Assisti os 7 episódios originais e só digo que essa série é uma aula de como construir documentários. A riqueza de informações e documentação é um diferencial brilhante, pois é visível o cuidado da equipe com a qualidade do que é mostrado. Os vieses são quase nulos, tanto que a obra termina sem incutir na mente do espectador quem está certo ou errado, mas atenta ao fato de que uma parte do processo foi ilegal e desumano, independente do crime investigado. E ainda traz outros elementos que concernem ao Caso Evandro que levantam outras discussões empolgantes. Um baile daqueles nas séries investigativas documentais americanas.
Mais uma ótima temporada, com episódios hilários, novas dinâmicas trazidas principalmente pelo casamento e pelo nascimento da filha de Pam e Jim, além de usar a crise econômica como uma forma de mudar os rumos da empresa. Todo o elenco completamente confortável em seus personagens. Diversão certa.
É uma série que continua me divertindo, mas aqui não tem o mesmo brilho que as outras temporadas (mesmo a quarta, que trouxe adições sutis ao cânon, mas desenvolveu bem os personagens). Na verdade, parece que a série pula a temporada anterior, porque parece que os próprios personagens involuíram. Apesar de divertido, a criatividade para o desenvolvimento das aventuras já não é mais tão satisfatória quanto antes, e em boa parte dos episódios a piada se torna cansativa. Os 3 episódios finais é que retomam os rumos da série (como série não-episódica) e trazem elementos a serem trabalhados no futuro, principalmente nas tramas dos episódios 8 e 10. Mas até na season finale, provavelmente o melhor da temporada, há momentos em que a piada satírica perde a graça. Acho que agora já é hora de focar no arco principal.
O trabalho de Woody Allen é algo que nunca me cativou minimamente, então nunca torci por sua inocência ou duvidei da capacidade dele ter cometido o crime. Na verdade, os filmes que assisti mostraram características do cineasta que eu simplesmente detesto nas pessoas que conviveram ao meu redor. Então, para mim, é totalmente crível o que a série supõe. O documentário de Ziering e Dick pode ser enviesado e não contar com os depoimentos do lado oposto (e fartamente ouvido desde o início de tudo) - não por falta de convite -, mas traz uma visão mais íntima da vivência da família afetada pela pessoa de Allen, pelos processos judiciais e pelo circo midiático em torno de toda a situação. Defensores e detratores à parte, as ideias de Mia Farrow fazendo lavagem cerebral de Dylan ou comprando Deus e o mundo é, no mínimo, loucura, visto que a filha adotiva vítima de toda a situação mantém até hoje sua história irretocável, sem ganhar com isso, sendo que, caso fosse vítima de manipulação, estaria lucrando muito ao passar para o lado do influente e rico pai adotivo. Da mesma forma, Mia Farrow e seus filhos demonstram grande força de reconstrução após um período tão turbulento e público de suas vidas, e esse aspecto mais humanizado do lado menos ouvido da história traz o caráter ativista do documentário. Claro, obras documentais ideias deveriam ser imparciais, mas nada o é, pois toda obra, especialmente documentários, é completamente enviesada, ainda que tal viés seja a busca imparcial da verdade. Se fosse uma obra feita por uma equipe alinhada ao pensamento da completa inocência de Woody Allen, não seria totalmente o contrário, reunindo provas para comprovar a "histeria" de sua ex-parceira? De qualquer forma, uma pessoa poderosíssima, que tornou Nova York o maior cartão-postal dos EUA e influenciou centenas de profissionais do cinema, impulsionou carreiras de inúmeros atores e atrizes, que em seus filmes busca normalizar relações com menores de idade ou tóxicas numa roupagem engraçadinha do "coitadinho, ele é fraco e neurórtico", que era obcecado por uma filha adotiva sendo que sempre recusou a paternidade e que ainda por cima começa uma relação sexual com a filha da namorada, 35 anos mais nova, enquanto ainda a namora... No mínimo, moralmente Woody Allen não é nem um pouco defensável.
Começa com potencial, tem dois bons primeiros episódios, mas a direção de Carvalho e Cupello é extremamente fraca, apelando em dois episódios para os recursos de encontro com artistas e ex-BBBs que simplesmente não adicionam em nada no andamento do doc. A edição e o encaixe de trilha sonora é também algo bastante mal feito, chegando a ser brega, e a partir do episódio 3 o espectador basicamente não conhece mais nada sobre Juliette, mas só acompanha uma repetição de informações e sentimentos já trazidos anteriormente, ou dando uma amostra da carreira vindoura como cantora. Se estivesse nas mãos de um equipe competente, daria pra fazer algo muito, muito melhor, e não só um grande quadro de programa de domingo que aborda de forma até que muito superficial o seu personagem. O final é particularmente sem graça e mostra que tudo era só uma desculpa pra anunciar algum produto futuro.
Perde o fôlego aqui e ali, tendo um início de temporada menos empolgante, mas do meio pro fim melhora demais, sendo a temporada com muitas das melhores cenas e momentos da série. A simulação de incêndio, a Michael Scott Paper Company e o chili do Kevin foram impagáveis.
Merecidamente uma das melhores e mais adoradas minisséries da história. A produção é uma das coisas de mais alto nível já feitas pela HBO, e Band of Brothers é disparada a melhor produção cinematográfica feita sobre a Segunda Guerra, não só pelo apuro histórico e pela riqueza dos relatos, mas pela sensibilidade das atuações e personagens e por entregar cenas fantásticas de combates, sendo ao mesmo tempo frenéticas e muito violentas, tentando ser o mais realista possível. Impossível não se emocionar, não se sentir nervoso ou receoso pelos personagens e não se admirar com a qualidade técnica de tudo. A fotografia, a trilha sonora, a sequência de abertura, o fato de várias caras conhecidas do cinema e TV atual estarem ali ainda novos, a reprodução de época, tudo é impecável, mas o melhor é a presença dos ex-combatentes dando relatos no início dos episódios. O episódio 9 é um dos mais pungentes que já vi, assim como o 10 é um encerramento que leva a emoção ao máximo, ainda mais quando sabemos os nomes dos entrevistados veteranos. Que série magnífica, que aula de fazer cinema, que conto lindo sobre a irmandade e a humanidade em meio à barbárie da guerra.
Mas como é que puderam? A primeira parte foi promissora, mesmo o episódio preto e branco que todo mundo detestou eu achei bem criativo e divertido, a mid-season finale deixou no ar uma continuação promissora... E tudo foi resolvido de forma fraca, rasa e corrida, com perda de tempo na maioria dos episódios. Os caminhos dados para Dan e Maze foram bem ruins, e a season finale, de potencialmente épica, foi corrida, melodramática até demais e um tanto decepcionante. A primeira parte salva e um ou outro episódio da segunda parte são legais, mas essa foi a pior temporada até aqui. E ainda vem mais uma.
