas de uma sociedade cruel pela cor de sua pele, seu gênero, sua orientação sexual. E é isso que faz Lovecraft Country ser fantástica, mais até do que a narrativa fantástica tão grandiosa trazida pela série. O elenco é formidável, e a produção é de cair o queixo, com cenários e efeitos visuais que só uma produtora do porte da HBO poderia entregar. A direção dos episódios é sempre muito bem escolhida, sempre focalizando o mais importante, que é o drama profundo de cada personagem. Não é uma série perfeita, pois sofre com algumas elipses incômodas na trama, algumas coisas ficam um tanto soltas no ar e a season finale em especial foi muito corrida, mas é quase perfeita. Terror de qualidade, com muita cena grotesca daquele jeito, personagens fascinantes, magia nas mãos dos pretos, racista se f*dendo, força feminina, sacrifícios das mais diversas formas, traição, exorcismo, aventura tipo Indiana Jones, mitologia lovecraftiana (óbvio), sanguinolência, mais racista se f*dendo (melhor coisa da série, pô!), choro, drama, momentos de alegria, romance, ficção científica e um diálogo essencial para a nossa sociedade. Pretos no topo e fogo nos racistas. Que a última cena da série deixe essa mensagem ainda mais clara.
Bom Dia, Verônica (1ª Temporada)
4.2 760 Assista AgoraTinha tudo para ser favoritada, mas infelizmente vacilou na season finale. A série tem cara própria, com uma paleta de cores nitidamente embasada nos verdes e vermelhos, remetendo a violência, prisão, obsessão e terror. Há um quê bem americanizado na série, mas acho que ela abraça muito bem seu lado brasileiro, e temos aqui uma produção de qualidade, com um elenco afiado (Du Moscovis e Camila Morgado estão simplesmente fenomenais, e Tainá Müller, ainda que ofuscada, não faz nem um pouco feio) e um ritmo ágil, que prende o espectador - afinal, a história começa com o nível de ansiedade lá em cima, visto que o impacto da violência é mostrado logo de cara. Apesar de ter violência explícita até certo ponto, não é apelativa em momento algum, e sabe trabalhar muito bem com a edição para sugestão de conclusão e quebra de expectativa. Entretanto, a direção, apesar de se sair muito bem a maior parte do tempo, escorrega às vezes, com tomadas muito "novelescas" e uns closes trêmulos estilo Adam McKay que parecem fugir da proposta da série. A temática é o ponto mais alto, pois Bom Dia, Verônica é uma daquelas séries imprescindíveis para os tempos em que vivemos. A abordagem sobre violência contra a mulher, mostrada aqui em suas diversas formas, é riquíssima e empoderadora, e ver uma personagem corajosa como Verônica à frente de tudo deixa tudo muito mais legal e gratificante. Mas é uma série que vem de um livro do Raphael Montes, e o medo que eu tinha de os furos ficarem impossíveis de engolir à medida que se aproximasse do final foi materializado. Mesmo com alguns exageros, a série se firma bem e ocorre com uma narrativa ótima, mas a season finale tem muito furo para deixar passar, e isso é o que mais incomoda com a obra de Montes. Além disso, os aspectos americanizados da narrativa vão se acentuando muito, até que nos últimos episódios a história perde a identidade legal que tinha, e a trama se amplia de um jeito que se perde um pouco do foco inicial e dá um destino final à protagonista um tanto óbvio demais. Mesmo com esses problemas, acredito que é uma série que vale a pena ser vista e divulgada. A discussão aqui levantada é muito mais importante que qualquer furo de roteiro que a série tenha, e retrata perfeitamente a realidade de muitas mulheres nesse país (inclusive me remetendo a casos de pessoas conhecidas por mim ou por amigos). A possibilidade de acordar o diálogo e o debate sobre a violência contra a mulher e o feminicídio, além de dar força a mulheres violentadas para que contem suas histórias e saibam que tem apoio, é algo importantíssimo trazido pela obra. A ficção está num universo à parte, mas precisa ter impacto no mundo real, preferencialmente positivo, e é isso que, felizmente, Bom Dia, Verônica tem o potencial de fazer.
A Maldição da Mansão Bly
3.9 924 Assista AgoraPoética, encantadora e profunda, mas por se vender como terror e sendo da mesma proposta que a excelente A Maldição da Residência Hill, acaba deixando uma bela ponta de decepção. Entretanto, são histórias, abordagens e objetivos completamente diferentes. O que menos senti (ou realmente não senti nem um pouco) foi medo ou tensão, pois nesse sentido a história apela muito pouco. É mais uma série dramática e romântica do que propriamente terror ou suspense. É um leve terror psicológico fantasmagórico que remete aos clássicos góticos da literatura anglo-americana e do cinema de terror das primeiras décadas. Além disso, o ritmo é realmente um desafio, pois por mais que a história tenha uma construção diferenciada e os personagens se mostrem bastante interessantes, algumas abordagens da narrativa são demasiadamente longas, como nos três episódios iniciais e nos episódios 7 e 8. O elenco está formidável, principalmente a fantástica dupla infantil, e Pedretti, Thomas e Jackson-Cohen provam que sabem construir personagens ao não parecerem nada com seus papéis da temporada anterior, e toda a produção tá excelente como já era de se esperar. A direção dos episódios é ótima, mas por não se concentrar somente na mão do Flanagan, não apresenta tantos momentos memoráveis como antes. Gostei do roteiro brincar com a linearidade e da mensagem sobre amor, obsessão, responsabilidade e traumas, assim como adorei o desenvolvimento de cada personagem, porém senti que as coisas acabaram se arrastando demais (talvez para passar a sensação de "viver" como um fantasma). Boa temporada, belíssima, mas não espere terror ou suspense. Mas se quiser uma boa história de amor que foge de clichês e com doses funcionais de drama, vá com vontade e paciência.
F Is For Family (3ª Temporada)
4.2 47 Assista AgoraEsqueci de avaliar e comentar a temporada na época que assisti, mas lembro que todo o plot relativo ao Chet e sua relação com Frank, assim como o relacionamento de Bill e Bridget e o episódio da viagem de férias são as melhores coisas dessa temporada excelente, que vai expandindo as questões familiares de Sue e Frank para além do círculo da casa e trazendo questões mais fortes para os personagens. Temporada excelente.
Lucifer (5ª Temporada)
3.9 175 Assista AgoraTão boa quanto as outras temporadas, mas com mais impacto, porque a história cresce bastante, os conflitos aumentam e até os casos estão bem mais interessantes. Tem sua boa parte de clichês e de falta de ritmo, como sempre, mas no geral a direção, as cenas de ação e as novidades foram bem melhores, com destaque para o excelente episódio noir (com inúmeras referências perfeitas do gênero) e os dois últimos episódios da primeira parte. A mid-season finale foi particularmente ótima, com uma bela surpresa no final pra deixar a ansiedade no talo. Tomara que esse nível se mantenha.
Cobra Kai (2ª Temporada)
4.2 303 Assista AgoraTemporada excelente, que consegue prender o interesse do espectador ainda mais do que a temporada anterior. Resgatou mais coisas do passado da saga, não apagou a história dos filmes 2 e 3 e ainda ressuscitou algumas belas surpresas. As lutas, por um lado, estão menos orgânicas, com muitos cortes, mas em compensação ficaram visualmente mais atrativas e empolgantes, principalmente a luta fantástica da season finale. O roteiro tá indo bem, com progressões e surpresas - e uma ou outra regressão meio desnecessária -, e o gancho deixado pra terceira temporada promete demais, ansiedade a mil. Essa parte foi meio cruel demais com o Johnny, mas vamos ver o que vem pela frente. Daniel e Sam estão detestáveis, enquanto Miguel voltou a ser um personagem bastante carismático. Quais serão as novas dinâmicas entabuladas pela presença do Kresse? O que os futuros do Myiagi-Do e do Cobra Kai reservam?
Cobra Kai (1ª Temporada)
4.3 467 Assista AgoraO fã começa a ver pela nostalgia, e continua pela qualidade. Que ideia maravilhosa, e que série muito bem pensada. Trazer de volta os personagens amados e odiados do clássico Karate Kid 30 anos depois deu mais certo do que eu imaginava. Muito bem ver o Ralph Macchio e o William Zabka de volta aos seus personagens mais memoráveis, numa história que se aprofunda muito mais em suas histórias e muda toda a perspectiva da coisa, sem deixar de mostrar sempre o outro lado. As referências e homenagens são fascinantes, e os novos personagens foram muito bem inseridos, como Miguel, Robby, Sam, Hawk e Aisha. As novas dinâmicas entre Johnny e Daniel, assim como a forma como cada um age e os embates entre as gerações são as melhores coisas da série. Isso e as excelentes lutas de caratê de verdade, sem todo aquele exagero dos filmes de ação. É um sopro dos anos 80 muito bem vindo, com músicas da época e um dos filmes mais marcantes da década voltando para ser devorado pelos fãs e apresentado a uma nova geração. Também é um debate muito legal sobre as formas de se lidar com o bullying físico e virtual, com o peso do passado, família, legado e responsabilidade com os mais novos (e mais velhos). O final da temporada me deixou simplesmente em êxtase. Fácil fácil entre as séries preferidas.