Por um lado, apesar de manter o ritmo lento da primeira temporada, não prende tanto a atenção, principalmente na primeira metade. A história demora um pouco a andar mais, os conflitos parecem se repetir em alguns momentos e o final acaba sendo um tanto atropelado, deixando algumas resoluções em aberto que incomodam um pouco. Porém, o final em aberto faz parte do que a série é e se propõe, o que acaba sendo muito bom e empolgante, pois assim como na primeira temporada, temos que tirar nossas próprias conclusões. O nível de produção se mantém impecável, e tudo que elogiei na primeira temporada nesse sentido elogio aqui. Gostei da series finale e de como não há uma resposta clara, mas sugestões de conclusão que podem se encaixar com lendas do folclore francês, com teorias cíclicas, com analogias espirituais, mas ainda assim muito rico. O que é uma pena é que boa parte daquele ar melancólico contemplativo perde o fator contemplação, firmando mais as metáforas (algumas vezes funciona bem, outras não) e perdendo um pouco da força do fazer pensar. Mas, ainda assim, mesmo com seus deslizes, é uma série belíssima, fantástica, tão deprimente quanto forte e que provoca o confronto de nós com nós mesmos, vendo como a dor de uma perda pode causar inúmeros impactos, desde uma corrente de destruição e morte até uma força escondida que nos move. A poesia, ainda que menos fluida, ainda se manteve.
já dava pra esperar o que vinha naquele finalzinho de episódio, mas ainda assim é uma pancada certa. Que série, que atuações, que primor de performance de Jeremy Strong. Tudo que já elogiei antes elogio ainda mais aqui, e foi só fogo no parquinho, bilionário se descabelando e facada nas costas como o povo comum gosta de ver a elite fazendo porque a gente quer mais é ver caos no paraíso. Que série absurda.
A série oscila um pouco nessa temporada, com uma qualidade um pouco menor que as duas anteriores (algo também explicado pela greve dos roteiristas na época), mas tem episódios muito bons, como o do jantar na casa de Michael e o da entrega das cestas de brindes, além de ter várias mudanças nas dinâmicas dentro do escritório e entre os personagens. A season finale reserva algumas das melhores surpresas, e acho que aqui a vergonha alheia atinge níveis absurdos kkkkkk escorrega aqui e ali, mas ainda é uma temporada incrível.
Que bom que Adam McKay saiu das comédias pastelonas protagonizadas pelo Will Ferrell e foi para as sátiras políticas e econômicas, porque com certeza o lugar dele é aí. Como uma série sobre uma família podre de rica e seus jogos de poder poderia ser tão fascinante? O texto de Succession é algo absurdo de bem feito, com diálogos rápidos, muito bem calculados, orgânicos e muito, muito ácidos. É uma sátira dramática, uma comédia de poder, uma mescla de gêneros tão bem sucedida que há cenas em que dá para rir e ficar tenso na mesma medida, e não por ser algo vergonhoso ou mal feito, pelo contrário. Tudo muito bem calculado: o roteiro preciso e que sabe surpreender nos momentos certos, a construção exímia de cada personagem, as atuações foderosas de todo o elenco, especialmente do monumental Jeremy Strong e do lendário Brian Cox - com uma nota pra o trabalho estupendo de Kieran Culkin -, uma direção muito precisa, que emula muito bem o estilo do McKay em todos os episódios, uma produção estonteante que investe no glamour do mundo recluso dos bilionários e a trilha sonora, tão limitada em quantidade, mas que impressiona por se encaixar tão bem em todos os momentos em que é usada, pois o tema, de acordo com as partes tocadas ou a forma como se executa, se encaixam em todo tipo de situação, sendo uma das músicas-temas instrumentais de série mais marcantes dos últimos tempos. Comecei sem esperar muito e concluí fascinado.
Depois de um primeira temporada inventiva, surpreendente, empolgante e cheia de momentos marcantes, a continuação foi bem decepcionante. Não só o número de episódios foi menos que a metade da primeira parte, as histórias em geral são mais fracas até que os piores episódios da temporada anterior. Com exceção de dois ou três episódios com uma arte mais diferente ou uma ideia mais filosófica, foi muito uso da animação ultrarrealista e de plots já bem batidos da ficção científica, e ambas as situações dificultaram muito em se sentir próximo das histórias. Só gostei mesmo dos episódios Atendimento automático ao cliente, Pela casa e um pouco de O gigante afogado, que pareceu acabar sem atingir o potencial que tinha. Uma pena, porque a qualidade técnica é impecável e a ação sempre funciona, mas ficou majoritariamente nos clichês ou em histórias sem carisma.
Divertido, frenético e brutal. Uma animação de heróis que brinca com os clichês para fugir deles, com um visual lindo e uma história recheada de batalhas sangrentas e dilacerantes. Mark Grayson é um protagonista muito carismático e é super legal conhecer mais do universo de Invincible, tendo várias alegorias sobre a política americana atual e as relações entre as gerações. Só não dou nota máxima porque a season finale deu uma esfriada anticlimática após tantos episódios explosivos (algo que dá pra entender, já que tem que manter o hype e a ação pra próxima temporada) e pela incoerência dos poderes de Atom Eve, que apresentavam potenciais muito diferente dentro e fora das batalhas. Tirando isso, que animação magnífica da Amazon Prime.
Muito bem produzida, com uma direção certeira de Oriol Paulo em manter a atenção do espectador até o último momento e cenas fortíssimas que deixam a série mais impactante. Apesar de parecer passar do tom, o elenco está muito bem, condizente com o padrão das produções espanholas. Entretanto, o roteiro, que se sustenta tão bem durante os primeiros episódios, se perde numa necessidade constante de surpreender, de forma que a enorme quantidade de plot twists se torna cansativa e muito inverossímil, deixando furos e pedindo muita suspensão de crença do público, chegando a ultrapassar esse limite do aceitável em certos momentos. Além disso, certos elementos que vão sendo introduzidos tornam a história tão truncada que fica meio difícil encontrar uma ponte eficaz entre todas as narrativas interligadas, ainda mais quando temos as revelações do último episódio. E também a violência gráfica, em vários momentos, acaba soando excessiva e bastante fetichista, colocando constantemente personagens femininas como vítimas das cenas mais brutais da minissérie, o que parece - ainda que não intencionalmente - uma certa glamourização da violência contra a mulher e do feminicídio. Afinal, a série traz diversos temas bastante pesados que acabam sendo desenvolvidos superficialmente para dar espaço à profusão de reviravoltas. Os personagens são bem desenvolvidos, mas algumas motivações são fracas e algumas de suas ações não condizem com suas habilidades. Mesmo assim, é um suspense policial de grande qualidade, que mantém a tensão lá em cima durante todos os episódios e entrega tudo que uma obra de Oriol Paulo sempre promete: reviravoltas a cada minuto e um enredo de ritmo constante.
Um passo maior, a série expande bem ao trazer novos personagens e novas dinâmicas que movem muito bem a temporada, principalmente o triângulo amoroso entre Jim, Pam e Karen - com o Roy correndo por fora - e as relações absurdas entre Dwight, Michael e Andy. Todo mundo se encontrou muito bem em seus personagens, e para quem gostou das duas primeiras temporadas, essa terceira, se a paixão não veio antes, garante o vício. Se na temporada passada você ainda não era parte, agora você se sente membro da disfuncional e hilária família Dunder Mifflin. E o final de temporada deixa um gancho que deixa muito difícil não querer seguir a maratona imediatamente. Que série fantástica.
Impossível não ficar apaixonado pela série e seus personagens após essa segunda temporada. A história, as relações, o humor e os personagens crescem demais, e tudo é muito gostoso de se acompanhar, muito divertido, e de repente você se vê como parte da família Dunder-Miffli. O plot de Jim e Pam é a coisa mais linda do mundo, e Dwight se torna ainda mais irritante/adorável junto com o sempre excelente Michael Scott de Steve Carell. Que série maravilhosa, já estou viciado.
Um pouquinho inferior às anteriores, mas a produção melhorou e a história continua ótima de acompanhar. Ver o amadurecimento de Johnny é gratificante, principalmente pela season finale. Zabka está super confortável no papel e é tiozão de zap mais legal do rolê. Xolo Maridueña continua muito bem e foi ótimo acompanhar a recuperação de Miguel e o retorno de sua relação com Johnny. Jacob Bertrand é disparado quem mais impressiona, entregando uma atuação incrível com Hawk e algumas das melhores cenas da temporada. Também foi excelente conhecer o passado do Kreese e entender porque ele é dessa forma, sem colocá-lo como uma simples vítima das circunstâncias. Feliz por não terminar de forma totalmente triste como na temporada anterior e das surpresas que a season finale garantiu para a quarta temporada. Sam, Tory e Robbie foram difíceis de suportar, tanto pelos personagens, quanto pelo carisma e desempenho fraco na atuação dos atores. Mas de resto, lutas legais (menos que antes, mas houve foco em desenvolver a história), algumas forçadas de barra (nunca tem polícia ou punição a não ser na escola?), mas um enredo gostoso de acompanhar e cheio de crescimentos do núcleo adulto. Ralph Macchio e seu Daniel-san estão voltando a ficar mais carismáticos, e a maior das surpresas, na verdade, foi o Anthony kkkkk ansioso pelo que está por vir, e a nostalgia sempre a mil. Quem diria que a gente ainda iria precisar dos karatê kids?
Ainda melhor que a primeira temporada, com pancada atrás de pancada. Tem mais ação, cenas com efeitos belíssimos, a coisa ficou muito maior, mais frenética, a relação entre Will e Lyra é muito boa de se acompanhar, e todo o plot de Lee Scoresby e Jopari também, assim como o plot sobre o Pó. Mas definitivamente quem domina a série é Ruth Wilson, com uma Marisa Coulter assustadora e poderosa pra caramba, que tem uma presença de tela completamente dominante. A produção tá excelente, a fotografia parece ainda mais bonita e a direção estava muito inspirada. Ansioso pela próxima temporada, ainda mais com as informações da season finale.
Tenho nem o que criticar. Sentei para assistir sozinho e de repente minha mãe já estava acompanhando comigo, de tão fascinante que é a minissérie. E o hype, na verdade, é muito merecido, pois quem iria acreditar que uma série sobre uma enxadrista - e com MUITO xadrez, o tempo TODO - iria ser tão assistida e adorada no mundo? Até porque não se trata só do jogo, mas de tudo que perpassa as linhas do texto da série. E devo dizer, que roteiro bem feitinho, fechado, bem desenvolvido. Trabalha muito bem com todas as temáticas que se propõe, sem proselitismos, forçações de barra e tentando ao máximo fugir dos anacronismos, algo que é sempre um problema quando se quer contar a história de uma mulher forte numa época e num meio machista. Além de tudo, deu a abordagem certa ao xadrez, pois mesmo não sendo um grande conhecedor (sei só o básico), dá para ver que tudo foi feito com cuidado. Claro que há umas embelezadas na coisa toda, mas se não tiver um clichê e uma glamourização, como atrair o interesse do público? Isso se vê principalmente na fantástica season finale, que cria uma situação pouco verossímil no contexto de época, mas que faz sentido no universo próprio da série e no discurso que ela traz. A produção, nem tenho comentários, impecável. Figurinos, penteados, maquiagens, cenários, uso de CGI para reprodução de ambientes, os efeitos do xadrez, a paleta de cores, os significados por trás desses usos, tudo é perfeito. Da mesma forma, trilha sonora maravilhosa em todos os sentidos. Mas o que faz a série ser tudo o que é são as atuações, especialmente a protagonista. Anya Taylor-Joy chamou minha atenção desde seu papel como Thomasin em A Bruxa, e de lá pra cá só cresceu. Beth Harmon é o seu ponto alto, com uma atuação de sutilezas, na qual os olhos marcantes da atriz constroem os detalhes da personalidade solitária e ambiciosa da protagonista. Além do mais, aqui ela está mais linda do que nunca, e ela na última cena da série, com aquele figurino de "rainha branca", está simplesmente divina. De igual forma, todo o elenco faz um ótimo trabalho, em especial Moses Ingram como Jolene, Harry Melling como Beltik e Thomas Brodie-Sangster como Benny Watts. A química entre o elenco é impecável, pois todas as relações parecem se construir com naturalidade e verdade, e isso que garante a força da história. É muito mais do que xadrez, jogos, vitórias e derrotas, mas sobre traumas, vícios, machismo, força feminina, liberdade, confronto dos próprios medos, solidão, amizade, trabalho em equipe, determinação e viver da melhor forma que se pode. Uma das maiores joias que a Netflix tem em seu catálogo, e merece toda essa repercussão.
Belissimamente triste, fantasticamente dolorosa. Por si só, a série se destaca num primeiro momento só pela sua fotografia impecável, com uma paleta de cores sempre esverdeada e azulada, remetendo à água que rodeia e ameaça a vida dos habitantes da cidade e à tristeza que é uma constante na vida de cada personagem que compõe a série, além de um enfoque de câmera nos atores que muitas vezes dá um ar onírico e irreal às cenas, remetendo ao surrealismo de tudo que os personagens estão vivenciando. Ainda que a condução dos episódios seja lenta e os mistérios aumentem mais do que se resolvam, não há uma sensação de tempo gasto sem necessidade ou focos dados sem motivo, pois é um roteiro determinado em abordar minuciosamente cada núcleo, cada personagem, cada reação, cada forma de se lidar com o retorno dos mortos. E é fascinante como algo tão típico do universo do horror resulte numa série dramática tão maravilhosa. O elenco todo é impressionante, mas as crianças dão um show à parte, principalmente Swann Nambotin como o misterioso e assustador Victor. Também o fato de não dar respostas sobre quase nada me deixou bastante preso à narrativa, pois às vezes dúvidas são mais instigantes do que certezas, e isso certamente deixa um interesse gigantesco pela temporada seguinte, ainda mais depois de uma season finale tão forte. E não dá para deixar de falar da lindíssima abertura e da trilha sonora perfeita de Mogwai. Tudo aqui casa perfeitamente, e é menos sobre os mortos do que sobre os vivos e sua incapacidade de superar a culpa, o medo, a perda e os traumas vividos. Afinal, os fantasmas vivem entre nós sempre, sem precisar ressuscitar.
Para quem conhece o personagem só de nome, é uma série muito informativa, que traz um apanhado bem aprofundado de como foi toda a investigação dos crimes cometidos por Bundy. É inacreditável a forma como tudo conspirou em favor do serial killer, com uma polícia totalmente omissa, irresponsável e desarticulada, e um sistema judiciário parcial e midiático, sempre dando mais atenção aos privilégios de gênero, cor, classe e educação do "suspeito" do que aos crimes hediondos cometidos por ele (algo que só vai realmente ser o foco após sua condenação e a palhaçada dos julgamentos). É assustadora toda a aura magnética que o cara emanava, atraindo e tragando tudo ao seu redor, até mulheres que se enquadravam no perfil de vítima dele, mesmo sabendo dos atos que ele cometeu. Muito, muito bizarro e revoltante. Para os pregadores das boas novas da "terra da liberdade", a série é um prato cheio pra mostrar um pontinho da podridão que reina nos EUA. Só pecou em relação ao ritmo cansativo, e esperava mais uso das fitas do Ted Bundy. Mas, no geral, série incrível e muito rica.