A Maldição da Residência Hill
4.4 1,4K Assista AgoraDesde o lançamento que vejo o tanto de elogios a essa série, e mesmo com muita vontade de ver, só assisti agora, e todos os elogios que já vi são merecidíssimos. Primeiramente, porque Mike Flanagan faz um trabalho fantástico à frente da série, trazendo um roteiro muito bem escrito, fechadinho e que liga todos os pontos aparentemente soltos jogados durante a trama, que é executado com uma técnica primorosa em cada um dos episódios - o episódio 6 com seus magníficos planos-sequência é uma obra-prima -, unidos aos cenários aterrorizantes sem serem apelativos, à fotografia sombria esverdeada muito particular, a uma trilha sonora muito bem pensada e que constrói muito bem a tensão, e às maquiagens e efeitos especiais perfeitos que trazem todo o peso do bizarro e do sobrenatural quando a narrativa pede. Segundo, o elenco funciona tão bem que você se apega profundamente aos personagens e teme pelo destino de cada um, com um elenco infantil maravilhoso e o adulto melhor ainda, e cada ator pega muito bem as personalidades complexas e únicas de cada um. Por último, é um enredo exemplar no terror porque é exatamente o que o gênero deve ser: um conto que usa o medo como elemento narrativo para tratar de temas mais importantes e profundos, trazendo no final uma resolução (positiva ou não). Gostei da forma como tudo funciona literalmente e figurativamente, como os fantasmas são tratados como reais ou imaginados, como a ilusão faz parte de uma vida minimamente sã. É uma série que consegue construir o terror pelo sobrenatural, pela tensão, pelo uso de ótimos e muito bem encaixados jumpscares, pela importância dos personagens para o público, que teme pelo futuro de cada um. Nell, Luke, Theo, Shirley e Steven fogem da dicotomia bom/ruim, pois todos tem suas nuances, como qualquer pessoa, com erros, sacrifícios e atos de amor. A forma como a série lida com a negação, o controle, a solidão, o medo, a proteção, o vício, a depressão e o amor é algo que se encaixa muito bem, e no final a Residência Hill é somente um meio de adentrarmos a história dos Crain, seus traumas, suas perdas, suas dores, mas também sua redenção, sua recuperação, seus momentos felizes e de amor. É um terror sobre família, amor, vida e tempo, que foge do final pessimista. Traz uma resolução que, no fim, é uma luz em meio à escuridão. E isso é o que torna tudo mais belo. Quem assiste procurando sentir medo, tem, mas se surpreende com o quanto pode se emocionar com essa série linda.
I May Destroy You
4.5 277 Assista AgoraObra-prima. Representação perfeita e exata de uma década onde parece que tudo e nada mudou. Holofote imprescindível para as minorias e as violências por elas sofridas. É como se todo e qualquer detalhe da vida do jovem do século XXI tivesse sido retratado, em maior ou menor grau, nessa série. Mesmo sendo um grande conto sobre libertação, consentimento e superação de traumas profundos, pondo em perspectiva o peso do estupro e das violências direcionadas em todas as suas formas, é sobre relacionamentos, sexo, drogas, futuro, dinheiro, racismo, problemas familiares, redes sociais, vícios, psicologia, ilusão, solidão, amizade, empatia, liberdade, realização, sonhos, egoísmo, etc, etc, etc, até não acabar mais. Michaela Coel é uma das maiores roteiristas, atrizes e realizadoras que pude ver no universo cinematográfico, pois I May Destroy You consegue ir do riso ao desespero sem perder nunca a mão, sendo exagerado sem ser excessivo, sendo sutil sem ser imperceptível. Arabella, Kwame e Terry são personagens profundos, complexos e cativantes que ficam gravados na mente e no coração de quem assiste, e cada coadjuvante é igualmente profundo, complexo, quebrado. As pessoas são cruéis, abusivas, preconceituosas, indiferentes, ao mesmo tempo em que são generosas, empáticas, inspiradoras. E o melhor de tudo é que é igualzinho à vida real: na maior parte do tempo não faz sentido, algo que é inaceitável no mundo da ficção. Quebra todos os estereótipos, humaniza todo e qualquer personagem, cria monstros e heróis dentro de cada um, escancara os momentos de fraqueza e força, mexe nas feridas das máscaras e convenções sociais, tudo isso com perfeição técnica, beleza, trilha sonora fantástica, atuações apaixonantes e muita surpresa. A season finale é uma das mais lindas e marcantes que já vi, e mostra que nem tudo está perdido, pois nós ainda podemos escolher os caminhos a serem tomados. Está em nossas mãos. A dureza convive ao lado da leveza, e tudo e nada está certo e errado. Essa é a beleza da incerteza que Michaela nos dá como o melhor dos presentes desse sombrio fim de década. E eu só tenho a agradecer a transformação que isso tudo provoca.