A série mais importante do ano e que certamente fecha a década de 2020 abordando a sua problemática mais urgente. Tendo o Jordan Peele envolvido, antes do aspecto terror da coisa, fiquei já atraído pela abordagem social e racial que ele traz em suas obras, e me surpreendi com o impacto da obra construída pela genial Misha Green. Uma série com protagonismo negro que se faz necessária ao trazer o horror cósmico como pano de fundo para uma história sobre o terror histórico e cotidiano do racismo. Além do mais, coloca os holofotes sobre personagens femininas e homossexuais, de forma que traz uma abordagem que empodera as minorias. Usar da obra de Matt Ruff, que utiliza da mitologia criada por Lovecraft para denunciar o racismo característico do autor, foi uma escolha acertadíssima, que caiu como uma luva no ano das lutas antirracistas ao redor do mundo. Junto com Watchmen, o debate é aprofundado e a história é trazida às telas para falar sobre o presente (finalmente o Massacre de Tulsa sendo mostrado ao mundo). O etnocentrismo branco, tão típico dos contos pulp, da aventura, da ficção científica e do horror é posto totalmente de lado: aqui, negros são os heróis, em episódios que remontam aos moldes mais clássicos das histórias de terror que tanto conhecemos, mas que sofriam de pouco representatividade. E nenhum personagem entra como simples arquétipo ou "cota", tá ali com objetivo, profundidade, background e importância na trama. O que dizer dos dilemas da idade, maternidade, perda e sonhos barrados da fantástica Hippolyta Black (que protagonizou o episódio mais magnífico da temporada)? Ou das dúvidas quanto à monstruosidade ou humanidade da feminilidade mortal de Ji-Ah (num dos melhores "fillers" da história)? A profundidade, coragem e força de Letitia fucking Lewis, a erudição militante de George Freeman, as camadas de sacrifícios de Montrose, a frustração e revolta da ambiciosa Ruby, a criatividade da infância em risco da Dee? O herói, inclusive, não é um pilar da moralidade. Atticus é falho, matou inocentes, cometeu erros e preconceitos, mas também foi vítima de opressão familiar e social, sendo tão humano quanto qualquer um. São pessoas com histórias reais, profundas, dolorosas e cheias de desvios, pois são vítimas de uma sociedade cruel pela cor de sua pele, seu gênero, sua orientação sexual. E é isso que faz Lovecraft Country ser fantástica, mais até do que a narrativa fantástica tão grandiosa trazida pela série. O elenco é formidável, e a produção é de cair o queixo, com cenários e efeitos visuais que só uma produtora do porte da HBO poderia entregar. A direção dos episódios é sempre muito bem escolhida, sempre focalizando o mais importante, que é o drama profundo de cada personagem. Não é uma série perfeita, pois sofre com algumas elipses incômodas na trama, algumas coisas ficam um tanto soltas no ar e a season finale em especial foi muito corrida, mas é quase perfeita. Terror de qualidade, com muita cena grotesca daquele jeito, personagens fascinantes, magia nas mãos dos pretos, racista se f*dendo, força feminina, sacrifícios das mais diversas formas, traição, exorcismo, aventura tipo Indiana Jones, mitologia lovecraftiana (óbvio), sanguinolência, mais racista se f*dendo (melhor coisa da série, pô!), choro, drama, momentos de alegria, romance, ficção científica e um diálogo essencial para a nossa sociedade. Pretos no topo e fogo nos racistas. Que a última cena da série deixe essa mensagem ainda mais clara.
Tinha tudo para ser favoritada, mas infelizmente vacilou na season finale. A série tem cara própria, com uma paleta de cores nitidamente embasada nos verdes e vermelhos, remetendo a violência, prisão, obsessão e terror. Há um quê bem americanizado na série, mas acho que ela abraça muito bem seu lado brasileiro, e temos aqui uma produção de qualidade, com um elenco afiado (Du Moscovis e Camila Morgado estão simplesmente fenomenais, e Tainá Müller, ainda que ofuscada, não faz nem um pouco feio) e um ritmo ágil, que prende o espectador - afinal, a história começa com o nível de ansiedade lá em cima, visto que o impacto da violência é mostrado logo de cara. Apesar de ter violência explícita até certo ponto, não é apelativa em momento algum, e sabe trabalhar muito bem com a edição para sugestão de conclusão e quebra de expectativa. Entretanto, a direção, apesar de se sair muito bem a maior parte do tempo, escorrega às vezes, com tomadas muito "novelescas" e uns closes trêmulos estilo Adam McKay que parecem fugir da proposta da série. A temática é o ponto mais alto, pois Bom Dia, Verônica é uma daquelas séries imprescindíveis para os tempos em que vivemos. A abordagem sobre violência contra a mulher, mostrada aqui em suas diversas formas, é riquíssima e empoderadora, e ver uma personagem corajosa como Verônica à frente de tudo deixa tudo muito mais legal e gratificante. Mas é uma série que vem de um livro do Raphael Montes, e o medo que eu tinha de os furos ficarem impossíveis de engolir à medida que se aproximasse do final foi materializado. Mesmo com alguns exageros, a série se firma bem e ocorre com uma narrativa ótima, mas a season finale tem muito furo para deixar passar, e isso é o que mais incomoda com a obra de Montes. Além disso, os aspectos americanizados da narrativa vão se acentuando muito, até que nos últimos episódios a história perde a identidade legal que tinha, e a trama se amplia de um jeito que se perde um pouco do foco inicial e dá um destino final à protagonista um tanto óbvio demais. Mesmo com esses problemas, acredito que é uma série que vale a pena ser vista e divulgada. A discussão aqui levantada é muito mais importante que qualquer furo de roteiro que a série tenha, e retrata perfeitamente a realidade de muitas mulheres nesse país (inclusive me remetendo a casos de pessoas conhecidas por mim ou por amigos). A possibilidade de acordar o diálogo e o debate sobre a violência contra a mulher e o feminicídio, além de dar força a mulheres violentadas para que contem suas histórias e saibam que tem apoio, é algo importantíssimo trazido pela obra. A ficção está num universo à parte, mas precisa ter impacto no mundo real, preferencialmente positivo, e é isso que, felizmente, Bom Dia, Verônica tem o potencial de fazer.
O Caso Evandro
4.5 249Assisti os 7 episódios originais e só digo que essa série é uma aula de como construir documentários. A riqueza de informações e documentação é um diferencial brilhante, pois é visível o cuidado da equipe com a qualidade do que é mostrado. Os vieses são quase nulos, tanto que a obra termina sem incutir na mente do espectador quem está certo ou errado, mas atenta ao fato de que uma parte do processo foi ilegal e desumano, independente do crime investigado. E ainda traz outros elementos que concernem ao Caso Evandro que levantam outras discussões empolgantes. Um baile daqueles nas séries investigativas documentais americanas.
The Office (6ª Temporada)
4.5 199Mais uma ótima temporada, com episódios hilários, novas dinâmicas trazidas principalmente pelo casamento e pelo nascimento da filha de Pam e Jim, além de usar a crise econômica como uma forma de mudar os rumos da empresa. Todo o elenco completamente confortável em seus personagens. Diversão certa.
Rick and Morty (5ª Temporada)
4.2 101É uma série que continua me divertindo, mas aqui não tem o mesmo brilho que as outras temporadas (mesmo a quarta, que trouxe adições sutis ao cânon, mas desenvolveu bem os personagens). Na verdade, parece que a série pula a temporada anterior, porque parece que os próprios personagens involuíram. Apesar de divertido, a criatividade para o desenvolvimento das aventuras já não é mais tão satisfatória quanto antes, e em boa parte dos episódios a piada se torna cansativa. Os 3 episódios finais é que retomam os rumos da série (como série não-episódica) e trazem elementos a serem trabalhados no futuro, principalmente nas tramas dos episódios 8 e 10. Mas até na season finale, provavelmente o melhor da temporada, há momentos em que a piada satírica perde a graça. Acho que agora já é hora de focar no arco principal.
Allen v. Farrow
3.9 38 Assista AgoraO trabalho de Woody Allen é algo que nunca me cativou minimamente, então nunca torci por sua inocência ou duvidei da capacidade dele ter cometido o crime. Na verdade, os filmes que assisti mostraram características do cineasta que eu simplesmente detesto nas pessoas que conviveram ao meu redor. Então, para mim, é totalmente crível o que a série supõe. O documentário de Ziering e Dick pode ser enviesado e não contar com os depoimentos do lado oposto (e fartamente ouvido desde o início de tudo) - não por falta de convite -, mas traz uma visão mais íntima da vivência da família afetada pela pessoa de Allen, pelos processos judiciais e pelo circo midiático em torno de toda a situação. Defensores e detratores à parte, as ideias de Mia Farrow fazendo lavagem cerebral de Dylan ou comprando Deus e o mundo é, no mínimo, loucura, visto que a filha adotiva vítima de toda a situação mantém até hoje sua história irretocável, sem ganhar com isso, sendo que, caso fosse vítima de manipulação, estaria lucrando muito ao passar para o lado do influente e rico pai adotivo. Da mesma forma, Mia Farrow e seus filhos demonstram grande força de reconstrução após um período tão turbulento e público de suas vidas, e esse aspecto mais humanizado do lado menos ouvido da história traz o caráter ativista do documentário. Claro, obras documentais ideias deveriam ser imparciais, mas nada o é, pois toda obra, especialmente documentários, é completamente enviesada, ainda que tal viés seja a busca imparcial da verdade. Se fosse uma obra feita por uma equipe alinhada ao pensamento da completa inocência de Woody Allen, não seria totalmente o contrário, reunindo provas para comprovar a "histeria" de sua ex-parceira? De qualquer forma, uma pessoa poderosíssima, que tornou Nova York o maior cartão-postal dos EUA e influenciou centenas de profissionais do cinema, impulsionou carreiras de inúmeros atores e atrizes, que em seus filmes busca normalizar relações com menores de idade ou tóxicas numa roupagem engraçadinha do "coitadinho, ele é fraco e neurórtico", que era obcecado por uma filha adotiva sendo que sempre recusou a paternidade e que ainda por cima começa uma relação sexual com a filha da namorada, 35 anos mais nova, enquanto ainda a namora... No mínimo, moralmente Woody Allen não é nem um pouco defensável.
Você Nunca Esteve Sozinha: O Doc de Juliette
4.3 199Começa com potencial, tem dois bons primeiros episódios, mas a direção de Carvalho e Cupello é extremamente fraca, apelando em dois episódios para os recursos de encontro com artistas e ex-BBBs que simplesmente não adicionam em nada no andamento do doc. A edição e o encaixe de trilha sonora é também algo bastante mal feito, chegando a ser brega, e a partir do episódio 3 o espectador basicamente não conhece mais nada sobre Juliette, mas só acompanha uma repetição de informações e sentimentos já trazidos anteriormente, ou dando uma amostra da carreira vindoura como cantora. Se estivesse nas mãos de um equipe competente, daria pra fazer algo muito, muito melhor, e não só um grande quadro de programa de domingo que aborda de forma até que muito superficial o seu personagem. O final é particularmente sem graça e mostra que tudo era só uma desculpa pra anunciar algum produto futuro.
The Office (5ª Temporada)
4.6 372Perde o fôlego aqui e ali, tendo um início de temporada menos empolgante, mas do meio pro fim melhora demais, sendo a temporada com muitas das melhores cenas e momentos da série. A simulação de incêndio, a Michael Scott Paper Company e o chili do Kevin foram impagáveis.
Irmãos de Guerra
4.7 619 Assista AgoraMerecidamente uma das melhores e mais adoradas minisséries da história. A produção é uma das coisas de mais alto nível já feitas pela HBO, e Band of Brothers é disparada a melhor produção cinematográfica feita sobre a Segunda Guerra, não só pelo apuro histórico e pela riqueza dos relatos, mas pela sensibilidade das atuações e personagens e por entregar cenas fantásticas de combates, sendo ao mesmo tempo frenéticas e muito violentas, tentando ser o mais realista possível. Impossível não se emocionar, não se sentir nervoso ou receoso pelos personagens e não se admirar com a qualidade técnica de tudo. A fotografia, a trilha sonora, a sequência de abertura, o fato de várias caras conhecidas do cinema e TV atual estarem ali ainda novos, a reprodução de época, tudo é impecável, mas o melhor é a presença dos ex-combatentes dando relatos no início dos episódios. O episódio 9 é um dos mais pungentes que já vi, assim como o 10 é um encerramento que leva a emoção ao máximo, ainda mais quando sabemos os nomes dos entrevistados veteranos. Que série magnífica, que aula de fazer cinema, que conto lindo sobre a irmandade e a humanidade em meio à barbárie da guerra.
Lucifer (5ª Temporada)
3.9 175 Assista AgoraMas como é que puderam? A primeira parte foi promissora, mesmo o episódio preto e branco que todo mundo detestou eu achei bem criativo e divertido, a mid-season finale deixou no ar uma continuação promissora... E tudo foi resolvido de forma fraca, rasa e corrida, com perda de tempo na maioria dos episódios. Os caminhos dados para Dan e Maze foram bem ruins, e a season finale, de potencialmente épica, foi corrida, melodramática até demais e um tanto decepcionante. A primeira parte salva e um ou outro episódio da segunda parte são legais, mas essa foi a pior temporada até aqui. E ainda vem mais uma.
Les Revenants: A Volta dos Mortos (2ª Temporada)
4.0 135Por um lado, apesar de manter o ritmo lento da primeira temporada, não prende tanto a atenção, principalmente na primeira metade. A história demora um pouco a andar mais, os conflitos parecem se repetir em alguns momentos e o final acaba sendo um tanto atropelado, deixando algumas resoluções em aberto que incomodam um pouco. Porém, o final em aberto faz parte do que a série é e se propõe, o que acaba sendo muito bom e empolgante, pois assim como na primeira temporada, temos que tirar nossas próprias conclusões. O nível de produção se mantém impecável, e tudo que elogiei na primeira temporada nesse sentido elogio aqui. Gostei da series finale e de como não há uma resposta clara, mas sugestões de conclusão que podem se encaixar com lendas do folclore francês, com teorias cíclicas, com analogias espirituais, mas ainda assim muito rico. O que é uma pena é que boa parte daquele ar melancólico contemplativo perde o fator contemplação, firmando mais as metáforas (algumas vezes funciona bem, outras não) e perdendo um pouco da força do fazer pensar. Mas, ainda assim, mesmo com seus deslizes, é uma série belíssima, fantástica, tão deprimente quanto forte e que provoca o confronto de nós com nós mesmos, vendo como a dor de uma perda pode causar inúmeros impactos, desde uma corrente de destruição e morte até uma força escondida que nos move. A poesia, ainda que menos fluida, ainda se manteve.