The Umbrella Academy (2ª Temporada)
4.1 322Consegue ser grandiosa com um plot semelhante ao da primeira temporada, algo que ironiza o hábito dos heróis de quadrinhos sempre estarem lidando com algum vilão que quer acabar com o universo - mas, nesse caso, a culpa é dos próprios "heróis". Por mais que a história "se repita", tudo é diferente, pois o ambiente se expande, os personagens evoluem muito, novos paradigmas são colocados, novos elementos são introduzidos na trama e há muitas tiradas visuais sarcásticas com o universo dos heróis e da própria série, sendo uma produção que faz questão de não se levar a sério. Dá pra pegar ainda melhor a veia de Way e Bá aqui, com episódios belíssimos e muito bem dirigidos, além de uma trilha sonora impecável. As atuações estão show, Luther e Diego amadureceram muito nessa temporada, Vanya deixou de ser tão irritante e também cresceu horrores, Cinco continua sendo o dono da série, Allisson agora tem muito mais peso e Klaus continua sendo o alívio cômico fácil, que não cresceu como os outros, mas sofreu consequências que certamente serão sentidas na próxima temporada. Mas definitivamente o melhor de todos foi o Ben, que é simplesmente o personagem mais fascinante. De resto, tudo sobre Hargreeves, A Gestora, Lila e os suecos foi muito divertido, e a season finale abre possibilidades imensas para novos problemas pra essa família tão (ou mais) disfuncional quanto poderosa. Ansiosíssimo como não esperava estar e muito surpreso com o resultado dessa segunda parte.
Rick and Morty (4ª Temporada)
4.3 205 Assista AgoraNão investe no mistério do Evil Morty, mas achei tão divertida quanto as outras temporadas, justamente porque pareceu investir num humor mais referencial e escatológico. A season finale é ótima e se encerra de uma forma muito triste, e a evolução dos personagens aqui é muito notável, com uma mudança sutil no status de Rick e uma postura um pouco mais firme do Morty. Da primeira parte, os episódios 1 e 4 são os mais divertidos, mas da segunda parte é difícil escolher, sendo todos muito bons. Consegue engatar novas ideias e tirar sarro de tudo sem perder muita qualidade.
3% (4ª Temporada)
4.0 128Atingiu o potencial que prometia desde o início, pena que demorou demais para isso. Fiquei surpreso em como o texto e a direção melhoraram exponencialmente como um todo, sendo a temporada com as cenas mais belas. Além disso, a fotografia finalmente perde um pouco das cores vivas, demonstrando o perigo e o desespero de todas aquelas tensões. As atuações de Vaneza Oliveira, Bruno Fagundes e Rafael Lozano sustentaram a temporada, mas Fernando Rubro especialmente me deixou boquiaberto com seu nível de atuação como o Xavier, personagem que ficou gigante nessa temporada. O desenvolvimento do enredo foi bem legal e levou a um desfecho um tanto que óbvio, honrando as intenções iniciais da história. Essa coisa de que, no final, todo mundo perde e ganha é até que bem igualitária. Há furos, facilitações, momentos vergonha alheia como em todas as temporadas, mas muito menos. É notável o amadurecimento de toda a equipe, assim como o fato da série finalmente abraçar seu lado brasileiro, buscando deixar de ser uma série pseudo-americana e expondo o que os problemas políticos e sociais que nós brasileiros conhecemos e convivemos no dia-a-dia. A coisa toda com o Casal Fundador e a Causa foi bem forçada, mas a mensagem de esperança no final conseguiu ser mais convincente do que se tudo tivesse dado certo para um dos lados. Apesar da possibilidade de ter sido melhor, estou muito satisfeito com o resultado final, e espero que 3% seja a porta de entrada para mais distopias brasileiras no mercado de entretenimento internacional.
F is For Family (4ª Temporada)
4.1 38Disparada a melhor temporada. Crescimento dos personagens é gigantesco, foi muito legal ver as mudanças em Bill, Kevin e Maureen, mas principalmente toda a relação entre Frank e seu pai. A temática da liberdade feminina ganha muita força com a Sue, e tem as críticas aos hippies, aos políticos, ao soft rock setentista, ao consumismo, ao racismo, à TV americana e muito mais. O mais legal foi trazer a questão de como a criação dos pais afeta o comportamento e personalidade dos filhos no futuro. Melhor gancho para a próxima temporada.
Punk
4.4 8Simplesmente formidável. Série muitíssimo bem produzida e tão boa que não dá pra parar de ver até o fim. Os depoimentos dos personagens são riquíssimos, assim como o uso excelente dos álbuns e das imagens de arquivos. Os momentos com Iggy Pop, Johnny Rotten, Henry Rollins, Ian McKaye, Derryl Jenifer, Jello Biafra, Kathleen Hanna e Legs McNeil são especialmente enriquecedores. Senti falta de mais DK, de mais sobre o grunge, de algo mais sobre as bandas do Ian McKaye, do pop-punk, post-punk e no wave, dos envolvimentos com o movimento skinhead, mas isso demandaria mais episódios e muito mais trabalho da equipe de produção. Sendo uma produção americana, não é de se estranhar que o foco fora de lá seja somente na onda britânica, que era impossível de deixar de lado, e o D.O.A., que criou o circuito de shows punks norte-americanos com o Black Flag nos anos 80. Gostei do foco as múltiplas visões dentro do movimento, da falta de uma conceituação do que é ou não é punk, das críticas feitas à presença reduzida de minorias e do destaque dado ao som das mulheres, com The Slits, The Bags, L7 e Bikini Kill. O segundo episódio é especialmente brilhante, e o último é daqueles pra colocar alguns questionamentos na cabeça do espectador. Para quem é punk, venha com todo o gosto se deliciar com a presença de tanta gente foda. Para quem não é punk, venha conhecer essa cultura fantástica e junte-se à gangue. O punk é, agora, mais necessário do que nunca.
Um Maluco no Pedaço (3ª Temporada)
4.2 35Quanto mais a série vai envelhecendo, mais fica claro como Um Maluco do Pedaço é um excelente retrato do imaginário da comunidade negra americana da época. Com muitas piadas e momentos datados e não mais aceitáveis no século XXI, é como uma cápsula do tempo: você vê qual era o humor, o foco da crítica, a abordagem feita pelos atores de seus personagens, entre outros detalhes, mas principalmente os preconceitos comuns ao povo afro-americano, como o machismo e a homofobia. Will Smith só fica mais à vontade no papel, assim como todo o elenco. Pareceu mais focado no humor e em mensagens moralistas do que em críticas mais ferrenhas como nas outras temporadas. Porém, o fator nostalgia, o retrato de época, a química dos personagens e a garantia de risadas fazem dessa série um verdadeiro marco televisivo, e a terceira temporada mantém, no geral, o nível já estabelecido anteriormente.
Legion (3ª Temporada)
4.0 60Mais do que manter o nível, Noah Hawley voltar a segurar as rédeas e define um desfecho que só Legion poderia ter. Precisava ser um pouco menos complexo para poder concluir a trama e dar um destino ao nosso protagonista. É aqui também que vemos o ápice da vilania do personagem principal, além de finalmente termos um vislumbre do verdadeiro Legião, com Dan Stevens mantendo sua fantástica interpretação desse ser tão atormentado quanto poderoso. A introdução de Switch e todo a questão com o tempo fizeram muita diferença, deixando a temporada muito instigante, ao mesmo tempo em que as cenas musicais, mais presentes, foram todas simplesmente maravilhosas, especialmente a de season finale, talvez a cena mais bonita da série junto às cenas musicais do episódio 5 e da season finale da segunda temporada. Vemos menos de Plaza, mas ela continua um espetáculo, Rachel Keller entrega uma ótima performance e não tenho o que comentar sobre os aspectos técnicos e visuais, certamente um dos melhores e mais criativos das séries da atualidade, mantendo-se muito original até o fim. Da mesma forma, o modo de se contar a história também é único, graças ao Hawaley, e isso faz com Legion seja certamente uma das melhores séries baseadas em quadrinhos já feitas. Além de trazer o lado mais cruel de David (que cenas do episódio 5!), traz também um final gratificante e esperançoso.
Dark (3ª Temporada)
4.3 1,3KFico muito feliz quando séries se propõem a algo e cumprem, sem se prolongar mais do que deveriam devido ao sucesso. Dark, desde seu lançamento, foi alcançando mais e mais fãs ao redor do mundo, algo atípico para uma série alemã e de ficção científica. Apesar da excelência na abordagem da viagem no tempo, que consegue respeitar os cânones estabelecidos trazendo muita originalidade, o mérito vai para a abordagem dos dramas pessoais, das relações entre os personagens e das ótimas referências literárias e filosóficas. É uma série profundamente melancólica, recheada da melhor filosofia niilista, que retrata muito bem como as ações egoístas humanas constroem o caos. Dá pra notar todo o reflexo de uma geração de artistas que cresceu sob a sombra do holocausto nuclear após Chernobyl, ao mesmo tempo em que sentia o peso da opressão durante os últimos anos de Guerra Fria. Acaba sendo uma série sobre os fantasmas das novas gerações alemãs, que têm que carregar nas costas o peso das más escolhas e crimes cometidos por seus pais, avós e bisavós, ao mesmo tempo em que têm a obrigação de corrigir esses mesmos erros, sob a pena de repetirem os mesmos passos, numa lei de eterno retorno. É uma série que carrega todos os méritos: um enredo envolvente, denso, criativo e repleto de mensagens, um roteiro muito bem desenhado por Jantje Frisie, com poucos furos e falhas, um elenco ótimo, com escolhas cuidadosas de atores para interpretar os mesmos personagens em diferentes fases da vida, uma direção simplesmente fantástica de Baran Bo Odar, que brinca com espelhamento e simetria e ainda consegue engatar uns planos muito bem pensados, uma estética própria, que vai se tornando mais densa e sombria a cada temporada, com uma imagem que traz uma personalidade própria à serie, um trabalho de trilha sonora, maquiagem e figurino cuidadoso... Tudo que concerne à produção é feito com perfeição, e esse apuro é o que torna toda a experiência inesquecível. Quanto à terceira temporada, as expectativas estavam altíssimas, e a série traz respostas, informações inesperadas e um desfecho atípico, mas que encerra da melhor forma todo o ciclo construído pela série. Infelizmente há coisas que ficaram vagas ou mal resolvidas, como
o personagem sem nome, que mesmo que entregue cenas excelentes, não é nada desenvolvido, o plot relativo a Claudia e o terceiro mundo e alguns personagens que foram deixados de lado na história e no desenvolvimento, como Magnus e Franziska, só para citar os mais marcantes.