Succession (2ª Temporada)
4.5 227 Assista AgoraQuando Logan fala
que Kendall não é um matador
já dava pra esperar o que vinha naquele finalzinho de episódio, mas ainda assim é uma pancada certa. Que série, que atuações, que primor de performance de Jeremy Strong. Tudo que já elogiei antes elogio ainda mais aqui, e foi só fogo no parquinho, bilionário se descabelando e facada nas costas como o povo comum gosta de ver a elite fazendo porque a gente quer mais é ver caos no paraíso. Que série absurda.
The Office (4ª Temporada)
4.5 232A série oscila um pouco nessa temporada, com uma qualidade um pouco menor que as duas anteriores (algo também explicado pela greve dos roteiristas na época), mas tem episódios muito bons, como o do jantar na casa de Michael e o da entrega das cestas de brindes, além de ter várias mudanças nas dinâmicas dentro do escritório e entre os personagens. A season finale reserva algumas das melhores surpresas, e acho que aqui a vergonha alheia atinge níveis absurdos kkkkkk escorrega aqui e ali, mas ainda é uma temporada incrível.
Succession (1ª Temporada)
4.2 261Que bom que Adam McKay saiu das comédias pastelonas protagonizadas pelo Will Ferrell e foi para as sátiras políticas e econômicas, porque com certeza o lugar dele é aí. Como uma série sobre uma família podre de rica e seus jogos de poder poderia ser tão fascinante? O texto de Succession é algo absurdo de bem feito, com diálogos rápidos, muito bem calculados, orgânicos e muito, muito ácidos. É uma sátira dramática, uma comédia de poder, uma mescla de gêneros tão bem sucedida que há cenas em que dá para rir e ficar tenso na mesma medida, e não por ser algo vergonhoso ou mal feito, pelo contrário. Tudo muito bem calculado: o roteiro preciso e que sabe surpreender nos momentos certos, a construção exímia de cada personagem, as atuações foderosas de todo o elenco, especialmente do monumental Jeremy Strong e do lendário Brian Cox - com uma nota pra o trabalho estupendo de Kieran Culkin -, uma direção muito precisa, que emula muito bem o estilo do McKay em todos os episódios, uma produção estonteante que investe no glamour do mundo recluso dos bilionários e a trilha sonora, tão limitada em quantidade, mas que impressiona por se encaixar tão bem em todos os momentos em que é usada, pois o tema, de acordo com as partes tocadas ou a forma como se executa, se encaixam em todo tipo de situação, sendo uma das músicas-temas instrumentais de série mais marcantes dos últimos tempos. Comecei sem esperar muito e concluí fascinado.
Amor, Morte e Robôs (Volume 2)
3.8 371Depois de um primeira temporada inventiva, surpreendente, empolgante e cheia de momentos marcantes, a continuação foi bem decepcionante. Não só o número de episódios foi menos que a metade da primeira parte, as histórias em geral são mais fracas até que os piores episódios da temporada anterior. Com exceção de dois ou três episódios com uma arte mais diferente ou uma ideia mais filosófica, foi muito uso da animação ultrarrealista e de plots já bem batidos da ficção científica, e ambas as situações dificultaram muito em se sentir próximo das histórias. Só gostei mesmo dos episódios Atendimento automático ao cliente, Pela casa e um pouco de O gigante afogado, que pareceu acabar sem atingir o potencial que tinha. Uma pena, porque a qualidade técnica é impecável e a ação sempre funciona, mas ficou majoritariamente nos clichês ou em histórias sem carisma.
Invencível (1ª Temporada)
4.3 397 Assista AgoraDivertido, frenético e brutal. Uma animação de heróis que brinca com os clichês para fugir deles, com um visual lindo e uma história recheada de batalhas sangrentas e dilacerantes. Mark Grayson é um protagonista muito carismático e é super legal conhecer mais do universo de Invincible, tendo várias alegorias sobre a política americana atual e as relações entre as gerações. Só não dou nota máxima porque a season finale deu uma esfriada anticlimática após tantos episódios explosivos (algo que dá pra entender, já que tem que manter o hype e a ação pra próxima temporada) e pela incoerência dos poderes de Atom Eve, que apresentavam potenciais muito diferente dentro e fora das batalhas. Tirando isso, que animação magnífica da Amazon Prime.
O Inocente
4.0 302 Assista AgoraMuito bem produzida, com uma direção certeira de Oriol Paulo em manter a atenção do espectador até o último momento e cenas fortíssimas que deixam a série mais impactante. Apesar de parecer passar do tom, o elenco está muito bem, condizente com o padrão das produções espanholas. Entretanto, o roteiro, que se sustenta tão bem durante os primeiros episódios, se perde numa necessidade constante de surpreender, de forma que a enorme quantidade de plot twists se torna cansativa e muito inverossímil, deixando furos e pedindo muita suspensão de crença do público, chegando a ultrapassar esse limite do aceitável em certos momentos. Além disso, certos elementos que vão sendo introduzidos tornam a história tão truncada que fica meio difícil encontrar uma ponte eficaz entre todas as narrativas interligadas, ainda mais quando temos as revelações do último episódio. E também a violência gráfica, em vários momentos, acaba soando excessiva e bastante fetichista, colocando constantemente personagens femininas como vítimas das cenas mais brutais da minissérie, o que parece - ainda que não intencionalmente - uma certa glamourização da violência contra a mulher e do feminicídio. Afinal, a série traz diversos temas bastante pesados que acabam sendo desenvolvidos superficialmente para dar espaço à profusão de reviravoltas. Os personagens são bem desenvolvidos, mas algumas motivações são fracas e algumas de suas ações não condizem com suas habilidades. Mesmo assim, é um suspense policial de grande qualidade, que mantém a tensão lá em cima durante todos os episódios e entrega tudo que uma obra de Oriol Paulo sempre promete: reviravoltas a cada minuto e um enredo de ritmo constante.
The Office (3ª Temporada)
4.5 323Um passo maior, a série expande bem ao trazer novos personagens e novas dinâmicas que movem muito bem a temporada, principalmente o triângulo amoroso entre Jim, Pam e Karen - com o Roy correndo por fora - e as relações absurdas entre Dwight, Michael e Andy. Todo mundo se encontrou muito bem em seus personagens, e para quem gostou das duas primeiras temporadas, essa terceira, se a paixão não veio antes, garante o vício. Se na temporada passada você ainda não era parte, agora você se sente membro da disfuncional e hilária família Dunder Mifflin. E o final de temporada deixa um gancho que deixa muito difícil não querer seguir a maratona imediatamente. Que série fantástica.
The Office (2ª Temporada)
4.5 392Impossível não ficar apaixonado pela série e seus personagens após essa segunda temporada. A história, as relações, o humor e os personagens crescem demais, e tudo é muito gostoso de se acompanhar, muito divertido, e de repente você se vê como parte da família Dunder-Miffli. O plot de Jim e Pam é a coisa mais linda do mundo, e Dwight se torna ainda mais irritante/adorável junto com o sempre excelente Michael Scott de Steve Carell. Que série maravilhosa, já estou viciado.
Cobra Kai (3ª Temporada)
4.1 296 Assista AgoraUm pouquinho inferior às anteriores, mas a produção melhorou e a história continua ótima de acompanhar. Ver o amadurecimento de Johnny é gratificante, principalmente pela season finale. Zabka está super confortável no papel e é tiozão de zap mais legal do rolê. Xolo Maridueña continua muito bem e foi ótimo acompanhar a recuperação de Miguel e o retorno de sua relação com Johnny. Jacob Bertrand é disparado quem mais impressiona, entregando uma atuação incrível com Hawk e algumas das melhores cenas da temporada. Também foi excelente conhecer o passado do Kreese e entender porque ele é dessa forma, sem colocá-lo como uma simples vítima das circunstâncias. Feliz por não terminar de forma totalmente triste como na temporada anterior e das surpresas que a season finale garantiu para a quarta temporada. Sam, Tory e Robbie foram difíceis de suportar, tanto pelos personagens, quanto pelo carisma e desempenho fraco na atuação dos atores. Mas de resto, lutas legais (menos que antes, mas houve foco em desenvolver a história), algumas forçadas de barra (nunca tem polícia ou punição a não ser na escola?), mas um enredo gostoso de acompanhar e cheio de crescimentos do núcleo adulto. Ralph Macchio e seu Daniel-san estão voltando a ficar mais carismáticos, e a maior das surpresas, na verdade, foi o Anthony kkkkk ansioso pelo que está por vir, e a nostalgia sempre a mil. Quem diria que a gente ainda iria precisar dos karatê kids?
His Dark Materials - Fronteiras do Universo (2ª Temporada)
4.1 75 Assista AgoraAinda melhor que a primeira temporada, com pancada atrás de pancada. Tem mais ação, cenas com efeitos belíssimos, a coisa ficou muito maior, mais frenética, a relação entre Will e Lyra é muito boa de se acompanhar, e todo o plot de Lee Scoresby e Jopari também, assim como o plot sobre o Pó. Mas definitivamente quem domina a série é Ruth Wilson, com uma Marisa Coulter assustadora e poderosa pra caramba, que tem uma presença de tela completamente dominante. A produção tá excelente, a fotografia parece ainda mais bonita e a direção estava muito inspirada. Ansioso pela próxima temporada, ainda mais com as informações da season finale.
O Gambito da Rainha
4.4 931 Assista AgoraTenho nem o que criticar. Sentei para assistir sozinho e de repente minha mãe já estava acompanhando comigo, de tão fascinante que é a minissérie. E o hype, na verdade, é muito merecido, pois quem iria acreditar que uma série sobre uma enxadrista - e com MUITO xadrez, o tempo TODO - iria ser tão assistida e adorada no mundo? Até porque não se trata só do jogo, mas de tudo que perpassa as linhas do texto da série. E devo dizer, que roteiro bem feitinho, fechado, bem desenvolvido. Trabalha muito bem com todas as temáticas que se propõe, sem proselitismos, forçações de barra e tentando ao máximo fugir dos anacronismos, algo que é sempre um problema quando se quer contar a história de uma mulher forte numa época e num meio machista. Além de tudo, deu a abordagem certa ao xadrez, pois mesmo não sendo um grande conhecedor (sei só o básico), dá para ver que tudo foi feito com cuidado. Claro que há umas embelezadas na coisa toda, mas se não tiver um clichê e uma glamourização, como atrair o interesse do público? Isso se vê principalmente na fantástica season finale, que cria uma situação pouco verossímil no contexto de época, mas que faz sentido no universo próprio da série e no discurso que ela traz. A produção, nem tenho comentários, impecável. Figurinos, penteados, maquiagens, cenários, uso de CGI para reprodução de ambientes, os efeitos do xadrez, a paleta de cores, os significados por trás desses usos, tudo é perfeito. Da mesma forma, trilha sonora maravilhosa em todos os sentidos. Mas o que faz a série ser tudo o que é são as atuações, especialmente a protagonista. Anya Taylor-Joy chamou minha atenção desde seu papel como Thomasin em A Bruxa, e de lá pra cá só cresceu. Beth Harmon é o seu ponto alto, com uma atuação de sutilezas, na qual os olhos marcantes da atriz constroem os detalhes da personalidade solitária e ambiciosa da protagonista. Além do mais, aqui ela está mais linda do que nunca, e ela na última cena da série, com aquele figurino de "rainha branca", está simplesmente divina. De igual forma, todo o elenco faz um ótimo trabalho, em especial Moses Ingram como Jolene, Harry Melling como Beltik e Thomas Brodie-Sangster como Benny Watts. A química entre o elenco é impecável, pois todas as relações parecem se construir com naturalidade e verdade, e isso que garante a força da história. É muito mais do que xadrez, jogos, vitórias e derrotas, mas sobre traumas, vícios, machismo, força feminina, liberdade, confronto dos próprios medos, solidão, amizade, trabalho em equipe, determinação e viver da melhor forma que se pode. Uma das maiores joias que a Netflix tem em seu catálogo, e merece toda essa repercussão.
Les Revenants: A Volta dos Mortos (1ª Temporada)
4.5 318Belissimamente triste, fantasticamente dolorosa. Por si só, a série se destaca num primeiro momento só pela sua fotografia impecável, com uma paleta de cores sempre esverdeada e azulada, remetendo à água que rodeia e ameaça a vida dos habitantes da cidade e à tristeza que é uma constante na vida de cada personagem que compõe a série, além de um enfoque de câmera nos atores que muitas vezes dá um ar onírico e irreal às cenas, remetendo ao surrealismo de tudo que os personagens estão vivenciando. Ainda que a condução dos episódios seja lenta e os mistérios aumentem mais do que se resolvam, não há uma sensação de tempo gasto sem necessidade ou focos dados sem motivo, pois é um roteiro determinado em abordar minuciosamente cada núcleo, cada personagem, cada reação, cada forma de se lidar com o retorno dos mortos. E é fascinante como algo tão típico do universo do horror resulte numa série dramática tão maravilhosa. O elenco todo é impressionante, mas as crianças dão um show à parte, principalmente Swann Nambotin como o misterioso e assustador Victor. Também o fato de não dar respostas sobre quase nada me deixou bastante preso à narrativa, pois às vezes dúvidas são mais instigantes do que certezas, e isso certamente deixa um interesse gigantesco pela temporada seguinte, ainda mais depois de uma season finale tão forte. E não dá para deixar de falar da lindíssima abertura e da trilha sonora perfeita de Mogwai. Tudo aqui casa perfeitamente, e é menos sobre os mortos do que sobre os vivos e sua incapacidade de superar a culpa, o medo, a perda e os traumas vividos. Afinal, os fantasmas vivem entre nós sempre, sem precisar ressuscitar.