Há perguntas sem resposta, mas acho que tem coisas que devem ficar em aberto mesmo, e a grande maioria não influenciaria diretamente no resultado final. E o desfecho da série,
trabalhando com a teoria de Schrödinger e a coexistência de realidades simultâneas, foi uma decisão que, no fim das contas, fez muito sentido. Após tanto sofrimento, tristeza, melancolia e perdas, a mensagem final que ressalta o amor incondicional (com o sacrifício de Claudia para que Regina pudesse viver) e a aceitação, do outro e das coisas que nos acontecem, é reconfortante. A viagem no tempo é uma forma do humano apagar seus erros, e não aprender com eles. É apagar seus traumas, e não superá-los. Especialmente aqui, a viagem no tempo é sobre fugir de parte do que nos faz humanos e do que nos define: da dor, da culpa e do arrependimento.
Mesmo com algumas falhas e esperando algo diferente, e mesmo sabendo que vou sentir falta da história e dos personagens, a série acabou no momento certo e da forma certa. Certamente uma das melhores séries de ficção científica já feitas.
13 Reasons Why (4ª Temporada)
2.8 198 Assista AgoraMelhor exemplo de série que só piora a cada temporada, e conclui no degrau mais baixo. Enquanto a boa primeira temporada adaptava um best-seller da literatura juvenil (que trouxe uma temática polêmica, mas precisava ser debatida - um livro do qual gostei muito, e cuja estrutura é particularmente muito inteligente) de uma forma um tanto descuidada em relação a gatilhos que certas cenas e abordagens poderiam causar, as sequências foram notadamente caça-níqueis que somente pioraram a experiência no sentido de abordar temas polêmicos e fundamentais para os adolescentes de uma forma errada e, muitas vezes, absurda. A segunda temporada ainda teve seu impacto, pois continuava seguindo o caminho de Hannah Baker (meio que um "Por trás das fitas: a vida secreta de Hannah Baker"), apesar de trazer outra cena extremamente pesada, potencialmente traumatizante e, acima de tudo, desnecessária. Mas as duas seguintes foram totalmente dispensáveis. Primeiro, porque transformava uma série sobre as causas e as consequências do suicídio na adolescência em um suspense juvenil fraco e clichê. Segundo, porque no final você já não sabe mais qual é a mensagem que a série quer deixar. Terceiro, a abordagem das polêmicas foi totalmente errada. Contemporizar o ato do estupro, relativizar crimes, não saber abordar transtornos psicológicos de uma forma saudável ou verídica, destruir o personagem que mais se esforçou para melhorar ao longo de toda a série da forma mais triste e desnecessária possível, tornar a série em "Os Fantasmas se Divertem" por meio de um recurso narrativo totalmente ineficaz... Pelo menos, nessa temporada eles souberam mantem um bom ritmo, fazendo com que fosse mais fácil maratonar. Mas essa coisa dos mistérios (quem fez os vandalismos? quem morreu? o que vai acontecer aos garotos?) e a tentativa de ainda entabular uma mensagem positiva no final foi bastante mal pensado e mal realizado. Ainda teve o reaparecimento mágico de personagens que ninguém sequer lembrava e do nada são amigos, ou os lapsos de tempo entre um episódio e outro que serviam só como facilitação do enredo pros roteiristas... No final, o saldo foi uma série que, apesar de pregar e fazer de conta que dizia o contrário, traz uma carga extremamente fatalista, pessimista, negativa e deprimente à vida do jovem no século XXI, dando mais incertezas do que seguranças aos seus espectadores adolescentes.
P.S.: o elenco mandou bem, mas Brandon Flynn merece todo o sucesso, grande performance.
Reality Z (1ª Temporada)
3.0 214 Assista AgoraO episódio piloto é horrível, ainda mais por contar com a "atuação" de Sabrina Sato (Jesus Luz nem fede nem cheira). Depois, vai melhorando um pouco no decorrer da temporada, mas não quer dizer que fica necessariamente bom, você só se acostuma com a (falta de) qualidade da série. O gore é divertido, não tão bom quanto outras produções, mas muito legal para um thrashão desse tipo. As atuações são quase todas bem ruins (tem ator que nem zumbi consegue fazer direito!), mas um ou outro se salva, além de ter os veteranos Emilio de Mello e Carla Ribas que seguram bem as pontas. A direção de Rodrigo Monte é bem legal, mas Cláudio Torres não conduz bem e o uso exacerbado de câmera lenta sem motivo algum dá muita, muita raiva. A trilha sonora tem ótimas músicas, mas metade delas é muito mal escolhida, principalmente em toda a primeira metade da temporada. Quanto ao roteiro, maior dos problemas. Enquanto adapta (ou melhor, copia) Dead Set, falta personalidade e até mesmo manter a pegada crítica do roteiro original; já enquanto "produção própria" (uma cópia de The Walking Dead agora), tenta dar a cara da impunidade e terra sem lei típica do Brasil, mas cai em todo tipo de clichê e incoerência, com personagens que nunca seguem a lógica de suas personalidades. Apesar dos pesares, me diverti, pois a série é muito rápida de assistir e não decepciona em relação à violência e ao sangue escorrendo. Bem vergonhosa em vários momentos, mas vale pelo gore, pois consegue ir direto ao ponto várias vezes. Faltou direcionar melhor a crítica que queria fazer em vez de investir em interações engessadas e diálogos inúteis entre os personagens.
Brooklyn Nine-Nine (6ª Temporada)
4.3 130É aquele tipo de série que pode oscilar aqui e ali hora ou outra, mas que não perde a qualidade esperada. Continua tirando ótimas risadas, aposta no humor pastelão sem perder a postura quando trata de assuntos sérios (e aqui eles parecem mais presentes), conseguem dar novas informações sobre seus personagens (o passado de Hitchcock e Scully foi uma ótima surpresa) e, mesmo que mantenha sempre o mesmo formato e a mesma pegada, não cansa. Meio chato a saída daquele personagem, mas achei que foi bem legal a forma como fizeram. E foi um dos fins de temporada mais atípicos. Menos episódios, mas a mesma qualidade. Que bom que a NBC salvou a série.
Preacher (4ª Temporada)
3.7 66 Assista AgoraPor um lado, finalmente nessa temporada entendi todas as escolhas estéticas e narrativas da série em comparação aos quadrinhos: não estamos mais nos anos 90, nem na linguagem das HQ. Ou seja, brutamontes sarados ou mulheres malhadas e torneadas não são parte dessa representação imagética cinematográfica do século XXI; e, se é para satirizar e ridicularizar, isso será feito até na imagem que temos dos personagens: os exemplos de Jody, TC e Deus são bem representativos disso. Pensando assim, as escolhas de representação da série foram impecáveis. Tudo é um tanto repugnante, ridículo, brega. Deus é um cosplay mal feito, Starr é um galã feio, os anjos não são nada divinos. Tudo isso foi perfeito até o fim. Porém, a última temporada tinha tudo para ser a melhor, mas falhou principalmente no seu episódio final. O episódio 9 certamente foi o de mais personalidade em toda a temporada, mas a series finale foi um tanto decepcionante. Tirando alguns momentos dos quadrinhos que queríamos ver na tela e a bela cena final, muita coisa foi ou desnecessária ou sub-utilizada. Todo o plot do fim do mundo terminou de forma pouco satisfatória, assim como as jornadas de Hitler, Eugene e Jesus. A participação de Jesus de Sade rendeu uma ótima cena de luta, mas foi pouquíssimo tempo do personagem em tela. Pelo menos, nessa reta final, Jesse retomou as rédeas da narrativa, e Cassidy continuou sendo um dos melhores personagens. Todas as desventuras de Herr Starr foram também bastante hilárias e fizeram valer a pena. Para um encerramento, ficou a desejar, mas, no final, não perdeu o espírito da coisa. Afinal, até o encerramento da série de HQ não é tão épica quanto se espera, então a série televisiva seguiu essa lógica. De qualquer forma, fez jus. Preacher é uma série que representa muito bem o século XXI.
Altered Carbon (2ª Temporada)
3.5 82 Assista AgoraAcaba dando empate com a primeira temporada porque, por um lado acerta em diminuir o número e a duração dos episódios, fazendo com que seja um tanto menos cansativo e dê pra engatar uns dois episódios e sequência. Também a chegada de Anthony Mackie e da Simone Missick ao elenco dá uma elevada na qualidade das atuações, assim como as cenas de ação continuam bastante empolgantes. Entretanto, a mudança de protagonista traz também uma grande mudança na personalidade do Kovacs, muito diferente do que foi entregue por Kinnaman na temporada anterior, e personagens cativantes não retornam. Além disso, o roteiro é um tanto confuso no mau sentido, introduzindo muitas coisas que acabam sendo um tanto mal trabalhadas, pois o lado detetivesco e noir que deu tão certo antes foi substituído pelas cenas de ação (não que tenham sido poucas na primeira temporada, mas aqui elas são mais utilizadas pelo roteiro para resolução dos problemas, ou o lado mais investigativo fica a cargo das IAs). O plot envolvendo Poe e Dig em certos momentos funciona, em outros beira à pieguice. E em relação ao fim de temporada, além da cena linda do Fogo do Anjo, não empolga tanto. O que ficou em aberto para dar sequência não tem tanta força assim, podendo funcionar ainda melhor como series finale. A questão é que para o tanto de coisas que poderiam ser trabalhadas, a série acaba se podando muito e entrega um roteiro que arrisca e indaga muito pouco, ficando presa a conspirações, abusos de poder, revoluções frustradas e ação genérica, sem partir pro lado mais crítico da ficção científica.