Conversando Com um Serial Killer: Ted Bundy
4.2 221Para quem conhece o personagem só de nome, é uma série muito informativa, que traz um apanhado bem aprofundado de como foi toda a investigação dos crimes cometidos por Bundy. É inacreditável a forma como tudo conspirou em favor do serial killer, com uma polícia totalmente omissa, irresponsável e desarticulada, e um sistema judiciário parcial e midiático, sempre dando mais atenção aos privilégios de gênero, cor, classe e educação do "suspeito" do que aos crimes hediondos cometidos por ele (algo que só vai realmente ser o foco após sua condenação e a palhaçada dos julgamentos). É assustadora toda a aura magnética que o cara emanava, atraindo e tragando tudo ao seu redor, até mulheres que se enquadravam no perfil de vítima dele, mesmo sabendo dos atos que ele cometeu. Muito, muito bizarro e revoltante. Para os pregadores das boas novas da "terra da liberdade", a série é um prato cheio pra mostrar um pontinho da podridão que reina nos EUA. Só pecou em relação ao ritmo cansativo, e esperava mais uso das fitas do Ted Bundy. Mas, no geral, série incrível e muito rica.
Lovecraft Country (1ª Temporada)
4.1 404A série mais importante do ano e que certamente fecha a década de 2020 abordando a sua problemática mais urgente. Tendo o Jordan Peele envolvido, antes do aspecto terror da coisa, fiquei já atraído pela abordagem social e racial que ele traz em suas obras, e me surpreendi com o impacto da obra construída pela genial Misha Green. Uma série com protagonismo negro que se faz necessária ao trazer o horror cósmico como pano de fundo para uma história sobre o terror histórico e cotidiano do racismo. Além do mais, coloca os holofotes sobre personagens femininas e homossexuais, de forma que traz uma abordagem que empodera as minorias. Usar da obra de Matt Ruff, que utiliza da mitologia criada por Lovecraft para denunciar o racismo característico do autor, foi uma escolha acertadíssima, que caiu como uma luva no ano das lutas antirracistas ao redor do mundo. Junto com Watchmen, o debate é aprofundado e a história é trazida às telas para falar sobre o presente (finalmente o Massacre de Tulsa sendo mostrado ao mundo). O etnocentrismo branco, tão típico dos contos pulp, da aventura, da ficção científica e do horror é posto totalmente de lado: aqui, negros são os heróis, em episódios que remontam aos moldes mais clássicos das histórias de terror que tanto conhecemos, mas que sofriam de pouco representatividade. E nenhum personagem entra como simples arquétipo ou "cota", tá ali com objetivo, profundidade, background e importância na trama. O que dizer dos dilemas da idade, maternidade, perda e sonhos barrados da fantástica Hippolyta Black (que protagonizou o episódio mais magnífico da temporada)? Ou das dúvidas quanto à monstruosidade ou humanidade da feminilidade mortal de Ji-Ah (num dos melhores "fillers" da história)? A profundidade, coragem e força de Letitia fucking Lewis, a erudição militante de George Freeman, as camadas de sacrifícios de Montrose, a frustração e revolta da ambiciosa Ruby, a criatividade da infância em risco da Dee? O herói, inclusive, não é um pilar da moralidade. Atticus é falho, matou inocentes, cometeu erros e preconceitos, mas também foi vítima de opressão familiar e social, sendo tão humano quanto qualquer um. São pessoas com histórias reais, profundas, dolorosas e cheias de desvios, pois são vítimas de uma sociedade cruel pela cor de sua pele, seu gênero, sua orientação sexual. E é isso que faz Lovecraft Country ser fantástica, mais até do que a narrativa fantástica tão grandiosa trazida pela série. O elenco é formidável, e a produção é de cair o queixo, com cenários e efeitos visuais que só uma produtora do porte da HBO poderia entregar. A direção dos episódios é sempre muito bem escolhida, sempre focalizando o mais importante, que é o drama profundo de cada personagem. Não é uma série perfeita, pois sofre com algumas elipses incômodas na trama, algumas coisas ficam um tanto soltas no ar e a season finale em especial foi muito corrida, mas é quase perfeita. Terror de qualidade, com muita cena grotesca daquele jeito, personagens fascinantes, magia nas mãos dos pretos, racista se f*dendo, força feminina, sacrifícios das mais diversas formas, traição, exorcismo, aventura tipo Indiana Jones, mitologia lovecraftiana (óbvio), sanguinolência, mais racista se f*dendo (melhor coisa da série, pô!), choro, drama, momentos de alegria, romance, ficção científica e um diálogo essencial para a nossa sociedade. Pretos no topo e fogo nos racistas. Que a última cena da série deixe essa mensagem ainda mais clara.
Bom Dia, Verônica (1ª Temporada)
4.2 760 Assista AgoraTinha tudo para ser favoritada, mas infelizmente vacilou na season finale. A série tem cara própria, com uma paleta de cores nitidamente embasada nos verdes e vermelhos, remetendo a violência, prisão, obsessão e terror. Há um quê bem americanizado na série, mas acho que ela abraça muito bem seu lado brasileiro, e temos aqui uma produção de qualidade, com um elenco afiado (Du Moscovis e Camila Morgado estão simplesmente fenomenais, e Tainá Müller, ainda que ofuscada, não faz nem um pouco feio) e um ritmo ágil, que prende o espectador - afinal, a história começa com o nível de ansiedade lá em cima, visto que o impacto da violência é mostrado logo de cara. Apesar de ter violência explícita até certo ponto, não é apelativa em momento algum, e sabe trabalhar muito bem com a edição para sugestão de conclusão e quebra de expectativa. Entretanto, a direção, apesar de se sair muito bem a maior parte do tempo, escorrega às vezes, com tomadas muito "novelescas" e uns closes trêmulos estilo Adam McKay que parecem fugir da proposta da série. A temática é o ponto mais alto, pois Bom Dia, Verônica é uma daquelas séries imprescindíveis para os tempos em que vivemos. A abordagem sobre violência contra a mulher, mostrada aqui em suas diversas formas, é riquíssima e empoderadora, e ver uma personagem corajosa como Verônica à frente de tudo deixa tudo muito mais legal e gratificante. Mas é uma série que vem de um livro do Raphael Montes, e o medo que eu tinha de os furos ficarem impossíveis de engolir à medida que se aproximasse do final foi materializado. Mesmo com alguns exageros, a série se firma bem e ocorre com uma narrativa ótima, mas a season finale tem muito furo para deixar passar, e isso é o que mais incomoda com a obra de Montes. Além disso, os aspectos americanizados da narrativa vão se acentuando muito, até que nos últimos episódios a história perde a identidade legal que tinha, e a trama se amplia de um jeito que se perde um pouco do foco inicial e dá um destino final à protagonista um tanto óbvio demais. Mesmo com esses problemas, acredito que é uma série que vale a pena ser vista e divulgada. A discussão aqui levantada é muito mais importante que qualquer furo de roteiro que a série tenha, e retrata perfeitamente a realidade de muitas mulheres nesse país (inclusive me remetendo a casos de pessoas conhecidas por mim ou por amigos). A possibilidade de acordar o diálogo e o debate sobre a violência contra a mulher e o feminicídio, além de dar força a mulheres violentadas para que contem suas histórias e saibam que tem apoio, é algo importantíssimo trazido pela obra. A ficção está num universo à parte, mas precisa ter impacto no mundo real, preferencialmente positivo, e é isso que, felizmente, Bom Dia, Verônica tem o potencial de fazer.