American Crime Story: O Povo Contra O.J. Simpson (1ª Temporada)
4.5 582 Assista AgoraImpecável e impressionante. Vai a fundo no mais polêmico julgamento da história americana, sendo extremamente fiel aos fatos. A direção dos episódios, tal qual a fotografia, a reprodução de época e a trilha sonora, estão formidáveis. O roteiro sabe dosar o lado da promotoria e o da defesa, e deixa claro que não é imparcial, mas sobre a injustiça de um caso que foi redirecionado para uma discussão paralela a fim de inflamar os ânimos sociais e provocar a inocência do réu (impossível ele não ser o culpado, depois de tudo que aconteceu depois, principalmente). A frase de Darden para Cochran no último episódio resume tudo muito bem. Quanto aos atores, escolha de elenco impecável. Além de atuações grandiosas (difícil citar os nomes mais fortes, pois todos pegaram a essência, mas Cuba Gooding Jr., Sterling K. Brown, Courtney B. Vance e Sarah Paulson estão de cair o queixo), a maquiagem e penteados transformam completamente os atores, de forma que eles ficam muito semelhantes aos personagens reais. Ryan Murphy criou aqui algo ímpar, importante e necessário. Trazer às novas gerações o caso O.J. é colocar holofotes sobre o machismo e racismo da sociedade americana, os perigos do uso das bandeiras sociais no julgamento das ações individuais, os danos que a imprensa causa com a super-cobertura de casos famosos e a questão da diferença entre raça e classe, onde um negro bem-sucedido separa-se de sua comunidade para ser aceito entre os brancos de sua classe social.
Westworld (3ª Temporada)
3.6 322Esperei ansioso pela nova temporada, e tudo indicava que as coisas iam definitivamente mudar. Felizmente, tudo mudou, dando novo fôlego à série e liberdade para expandir a narrativa, já que o mundo é o limite. A primeira temporada é ainda a mais memorável, por introduzir uma ficção científica tão intrincada e filosófica no formato de série, que brincava com as múltiplas linhas do tempo e confundia muito a mente do espectador. Na segunda, o mesmo formato se repete em escala reduzida, mas vemos a violência deixar de ser bel-prazer dos visitantes para se tornar a arma libertadora dos anfitriões, tendo no final uma promessa: não estaremos mais no parque. Nessa terceira temporada, o piloto dá o tom: Caleb é introduzido, o mundo do futuro é revelado e descobrimos que Dolores está atrás não só da Delos, mas de uma nova companhia, a Incite. Agora não é mais só sobre os anfitriões descobrindo a natureza de sua existência, mas sobre como não só eles, mas os humanos também são controlados, presos em loops e inseridos nas narrativas que alguns querem. Perde-se um pouco da beleza filosófica das duas temporadas iniciais, mas essa abordagem já tinha perdido o fôlego. Agora, era hora de expandir os horizontes e respirar um pouco a mente para ter mais ação. Disparada a temporada com mais cenas de ação (que muitos viram como desnecessária, mas achei bem sintomático da comparação entre o parque e o mundo real que era controlado), dando um tempo das confusões temporais para inserir novos personagens, novos conflitos, dar novas resoluções aos veteranos e estabelecer caminhos e reviravoltas, a grande maioria delas reservadas para o final. Gostei muito da temporada, e acho que a série manteve o nível, só mudou de cara. Não porque era difícil demais e precisava ficar mais palatável, mas porque precisava dar uma freada para tentar encontrar novos caminhos para a temporada 4. A troca de bastão da season finale honra a história dos personagens envolvidos, Aaron Paul como Caleb foi uma escolha acertadíssima, Serac foi um vilão bastante incômodo e difícil e o conflito entre Dolores e "Charlotte" dá um gás para que a coisa fique muito louca na sequência. Gostei de ter mais espaço pro Stubbs, do enredo de Bernard e da resolução dada ao Homem de Preto. Tem coisas que não sei se são furos ou se ficaram pendentes, como a questão da mãe do Caleb ou da própria Charlotte, mas agora estou muito ansioso para ver o que vem pela frente, pois nenhuma temporada anterior deixou tantas narrativas em aberto para serem resolvidas mais à frente. Westworld finalmente cresceu.